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BIOCOMBUSTÍVEIS, BIOMASSA E BIOGÁS

Sumário

BIOCOMBUSTÍVEIS, BIOMASSA E BIOGÁS ......................................... 0

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 3

1. INTRODUÇÃO................................................................................ 4

2. BIOCOMBÚSTIVEIS: conceito ....................................................... 5

3. A UTILIZAÇÃO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS COMO ALTERNATIVA


PARA OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS ............................................................... 7

4. PERSPECTIVAS FUTURAS: DESAFIOS NA UTILIZAÇÃO DOS


BIOCOUMBUSTÍVEIS ..................................................................................... 12

5. BIOMASSA ................................................................................... 14

6. USO DA BIOMASSA COMO FONTE DE ENERGIA .................... 15

7. DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS BIOMASSAS DO BRASIL ......... 21

7.1 Biomassa de origem Florestal ...................................................... 21


7.2 Principais produtos ....................................................................... 22
7.2.1 Lenha e carvão vegetal ......................................................... 23

7.2.2 Resíduos de madeira e Licor negro ....................................... 24

7.3 Biomassa de origem Agrícola ...................................................... 26


7.3.1 Cana-de-açúcar ................................................................... 27

7.3.2 Arroz .................................................................................... 27

7.3.3 Capim elefante....................................................................... 28

7.3.3 Milho .................................................................................... 29

7.3.4 Soja ..................................................................................... 30

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8. CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DO BIOGÁS .............. 31

8.1 Principais Formas de Obtenção de Biogás ................................ 32


8.1.1 Biogás proveniente do tratamento de efluentes .............. 33

8.1.2 Biogás proveniente de aterro sanitário ............................ 34

9. APROVEITAMENTO DO BIOGÁS ............................................... 36

9.1 Geração de energia elétrica e térmica ......................................... 36


9.2 Uso veicular ................................................................................. 37
10. REFERÊNCIAS: ........................................................................... 39

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1. INTRODUÇÃO

A energia pode ser obtida de diversas maneiras, uma delas é a produção


de biogás a partir de resíduos alimentícios, obtidos de indústrias, escolas,
restaurantes, hospitais, entre outros, que geralmente os destinam para aterros
sanitários. Esses resíduos podem servir de matéria-prima para a geração de uma
energia renovável, a partir da degradação da matéria orgânica - por bactérias
anaeróbicas ou por processos térmicos.

O Biogás não é um combustível novo, porém, por muito tempo, a falta de


preocupação com o meio ambiente e os baixos preços dos combustíveis fósseis
deixaram o biogás à margem como opção energética. O biogás foi descoberto
como gás dos pântanos no século XVII, mas foi só um século mais tarde que foi
reconhecida a presença de metano no gás dos pântanos. Já no século XIX,
Ulysses Gayon, aluno de Pasteur, realizou a fermentação anaeróbia misturando
estrume e água, a 35ºC, conseguindo obter 100 litros de gás por m³ de matéria.
Vários países (China, Índia, Paquistão) sempre utilizaram o biogás como fonte
de energia, pois está associado ao tratamento sanitário e ambiental dos resíduos
orgânicos, uma operação, então, com três benefícios.

O Biogás tem origem nos efluentes agropecuários, agroindustriais e


urbanos, resulta da degradação biológica anaeróbia da matéria orgânica. Pode-
se conseguir biogás a partir de: dejetos de animais, resíduos urbanos (RSU –
“lixo”), vinhaça da produção de etanol e esgoto urbano.

O poder calorífico do biogás varia entre 22.500 a 25.000 KJ.m-3,


assumindo o metano com cerca de 35.800 KJ. M-3, dependendo da concentração
do metano no biogás (JORDÃO et al., 1995).

A composição do biogás é difícil de ser definida, pois depende do material


orgânico utilizado e do tipo de tratamento anaeróbio que sofre. Contudo, em

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linhas gerais, o biogás é uma mistura gasosa composta principalmente por:


metano (CH4):50 – 65%do volume de gás produzido; dióxido de carbono (gás
carbônico, CO2): 25 – 50% do volume de gás produzido e traços de outros gases,
“Gases traços” em torno de 5% (Hidrogênio (H2): 0 – 1 % do volume, - cheiro de
ovo podre, elevada toxidade e corrosivo, pode causar chuva ácida; oxigênio (0 2):
0 – 2% do volume – oxidante, corrosivo; amoníaco (NH3): 0 – 1% do volume;
nitrogênio (N2): 0 – 7% do volume; CO – tem poder calorífico a ser explorado,
tóxico; NHS; NCO; HC – X (Br, F, CI) – problemas de corrosão; ciclohexano (C6
H12 – biogás de aterro – tóxico, ataca plástico e borrachas).

Os produtos da biodigestão anaeróbia são: o biogás (biocombustível) e


biofertilizante – matéria orgânica estabilizada e com o pH entre 6,9 – 7,1, quando
as matérias primas forem dejetos animais e vinhaça.

2. BIOCOMBÚSTIVEIS: conceito

Biocombustíveis são combustíveis produzidos a partir de fontes


renováveis (fontes de energia que podem se recompor num ritmo capaz de
suportar sua utilização sem restrições ou risco de esgotamento), como
biomassa e produtos agrícolas. São fontes de energia que não contribuem para
o acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera sendo este o seu principal
papel na matriz energética.

Este tipo de combustível pode ser usado em veículos integralmente ou


misturados com combustíveis fósseis. Aqui no Brasil, por exemplo, o diesel é
misturado com biodiesel e a gasolina sofre adição de etanol.

As fontes fornecedoras de biocombustíveis mais conhecidas no mundo


são cana-de-açúcar, milho, soja, semente de girassol, madeira e celulose. A
partir destas fontes é possível produzir biocombustíveis, como o etanol e
biodiesel.

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Os biocombustíveis são fontes de energia que não contribuem para o


acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera. Como os gases gerados na sua
queima são reabsorvidos no crescimento da safra seguinte, há um equilíbrio
entre a emissão e a absorção de poluentes. Além disso, os biocombustíveis que
contêm oxigênio em sua composição, como o etanol e o biodiesel, ajudam a
reduzir as emissões de monóxido de carbono (CO) quando adicionados aos
combustíveis fósseis. E reduzir essas emissões representa menos poluição
atmosférica local, principalmente nas grandes cidades.

É importante salientar que biocombustíveis e biomassa não são a mesma


coisa. Biomassa é um material vegetal orgânico que armazena a energia do Sol
na forma de energia química. É, ainda, a quantidade de material vivo existente
numa determinada área, em determinado momento, em geral expressa em
unidades de energia ou no peso seco de matéria orgânica não-fóssil. Sua
origem são as plantas (aquáticas e terrestres), os resíduos florestais e da
agropecuária (bagaço de cana-de-açúcar, esterco), os óleos vegetais (buriti,
babaçu, mamona, dendê, etc), os resíduos urbanos (aterro sanitário, lodo de
esgoto) e alguns resíduos industriais (da indústria madeireira, de alimentos e
bebidas, de papel e celulose, beneficiamento de grãos).

A biomassa voltada para fins energéticos abrange a utilização desses


vários resíduos para a geração de fontes alternativas de energia. O Brasil é um
grande produtor de produtos agrícolas, que por sua vez geram uma enorme – e
contínua – quantidade de biomassa.

No Brasil e em vários países do mundo, converte-se essa energia


química armazenada em combustíveis líquidos em processos industriais. Por
exemplo, é possível fermentar os açúcares de plantações de milho, trigo ou
beterraba e convertê-los em etanol. Ou então, beneficiar o óleo de vegetais
como pupunha, soja, mamona, dendê, babaçu, canola e amendoim para
substituir o óleo diesel como fonte de energia.

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3. A UTILIZAÇÃO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS COMO


ALTERNATIVA PARA OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS

Há mais de cem anos, Rudolph Diesel projetou o motor a diesel original,


para funcionar com óleo vegetal extraído do amendoim (MA & HANNA 1999).
No entanto, na época, a utilização de combustíveis com base em óleos vegetais
não era aceitável, pois eles eram mais caros do que os combustíveis derivados
do petróleo. Atualmente, porém, com os aumentos nos preços do petróleo e as
incertezas em relação a sua disponibilidade, trazem novamente o interesse nas
fontes renováveis para a produção de combustíveis.

A utilização dos biocombustíveis se torna interessante por apresentar


vantagens tais como: substituição do óleo diesel em caldeiras e motores de
combustão interna sem grandes ajustes, as emissões de sulfato são
consideradas quase zero, além de emitir somente pequenos montantes de CO2
na atmosfera, principalmente quando se observa todo ciclo de vida do petróleo,
que inclui o cultivo, a produção e a conversão em biodiesel (BOZBAS 2005).

A demanda mundial por combustíveis renováveis tem se expandido de


forma rápida nos últimos anos e deverá acelerar ainda mais em um futuro
próximo. Isso se deve à combinação de diversos fatores:

• necessidade de redução da dependência de derivados de petróleo nas


matrizes energéticas nacionais e mundiais;
• incentivo à agricultura e às indústrias locais;

• desenvolvimento de estratégias para a redução e/ ou limitação do


volume de emissões de gases causadores do efeito estufa.

O etanol, que é produzido em diversos países, não apenas como


combustível, mas como o principal componente das bebidas alcoólicas, é

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empregado na mistura com a gasolina, sendo comum adicionar E10 (10% de


etanol em 90% de gasolina). Juntos, Brasil e Estados Unidos produzem cerca de
90% de todo o etanol do mundo. Com base na cultura do milho, os Estados
Unidos, produz aproximadamente 75% do etanol de seu país, seguido pelo
Brasil, onde a cultura da cana de açúcar se repete sendo o estado de São Paulo
o maior produtor (58%), seguido pelos estados do Paraná, Minas Gerais,
Alagoas e Pernambuco. A Índia segue sendo o maior produtor de cana de açúcar
do mundo, mas sua utilização como biocombustível ainda é pequena se
contrastada com a produção brasileira (MASIEIRO & LOPES, 2008) (Fig. 1).

Figura 1: Principais produtores de etanol em bilhões de litros em 2005.


Fonte: MASIEIRO & LOPES 2008.

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O Brasil ocupa local de destaque no desenvolvimento e uso de fontes


renováveis de energia, por causa da sua grande extensão territorial, clima e
várias alternativas. Os processos de desenvolvimento econômico somam-se às
pressões para a busca de energias que possam substituir o petróleo e, assim,
os biocombustíveis na forma de etanol e de biodiesel vêm despertando o
interesse de todos os agentes econômicos (MASIEIRO & LOPES, 2008).

A utilização de biocombustível oriundo da gordura animal e de outros óleos


vegetais também vem sendo utilizados no Brasil e a seguir, são mostrados
alguns exemplos de sua efetividade.

Na pesquisa de GOMES e colaboradores (2008), é discutida a produção


do biodiesel a partir do óleo de frango. Segundo os autores, a produção brasileira
de carne de frango está concentrada na região sul, e representa 55,81% da
produção, tendo o Estado do Paraná uma posição de destaque, representando
27% da produção brasileira.

Os óleos e gorduras, vegetais ou animais, são chamados triglicerídeos,


produtos naturais da reação do propanotriol (glicerol) com ácidos graxos, cujas
cadeias têm de 12 a 22 átomos de carbono e peso molecular três vezes maiores
que o óleo diesel. Os ésteres são provenientes da reação de condensação de
um ácido carboxílico e um álcool, chamada de reação de esterificação, os quais
apresentam peso molecular e propriedades físicas e químicas semelhantes ao
óleo diesel (GOMES et al 2008).

De maneira geral, as gorduras animais são geralmente classificadas como


sebos, gorduras que apresentam estado sólido em temperatura ambiente, dada
a sua composição percentual ser elevada em ácidos graxos saturados,
principalmente o esteárico. As gorduras de frangos são classificadas como óleo
de frango, por causa do baixo percentual de ácido esteárico, ficando próximas a
óleos como o de soja, apresentando-se em estado líquido a temperatura
ambiente, facilitando a reação de transesterificação (GOMES et al 2008).

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Os autores objetivaram em tal estudo, determinar o potencial de produção


de biodiesel, a partir do óleo de frango, produzido nas cooperativas da região
oeste do Estado do Paraná, caracterizando as propriedades físicas e químicas
do óleo de frango; realizando ainda uma transesterificação em escala
laboratorial, além de determinar o rendimento do processo em biodiesel e a
avaliação do potencial de produção do óleo de frango. Ao testarem a eficiência
do biocombustível, os autores concluíram que o mesmo apresentou um
rendimento de até 95%, podendo atender 37,1% da quantidade total de biodiesel
necessária no Estado.

NETO e colaboradores (2000) também discutiram a utilização de óleos


vegetais usados em frituras como combustível alternativo ao diesel convencional
que foram testados no transporte coletivo da cidade de Curitiba, PR. Os óleos
vegetais são produtos naturais constituídos por uma mistura de ésteres
derivados do glicerol (triglicerídeos), cujos ácidos graxos contêm cadeias de 8 a
24 átomos de carbono com diferentes graus de insaturação (NETO et al 2000).

A utilização de biodiesel no transporte rodoviário pesado oferece grandes


vantagens para o meio ambiente, principalmente em grandes centros urbanos,
tendo em vista que a emissão de poluentes é menor que a do óleo diesel. Em
seus estudos, os autores encontraram que a maior diferença foi verificada com
relação à emissão de fumaça, cuja redução média foi 41,5%, medido em escala
Bosch (Fig. 2):

Figura 2: Emissão de fumaça em ônibus de transporte coletivo de Curitiba


– PR, determinada em escala Bosch a partir da queima do diesel comercial e da
mistura B20 contendo biodiesel (éster metílico) de óleo de frituras. Fonte: NETO
et al 2000.

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Figura: 2

Os autores concluíram que os resultados foram bastante promissores. No


entanto, para avaliar a real eficiência e viabilidade deste biocombustível
alternativo, será necessária a realização de testes de longa duração para que se
possam avaliar as consequências mecânicas que o biodiesel de óleo de fritura
efetivamente acarreta em motores lacrados previamente aferidos (NETO et al
2000).

Não obstante, um dos principais efeitos causado pela expansão da


produção de biocombustíveis é o avanço da fronteira agrícola sobre áreas de
floresta nativa, como ocorre com a soja no Brasil, onde a fronteira agrícola está
se expandindo para o bioma

Amazônico levando a um aumento nas taxas de desmatamento. Em


várias regiões, o etanol e o biodiesel continuam sendo mais caros que os
combustíveis fósseis sendo subsidiados direta ou indiretamente para viabilizar
sua produção. O emprego de óleo vegetal para produzir combustível diminuiria
sua oferta no mercado de alimentos, podendo, portanto, ocorrer um aumento do
preço do óleo vegetal alimentar, caso não haja, simultaneamente, oferta para
atender à demanda do mercado de alimentos e de combustível (MENDES &
COSTA 2009).

Por sua vez, a pesquisa sobre o biodiesel extraído de algas é considerada


a nova fronteira do setor. A expectativa em relação a esse biodiesel é enorme,

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pois as algas (I) absorvem o CO2; (II) crescem de forma rápida e exponencial;
(III) são ricas em lipídios (óleo); (IV) podem ser cultivadas em piscinas ou lagoas
abertas ou em fotobiorreatores; (V) podem apresentar grandes produtividades
por hectare por necessitar relativamente de pouco espaço físico (terra), o
que não ocorre com as culturas vegetais tradicionais; e (VI) não são utilizadas
como alimento de uma forma geral (MENDES & COSTA 2009).

No Brasil, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em


parceria com a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP/PR), lançou
em 2008, através do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), edital de pesquisa com o objetivo de selecionar projetos
voltados para a arquitetura e uso de microalgas para a produção de biodiesel
(FRANCO et al 2013). Dentre as propostas apresentadas, os temas abordavam,
dentre outros aspectos, desenvolvimento de técnicas de cultivo; maximização da
produtividade em óleo; avaliação da viabilidade econômica do processo
global, do cultivo à obtenção de biodiesel; processos mais econômicos e
eficientes para a coleta da biomassa algal e a extração da fração lipídica;
avaliação das propriedades físico-químicas de biodiesel de microalgas e adoção
de estratégias, visando garantir com que atendam às especificações de
qualidade definidas nas resoluções da Agência Nacional de Petróleo – ANP.

O biocombustível oriundo de microalgas representa uma alternativa


promissora para o futuro, no entanto, ainda há a necessidade de se reduzir os
custos de produção para que essa fonte energética se torne economicamente
viável aos combustíveis tradicionais.

4. PERSPECTIVAS FUTURAS: DESAFIOS NA UTILIZAÇÃO


DOS BIOCOUMBUSTÍVEIS

O uso dos biocombustíveis no Brasil é relativamente recente e,


naturalmente, existem ainda grandes desafios a serem superados. A demanda

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mundial por biocombustíveis deverá crescer a taxas elevadas, impulsionada pela


conscientização da necessidade de deter o processo de aquecimento global,
bem como pela preocupação de uma possível escassez de petróleo. Devido ao
seu pioneirismo no setor, o país tem firmado parcerias de transferência de
tecnologia e cooperação na produção e comercialização de biocombustíveis com
vários países. No entanto, a oferta potencial de biodiesel, por exemplo, é muito
superior à demanda, provocando, assim, um excesso de capacidade ociosa.
Uma das grandes dificuldades do setor é a impossibilidade de exportar o produto
nacional para os grandes consumidores internacionais. Isso impõe ao Brasil o
desafio de insistir na discussão, em sua agenda externa, do fim das barreiras
impostas pelos países europeus, sem as quais a produção de biodiesel nesses
países não se viabilizaria. E ainda, há a necessidade de transformar o
biocombustível em commodity internacional que respeite todas as
especificações impostas nos diversos mercados. De fato, o Brasil é uma nação
com nível de desenvolvimento ainda insuficiente, ao qual se associam um baixo
consumo específico de energia, carência de infraestrutura energética e
concentração do uso das riquezas naturais.

A matriz energética brasileira é dependente do desenvolvimento


econômico do país. Assim, é necessária uma política energética eficiente que
reconheça que este é um fato fundamental e crescente, visto que parte do
sistema energético foi privatizado e depende, portanto, de investimentos n ã o -
governamentais. O licenciamento ambiental dos empreendimentos também deve
ser obedecido, pois é possível mitigar muitos dos impactos, com políticas
corretas e, prévio e transparente estudo de impacto ambiental. Não se podem
deixar de lado aspectos de segurança no fornecimento, criação de empregos e
de sustentabilidade ambiental.

A questão dos biocombustíveis também se torna delicada pelo fato de


que não se pode simplesmente afirmar que devemos substituir totalmente o
petróleo pelo etanol e o biodiesel, pois existem frações valiosas do petróleo

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que não podem ser atualmente substituídas pelo uso de biocombustíveis de


maneira economicamente viável. As áreas de energia, meio ambiente e,
principalmente, economia, estão em constante mutação, e novas ideias,
propostas e soluções são apresentadas a cada dia.

No entanto, os efeitos causados pela utilização dos combustíveis fósseis


ao meio ambiente no decorrer dos séculos, são extremamente visíveis e
preocupantes, de modo que se torna necessário encontrarmos maneiras
coordenadas de mitigar e minimizar tais impactos. E os esforços para tal feito,
devem partir das esferas econômicas, ambientais e sociais.

5. BIOMASSA

Para Cortez, Lora e Gómez (2009) biomassa é uma fonte renovável, que
tem origem em resíduos sólidos urbanos (animais, vegetais, industriais e
florestais) voltados para fins energéticos. Dentre as fontes vegetais temos a
madeira, folhas, cascas, resíduos agrícolas, como a casca de arroz, bagaço de
cana-de-açúcar etc., que têm um poder calorífico médio de 15,7 Mj/Kg.

A necessidade de redução dos efeitos da emissão de CO2 na atmosfera


conduz as pesquisas a uma maior utilização de biomassas e resíduos na matriz
energética, pois o CO2 emitido na oxidação do carbono contido nas biomassas
e seus derivados são enquadrados no ciclo de absorção do dióxido de carbono
na fotossíntese do crescimento de mais biomassa, já o dióxido de carbono da
oxidação de derivados do petróleo, não entra nesse balanço, aumentando sua
concentração na atmosfera (SÁNCHEZ et al, 2010).

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6. USO DA BIOMASSA COMO FONTE DE ENERGIA

A biomassa é um hidrocarboneto com átomos de oxigênio na sua


composição química. Esse elemento faz com que a necessidade de oxigênio
externo do material seja menor, o que o difere do petróleo, é menos poluente,
porém tem uma menor energia liberada, reduzindo seu PCS (Poder Calorífico
Superior). A lignina é um polímero tridimensional com a finalidade de manter as
fibras unidas. Matérias menores e moles tendem a conter mais celulose, entre
45-50%, complementados com 25-35% de hemicelulose e 25-35% de
hemicelulose e 25- 35 % de lignina (RENDEIRO et al. 2008).

A biomassa voltada para fins energéticos abrange a utilização de vários


resíduos para a geração de fontes alternativas de energia (CORTEZ, LORA &
AYARZA, 2008).

De acordo com Brito (2007), o uso da madeira para energia engloba


efeitos de diminuição da dependência energética externa e uma maior
segurança quanto ao suprimento da demanda, algo que muitos dos combustíveis
hoje empregados não proporcionam. Além do mais, graças ao seu alto potencial
renovável e produtivo, especialmente no caso brasileiro, a madeira representa
uma matriz energética ambientalmente mais limpa e socialmente mais justa, pois
é uma das fontes de energia que permite uma das maiores taxas de geração de
emprego por recurso monetário investido.

A madeira sempre foi uma grande fonte de energia para a humanidade de


contínua sendo, como lenha ou carvão. É usada amplamente para cocção de
alimentos (churrascarias, pizzarias, padarias, fogões à lenha), sem secadores
industriais, caldeiras etc. a proposta de usar madeira como fonte energia não é
recente, mas a ideia de destinação dos resíduos da poda, capina e serragem
urbana para geração de energia é algo incomum (MAZZONETTO et al., 2012).

De acordo com Sánchez et al. (2010), a caracterização de biomassas


deve ser baseada em seu uso e apresentar elementos que auxiliem na

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compreensão das propriedades determinantes, inerentes a cada biomassa. O


emprego da biomassa. O emprego da biomassa com fins energéticos requer um
pleno conhecimento das propriedades físico-químicas do combustível.

O desenvolvimento da civilização está atrelado ao consumo de energia


exercido pelo homem. Desde os primórdios, quando o homem descobriu o fogo
e começou a utilizar sua energia para cocção de alimentos e outros fins, esta
energia tem sido obtida através de atividades extrativistas, aproveitando-se
assim dos recursos da natureza. Este processo era realizado sem quaisquer
preocupações com os impactos que poderiam advir de sua execução, pois se
acreditava que os recursos naturais e os combustíveis fósseis foram fontes
abundantes de energia, sem previsão de esgotamento.

Contudo, desde a metade do século XX este cenário está em


transformação. A evolução dos processos industriais e o desenvolvimento da
sociedade acarretam em um aumento sistemático da demanda de energia e,
devido a este fato, a comunidade mundial começou a perceber os impactos de
um consumo descontrolado destes recursos. Foi constatado que a grande
maioria dos insumos energéticos utilizados na produção de energia em grande
escala possui reservas finitas. Estes aumentos de demanda agregados às
limitações das reservas fizeram com que as perspectivas de duração das fontes
de energia predominantes se tornassem reduzidas.

Outra ação que mudou consideravelmente o cenário de produção de


energia ocorreu ao final do século XX com a implantação de legislações
ambientais em diversos países. A preocupação em se preservar o meio ambiente
para as gerações futuras, discutindo-se questões tais como o aquecimento
global e as emissões de carbono, passou a ser um tópico de destaque em
qualquer projeto de geração de energia.

Além dos aspectos quantitativos e ambientais existem também fatores


econômicos que impactam diretamente no setor energético, com foco na
indústria de petróleo. Após a Segunda Grande Guerra, em 1945, surgem sinais

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iniciais da importância geoestratégica do petróleo com as primeiras ameaças de


embargo petrolífero realizadas pelos países árabes aos Estados Unidos. Desde
este período até os dias atuais já ocorreram cinco crises relacionadas a produção
/ consumo de petróleo (1956, 1973, 1979, 1991 e 2008), revelando ao mundo as
consequências econômicas da grande dependência de uma única fonte de
energia.

Em vista dos fatos apresentados se faz necessário a busca de alternativas


energéticas sustentáveis visando atender a demanda crescente de energia no
âmbito mundial. Muitas alternativas surgiram como solução deste problema,
dando-se destaque a energia solar, a energia eólica, a energia atômica e a
energia proveniente das biomassas. Todas as alternativas citadas possuem
vantagens e desvantagens que devem ser levadas em consideração. Por este
motivo, até o momento, nenhuma das opções despontou como a melhor
alternativa, mas cada uma deve ser analisada, verificando-se a melhor relação
custo-benefício para cada aplicação.

Tabela 1 – Classe de combustíveis utilizados no Brasil para geração de


energia elétrica - Operação.

Quantidade de
Combustível Potência (kW) %
empreendimentos
Biomassa 429 8.990.493 28,79
Fóssil 1045 20.753.350 66,46
Outros 36 1.485.270 4,76
Total 1510 31.229.113 100
Fonte: ANEEL:BIG, 2012 – Acesso em 19/01/2012.

Do ponto de vista energético a biomassa é toda matéria orgânica, seja de


origem animal ou vegetal, que pode ser utilizada na produção de energia
(ANEEL, 2002). A mesma sempre esteve presente como fonte de energia na
história da civilização, inicialmente na forma de lenha ou carvão e, a partir de
meados do século XX, outras formas de utilização da biomassa ganharam

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ênfase. A utilização da biomassa tem como grandes vantagens, seu


aproveitamento direto por meio da combustão em fornos e caldeiras e também
a redução de impactos socioambientais. Como desvantagens, seu
aproveitamento apresenta eficiência reduzida, contudo estão sendo pesquisados
aperfeiçoamentos das tecnologias de conversão.

Por ser considerada uma fonte energética limpa e renovável, o interesse


na utilização de biomassa ganhou espaço no mercado de energia, passando a
ser considerada uma boa alternativa para a diversificação da matriz energética
mundial e consequente redução da dependência dos combustíveis fósseis,
conforme se pode observar nos dados apresentados na Tabela 1 e na Figura 3.
Por este motivo os investimentos e incentivos do setor público e do setor privado
de diversos países na produção de energia utilizando a biomassa têm
aumentado consideravelmente nos últimos anos.

Figura: 3
Participação das diversas fontes de energia no consumo (1973 e 2006). Fonte: IEA,
2008.

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A biomassa, quando utilizada para fins energéticos, é classificada em três


categorias: florestal, agrícola e rejeitos urbanos, onde, na biomassa energética
agrícola, estão incluídos as culturas agro energéticas e os resíduos e
subprodutos das atividades agrícolas, agroindustriais e da produção animal. O
potencial energético de cada um desses grupos depende tanto da matéria-prima
utilizada quanto da tecnologia utilizada no processamento para obtê-los.

Existem diversas rotas tecnológicas para a utilização da biomassa com a


finalidade de se produzir energia elétrica, contudo, todas envolvem a
transformação da biomassa, por meio de processos termoquímicos, bioquímicos
e físico-químicos, em um produto intermediário, que por fim, será usado na
geração de eletricidade. Para cada cenário deve ser observado a viabilidade
técnica e econômica de cada tipo de biomassa e da tecnologia a ser empregada
visando a otimização dos resultados.

A matriz energética brasileira, considerando-se os empreendimentos em


operação, segundo o BIG 2012, está atualmente dividida conforme apresentado
na Tabela 2.

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Tabela 2 – Matriz de energia elétrica do Brasil: empreendimentos em


operação.

Empreendimentos em Operação
Capacidade Instalada Total
Tipo N.° de % N.° de %
(kW) (kW)
Usinas Usinas
Hidráulica - 966 82.318.681 65,76 966 82.318.681 65,76
Natural 102 11.424.053 9,13
Gás 140 13.213.236 10,56
Processo 38 1.789.183 1,43
Óleo
891 3.942.036 3,15
Diesel
Petróleo 923 7.074.243 5,65
Óleo
32 3.132.207 2,50
Residual
Bagaço
347 7.263.608 5,80
de Cana
Licor
14 1.245.198 0,99
Negro
Biomassa Madeira 42 373.827 0,30 427 8.986.143 7,18
Biogás 16 70.902 0,06
Casca de
8 32.608 0,03
Arroz
Nuclear - 2 2.007.000 1,60 2 2.007.000 1,60
Carvão
Carvão Mineral 10 1.944.054 1,55 10 1.944.054 1,55
Mineral
Eólica - 72 1.452.792 1,16 72 1.452.792 1,16
Paraguai 5.650.000 5,46
Argentina 2.250.000 2,17
Importação Venezuela 200.000 0,19 - 8.170.000 6,53

Uruguai 70.000 0,07


Total 2.548 125.171.587 100 2.548 125.171.587 100
Fonte: ANEEL:BIG, 2012 – Acesso em 19/01/2012

20
21

A Tabela 3 apresenta uma visão mais detalhada das biomassas


utilizadas nas usinas em operação no Brasil.

Tabela 3 – Detalhamento do uso da biomassa para geração de energia


elétrica no mercado brasileiro - Operação.

Quantidade de
Combustível Potência (kW) %
empreendimentos
Licor negro 14 1.245.198 13,85
Resíduos de madeira 37 316.927 3,53
Capim elefante 2 31.700 0,35
Biogás 16 70.902 0,79
Bagaço de cana-de-açúcar 347 7.263.608 80,79
Óleo de palmiste 2 4.350 0,05
Carvão vegetal 3 25.200 0,28
Casca de arroz 8 32.608 0,36
Fonte: ANEEL:BIG, 2012 – Acesso em 19/01/2012

7. DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS BIOMASSAS DO BRASIL

7.1 Biomassa de origem Florestal

De acordo com a ANEEL, quando se considera o ponto de vista


energético, para empreendimentos do setor elétrico, biomassa é todo recurso
renovável oriundo de matéria orgânica (de origem animal ou vegetal) que pode
ser utilizada na produção de energia. Assim como a energia hidráulica e outras
fontes renováveis, a biomassa é uma forma indireta de energia solar. A energia
solar é convertida em energia química, através da fotossíntese, base dos
processos biológicos de todos os seres vivos (ANEEL, 2017).

21
22

As usinas movidas à biomassa produziram 15% a mais de energia no


primeiro semestre de 2015 em relação ao mesmo período do ano anterior. O
montante médio produzido no primeiro semestre de 2015 (1.860 MW) foi 239
MW médios superior ao registrado no mesmo período de 2014, quando foram
gerados 1.621 MW médios.

A biomassa energética florestal é definida como produtos e subprodutos


dos recursos florestais que incluem basicamente biomassa lenhosa, produzida
de forma sustentável a partir de florestas cultivadas ou de florestas nativas,
obtida por desflorestamento de floresta nativa para abertura de áreas para
agropecuária, ou ainda originada em atividades que processam ou utilizam a
madeira para fins não energéticos, destacando-se a indústria de papel e
celulose, indústria moveleira, serrarias etc. O conteúdo energético desta classe
de biomassa está associado à celulose e lignina contidas na matéria e ao baixo
teor de umidade. Seu aproveitamento no uso final energético se realiza,
principalmente, através das rotas tecnológicas de transformação termoquímica
mais simples, como combustão direta e carbonização, mas rotas mais
complexas também são empregadas para a produção de combustíveis líquidos
e gasosos, como metanol, etanol, gases de síntese, licor negro (um subproduto
da indústria de celulose), entre outros (ANEEL:EPE, 2007).

7.2 Principais produtos

Os principais produtos da biomassa podem ser: carvão vegetal (biochar),


bioóleo, gás de síntese (syngas) ou gás produto, vapor, bioeletricidade, briquetes
e paletes. Alguns são adequações da biomassa num produto mais durável, fácil
de transportar e armazenar (biochar/carvão vegetal, pallets, briquete) ou outros
são conversões térmicas para outro produto bioóleo, syngas ou gás produto (CO
+ H2).

22
23

O briquete originou-se na Indústria Naval dos Estados Unidos em 1848,


porém não teve grande visibilidade em função da falta de interesse provocada
pela grande disponibilidade de lenha e de petróleo e da pouca preocupação
ambiental na época. O briquete é um biocombustível sólido e compacto que
substitui com grande eficiência o carvão vegetal, o gás natural e a lenha. Ele é
feito a partir do reaproveitamento de resíduos orgânicos, tais como: bagaço de
cana, casca de arroz, casca de algodão, casca de café, casca de coco, resíduos
de cascas de árvores, palha de milho, sabugo, madeira de lei, caroço de açaí,
serragem, entre outros (DANTAS, SANTOS e SOUZA; 2012).

7.2.1 Lenha e carvão vegetal

A lenha é definida como ramos, troncos, achas (tora de lenha, cavaca) de


madeira tosca ou quaisquer pedaços de madeira que podem ser utilizados como
combustível. No Brasil, ela participa com cerca de 10% da produção de energia
primária e continua tendo grande importância na matriz energética do país. Em
relação a sua composição a lenha possui de 41% a 49% de celulose, de 15% a
27% de hemicelulose e de 18% a 24% de lignina e seu poder calorífico inferior
médio é de 3100 Kcal/Kg.

A produção de lenha pode ser dividida em dois segmentos: a lenha catada


e a lenha produzida para fins comerciais. A lenha catada proveniente de matas
nativas parecia uma fonte inesgotável desta biomassa, contudo a forma
predatória com que a mesma foi explorada causou problemas críticos em
diversas regiões do país. Várias regiões onde existiam abundantes coberturas
florestais passaram a conviver com a degradação do solo, a alteração no regime
das chuvas e consequente desertificação.

Na produção de lenha para fins comerciais, principalmente nas serrarias


e indústrias de móveis, a lenha proveniente das matas nativas é substituída pela

23
24

lenha de reflorestamento, sendo o eucalipto a principal árvore cultivada para este


fim. Após a utilização da lenha nas fábricas são gerados resíduos industriais
como pontas de toras, costaneiras e serragem de diferentes tamanhos e
densidade. Tais resíduos podem ter um aproveitamento energético.

Para a lenha catada, de uso residencial, é considerada uma densidade


com valor médio de 300 Kg/m³ e, para a lenha comercial, a densidade de 390
Kg/m³ (BEN, 2011).

No Brasil em 2010, cerca de 33% da lenha produzida foi transformada em


carvão vegetal. Esta transformação é realizada através dos processos
conhecidos como carbonização, que consiste na queima da lenha com presença
controlada de ar, ou pelo processo de pirólise, onde a lenha é submetida a altas
temperaturas em um ambiente com pouquíssima ou nenhuma quantidade de
oxigênio. O poder calorífico inferior do carvão vegetal é de 6460 Kcal/Kg e sua
densidade média é de 250 Kg/m³.

Em relação a sua composição têm-se de 20% a 35% de material volátil,


de 65% a 80% de carbono fixo e de 1% a 3% as cinzas (material inorgânico).

O Brasil é o maior produtor mundial deste insumo energético, sendo o


setor industrial, liderado pelas indústrias de ferro-gusa, aço e ferro-ligas, o maior
consumidor do carvão vegetal utilizando 85% da produção nacional. O setor
residencial consome cerca de 9% e o setor comercial fica com 1,5% da produção
de carvão vegetal.

7.2.2 Resíduos de madeira e Licor negro

O Brasil possui alto potencial florestal devido às suas grandes extensões


de terra que possibilitam um alto volume de produção de madeira. A cadeia
produtiva da madeira gera uma grande quantidade de resíduos se

24
25

considerarmos os processos de transformação primário, secundário e terciário


que, se não tratados adequadamente, podem gerar diversos problemas
ambientais. Estes resíduos são constituídos pelo material florestal orgânico que
sobra na floresta após a colheita, sobras de madeira, com ou sem casca, galhos
grossos e finos, fuste, casca, copa, touça e raízes.

As árvores mais utilizadas em florestas de reflorestamento são o pinus e


o eucalipto. O pinus é do gênero de plantas da família pinaceae e são árvores
perenes presentes principalmente em climas temperados. Seus resíduos
possuem poder calorífico inferior de 4174 Kcal/Kg e densidade de 350 Kg/m³. Já
o eucalipto é a designação vulgar das várias espécies vegetais do gênero
Eucalyptus, pertencente à família das mirtáceas, que compreende outros 130
gêneros. Seus resíduos possuem poder calorífico inferior de 4024 Kcal/Kg e
densidade de 374 Kg/m³. Tanto os valores citados para o eucalipto quanto para
o pinus consideram um teor de umidade em torno de 25%. O eucalipto é
responsável por 81,6% da área total com florestas plantadas e o pinus é
responsável por 17,2%, ficando 1,2% da área plantada para outros gêneros.

Outro derivado da madeira que é bastante utilizado como combustível


para a geração de energia elétrica é o licor negro. O licor negro, também
conhecido como lixívia negra, é um resíduo líquido proveniente do digestor após
o processo de cozimento da madeira. É uma mistura complexa que contém
grande número de substâncias orgânicas dissolvidas da madeira junto a seus
componentes inorgânicos. Seu poder calorífico inferior é da ordem de 2860
Kcal/Kg de licor.

Na indústria de produção de papel a matéria prima é a polpa da madeira


que é obtida através de processos mecânicos e químicos da madeira bruta
separando-a em lignina, celulose e hemicelulose (componentes da madeira). Os
processos mecânicos trituram a madeira, separando assim apenas a
hemicelulose que é uma polpa de menor qualidade, de fibras curtas e de cor
amarelada. O processo químico na indústria de papel mais difundido no Brasil é

25
26

o Kraft, onde uma solução de hidróxido de sódio / sulfito de sódio, conhecido


como licor branco, é adicionada para separar a celulose da matéria prima
lenhosa, etapa essa conhecida como digestão. Nesta operação, mais da metade
da madeira se solubiliza, saindo junto com os produtos químicos na forma de
uma lixívia escura, o licor negro.

No Brasil, a produção total de licor negro no ano de 2010 foi de 21.247.000


toneladas, sendo 4.796.000 toneladas (22,6%) aplicadas em transformação
(geração de energia elétrica). Este quantitativo equivale a 1,37 milhões de tep e
15,95 TWh, incluindo os empreendimentos cadastrados no BIG.

7.3 Biomassa de origem Agrícola

A biomassa energética agrícola é definida como os produtos e


subprodutos provenientes das plantações não florestais, tipicamente originados
de colheitas anuais, cujas culturas são selecionadas segundo as propriedades
de teores de amido, celulose, carboidratos e lipídios, contidos na matéria, em
função da rota tecnológica a que se destina. As culturas agro energéticas utilizam
principalmente rotas tecnológicas de transformações biológicas e físico-
químicas, como fermentação, hidrólise e esterificação, empregadas para a
produção de combustíveis líquidos, como o etanol, o biodiesel e óleos vegetais
diversos. Integram estas culturas a cana de açúcar, o milho, o trigo, a beterraba,
a soja, o amendoim, o girassol, a mamona e o dendê, existindo uma grande
variedade de oleaginosas a serem exploradas. Abaixo estão descritas as
biomassas agrícolas com maior destaque no cenário brasileiro.

26
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7.3.1 Cana-de-açúcar

Cana de açúcar é uma gramínea com uma haste fibrosa espessa,


crescendo até 6 metros de altura. As variedades comerciais de cana de açúcar
são híbridos complexos de várias espécies dentro do gênero Saccharum. A
espécie mais conhecida é Saccharum officinarum.

A planta de cana é constituída por quatro partes principais, que são:


raízes, talho (fruto agrícola), folhas e flores. O talho é constituído no seu interior
por um tecido esponjoso muito rico em sumo açucarado que pode ser extraído
de diversas maneiras. O conteúdo calórico da cana-de-açúcar, considerando
todos os seus componentes (sacarose, fibras, água e outros) é de,
aproximadamente, 1060 Kcal/Kg. Para o bagaço de cana o poder calorífico
inferior é de 2130 Kcal/Kg, considerando o bagaço com 50% de umidade. O
poder calorífico inferior das pontas e folhas (palha) da cana-de-açúcar é de
3105 Kcal/Kg, também considerando 50% de umidade.

A cana de açúcar é constituída por fibra e sumo onde o sumo é composto


por água, sólidos solúveis ou brix. O brix é um composto de sacarose mais
açúcares redutores e sais, sendo estes dois últimos considerados impurezas.
Em outras palavras a cana de açúcar, considerando a matéria seca a 30%, tem
a seguinte composição: 70% de umidade, 14,7% de fibras, 13% de açúcares e
2,3% de não- açúcares.

7.3.2 Arroz

O arroz é uma gramínea anual que tipicamente cresce até 1 – 1,8 metros
de altura. A principal espécie de arroz cultivada é a oryza sativa, uma das 23
espécies do gênero. As plantas desde gênero são tolerantes a condições
desérticas, quentes, úmidas, alagadas, secas e frias, e crescem em solos
salinos, alcalinos e ácidos.

27
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A palha de arroz (0,38 tonelada para cada tonelada de arroz colhido) é


definida como o resíduo que permanece no campo após a etapa de colheita. Já
a casca de arroz (22% do peso total do arroz com casca) é o resíduo gerado
após o processamento industrial do arroz bruto.

O poder calorífico inferior da palha e da casca são, respectivamente de


3821 Kcal/Kg e 3200 Kcal/Kg.

A cultura do arroz é muito exigente em relação a umidade do solo, contudo


pode ser desenvolvida sob diversas condições climáticas. Para que a plantação
seja bem sucedida dois fatores são de suma importância: água em abundância
para que seja mantida a temperatura ambiente dentro da faixa adequada e, nos
sistemas tradicionais, mão-de-obra intensiva.

Em torno de 15% das cascas de arroz residuais do processo industrial são


utilizadas na fase de secagem do próprio processo, sendo que os outros 85%,
assim como os resíduos de palha de arroz gerados no plantio, não possuem
outro tipo de reaproveitamento.

7.3.3 Capim elefante

O capim elefante é uma gramínea perene com altura entre três e cinco
metros. Foi trazida da África para servir de pastagem e é utilizada principalmente
na criação de gado de corte e leiteiro. Suas principais características são: possui
crescimento rápido, tolera solos pobres de nutrientes e gera uma quantidade
maior de biomassa por área. Seu poder calorífico inferior é de 3441 Kcal/Kg (25%
de água).

O capim-elefante pode ser colhido seis meses após o seu plantio e


permite de dois a quatro colheitas por ano, o que possibilita fornecimento de
biomassa durante todo o ano. O potencial energético do capim-elefante pode ser

28
29

descrito com a relação de 45 toneladas/ha/ano de biomassa seca


(MAZZARELLA, IPT) que podem virar energia. Além disso, a cultura do capim-
elefante é altamente eficiente na fixação de CO2 atmosférico durante o processo
de fotossíntese para a produção da biomassa vegetal, contribuindo para a
redução do efeito estufa.

A transformação do capim-elefante em energia consiste em sua colheita


mecanizada e posterior secagem. Em uma próxima etapa, o mesmo segue
através de uma esteira para uma máquina onde as folhas são picadas em
pequenos pedaços e onde é retirado o restante da umidade. Em seguida, estes
pedaços são depositados em uma caldeira em que serão queimados e
transformados em energia térmica.

7.3.3 Milho

O milho é uma gramínea anual originária da América Central. Possui


tipicamente de dois a três metros de altura e não possui sabugo no topo da haste.
O milho possui flores masculinas e femininas separadas, em que as flores
masculinas emergem como a franja no topo da haste depois que todas as folhas
se formaram. Já as flores femininas se encontram na base das folhas, no meio
da haste. Após a polinização, o grupo de flores femininas forma as espigas.

Como impactos ambientais do cultivo do milho podem ser citados o uso


intensivo de agroquímicos causando o surgimento de resistência em ervas
daninhas, assim como de pragas e doenças, uso excessivo de água para
irrigação, erosão do solo e degradação do mesmo, contaminação da água por
escoamento e lixiviação de agroquímicos, perda de habitats e efeitos sobre a
biodiversidade e a disseminação de pólen de lavouras geneticamente
modificadas.

No processo de colheita do milho a utilização de máquinas é fundamental


e aplicado praticamente à totalidade da produção. O milho é colhido e a própria

29
30

máquina faz o beneficiamento do grão, retirando o caule, folhas, palha e sabugo,


tendo como resultado o grão de milho limpo. Os grãos são depositados na
própria máquina e os resíduos são despejados na lavoura, pela parte de trás da
máquina. Essa é uma grande desvantagem, pois todos os resíduos do milho,
chamados de palhada, ficam distribuídos por toda a área plantada, dispersos no
ambiente. Este fato ocorre em toda produção a granel de milho no Brasil, o que
praticamente inviabiliza a utilização da palhada na geração de energia elétrica
devido aos altos custos para juntar e transportar estes resíduos. O poder
calorífico da palhada de milho é de 4227 Kcal/Kg.

7.3.4 Soja

A soja é um grão rico em proteínas e pertence à família fabaceae


(leguminosa), assim como o feijão, a lentilha e a ervilha. O poder calorífico da
palha de soja é de 3487 Kcal/Kg.

Na produção de soja as exigências térmicas e hídricas são altas,


destacando- se as fases mais críticas que são a floração e a do enchimento dos
grãos. Apesar destes fatos, a soja suporta bem a escassez de água na fase
vegetativa e, no estágio de maturação e colheita, tolera excesso de umidade.

Tabela 4 – Informações técnicas da cultura de soja.

Item Dado
Ciclo 105 a 135 dias
Teor de óleo no grão 20%
Teor de farelo 72% a 79%
Produtividade média (grão) 2800 Kg/ha
Rendimento em óleo 560 Kg/ha
Fonte: MAPA e SPAE, 2010

30
31

O processamento dos grãos de soja não gera resíduo e, sendo assim,


todos os resíduos da cultura de soja são provenientes do processo de colheita,
ou seja, os grãos são colhidos e a palha (folhas, caule, talos e cascas) é retirada
e descartada na lavoura. Assim como na cultura do milho, esta característica
torna sua utilização muito custosa devido aos gastos com o recolhimento,
compactação e transporte dos resíduos.

8. CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DO BIOGÁS

O biogás é uma mistura gasosa composta principalmente de metano (CH4)


e gás carbônico (CO2), derivada da atividade biológica durante a decomposição
anaeróbia da matéria orgânica em diversos ambientes. A faixa de composição
geral- mente encontrada do biogás em relação a outras misturas gasosas
combustíveis, principalmente o Gás Natural (GNV) e o Gás de Síntese (SynGas)
de processos de Gaseificação da Biomassa.

O metano é um gás que tem um potencial de efeito estufa 21 vezes maior


que o do dióxido de carbono, contribuindo, substancialmente, para o agrava-
mento do efeito estufa e, consequentemente, do aquecimento global. O metano
produzido no processo de digestão anaeróbica pode causar grande impacto
ambiental se for liberado diretamente na atmosfera. Por isso, há a necessidade
da sua queima ou aproveitamento energético, convertendo o CH 4 para CO2 di-
minuindo, assim, o impacto causado ao meio ambiente. Trata-se de um gás in-
color, inodoro e altamente combustível. Sua combustão apresenta uma chama
azul-lilás e, às vezes, com pequenas manchas vermelhas. Não produz fuligem e
seu índice de poluição atmosférico é inferior ao do butano, presente no gás de
cozinha.

O biogás pode ser utilizado como combustível em sistemas de conversão


energética, entretanto requer um cuidado especial pela presença do H2S que é
altamente corrosivo para a maioria dos equipamentos utilizados para a sua

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32

queima. Além disto, o Biogás apresenta uma composição significativa de CO2


que, pela presença do seu carbono oxidado, diminui o poder calorífico do gás.
Assim, após a remoção ou limpeza do CO2, H2S e outras impurezas, o Biogás
apresenta uma fração elevada de metano (>99%). Este Metano purificado ou
Biometano, resultante da limpeza e concentração do biogás, apresenta PCI mais
elevado sendo comparável ao gás natural (GNV) podendo ser utilizado em
motores a combustão. A comparação do poder calorífico (PCI) do Metano com
outros gases.

Ao contrário do propano e butano, o metano é um gás leve e de menor


densidade, ocupando um volume significativo e difícil liquefação, tornando
oneroso seu transporte e armazenamento. O poder calorífico do biogás é variável
situando-se na faixa de 22.500 a 25.000 kJ/m 3 e o gás metano purificado com
cerca de 35.800 kJ/m3. Isto significa um aproveitamento de 6,25 a 10 kWh/m3
(SANTOS, 2000).

Outro aspecto importante a ser considerado é a umidade presente no


biogás, uma vez que tem influência direta no processo de combustão, afetando
a temperatura de chama, limites de inflamabilidade, diminuição do poder
calorífico e taxa ar-combustível do biogás.

8.1 Principais Formas de Obtenção de Biogás

A conversão de matéria orgânica em biogás pode ser observada em


sistemas naturais ou então em reatores específicos também denominados de
biodigestores. Como exemplo de sistemas de conversão em ambientes naturais
podemos citar as áreas pantanosas com matéria orgânica, sedimentos em
corpos d’água e áreas de aterro (subsolos). Podemos citar ainda os sistemas
naturais representados pelo rúmen bovino e intestinos de animais superiores

32
33

onde se desenvolvem os microrganismos encarregados de biodigestão


anaeróbia com geração de metano.

A seguir são apresentadas as principais formas de obtenção de biogás.

8.1.1 Biogás proveniente do tratamento de efluentes

Dentre as diversas alternativas disponíveis para o tratamento de efluentes


líquidos (esgoto sanitário, vinhaça, dejetos animais), destaca-se a digestão
anaeróbia. Os digestores anaeróbios, ou biodigestores, são equipamentos
utilizados para digestão de matérias orgânicas presentes nos efluentes líquidos,
processo que permite a redução de seu potencial poluidor, além da recuperação
da energia na forma de biogás (FISHER et al., 1979; Lucas Júnior, 1994).

Os biodigestores constituem uma tecnologia bem antiga, já conhecida e


praticada pelos chineses e indianos, os quais conceberam os biodigestores para
tratamento de estercos animais. Inicialmente esta tecnologia foi utilizada com a
finalidade de geração do biofertilizante e somente mais tarde verificou-se a
possibilidade de geração e aproveitamento do biogás como combustível.

A concepção dos biodigestores modelos indiano e chinês está ilustrada


na Figura 4 (A, B). Tecnicamente não existe uma grande diferença entre
biodigestores e reatores metanogênicos. Entretanto, é comum entre os
pesquisadores da área da engenharia ambiental diferenciar estes tipos de
reatores com base nos sistemas de carga orgânica e teores de sólidos. Os
biodigestores trabalham com maior teor de sólidos (cargas orgânicas mais
elevadas) e os reatores anaeróbios com menores teores de sólidos totais (5 a
10%).

33
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Figura 4: (A) Esquema de concepção de biodigestores modelo Indiano. (B) Modelo Chinês.

8.1.2 Biogás proveniente de aterro sanitário

O aterramento é uma das técnicas de processamento final de resíduos


sólidos urbanos (RSU) de modo a atenuar os seus impactos no meio ambiente.
Essa técnica consiste, basicamente, na compactação dos RSU no solo, na forma
de camadas que são periodicamente cobertas com terra ou outro material inerte.
O objetivo principal do aterro sanitário é o de melhorar as condições sanitárias
relacionadas aos descartes dos resíduos sólidos urbanos evitando os danos da
sua degradação descontrolada. Os aterros podem ser divididos em diferentes
tipos:

• Aterro controlado: formação de camadas de resíduos sólidos


urbanos, compactados e nivelado com terra mas sem a presença
de qualquer tipo de impermeabilização do terreno. A melhor

34
35

definição deste tipo de ater- ro seria “lixão controlado”. É uma


solução adotada devido ao seu baixo custo mas, devido ao seu
grande impacto ambiental, esta alternativa deve ser
continuadamente desencorajada.

• Aterro sanitário: formação de camadas de resíduos


compactados, que são sobrepostas acima do nível original do
terreno resultando em confi- gurações típicas de “escada” ou de
“troncos de pirâmide”, denominadas de taludes. O aterro sanitário
deve contemplar a impermeabilização do terreno com material
geotêxtil para evitar a infiltração de chorume no solo. Deve haver,
também, sistema de extração do biogás e de chorume do interior
do aterro.

• Aterro em valas: o uso de trincheiras ou valas visa facilitar a


operação do aterramento dos resíduos e a formação das células e
camadas; assim sendo, tem-se o preenchimento total da
trincheira, que deve devolver ao terreno a sua topografia inicial.

Para se caracterizar como aterro sanitário, estes devem dispor de drenos


de águas pluviais superficiais, poços de inspeção, sistemas de tratamento de
percolados, monitoramento de aquíferos, estrutura de transbordo, mata ciliar e
cobertura vegetal os resíduos Os resíduos sólidos depositados em camadas no
aterro, iniciam a sua decomposição em ambiente anaeróbio, seguindo
basicamente as etapas da digestão anaeróbia e metanização dos resíduos
orgânicos (hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese). Neste
ambiente deve estar previsto, na concepção do aterro, os drenos líquidos para o
chorume gerado e os drenos gasosos para coleta do biogás produzido. A
metanização dos resíduos orgânicos vai depender da composição gravimétrica
dos resíduos, compactação dos resíduos, regime pluviométrico e da geometria
do aterro. Os modelos de geração de biogás em aterros associam as fases de

35
36

decomposição com o tempo em que elas se perpetuam ativas na massa de lixo,


avaliando as gerações dos diversos gases que compõem o biogás originado nos
aterros.

9. APROVEITAMENTO DO BIOGÁS

A emissão de biogás para a atmosfera provoca impactos negativos ao


meio ambiente e a sociedade, na medida em que contribui para o agravamento
do efeito estufa.

O aproveitamento energético do biogás, além de contribuir para a


preservação do meio ambiente, também traz benefícios para a sociedade, pois
promove a utilização de um recurso de baixo custo; colabora com a não
dependência da fonte de energia fóssil; possibilita a geração descentralizada de
energia; aumenta a oferta de energia; possibilita a geração local de empregos;
colabora para a viabilidade econômica dos aterros sanitários, Estações de
Tratamento de Esgotos (ETEs) e propriedades rurais; otimiza a utilização local de
recursos e aumenta a viabilidade do saneamento básico no país, permitindo o
desenvolvimento tecnológico de empresas de saneamento e energéticas.

Os benefícios atribuídos ao uso do biogás estão vinculados ao tipo de


aproveitamento a que ele será destinado. As duas principais alternativas para o
aproveitamento energético do biogás são: conversão em energia elétrica e o
aproveitamento térmico. Entretanto, o biogás também pode ser utilizado como
combustível em veículos.

9.1 Geração de energia elétrica e térmica

O aproveitamento do biogás para geração de energia elétrica é feito pela


sua queima e essa queima é mais proveitosa em uma máquina de combustão

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interna, como motor ciclo Otto e turbina a gás, que ainda dispõe calor residual
que pode ser aproveitado como energia térmica. Pode-se citar também a
utilização da queima do biogás em motores Stirling de combustão externa. Outra
possibilidade de gerar energia térmica é queimar o biogás diretamente em
caldeiras e, também, em sistemas de cogeração.

Em outubro de 2020, foi inaugurada no Brasil uma das maiores usinas


de biogás do mundo. Ela é uma parceira das empresas Raízen e Geo
Energética. A Usina UTE Biogás Bonfim está localizada na cidade paulista de
Guariba e possui a capacidade de geração de 138 mil Mwh/ano (suficiente para
abastecer cerca de 62 mil casas). A utilização desse tipo de fonte energética é
favorável para a contribuir para a questão do lixo, uma vez que os resíduos
orgânicos são as matérias-primas. Este tipo de energia nos leva à questão tão
importante de buscar novas fontes de energia alternativa, porque o mundo
precisa encontrar fontes energéticas para substituir as tradicionais, como
petróleo, carvão e usinas hidrelétricas, que provocam grande poluição e
impactos ambientais.

9.2 Uso veicular

Para ser utilizado como combustível em veículos é necessário que o biogás


atinja as especificações do gás natural. Para isso, o biogás deve passar por um
rígido sistema de purificação para a remoção da umidade, H2S e CO2 presentes em
sua composição.

Após o processo de purificação o poder calorífico do biogás, agora


também chamado de biometano, aumenta, fazendo com que aumente também
a autonomia do veículo e a qualidade constante para uma combustão
homogênea.

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O biometano não provoca a corrosão devido a retirada de H 2S, amônia e


água. Além disso não contém partículas que podem causar danos ao motor. Isso
significa que após a purificação o gás resultante para o uso veicular possui um
conteúdo de metano superior a 95% em volume.

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10. REFERÊNCIAS:

ANEEL, 2008, Atlas de energia elétrica do Brasil. 3 ed. Brasília, ANEEL.

ANEEL, 2012, Banco de Informações de geração.

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