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BIOTECNOLOGIA

Isabele Cristiana Iser


Marson
Biotecnologia e indústria
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever os benefícios da biotecnologia industrial.


 Reconhecer as aplicações da biotecnologia em diferentes tipos de
indústria.
 Relacionar a biotecnologia industrial com o crescimento sustentável.

Introdução
A biotecnologia tem contribuído enormemente para o setor da indústria,
permitindo que as empresas invistam em tecnologia e gerem novos
produtos, agradando consumidores ao redor do mundo. Além disso, a
biotecnologia permite que as empresas se alinhem a um novo modo
de pensar que está em voga atualmente: proteger a natureza e nossos
recursos naturais. Desse modo, as empresas estão investindo muito em
desenvolvimento tecnológico aliado à sustentabilidade.
Neste capítulo, você vai aprender quais são os principais benefícios
trazidos pela biotecnologia ao setor industrial, vai entender como a bio-
tecnologia pode ser aplicada nas indústrias, gerando os mais variados
produtos, e vai saber mais sobre desenvolvimento sustentável aplicado
na indústria.

Os benefícios da biotecnologia para


o setor industrial
Para que um país permaneça competitivo no mercado econômico global, é
imprescindível direcionar o seu desenvolvimento para o processo de inovação
tecnológica. Os novos conhecimentos gerados a partir da biotecnologia industrial
têm tornado as empresas mais produtivas, sustentáveis e proporcionado maior
geração de emprego, renda, riqueza e bem-estar social para toda a população.
2 Biotecnologia e indústria

A biotecnologia industrial compreende a aplicação da biotecnologia para


o processamento sustentável e para a produção de diversos produtos no setor
industrial. O processamento biotecnológico utiliza enzimas e microrganismos
para aprimorar os processos industriais e gerar materiais e produtos de alto
valor agregado a uma ampla gama de setores industriais, incluindo produtos
químicos, farmacêuticos, agrícolas, de nutrição humana e animal, pasta e papel,
têxteis, energia, materiais e polímeros, utilizando matérias-primas renováveis.
O uso dessas biotecnologias em substituição aos processos existentes tem um
potencial gigante para ajudar a resolver muitos problemas da sociedade, como
a baixa produtividade na agricultura, degradação ambiental, dependência de
combustíveis fósseis, problemas no setor da saúde, entre outros (P-BIO, 2018).
A indústria da biotecnologia vem crescendo rapidamente nos últimos
anos em todo o mundo. Para se ter uma ideia desse crescimento, a receita
global de bens produzidos pela indústria de biotecnologia gira em torno de 50
bilhões de euros ao ano e a estimativa é de que, até 2030, o mercado global da
indústria biotecnológica atinja 300 bilhões de euros (OECD, 2011). O Brasil
tem um ambiente favorável à expansão do uso da biotecnologia na indústria,
com condições privilegiadas para geração de matéria-prima: clima adequado,
maior biodiversidade do planeta, agricultura forte e disponibilidade de terras.
Em 2004, o mercado biotecnológico brasileiro atingiu 2,8% do PIB nacional,
com investimentos, principalmente, na área de produção de biocombustíveis
(BIOBLOG, 2017). No setor de agronegócios, graças ao avanço das pesquisas
e ao aumento do investimento das empresas em biotecnologia, entre os anos de
1997 e 2013, foi observado um benefício de US$ 25 bilhões aos projetos ligados
ao setor agrícola no país. As projeções futuras são ainda mais animadoras:
espera-se que a biotecnologia gere ganhos para o país de aproximadamente
R$ 91 bilhões até 2023 (ISTOÉ, 2015).

No link a seguir, confira um relatório desenvolvido pela Organização para a Cooperação


e Desenvolvimento Econômico (OECD, na sigla em inglês), que traça o papel que a
biotecnologia terá na economia global até 2030 e as políticas públicas que devem ser
desenvolvidas para maximizar seus benefícios.

https://goo.gl/YJaJPy
Biotecnologia e indústria 3

Entre os principais benefícios da biotecnologia na indústria, pode-se destacar:

 Aumenta a competitividade e a produtividade, elevando a eficiência


e diminuindo o uso de matérias-primas fósseis, recursos naturais e
processos de fabricação que prejudiquem o meio ambiente.
 Produz de alimentos de maior durabilidade, diminuindo o desperdício
de comida.
 Pode chegar a evitar a emissão de até 2,5 bilhões de toneladas de CO2 por ano.
 Fornece ferramentas para a produção de novas fontes de energia renová-
vel, como o biodiesel e o bioetanol, reduzindo a dependência do petróleo.

Você sabe o que é energia renovável e não renovável? Energia renovável é aquela que
vem de recursos naturais que são naturalmente reabastecidos, como sol (energia solar),
vento (energia eólica), chuva (energia hídrica), mares, biomassa, etanol, biodiesel e energia
geotérmica. É importante notar que nem todo recurso natural é renovável: por exemplo,
urânio, carvão e petróleo são retirados da natureza, mas existem em quantidade limitada,
sendo, por isso, considerados energia não renovável. Esse limite depende dos recursos
existentes no nosso planeta, como é o exemplo dos combustíveis fósseis.

 Contribui para um futuro com segurança alimentar, reduzindo a quan-


tidade de terras necessárias para o plantio, o uso de pesticidas e o
consumo de água.
 Permite o surgimento de biorrefinarias e a produção de bioprodutos
que possam substituir os petroquímicos, aumentando o valor agregado
e a produção industrial sustentável.
 Substitui os produtos químicos tradicionais na produção de alimentos
e bebidas, causando menos impacto sobre os sabores e cores dos ali-
mentos, resultando em redução de resíduos e produtos mais saudáveis.
 Estimula a transição do país de uma economia pavimentada em proces-
sos tradicionais para a bioeconomia, que, segundo a OECD, movimenta,
no mercado mundial, cerca de 2 trilhões de euros e gera cerca de 22
milhões de empregos.
 Permite avanços significativos para a saúde humana e animal, tanto
em termos de diagnóstico quanto de tratamento de doenças (ASSO-
CIAÇÃO..., 2018; FIESP, 2018).
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Aplicações da biotecnologia nos diferentes


tipos de indústria
Historicamente, as empresas de biotecnologia surgiram da associação entre
pesquisadores acadêmicos, cientistas e gestores que aproveitaram as novas
oportunidades tecnológicas para criar empresas para a comercialização dos
seus resultados de pesquisa. Um exemplo disso são os pesquisadores das
Universidades da Califórnia e de Stanford, nos Estados Unidos, que tiveram
um importante papel no desenvolvimento da indústria no Vale do Silício, o
mais famoso polo tecnológico do mundo. Desse modo, a colaboração entre
universidades e indústrias, aliada ao empreendedorismo acadêmico e à política
de patenteamento, encorajou o desenvolvimento comercial e industrial da
biotecnologia (QUEIROZ, 2011).
Segundo pesquisa da Fundação Biominas, em 2009, o setor de biotec-
nologia no Brasil contava com, aproximadamente, 110 empresas atuando,
principalmente, nas áreas de agricultura, bioenergia, insumos, saúde humana,
saúde animal e meio ambiente. Entre os principais serviços e produtos, estão
desenvolvimento e comercialização de kits de diagnóstico, vacinas, proteí-
nas recombinantes, anticorpos, próteses, identificação de novas moléculas e
fármacos, biossensores, desenvolvimento de sementes e plantas transgênicas,
novos métodos para controle de pragas, produção de fertilizantes e inoculan-
tes a partir de microorganismos, melhoramento genético, desenvolvimento
de tecnologias para a produção de etanol e biodiesel, kits para extração de
DNA, meios de cultura, biopolímeros, desenvolvimento e oferta de produtos e
serviços para biorremediação, tratamento biológico de resíduos e recuperação
de áreas degradadas (FUNDAÇÃO..., 2009).
A biotecnologia permite a produção dos mais variados produtos e o setor
produtivo está de olho nisso há alguns anos. A manipulação genética de
organismos não ocorre somente na agricultura, com o uso de sementes trans-
gênicas, mas em outras atividades, como a produção de biocombustíveis e até
na fabricação de produtos aparentemente triviais, como o sabão em pó. Nesse
último caso, bactérias geneticamente modificadas são usadas para produzir
enzimas que removem manchas de gordura, com o objetivo de substituir os
produtos sintéticos e minimizar o consumo de água e energia.
O primeiro detergente contendo enzimas foi desenvolvido em 1913, na
Alemanha, e era produzido a partir da enzima tripsina, retirada do pâncreas do
porco. Em 1963, a empresa multinacional dinamarquesa Novozymes começou
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a produzir diversas enzimas comercialmente — entre elas, um detergente


enzimático à base de enzima lipase produzida por microorganismos geneti-
camente modificados.
Outras enzimas também são produzidas por essa empresa a fim de eli-
minar gordura trans de óleos, para biocatálise, para a reidratação de couros
secos (usado na indústria têxtil) e para melhorar o sabor do leite (indústria
alimentícia) (ASSOCIAÇÃO..., 2018; NOVOZYMES, 2018).
A DuPont, uma empresa de renome mundial no mercado de polímeros e
biomateriais, possui uma linha de biomateriais, conhecida como “Sorona”,
que tem revolucionado a indústria têxtil. Isso porque esse material é um
polímero de base biológica altamente sustentável, usado para a fabricação de
fibras de poliéster com desempenho superior ao das já existentes no mercado
(LINGLE, 2017).
A biotecnologia também está presente na área da saúde, atuando em di-
versos segmentos. Um deles é a produção de biomarcadores para terapia e
diagnóstico de doenças, como o câncer. Esses biomarcadores são extremamente
úteis, pois podem ajudar a prever o curso da doença e auxiliar na escolha do
melhor tratamento para cada paciente. A empresa belga Janssen, pertencente
ao grupo Johnson & Johnson, tem-se empenhado em produzir esses biomar-
cadores. Entre eles, estão biomarcadores associados à dependência de vias
de sinalização para formação tumoral e biomarcadores relacionados com
sensibilidade e resistência a tratamento, que ajudam a selecionar os pacientes
mais responsivos a um determinado tratamento (JANSSEN, 2018).
O setor de biofármacos também está em franca expansão — no Brasil,
por exemplo, existem diversas empresas fabricantes. Entre elas, está a Libbs
Farmacêutica, com sede na cidade de São Paulo e especializada na produção
de medicamentos biológicos e biossimilares destinados ao tratamento de
câncer, artrite reumatoide e outras doenças autoimunes. Entre os principais
medicamentos biotecnológicos produzidos pela empresa, estão os anticorpos
monoclonais (VASCONCELOS, 2016).
É interessante notar que o mercado de biofármacos é um dos mais atraen-
tes economicamente e está em constante expansão, recebendo investimento
crescente de grandes multinacionais farmacêuticas, sendo que algumas delas
já possuem mais da metade de seus faturamentos em biofármacos (Figura 1).
As previsões futuras para o setor são animadoras. Acredita-se que, até o
ano de 2030, 80% dos produtos farmacêuticos passarão a ser desenvolvidos
com o uso de biotecnologia (OECD, 2009).
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Figura 1. Porcentagem de faturamento em biofármacos (entre os anos


de 2000-2012) das principais indústrias farmacêuticas do mundo.
Fonte: Otto, Santagostino e Schrader (2014).

Outras empresas farmacêuticas nacionais também têm investido na produ-


ção de biofármacos, como é o caso do Instituto de Tecnologia em Imunobioló-
gicos (Bio-Manguinhos), que investiu R$ 500 milhões no Centro Integrado de
Protótipos, Biofármacos e Reativos para Diagnósticos (CIPBR). O Centro irá
produzir insumos como os biofármacos alfaepoetina humana recombinante
(indicada contra anemia grave e outras doenças) e o antiviral alfainterferona
2b humana recombinante, além de reativos para diagnóstico laboratorial de
diferentes doenças. Além disso, a empresa está realizando um projeto para
identificar malária em bolsas de sangue de doadores e outro para produzir
biofármacos a partir de uma tecnologia que usa células de cenoura como
plataforma vegetal (INSTITUTO..., 2014; G1, 2018).
A biotecnologia também é aliada de outras empresas que têm ganhado o
reconhecimento do mercado. Com o apoio da fundação Bill & Melinda Gates,
a empresa de biotecnologia Amyris desenvolveu uma levedura alterada geneti-
camente, capaz de criar um precursor da artemisinina, o medicamento utilizado
no tratamento da malária, doença que mata mais de meio milhão de pessoas
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todos os anos. Em 2013, a empresa farmacêutica Sanofi iniciou a produção da


artemisinina utilizando essa tecnologia, que substitui a produção tradicional
dependente da planta artemísia (Artemisia annua), cuja colheita e extração está
sujeita a sazonalidade e flutuações do preço de mercado (PESQUISA..., 2013).
A Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, também possui vá-
rios projetos interessantes utilizando biotecnologia. Um deles utiliza uma linhagem
de levedura modificada geneticamente para expressar um gene para conversão
de xilose a ácido xilônico. O ácido xilônico pode ser aplicado diretamente como
dispersante em cimento, antibiótico, aditivo para melhorar a absorção de vitamina
C, branqueamento de têxteis, biopesticida, entre outros. Outro projeto visa utilizar
bactéria da biodiversidade brasileira para produzir lipases que podem ser aplicadas
em diferentes indústrias, como na de alimentos, para modificação de gorduras, na
fabricação de detergentes, nas indústrias farmacêutica, de cosméticos e têxtil e na
síntese de biodiesel. Além desses, há projetos de produção de biofábricas, a partir
de cianobactérias transgênicas, capazes de expressar enzimas beta-glicosidases
utilizadas nos processos de fabricação de etanol celulósico, papel, alimentos e
tecidos. Essas biofábricas ajudarão a reduzir os custos de produção dessas enzimas,
bem como reduzir as emissões de carbono (EMBRAPA, 2018).
O etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar, foi a alternativa econômica
encontrada como combustível em meio à crise do petróleo mundial, sendo o
exemplo de maior êxito dentre os biocombustíveis. Hoje, mais de 90% dos
carros fabricados no país utilizam etanol de maneira pura ou misturada à
gasolina. Contudo, o aumento da demanda por esse combustível fez com que
se procurasse aperfeiçoar e aumentar as possibilidades de produção do etanol
a partir da biotecnologia, de modo que, assim, surgiu o etanol celulósico. Uma
das principais matérias-primas usadas para a produção do etanol celulósico é
a biomassa, composta por lenha, bagaço de cana-de-açúcar, resíduos flores-
tais, resíduos agrícolas, palha de milho, casca de arroz, entre outras matérias
orgânicas que eram, até então, descartadas pelos agricultores (ALMEIDA,
2018; LIMA, 2009). A GranBio, empresa brasileira de biotecnologia, focada
em biocombustível de segunda geração, construiu a primeira fábrica de etanol
celulósico em escala comercial do Hemisfério Sul. A produção ocorre por
meio de processos de hidrólise enzimática e fermentação, com a utilização
de leveduras geneticamente modificadas, que permitem a transformação de
palha e bagaço de cana-de-açúcar no etanol celulósico (GRANBIO, 2018).
Outro setor industrial que cresce exponencialmente e gera um enorme lucro
para as empresas envolvidas é o mercado dos transgênicos. Esse setor é domi-
nado por multinacionais, como Monsanto, Syngenta, Dupont, Basf, Bayer e
Dow. Apesar do domínio das multinacionais, a Embrapa tem direcionado muitos
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esforços nas pesquisas com transgênicos, tornando-se referência mundial em


pesquisas e tecnologias para a agricultura. Em relação ao desenvolvimento
de plantas transgênicas, a Embrapa trabalha para gerar plantas resistentes a
doenças e pragas da agricultura e também variedades tolerantes a estresses
climáticos, como a seca, por exemplo (THUSWOHL, 2013; EMBRAPA, 2018).

Biotecnologia industrial e o crescimento


sustentável
A sustentabilidade é um dos temas mais abordados na atualidade. A questão
é tão importante que diferentes setores industriais estudam a melhor forma
de combinar desenvolvimento com preservação de recursos naturais. Isso
significa que a biotecnologia pode proporcionar desenvolvimento tecnológico
aliado à sustentabilidade, permitindo ao ser humano interagir com o mundo
sem prejudicar o meio ambiente, de modo a preservar os recursos naturais
das gerações futuras (NAVARRO, 2012).
O tema sustentabilidade é tão importante que, no ano 2000, a Organização
das Nações Unidas (ONU) propôs o Pacto Global, a fim de encorajar empresas a
adotar políticas de responsabilidade social, coorporativa e de sustentabilidade. O
Pacto é uma iniciativa voluntária das empresas e visa a fornecer diretrizes para
a promoção do crescimento sustentável, mobilizando a comunidade empresarial
do mundo todo para a adoção de valores internacionalmente aceitos em suas
práticas de negócios. Atualmente, são quase 13 mil empresas engajadas com o
Pacto em mais de 160 países. Fazem parte pequenas, médias e grandes empresas,
além de organizações da sociedade relacionadas ao setor privado. No Brasil,
empresas como Natura, Eurofarma, o Boticário, Pão de Açúcar, Petrobrás e
Banco do Brasil já fazem parte da iniciativa (PACTO GLOBAL, 2018).
Minimizar os impactos ambientais também causa muitos benefícios para a
indústria, pois a sustentabilidade gera reflexos na parte financeira da empresa
e ajuda a construir uma imagem positiva no mercado.
Os biocombustíveis, como o etanol, têm sido uma alternativa sustentável
para diminuir a poluição nas cidades e reduzir a dependência do Brasil na
importação de combustíveis fósseis, como o petróleo. Tudo isso porque os
biocombustíveis possuem origem em matérias-primas biológicas renováveis,
sendo possível produzir uma gama de opções: etanol, biodiesel, biogás, óleo
vegetal, etc. (CARVALHO; BORTOLINI; BARCELLOS, 2014).
A biomassa da cana-de-açúcar, além de ser utilizada para produzir com-
bustíveis, pode gerar energia (bioeletricidade) elétrica. Para se ter uma ideia,
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o Brasil produziu cerca de 177 milhões de toneladas de bagaço de cana e 101


milhões de toneladas de palha em 2015 — imagine quanta energia poderia ter
sido gerada. O nosso país possui muito potencial para a produção de todas as
fontes de energias renováveis, o que faltam são políticas para incentivar o setor
(BIOMASSA, 2016). Uma boa notícia é que, em 2016, a biomassa foi a segunda
fonte de geração de energia elétrica no Brasil, com o registro de participação
de 8,8%, superando os 8,1% de participação do gás natural. Entretanto, o setor
de energias renováveis ainda precisa desenvolver-se bastante (BRASIL, 2017).
Uma das empresas que mais investe em biotecnologia e que está no ranking
das 100 empresas mais sustentáveis do mundo é a empresa de cosméticos
L’Oréal, que tem investido em ativos derivados de plantas e até criou uma
unidade de biotecnologia na França baseada em cultura de células vegetais. A
partir da cultura de células-tronco de uma espécie de rosa, os pesquisadores da
L’Oréal conseguiram obter um extrato que age sobre a regeneração da pele. A
empresa também desenvolveu um ingrediente ativo, a Stemoxidina, que imita
o ambiente ideal das células-tronco nos folículos capilares e tem sido usado
para o tratamento da calvície. Além disso, os cientistas conseguiram isolar um
probiótico, o Lactobacillius paracasei ST11, que é capaz de reduzir significa-
tivamente a caspa e os sintomas relacionados a ela (L'ORÉAL BRASIL, 2018;
BARBOSA, 2016). Com todo o investimento em biotecnologia, a empresa foi
capaz de reduzir em 67% as emissões de CO2 desde 2005 e também é conhe-
cida por fazer uma gestão sustentável da água. Além disso, alguns dos novos
produtos lançados em 2016, como shampoos e condicionadores, demonstraram
níveis de biodegradabilidade superiores a 98% (L'ORÉAL BRASIL, 2017).
A partir dessas iniciativas inovadoras, aliadas a práticas sustentáveis, marcas
como a L’Oréal, acabam sendo pioneiras no seu segmento e conquistando uma
ampla fatia do mercado. Isso também é impulsionado pelas novas tendências
e pela visão estratégica, que incluem o desenvolvimento sustentável como
diferencial e conquistam cada vez mais a preferência do consumidor.

A empresa dinamarquesa Novozymes é outro exemplo de sustentabilidade. A partir de


seus produtos biotecnológicos e práticas sustentáveis, a empresa ajudou a economizar,
em 2016, cerca de 60 milhões de toneladas em emissões de gás carbônico e dióxido de
carbono, contribuindo para a redução da produção de resíduos e a emissão de gases
de efeito estufa. A economia alcançada equivale à retirada de cerca de 30 milhões de
carros das estradas (BIOBLOG, 2017).
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Em termos de sustentabilidade, a produção de plásticos de fontes renováveis


é a próxima fronteira a ser explorada. Como o plástico é um material indispen-
sável na vida moderna, tornar sua distribuição mais sustentável pode ter um
impacto positivo muito importante para o meio ambiente. O consumo anual
de plástico no mundo inteiro cresceu 20 vezes desde os anos 1950, totalizando
150 milhões de toneladas. Estima-se que a produção de 1 kg do plástico mais
comum exija o equivalente a 2 kg de matéria-prima fóssil (petróleo) e de
energia e libere aproximadamente 6 kg de dióxido de carbono. Os plásticos
verdes ou não poluentes poderiam aliviar em grande medida esses impactos
negativos. O plástico verde, também conhecido como bioplástico, é feito 100%
de matéria-prima renovável (como o álcool de origem vegetal), tem as mesmas
especificações dos plásticos petroquímicos e é 100% reciclável. Além disso,
a produção de plásticos verdes absorve CO2 durante a fotossíntese da cana-
-de-açúcar. A cada 1 kg de plástico verde produzido, entre 2,1 kg e 2,5 kg de
CO2 são eliminados da atmosfera. O Brasil não é o único país que fabrica o
bioplástico. Nos EUA, essa tecnologia já existe há mais de uma década, sendo
o milho a matéria-prima mais comumente utilizada. A empresa NatureWorks
tem uma usina capaz de produzir 140.000 toneladas de plástico biodegradável
de amido de milho em Nebraska, nos Estados Unidos. Outras empresas, como
a Dupont e a Metabolix, também produzem plásticos de amido de milho. Há,
também, diversos projetos em andamento na Europa (MORALES et al., 2010).
No Brasil, também tem sido desenvolvido o amido termoplástico, que é
produzido a partir do amido e tem atraído a atenção de empresas. Algumas
empresas estrangeiras, como a Novamont, já estão produzindo e comercia-
lizando filmes e peletes de blendas de amido termoplástico. As vantagens
do amido termoplástico incluem o fato de ele ser renovável, possuir custo
relativamente baixo e a possibilidade de ser convertido química, física e
biologicamente em compostos úteis à indústria. Outro plástico revolucionário
para reduzir a poluição no meio ambiente e que é produzido aqui no Brasil
é o plástico fotodegradável, que se deteriora com a luz solar. Esse produto
foi patenteado por cientistas do Instituto de Química da UNICAMP e é uma
mistura de polietileno com um polímero orgânico que se decompõe pelo menos
duas vezes mais rápido que o plástico comum, que se desfaz em 20 a 30 anos
(DA ROZ; GIESSE, 2003).
Biotecnologia e indústria 11

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