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1ª QUESTÃO:

Quais são, hoje, os principais desafios que estão colocados para a gestão democrática e
para a realização do planejamento

Para compreendermos os principais desafios colocados para gestão democrática e para


realização do planejamento hoje em dia, somos obrigados retroceder um pouco mais de duas
décadas na história da sociedade brasileira, especificamente na promulgação da constituição
federal de 1988 foi um grande salto para construção de um país mais democrático.

Se na Europa o neoliberalismo foi o principal instrumento utilizado para se contrapor ao


“Welfare State” – Também conhecido como Estado de bem-estar social foi um pacto pós-
guerra feito entre burguesia e proletariado, proporcionando a ampliação dos direitos
trabalhistas e melhora significativa na qualidade de vida dos trabalhadores –, no Brasil ele se
contrapôs a Constituição Federal de 1988, que apesar de estar águem do “estado de bem-estar
social” dos países centrais, também proporcionaria uma melhora na qualidade de vida da
população. O neoliberalismo tem como característica a minimização do Estado no que se
refere ao gasto com o social, privatizações e terceirizações, ou seja, um processo de
transferência para o setor privado o que antes era do Estado.

As reformas preconizadas pela Constituição de 1988 fomentaram a construção de uma


gestão democrática, no entanto, a contrarreforma adotada pelo Estado neoliberal criou
entraves para sua efetivação. “No campo da gestão, alterou-se o desenho institucional a partir
dos pressupostos da gerencia e da reengenharia, conforme premissas do projeto de reforma de
Bresser Pereira, bases da nova racionalidade político-administrativa” (SIMIONATTO e
LUZA, 2011, p. 218). O Estado passa a seguir uma cartilha onde desconsidera a opinião e a
demanda de seu povo. Como já foi mencionado, o que era público, ou seja, de todos, passa a
pertencer ao privado ou a ser gerido pelo terceiro setor – ONGs, OSs, OSCIPs etc –,
transformando o que era direito em serviços ou práticas de filantropia e caridade, dificultando
o controle da população e impedindo a padronização dos serviços prestados.

O Estado deixa de prestar os serviços e começa a atuar somente como gerente,


administrando de forma política e financeira e induzindo o desenvolvimento econômico e a
organização de uma “sociedade civil ativa”.
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A gestão das políticas sociais assume uma perspectiva fragmentada, haja vista que a
execução não é originária do mesmo lugar em que estas são pensadas, existindo uma
instância do planejamento das ações e outra de execução dos serviços, autônoma,
quase que isenta da interferência do Estado, retratando a fragmentação existente
neste processo (SIMIONATTO e LUZA, 2011, p. 224).

A desconstrução do neoliberalismo, que atua na minimização do Estado, está


diretamente ligada à construção de uma gestão democrática e de um efetivo planejamento do
Serviço Social, já que “a esfera pública é concebida como inerente à democracia, cujo
principio organizativo está jungido à liberdade de expressão, contendo dimensões políticas e
culturais, espaço aberto no qual se exprimem todos aqueles que se autorizam a falar
publicamente” (RAICHELIS e WANDERLEY, 2004, p. 9).
Não obstante, conforme podemos ver na citação abaixo, os autores mostram que esse
modelo de gestão (neoliberal) não é o único entrave para uma gestão democrática.

A gestão pública estratégica é afetada por processos históricos e estruturais, tais


como: a modernização conservadora, a recorrência de surtos autoritários, o
clientelismo, a corrupção institucionalizada, um Estado precocemente atrofiado e
multifacetado cujas ligações com interesses societais foram permeadas basicamente
por duas orientações – uma racional-legal e outra patrimonialista –, e uma máquina
administrativa desigual e desequilibrada que se caracteriza pelas tensões
dissociações entre a administração direta e a indireta.
Uma das características básicas do Estado brasileiro é a ausência de um efetivo
controle social da tecnocracia toda-poderosa e auto-suficiente que distancia, quando
não ignora, a dinâmica política (RAICHELIS e WANDERLEY, 2004, p. 19).

Os autores ainda apontam alguns desafios que podem surgir na busca de caminhos para
construção e consolidação da esfera pública no Brasil, como a democratização simultânea da
sociedade civil e do Estado, o equacionamento da questão social, entendida como a superação
das desigualdades e injustiças e o fortalecimento de espaços ampliados de participação social,
como os conselhos e os fóruns.
A realização de um planejamento dependerá das ferramentas, do orçamento, da
correlação de forças presentes no campo de atuação do profissional. Todo esse processo
narrado até aqui deverá se analisado pelo profissional antes de planejar qualquer ação, pois só
assim compreenderá os limites e as possibilidades de sua ação.
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REFERÊNCIAS

RAICHELIS, Raquel; WANDERLEY, Luiz Eduardo W. Desafios de uma gestão pública


democrática na integração regional. In: Serviço Social e Sociedade, n° 78. São Paulo: Cortez,
2004.

SIMIONATTO, Ivete; LUZA, Edinaura. Estado e sociedade civil em tempos de


contrarreforma: lógica perversa para as políticas sociais. In: Revista Textos e Contextos,
v.10. Porto Alegre: dez/2011.

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