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Tradução do texto: Networks of solidarity economy, tools for local development

and social innovation


Redes de economia solidária, ferramentas para o desenvolvimento local e inovação
social. Carmela Guarascio1
Resumo
O artigo analisa a capacidade de empresas e empreendimentos sociais (conforme relatado
por Borzaga e Fazzi (Le imprese sociali, Carocci Editore, Roma, 2011); conforme
relatado por Drapery (Comprendre l'économie social, Dunod, Paris 2007)) em promover
o desenvolvimento sustentável local, a partir da organização de redes agroalimentares
alternativas, conforme Renting et al. (Environ Plann 35:393–411, 2003). A análise parte
de um estudo de caso de 40 grupos de compra solidária de economia solidária na Itália.
Em particular, o artigo foca na rede econômica solidária "REES Marche". Enquanto os
grupos de compra solidária (SPGs) na literatura foram estudados sob a perspectiva dos
consumidores, mesmo aqueles da Marche Orazi (DES.so. Economia solidali e cittadini
consapevoli, Cattedrale, Ancona, 2011), este artigo pretende avançar destacando também
a perspectiva dos produtores. A análise de dados identifica 4 tipos de organizações
possíveis vinculadas aos grupos de compra solidária, com diferentes níveis de inovação
social na promoção do desenvolvimento sustentável. Os resultados mostram que um
desenvolvimento local sustentável é aprimorado por uma densa cooperação social entre
empresas em uma rede, como, por exemplo, a dos SPGs. Além disso, é promovido por
uma reorganização da cadeia produtiva com base local, ecológica e ética que impacta
diretamente na produção e consumo de produtos justos. Além disso, o artigo mostra que
a relação direta entre empreendedor e consumidores estimula uma inovação social na
resolução de problemas. Utilizamos uma abordagem mista: uma análise quantitativa de
dados estatísticos no site do REES Marche; uma análise qualitativa baseada em
observação participativa e em dados coletados por meio de 34 entrevistas em
profundidade com membros da rede.

Palavras-chave: Redes · Economia solidária · Incorporação · Sustentabilidade ·


Cooperação

1 Introdução
A troca de mercado, como uma "forma de integração"1 (Polanyi 1944, 1957, 1977), está
regulando espaços que geralmente estão dentro de outras estruturas institucionais, como
o Estado e o terceiro setor (Cella 2008). Isso significa que bens e serviços que precisam
ser regulados por uma forma específica de integração, como, por exemplo, a cultura ou a
educação, são regulados pela troca de mercado. Essa discordância pode criar
desigualdades, levantando questões sobre como é possível restaurar o equilíbrio entre
formas regulatórias e quem são os atores dessa ação.

O modelo socioeconômico da economia solidária, ao propor a "economia plural" (Arruda


2006; Aznar et al. 1997; Razeto 1984), introduz uma forma de integração entre várias
formas regulatórias. A economia plural, de fato, é o conceito de interdependência entre a
reciprocidade (terceiro setor), a redistribuição (estado) e a troca (mercado) (Laville 2000,
2009). Isso significa que uma organização refere sua sustentabilidade a muitos recursos
(privados, públicos e comunitários). O movimento do M.A.U.S.S. (movimento
antiutilitarista nas ciências sociais) agrupa essas formas regulatórias em três formas de
economia: não monetária, mercado e não mercado.
A economia não monetária reúne administração doméstica e reciprocidade. A economia
de mercado inclui o mercado, e a não mercado inclui a redistribuição. Essa subdivisão
destaca a diversidade das trocas em que fluxos materiais e imateriais de natureza privada,
pública e comunitária se intersectam. Isso restaura a complexidade da pluralidade ao
conceito de economia e desafia também a hibridização de recursos (Gardin 2008), ou seja,
o uso de múltiplos recursos, na implementação de uma ação de desenvolvimento.

O estudo dessas formas regulatórias questiona a natureza da sociedade a ser regulada


(Bagnasco 2010), ou pelo menos alguns de seus caracteres ou processos significativos,
mas não significa necessariamente tratar de outra economia, ou mais formas de economia,
mas sim uma economia com bases diferentes. Mingione (2009) explica que não seria
cientificamente correto identificar outras economias do que as atuais, mas destacar a
lógica regulatória à qual a economia está sujeita que diferencia as estruturas institucionais
e regulatórias.

Nesse sentido, parece interessante estudar como os produtores dos Grupos de Compra
Solidária (GCS), como parte das Redes de Alimentos Alternativos (RAA), reúnem mais
de uma forma regulatória para serem sustentáveis. GCS são grupos de pessoas ou famílias
que decidem comprar produtos juntos aplicando princípios de consumo crítico, como, por
exemplo, escolher produtores de maneira ética, visando uma economia sustentável,
reduzindo o desperdício e favorecendo uma economia local, como um suprimento
alimentar curto (Marsden et al. 2000). Na Itália, os GCS são os "Gruppi di Acquisto
Solidale". O termo solidariedade está fortemente ligado ao movimento social da economia
solidária difundido em nível nacional. Eles foram estudados sob o ponto de vista dos
consumidores e da cultura de consumo (Vermeir and Verbeke 2006), e suas implicações
políticas (Micheletti and McFarland 2009; Stolle et al. 2005).

Na Itália, o debate é forte em torno das implicações do consumismo (Carrera 2009; Forno
and Graziano 2012; Orazi 2011; Rebughini 2008). Em contraste com as cadeias de
abastecimento internacionais inerentes ao sistema alimentar convencional, defensores das
redes de alimentos "alternativos" chamam a atenção para a capacidade dessas "novas
cadeias de abastecimento de ressocializar ou respatializar os alimentos, permitindo assim
que o consumidor faça novos julgamentos de valor sobre a desejabilidade relativa dos
alimentos com base em seu próprio conhecimento, experiência ou imagem percebida"
(Renting et al. 2003: p.398). Este trabalho tem como objetivo explorar os produtores
envolvidos nos GCS, analisando seus projetos comerciais.

A análise dos produtores nos GCS parece interessante para destacar seu papel e impacto
no desenvolvimento local. O objetivo é analisar como os GCS organizam a transação
econômica reorganizando a cadeia produtiva com base em critérios locais, ecológicos e
éticos. Isso impacta nos conceitos de empresa, governança local e relação econômica,
promovendo uma visão de economia plural e inclusão social. Na rede, há uma
multiplicidade de atores e ainda assim a colaboração não é espontânea. É por esse motivo
que o artigo deseja focar no interior da rede para investigar os atores e fluxos que a
compõem. A hipótese é que a economia plural impacta positivamente um processo local
de desenvolvimento, desde que os membros envolvidos estejam baseados em um modelo
econômico autônomo e sejam membros de uma rede maior que trabalhe para a
governança local.
Mesmo que na economia solidária existam diferentes tipos de organizações, desde sem
fins lucrativos até aquelas com fins lucrativos, o artigo se concentra em empresas, muitas
vezes empresas sociais (Bor-zaga and Fazzi 2011; Draperi 2007), porque o modelo
econômico autônomo e a capacidade de propor inovação social são fortemente vinculados
para aprimorar um processo de desenvolvimento virtuoso, como mostrado na tipologia
apresentada no artigo. É necessário destacar a relevância da relação entre empresa e
organização sem fins lucrativos que tecem a coesão social. Existem muitos estudos sobre
a relação entre capital social e organizações sociais, na promoção de uma coesão social
mais forte.

No entanto, o artigo quer se concentrar nas implicações das empresas envolvidas que
parecem mais difíceis envolvidas em um quadro de solidariedade e que são estudadas sob
a perspectiva da sustentabilidade social corporativa e menos sob essa perspectiva. Em
primeiro lugar, o artigo analisa as características empreendedoras dos produtores
envolvidos na rede de alimentos alternativos com base na região italiana "Marche",
chamada "REES", que vendem para os consumidores dos grupos de compra solidária. O
artigo mostra que uma empresa de economia solidária baseia sua sustentabilidade em uma
multiplicidade de recursos, em vez de apenas monetários. Isso dá a oportunidade de
reforçar a cooperação dentro e fora da empresa que, de outra forma, poderia ser perdida
no mecanismo de mercado tradicional.

Existem dez variáveis consideradas no estudo, como, por exemplo, o horizonte cultural
dos empreendedores, as relações com os recursos humanos, as redes com o território local
e o ativismo. Em segundo lugar, o artigo foca na capacidade da economia plural em
construir uma rede cooperativa entre diferentes tipos de membros, impactando na
governança local. Redes locais promovem a cooperação que é positiva para o
desenvolvimento local, criando trocas econômicas virtuosas, como, por exemplo,
mostrado nas relações entre consumidores e produtores na promoção do consumo crítico.

O artigo está estruturado da seguinte forma: A primeira parte é uma análise de dados sobre
os membros do banco de dados da REES, a segunda parte descreve os indicadores
adotados para analisar o impacto dos produtores na economia, e na terceira parte
apresenta os resultados da análise empírica e as implicações sociais. O método é um
método misto. A análise quantitativa refere-se a dados elaborados pela autora sobre REES
e produtores. A análise qualitativa baseia-se em 34 entrevistas e em uma observação
participativa no conselho de administração da rede REES e em algumas reuniões públicas,
formais e não formais dos GCS e da própria rede. As entrevistas são divididas entre 12
entrevistas com empresas, 15 com GCS de 40 membros do banco de dados da REES (um
destes é um "Intergas", o que significa que agrupa outros 8 pequenos GCS), e 7 com
pessoas responsáveis.

O contato com alguns GCS foi muito difícil, pois eles não estavam dispostos a receber
entrevistas, em outros o processo de consulta dentro dos grupos para aceitar a entrevista
foi longo e, às vezes, não se concretizou. Os contatos foram feitos a partir do site da REES
Marche. As entrevistas apresentadas são do tipo semi-estruturado. A amostra representa
todas as províncias envolvidas. Não visa ser uma figura estatística relacionada à realidade
investigada, mas é útil para fazer algumas avaliações qualitativas. Os resultados do artigo
mostram quatro tipos diferentes de organizações solidárias, misturando algumas variáveis
relacionadas à inovação social e co-planejamento com a instituição local sobre a
dimensão social. No caso em que há esse tipo de relacionamento, é mais direto para uma
organização se relacionar com o desenvolvimento local e começar a realizar ações ligadas
ao desenvolvimento local de acordo com outras organizações, como, por exemplo,
organizações sem fins lucrativos.

1.1 A cooperação entre os membros de um grupo de compra solidária

As organizações da economia solidária têm a intenção de construir uma economia plural


mais inclusiva, o que significa que tentam misturar diferentes recursos para serem
sustentáveis: públicos, privados e voluntários. A ação econômica dessas organizações está
necessariamente focada nos indivíduos como parte do contexto que exerce uma dimensão
sociopolítica (Forno e Graziano 2016), promovendo ações sustentáveis.

A cooperação entre produtores e consumidores nos GCS é um exemplo de como o


relacionamento econômico não se baseia apenas em uma troca de mercado, mas pode
ocorrer em diferentes níveis de interações e tensões também. Na economia plural (Arruda
2006; Aznar et al. 1997; Razeto 1984; Roustang 1982, 2000), todos os atores envolvidos
em uma transação têm a mesma responsabilidade de cuidar do relacionamento e do
processo de desenvolvimento. A reciprocidade é a forma institucional pela qual as trocas
são organizadas (Hillenkamp 2013). Isso pode assumir a forma de um presente, como
explicado por Mauss (1924), mas geralmente representa uma forma de troca na qual a
moeda não está presente e os participantes são vinculados por laços não econômicos.
Existe uma construção comum de consciência do quadro político (Sassatelli and Leonini
2008) entre produtores e consumidores que têm o mesmo objetivo de sustentabilidade e
consumo crítico. Por exemplo, pode haver uma cooperativa que vende um bem justo e
solidário aos atores clássicos da distribuição. Ela entra como parte de uma cadeia de valor
estruturada, com a qual mantém relacionamentos instrumentais para promover um
produto solidário. Dentro dessa cadeia de valor, não há co-produção de valores, não há
reciprocidade entre os atores, mas apenas um relacionamento instrumental.

A co-produção na literatura significa a ação por meio da qual o consumidor participa da


orientação das políticas da organização orientando a produção. Nesse sentido, é
geralmente identificado como "prosumer" (Tofer 1980) ou "consum-attori". Em contraste,
em um GCS, consumidores e produtores trabalham juntos para escolher os produtos mais
éticos, cooperando em uma visão comum de consumo crítico. Nesse sentido, a
reciprocidade assume uma estrutura institucional forte de valores que sustentam os
relacionamentos entre os atores.

A REES foi2 uma rede de economia solidária3 de segundo nível que nasceu em 2004. Ela
agrupa, de fato, outras redes, como a "Pesaro Urbino RES", os grupos de compra solidária
(GCS) e o distrito de economia solidária (DES). Na rede "REES", existem diferentes
membros: GCS, junto com atores públicos, privados e público-privados. Eles também são
definidos como atores de reciprocidade multilateral, porque os membros envolvidos na
troca têm o mesmo nível de poder no relacionamento, mesmo que sejam de formas
institucionais diferentes e não sejam iguais, como, por exemplo, uma estrutura pública e
uma privada. A reciprocidade multilateral é diferente da associação beneficente, na qual
há um relacionamento desigual entre clientes e organizações, ou entre cooperativas, onde
o relacionamento é apenas entre iguais e membros (Gardin 2008). Este é um conceito
central e significa que a economia solidária, vinculada à reciprocidade multilateral, tenta
estabelecer um relacionamento simétrico entre os atores: trabalhadores, clientes, clientes.
Essa ideia está vinculada a uma perspectiva de desenvolvimento integrado, como
reivindicam as redes alimentares cívicas (Rossi et al. 2013). Isso não significa que todos
tenham o mesmo poder para agir no relacionamento, mas a mesma responsabilidade de
estar no processo com diferentes níveis de poder. Essa definição estabelece um
relacionamento de poder particular que precisa ser analisado em profundidade.

A rede REES conta com 395 membros, incluindo 59 associações, 292 empresas, 40
grupos de compra solidária (GCS) e 4 entidades públicas. A pesquisa leva em
consideração produtores e empresas diretamente ligados ao distrito de economia solidária
(DES) e grupos de compra solidária (GCS), com o objetivo de analisar a economia
solidária. Entre as associações, 80% têm como tema o meio ambiente, com uma forte
presença do movimento macrobiótico (42%). Entre essas, destaca-se a importância do
setor orgânico na rede, como a AIAB4 e a AMAB5 Marche, que lidam com a promoção
da produção orgânica na região. As fundações são uma parte mínima; em vez disso, há
uma forte presença de cooperativas sociais, lojas de comércio justo e mútuos de
autogestão. As associações estão distribuídas uniformemente pelo território, exceto pela
província de Ancona. A composição das associações é bastante voluntária, sem
funcionários.

Entre as empresas membros da REES, cerca de 70% são empresas com fins lucrativos, a
maioria das quais é voltada para a agricultura e produção de alimentos, a maioria das
quais é orgânica. Essa peculiaridade se deve à origem do movimento: as redes ambientais,
ecológicas e biológicas. O restante são empresas de outros tipos, que cobrem todos os
estatutos legais, há 2% de grandes empresas, cerca de 21% de empresas individuais, 41%
como sociedade limitada e cerca de 4% de outras. Há cerca de 7% de cooperativas sociais,
das quais 21 são do tipo B.6

Entre as organizações econômicas sem fins lucrativos, cooperativas A e B, a agricultura


não é o setor dominante. Elas se concentram mais naturalmente no setor de serviços,
especialmente as cooperativas sociais do tipo A, que se concentram principalmente em
serviços de saúde e sociais. Se compararmos esses dados com os regionais, a vocação
agrícola particular da REES é muito evidente, com uma forte prevalência de fazendas e
tudo o que se refere a produtos ou serviços relacionados a esse setor econômico, como
fazendas educacionais e turismo rural (Fig. 1).

No que diz respeito à concentração geográfica, a distribuição das organizações membros


da REES é bastante homogênea na região. Existem 13 empresas membros que não são
empresas regionais, mas vêm da Lombardia, Molise, Vêneto, Toscana, Úmbria e Abruzzo.
São empresas não agrícolas que fornecem produtos ausentes na região de Marche.

Pesaro Urbino é a província com a maior concentração de empresas biológicas e,


juntamente com Ancona e Macerata, possui a maior concentração também de empresas
não agrícolas. Nestes territórios, de fato, os GCS são mais numerosos, pois os próprios
territórios são capazes de fornecer uma ampla variedade de produtos (Fig. 2).

Os produtores que aderem aos GCS são principalmente pequenos produtores. A intenção
dos GCS é, de fato, apoiar produtores orgânicos que não conseguem ser sustentáveis no
mercado.

Oficialmente no banco de dados da REES, existem 40 grupos de compra solidária


registrados. Outras pesquisas (Orazi, 2011) falam sobre 70 GCS, com um grupo de 3350
famílias envolvidas em compras coletivas. Essa diferença nos números se deve ao fato de
que muitos GCS preferem não aderir formalmente à REES, mas visam constituir grupos
informais autônomos da rede. Uma rede de economia solidária, Des Macerata, também
se junta à rede. É uma associação informal que, neste momento, não desempenha um
papel ativo na área. Em 2014, foi estabelecido o Distrito Piceno de Agricultura Orgânica,
com a função específica de realizar propostas relacionadas à agricultura orgânica e que
reúne outras empresas na província de Ascoli Piceno. Há também outra rede, a Res
Pesaro-Urbino, com 14 GCS, cerca de 495 domicílios e 10 fazendas. A presença
generalizada de GCS na área delineia uma importante autonomia produtiva da rede REES
sobre o território.

A maioria dos GCS na REES foi criada entre 2006 e 2011 (Tabela 1), um período em que
a atenção para esse tipo de compra estava crescendo. Após esse período, o crescimento
diminuiu constantemente e, de fato, na amostra não há GCS recentemente estabelecidos.
Isso também se deve ao fato de que muitos GCS, principalmente os recentemente
estabelecidos, não se registram no site e preferem permanecer autônomos da rede.

Os produtos vendidos são principalmente produtos alimentícios frescos e de longa vida.


Nos GCS mais numerosos, os pedidos também são feitos anualmente para produtos não
alimentícios, que abrangem o setor têxtil e de higiene. Normalmente, os GCS optam por
ser uma associação. No entanto, é importante notar que quase 50% da amostra afirma que
não deseja se constituir formalmente, mas prefere permanecer um grupo informal. Entre
os mais recentes, três já estão constituídos como grupos informais e optaram por se
estabelecer formalmente apenas alguns anos depois em associação. Essa escolha é
motivada por muitos como uma rejeição aos mecanismos tradicionais de agregação, para
os quais uma estrutura associativa formal se tornaria uma questão difícil de gerenciar.
Além disso, essa condição ajuda a promover uma atmosfera familiar.

Em média, cada GCS da amostra tem 60 famílias, com cerca de 20 famílias geralmente
ativas na gestão dos pedidos. Vinte a trinta membros são a melhor opção, pois esse
tamanho permite uma cesta variada de produtos e, acima de tudo, permite a organização
de muitos eventos, como construção de equipe, excursões, refeições compartilhadas,
momentos de treinamento e lazer compartilhados. Isso é percebido como necessário para
o sucesso dos GCS, porque cuida da parte solidária dos GCS, que é a base da ação de
compra. Em público, os membros geralmente afirmam que é importante que um GCS não
se torne apenas um grupo de compra, mas invista na parte solidária, que é composta pela
reciprocidade entre os membros. Em muitos casos, membros não ativos foram chamados
a fazer parte ativa dos GCS, trabalhando em pedidos e distribuição.

Em média, um GCS compra mercadorias no valor de 53.000 mil euros anualmente, e é


abastecido em média por 18 produtores. Os produtores frequentemente pertencem ao
setor agroalimentar, mas há uma pequena parte deles, cerca de 7%, que pertence à cadeia
de suprimentos de têxteis e roupas, e produtos de higiene. Em média, poderia ser estimado
que todos os grupos de consumidores pertencentes aos GCS, 60 unidades familiares para
cada GCS, gastam cerca de dois milhões de euros a cada ano. Esse volume de negócios
envolve práticas de consumo crítico de cerca de 4.200 consumidores, 2.100 famílias,
juntamente com um número substancial de produtores, cerca de 18 em média para cada
GCS, totalizando 170 produtores, dos quais 77% não são membros da rede Rees. De
acordo com os dados do Istat, em 2013, o valor agregado de todas as atividades
econômicas na Região de Marche foi de 34 milhões de euros. O valor produzido nos
circuitos de economia solidária, considerando apenas os GCS, pode ser estimado em cerca
de 5,50%.

Há 292 empresas que são membros da REES Marche. No entanto, ao adicionar todas as
empresas agrícolas e pequenos produtores que fornecem seus produtos aos GCS e que
não são membros da REES, podemos estimar um banco de dados total de 422 sujeitos
econômicos. Além disso, se incluirmos os fornecedores dos próprios produtores
entrevistados, o banco de dados total tem cerca de 584 sujeitos econômicos, dobrando o
número de membros formais da REES. Isso significa que, além da adesão formal à Rees,
há várias pequenas e médias empresas envolvidas na geração de lucro dentro da economia
solidária, especialmente no campo da produção orgânica. Referindo-se especificamente
ao mundo dos GCS, podemos dizer que muitas pequenas empresas que não têm espaço
no mercado tradicional conseguem construir um modelo econômico sustentável dentro
da rede de economia solidária. Elas não participam da parte política da rede REES porque
são muito pequenas ou porque não estão interessadas. No entanto, em nossa opinião, é
interessante analisar essa rede, pois destaca os fluxos trocados graças à interação entre
produtores e consumidores.

O mapa a seguir (Fig. 3) é uma fotografia atual dos GCS entrevistados. Apenas as
organizações que têm pelo menos duas relações com os GCS foram incluídas no esquema;
deve-se considerar que cada GCS representa um mundo vital com um grupo de produtores
que vende exclusivamente para ele. Como podemos ver, cada GCS tem suas próprias
relações com alguns produtores. Em seguida, existem produtores que estabelecem
relações com vários GCS simultaneamente e, portanto, constroem seu modelo econômico
principalmente nas vendas para GCS, que podemos identificar como as empresas hub que
estão no centro do mapa. Entre elas, existem sete produtores que têm de 6 a 11 links com
os GCS (Tabela 2).

Dentre essas sete empresas, quatro vendem produtos alimentícios, duas lidam com
cosméticos naturais e uma com comércio justo. Entre elas, há duas que foram fundadoras
da REES. A primeira, fundada em 1980 como uma fazenda orgânica, é muito ativa na
organização de eventos culturais em favor da rede sobre o valor nutricional de produtos
orgânicos, consumo crítico e sustentabilidade ambiental. 60% das vendas são na Itália, e
a maioria, em termos de faturamento, é dedicada à venda para GCS. A outra lida com
comércio justo e sediava a sede da REES.

Entre as empresas hub, há uma chamada Start-up dos grupos de compra solidária. A ideia
empreendedora foi construída com base nas necessidades dos consumidores que apoiaram
a ideia empreendedora no ponto de partida, comprando o produto no início do ano e,
assim, apoiando a primeira fase financeira da empresa antecipando dinheiro. A
organização baseia seu empreendedorismo em cosméticos naturais conforme exigido
pelos consumidores e na reutilização de resíduos como óleo usado. Esta empresa baseia
suas vendas principalmente na rede de GCS, mas hoje também vende fora. Em uma
realidade de fragilidade e fragmentação institucional, a rede apoiou o processo de criação
de uma nova organização que entrou no mercado, criando um modelo econômico
sustentável.

Outras empresas na rede são muito diferentes umas das outras. Nem todas são membros
da REES. 14% (46 de 340) são membros, o restante são fazendas ou pequenos produtores
individuais que não são membros, mas que vendem uma parte importante de seu
faturamento para GCS.

Apenas algumas relações ocorrem entre os membros da rede; muito frequentemente, as


relações são com fornecedores ou clientes fora da rede. Isso apresenta uma rede aberta
com diferentes conexões, mas também muito fraca do ponto de vista representativo. Os
membros da rede compartilham uma cooperação concreta em projetos, como eventos
culturais. Enquanto, como vimos, a maioria das empresas que fornecem produtos para os
GCS não se junta à rede, as empresas HUB, por outro lado, são todas membros, exceto
uma. Isso confirma uma vontade política de participar da realidade do consumo crítico,
assim como econômica. Esse consumo crítico também é fortalecido por um sistema
transparente de certificação de produtos, entre consumidores e produtores.

Como disse um consumidor: "Desde que nascemos, tentamos criar sistemas internos de
certificação, formamos um grupo de qualidade que se reúne com produtores. Discutimos
e nos encontramos muito com produtores" (consumidor de um GAS - Pesaro). Mesmo
que nesta parte da cooperação monetária, seja relevante e envolva famílias em um circuito
solidário, nos GCS, o relacionamento não monetário está a serviço de um relacionamento
monetário mais importante que estabelece os vínculos entre as organizações e o território.
Nesse sentido, as empresas envolvidas também podem diferenciar produtos, aumentando
o poder econômico de maneira solidária (Becchetti et al. 2019). Muitas empresas estão
localizadas fora da região, cerca de 15%. O restante são todos produtores regionais.

Nessas relações entre consumidores e produtores, é fundamental a presença de um


contrato estabelecido no início do ano. Os produtores se comprometem a produzir
organicamente e sem pesticidas; da mesma forma, os consumidores se comprometem a
financiar a produção no início do ano e, portanto, garantir a venda ao produtor, mesmo
que parte da colheita seja perdida. Essa condição de pré-financiamento é uma participação
do consumidor no risco do negócio. Está alinhada com um relacionamento de confiança
e reciprocidade que não está ligado apenas a um relacionamento monetário, mas também
a um não monetário. Garante uma sustentabilidade econômica a um produtor que, de outra
forma, seria fraco, e além disso, promove um investimento contínuo na produção
orgânica, que é um ponto de conexão com o compromisso ambiental dos consumidores.
Dessa forma, a rede REES permite uma sustentabilidade econômica para pequenos
produtores locais. O caso da empresa iniciante é um símbolo de apoio econômico a
estruturas inovadoras. O apoio também é dado à definição de novos produtos, como sabão
criado a partir de óleo usado.

1.2 Para uma taxonomia de produtores baseados na solidariedade


O estudo confirma a existência de numerosos tipos de organizações dentro de uma rede
de economia solidária. Ao identificar os diferentes tipos de organizações, identificamos
dez características que, se presentes simultaneamente, delineiam diferentes níveis de
inovação social e autonomia econômica das organizações.

Um dos principais objetivos das organizações econômicas baseadas na solidariedade é


acessar formas de participação política territorial, que se intersectam com questões de
desenvolvimento. Essa participação é influenciada pelo espaço concedido pela instituição
pública, mas também pelo espaço que sua rede oferece para realizar uma ação política.
Sentir-se parte de uma rede é uma parte importante do relacionamento; a participação
ativa fortalece a defesa de interesses e identifica uma dimensão colaborativa. O propósito
da produção para essas organizações não se encerra no produto, mas envolve todo o
processo. O produto, no entanto, desempenha um papel importante; em quase todas as
organizações, há um produto ou serviço relacionado ao meio ambiente: cosméticos
naturais, alimentos orgânicos, reutilização e reciclagem, embalagens naturais, comércio
justo. As matérias-primas muitas vezes são escolhidas localmente e, quando isso não é
possível, são escolhidos "produtos de proximidade" no sentido de valores de proximidade
às experiências solidárias.

Esta é uma das características importantes para a análise da inovação. "Uma série de
valores me atraiu, respeito pelos seres humanos e pelo meio ambiente que o mundo da
solidariedade traz consigo. Portanto, não é a maximização do lucro, mas a maximização
de algo mais, que não é fácil de alcançar, mas deveria ser o objetivo de qualquer
organização econômica. Empresas sociais, de fato, são sujeitos sociais, mesmo que a
financeirização tenha feito com que perdessem esse aspecto. Isso significa que não podem
ignorar o território em que operam. A palavra 'economia' em si fala sobre o cuidado do
território, sobre impacto social e ambiental" (Entrevista nº 31 - Empresário social).

Em quase todas as empresas, encontramos incentivos em relação a uma gestão


colaborativa de recursos humanos, para envolver os trabalhadores na governança
estratégica da empresa. Por exemplo, na maioria das empresas, há muitas assembleias,
que são instrumentos úteis para favorecer uma dimensão colaborativa. Além disso, a
formação e o bem-estar dos trabalhadores são questões-chave, com muitas horas de
treinamento dedicadas às organizações. Além disso, é prevista uma relação direta com o
consumidor. O cliente se torna um co-produtor participando da concepção do produto.

A co-produção liga as duas partes do processo econômico, que em outros contextos são
independentes. "Conversando com os produtores, dissemos por que não construímos um
projeto juntos? e realizamos várias reuniões, tentando entender como poderíamos ser úteis
como uma cooperativa social para desenvolver a conscientização sobre alimentos
saudáveis e orgânicos, produtos não alimentares feitos com material que não poluía os
solos, que eram comércio justo e que respeitavam as pessoas que trabalhavam lá"
(Entrevista nº 1 - Empresário social).

Essas organizações geralmente têm um modelo econômico multifuncional (Van der Ploeg
2006). Isso é um objetivo de sustentabilidade econômica, porque integra diferentes
negócios dentro do processo de produção, mas também tem um aspecto ambiental, pois
a organização cuida de fazer parte de uma cadeia de suprimentos solidária, controlando
as matérias-primas que utiliza, respondendo a padrões sustentáveis. Mesmo que a
multifuncionalidade seja um conceito relacionado ao setor agrícola, poderíamos entendê-
la como a tendência geral de diversificar o núcleo do negócio para aumentar a
flexibilidade. Finalmente, as organizações sempre se preocupam com uma dimensão
cultural. Para fazer isso, elas participam de eventos culturais na área e se juntam a redes
informais com outras associações locais.

Essa ação cultural é designada como uma "função pedagógica de mudança" (Entrevista
nº 1 - Produtor), envolvendo todo o território em torno de questões principais. Essa
dimensão é uma adesão ativa às redes de economia solidária nas quais elas se reconhecem,
criando campanhas de defesa em prol de reivindicações sociais. A dimensão cultural é, de
fato, útil para criar uma ação compartilhada junto com outros nas redes, mas também fora
delas. "Fazer parte dessa rede cria consciência sobre o comércio justo e a economia
solidária. Por exemplo, preenchendo os 'Bilanci di giustizia', trabalhamos na
conscientização do consumo justo e saudável. Além disso, um dia convidamos
degustadores de azeite para se acostumarem com um bom azeite de oliva, ou uma reunião
sobre o isolamento ecológico de edifícios. Dessa forma, é criada uma consciência
compartilhada" (Entrevista nº 24 - Um consumidor de um GAS).

Existem, portanto, dez dimensões por meio das quais avaliar uma organização inovadora
de economia solidária (Tabela 3).

Uma alta inovação da organização é considerada quando pelo menos sete dessas
características ocorrem simultaneamente, enquanto aquelas organizações que apresentam
de zero a duas dessas características não são consideradas inovadoras. Portanto, quatro
tipos de organizações são delineados com base na tensão da relação entre as duas formas
regulatórias, o mercado e as organizações de economia solidária. Portanto, há duas
variáveis em jogo para o estudo: a autonomia do modelo e a inovação social que são
capazes de propor. A autonomia do modelo em relação à dependência de fundos públicos
é essencial para nós, pois é a distinção para todas as realidades que se apresentam com
um modelo econômico não autônomo, baseado em subsídios públicos, e que não estão
incluídas no estudo (Tabela 4).

Quando a autonomia em relação aos fundos públicos é baixa, a organização mobiliza


poucos recursos econômicos e não tem força para se apresentar como um modelo
econômico confiável ao longo do tempo. O "Tipo D" identifica uma organização que não
tem um modelo econômico autônomo e frequentemente não apresenta inovações
importantes em produtos ou processos. O relacionamento com a rede é difícil; geralmente,
não são uma parte ativa da rede. Eles permanecem amarrados de maneira dependente aos
financiamentos públicos e não fazem parte das cadeias de abastecimento territoriais. Na
amostra, esse tipo identifica organizações parapúblicas, na maioria das vezes
organizações pequenas.

O "Tipo C" identifica organizações voluntárias, grupos informais e auto-geridos, que


preferem permanecer fora dos mecanismos de mercado. Eles realizam ações cooperativas
em nível territorial e social que, no entanto, têm um impacto pequeno, devido tanto às
suas dimensões organizacionais quanto ao grau de interação política e econômica que
alcançam. De fato, eles têm um forte ativismo político, mas não conseguem produzir uma
resposta universal eficaz às necessidades porque muitas vezes são pequenos grupos,
satisfazendo as necessidades do cotidiano, mas incapazes de responder a desafios
sistêmicos como desemprego ou impacto ambiental porque se baseiam nas margens do
sistema econômico.

Com a forma regulatória pública, eles não estão em antítese, mas não têm interesse em
construir uma relação colaborativa duradoura, porque percebem um risco importante
ligado à institucionalização e, portanto, muitos deles preferem não mediar suas
necessidades por meio da rede de economia solidária. O relacionamento muitas vezes se
encerra em pequenos pedidos, como, por exemplo, uma sala para uma reunião. Eles são
estruturados em uma rede, participando ativamente da rede de economia solidária e de
numerosos eventos culturais e informativos no território. Sua advocacia muitas vezes é
crucial, pois reforça a coesão social, e a contribuição de voluntários torna essas
experiências únicas.
O "Tipo B" representa organizações de mercado que se preocupam com questões sociais,
com resultados e impactos importantes na inclusão social. Seus produtos são inovadores,
mas principalmente a atividade empreendedora e a organização são muito clássicas.
Geralmente, eles não são uma cooperativa e, mesmo com um status comercial, eles não
organizam assembleias gerais entre trabalhadores ou com partes interessadas. Essa
tipologia também pode identificar todas as empresas que adotam a definição de empresa
social de Yunus (2011), para as quais a figura do empreendedor é central, na qual a
inovação é concentrada. O produto é distribuído completamente no mercado tradicional,
e a cadeia de abastecimento na qual eles trabalham não está completamente ligada à
economia solidária, mesmo que seu impacto seja forte.

E les mantêm uma racionalidade instrumental para o propósito, porque o empreendedor


aceita uma transação de mercado com organizações "para o lucro", pois é instrumental
para seu benefício social. Mesmo que pertençam a uma rede, não participam ativamente,
pois acham mais funcional participar das redes federativas e profissionais das quais fazem
parte, como, por exemplo, lojas de comércio justo, confcooperativas, etc.; geralmente,
não estão envolvidos em experiências de redes informais. Nesse sentido, a rede é vista
como uma ferramenta para dar visibilidade ao seu produto. A rede para eles tem uma
função principal de fluxos de informação e comunicação; na verdade, as ações realizadas
pela organização são mais individuais e não compartilhadas na rede. A própria ação
econômica não envolve diretamente beneficiários ou clientes. Em resumo, mesmo que o
Tipo B seja capaz de propor soluções para reivindicações sociais, eles permanecem
ancorados a uma governança tradicional dentro e fora da organização.

Finalmente, o Tipo A identifica organizações econômicas que se baseiam em um modelo


econômico autônomo, que responde a mecanismos de inovação em resposta às
necessidades sociais. Eles alcançam um espaço de tomada de decisão dentro da
negociação territorial. Partindo de um nível microeconômico, eles pretendem vincular as
ações econômicas às necessidades de um determinado território e interceptar as cadeias
de abastecimento em que existem atores da economia solidária. Essa ação fortalece não
apenas a perspectiva social, mas também a econômica da ação. O relacionamento com a
rede é muito interessante, porque é percebido como um movimento social. No entanto,
eles constroem relacionamentos também fora da rede, atuando como um motor de
desenvolvimento inclusivo, pois atraem e promovem inovação. Os empreendedores são
frequentemente ativistas que escolhem uma determinada atividade econômica por escolha
ética e ideal. A maioria das organizações é orgânica ou oferece um produto inovador e
justo e são recentemente estabelecidas. Em quase todas essas empresas, há uma
necessidade de reconstrução de toda a cadeia de abastecimento em torno dos valores da
economia solidária.

1.3 Promoção da inclusão social repensando a economia


A economia solidária é composta por um conjunto complexo de experiências, às vezes
muito diferentes entre si, e de forma regulatória plural. No entanto, graças a essa
diversidade, ela é capaz de promover mecanismos de mudança. O objetivo da pesquisa
foi analisar como a troca econômica em SPGs poderia impactar no desenvolvimento local,
investigando a relação econômica entre membros da rede solidária e seu conceito de
empresa. O artigo analisou as características de empresas com um modelo econômico
autônomo em relação a fundos públicos, a fim de serem independentes na proposição de
ações para a governança local.
Primeiramente, a relação econômica construída pelos membros da REES tem um impacto
direto no desenvolvimento local, porque influencia e incentiva o surgimento de
experiências inclusivas. Isso é feito a partir de uma série de características. A ação da
rede, na verdade, é útil para sustentar pequenos agricultores orgânicos que, de outra
forma, não teriam espaço no mercado tradicional. Além disso, essas organizações tentam
reorganizar a cadeia produtiva com base em critérios locais, ecológicos e éticos, e isso
aumenta diretamente a produção e o consumo de produtos justos. Finalmente, novos
negócios ligados à ideia de economia solidária surgiram, as chamadas start-ups de SPGs,
graças a um relacionamento positivo entre consumidores e produtores. Isso está
fortemente vinculado a uma ideia de inovação social na resolução de reivindicações
sociais e está diretamente ligado à promoção de um desenvolvimento local sustentável.

Em segundo lugar, fazer parte de uma rede é muito importante para essas organizações,
porque, graças a isso, são capazes de influenciar umas às outras na construção da coesão
social, um impacto indireto essencial para um desenvolvimento sustentável. Por exemplo,
nem toda organização é do Tipo A, mas certamente o forte ativismo social e político do
Tipo C influencia positivamente a ação das empresas do Tipo A, que talvez colocassem
em primeiro lugar apenas o objetivo de lucro, escondendo a economia plural. A economia
solidária revela uma das características constituintes da empresa, que é o processo de
produção voltado para responder às necessidades sociais.

Analisando as organizações do Tipo A, de fato, podemos afirmar que quando uma


organização baseia sua sustentabilidade na economia plural, significa que ela se percebe
como interdependente com o sistema do qual faz parte, como uma ação de co-produção.
A co-produção é especialmente explícita em SPGs. O princípio econômico da
solidariedade organizada é concebido para que aqueles que oferecem e aqueles que
demandam construam conjuntamente a produção de bens e serviços. Isso constrói uma
relação simétrica entre diferentes atores. Os consumidores têm a possibilidade de criar
novas soluções para atender às suas necessidades, e os produtores têm a possibilidade de
construir uma cadeia de suprimentos sólida. As interações entre os sujeitos, portanto,
resultam em uma resposta coletiva às necessidades, fortalecendo uma abordagem de
inovação social.

Em terceiro lugar, o desenvolvimento sustentável local é indiretamente aprimorado pela


relação de co-produção com a governança local, acessando formas de participação
política territorial, também graças ao papel da rede. Como vimos no mapa, os membros
que atuam como "empresas hub" têm características para serem um motor de
desenvolvimento na governança local e a força de se conectar com outros membros.
Graças ao ativismo desses atores ao se envolverem nas ações da rede, a rede assume um
papel principal na governança local, a fim de gerenciar questões ligadas ao
desenvolvimento e promover a economia solidária. Esses não são processos automáticos,
mas quanto mais a rede puder fomentar essas relações entre empresas hub e membros da
rede, maior será a oportunidade de criar uma economia social inclusiva, construindo
também cadeias de abastecimento baseadas em valores de economia solidária. Essas
empresas reorganizam o espaço técnico da cadeia de valor de fornecimento, em direção
a regras solidárias e justas. Dessa forma, elas têm um papel político em ações de defesa
em prol de reivindicações sociais.

Finalmente, as organizações percebem a rede não como um espaço fechado, mas como
parte de um movimento maior e como um nó de uma cadeia de abastecimento solidária.
Isso fortalece a promoção de ações políticas e permite que as organizações se estruturem
em uma cadeia de abastecimento para propor um processo econômico completo baseado
em princípios regulatórios ligados à reciprocidade, para uma economia mais inclusiva.

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