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RESUMO
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Dois trabalhos pioneiros e marcantes neste período inicial de discussão foram COUTINHO (1980) e
WEFFORT (1984).
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urbanização foi marcado pela ação de agentes loteadores privados, submetidos a pouco ou
nenhum controle público, que buscavam fundamentalmente a produção de lotes de baixo
custo, acessíveis aos segmentos pobres atraídos para a RMPA. Dentro desta lógica de
produção de lotes a baixo custo, os loteadores buscavam o barateamento dos lotes através
da não instalação de infra-estrutura básica nos loteamentos, muitos dos quais irregulares,
constituindo assim bairros totalmente desprovidos de bens e serviços públicos.
De outro lado, além da precariedade urbana, outra característica contida na
definição destes municípios como “cidades-dormitório” é a fragilidade de suas estruturas
econômicas. Excluídos do eixo mais dinâmico da região, concentrador das atividades
industriais, os municípios de Alvorada e, até meados dos anos 70, Gravataí, terão suas
economias organizadas fundamentalmente em torno de atividades comerciais e de serviços
para o atendimento das necessidades de populações formadas, na sua grande maioria, por
segmentos de baixa renda e que necessitavam buscar oportunidades de trabalho nos
municípios vizinhos. Além disto, Gravataí também apresenta algum volume de produção
primária, que no entanto não possui capacidade de dinamizar a vida econômica do
município.
Na trajetória do município de Gravataí, no entanto, observa-se uma alteração
significativa desta realidade econômica que deve ser destacada. A partir da década de 70,
Gravataí é palco de um processo de industrialização que altera radicalmente a sua estrutura
sócio-econômica, transformando-se de “cidade-dormitório” em um dos pólos mais
dinâmicos de atividade industrial no Estado do Rio Grande do Sul (processo que se
consolida com a instalação do complexo automotivo da General Motors na cidade, no final
dos anos 90). Inicialmente, esta alteração está relacionada, pelo menos, a três fatores: a
saturação do eixo constituído em torno da BR-116; a abertura da BR-290, estrada que passa
por Gravataí e liga Porto Alegre à BR-101 e, assim, ao centro do país; uma política
governamental de estímulo à industrialização através da constituição de distritos industriais.
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O atestado de funcionamento é um documento indispensável, por exemplo, para as entidades terem acesso a
recursos de fundos municipais como o de Assistência Social e da Criança e Adolescente ou ainda para
estabelecerem convênios com órgãos e instituições públicas.
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Também estão inscritos no CMDCA de Gravataí 9 órgãos governamentais, mas que não foram
contabilizados pois não são entidades da sociedade civil.
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A Prefeitura de Alvorada não possui mais um cadastro único de entidades, tendo descentralizado o processo
de credenciamento que é feito em órgãos específicos, de acordo com as particularidades de cada entidade.
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O cadastro consultado apresentava 1.993 registros.
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Esta proporção foi estabelecida tomando-se o cadastro no qual estava inscrito o maior número de entidades
em cada município e dividindo-se pela população estimada para 1996, segundo a Base de Informações
Municipais: Alvorada, 162.005 habitantes; Gravataí, 206.023 habitantes; Porto Alegre, 1.288.879 habitantes.
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Esta proporção foi estabelecida tomando-se o cadastro no qual estava inscrito o maior número de
Associações de Moradores em cada município. No caso de Porto Alegre, foi feito um cálculo estimando-se, a
partir dos cadastros da Prefeitura Municipal, a existência de 540 Associações de Moradores.
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Não é objetivo deste trabalho enfocar as origens desta tradição associativa. Análises referentes aos processos
de organização dos setores populares em Porto Alegre podem ser encontradas em ABERS (1998), BAIERLE
(1992), SILVA (2001).
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É preciso ter presente que esta estimativa é algo subjetivo, se diferenciando, por
exemplo, da avaliação feita por outro entrevistado, que coloca: Hoje nós estamos com umas
30 [associações de moradores]. Temos 46, mas das 46 tem umas 20 ativas mesmo.
[Integrante da Prefeitura] 9
Por fim, os problemas destas informações cadastrais não se restringem a uma
questão quantitativa, mas também são insuficientes para uma apreensão mais qualitativa
destes tecidos associativos. Mesmo que o número de entidades seja um indicador
importante na caracterização do associativismo local, tal caracterização torna-se bastante
empobrecida (e, às vezes, falsificadora) se não levar em conta a “qualidade” deste
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Na verdade, parece que a informação mais correta se encontra entre estas duas previsões. Em pesquisa junto
às Associações de Moradores de Alvorada, no ano de 2001, foram localizadas e entrevistadas 30 entidades
que realmente apresentavam alguma vida associativa. Por outro lado, mais de uma dezena de entidades
formalmente registradas estavam, na verdade, desativadas.
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associativismo. Para uma caracterização mais qualitativa torna-se necessário, então, uma
pequena recuperação da trajetória associativa municipal, na qual se geraram aquelas
características que hoje podem ser apreendidas através de uma análise mais aprofundada.
Nesta caracterização será enfatizada a trajetória das associações de moradores, que, de um
lado, tende a ser o principal formato associativo dos setores populares nos municípios
analisados e, de outro, são aquelas entidades que têm estabelecido uma relação mais estreita
com o OP (proximidade esta que está longe de significar adesão, conforme se verá ao longo
da análise).
O primeiro aspecto a ser destacado nesta caracterização do associativismo
existente nos três municípios refere-se ao período de constituição das organizações. Os
dados obtidos através de questionário aplicado pelo autor ao universo de Associações de
Moradores em atividade nos municípios de Alvorada e Gravataí (sendo, em ambos os
casos, identificadas 30 entidades às quais foram aplicados questionários), trazem as
seguintes informações: em Alvorada, 16,7% das associações foram criadas até 1978, 36,7%
constituíram-se entre 1979-1988 e 33,4% a partir de 1989; em Gravataí, apenas 6,6%
surgiram até 1978, 63,3 foram criadas entre 1979-1988 e 23,3% foram constituídas a partir
de 1989.
Para Porto Alegre, possuímos duas fontes de informações sobre o período de
surgimento de organizações sociais. Em primeiro lugar, os dados coletados pelo autor junto
a 118 entidades de Porto Alegre10 para a pesquisa de AVRITZER (2000), trazem as
seguintes informações: 29,7% das entidades haviam sido criadas até 1979, 42,4% foram
criadas no período de 1980-1989 e 28% surgiram a partir de 1990. Por outro lado, dados
parciais de um survey que está sendo desenvolvido, juntamente com Gianpaolo Baiocchi,
com as Associações de Moradores de Porto Alegre nos informam que: 20,5% das 98
associações entrevistadas até o momento haviam sido criadas até 1978, 42,9% foram
criadas entre 1979-1988 e 33,7 foram constituídas a partir de 1989.
Comparando-se as informações acima, percebe-se uma certa semelhança em
termos de dinâmica associativa, mas uma diferença em termos dos valores em cada um dos
três momentos. Assim, por um lado, observa-se que, em todos os três casos, o momento de
maior intensidade no surgimento de organizações sociais localiza-se na década de 1980, na
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Entre estas 118 entidades, 74,6% eram associações de moradores/comunitárias.
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Qualquer observador da realidade das associações de moradores de Porto Alegre poderia identificar
exemplos deste processo também neste caso. O autor concorda com este argumento, mas busca destacar que a
especificidade do caso de Porto Alegre é que, ao lado (e, muitas vezes, contra) esta tradição clientelista,
formou-se um segmento combativo significativo, que foi/é responsável por algumas particularidades do
associativismo local (e, no caso deste estudo, por diferenças na forma de relação entre associações e
participação social no OP que serão discutidas a seguir).
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Para uma análise detalhada e aprofundada deste processo, envolvendo também o município de Viamão, ver
SILVA (2001)
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7,00%
6,00%
5,00%
4,00%
Alvorada
Gravataí
3,00%
Porto Alegre
2,00%
1,00%
0,00%
1997 1998 1999 2000
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Esta proporção em relação à população municipal é, de fato, equivocada, pois o total de participações nas
duas rodadas de Plenárias do OP oculta o fato de que muitos dos participantes da primeira rodada também
estão presentes na segunda rodada, levando a uma dupla contagem. Neste sentido fala-se em participações e
não em participantes, pois o mesmo participante pode ter mais de uma participação. Em vista disso, a
referência à proporção da população municipal tem unicamente o objetivo de dimensionar o volume de
participação em relação ao tamanho da população municipal, não devendo ser tomada como uma
proporcionalidade real, equívoco que se observa em alguns participantes do processo e, mesmo, analistas.
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demanda, etc), que compõem um quadro complexo a ser levado em conta na escolha de
quem deve e quem não deve ser alvo do trabalho de mobilização para participação no OP
em cada momento.
Por fim, ao mesmo tempo que esta mediação (ou, mesmo, “filtragem”)
desenvolvida pelas entidades tende a limitar o número de participantes no OP, de outro
lado, os dados demonstram uma participação estável e continuada ao longo do tempo. Isto
se deve ao fato de que o núcleo de ativistas ligados às organizações, que atua neste
processo movido por orientações político-ideológicas e não apenas por demandas
pragmáticas e pontuais, tende a manter sua participação durante um período de tempo
relativamente longo (muitos deles, por mais de uma década), paralelamente a uma
constante renovação daqueles que se aproximam e se afastam do processo de acordo com o
êxito ou fracasso na obtenção de suas reivindicações mais imediatas. Isto faz com que haja
uma relativa permanência, que confere estabilidade ao processo, ao mesmo tempo que uma
dinâmica de entrada e saída de novas pessoas, algumas das quais acabam se constituindo
como lideranças, inserindo-se nas organizações e envolvendo-se no trabalho de
mobilização dos participantes mais eventuais.
Quando se compara esta dinâmica com aquela observada em Alvorada e
Gravataí, percebem-se profundas diferenças. A fragilidade associativa, somada à
generalizada subordinação das entidades às relações clientelistas com agentes políticos
partidários, tornou as associações de moradores destes municípios não apenas
despreparadas para assumirem um papel protagonista na construção da participação social
no OP destes municípios, mas, paradoxalmente, em muitos casos, as constituiu como um
obstáculo a esta participação, na medida em que tais entidades colocaram-se em oposição
direta ao OP (seja por identificá-lo como um “instrumento” do PT, seja por identificá-lo
como um mecanismo de esvaziamento do poder das entidades, que não teriam mais o
“privilégio” de fazerem a intermediação clientelista entre as demandas sociais e os agentes
políticos e governamentais).
Neste sentido, aquele papel de mediação identificado em Porto Alegre está
praticamente ausente nos outros dois casos. Na verdade, nestes casos há uma tendência ao
contato direto entre a população, em grande medida individualizada, e os agentes
governamentais, que assumem a quase totalidade daquelas “tarefas” de construção da
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participação que, em Porto Alegre, são desenvolvidas pelas organizações sociais. Em visto
disso, a dinâmica participativa em Alvorada e Gravataí tende a girar, fundamentalmente,
em torno de uma mobilização baseada na busca da satisfação de demandas imediatas (que o
próprio governo municipal estimula, na medida em que um alto volume de participação é
identificado com o “sucesso” do OP). Tal característica pragmática desta participação tende
a ser um fator de significativa instabilidade nestas experiências de OP, uma vez que elas
são dependentes, quase que totalmente, de sua capacidade de gerar respostas em termos do
atendimento das obras e serviços públicos demandados. Particularmente no caso de
Alvorada, um município bastante pobre em termos de recursos para realização de
investimentos públicos, tal fator tem afetado de forma significativa a credibilidade na
participação no OP em anos mais recentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS