Você está na página 1de 11

Aula 11.

05 – anotações dos textos – casa

A sociologia dos mercados tem sido um dos campos mais vibrantes da sociologia nos últimos
25 anos. Começando com alguns artigos empíricos e teóricos, cresceu de forma significativa.
Um dos principais trabalhos nesse campo é o artigo de Granovetter (1985) intitulado "Ação
Econômica e Estrutura Social: O Problema da Incorporação", que já foi citado mais de 2500
vezes desde a sua publicação, tornando-se o artigo mais citado na sociologia na era pós-
guerra. No entanto, apesar dos avanços significativos dos sociólogos na compreensão das
origens, operações e dinâmicas dos mercados como estruturas sociais, as perspectivas teóricas
que surgiram tendem a permanecer separadas e distintas. Isso resulta em dois problemas: a
confusão causada pelo uso de conceitos semelhantes, mas identificados por termos diferentes,
e a dificuldade de avaliar o grau de complementaridade ou contradição entre as teorias.

Este artigo tem como objetivo principal desembaraçar o trabalho teórico e empírico sobre a
sociologia dos mercados, esclarecendo o que sabemos e onde os estudiosos realmente
discordam. A literatura geralmente tem sido dividida em três grupos teóricos: os que usam
redes, os que usam instituições e os que usam performatividade como mecanismos
explicativos na emergência e dinâmica dos mercados. No entanto, essa divisão exagera a
separação entre essas perspectivas teóricas, uma vez que todas elas compartilham a visão dos
mercados como arenas sociais onde as empresas, seus fornecedores, clientes, trabalhadores e
governo interagem.

Além dessas perspectivas, o artigo também destaca a importância de abordagens teóricas


adicionais que têm sido subestimadas na literatura: a economia política e a ecologia
populacional. A economia política tem explorado as ligações entre estados, leis e mercados,
bem como a formação histórica dos sistemas de governança. A ecologia populacional, por sua
vez, lida diretamente com os efeitos da concorrência nos mercados.

Ao considerar essas diferentes perspectivas teóricas, o objetivo é extrair o que os sociólogos


aprenderam sobre os mercados e identificar questões em aberto. É importante ressaltar que a
divisão em redes, instituições e performatividade não é exaustiva, e outras abordagens
teóricas também devem ser consideradas no estudo da estruturação social dos mercados.

O texto aborda a produção de mercados na sociologia e destaca que, embora muitos


estudiosos tenham utilizado análises de redes e institucionais para entender a estrutura dos
mercados, a ecologia populacional não tem sido amplamente explorada nesse campo. Isso
ocorre principalmente devido à falta de tradução fácil do vocabulário e dos métodos dessa
abordagem para as perspectivas atuais da estrutura social. No entanto, o texto argumenta que
as ideias da ecologia populacional podem enriquecer o pensamento acadêmico sobre a
estrutura social dos mercados e defende a inclusão explícita dessas ideias.

Além disso, o texto destaca algumas discordâncias teóricas na sociologia dos mercados. Uma
delas envolve a relação entre produtores e consumidores, com alguns estudiosos enfatizando
o papel da confiança e da cultura nessa relação, enquanto outros se concentram
exclusivamente nas relações competitivas entre produtores. Outra discordância diz respeito à
visão sobre as estruturas de mercado, com alguns argumentando que elas são emergentes ou
em equilíbrio, e outros defendendo que os mercados estão sempre em constante mudança.
O texto também aborda a complexa relação dos sociólogos com a eficiência das estruturas
sociais nos mercados. Alguns estudiosos acreditam que essas estruturas podem ser eficientes,
reduzindo custos de informação, promovendo confiança entre compradores e vendedores e
dando acesso a conhecimento sobre a concorrência. Outros são mais céticos em relação a essa
questão, argumentando que as estruturas sociais podem ser usadas para mitigar os efeitos da
concorrência ou promover hierarquias de status entre os participantes do mercado.

No geral, o texto analisa as raízes intelectuais da sociologia dos mercados, examina as


principais ideias desenvolvidas nesse campo e destaca as divergências teóricas existentes.
Também sugere possíveis direções para pesquisas futuras nessa área.

Este texto discute as raízes contemporâneas da sociologia dos mercados. Em vez de focar nas
origens clássicas da teoria, o texto destaca os campos de estudo contemporâneos que
contribuíram para o desenvolvimento da sociologia dos mercados. Ele menciona três campos
principais: economia política, sociologia dos mercados de trabalho e teoria organizacional.

No campo da economia política, a teoria da modernização dominava na década de 1960. Essa


perspectiva buscava explicar como países economicamente subdesenvolvidos poderiam se
desenvolver seguindo o modelo de nações industrializadas. No entanto, críticas à teoria da
modernização levaram a novas perspectivas sobre desenvolvimento e capitalismo comparado.
Os estudiosos descobriram que as relações sociais eram fundamentais para o funcionamento
dos mercados, o que desafiava a teoria econômica neoclássica.

No campo da sociologia dos mercados de trabalho, pesquisadores questionaram a visão


neoclássica de atores atomizados e racionais. Eles exploraram como as relações sociais afetam
o funcionamento dos mercados de trabalho e dos atores envolvidos neles.

Na teoria organizacional, os estudiosos se concentraram na forma como os gestores das


empresas interpretavam as demandas de seus ambientes e ajustavam as estruturas
organizacionais de acordo com essas contingências. Eles exploraram como as empresas
surgiam devido a oportunidades de mercado e como a dependência de recursos afetava sua
sobrevivência.

Além desses campos, a teoria institucional também desempenhou um papel importante. Os


pesquisadores destacaram que o ambiente das empresas é em parte uma construção social,
influenciada por governos, fornecedores, trabalhadores e clientes. Eles argumentaram que as
empresas se assemelham umas às outras por meio de processos de imitação, coerção e
normas.

Por fim, o texto menciona a abordagem da teoria do status de estratificação e dos mercados
de trabalho, que se concentrava na distribuição de recursos. Essa abordagem examinava como
os indivíduos eram classificados em posições sociais com base em características pessoais, mas
não considerava o papel das empresas na demanda por trabalho.

Esses diferentes campos de estudo contribuíram para o desenvolvimento da sociologia dos


mercados como um campo próprio. Eles questionaram a visão econômica dominante e
destacaram a importância das relações sociais, das instituições e das interações entre atores
nos mercados. Essa abordagem mais abrangente proporcionou insights teóricos e empíricos
para a compreensão dos mercados e dos agentes econômicos

Durante a década de 1970, os estudiosos ficaram interessados em duas outras questões: como
a estrutura dos empregos afeta os padrões de mobilidade individual e qual é o processo real
pelo qual as pessoas são selecionadas para os empregos? Os sociólogos responderam a essas
perguntas considerando o papel das empresas no processo de contratação e as relações
sociais no processo de seleção. O novo estruturalismo modelou como as empresas afetam a
distribuição de recompensas. Os trabalhos de White e Granovetter foram importantes nesse
contexto.

White, em "Chains of Opportunity", elaborou como as cadeias de vagas de emprego ajudaram


a produzir a distribuição de trabalhadores e recompensas. Granovetter, em "Getting a Job",
abordou a questão de como as pessoas eram selecionadas para os empregos, introduzindo a
ideia de que as redes sociais intermediam as relações entre empregadores e empregados.
Tanto White quanto Granovetter defenderam a análise de redes como uma forma de
compreender a estrutura social que liga empregadores e empregados. Essas perspectivas
destacaram a importância das relações sociais e das conexões pessoais no mercado de
trabalho.

ACORDOS NA SOCIOLOGIA DOS MERCADOS

No cerne da sociologia dos mercados está a tentativa de inserir sociólogos no estudo do


domínio econômico, trazendo a teoria social e a forma como a vida social funciona em geral
para dentro de empresas, mercados e indústrias. Como nossa revisão sugere, as peças teóricas
para a construção da sociologia dos mercados estavam em vigor em 1983. As empresas, as
estruturas sociais que definem suas relações com concorrentes, e as estruturas sociais que as
conectam a fornecedores, clientes, trabalhadores e governos já haviam sido teorizadas como
existentes e variando entre mercados, períodos históricos e países. A declaração de
Granovetter de que a vida econômica sempre esteve inserida na vida social se mostrou o
enquadramento intelectual que justificou a abertura de uma enxurrada de pesquisas e trouxe
um grande número de estudiosos armados com ideias sociológicas para estudar a atividade de
mercado e, ainda mais importante, se engajar em discurso uns com os outros.

O que se seguiu foi uma exploração dos mercados de produtos e trabalho. Estudiosos
estudaram casos concretos e tentaram aplicar essas ferramentas para explicar o que havia
surgido. A sociologia dos mercados tem sido usada para explicar muitos aspectos dos
mercados. Alguns estudiosos demonstraram como os relacionamentos sociais nos mercados
produzem preços mais estáveis (Baker 1984; Uzzi 1997, 2004). Outros se concentraram em
como a estrutura social dos mercados afetou o surgimento e o declínio de pequenas empresas
(Stuart et al. 1999, Stuart & Sorenson 2003). Ainda outros observaram a inovação e
disseminação de novas estratégias de mercado, como novos produtos, inovações financeiras
ou mudanças em organizações, como a diversificação de produtos, expansão geográfica e
integração vertical, além de mudanças em qual subunidade controla a empresa (Ahmadjian &
Robinson 2001; Beckman et al. 2002; Davis 1991; Davis et al. 1994; Fiss & Zajac 2004; Fligstein
1985, 1991; Gulati & Westphal 1999; Haunschild 1993; Hirsch 1986; Ocasio & Kim 1999;
Westphal & Zajac 1998; Zorn 2004; Zuckerman 1999, 2000).

Exploração de todas as possíveis conexões entre empresas, fornecedores, clientes, governos e


trabalhadores levaram os estudiosos a postular uma infinidade de mecanismos para a
inserção. A literatura lutou para generalizar esses casos e começou a elaborar diferentes
maneiras de pensar sobre o problema da inserção social dos mercados.
Krippner (2001) argumentou que o termo "inserção" se tornou vagamente definido.
Argumentamos que isso foi o caso desde o início. Estudiosos que abordaram o problema de
pontos de vista muito diferentes examinaram diferentes maneiras pelas quais as transações
econômicas eram socialmente estruturadas.

A variedade de abordagens dificultou a definição sociológica de mercados. Para a teoria


neoclássica, mercados simplesmente implicam trocas entre atores por bens ou serviços. Essas
trocas geralmente são consideradas passageiras, com o preço (ou seja, a quantidade de uma
mercadoria trocada por outra usando um meio de troca generalizado, ou seja, dinheiro)
determinado pela oferta e demanda pela mercadoria. Do ponto de vista da sociologia dos
mercados, o problema é que esse tipo de troca já mostra uma grande quantidade de estrutura
social. Os atores do mercado têm que se encontrar. O dinheiro precisa existir para permitir que
os atores do mercado ultrapassem a troca direta de bens não equivalentes. Os atores precisam
saber qual é o preço. Por trás de toda troca, existe a fé de que tanto compradores quanto
vendedores não serão enganados. Essa fé frequentemente implica mecanismos informais (ou
seja, conhecimento pessoal do comprador ou vendedor) e formais (ou seja, leis) que governam
a troca. Além disso, os atores do mercado são frequentemente organizações, o que implica
que a dinâmica organizacional influencia as estruturas de mercado. Para os sociólogos, a troca
de mercado implica todo um pano de fundo de arranjos sociais que a economia nem sequer
começa a sugerir.

Mas a sociologia dos mercados vai além de apenas questionar a inserção institucional de um
mercado anônimo. Ela está preparada para desvendar as caixas-pretas da troca, concorrência
e produção. Os sociólogos começam percebendo que os atores do mercado estão envolvidos
em relacionamentos sociais cotidianos uns com os outros, relacionamentos baseados em
confiança, amizade, poder e dependência. Para a sociologia moderna de mercados (Durkheim
1964), a troca social não estruturada, casual e única não é considerada um mercado. Em vez
disso, os mercados implicam espaços sociais onde ocorrem trocas repetidas entre
compradores e vendedores sob um conjunto de regras formais e informais que regem as
relações entre concorrentes, fornecedores e clientes.

Esses campos operam de acordo com entendimentos locais e regras formais e informais que
orientam a interação, facilitam o comércio, definem quais produtos são produzidos e, de fato,
são constitutivos dos produtos, além de fornecer estabilidade para compradores, vendedores
e produtores. Esses mercados dependem de governos, leis e entendimentos culturais mais
amplos que apoiam a atividade de mercado. A primeira coisa que uma sociologia dos
mercados sugere é que os atores do mercado desenvolverão estruturas sociais para mediar os
problemas que encontram na troca, competição e produção. Discutimos cada um desses
aspectos e delineamos as principais contribuições de cada perspectiva no que diz respeito a
como os atores do mercado resolvem esses problemas e, ao fazê-lo, constroem e navegam por
seus mundos.

Muitos aspectos das relações de troca nos mercados foram examinados por sociólogos. A
teoria institucional sugere não apenas que a troca de mercado contratual depende da
definição de regras e da aplicação de sanções pelos estados, mas também que os estados
podem definir quais tipos de produtos são apropriados para a troca. Além disso, a estrutura
interna do estado como definidor de regras e regulador pode influenciar os tipos de produtos
que os estados permitem serem trocados e as regras que apoiam e cercam a troca.
Compradores e vendedores também geralmente se conhecem e, em muitos casos, estão
envolvidos em trocas repetidas. Teóricos de redes enfatizaram o papel que as redes sociais
desempenham na geração de confiança entre compradores e vendedores, o que torna a troca
possível. Sociólogos culturais examinaram como as relações de troca específicas são
profundamente construídas pelos significados culturais por trás dos produtos comprados e
vendidos. Por fim, os sociólogos geralmente acreditam que o poder influencia as relações
sociais e, portanto, as relações de mercado. As relações de troca podem ser profundamente
influenciadas pelo poder relativo dos atores sobre a oferta e a demanda do que está sendo
trocado e por sua dependência relativa do que está sendo trocado. Essa concepção de poder
nos mercados é geralmente referida como dependência de recursos e foi descrita e
empregada de várias maneiras por muitos sociólogos.

A dependência de recursos é um conceito geral usado na sociologia de mercados. A ideia parte


do pressuposto de que, em qualquer troca social, um lado da troca pode depender mais do
que está sendo trocado do que o outro. Se uma das partes da troca for muito mais
dependente do que a outra, é mais provável que essa parte tenha que obedecer aos ditames
do fornecedor/cliente ou enfrentar a extinção. Essa ideia tem grande generalidade quando se
trata de examinar a troca. Por exemplo, as empresas precisam obter financiamento, garantir
insumos para seus produtos e trabalho, e estabelecer relacionamentos com seus concorrentes,
governos e clientes. A literatura empírica mostrou que quem pode ter

Embora muitos estudiosos que têm estudado as interações de troca tenham se concentrado
em utilizar métodos de rede, frequentemente eles postulam mecanismos que envolvem
dependência de recursos. Por exemplo, Lincoln et al. (1996) mostram como as ligações de
propriedade entre empresas japonesas afetam a capacidade das empresas proprietárias de
ditar ações para suas subsidiárias. Estabelecer relacionamentos com os principais fornecedores
também pode ser uma maneira de cooptar essa dependência. Burt (1980a) demonstra como
as corporações americanas usam a filiação ao conselho estrategicamente para trazer
representantes de empresas das quais uma determinada empresa depende para recursos.
Stuart et al. (1999) demonstram que obter dinheiro dos investidores de risco certos afeta a
probabilidade de sobrevivência de uma empresa específica. Eles interpretam essas conexões
não apenas como uma forma de garantir financiamento, mas também de conferir legitimidade
a uma startup específica, permitindo que ela tenha maior capacidade de garantir
trabalhadores e clientes. Em essência, um propósito dos vínculos entre fornecedores e clientes
é controlar a dependência de recursos e aumentar a probabilidade de sobrevivência de uma
empresa.

Os teóricos de redes e os psicólogos sociais experimentais postulam um mecanismo adicional


que conecta compradores e vendedores: confiança. O principal argumento de Granovetter
sobre a imersão é que, se alguém tem laços estreitos com os outros ao longo de longos
períodos de tempo, pode confiar que, em qualquer transação específica, as pessoas são menos
propensas a tentar enganar umas às outras. A literatura experimental mostrou que a confiança
é mais importante em situações em que há muita incerteza sobre as qualidades do produto
sendo trocado. Kollock (1999) examinou como a reputação funciona como uma forma de
aumentar a confiança entre os atores. Embora a confiança não seja um mecanismo importante
nem na ecologia populacional nem na teoria institucional, ela se relaciona com essas teorias.
Julgar a confiabilidade de outro ator não é apenas uma questão de ter um vínculo de rede de
longo prazo com ele. A confiança também está relacionada ao poder e à dependência de
recursos. As empresas trabalham para reduzir a incerteza e a dependência de recursos
escolhendo parceiros que sabem ser confiáveis ou que os outros consideram confiáveis.

Os estudiosos da cultura e do consumo focam na troca de produtos nos mercados. A cultura


está envolvida na troca de mercado, onde os produtos têm significados culturais
compartilhados. O consumo reproduz a vida material dos consumidores e expressa
identidades e afiliações a grupos de status. A competição caracteriza a relação entre os
produtores, e a diferenciação de produtos é um mecanismo para controlar a competição. A
diferenciação permite que as empresas escolham em qual parte do mercado desejam
competir, criando nichos ou novos mercados. A diferenciação também ajuda a estabilidade da
empresa, espalhando as pressões competitivas por múltiplos mercados de produtos.

Produtores buscam cooperar, combinar e estabelecer hierarquias para reduzir a competição. O


governo regula a competição e afeta as oportunidades das empresas. As estruturas internas
das empresas, cultura, poder e estratégias são importantes para entender a estrutura de
mercado. A interação entre as empresas ocorre por meio de interligações nos conselhos de
administração. A sociologia dos mercados busca entender as relações sociais que surgem para
resolver os problemas de competição e troca, estabelecendo confiança e garantindo recursos
escassos. As estruturas de mercado surgem quando as empresas encontram maneiras de
resolver seus problemas.

Os argumentos divergentes na sociologia dos mercados envolvem críticas às perspectivas


gerais existentes. Os performativistas, por exemplo, criticam o trabalho sociológico existente
por negligenciar como os mercados são estruturados pela interação da atividade econômica
com a descoberta científica e a criação de novas tecnologias. Eles argumentam que a
sociologia dos mercados tem se preocupado demais em criticar a visão neoclássica de que os
mercados são trocas anônimas e de uma só vez, e não se preocupa o suficiente com o papel
dos economistas (e outros) na criação de ferramentas culturais que realmente promovem o
mercado. Outros argumentos se concentram nas relações entre produtores e consumidores,
destacando a confiança e os laços sociais. No entanto, essas perspectivas podem falhar em
capturar o que ocorre nos grandes mercados de consumo, onde os compradores são
indivíduos e suas preferências são expressas de maneiras mais indiretas. Além disso, há uma
divergência em relação à estabilidade e mudança nos mercados, com algumas teorias
enfatizando a formação de novos mercados e outras argumentando que certas indústrias
estão constantemente em estado de fluxo. O diálogo entre essas diferentes perspectivas pode
levar a uma compreensão mais clara da produção e legitimação de novos produtos e da
estruturação de mercados estáveis.

Existem várias visões alternativas desses processos. Inspirados pela visão de ecologia de
populações de Nelson e Winter (1982), muitos estudiosos argumentaram que algumas
indústrias estão em constante estado de fluxo. As empresas devem ser ágeis, mudar de
tecnologias e inovar ou correr o risco de morrer (Powell et al., 2005; Stark & Vedrez, 2006).
Alguns estudiosos argumentaram que as organizações de rede produzem transformações
contínuas e que os mercados modernos são tão dinâmicos que raramente se estabelecem em
um equilíbrio por muito tempo (Stark & Vedrez, 2006). A perspectiva da performatividade
também parece ser compatível com essa visão. Para resolver esses argumentos, os estudiosos
precisam ser mais claros sobre como podem medir e interpretar a estabilidade ou o equilíbrio.
Em outras palavras, quando uma mudança em um mercado é uma mudança? A visão geral de
um mercado como um nicho, papel, status ou estrutura hierárquica de incumbentes e
desafiantes implica que uma mudança de mercado envolveria uma mudança nas identidades e
posições dos principais atores. Também envolveria uma mudança na definição subjacente do
mercado (ou seja, suas principais atividades, formas de organização, etc.). Mas essa definição
de mudança apresenta vários problemas. Em primeiro lugar, mudanças nas identidades de
empresas desafiantes ou incumbentes ocorrem o tempo todo. Não se quer argumentar que
qualquer uma dessas mudanças desinstitucionalize o mercado. Em segundo lugar, mudanças
em produtos e produção também evoluem ao longo do tempo (geralmente de forma
fragmentada). Novamente, fica-se perguntando em que ponto tais mudanças representam
transformações subjacentes dos mercados existentes. Muitas das divergências sobre
estabilidade e mudança na literatura se baseiam em como se pensa exatamente o que é uma
mudança. Por fim, um dos problemas que assombra todas as discussões na sociologia dos
mercados é o problema da eficiência. A ideia econômica de eficiência é que recursos escassos
sejam alocados de forma a maximizar seus retornos. A teoria econômica neoclássica
pressupõe que há apenas uma maneira para essa alocação ocorrer quando um mercado está
em equilíbrio, e que a atualização constante de informações significa que as empresas estão
sempre mudando suas atividades para manter a eficiência. A sociologia dos mercados tem
uma relação ambígua com essa afirmação que varia desde basicamente aceitar a lógica
econômica até basicamente negá-la. Assim, por exemplo, na visão da ecologia de populações,
as dependências de recursos das organizações ditam que organizações que não se encaixam
em seus ambientes perecerão. Hannan e Freeman (1977), é claro, constroem um argumento
geral sobre todas as formas de organização. Eles assumem que qualquer que seja a
dependência de recursos que caracterize o nicho (e aqui eles incluem organizações sem fins
lucrativos e estados), operará para selecionar vencedores e perdedores.

A competição em novos mercados é provavelmente diferente da competição em mercados


estáveis. Em ambos os casos, as empresas farão o que puderem para sobreviver. Em novos
mercados, as empresas têm muitas dependências de recursos que tornam a sobrevivência
difícil. Mas mesmo aqui, elas podem usar seus relacionamentos sociais com grandes entidades
corporativas, fornecedores, clientes e governos para construir coalizões que possam produzir
estabilidade. As relações com os concorrentes podem evoluir à medida que as empresas
percebem em qual parte do mercado desejam estar e à medida que os segmentos de mercado
se tornam definidos. Em mercados estáveis, os incumbentes têm mais ferramentas para
combater os concorrentes, seja reduzindo seus preços, usando várias estratégias para resistir à
entrada dos concorrentes no mercado ou cooptando os concorrentes por meio de cópia ou
aquisição. Os mercados estão sempre subindo e caindo, o que significa que as tentativas de
controle estão sempre potencialmente sob ataque.

A conclusão é que a sociologia dos mercados é um campo maduro de estudo, com conceitos
desenvolvidos para descrever e entender como as relações sociais estruturam todos os tipos
de mercados. Para pesquisas futuras, é importante explorar as diferenças terminológicas entre
as perspectivas e considerar a relevância dessas diferenças para casos empíricos. Os
acadêmicos devem estar abertos à possibilidade de que os mecanismos propostos por outros
acadêmicos sejam relevantes para seu caso específico. A discussão honesta e a consideração
cuidadosa de diferentes perspectivas ajudarão a entender melhor as discordâncias reais e a
avançar nas questões em aberto. A revisão realizada espera contribuir para o fermento
intelectual, estimulando pesquisas e debates contínuos.
Texto 2:

Neste trecho da obra de Neil Fligstein, intitulado "What Kind of Re-Imagining Does Economic
Sociology Need?" (Que tipo de reimaginação a sociologia econômica precisa?), o autor discute
o crescimento e desenvolvimento da sociologia econômica como um campo de estudo.
Fligstein destaca que, ao longo dos últimos 35 anos, a sociologia econômica passou de um
campo pouco reconhecido para um dos campos centrais da sociologia. Ele menciona três
manifestações organizacionais principais desse campo: a Society for the Advancement of
Socio-Economics (S.A.S.E.), a seção de Sociologia Econômica da American Sociological
Association e a Economic Sociology Research Network da European Sociological Association.

Fligstein ressalta que, no início do campo, havia uma ampla definição para atrair diferentes
pesquisadores interessados, dada a falta de consenso sobre o que a sociologia econômica
abrangia. Ele menciona diversas correntes de pesquisa, como análise de redes, análise político-
cultural, performatividade, análise institucional, economia política e análise cultural, que se
tornaram mais maduras ao longo do tempo.

Além disso, Fligstein explora o ensino da sociologia econômica e destaca a existência de um


conjunto de trabalhos canônicos frequentemente ensinados pelos pesquisadores. No entanto,
ele argumenta que muitas dessas correntes de pesquisa não levam em consideração
ativamente outras correntes e mantêm-se auto-referenciais.

O autor também discute a estrutura organizacional e os programas de pesquisa da sociologia


econômica, enfatizando a importância de colocar esses programas em diálogo uns com os
outros para promover a acumulação de conhecimento. Ele ressalta que a colaboração entre
diferentes correntes de pesquisa e a aplicação de conceitos em novos contextos são
fundamentais para a inovação científica.

No final do trecho, Fligstein defende uma reimaginação da sociologia econômica que incentive
a consideração explícita de outros programas de pesquisa, visando superar a fragmentação e
as limitações da abordagem atual do campo.

No próximo trecho, Fligstein descreve o ressurgimento do interesse em abordar os processos


de mercado e como diferentes grupos emergiram para reivindicar o campo da sociologia
econômica. Os críticos do neoclassicismo uniram forças, originando críticas baseadas na teoria
moral, na economia política e na teoria organizacional. O objetivo era unir essas críticas e criar
uma estrutura ampla que permitisse a colaboração entre estudiosos de várias subáreas da
sociologia, ciência política, estudos de negócios, direito, políticas públicas e economia
heterodoxa.

Diversos grupos com diferentes programas de pesquisa surgiram, resultando em uma


proliferação de programas de pesquisa. Os construtores dessas estruturas organizacionais
perceberam que ampliar o escopo do campo e mantê-lo aberto resultaria em uma
reorientação permanente e incentivaria a cooperação entre os grupos.

Foram citados exemplos de organizações, como a Society for the Advancement of Socio-
Economics (SASE) e a Economic Sociology Section of the American Sociological Association, que
foram fundadas com a ideia de promover o estudo sociológico da economia sem limitar os
membros em termos do que eles poderiam estudar ou como poderiam abordar o assunto.
Além disso, foi mencionada a criação de um boletim informativo pela European Sociological
Association para avançar a causa da sociologia econômica na Europa, encorajando a
diversidade de abordagens e promovendo a conexão entre os praticantes da sociologia
econômica em diferentes países.

Em resumo, esse trecho destaca o ressurgimento do interesse pela sociologia econômica, a


união de críticas ao neoclassicismo e a formação de organizações e publicações para promover
a colaboração e o avanço da disciplina.

Richard Swedberg e seus colegas decidiram que, para a sociologia econômica florescer na
Europa, os estudiosos deveriam se definir como parte desse grupo e, ao fazê-lo, participar da
conversa em andamento. De fato, o boletim informativo European Economic Sociology
funcionou tanto para criar a sociologia econômica como um campo na Europa quanto para
disseminá-la. Ele fez isso não definindo o que era e o que não era sociologia econômica, mas
permitindo que os estudiosos trabalhassem para encontrar seu lugar em um espaço discursivo
emergente.

Concluo que a fundação da sociologia econômica como um campo reuniu estudiosos diversos
com programas de pesquisa variados que estavam interessados em investigar questões
econômicas e se opor à hegemonia da economia como disciplina em nossa compreensão
dessas questões. O objetivo de construir organizações era criar uma estrutura ampla o
suficiente para atrair muitas pessoas e, ao mesmo tempo, não impor a conformidade a uma
teoria ou método específico. Isso refletia muito o caráter semelhante a um movimento social
da sociologia econômica em sua origem. Os estudiosos estavam lutando para encontrar
maneiras de desvendar como as sociedades capitalistas funcionavam. Eles também estavam
em busca de colegas acadêmicos com quem se comunicar. Ser contra o neoclassicismo e
vagamente a favor de tentar incorporar a economia na sociedade era o suficiente para reunir
as pessoas.

Os programas de pesquisa que estavam se desenvolvendo nas décadas de 1980 e 1990


formaram o núcleo dessas organizações, suas publicações e reuniões. Esse fermento
intelectual criou um cânone de obras na sociologia econômica. Em um número recente do
boletim informativo da seção de sociologia econômica, Dan Wang examinou um conjunto de
programas para disciplinas que estavam sendo ministradas em importantes universidades de
pesquisa. Os dados foram coletados solicitando aos membros da seção que enviassem seus
programas para as disciplinas que lecionavam. Foram recebidos 55 programas, provenientes
de indivíduos que lecionavam nos Estados Unidos e na Europa, incluindo estudiosos não
apenas da sociologia, mas também de escolas de negócios, programas de políticas públicas e
ciência política. A maioria dos programas (45) era de universidades americanas, portanto, há
um viés em relação à forma como a sociologia econômica tende a ser ensinada nessas
instituições.

A Tabela 12.1 contém uma lista dos 20 autores mais citados nos programas. Observo que, se
os autores tiverem várias obras citadas, eles foram contados várias vezes. Portanto, três dos
autores (Granovetter, Zelizer e Fligstein) tiveram mais de 55 citações. Não
surpreendentemente, Mark Granovetter lidera a lista. A lista representa o campo de muitas
maneiras e se relaciona com a discussão de Aspers, Dodd e Anderberg neste volume. No
entanto, a lista não nos diz muito sobre como essas leituras formam programas de pesquisa
identificáveis, programas nos quais as obras compartilham uma perspectiva intelectual
comum.

A Figura 12.1 apresenta uma análise de rede dos artigos citados nos programas. A Figura 12.1
examina explicitamente como os estudiosos que ensinam sociologia econômica elaboram
listas de leitura que mapeiam os debates no campo. A análise é baseada na aparição das
leituras em uma determinada semana em cada programa. Portanto, as obras que aparecem
juntas no programa em uma determinada semana são contadas como tendo uma relação
entre si. A ideia é que, quando os estudiosos ensinam o campo, eles elaboram listas em que
um conjunto de leituras é considerado interconectado. É possível identificar aqui quatro ou
talvez até seis grupos distintos. Três dos grupos são relativamente bem definidos e parecem
refletir corpos de trabalho independentes entre si. À esquerda do diagrama estão as obras
centradas em Karl Polyani e, como era de se esperar, tendem a se orientar para a economia
política. No topo, no centro, há um conjunto de obras que apresentam Zelizer e outros
associados à cultura e questões de moralidade na sociologia econômica. Essas obras estão
relacionadas ao grupo principal por meio de Clifford Geertz. Isso representa uma versão da
virada cultural na sociologia econômica. O terceiro grupo distinto é o trabalho na tradição dos
estudos sociais da ciência, que se concentra principalmente na sociologia das finanças, mas
também inclui trabalhos recentes sobre comensuração.

Nesse último trecho, o autor discute as barreiras e oportunidades para re-imaginar a sociologia
econômica. Ele aponta que há cerca de quinze ou vinte programas de pesquisa atuais, muitos
dos quais são apenas parcialmente representados no que os acadêmicos estão ensinando.
Embora haja uma identificação de uma "virada cultural" na sociologia econômica, há vários
programas de pesquisa em andamento que invocam a cultura de alguma forma em suas
abordagens. Esses programas de pesquisa existentes enfatizam concepções muito diferentes
de cultura, como a performatividade da economia, identidades, papel da lei na definição de
mercados, processos de comensuração, o papel de convenções e significados nas ações de
mercado e as categorias morais definidas pelos atores em suas interações com os mercados.

O autor menciona a sugestão de Richard Swedberg de que, em vez de se preocupar com a


proliferação de programas de pesquisa, deve-se concentrar nas teorias derivadas da sociologia
econômica clássica e moderna que oferecem orientação para a prática de pesquisa. No
entanto, ele argumenta que essa abordagem ignora o fato de que muitos desses termos de
pesquisa ocupam papéis distintos em programas de pesquisa específicos. Existem divisões
significativas entre os acadêmicos em relação ao que estão fazendo efetivamente. Isso pode
ter um impacto negativo de longo prazo no desenvolvimento do campo, conforme apontado
por Max Weber e Thomas Kuhn, que reconheceram que a sociologia como disciplina pode
estar destinada a nunca acumular conhecimento, mas sim a proceder como um conjunto de
projetos de pesquisa que refletem as preocupações e interesses atuais de um pequeno grupo
de acadêmicos.

No entanto, o autor destaca uma oportunidade de re-imaginar a sociologia econômica ao


adotar uma abordagem semelhante à das ciências naturais. Ele menciona um estudo que
analisou milhões de artigos científicos nas áreas de física, química e biologia e descobriu que as
inovações mais frutíferas surgiam quando ideias de pesquisas próximas eram aplicadas em
novos contextos. Portanto, o autor sugere que as barreiras entre os grupos de pesquisa e
mesmo entre os estudiosos que trabalham em tópicos bastante diferentes na sociologia sejam
superadas em busca de maneiras úteis de pensar sobre novas questões.
Em resumo, o autor argumenta que a sociologia econômica precisa superar as divisões
existentes entre os programas de pesquisa e adotar abordagens interdisciplinares para re-
imaginar o campo. Isso envolve buscar soluções em pesquisas existentes em outros campos,
bem como abordar os desafios empíricos e teóricos que surgem dos programas de pesquisa
existentes. A ideia é não trabalhar apenas nos limites de um programa de pesquisa existente,
mas buscar novas ideias em outros campos para avançar a disciplina.

Você também pode gostar