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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção


Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

MANUTENÇÃO EM INDÚSTRIAS
MADURAS E COMPETITIVIDADE: UM
ESTUDO COM EMPRESAS DO SETOR
DE CERÂMICA VERMELHA DE
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ
Adriano Fonseca da Rocha (UENF)
drianorocha@hotmail.com
Manuel Antonio Molina Palma (UENF)
mmolina@uenf.br

Atualmente a necessidade de vantagens competitivas para a obtenção e


manutenção de um desempenho empresarial elevado é uma realidade
irreversível. Nesse contexto a manutenção industrial, como fonte de
obtenção de vantagens competitivas, é ffator determinante no
desempenho das empresas e no processo competitivo que o determina.
A presente pesquisa objetivou primordialmente esboçar um panorama
atual da capacidade de manutenção de empresas do setor de cerâmica
vermelha de Campos dos Goytacazes - RJ e identificar os fatores-chave
relacionados à sua manutenção. A metodologia de pesquisa empírica
utilizada, que se caracteriza como qualitativa de caráter exploratória e
descritiva, foi o estudo de casos múltiplos. Foram estudadas cinco
empresas campistas com características diferenciadas. Aplicou-se um
roteiro de entrevista semiestruturado com profissionais das empresas
ceramistas da região que tivessem familiaridade com o negócio. A
análise de conteúdo foi a técnica utilizada na apreciação dos dados
obtidos. Os resultados da pesquisa revelam uma capacidade de
manutenção regular, porém deficiente em alguns pontos. As principais
origens encontradas para tal deficiência foram: utilização “apenas”
de manutenção corretiva por algumas empresas; falta de planejamento
no intuito de otimizar a manutenção; altos gastos de manutenção
preventiva e reparo de máquinas; falta de conscientização de
funcionários.

Palavras-chaves: Manutenção Industrial, Competitividade, Cerâmica


Vermelha
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Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

1. Introdução
Segundo Pinto e Xavier (2001), para sua sobrevivência, as organizações devem ser hábeis e
velozes para efetuar melhorias contínuas. Para tal, as empresas estão procurando
ininterruptamente novas ferramentas de gerenciamento, que as levem a uma maior
competitividade por meio da produtividade e qualidade de seus produtos, processos e
serviços. Para os autores, a necessidade de agilidade imposta às organizações exige, a cada dia
mais, maior eficácia na tomada de decisões, o que pode ser mais viável através da adoção de
indicadores, da determinação de objetivos e da avaliação de performance nas diversas
atividades organizacionais. Certamente toda essa dinâmica presente demanda mais efetividade
nas atividades operacionais que se desdobrem na busca dos objetivos organizacionais. Na
atual esfera econômica, a manutenção industrial está inserida nesse contexto.
A manutenção pode ser dita como a junção das ações administrativas e técnicas, incluindo as
de supervisão que são destinadas a conservar ou recolocar um item em um estado cujo possa
desempenhar sua função requerida. Uma outra definição, que à primeira vista possa parecer
um tanto quanto paradoxal, é apresentada por Pinto e Xavier (2001), os quais definem
manutenção como sendo algo que existe para que não haja manutenção. Esta afirmação é
compreendida à medida que consideramos que o trabalho de manutenção se enobrece a cada
dia que passa, sendo a cada dia maior a busca para que se evitem as falhas e não apenas para
corrigí-las.
No atual contexto industrial, as empresas necessitam de alta disponibilidade e melhoramentos
contínuos nos seus diversos seguimentos (produto, processo, organização) para que possam se
adaptar ao mercado, pois a cada dia fica mais explícita a competição acirrada nas mais
variadas áreas da indústria; assim, a manutenção industrial se faz peça-chave para o sucesso
de tais empresas, por ser um importante diferencial competitivo.
Nesse contexto, a capacidade de manutenção se revela com elevado grau de importância para
o desempenho empresarial da indústria de cerâmica vermelha de Campos dos Goytacazes -
RJ. Porém, qual a capacidade de manutenção que estas empresas possuem até então, e quais
são os elementos cruciais associados à manutenção nas mesmas?
O presente estudo deseja satisfazer a dois objetivos gerais: esboçar um panorama atual em
termos de gerência de manutenção de empresas que trabalham no setor de cerâmica vermelha
no município de Campos dos Goytacazes; identificar alguns elementos que caracterizem os
fatores-chave relacionados à manutenção e a capacidade competitiva das empresas.
Secundariamente serão abordados os seguintes aspectos: o impacto da manutenção na
vantagem competitiva; a informação para a manutenção; os obstáculos encontrados para uma
manutenção adequada; a infraestrutura para a manutenção; as características das firmas que se
utilizam de técnicas de manutenção; o papel do governo e instituições públicas da manutenção
na indústria; a influência das relações interorganizacionais na manutenção.
Pretende-se contribuir para o desenvolvimento da ciência na área da gerência da manutenção
industrial. Entender e explicitar a interligação dos vários fatores que representam a capacidade
de manutenção de uma empresa e sua implicação no desempenho empresarial é motivo de
atenção e estudo, e esta pesquisa se justifica na medida em que permite estudar a influência
desses fatores na procura do diferencial competitivo perante aos concorrentes.

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A pesquisa é relevante, pois traz experiências significativas no que diz respeito à adoção de
práticas gerenciais que contribuem para a manutenção industrial dentro da empresa. Embora a
pesquisa esteja limitada ao estudo de cinco casos, seus resultados permitem que empresários e
gerentes conheçam e empreguem estas práticas ou outras similares usufruindo da
possibilidade de uma visão prévia de como estas práticas possam vir a influenciar nos
resultados da empresa.
2. A indústria cerâmica
2. 1 A indústria cerâmica no âmbito nacional
É importante citar que as principais associações representativas do setor de cerâmica
vermelha do Brasil (ABC e ANICER) possuem divergência em determinados dados
pertinentes ao setor, porém, considerar-se-ão esses dados válidos no sentido que ambas as
fontes convergem para evidenciar a importância do setor cerâmico no âmbito nacional.
No Brasil, as empresas cerâmicas são concentradas principalmente nas regiões Sudeste e Sul,
onde se encontra maior densidade demográfica, atividade industrial mais elevada, e melhor
distribuição de renda, explicando a grande concentração de indústrias do setor cerâmico na
região, o que é ainda mais propício devido às facilidades de matéria prima, energia,
universidades, escolas técnicas e centros de pesquisa (ABC, 2011). Na figura 1 estão
elucidados os pólos de cerâmica vermelha mais importantes das regiões Sul e Sudeste, onde
estão as principais cerâmicas do país.

Figura 1 – Principais pólos de cerâmica vermelha nos estados do Sul e Sudeste


Fonte: Adaptado de Tanno e Motta (2000)

Porém, é relevante ressaltar que as demais regiões do país também têm se desenvolvido,
principalmente o nordeste, onde diversas fábricas de variados setores industriais estão se

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instalando, e ainda, onde o turismo tem contribuído gradativamente para a construção de


vários hotéis. Segundo a ANICER (2011), a indústria da construção civil é responsável por
7,3% do PIB nacional, o que corresponde a R$126,2 bilhões, a indústria de cerâmica
vermelha contribui com 4,8% desta indústria.
A importância do setor de cerâmica vermelha e sua relevância no cenário brasileiro são
evidenciadas pelos dados pertinentes ao setor, no qual o grande número de unidades
produtoras gera, se tratando apenas de empregos diretos, 214.000 postos de trabalho. Tais
unidades têm faturamento anual em torno de R$4,2 bilhões. Estes e outros dados do setor,
levantados pela ABC, encontram-se em destaque na tabela 1.

CERÂMICA VERMELHA
Dados levantados pela ABC referente a 2003
Número de Unidades Produtoras (empresas) 7.000
Número de Peças/Ano (bloco) 25.224.000
Número de Peças/Ano (telha) 4.644.000
Quantidade Produzida (em massa t/ano) 64.164.000
Matéria-Prima (argilas) 82.260.000
Produção Média por Empresa (peças/mês) 365.000
Faturamento (R$ bilhões) 4,2
Empregos Diretos 214.000
Fonte: ABC (2011)

Tabela 1 – Números do setor de cerâmica vermelha no Brasil

2. 2 A indústria cerâmica em Campos dos Goytacazes


Com base no RAIS (Relatório Anual de Informações Sociais) de 2001 do Ministério do
Trabalho e Emprego (2002), o setor produtivo que mais emprega mão de obra em Campos
dos Goytacazes - RJ é o setor de fabricação de produtos cerâmicos; mais especificamente, o
setor de cerâmica vermelha é responsável pela alocação de aproximadamente 5.000
trabalhadores diretos e outros 25.000 indiretos, segundo o sindicado dos ceramistas de
Campos. Este setor tem ainda uma importante participação na regulação do mercado de
trabalho local, essencialmente no período de entressafra do setor sucroalcooleiro, empregando
grande parte da mão de obra oriunda desta indústria.
A indústria da cerâmica vermelha tem elevada importância na economia do estado de Rio de
Janeiro, onde o maior número de empresas, assim como o maior volume de produção do
setor, cerca de 60 milhões peças/mês, está localizado em Campos dos Goytacazes. No
município, o setor de cerâmica vermelha conta com aproximadamente 110 empresas, onde,
segundo a Agência Rio de Notícias (2008), 40% das indústrias foram abertas na primeira
metade do século XX e as demais foram criadas a partir dos anos 80, incentivadas pelo
declínio do setor sucroalcooleiro.
Além do sindicato do setor, que possui 76 cerâmicas sindicalizadas, a indústria da cerâmica
vermelha em Campos dos Goytacazes conta com a RCC (Rede Campos Cerâmica), que
possui 13 empresas associadas. A RCC foi criada há cinco anos com o objetivo de cooperar
entre si (RCC, 2011). Essa inter-relação acontece, de acordo com a rede, pela troca de

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conhecimentos, melhoria de processos, compartilhamentos de RH, compras, vendas, etc. A


rede também desempenha importante papel ambiental na região por desenvolver a proteção ao
meio ambiente através do plantio de eucaliptos.
3. Metodologia de pesquisa
A capacidade de manutenção é um fenômeno complexo e exige profundidade nas
informações necessárias à sua compreensão, uma vez que não existem muitos conhecimentos
sobre a dinâmica interna do fenômeno em si. Deste modo, decidiu-se pela adoção da
abordagem qualitativa, sendo o método de estudo de casos múltiplos a metodologia de
pesquisa empírica considerada mais apropriada para este fim.
Yin (2001) salienta que “o estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os
limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.
De acordo com Eisenhardt apud Cunha (2005), o estudo de caso é uma ferramenta para
obtenção de vários objetivos, dentre estes, prover uma descrição, gerar uma teoria ou testar
uma já existente.
Classicamente, a metodologia a ser aplicada a uma pesquisa depende da natureza do estudo e
pode ser englobada em três domínios: exploratório, descritivo e causal (SELLTIZ et al.,
1987). O presente estudo possui características particulares de pesquisa exploratória e
descritiva.
Exploratória, pois não se tem muita familiaridade com o objeto de pesquisa e procura-se
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias com o intuito de propiciar uma
formulação mais precisa de problemas ou hipóteses de pesquisa em estudos a serem feitos
posteriormente dentro deste mesmo tema. Segundo Gil (1999), uma pesquisa possui
característica exploratória se esta se vale levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas
que possuam familiaridade com o tema pesquisado e analise exemplos de forma a explicitar
melhor o assunto em estudo. Em suma, este tipo de estudo objetiva levar ao pesquisado maior
familiaridade com o assunto a fim de proporcionar ao mesmo maior capacidade de estudo e
análise no mesmo tema.
A pesquisa, de acordo com sua característica descritiva, tem por premissa buscar a resolução
de problemas através da observação, análise e descrições objetivas, isto pode ser obtido por
meio de entrevistas com peritos para a padronização de técnicas e validação de conteúdo. A
pesquisa descritiva se utiliza de padrões textuais como, por exemplo, questionários
semiestruturados para identificação do conhecimento. A pesquisa tem por finalidade observar,
registrar e analisar os fenômenos sem entrar no mérito de seu conteúdo. Não há interferência
do investigador na pesquisa descritiva, este deve apenas procurar notar, com as devidas
precauções, a intensidade e freqüência com que o fenômeno acontece. Deve ser feita uma
análise completa do conteúdo obtido na pesquisa para que se chegue a uma conclusão
(THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2007).
De acordo com as ideias de Godoy (1995) e Lüdle e André (1986), pesquisas qualitativas
possuem cinco características marcantes, são estas:
 A pesquisa possui caráter descritivo;
 Tem o ambiente como fonte direta dos dados;
 O pesquisador, em si, é instrumento chave para a boa pesquisa;
 Não se faz essencial o uso de métodos estatísticos;

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 O foco principal é o fenômeno estudado como um todo, e não o resultado ou o produto.

As pesquisas qualitativas possuem características de gerar um enorme volume de dados que


precisam ser organizados e compreendidos. Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999)
caracterizam a análise de dados como “um processo complexo, não linear, que implica um
trabalho de redução, organização e interpretação de dados que se inicia já na fase exploratória
e acompanha toda a investigação”. À medida que os dados vão sendo coletados, recomendam
os autores, o pesquisador deve identificar temas e relações, mesmo de forma tentativa,
construir interpretações e gerar novas questões e/ou aperfeiçoar as anteriores. Desta forma, o
pesquisador é levado a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que testem
suas interpretações e as afinem, num processo que vai até a análise final.
4. Procedimentos metodológicos
Em um primeiro momento foi identificada a importância econômica e o número de empresas,
e uma série de informações secundárias do setor de cerâmica vermelha de Campos dos
Goytacazes para, a partir desse momento, definir a melhor abordagem às empresas.
De posse que informações que permitiram a retirada de variáveis espúrias do universo a ser
pesquisado, foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturado para ser utilizado com os
respondentes das empresas ceramistas da região que tenham familiaridade com o negócio e,
assim, tenham condições de comentar sobre questões internas à empresa, temas envolvendo o
setor no âmbito regional, os processos de manutenção existentes na organização, questões
políticas e econômicas, dentre outras.
No roteiro foram elaboradas questões com os seguintes aspectos:
 A maturidade do mercado em termos de demanda;
 As relações interorganizacionais da empresa;
 O número e o nível dos concorrentes no mercado;
 A posição no mercado da empresa pesquisada;
 O público alvo da organização;
 Fortalezas e debilidades da empresa em termos de manutenção;
 Formas de manutenção adotadas;
 A influência da indisponibilidade de máquinas na produção;
 Os obstáculos para a ação de manutenção na empresa;
 As fontes de ideias e informações para a manutenção;
 O papel do governo em estimular o setor e suas consequências para a manutenção
industrial;
 Os maiores desafios encarados pela gerência para implantar uma manutenção propícia.

Entre as empresas estudadas foi elucidada a existência de características diferenciadas, de


forma que não houvesse certos padrões que limitassem os resultados a um tipo qualquer de
cerâmica com características especiais. Entre os diferenciais estão: distintas capacidades
produtivas, linhas de produção variadas, público alvo diferentes, localização geográfica
variante.
Foram realizadas entrevistas com representantes de cinco empresas da região (A, B, C, D e
E). Buscando a validade do constructo e de seus resultados, optou-se por uma escolha padrão
do informante às questões propostas, a escolha do respondente foi centrada na figura de
representantes das empresas do nível gerencial que tivessem familiaridade com o negócio e,

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assim, condições plenas de responder o questionário elaborado. Ainda no mesmo intuito, foi
garantido aos informantes não ser divulgada a sua identidade, bem como a de sua empresa,
imprimindo maior liberdade aos respondentes e diminuindo o risco de respostas socialmente
desejáveis.
As entrevistas foram gravadas, utilizando-se o gravador de voz Sony ICD-P620, e
posteriormente foram transcritas para que a análise dos dados pudesse ser feita de forma mais
adequada e com maior precisão na apreciação dos dados obtidos.
Após estas etapas, todo o conteúdo obtido (através da entrevista aberta e observação direta)
foi analisado utilizando-se a técnica de análise de conteúdo. Técnica de análise esta que,
mostrou-se adequada ao modelo de pesquisa e mais objetiva na busca dos resultados
(esclarecer, ou mesmo, modificar conceitos e realizar a formulação de problemas ou hipótese
de pesquisa) por se tratar de uma pesquisa exploratória-descritiva. Conforme Bardin (1977),
“a análise de conteúdo enriquece a tentativa exploratória, aumenta a propensão à descoberta”.
Na análise de conteúdo o ponto de partida é a mensagem que se é passada, mas devem ser
consideradas as condições contextuais de seus feitores e se sustenta na concepção crítica e
dinâmica da linguagem (PUGLISI; FRANCO, 2005). Não deve ser considerado apenas o que
lhe é dito com o sentido exato das palavras, mas também todo o contexto gestual e implícito
que pode ser percebido através das mensagens que são transmitidas pela fonte de informação.
Esta técnica pode ser considerada como uma técnica de análise de dados que tem por objetivo
identificar o que está sendo exposto se tratando de determinado assunto ou tema. Segundo
Puglisi e Franco (2005):
O que está escrito, falado, mapeado, figurativamente desenhado e/ou simbolicamente
explicitado sempre será o ponto de partida para a identificação do conteúdo manifesto (seja ele
explícito e/ou latente). A análise e a interpretação dos conteúdos obtidos enquadram-se na
condição dos passos (ou processos) a serem seguidos. Reiterando, diríamos que para o efetivo
“caminhar neste processo”, a contextualização deve ser considerada como um dos principais
requisitos, e, mesmo, “o pano de fundo” no sentido de garantir a relevância dos resultados a
serem divulgados e, de preferência, socializados.
5. Limitações
Apesar do rigor científico aplicado na pesquisa, algumas limitações devem ser explicitadas
para que haja o entendimento adequado dos resultados aqui expressos e a consequente
consideração das suas implicações. Como em qualquer trabalho de pesquisa, o presente
estudo se reveste de restrições de ordem teórica e metodológica.
De ordem teórica, pode-se considerar como fator limitante o fato deste trabalho não esgotar
todas as variáveis pertinentes ao tema estudado. Apesar desta limitação, ambicionou-se
compreender os elementos mais relevantes do contexto da pesquisa.
Quanto às limitações de ordem metodológica, a utilização do instrumento de pesquisa tipo
questionário implica o risco de respostas socialmente desejáveis, fato este acentuado pela
atribuição da responsabilidade de fornecimento dos dados a uma só pessoa. Neste contexto,
todas as informações obtidas refletem a ótica dos entrevistados em cada empresa.
Cada técnica de coleta de dados utilizada possui suas limitações características. Na
observação direta, sua principal limitação é a possibilidade da presença do entrevistador
provocar inibição nos observados, tirando-lhes a espontaneidade e assim, prejudicando as

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conclusões. Lakatos e Marconi (1991) destacam algumas limitações que podem prejudicar
esse tipo de estudo:
 A tendência do entrevistado em causar impressões favoráveis, ou não, para o entrevistador
em determinados aspectos;
 A relutância do entrevistado em explicitar aspectos particulares da empresa em estudo;
 Fatores imprevistos que dificultam a pesquisa.

Segundo Gil (1999), outros fatores que limitam o estudo proposto, no contexto de suas
entrevistas, são:
 Pouca motivação dos entrevistados para responder às questões que lhes são apresentadas;
 A falta de entendimento das perguntas pelo entrevistado;
 A possibilidade de respostas irreais ou retenção de informações pelo receio de que a
identidade do entrevistado ou da empresa seja revelada;
 Insuficiência de vocabulário do entrevistado, ocasionando falta de habilidade ou
incapacidade para responder às questões;
 Influência do pesquisador sobre o entrevistado;
 Má interpretação do pesquisador em relação às respostas dadas pelo entrevistado.

Porém, deve-se considerar ainda a flexibilidade da própria técnica de pesquisa, que permite
também que diversas das limitações citadas possam ser facilmente contornadas, ou ao menos
minimizadas a fim de proporcionar maior veracidade à pesquisa.
6. Resultados e discussão
É importante ressaltar que os resultados refletem a ótica dos representantes das empresas
pesquisadas. Dentre estas (cinco ao todo) quatro participam do sindicato do setor e uma faz
parte da RCC (Rede Campos Cerâmica).
6. 1 Resultados gerais
Ficou claro que o setor possui grande uniformidade no que diz respeito à situação de suas
principais variáveis competitivas. Analisando as principais variáveis que interferem no
desempenho empresarial da indústria cerâmica (mão de obra, participação do governo,
disponibilidade de capital, tecnologia disponível, concorrência, práticas de manutenção),
podemos considerar que as variáveis, em cada empresa separadamente, possuem uma
realidade muito parecida com a realidade do setor como um todo.
Os informantes afirmaram estar em condições parecidas com as das outras empresas, havendo
pouca dispersão neste item. Quando questionados sobre concorrentes de outras regiões, foram
citadas as cerâmicas dos municípios de Itaboraí-RJ e Cachoeiro de Itapemirim - ES, porém,
segundo os entrevistados, as cerâmicas campistas são mais fortes, devido principalmente a
melhor qualidade do barro encontrado na região.
Ainda quanto aos concorrentes, a maioria das empresas conhece sem grande profundidade os
mesmos, não têm por estratégia conhecer as outras empresas e buscar melhoras no seu sistema
produtivo. Ferramentas como o benchmarking podem ser decisivas para o sucesso da
empresa, esta, é uma importante fonte de informação e aquisição de conhecimento. Segundo
Mattos e Guimarães (2005), benchmarking é um processo que tem por objetivo a melhoria de
desempenho através da contínua identificação, compreensão e adaptação de melhores práticas

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em organização, gestão e processo, com o propósito de aumentar a competitividade da


empresa.
Em se tratando da maturidade do mercado, a relação oferta/demanda se mostrou sazonal, com
esta variação decorrente principalmente do período chuvoso, outubro a março, no qual as
dificuldades encontradas devido às chuvas constantes diminuem significativamente a oferta
dos produtos cerâmicos. Apesar da falta de planejamento efetivo para este período, no qual
por muitas vezes a demanda se faz maior que a oferta, uma das empresas construiu galpões
para minimizar as perdas, segundo seu representante. Já no restante do ano, o mercado não
absorve toda a produção existente, se configurando assim um período no qual a produção por
muitas vezes é reduzida propositalmente.
Em relação às mudanças no produto as empresas se mostraram altamente tradicionalistas, com
raríssimas inovações. Sobre mudanças mais radicais nos produtos, um dos entrevistados
afirmou ter testado um novo produto, mas, o mercado agiu como obstáculo à inovação e
rejeitou o mesmo. Os informantes não expuseram pretensão de variar seus produtos
brevemente. Sobre o processo, as empresas dizem introduzir modificações regularmente,
entretanto, nenhuma mudança radical, ou de grande impacto foi encontrada. As mudanças
consistem basicamente em aperfeiçoamento do maquinário, introdução de resíduos na mistura
da argila, etc. Entretanto, todas essas modificações são acompanhadas pelo setor como um
todo, assim, nenhuma empresa às introduz como um diferencial competitivo, já que são
alterações realizadas sem que haja pioneirismo por parte de uma empresa ou outra.
Enquanto à origem de novas ideias a serem aplicadas nas empresas, nenhuma fonte específica
foi caracterizada, as ideias provêm desde os donos das empresas até o pessoal da operação e
universidades, sendo aproveitadas ideias de todos os setores.
Dentre estas várias fontes, é importante que se tenha o conhecimento dos locais nos quais são
oriundas as ideias que resultam em melhorias reais, para que se possa priorizar e investir em
determinadas áreas (na área de manutenção, por exemplo) no intuito de buscar inovação para
a empresa. Segundo Sbragia et al. (2006), um dos grandes desafios da empresa é identificar
origens de inovação que produzam resultados relevantes. A partir dessa identificação, é
possível priorizar ou estabelecer processos que visam elevar a eficiência e eficácia dessas
fontes, visando a um resultado melhor e competitividade da empresa no longo prazo.
Quando indagados sobre os principais limitantes de desempenho da indústria, os informantes
citaram várias fontes do problema, podendo-se destacar, falta de capital para investir, falta de
apoio do governo e altos custos de manutenção. Porém, o fator limitante mais evidente, o qual
foi dito e enfatizado pela maior parte dos entrevistados, é a falta de mão de obra qualificada.
Nas palavras de um dos informantes:
Mão de obra é o maior fator limitante da cerâmica vermelha. […] A gente tem grande
dificuldade de implementar ideias novas, até de consertar problemas dentro da cerâmica,
porque eles (funcionários) não têm conhecimento.
Ainda sobre mão de obra, existe certa resistência por parte dos funcionários quando se
deparam com qualquer tipo de mudança, ainda que levados a resistir mais por uma questão
cultural que implica oposição a todo tipo de alteração.
A grande importância da mão de obra especializada, bem como sua forte correlação com a
capacidade competitiva das empresas de cerâmica vermelha se faz evidente; através da
multivotação ponderada ficou claro ser a mão de obra especializada a variável “mais
importante” para o desempenho empresarial da indústria cerâmica, e, apesar de sua notável

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importância, também se pode notar uma grande insuficiência de mão de obra qualificada, e
até mesmo de “trabalhadores sem a especialização adequada” para trabalhar no setor.
A respeito das relações interorganizacionais, existe o sindicato correspondente, como dito
anteriormente, no entanto, os informantes afirmam ser muito discreta a atuação do sindicato
para provocar melhorias efetivas na indústria, com pouquíssimas ações práticas. Já a RCC,
traz mais benefícios para seus associados, apesar de caminhar a passos lentos segundo um de
seus membros; segundo o mesmo, os maiores benefícios da rede associativa são: a compra em
conjunto, pois o poder de barganha é muito maior; a contratação de funcionários, já que as
empresas partilham o setor de RH; e o reflorestamento que as empresas desenvolvem.
No âmbito municipal, a principal característica da relação entre as empresas é a troca de
informações, sendo esta a forma principal de cooperação entre elas. É importante salientar que
esta troca de informações ocorre somente em caráter informal, e que outras ações por parte
das cerâmicas para o fortalecimento mútuo do setor na região são pequenas ajudas com
problemas rotineiros, também em caráter informal.
No que diz respeito ao apoio do governo para o desenvolvimento de setor, ficou evidente de
forma totalmente clara a percepção dos informantes acerca da participação do governo no
setor. Os respondentes foram unânimes em considerar o apoio do governo como sendo a
“variável de menor ajuda” ao desempenho do setor dentre todas estudas, todos os informantes
consideraram como “inexistente” o apoio do governo para com o setor, a fim de alavancar o
desempenho da indústria.
Os respondentes afirmaram não haver incentivo algum para o setor por parte do governo,
mesmo incentivos na forma de crédito; sobre os mesmos foi possível observar que, mesmo
que existam, a burocracia excessiva e o grande número de exigências e empecilhos acabam
por desencorajar as empresas a buscarem mais capital para investimento na empresa. De
acordo com Andreassi (2007), o estabelecimento de programas e políticas de apoio por parte
do governo, é fundamental para o desenvolvimento econômico e social, contudo, também as
empresas precisam desenvolver, internamente, uma série de ações que contribuam para um
resultado inovador. Nesse sentido, é importante salientar que em nenhuma das empresas
foram reveladas reivindicações ao setor público, ou seja, apesar de reprovar a atuação
governamental para com o setor, as empresas não priorizam a busca de incentivos por parte
do governo.
É importante ainda ressaltar que em nenhuma das empresas estudadas existe um setor ou
metas específicas para a criação, desenvolvimento e/ou implantação de novas tecnologias,
tanto na área de manutenção quanto nas outras áreas; investimentos nesse sentido poderiam
trazer resultados importantes para as empresas, e se tornar um importante diferencial
competitivo para as mesmas, principalmente no longo prazo. Segundo Brito Cruz apud Leite
(2005), nos EUA existem cerca de 960 mil cientistas e engenheiros na atividade de P&D,
destes, expressivos 80% trabalham nas empresas. Já no Brasil, o número total de
pesquisadores é de aproximadamente 80 mil, e destes poucos, apenas 11% estão nas
empresas.
6. 2 Acerca da manutenção
Aspectos importantes a respeito da manutenção foram identificados, desde a forma de
manutenção predominante no setor à forma como os funcionários se comprometem com a
conservação dos equipamentos.

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Em relação ao tipo de manutenção realizada pelas empresas estudadas, a sua caracterização


consiste em manutenção preventiva e corretiva; quatro dos informantes afirmaram realizar
manutenção preventiva (empresas A, B, C e D). Dentre estas empresas, três delas (B, C e D)
possuem um único funcionário responsável pela realização da manutenção periódica nas
máquinas, esta manutenção é feita “na maioria das vezes” uma vez por semana, mas também
de acordo com a necessidade do equipamento, segundo os informantes. Já a empresa A, além
de dois funcionários responsáveis também terceiriza o serviço.
A empresa “E” por sua vez não faz prática da manutenção preventiva, a manutenção de seus
equipamentos consiste somente nos reparos realizados nos equipamentos já defeituosos,
portanto a empresa se utiliza da manutenção corretiva, a empresa contrata o serviço de
terceiros para a realização dos reparos necessários.
É de suma importância salientar que, apesar da economia gerada pelo não acompanhamento e
medidas preventivas sobre o equipamento, na manutenção corretiva as máquinas podem
quebrar durante o funcionamento, ocasionando paradas na produção e outros prejuízos; há
necessidade de se trabalhar com estoques; necessedade de grande mobilização pela parada
inesperada; danos maiores no maquinário devido à falhas graves. Empresas que possuem
equipamentos caros e que paradas em sua linha de produção são muito prejudiciais ao seu
desempenho devem, mais que outras, tomar medidas a fim de minimizar ao máximo a
possibilidade de ocorrência de falhas ocasionadas por falta ou manutenção inadequada.
Quando questionados sobre paradas de produção por indisponibilidade de máquinas
defeituosas três dos informantes afirmam haver paradas apenas raramente, porém os
representantes das outras duas empresas, C e E (que realiza apenas manutenção corretiva),
afirmam haver paradas não muito raras.
Notou-se claramente que tais pausas na produção possuem impacto muito negativo sobre o
desempenho e competitividade das empresas, respondentes afirmaram perder clientes devido
à falta de produtos por parada na produção. Quanto a sua importância, os informantes foram
unânimes em considerar a indisponibilidade de máquinas como muito prejudicial à empresa,
por diminuir a capacidade competitiva e as vendas, além dos custos elevados de reparos dos
equipamentos.
Percebeu-se que a forma pela qual as empresas são gerenciadas em suas estratégias em
relação à manutenção, são muito parecidas, excetuando-se a empresa B (participante da RCC)
que tanto em sua forma de gerenciar a manutenção como os outros aspectos parece se
diferenciar um pouco das demais, efetuando seu processo de tomada de decisão de forma mais
lúcida.
Também muito enfatizado como ponto negativo por todos os representantes das empresas foi
o custo relativo da manutenção, todos afirmaram ser muito alto o gasto de suas empresas a
fim de realizar a manutenção de seus equipamentos. Entretanto, não foi identificado nenhum
tipo de estudo de otimização de gastos com manutenção nas empresas estudadas, trabalhos
mais aprofundados nesse tema podem se configurar como importante fonte de informação
para o setor, e consequentemente, também uma fonte de obtenção de vantagem competitiva
para as empresas que se beneficiarem com as informações pertinentes ao assunto.
Outro ponto importante e passível de mudanças é o comportamento dos funcionários em
relação à conservação das máquinas, pode-se notar que não há contribuição dos funcionários
para o bom funcionamento dos equipamentos, o informante da empresa “E” foi enfático ao
afirmar: “Existem alguns funcionários que gostam quando a máquina para, porque assim eles

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não precisam trabalhar”. Dessa forma, um trabalho de conscientização dos funcionários pode
ser uma medida simples, porém eficaz a fim de minimizar a possibilidade de paradas na
produção.
É importante deixar claro que apesar de toda insatisfação demonstrada pelos representantes
das empresas, nenhum dos mesmos revelou disposição para capacitar seus funcionários, ou
mesmo afirmaram já ter procurado algum tipo de auxílio para capacitação de funcionários em
qualquer órgão que seja.
A qualidade do produto final não é afetada, segundo os respondentes, pelo mau
funcionamento e pequenos defeitos nos equipamentos, todavia, este fato acarreta muitas vezes
falta de preocupação com o funcionamento adequado das máquinas, o que pode causar
prejuízos em escalas maiores, já que tais defeitos, apesar de não prejudicar os produtos,
prejudicam o próprio equipamento e podem causar perdas de peças importantes, além da
própria parada do equipamento e, consequentemente da produção.
7. Considerações finais
Por meio do estudo realizado, pode-se observar que, no atual cenário, as empresas do setor de
cerâmica vermelha de Campos dos Goytacazes - RJ apresentam capacidade de manutenção
“regular”, porém, passível de melhoras. Tal fato é resultante de fatores diversos, dentre os
quais se destacam: utilização “apenas” de manutenção corretiva por algumas empresas; falta
de planejamento no intuito de otimizar a manutenção; altos gastos de manutenção preventiva
e reparo de máquinas; falta de conscientização de funcionários.
A utilização somente da manutenção corretiva se mostrou inadequada para a realidade do
setor, já que o reparo e troca de peças de máquinas defeituosas geram altos custos para a
empresa, e, principalmente, causam perda de competitividade da empresa pela parada de
produção, que ocasiona perda de clientes e diminuição das vendas e receita.
As empresas do setor que se utilizam de manutenção preventiva em sua estratégia competitiva
não têm um planejamento adequado para realizar com eficiência a manutenção, este fato pode
por vezes gerar vários tipos de custos desnecessários, como os gastos com uma manutenção
desnecessária ou a falta de manutenção no momento que esta se fazia necessária. Estudos a
fim de viabilizar esse tipo de planejamento podem ser de grande ajuda para o desempenho e
obtenção de vantagens competitivas para essas empresas.
Medidas simples, também se mostraram como possíveis saídas para melhorar o desempenho
da indústria e adquirir vantagens competitivas. A simples conscientização dos funcionários
pode acarretar em uma grande diminuição dos custos com manutenção e minimização das
paradas de produção por indisponibilidade de máquinas, já que os mesmos é que lidam
diretamente e diariamente com os equipamentos, e podem, constantemente, acompanhar e
avaliar seu desempenho, tomando medidas no intuito de manter sua conservação e o correto
funcionamento.
Através da pesquisa foram notados também outros fatores que prejudicam e limitam o
desempenho do setor. Em meio a essas variáveis se destacam falta de visão inovadora na
administração das empresas; falta de profissionalização da mão de obra; baixa cooperação
interorganizacional; falta de incentivos e programas de auxílio ao setor.
Foram reveladas algumas oportunidades de crescimento no desempenho empresarial que
poderiam ser facilitadas por meio de planejamento por parte da gerência; mudanças na

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estratégia da organização visando se planejar para o período chuvoso seriam um importante


diferencial para as empresas nesse período no qual a oferta é reduzida.
Em relação à falta de qualificação da mão de obra, investimentos em treinamentos e melhor
remuneração salarial, apesar do pouco capital na maior parte das empresas, são medidas
consideráveis a fim de desconfigurar a mão de obra como um grande limitante de
desempenho na cerâmica vermelha.
Medidas de união das empresas ceramistas para obter benefícios mútuos formando
associações, como a RCC, mostraram-se eficazes para uma melhor cooperação entre as
empresas; entretanto, é necessário sinergia e comprometimento para encontrar resultados
reais.
Segundo o estudo, nota-se ainda que os órgãos governamentais pouco fazem em prol do
desenvolvimento do setor de cerâmica vermelha. Projetos como o APL (Arranjo Produtivo
Local), desenvolvido pelo Sebrae, objetivando promover a competitividade e a
sustentabilidade dos micro e pequenos negócios, podem ser de grande contribuição para as
empresas. Sendo assim, há grande necessidade de se promover mudanças e projetos a fim de
viabilizar melhores condições e contribuir com o desempenho empresarial da indústria de
cerâmica vermelha de Campos.
O processo de evolução da manutenção nessas empresas deve, impreterivelmente, passar por
uma mudança de postura por parte de seus dirigentes e gestores. Nenhuma organização deve
se contentar apenas em “esperar” que algum órgão tome partido de seus problemas e busque
solucionar os mesmos, a visão e iniciativa de buscar a melhoria contínua devem, sempre,
fazer parte efetivamente da política empresarial de qualquer empresa que vislumbre obter
êxito em seus processos competitivos.
Fica evidente que um setor maduro e tradicionalista como o explanado na pesquisa, tende a se
encontrar estagnado, com dificuldades para projetar e implementar mudanças em sua estrutura
organizacional de forma a adquirir vantagens competitivas e otimizar o desempenho da
indústria. Porém, é possível também notar que, mesmo nessas características, existem
oportunidades passíveis de proveito através de medidas que vão desde estudos mais
elaborados e que demandam trabalho árduo e mesmo alto capital para investimento, até
medidas simples que dependem apenas de uma mudança de postura por parte da organização.
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