Você está na página 1de 12

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Américo Mendes Flores


Eduarda Marculan
Gabriel Monteiro
João Eduardo de Souza
Joycy Lima de Andrade
Wesley Bergonzine

CORRUPÇÃO – INSTITUCIONALISMO E ESCOLHA RACIONAL

Trabalho de graduação apresentado à disciplina de


Teoria do Estado e Ciência Política do Curso de
Direito do Setor de Ciências Jurídicas da Universidade
Federal do Paraná.
Orientação: Prof. Dra. Heloisa Fernandes Câmara

Curitiba, 2017
1. INTRODUÇÃO
Esse trabalho vai explicar como a corrupção pode ser vista através do
Neoinstitucionalismo da Escolha Racional. Para tal, começaremos explicando como a ideia de
neoinstitucionalismo primeiro surgiu a partir da contraposição com os estudos behavioristas.
Além disso, faremos a distinção entre as três versões dessa escola: o institucionalismo
histórico, o institucionalismo sociológico e o institucionalismo da escolha racional. Em
seguida, focaremos no campo da Escolha Racional e o desenvolvimento desse método a fim
de explicar as relações institucionais com os agentes, levando em consideração que os
indivíduos buscam maximizar seus benefícios perante as opções disponíveis. Então, a partir
do exposto, passaremos a tratar da corrupção em si, e como ela pode ser explicada pelas ações
racionais do ser humano, conectadas com a existência de instituições em si, que influenciam o
modo pelo qual os atores agem nas mais diversas situações.

2. NEOINSTITUCIONALISMO
O termo “neo-institucionalismo” é usado na ciência política para designar uma
perspectiva teórica que atrai muita atenção e também certas críticas. Portanto existe uma
grande confusão quanto ao sentido exato do termo. Um dos consensos entre os estudiosos é
que há várias correntes de pensamento de análise do termo, no mínimo três surgidos após a
década de 1980 que reclamam o rótulo de novo institucionalismo. São elas: institucionalismo
histórico, institucionalismo da escolha racional e institucionalismo sociológico.
Essas escolas de pensamento surgiram como complementação, ou reação às
perspectivas behavioristas das décadas de 60 e 70. Essas buscavam elucidar o papel
desempenhado pelas instituições na determinação de resultados sociais e políticos, com
especial ênfase no que o autor David Truman definiu em 1951 como “comportamento
observável” – por exemplo, como as pessoas votam, o que um prefeito provê aos eleitores. E
esse foco no comportamento observável é justamente o ponto de partida do novo
institucionalismo, pois os novos institucionalistas não acreditam que um comportamento não
seja suficiente para explicar todos os fenômenos do governo, pois o comportamento ocorre no
contexto das instituições e só nele pode ser explicado e compreendido.

2.1. Institucionalismo Histórico


O institucionalismo histórico surgiu como uma reação contra a análise da vida política
feitas nos anos 60 e 70 em termos de vida em grupo. Esses teóricos falavam que o conflito

1
entre grupos rivais pela apropriação de recursos escassos é essencial à vida política. Os
institucionalistas procuravam entender as situações políticas nacionais, e as razões para a
distribuição desigual do poder e de recursos disponíveis, e encontraram tais explicações
estudando o modo como a organização institucional da comunidade política e das estruturas
econômicas entram em conflito.
Alguns pontos definidores do institucionalismo histórico são: a eleição de um projeto
científico cuja preocupação é em elucidar a construção, manutenção e adaptação das
instituições; segundo, a percepção de que atores políticos possuem metas e objetivos, ou seja,
a ação social possui por sua vez uma finalidade mais ampla do que exclusivamente fins
racionalmente definidos (que é a hipótese comportamental da escolha racional); e por último,
o objeto de estudo do institucionalismo histórico é o coletivo de agentes em interação
contínua, seja no âmbito de instituições, seja com atores que pressionam por mudanças
institucionais.

2.2. Institucionalismo Sociológico


O institucionalismo sociológico surgiu no quadro da teoria das organizações, num
movimento do final dos anos 70, quando alguns sociólogos contestaram a distinção
tradicional entre a esfera do mundo social, vista como o reflexo de uma racionalidade abstrata
de fins e meios e as esferas influenciadas por um conjunto variado de práticas associadas à
cultura.
Desde Max Weber, um grande número de sociólogos considera as estruturas
burocráticas que dominam o mundo moderno, (por exemplo ministérios, empresas, escolas
etc.), como produto de um esforço para elaborar estruturas cada vez mais eficazes, destinadas
a cumprir tarefas formais ligadas a essas organizações.
Contra essa tendência, os neo-institucionalistas começaram a sustentar a tese de que
muitas das formas e procedimentos deveriam ser consideradas como práticas culturais,
comparáveis aos mitos e às cerimônias elaborados por muitas sociedades.
Essas práticas seriam incorporadas às organizações e, desse modo, até a prática
aparentemente mais burocrática deveria ser explicada em termos culturalistas.
Como possuem uma ótica própria, os sociólogos institucionalistas em geral escolhem
uma problemática que envolve a explicação de por que as organizações adotam um específico
conjunto de formas, procedimentos ou símbolos institucionais. Eles tentam, por exemplo,
explicar as surpreendentes semelhanças, do ponto de vista da forma e das práticas

2
institucionais, entre os ministérios da educação através do mundo, sejam quais forem das
diferenças de contexto.

3. ESCOLHA RACIONAL
A Teoria da Escolha Racional tem como pressuposto a ideia da racionalidade
teleológica, isto é, de que os agentes racionais são aqueles capazes de maximizar os meios
mais eficientes para a obtenção de fins fixados previamente em função de seus desejos. Essa
teoria no princípio usualmente era usada para explicar a conduta de atores no mercado, dentro
da ciência econômica. Isso foi ainda pensado em termos da filosofia utilitarista, que define
que o homem, independente da área de atuação e situação, age para minimizar a dor e
maximizar o prazer.
Dessa forma, os economistas observaram que o cálculo utilitário sempre era tomado
como base para atuação. Além disso, os recursos materiais, tais quais os incentivos e
constrangimentos para a ação, também têm sua relevância para definir de que maneira o
indivíduo irá proceder.
A partir disso, a Teoria da Escolha Racional também foi observada na Ciência
Política, principalmente através da análise do Congresso dos Estados Unidos. A princípio,
pensava-se que se os postulados clássicos estivessem corretos, não haveria estabilidade
suficiente para a votação de leis no Congresso, devido às múltiplas preferências existentes.
Todavia, o que se observou era que ocorria uma notável estabilidade nesse campo.
Com isso, os teóricos da escolha racional passaram, a partir do fim da década de 70, a
se interrogar sobre como isso pode ser explicado. A resposta foi buscada nas instituições,
visto que elas impunham as regras de procedimento, sendo que as comissões do Congresso
estruturavam as escolhas e as informações de que dispunham seus membros. As instituições
do Congresso, então, diminuiriam os custos de transação ligados à conclusão de acordos,
permitindo com que a troca entre atores políticos fosse possível, solucionando os problemas
de ação coletiva.
Oliver Williamsom propôs uma tese que se tornou influente, dizendo que o
desenvolvimento de uma certa instituição se relaciona com um esforço para reduzir os custos
de transação ligados caso essa instituição não existisse. A partir dos anos 90, os teóricos da
escola da escolha racional passaram então a focar em outros campos e fenômenos políticos,
tais quais o comportamento das coalizões segundo os países, o desenvolvimento histórico das
instituições políticas e a intensidade dos conflitos étnicos.

3
Peter Hall e Rosemary Taylor definem quatro pontos comuns aos diferentes debates
existentes dentro do institucionalismo da escolha racional:
a) Os teóricos dessa área empregam uma série característica de pressupostos
comportamentais, quer dizer, tomam a filosofia utilitária de que o indivíduo deseja
maximizar a satisfação de suas preferências, em um número significativo de
cálculos.
b) Os teóricos da escolha racional tendem a considerar a vida política como uma série
de dilemas de ação coletiva. Com isso querem dizer que os indivíduos agem de
modo a satisfazer seus próprios desejos, porém ao custo de um resultado melhor
para a coletividade. Isso significa que, na ausência de uma instituição firme, os
indivíduos deixam em segundo plano o coletivo.
c) Os teóricos enfatizam o papel da interação estratégica na determinação de
situações políticas. O comportamento do indivíduo então, não seria regulado por
forças históricas impessoais, e sim por um cálculo estratégico. O indivíduo é
influenciado pelas expectativas dele sobre o comportamento provável dos outros.
As instituições que possibilitam a alteração dessa influência, aumentando ou
reduzindo a incerteza que o indivíduo possui.
d) Os institucionalistas da escolha racional explicam a origem das instituições da
mesma forma. Para eles, a instituição é formada para que os atores ganhem da
situação. Isto é, o acordo voluntário entre as partes é melhor do que cada um por
si, tal como é nas formações de empresas, que minimizam os custos de transação,
produção e influência. Da mesma forma estão os regulamentos do Congresso
norte-americano e as disposições adotadas na Inglaterra em 1688, todas existem
em razão da vantagem que podem proporcionar. Nesse espaço, se discute também
se as instituições estão realmente cumprindo o objetivo pelas quais elas existem
em primeiro lugar.
A escolha racional, apesar de receber importantes e consistentes críticas, como o fato
de que nenhum indivíduo de facto a informação completa e integral pela qual sua ação irá se
basear, ainda se situa como a melhor explicação para o fenômeno da ação humana, já que o
indivíduo ainda decidirá tentando satisfazer suas preferências não-contraditórias e transitivas.

4
4. CORRUPÇÃO
Não há consenso do que é corrupção na tradição do pensamento ocidental, não sendo
possível falar em uma teoria da corrupção, mas em abordagens que partem de conceitos e
categorias. Fazer uma teoria política requer conceitos capazes de analisar uma determinada
realidade empírica, projetando-se para um horizonte contextual. Assim, pensar uma teoria
política da corrupção significa não pensar somente em seus conceitos, mas também no
horizonte normativo que cada teoria busca expressar, perante os problemas práticos que ela
procura explicar e resolver. Assim, de forma geral, o ato corruptor depende do contexto, das
normas e das instituições particulares a cada sociedade.
A Teoria da Escolha Racional é gestada nos Estados Unidos, e se intensifica a partir
da década de 1990. A racionalidade teleológica é a premissa da Teoria da Escolha Racional,
que tem como fundamento a capacidade dos agentes racionais em maximizar os meios que se
mostram mais eficazes, para satisfazer seus interesses pessoais, o que se mostra fundamental
para abordagem da corrupção. Tal teoria foi inicialmente utilizada pela ciência econômica,
com o objetivo de explicar a conduta dos atores no mercado, sendo a racionalidade teleológica
pensada a partir dos termos da filosofia utilitarista, a qual afirma que os homens procuram
maximizar o prazer, e diminuir a dor. Portanto, os indivíduos são interessados em reduzir
custos e ampliar benefícios, favorecendo a si próprios, ou seja, a ação racional é guiada pelo
cálculo utilitário.
Sendo o mercado, a esfera na qual os agentes maximizam seus lucros, assim como
buscam reduzir os custos, os recursos materiais são abordados pela perspectiva econômica,
como incentivos ou barreiras para as ações racionais, sendo determinantes para o
comportamento individual dos agentes.
A Teoria da Escolha Racional, na ciência política apresenta a problemática acerca da
improbabilidade de uma racionalidade perfeita, pois obviamente nem todos os indivíduos
possuem conhecimento adequado para reconhecer quais são os meios mais eficazes, para que
determinados anseios sejam realizados. No mercado a relação entre meios e fins, onde busca-
se uma otimização perfeita, o resultado mostra-se improvável, o que ocorre também nas
relações políticas, realizadas na esfera pública. Tal improbabilidade de efetivar de modo pleno
a racionalidade teleológica, foi considerada por Marx Weber, que considerava um mero tipo
ideal a ação racional referente aos fins.
Contudo, vale observar que nem sempre os fins, diferentemente dos meios podem ser
justificados racionalmente, pois podem advir simplesmente de desejos e paixões. Portanto,

5
podem não ser justificadas de modo racional, devido ao fato de uma escolha racional ser um
ato que está entre as melhores opções disponíveis, para um agente, visto suas crenças e
desejos. (FEREJOHN e PASQUINO, 2001,7).
De acordo com a Teoria da Escolha Racional, deve ser atribuído ao comportamento
racional um caráter individual e egoístico, pois o agente maximiza os meios que lhe parecem
mais benéficos, para que possam ser obtidos fins que atendam aos seus interesses pessoais,
assim como a prática dos agentes no mercado econômico. Assim, percebemos que o autor
racional não age visando o interesse público, o que faz com que sua ação não seja
necessariamente baseada na opinião pública, a não ser que haja a preocupação com poderes
coercitivos que tal opinião pode acarretar.
De acordo com Anthony Downs (1999), princípios microeconômicos são aplicados no
comportamento político, pois assim como há competição econômica entre grandes empresas,
que visam maximizar o lucro, ocorre uma competição política através da busca por
maximização dos votos, entre partidos políticos, para proporcionarem sucesso eleitoral,
podendo o partido e seus participantes possam se consolidar no poder político.
Essa lógica também se aplica aos eleitores, que escolhem o candidato de acordo com
seus interesses pessoais, ou seja, escolhem determinado candidato que se apresenta como
melhor alternativa para a maximização de seus interesses. Desse modo, a ação política é o
movimento que engloba políticos e eleitores, onde ambos buscam satisfazer seus próprios
interesses, através de uma equação de custo-benefício, fato que caracteriza as ações como
racionais. Assim, receberá mais votos o candidato que aprestar maior utilidade para os
eleitores, o que faz com que até mesmo haja mudanças nas aparentes ideologias que são
apresentadas pelos políticos, pois o enfoque é obter eleitores, então o que se busca é mostrar-
se a melhor opção, para que haja resultado nas urnas, então determinada ideológica de um
político pode se modificar após um fracasso eleitoral.
Anthony Downs reconhece os eleitores como atores racionais, porém não ignora que
há um déficit de informação entre eles, o que não é uma deficiência da racionalidade, mas sim
uma consequência da própria escolha racional do agente. O que ocorre aqui, é novamente uma
avaliação dos custos-benefícios, pois o eleitor acredita que não há relevância em adquirir
informações acerca dos candidatos políticos, pois possuem uma visão de que seu voto não
tem papel decisivo em uma eleição, o que o desestimula a busca por informações, que
embasariam suas escolhas nas eleições.

6
Portanto, para a Teoria da Escolha Racional, o comportamento dos atores mostra-se
como ponto principal para compreender o fenômeno da corrupção. Como dito, políticos e
eleitores tornam o interesse público motivo secundário, o que viabiliza a corrupção na
política. Quando um cidadão se presta a votar em um político, mesmo tendo consciência que o
candidato foi corrupto ao longo de seus mandatos anteriores, devido a interesses pessoais, a
busca por maximização de benefícios é evidenciada. O benefício buscado pelo eleitor pode
ser exclusivamente pessoal ou uma obra pública que o favoreça, por exemplo, mesmo que tal
obra seja superfaturada, o cidadão estará satisfeito, como em ter obras de pavimentação na rua
de sua moradia.
Além da predominância da racionalidade instrumental os problemas da ação coletiva
possuem outros obstáculos que envolvem custo da organização, exigindo tempo, dinheiro,
propaganda e lobby. Olson afirma que a busca por subsídios ou proteção de preços por quem
produz favorece o surgimento de uma pressão em torno das autoridades políticas. Um
indivíduo que faça parte desse grupo de mobilização coletiva terá custos como sua dedicação
à causa.
Olson, portanto, ressalta que a escolha por não se engajar no movimento é racional. É
semelhante caso do contribuinte em que se não fosse a coerção do estado o indivíduo não
faria sua contribuição para o coletivo. Os mecanismos de ideologia, patriotismo,
pertencimento não garantem as contribuições voluntárias. A tese central de Olson é de que
grandes grupos dificilmente serão eficientes sem mecanismos de incentivos ou coerções, de
modo que o eleitorado, por exemplo, pode ser abarcado nesta perspectiva na medida em que é
um grupo muito grande e que fica inerte em relação aos problemas públicos como a
corrupção. Assim, é interessante notar que quando o cidadão se coloca diante de milhões de
seus pares dificilmente ele irá participar de uma ação coletiva em nome da licitude. Ademais,
quando do sucesso de uma ação pública que beneficiaria a todos, aqueles que não
participaram não poderiam ser excluídos dos benefícios pelo caráter público da ação em
pauta.
O cálculo racional individual enfraquece as ações coletivas, pois quando a maioria
pensa pela razão teleológica egoística, muito poucos são aqueles que participam. Tal fator
explica a dificuldade de mobilização da população frente à corrupção. Assim, a teoria da
escolha racional ilustra o comportamento em termos econômicos, ou seja, pela maximização
do custo/benefício perante os interesses individuais. Nessa perspectiva pode-se detalhar a

7
corrupção ao mostrar as instituições como espaços onde atores racionais através de práticas
políticas e econômicas por meios ilícitos.
Os autores da escolha racional se apoiam nas bases teóricas no neoinstitucionalismo
para evidenciar o impacto da racionalidade instrumental no funcionamento das instituições. O
neoinstitucionalismo da escolha racional apareceu por conta do estudo feito no congresso
norte-americano sobre a dificuldade de formação de maioria estável e as variantes
preferenciais dos legisladores, os quais ocasionariam em ciclos em que uma maioria revogaria
as decisões das aprovações da maioria anterior. Entretanto, não é isso que se constata, pelo
menos no congresso norte-americano. Conforme diz Rasmusen e Ramseyer (1994), há uma
dificuldade entre os legisladores em coordenarem uma ação coletiva entre eles, o que
possibilitaria um aumento dos subornos pagos pelos lobistas e quando há um número grande
de legisladores dispostos a receber suborno por aprovações, o preço destes tendem a cair.
O ato de legislador em receber suborno tem um custo e este custo é político, na
medida em que se tornam impopulares caso ocorra o vazamento do esquema ou pelo
posicionamento contrário ao interesse público. No entanto estes atos só ficam evidentes para
os eleitores bem informados. Ainda segundo os autores, há um dilema que é paradoxal no
comportamento dos legisladores na medida em que escolhem enriquecer ilicitamente ou
mantém sua popularidade frente a opinião pública. Assim, eles recebem suborno e satisfazem
os lobistas e, ao mesmo tempo, apoiam medidas que vão contra estes atos, bem como toda
forma de corrupção. Dessa maneira, os congressistas podem ser vistos como atores racionais
que maximizam o custos-benefícios dos seus comportamentos.
Susan Rose-Ackerman afirma que “a corrupção ocorre na interface dos setores público
e privado. Sempre que uma autoridade pública possui poder discricionário sobre a distribuição
de um benefício ou de um custo para o setor privado, criam-se incentivos para que haja
suborno”. A autora ressalta o aparato estatal como fonte da corrupção, logo, a organização
institucional do estado deve ser o foco da análise sobre corrupção, pois tanto as
oportunidades, quanto os obstáculos estarão associados a tal organização. Desse modo, para
que a corrupção ocorra, deverá haver algumas pré-condições, tais como: a existência de
pessoas físicas ou de empresas dispostas a pagar suborno; os riscos da corrupção devem ser
menores que os benefícios; e falta de rigidez legal. De acordo com a autora, o papel do estado
é amplo, pois, esse pode tanto facilitar, como dificultar a corrupção, afinal “o governo compra
e vende bens e serviços, distribui subsídios, organiza a privatização de empresas estatais e faz
concessões. As autoridades frequentemente, detém um monopólio de informações valiosas.

8
Todas essas atividades criam incentivos para a corrupção.” (ROSE-ACKERMAM, 2002,64).
Já Bardhan (2006,341) afirma que pode existir dois tipos de corrupção, a corrupção
burocrática e a corrupção política. A primeira se refere aos atos de funcionários públicos de
baixo escalão, o qual acontece de maneira dispersa, sendo o suborno destinado ao bolso
destes. A corrupção política é praticada pelos políticos, geralmente atores com um alto poder
de decisão, sendo, portanto, de um grau mais elevado na medida em que o governo pode
direcionar os recursos e aparatos do estado para fins de corrompimento. Perante o fato de o
Estado ser um grande celeiro de corrupção, alguns autores do neoinstitucionalismo defendem
reformas institucionais. Esta pauta esteve presente me muitos países entre os anos 80 e 90
durante as reformas neoliberais que incentivou privatizações e uma diminuição do tamanho
do Estado. Alguns autores defendem que a privatização das empresas estatais pode ser uma
alternativa. Entretanto, asseveram que a privatização não consegue por si só garantir o fim da
corrupção, uma vez que nesses processos pode haver compra de influência ou de informações
privilegiadas.
Rose-Ackerman destaca as consequências da corrupção: a ineficiência de licitações e
privatizações, os atrasos burocráticos, as desigualdades geradas a favor de vencedores de
contratos, o suborno concedido às autoridades públicas, danos à legitimidade política e
crescimento desacelerado. A autora propõe duas soluções para esse quadro, as quais são a
diminuição dos benefícios que ficam sobre o controle das autoridades e a ampliação dos
custos do ilícito. Assim, se aumentaria a possibilidade de detecção e castigos para aqueles que
cometem atos de suborno. Ela ainda elenca outras possibilidades como: a existência de um
judiciário independente e idôneo, a existência de leis que favoreçam delatores, a rotatividade
interna dos funcionários, para evitar que criem relações pessoais de confiança, a liberdade de
imprensa, o estimulo a atuação de ONGs na produção de pesquisas de opinião sobre o tema, e
a reforma eleitoral que faça o financiamento das campanhas não ser um estimulo à corrupção.
Ademais é convenção entre os autores que a corrupção se dá tanto no âmbito público quanto
no privado, acontecendo quando os agentes verificam as falhas institucionais que diminui os
riscos para as atitudes corruptas. Portanto, guiados pela racionalidade utilitária de
maximização de benefícios pessoais, os atores tendem a praticar atos corruptos, fato que deve
ser combatido por reformas institucionais com uma maior participação da sociedade.

9
5. AS FORMAS DE COMBATE À CORRUPÇÃO
A corrupção já foi demonstrada pela teoria do institucionalismo e da escolha racional,
porém o seu caráter problemático permanece, há, em contrapartida, teorias que através das
instituições e racionalidade entregam alternativas de combate. Conforme os autores Leonardo
Avritzer e Fernando Filgueiras, no seu livro “Corrupção e controles democráticos no Brasil”,
há três formas de combater a corrupção, as três são: controle administrativo-burocrático,
controle judicial e controle público não estatal. O controle administrativo-burocrático parte do
aumento do número de regras e imposições por parte do Estado, fortalecendo a máquina da
burocracia de forma que os seus agentes cumpram seus deveres de acordo com procedimentos
pré-determinados, isto causaria uma maior impessoalidade e neutralidade em suas ações, não
agiriam, assim, com tanta passionalidade e buscando o lucro próprio. O controle judicial da
corrupção parte de um sistema judiciário neutro e apolítico, o qual, por estar longe da política,
pode julgar entre leis e corrigir erros dos outros poderes, a corrupção é julgada, então, em
duas frentes, civil e penal. No âmbito civil há uma publicização do erro, que é tratado como
problema administrativo do Estado, sobre o qual é imposto a responsabilidade de corrigir a
conduta de seus agentes públicos. No quesito penal a corrupção é individualizada, o sujeito
responde criminalmente de forma pessoal e a ação é desestimulada em terceiros. O último
controle de corrução é o “público não estatal”, este é o mais simples, porém o de mais custosa
aplicação, isso se deve ao fato de consistir na pura “atenção pública”, os seus efeitos são
baseados na necessidade de agentes públicos elegíveis necessitarem de aprovação traduzida
em votos, a representatividade exige que os agentes do poder legislativo e executivo
realmente correspondam as expectativas e anseios dos eleitores em uma democracia onde os
eleitores são observadores ativos das atividades dos parlamentares, isto os inibe a praticar
ilícitos, da mesma forma esta vigilância pública e ameaça de previne corrupções em todas as
esferas da máquina estatal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AVRITZER, Leonardo. Corrupção: ensaios e críticas. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2008. p. 353-362.

AVRITZER, Leonardo. Corrupção e controles democráticos no Brasil. Brasília: CEPAL,


Escritório no Brasil/IPEA, 2011. (Textos para Discussão CEPAL-IPEA, 32). 40p.

BARDHAN, Pranab. The economist’s approach to the problem of corruption. In: World
development, vol 34, n°2, 2006.

10
CARDOSO, Mirian L. Teoria da modernização e expansão capitalista. XII Congresso da
SBS. Belo horizonte, 2005.

FEREJOHN, John. & PASQUINO, Pasquale. A teoria da escolha racional na ciência


política: conceito de racionalidade na ciência política. Revista Brasileira de Ciências
Sociais, vol.16, n°.45. fevereiro. 2001. p.5-24.

HALL, Peter A. & TAYLOR, Rosemary C. R. As três versões do Neo-Institucionalismo.


Lua Nova [online]. 2003, n.58, pp.193-223. ISSN 0102-6445.

MAURO, Carlos Eduardo Evangelisti. Uma análise da corrupção pública a partir da


racionalidade e da ação. Revista de Economia e Relações Internacionais, São Paulo: FEC-
FAAP, 1 (2), 75-83, 2003.

IMMERGUT, Ellen. O Núcleo Teórico do Novo Institucionalismo. 1998, In: SARAVIA,


Enrique; FERRAREZI, Elisabete. Políticas Públicas – Coletânea Volume 1. 2007

ROSE-ACKERMAN, Susan. A economia política da corrupção. In: ELLIOT, Kinberly Ann


(Org.). A corrupção e a economia global. Brasília: Ed. da UnB, 2002.

11

Você também pode gostar