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RESUMO
Este trabalho propôs discutir o papel das ONGs - Organizações Não Governamentais, sua
eminência e importância em comunidades carentes, que realizam políticas públicas em prol da
sociedade civil, e substituem por assim dizer o poder estatal. Sua relação com o governo e as
empresas, seu raio de atuação e o papel que ocupam na economia e na sociedade enfrentam
pesadas críticas, isso sem mencionar a questão de apropriação indevida das relações
institucionais e dos recursos. O estudo buscou esclarecer se esse chamado terceiro setor, que
muitas vezes assume as funções que o Estado deixou de realizar, tem razão de existir,
principalmente em comunidades de baixa renda. Em síntese, esta pesquisa qualitativa
contribui para uma reflexão sobre o caso, em que os problemas, em sua maioria, têm raízes na
desigualdade social, na pobreza, no desemprego, enfim, em conflitos sociais.
Palavras Chave: ONGs; Terceiro Setor; Organizações Não Governamentais; Sociedade Civil;
Comunidades Carentes.
ABSTRACT
Key Words: ONGs; Third sector; Non-Governmental Organizations; Civil Society; Needy
Communities.
1
apodetepereira@gmail.com.
2
marcos.w.mayer@gmail.com.
3
rubensfernandesramos@gmail.com.
2
1. INTRODUÇÃO
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Histórico
A fim de trazer luz para o perfil das ONGs brasileiras é importante descrever acerca da
evolução histórica dessas entidades e da própria construção do terceiro setor frente à realidade
nacional.
A partir da Constituição de 1988, no Brasil, foram postas em práticas muitas propostas
a fim de reformar o Estado para um novo modelo de desenvolvimento a ser construído.
Nogueira (1998) ressalta que a questão da estabilidade econômica, do equilíbrio
macroeconômico, no final dos anos 80 e início dos 90, subordinou, não só no Brasil, mas em
toda a América Latina, o tema da reforma do Estado.
Revisar as ligações entre Estado/sociedade no processo de reforma do governo esteve
não muito presente em algumas mudanças e propostas no tema das políticas sociais. E a
constituição de 1988 foi o marco histórico dessa etapa. Ela trouxe novas ideias no que se
referiam aos modelos então vigentes de proteção social. Os avanços visavam o apuramento do
caráter igualitário das políticas sociais, bem como de maior dever no compromisso público na
sua condução e participação popular e também na sua administração e controle.
Segundo Draibe (1990, p. 35), essas mudanças na política social brasileira abriram
perspectivas para novos contextos institucionais, novos modos de atuação de parte dos
programas sociais. Ela identifica-os em três padrões: a) o político-institucional – o
“localismo” como espaço político e institucional para uma relação mais efetiva entre
demandado e demandantes; b) o social – a elevação da participação popular nas políticas
públicas por meio de conselhos e outros mecanismos, como fator de reorganização do
controle social; e c) o das relações entre o Estado, o setor privado lucrativo e o setor privado
não lucrativo na produção e oferta de bens e serviços sociais, recriando a trama de interações
entre esses agentes.
Para Bielschowsky (1999), integrante do Plano Diretor da Reforma do Estado, o
Programa Nacional de Publicização, lançado no primeiro mandato de governo do então
presidente Fernando Henrique Cardoso, consistia na publicização de serviços não-exclusivos
de Estado, onde a atuação das Organizações Sociais era apresentada como nova forma de
prestação de serviços sociais para a população, com um maior foco nas mais carentes.
Essa chamada publicização, ou terceirização desses serviços, seria realizada por meio
de sua transferência para entidades qualificadas como Organizações Sociais (Lei no 9.637/98)
que se adentraria no marco legal vigente sob a forma de associações civis sem fins lucrativos,
de direito privado. A novidade envolvia a possibilidade para receber recursos públicos e
administrar bens e equipamentos do Estado além de flexibilidade administrativa. As
avaliações dos resultados seriam feita por meio de contrato de gestão e o controle social,
através dos conselhos de administração.
Segundo Oliveira (2000), a Comunidade Solidária, por sua vez, foi lançada em 1995
com a proposta de criar novos canais de participação e fomentar ações de combate à pobreza e
de promoção do desenvolvimento social.
O esboço teórico que explica a origem e o aumento dessas organizações, assim como
sua correta definição, ainda está sendo traçado. Essa observação decorre da própria
diversidade terminológica que a bibliografia técnica utiliza: entidades da sociedade civil,
terceiro setor, setor sem fins lucrativos, setor voluntário, setor independente, ONGs, setor
filantrópico, OSCIPs, etc.
Com a reestruturação do Estado, a comoção social gerou volumosa atividade
associativista, com novas entidades aparecendo e outras alterando seu padrão de atuação,
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além também de ficaram mais evidentes, ganharam destaque nas políticas públicas e na mídia
e tornaram-se mais focalizadas e atuantes.
Assim vieram outras formas de relação para o enfrentamento dos problemas
socioinstitucionais, na década de 90, e os hábitos organizacionais e gerenciais se alteraram.
Em muitas organizações, principalmente naquelas identificadas como ONGs, a improvisação
concedeu a uma estrutura mais organizada de trabalho, especialmente com a chamada figura
do “projeto”. Ganhou-se em profissionalização e institucionalização.
A diversidade de objetivos e natureza das organizações da sociedade civil criadas, sua
afinidade com o governo, o conceito de a idéia de filantropia empresarial e de voluntariado,
entre outras, são fundamentos importantes que auxiliam para a compreensão desse tema.
Segundo Hudson (1999, p. 11), o termo Terceiro Setor tem algo em comum com o
setor público já que suas atividades não geram lucros e procuram atuar em prol do bem
comum. Algo a mais em relação ao Estado é que o referido setor não está sujeito a controle
político direto e têm independência para determinar seu próprio futuro.
“Pobreza é fome, é falta de abrigo. Pobreza é estar doente e não poder ir ao médico.
Pobreza é não poder ir à escola e não saber ler. Pobreza é não ter emprego, é temer o
futuro, é viver um dia de cada vez. Pobreza é perder o seu filho para uma doença
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trazida pela água não tratada. Pobreza é falta de poder, falta de representação e
liberdade”.
2.3 ONGs
Seu surgimento se deu com o objetivo de eliminar ou diminuir às falhas admitidas pelo
Governo. Dentro disso, este segmento engloba entidades custeadas pelo capital privado, com
rumo dessas ao público de interesse de cada uma das organizações, como fundações, ONGs,
unidades assistenciais, associações civis e religiosas.
As ONGs brasileiras têm como principal função trabalhos coletivos organizados.
Nessa linha, o Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada – IPEA promoveu uma pesquisa
com 780 mil empresas privadas, onde constatou-se que 59% dessas tem recursos voltados a
comunidades carentes, como em educação, saúde, esporte, alimentação, e cidadania
(TACHIZAWA, 2004).
No entanto, a ligação ONG-Estado pode ser vista de diversas maneiras. Do lado
neoliberal, ela é tida como uma alternativa para a prestação de obrigações públicas sob a
responsabilidade do Estado. Para alguns esquerdistas tal parceria viria a ser uma estratégia de
terceirização por parte do Estado. Outro meio vê a cooperação como uma oportunidade da
ONG alargar sua área de atuação e, ao mesmo tempo, inspirar os processos de elaboração de
políticas públicas.
Como não possuem receitas específicas, as ONGs necessitam buscar alternativas para
manterem-se em atividade. Para isso, contam com o apoio financeiro de pessoas físicas, de
empresas privadas e até mesmo do governo, que fornece recursos e apoio para atividades em
que ambos possam unir forças.
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Em 2011 a atuação das ONGs ganhou destaque na mídia. Os motivos principais foram
denúncias de eventuais irregularidades nos repasses de quantias ministeriais para entidades
desse tipo, que despertaram mais uma vez o debate sobre a fragilidade da fronteira entre as
esferas pública, privada e estatal no Brasil.
Embora não se possa generalizar, parcerias e contratos entre o governo federal e tais
entidades estariam sendo manipulados como forma de desviar dinheiro público. Ministros
foram afastados, investigações estão em curso e o Executivo tomou providências drásticas.
As denúncias obtiveram atenção de diversos críticos pela ausência de controles e
fiscalização sobre o trabalho dessas instituições e pela expansão considerável nos últimos
anos do número de ONGs que recebem montantes significativos de verbas públicas.
Escândalos como esse contribuíram na construção de uma imagem negativa das
ONGs, gerando descontentamento e dúvida por parte da sociedade e prejudicando inúmeras
instituições de boa índole.
Reportagem da revista Época (2008), no Brasil, a maior parte dos recursos
movimentados pelas ONGs não vêm do Governo. De acordo com a pesquisa, apenas 17% da
arrecadação das ONGs estão vinculadas a convênios ou repasses do Estado. O restante, 69%
vem do resultado da venda de produtos e serviços e 17% são provenientes de doações do setor
privado.
ONGs de animais que dão abrigo a cães abandonados ou que sofreram maus-tratos,
vacinando, castrando e desvermifugando e encaminhando-os para adoção.
Ações de visita a hospitais que visam apoiar e trazer conforto a enfermos e doentes
terminais em clínicas e ambulatórios, com atendimento psicológico, confecção de perucas e
palestras de prevenção a câncer e demais doenças.
Causas nas quais são criados projetos auto-sustentáveis em comunidades de baixo
nível sócio econômico, promovendo programas de capacitação profissional e oficinas
comunitárias; provendo assistência médica, odontológica e educacional; instalando
infraestrutura que proporcione lazer às famílias; distribuindo cestas básicas, medicamentos,
artigos de higiene, roupas, calçados e brinquedos; dentre outras ações.
Atitudes visando à capacitação e encaminhamento ao mercado de trabalho de
adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Entidades que oferecem cursos de
comunicação com módulos de fotografia, design, comunicação escrita, marketing e mídias
sociais.
Organizações que trabalham pela defesa dos direitos de pessoas que vivem nas favelas
mais precárias, diminuindo sua vulnerabilidade por meio do engajamento comunitário e da
mobilização de jovens voluntários, resgatando a dignidade humana e a cidadania plena,
respeitando o meio ambiente.
ONGs que buscam a promoção da cidadania LGBT (lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais). Grupos que se mantém por meio de recursos captados para a execução
de projetos pontuais específicos e também através de doações de colaboradores com a causa
LGBT.
Enfim, são muitos os exemplos praticados por voluntários que fazem a diferença na
vida de diversas comunidades, pessoas essas que seriam literalmente esquecidas e
abandonadas pelo Estado e que viveriam na beira do caos, fragilizadas por falta de recursos e
desinteresse social e a mercê da própria sociedade.
No Brasil, desde cedo, tais indivíduos sofrem com a falta de direitos sociais básicos
como alimentação, profissionalização, habitação, escolarização, e do respeito às diferenças
raciais, sociais e de gênero. O fato é que vivenciamos um sistema estruturado, que ao oposto
de políticas rumo ao interesse do povo, de uma atuação direta modificadora, justa e
igualitária, oferecem políticas assistencialistas, que só fazem aumentar a pobreza e a
desigualdade social, permitido à perpetuação da desigualdade no contexto social.
Para SCHILLING, 2004,
Nessas sociedades em tempos de “globalização”, “mundialização”, ”sociedade pós-
industrial”, ”pósmodernidade”, ”modernidade radical”, não se supõe a existência de
uma igualdade de acesso a novos bens ou possibilidade ou às novas possibilidades.
De acordo com Romão (1982) a partir de uma breve análise, percebe-se que existem
vários elementos que promovem a dificuldade de acesso a serviços e infraestrutura básicas,
mas a ausência de renda mínima é um dos fatores desencadeadores da situação de exclusão e
o mais perverso deles. Daí deriva a condição de não cidadania por ausência de direitos sociais
básicos.
Segundo MEREGE (1997), alguns estudiosos afirmam que há hoje um consenso
internacional sobre o importante papel que o Terceiro Setor representa na construção de uma
sociedade menos conflituosa.
Essas entidades teriam a eficiência necessária para atuarem com eficácia, agilidade e
comprometimento, com objetivos que não a maximização do interesse individual.
Conforme CASTELLS (2001), o trabalho do setor de serviços sociais representa
atualmente entre 20 e 25 por cento do total de empregos dos países que compõem o chamado
"G7', com exceção do Japão.
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3. METODOLOGIA
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve por finalidade compreender o papel atribuído ao Terceiro Setor
nas políticas públicas brasileiras. Desse modo, procurou-se desvendar a importância da
participação dessas organizações na implementação de políticas sociais e qual a sua ligação
com o desenvolvimento da sociedade como um todo, utilizando-se do discurso da falência e
ineficiência do Estado no provimento de bens e serviços sociais, amplamente difundidos pela
mídia, pelo capital e pelos próprios governos.
O alcance do Estado não é o suficiente para todos, visto que o país possui uma alta
taxa de indivíduos carentes de serviços e também de atenções básicas e o ingresso a essas
comunidades não sempre são fáceis. O Governo, em seu papel fundamental, passa ausente em
muitas de suas áreas de atuação, e faz-se complementar as Organizações sem fins lucrativos,
as quais passam a serem únicas e protagonistas em determinadas situações.
De fato, é difícil crer que o governo brasileiro possa expandir sua atuação direta na
erradicação às graves adversidades sociais que precisam ser enfrentadas. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2016), com encargos tributários que consomem
quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB), utilizada para prover a atual máquina estatal seria
praticamente incabível que a estrutura disponível no setor público fosse alargada, o que teria,
certamente, que ser realizado às custas de novas elevações na arrecadação de impostos.
Segundo o Relatório Final da "CPI das ONGs" (2007), todos os especialistas ouvidos
pela Comissão foram unânimes em destacar a importância da parceria Estado-ONG. Todos,
sem exceção, reconheceram que as entidades sem fins lucrativos têm um importante papel na
formulação, execução e fiscalização de políticas públicas. Não como substituto do Estado,
mas como parceiro, em respeito, inclusive, aos preceitos e objetivos da ordem social inscritos
na Constituição brasileira, especialmente em comunidades carentes e indivíduos na miséria.
Componente do terceiro setor, as organizações não-governamentais (ONGs) surgem
como atores de suma importância para a sociedade na atualidade, tidas como capazes de
prover apoio a iniciativas locais de modo ágil e apropriado, quer através da provisão ou
acesso a estrutura e serviços básicos, seja através de aconselhamento, monitoramento e
incentivos a promoção e desenvolvimento animal, pessoal e ao meio ambiente.
O ofício das ONGs é desenvolver estrategicamente a questão social, mas acabam
substituindo funções que o Estado deveria provir, recebendo apoio graças a parcerias, numa
condição em que todos saem ganhando.
Tendo prática no auxílio das necessidades sociais das populações pobres, essas
entidades expandiram suas atividades, contribuindo para amenizar o fosso entre a busca por
serviços sociais e a sua oferta e para criar novos postos de trabalho.
As organizações do terceiro setor podem não só colaborar como são impulsionadoras
de determinados programas sociais. Elas são um posto de acolhimento e mobilização de
empresas e pessoas dispostas a doar recursos, serviços e materiais em prol de ações sociais.
Dessa forma, ocupam um espaço privilegiado de intermediar e canalizar esforços para realizar
projetos. Nisso pode estar seu maior mérito.
Além disso, os impactos de seus feitos precisam ser identificados e divulgados para
não haver diferentes interpretações de suas ações nas comunidades e desconfiança por parte
da população.
O Terceiro Setor possui uma especial tendência para colaborar significativamente na
geração de empregos por ser tipicamente de trabalho intensivo, destinando-se o grau de
atenção à pessoa humana requerido por suas atividades. Com uma educação básica e serviços
de saúde melhores há um aumento no potencial do indivíduo de auferir renda e de, assim,
livrar-se da pobreza medida pela renda.
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Sem as ONGs e entidades atuantes em diversas áreas, o país não iria para adiante. Se
atualmente a situação do país não é dos melhores no campo social e igualitário, sem as ações
das organizações não governamentais os problemas, sem dúvida, seriam imensos para o
Estado gerir. Sai governo e entra governo a situação não de modifica.
O fato é que as ONGs se tornam provedoras de bens coletivos, procurando suprir
necessidades da sociedade quando o estado se mostra incompetente para fazê-lo.
Acredita-se, então, na grande contribuição das entidades não governamentais para a
formação de uma nova cultura política no Brasil, no sentido em que estes começam a
questionar velhas práticas mais tradicionais e apontam para uma redefinição da cidadania no
aspecto da relação público privado (GOHN, 2005, p. 59).
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REFERÊNCIAS
ABONG. ONGs no Brasil 2002: perfil e catálogo das associadas a Abong. São Paulo: Abong,
2002.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. v.1. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
KOHUT, John et al. A nova face da pobreza. O Correio da Unesco, Brasil, Ano 27, n. 5, p.
17-19, Maio 1999.
13
MEREGE, Luiz Carlos. Empresa Social. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro:
Fundação Getulio Vargas, vol. 31 n. 5 set./out. 1997.
NARAYAN, D. Voices of the poor - Can anyone hear us? Washington, D.C.: The World
Bank, Oxford University Press, 2000.
OLIVEIRA, Miguel Darcy de. O que é o Conselho da Comunidade Solidária. In: CARDOSO,
Ruth et. al. Estratégias inovadoras de parceria no combate à exclusão social (Org.). Brasília:
Comunidade Solidária, PNUD e Unesco, 2000.
SEN, Amartya K. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras,
2000.
SPOSATI, Aldaíza. Vida Urbana e Gestão da Pobreza. Ed. Cortez. São Paulo, 1988.