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Questão 1

“Este procedimento não deixará espaço para a discussão do capitalismo periférico como
uma transição entre o tradicionalismo e o capitalismo moderno; dirigirá, ao contrário, o
foco da análise para a combinação distinta e durável de elementos que caracterizam
uma sociedade específica em comparação com outras” (NUNES, 1996: 25).
Edson Nunes, em seu livro “A gramática política do Brasil”, aponta sobre a combinação
de diferentes “gramáticas” ou “padrões institucionais de relação” Estado e sociedade no
Brasil. Apresente, de forma sucinta, como as quatro gramáticas apontadas pelo autor
evoluíram no período que vai de 1930 até a constituição de 88.

As quatro gramáticas apresentadas pelo autor: clientelismo, corporativismo,


insulamento burocrático e universalismo de procedimentos. O autor entende os fatores
históricos pungentes para a formação da gramática política do Brasil, destacando como o
corporativismo, o insulamento burocrático e o universalismo de procedimentos não
substituem, e sim, incorporam-se ao clientelismo pré-existente.
O clientelismo, forma de relação social e política dominante até o fim da república
oligárquica e característico de países em subdesenvolvimento; o corporativismo foi
apresentado com a institucionalização da mediação de interesses entre trabalhadores e
empresários através da criação de sindicatos submetidos a regulamentação estatal; o
insulamento burocrático e a criação de instituições e agências que, ao possuírem finalidades
técnicas, tentaram se desviar das relações clientelistas tradicionais em disputa no Congresso e
o universalismo de procedimentos a partir da instalação de um sistema impessoal de mérito.
Esses dois últimos surgiram como resposta alternativa ao clientelismo no primeiro e segundo
governo de Getúlio Vargas e para os governos de Juscelino Kubitschek e com o papel dos pós
69, na ditadura militar, para o desenvolvimento da infraestrutura brasileira.

Questão 2
“Os Estados modernos contam com três setores: o setor das atividades exclusivas de
Estado, dentro do qual estão o núcleo estratégico e as agências executivas ou
reguladoras; os serviços sociais e científicos, que não são exclusivos, mas que, dadas as
externalidades que possuem e os direitos humanos que garantem, exigem forte
financiamento do Estado; e, finalmente, o setor de produção de bens e serviços para o
mercado” (PEREIRA, 2010:37).
Com base na citação acima de Bresser Pereira, discorra sobre as principais mudanças
institucionais produzidas pela reforma do Estado, liderada pelo autor no primeiro
mandato de FHC.

A reforma do Estado representou uma mudança institucional em relação ao modelo


burocrático de gestão pública, introduzindo o modelo gerencial, característico do setor
privado. Justificativas: rigidez e elevado custo do modelo burocrático contra a maior
eficiência e qualidade na gestão e prestação de serviços.
A reforma do Estado foi discutida nas esferas do governo, com a ajuda da grande
mídia, que colocou ser imprescindível as reformas constitucionais para garantir o processo de
estabilidade monetária, o controle do processo inflacionário. As áreas colocadas como
estratégicas para a reforma do Estado foram: a privatização de empresas estatais e a reforma
administrativa.
A reforma administrativa, via Emenda 19 aprovada em 1997: estágio probatório e
avaliação de desempenho no serviço público; definição de atividades exclusivas e não
exclusivas do Estado; a previsão de agências executivas (regulação de atividades competitivas
e execução de políticas públicas) e reguladoras (regulação de atividades não competitivas); e
criação do chamado “contrato de gestão”, responsável por regular as agências, bem como
prestadores privados de serviços sociais.

Questão 3
“Há controvérsias sobre se o sistema de políticas sociais brasileiro ou o sistema de
proteção, como outros preferem denominar, se configuraria como um Estado de
bem-estar” (MENICUCCI e GOMES, 2018: 61).
Conforme as aulas e o texto de Menicucci e Gomes, o Estado de bem-estar social no
Brasil possuiria um caráter híbrido, combinando o modelo “social-democrata,
corporativo e liberal”. Justifique esta afirmativa.

De acordo com as autoras, a partir do sistema brasileiro de proteção social pôde-se


verificar a relação entre os modelos de bem-estar social-democrata, corporativo e liberal no
Brasil. A princípio, com a reformulação do sistema previdenciário, marcado pela seletividade
e a fragmentação do atendimento, o estabelecimento da cidadania regulada, apresentou um
elevado grau de organização e estruturação de um conjunto de políticas que contribuíram para
a manutenção das desigualdades geradas no mercado de trabalho, fazendo com que o Estado
de bem-estar passasse a ser identificado como corporativista.
Posteriormente, durante o período da era Vargas, por ocorrer a ampliação da cobertura
previdenciária e estar inserido num momento de desenvolvimento do pensamento liberal, o
bem-estar social passou a ser utilizado em momentos que fossem considerados necessários
para a manutenção do equilíbrio social, sem que houvesse uma participação frequente do
estado que prejudicasse o desenvolvimento do sistema capitalista, caracterizando um modelo
liberal de bem-estar.
Por fim, tem-se que com o desenvolvimento das políticas sociais e da inserção da
democracia, houve a institucionalização de políticas sociais e o desenvolvimento dos modelos
de bem-estar com características corporativistas e liberais, passando a relacioná-los ao
modelo de bem-estar social-democrata, que é caracterizado pela centralização política e
financeira no nível federal, a fragmentação institucional, o autofinanciamento do investimento
social, e a política social (saúde e educação) como pré-requisito dos cidadãos e para o
desenvolvimento econômico.

Questão 4
“Para dar materialidade à política de Saúde, a Constituição instituiu o Sistema Único de
Saúde, definido em Lei no 8.080, de 1990, como ‘o conjunto de ações e serviços públicos
de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais,
da Administração Direta e Indireta e das Fundações mantidas pelo Poder Público’”
(MENICUCCI e GOMES, 2018: 106).
A criação do SUS se enquadra no eixo dos “direitos incondicionais (ou universais) de
cidadania” do Sistema Brasileiro de Proteção Social. Discuta os maiores desafios que
atravessam a implantação das políticas de caráter universalista no Brasil, notadamente
na saúde, educação fundamental e assistência social.

Conforme expresso pela CF, a seguridade social pode ser compreendida como um
conjunto integrado de ações destinadas a assegurar os direitos à saúde, à educação e à
assistência social.
Sobre a implantação do SUS, tem-se que houve uma falta de fontes estáveis para o seu
financiamento, o que resultou em atrasos nos repasses da União para estados e municípios,
retenção de recursos e congestionamento do orçamento. O problema foi resolvido com uma
EC que buscava a vinculação de recursos mínimos para o financiamento do SUS.
Já sobre a assistência social, verifica-se controvérsias quanto à natureza normativa do
BCP (benefício de prestação continuada), por poder ser considerado um desestímulo à
contribuição previdenciárias pelos trabalhadores mais jovens e menos qualificados, entretanto,
foi comprovado com dados que as taxas de desfiliamento não foram impactadas pelo BPC.
Ademais, quanto à educação fundamental, apesar de haver uma expansão do acesso
à educação, nota-se que não foi possível atender suficientemente às demandas de ofertas de
vagas da sociedade.
Assim, é perceptível que nos três casos, ainda que houvesse uma mobilização para o
desenvolvimento das áreas que garantem direitos universais, ao passo que os serviços
públicos buscavam atender parte da população em situação precária, os setores de média e alta
renda se deslocavam para setores privados, criando um círculo vicioso em que os serviços
públicos são serviços de baixa qualidade apenas para pessoas pobres e afastando setores de
maior renda.

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