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PANORAMA DA INDÚSTRIA
CERÂMICA FOCADO NA
SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO DE
CASO
Antonio Rodolfo Araujo Marcos (UFRN)
rodolfoproducao@yahoo.com.br
Marcela Squires Galvao (UFRN)
m_squires_g@hotmail.com
1. Introdução
A economia mundial exige das organizações o melhor aproveitamento dos recursos
produtivos com o objetivo de satisfazer a demanda existente, obter melhores resultados e
promover o desenvolvimento da empresa e da sociedade. Dessa forma, as indústrias são
direcionadas a realizar investimentos e melhorias no sistema de produção considerando a
maior quantidade de fatores possíveis. Diante dessas exigências mercadológicas em atender a
demanda pelos produtos e com responsabilidade ambiental, as organizações tendem a
modificar os seus sistemas produtivos.
Em indústrias tradicionais, a importância em construir um modelo de gerenciamento
do processo produtivo e a sua respectiva viabilidade técnica, econômica e ambiental consiste
em uma necessidade tão expressiva como em qualquer outro setor da indústria. Nesse
contexto, a indústria cerâmica está inserida com o intuito de aproveitar melhor os recursos
existentes.
A cerâmica, segundo ESPM (2008), para ser classificada deve-se considerar o
emprego dos produtos, a natureza constituinte, as características texturais da massa base e,
ainda, de características cerâmicas, técnicas e econômicas. A partir, essencialmente, da
matéria-prima empregada na fabricação da cerâmica, a mesma pode ser classificada como
cerâmica estrutural ou vermelha, cerâmica branca e de revestimentos.
A indústria da cerâmica é formada por aproximadamente 7430 empresa no Brasil
empregando diretamente 293 mil trabalhadores e gerando 1,25 milhões de empregos indiretos,
além disso, apresenta um faturamento anual de R$ 6 bilhões, segundo a ANICER –
Associação Nacional da Indústria Cerâmica (2010). Ainda, esse tipo de indústria possui seu
crescimento atrelado ao da indústria da construção civil. Segundo o Anuário de Minas e
Energia (2009), no setor de não-metálicos haverá uma maior demanda por esses produtos do
setor proporcionado pela realização de eventos mundiais no Brasil nos próximos anos.
As cerâmicas se localizam, preferencialmente, em regiões próximas a jazidas
compostas de depósitos de argila, principal matéria-prima utilizada na fabricação dos
produtos. Ainda, como características desse tipo de indústria pode-se citar a gestão familiar, o
tamanho ligado à exploração de jazidas, o baixo custo de instalação, as pequenas barreiras a
entrada de novos concorrentes e tecnologicamente atrasadas quando comparada ao padrão de
outros países.
“A produtividade média do segmento oleiro-cerâmico brasileiro é da ordem de 15 mil
peças/operário/mês, variando bastante conforme a região. A baixa produtividade frente a
outros países mostra a necessidade da modernização do segmento no Brasil.” (MISTÉRIO DE
MINAS E ENERGIA, 2009). Ainda, estima-se que o consumo total de peças no país em 2008
foi da ordem de 75 bilhões de peças, desses 16,5 bilhões foram consumidos na região
Nordeste.
Durante o biênio 2009/2010, o sistema IEL realizou um trabalho na APL da Cerâmica
estrutural do Vale do Apodi-Assú, no Rio Grande do Norte, com a participação de 21
empresas do setor, entretanto o número não caracteriza a totalidade das cerâmicas em
atividade nessa região. O presente artigo realizou o estudo de caso em uma empresa
localizada na mesma região.
Considerando a tendência em sucessivos aumentos da produção de cerâmica estrutural
no país e a não adoção formalizada e efetiva de uma gestão ambiental, que evidencie a gestão
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2. Suporte Teórico
O modelo de transformação da produção industrial requer recursos de transformação e
recursos a serem transformados para obtenção do produto final. Com o consumo crescente e a
inviabilidade em interromper a produção, a geração de resíduos provenientes da produção
acarretam prejuízos ao meio ambiente. Nesse contexto, as organizações devem utilizar
programas de mitigação dos impactos ambientais não restritos a obrigações legais,
constituindo um ciclo de sustentabilidade empresarial.
Os gerentes de produção possuem atribuições que envolvem diretamente a produção
efetiva de bens e serviços, e também possuem responsabilidades amplas que envolvem a
organização integralmente. Segundo Slack, Chambers & Johnston (2008), entre as
responsabilidades amplas está responsabilidade social, consciência tecnológica e proteção
ambiental. Diante disso, as funções centrais da empresa (produção, marketing e pesquisa e
desenvolvimento) devem propiciar o desenvolvimento industrial voltado para a
sustentabilidade empresarial.
“A interação do homem com o meio ambiente normalmente requer extração e uso de
recursos naturais, o que é necessário para a produção de bens serviços e para suprir as
carências do ser humano. Recursos naturais estão no meio ambiente físico ou biológico, como
por exemplo, no solo, nos vegetais, nos animais, nos minerais; aqueles que de alguma forma
podem interessar para serem transformados em um produto ou serviço”. (FERREIRA &
KELLER, 2009).
Para Jappur et al (2008), “a inclusão do conceito de desenvolvimento sustentável, no
mundo corporativo das empresas, foi definida pelo WBCSD (World Business Council for
Sustainable Development), como o alcance do equilíbrio entre as três dimensões que balizam
a sustentabilidade corporativa, que são: a econômica; a ambiental e a social. Estas dimensões
influenciam todas as organizações constituintes de uma cadeia produtiva, e não somente uma
organização ou empresa”. Paralelamente a idéia de Jappur et al. (2008), a figura 01 apresenta
o tripé da sustentabilidade empresarial proposto pela Copesul (2006) apud Santana (2008).
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3. Metodologia
O artigo trata de um estudo de caso sobre a geração de resíduos em uma indústria de
cerâmica estrutural, analisando as possíveis modificações a serem realizadas visando a
sustentabilidade do setor. Assim, o estudo apresenta uma abordagem do tipo qualitativa,
através da pesquisa aplicada. Quanto aos objetivos, segundo Gil (2002), a pesquisa é do tipo
exploratória, que objetiva a familiaridade com o problema analisado e envolve as etapas de
levantamento bibliográfico e estudo de caso.
Desenvolvido em várias etapas, o artigo deteve-se inicialmente a coleta de
informações sobre a cerâmica e, posteriormente, sobre o setor. Seqüencialmente, visitas
técnicas a indústria cerâmica para conhecer o processo produtivo e obter informações
relevantes para o estudo. O estudo utiliza, seqüencialmente, o fluxograma do processo
produtivo de tijolos e o fluxograma intermediário do mesmo processo para obter o panorama
do setor ceramista nos aspectos de sustentabilidade, como se propõe o artigo.
A área de abrangência de estudo é o setor de produção, onde se concentra a função
produção da empresa. Uma vez realizado o estudo, a organização poderá utilizar das
informações geradas e, também, as cerâmicas localizadas no estado do Rio Grande do Norte
que apresentam as mesmas características de produção. Com isso, prevalecer um sistema de
gestão voltado, também, para os aspectos ambientais.
4. Estudo de caso
No estado do Rio Grande do Norte, a região do Vale do Açu concentra um dos pólos
ceramistas do estado, que consiste em uma das principais atividades econômicas da região,
que têm telhas e tijolos como principais produtos se caracterizando como indústria de
cerâmica vermelha ou estrutural. Com a presença de várias cerâmicas espalhadas pela região,
o crescimento é ditado pelo setor da construção civil tendo seus principais clientes localizados
na cidade de Natal e de Mossoró, as duas maiores cidades do Estado.
A empresa escolhida para o estudo de caso trata-se de uma cerâmica estrutural de
pequeno porte, com uma produção diária de, aproximadamente, 50 mil peças de tijolos (de
oito furos) e empregando 65 pessoas. Entre as principais características do processo produtivo
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5. Considerações finais
A atividade cerâmica é reconhecida pela importância social e econômica que possui
em regiões do Rio Grande do Norte, porém os impactos ambientais gerados são alvo de
criticas por órgãos não governamentais de proteção ambiental. Nesse contexto, a inserção de
modificações no sistema produtivo capazes de atender as necessidades de aumento da
produtividade e minimização dos impactos ambientais apresenta-se como fundamentais para o
setor.
A indústria cerâmica submete-se a fiscalização de órgãos governamentais
periodicamente, como o IBAMA e o IDEMA. Essa fiscalização refere-se ao tipo de lenha
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utilizada e sobre o local onde foi extraída a mesma. Vale ressaltar que as empresas do setor
apenas cumprem com os aspectos mínimos burocráticos requeridos pelos órgãos
fiscalizadores, estes que garantem o funcionamento da cerâmica.
O estudo apresenta uma realidade da indústria cerâmica e, conseqüentemente, a
necessidade da inserção da responsabilidade ambiental e social na cultura da empresa. A
principal idéia diz respeito ao fato da responsabilidade ambiental ser parte integrante “da
gestão administrativa atingindo as mais altas esferas de decisão, e deixando de ser uma função
exclusiva da produção para tornar-se uma função da administração”. (MAIMON, 1999).
O uso de outros tipos de combustível para as indústrias cerâmicas capazes de substituir
a lenha deve ser avaliado. Como proposta, a utilização de pó de serragem misturado com
bagaço de castanha é viável, além de ser uma prática comum em outras indústrias. Assim, a
empresa estaria empregando alternativas diferentes e reduzindo o desmatamento. Contudo, a
substituição pelo gás natural apresenta-se como a melhor alternativa para a indústria cerâmica.
A adoção de melhores práticas de produção tende a favorecer a organização,
principalmente com o uso da cultura proposta pelo ciclo de melhoria contínua. Condizente
com a idéia, as certificações do tipo ISO mostram-se como parâmetros para o setor, assim
como é para outros setores da indústria, diante das exigências mercadológicas. “As normas de
gestão ambiental têm por objetivo prover as organizações de elementos de um sistema da
gestão ambiental (SGA) eficaz que possam ser integrados a outros requisitos da gestão, e
auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos.” (NBR 14001, 2004).
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