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XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no


Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

PANORAMA DA INDÚSTRIA
CERÂMICA FOCADO NA
SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO DE
CASO
Antonio Rodolfo Araujo Marcos (UFRN)
rodolfoproducao@yahoo.com.br
Marcela Squires Galvao (UFRN)
m_squires_g@hotmail.com

O atual cenário da economia requer o melhor aproveitamento dos


recursos naturais, propiciando nas organizações a adoção de medidas
voltadas para a sustentabilidade empresarial. Em indústrias
tradicionais, como a indústria cerâmica, a importtância econômica e
social apresentada entra em confronto com os impactos ambientais
negativos provenientes da atividade. O artigo mostra um levantamento
qualitativo dos resíduos gerados, a partir da análise do fluxograma do
processo, assim tem-se uma visão da situação do setor ceramista. O
estudo de caso foi realizado em uma cerâmica localizada no interior
do Rio Grande do Norte, onde se localiza um dos principais pólos
ceramistas do estado. Com o entendimento do processo produtivo e
diante da forte tendência de crescimento do setor, um sistema de
gestão voltado para mitigação dos impactos ambientais torna-se
imprescindível e tem como conseqüência a redução de perdas
financeiras para a empresa.

Palavras-chaves: Cerâmica, Sustentabilidade, Resíduos, Meio


Ambiente.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

1. Introdução
A economia mundial exige das organizações o melhor aproveitamento dos recursos
produtivos com o objetivo de satisfazer a demanda existente, obter melhores resultados e
promover o desenvolvimento da empresa e da sociedade. Dessa forma, as indústrias são
direcionadas a realizar investimentos e melhorias no sistema de produção considerando a
maior quantidade de fatores possíveis. Diante dessas exigências mercadológicas em atender a
demanda pelos produtos e com responsabilidade ambiental, as organizações tendem a
modificar os seus sistemas produtivos.
Em indústrias tradicionais, a importância em construir um modelo de gerenciamento
do processo produtivo e a sua respectiva viabilidade técnica, econômica e ambiental consiste
em uma necessidade tão expressiva como em qualquer outro setor da indústria. Nesse
contexto, a indústria cerâmica está inserida com o intuito de aproveitar melhor os recursos
existentes.
A cerâmica, segundo ESPM (2008), para ser classificada deve-se considerar o
emprego dos produtos, a natureza constituinte, as características texturais da massa base e,
ainda, de características cerâmicas, técnicas e econômicas. A partir, essencialmente, da
matéria-prima empregada na fabricação da cerâmica, a mesma pode ser classificada como
cerâmica estrutural ou vermelha, cerâmica branca e de revestimentos.
A indústria da cerâmica é formada por aproximadamente 7430 empresa no Brasil
empregando diretamente 293 mil trabalhadores e gerando 1,25 milhões de empregos indiretos,
além disso, apresenta um faturamento anual de R$ 6 bilhões, segundo a ANICER –
Associação Nacional da Indústria Cerâmica (2010). Ainda, esse tipo de indústria possui seu
crescimento atrelado ao da indústria da construção civil. Segundo o Anuário de Minas e
Energia (2009), no setor de não-metálicos haverá uma maior demanda por esses produtos do
setor proporcionado pela realização de eventos mundiais no Brasil nos próximos anos.
As cerâmicas se localizam, preferencialmente, em regiões próximas a jazidas
compostas de depósitos de argila, principal matéria-prima utilizada na fabricação dos
produtos. Ainda, como características desse tipo de indústria pode-se citar a gestão familiar, o
tamanho ligado à exploração de jazidas, o baixo custo de instalação, as pequenas barreiras a
entrada de novos concorrentes e tecnologicamente atrasadas quando comparada ao padrão de
outros países.
“A produtividade média do segmento oleiro-cerâmico brasileiro é da ordem de 15 mil
peças/operário/mês, variando bastante conforme a região. A baixa produtividade frente a
outros países mostra a necessidade da modernização do segmento no Brasil.” (MISTÉRIO DE
MINAS E ENERGIA, 2009). Ainda, estima-se que o consumo total de peças no país em 2008
foi da ordem de 75 bilhões de peças, desses 16,5 bilhões foram consumidos na região
Nordeste.
Durante o biênio 2009/2010, o sistema IEL realizou um trabalho na APL da Cerâmica
estrutural do Vale do Apodi-Assú, no Rio Grande do Norte, com a participação de 21
empresas do setor, entretanto o número não caracteriza a totalidade das cerâmicas em
atividade nessa região. O presente artigo realizou o estudo de caso em uma empresa
localizada na mesma região.
Considerando a tendência em sucessivos aumentos da produção de cerâmica estrutural
no país e a não adoção formalizada e efetiva de uma gestão ambiental, que evidencie a gestão

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dos resíduos e a prevenção da poluição, o principal problema do setor cerâmico é o crescer de


maneira sustentável. Dessa forma, o artigo apresenta um levantamento qualitativo dos
resíduos gerados na produção correlacionando-o com a sustentabilidade empresarial e
propondo modificações no sistema produtivo.

2. Suporte Teórico
O modelo de transformação da produção industrial requer recursos de transformação e
recursos a serem transformados para obtenção do produto final. Com o consumo crescente e a
inviabilidade em interromper a produção, a geração de resíduos provenientes da produção
acarretam prejuízos ao meio ambiente. Nesse contexto, as organizações devem utilizar
programas de mitigação dos impactos ambientais não restritos a obrigações legais,
constituindo um ciclo de sustentabilidade empresarial.
Os gerentes de produção possuem atribuições que envolvem diretamente a produção
efetiva de bens e serviços, e também possuem responsabilidades amplas que envolvem a
organização integralmente. Segundo Slack, Chambers & Johnston (2008), entre as
responsabilidades amplas está responsabilidade social, consciência tecnológica e proteção
ambiental. Diante disso, as funções centrais da empresa (produção, marketing e pesquisa e
desenvolvimento) devem propiciar o desenvolvimento industrial voltado para a
sustentabilidade empresarial.
“A interação do homem com o meio ambiente normalmente requer extração e uso de
recursos naturais, o que é necessário para a produção de bens serviços e para suprir as
carências do ser humano. Recursos naturais estão no meio ambiente físico ou biológico, como
por exemplo, no solo, nos vegetais, nos animais, nos minerais; aqueles que de alguma forma
podem interessar para serem transformados em um produto ou serviço”. (FERREIRA &
KELLER, 2009).
Para Jappur et al (2008), “a inclusão do conceito de desenvolvimento sustentável, no
mundo corporativo das empresas, foi definida pelo WBCSD (World Business Council for
Sustainable Development), como o alcance do equilíbrio entre as três dimensões que balizam
a sustentabilidade corporativa, que são: a econômica; a ambiental e a social. Estas dimensões
influenciam todas as organizações constituintes de uma cadeia produtiva, e não somente uma
organização ou empresa”. Paralelamente a idéia de Jappur et al. (2008), a figura 01 apresenta
o tripé da sustentabilidade empresarial proposto pela Copesul (2006) apud Santana (2008).

Figura 01 – Desenvolvimento sustentável – Tripé da sustentabilidade empresarial


Fonte: Copesul (2006) apud Santana (2008)

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Apoiando o conceito de desenvolvimento sustentável nas empresas, Vellani e Ribeiro


(2009) afirmam que as “empresas que não mantêm ações para atuar sobre seus próprios
resíduos não são capazes de integrar desempenho ecológico e econômico. Sustentabilidade
pode ser alcançada quando ha, concomitantemente, desempenho econômico, social e
ecológico. Assim, uma ação ecológica somente aumenta a sustentabilidade quando integra
desempenho econômico e ecológico. Essa integração chama-se ecoeficiência”. (VELLANI;
RIBEIRO, 2009).
Sustentabilidade, segundo Dias (2008) requer destaque devido à necessidade de
solucionar problemas de ecologia global, resultados do avanço do desenvolvimento
econômico tanto dos países quanto de suas empresas, significando o equilíbrio entre a relação
das atividades de uma organização e o meio ambiente no qual está inserida.
Gitman (2001) complementa a idéia de sustentabilidade aliada com a maximização da
riqueza dos acionistas e no ambiente empresarial deve ser formada em conjunto com os
stakeholders. De maneira mais abrangente, “buscando atender suas expectativas de dialogo,
maior transparência de suas atividades e relação ética com a sociedade”. (GITMAN, 2001).
Tachizawa (2002) destaca que as empresas que tomam “decisões estratégicas
integradas à questão ambiental e ecológica conseguirão significativas vantagens competitivas,
quando não, redução de custos e incremento nos lucros a médio e longo prazos”.
A metodologia mais utilizada em gestão ambiental é a Produção mais Limpa, que tem
como princípio básico eliminar a poluição durante o processo de produção.
Andrade, Marinho & Kiperstok (2001), diz que produção limpa consiste em um
conjunto de medidas relativas à produção, tais como: boas práticas operacionais e adoção de
medidas para evitar perdas, armazenamento e disposição final adequada dos resíduos,
redesenham de produtos e processos, minimização e uso suficiente de matérias-primas e
energia, substituição de substâncias tóxicas.
Entre os principais benefícios da produção mais Limpa, segundo Batiz e Farias (2009),
pode-se citar a diminuição dos resíduos na fonte com a conseqüente redução de custos na
manipulação, no tratamento e na destinação final; a elevação do nível de reconhecimento das
empresas perante seus clientes e comunidade; e a redução do consumo de matérias-primas e
materiais. Sem desconsiderar, os menores impactos a saúde das pessoas, melhores condições
de trabalho e redução no número de acidentes.
Para o WBCSD (1996), a ecoeficiência é alcançada quando uma empresa, por meio do
fornecimento de bens e serviços a preços competitivos, consegue satisfazer as necessidades
humanas, trazer qualidade de vida, reduzir progressivamente o impacto ambiental e o
consumo de recursos ao longo de suas operações, a um nível, no máximo, equivalente a
capacidade de sustentação estimada da Terra.
Na dimensão ambiental, a sustentabilidade apóia-se no gerenciamento de resíduos. Os
resíduos provenientes da atividade humana e industrial são classificados quanto ao seu estado
e riscos existentes.
Russo (2003) define resíduos sólidos como “resíduos resultantes da atividade humana
e animal, normalmente sólidos, sem utilização ou indesejáveis pelo seu detentor, no entanto
com capacidades de valorização”. Complementarmente, são “resíduos nos estados sólido e
semi-sólido que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial,
agrícola, de serviços e de varrição.” (NBR 10004/2004).
Segundo a NBR 10004/2004, os resíduos sólidos são classificados como:

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a) CLASSE I - PERIGOSOS: aqueles que em função de suas propriedades físicas, químicas


ou infecto-contagiosas, podem apresentar riscos à saúde pública ou ao meio ambiente, ou
ainda os inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos ou patogênicos.
b) CLASSE II A – NÃO PERIGOSOS E NÃO INERTES: aqueles que não se enquadram nas
classes I e II B, e que podem ser combustíveis, biodegradáveis ou solúveis em água.
c) CLASSE II B NÃO PERIGOSOS E INERTES: aqueles que não apresentam qualquer de
seus constituintes solubilizados em concentrações superiores aos padrões da água,
excetuando-se os padrões de cor, turbidez, sabor e aspecto.
Diante do exposto, as dimensões ambientais, sociais e econômicas que norteiam a
sustentabilidade apresentam-se como essenciais dentro do contexto econômico mundial. No
entanto, algumas empresas não implementam as metodologias sugeridas. As indústrias
cerâmicas, em sua maioria, apóiam-se na tradicionalidade do setor, utilizando baixa
tecnologia e é conhecido pelos impactos ambientais provocados, principalmente pelo uso da
lenha.

3. Metodologia
O artigo trata de um estudo de caso sobre a geração de resíduos em uma indústria de
cerâmica estrutural, analisando as possíveis modificações a serem realizadas visando a
sustentabilidade do setor. Assim, o estudo apresenta uma abordagem do tipo qualitativa,
através da pesquisa aplicada. Quanto aos objetivos, segundo Gil (2002), a pesquisa é do tipo
exploratória, que objetiva a familiaridade com o problema analisado e envolve as etapas de
levantamento bibliográfico e estudo de caso.
Desenvolvido em várias etapas, o artigo deteve-se inicialmente a coleta de
informações sobre a cerâmica e, posteriormente, sobre o setor. Seqüencialmente, visitas
técnicas a indústria cerâmica para conhecer o processo produtivo e obter informações
relevantes para o estudo. O estudo utiliza, seqüencialmente, o fluxograma do processo
produtivo de tijolos e o fluxograma intermediário do mesmo processo para obter o panorama
do setor ceramista nos aspectos de sustentabilidade, como se propõe o artigo.
A área de abrangência de estudo é o setor de produção, onde se concentra a função
produção da empresa. Uma vez realizado o estudo, a organização poderá utilizar das
informações geradas e, também, as cerâmicas localizadas no estado do Rio Grande do Norte
que apresentam as mesmas características de produção. Com isso, prevalecer um sistema de
gestão voltado, também, para os aspectos ambientais.

4. Estudo de caso
No estado do Rio Grande do Norte, a região do Vale do Açu concentra um dos pólos
ceramistas do estado, que consiste em uma das principais atividades econômicas da região,
que têm telhas e tijolos como principais produtos se caracterizando como indústria de
cerâmica vermelha ou estrutural. Com a presença de várias cerâmicas espalhadas pela região,
o crescimento é ditado pelo setor da construção civil tendo seus principais clientes localizados
na cidade de Natal e de Mossoró, as duas maiores cidades do Estado.
A empresa escolhida para o estudo de caso trata-se de uma cerâmica estrutural de
pequeno porte, com uma produção diária de, aproximadamente, 50 mil peças de tijolos (de
oito furos) e empregando 65 pessoas. Entre as principais características do processo produtivo

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encontra-se o uso extensivo de recursos naturais, como argila e lenha, e, conseqüentemente,


os impactos ambientais com a fiscalização constante de órgãos governamentais.

4.1. Processo produtivo


Inicialmente, ocorre a extração da argila em regiões de várzeas com maquinário e
equipamentos apropriados. As jazidas de argila que são exploradas são submetidas a uma
análise de: “volume disponível, acesso para veículos pesados, qualidade dos materiais e
logística de distribuição para o consumidor, a fim de que se tenha a viabilidade técnica e
econômica para a indústria cerâmica.” (LUCENA, 2007).
Para não alterar as propriedades físico-químicas da argila e do produto final, as
cerâmicas são estocadas por um período superior a dois meses em toneladas de argila. De
acordo com o ritmo de produção, a reposição da argila utilizada é realizada.
O processo de produção de tijolos consiste, basicamente, em cinco macrooperações:
preparação da massa – principal etapa do processo, moldagem das peças, secagem, queima e
distribuição dos produtos. A Figura 02 representa o fluxograma do processo produtivo.
Na preparação da massa cerâmica estrutural, a argila localizada no caixão alimentador
é posta na esteira pelos funcionários que controlam manualmente a quantidade a ser inserida
e, quando necessário, realizam a fragmentação. Nessa etapa, as condições de umidade da
argila são empiricamente controladas com o intuito de evitar avarias nas etapas subseqüentes.
A etapa de moldagem das peças consiste em dar forma ao produto com a utilização da
máquina usual de extrusão conhecida como maromba ou extrusora. Assim, ocorre a
homogeneização, desagregação e compactação da massa cerâmica. Quando processada na
máquina a massa cerâmica não é moldada perfeitamente ocorrendo perdas, voltando por meio
de uma esteira para o caixão alimentador para ser reinserida no processo. Essa etapa é
responsável por ditar a quantidade de peças cerâmicas produzidas no final de cada ciclo, ou
seja, é a restrição do sistema produtivo e conta com uma produção diária 55 mil tijolos, dentre
os quais 5% referem-se a perdas, aproximadamente.
A secagem das peças cerâmicas tem a função de eliminar a água contida nos produtos
e requer cuidados para evitar a presença de não-conformidades. Concluída a etapa de
moldagem das peças, essas são transportadas para galpões e/ou céu aberto, de preferência, em
áreas próximas dos fornos e ficam dispostas por um período médio de dois dias. Os
funcionários apresentam fundamental importância devido aos cuidados de manuseio no
transporte dos produtos entre as etapas antecessora, sucessora e troca de posição dos tijolos,
após o primeiro dia de secagem. Quando apresentam quebras, trincas ou empenamentos as
peças podem ter a massa cerâmica reaproveitada sendo essencial a participação do pessoal.
O tempo de secagem dos produtos cerâmicos varia de acordo com as condições
climáticas da região, podendo demorar até três dias – um a mais que o normal – para serem
levados para a etapa da queima, uma vez que a secagem é um processo natural e o céu pode
estar nublado ou com tempo chuvoso.
A queima uma importante etapa do processo, pois as propriedades físicas, químicas e
mecânicas da argila são submetidas ao fogo. Os fornos trabalham 24 horas por dia, no período
da noite há uma equipe responsável por manter a temperatura. A etapa da queima possui
quatro fases:
1. Preenchimento do forno com as peças cerâmicas (tijolos);

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2. Pré-aquecimento e aquecimento do forno com a utilização da lenha, com duração


aproximada de12 horas, até que a temperatura atinja a faixa entre 950ºC e 1000ºC;
3. Queima propriamente dita, quando a temperatura se estabelece no padrão desejável
permanecendo por um período de 12 a 13 horas até que o produto adquira a coloração
pretendida;
4. Retirada manual das peças cerâmicas, de forma gradual e cuidadosa com o auxílio de
circuladores de ar para minimizar os efeitos do calor sob os funcionários.
Após as etapas de secagem e queima, a umidade contida nas peças cerâmicas é
eliminada e obtém-se a coloração vermelha, motivo pelo qual é dado o nome de cerâmica
vermelha. Entanto, durante a retirada dos tijolos dos fornos ocorre a quebra dos mesmos
provocados por falha no manuseio e no transporte de uma área para a outra. Nessa etapa, tem-
se uma perda entre 5 a 10% do total, ou seja, entre 2750 e 5500 unidades de tijolos para cada
ciclo de produção.
Por fim, as peças cerâmicas ou tijolos são colocados em caminhões pelos funcionários
da empresa, responsável pelo carregamento, e são enviados para os clientes.

Figura 02 – Fluxograma do processo produtivo de tijolos


Fonte: Autoria Própria
O modelo de transformação é constituído por microoperações, cada um possui seus
respectivos subprodutos e requer recursos de transformação até concluir o ciclo produtivo.
Assim, são gerados resíduos em todas as etapas do processo de produção e,
conseqüentemente, apresentam impactos ambientais.

4.2.2. Resíduos Gerados na indústria cerâmica

A produção de cerâmica vermelha apresenta resíduos em diferentes proporções de


impacto ambiental nas cinco etapas do processo. Dessa maneira, consideram-se os recursos a
serem transformados e os recursos de transformação para a construção de um fluxograma
qualitativo para entre as atividades de produção identificando os principais resíduos e/ou
aspectos ambientais envolvidos.
Primeiramente, a extração da argila nas jazidas apresenta-se como o primeiro impacto
da atividade ceramista. Essa extração ocorre em várzeas e pode remover a vegetação típica do
local, além de ocorrer até a exaustão do local explorado. Porém, a maioria das empresas
apenas adquire a argila de empresas responsáveis por tal atividade.

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Figura 03 – Fluxograma intermediário do processo produtivo de tijolos


Fonte: Autoria Própria
Nas etapas antecessoras a queima, a argila e as peças quebradas retornam ao processo
de produção, assim não ocorre à perda total da matéria-prima.
Os principais resíduos e com maiores impactos ambientais gerados pela indústria
cerâmica são produzidos na etapa da queima, esses são provenientes da queima da lenha e das
peças quebradas sem nenhum valor agregado.
A lenha utilizada na indústria cerâmica, na etapa da queima, é proveniente de árvores
de cajueiro e algaroba, plantas típicas da região nordeste do país. O uso desse tipo de lenha é
definido pelos órgãos governamentais que fiscalizam e regulam a atividade ceramista. Estima-
se um uso mensal equivalente de 60 a 65 caminhões de lenha mensalmente, implicando em
um custo de aproximadamente 70% do material utilizado na produção.
O atual uso da lenha gera poluição do ar que, dependendo da direção do vento, irá
diretamente para a área urbana e/ou regiões de concentração humana. Diante dessa situação,
pode-se considerar como uma situação grave se avaliar a atividade de vinte cerâmicas no pólo
localizado na região.

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Figura 04 – Lenha e sua respectiva queima


Com finalização do processo de produtos cerâmicos apresenta-se uma perda de 5% de
produtos acabados, essa perda é provocada por erros no manuseio e transporte das peças entre
as etapas. Assim, em média têm-se, diariamente, duas mil peças de tijolos sem nenhum valor
econômico.

Figura 05 – Perda de tijolos


Em termos financeiros, a perda de tijolos apresenta o nível mais crítico da empresa. Os
produtos sem nenhum valor agregado não gera nenhum tipo de receita esperada no período
contábil. A mensuração em valores monetários, considerando uma perda de 5% dos produtos
acabados, promove uma perda mínima de R$ 110.880,00 em um ano.

Preço Médio Perda de Receita Perda de Receita Perda de Receita


praticado (R$) Diária (R$) Mensal (R$) Anual (R$)
R$ 210,00 R$ 420,00 R$ 9.240,00 R$ 110.880,00
Tabela 01 – Perda de Receita
Fonte: Autoria própria

5. Considerações finais
A atividade cerâmica é reconhecida pela importância social e econômica que possui
em regiões do Rio Grande do Norte, porém os impactos ambientais gerados são alvo de
criticas por órgãos não governamentais de proteção ambiental. Nesse contexto, a inserção de
modificações no sistema produtivo capazes de atender as necessidades de aumento da
produtividade e minimização dos impactos ambientais apresenta-se como fundamentais para o
setor.
A indústria cerâmica submete-se a fiscalização de órgãos governamentais
periodicamente, como o IBAMA e o IDEMA. Essa fiscalização refere-se ao tipo de lenha

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utilizada e sobre o local onde foi extraída a mesma. Vale ressaltar que as empresas do setor
apenas cumprem com os aspectos mínimos burocráticos requeridos pelos órgãos
fiscalizadores, estes que garantem o funcionamento da cerâmica.
O estudo apresenta uma realidade da indústria cerâmica e, conseqüentemente, a
necessidade da inserção da responsabilidade ambiental e social na cultura da empresa. A
principal idéia diz respeito ao fato da responsabilidade ambiental ser parte integrante “da
gestão administrativa atingindo as mais altas esferas de decisão, e deixando de ser uma função
exclusiva da produção para tornar-se uma função da administração”. (MAIMON, 1999).
O uso de outros tipos de combustível para as indústrias cerâmicas capazes de substituir
a lenha deve ser avaliado. Como proposta, a utilização de pó de serragem misturado com
bagaço de castanha é viável, além de ser uma prática comum em outras indústrias. Assim, a
empresa estaria empregando alternativas diferentes e reduzindo o desmatamento. Contudo, a
substituição pelo gás natural apresenta-se como a melhor alternativa para a indústria cerâmica.
A adoção de melhores práticas de produção tende a favorecer a organização,
principalmente com o uso da cultura proposta pelo ciclo de melhoria contínua. Condizente
com a idéia, as certificações do tipo ISO mostram-se como parâmetros para o setor, assim
como é para outros setores da indústria, diante das exigências mercadológicas. “As normas de
gestão ambiental têm por objetivo prover as organizações de elementos de um sistema da
gestão ambiental (SGA) eficaz que possam ser integrados a outros requisitos da gestão, e
auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos.” (NBR 14001, 2004).

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