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O IMPACTO DAS ONGS E SUA IMPORTÂNCIA EM COMUNIDADES CARENTES

Aparecida Odete Pereira Gomes 1


Marcos José Mayer 2
Rubens Carlos Fernandes Ramos 3

RESUMO

Este trabalho propôs discutir o papel das ONGs - Organizações Não Governamentais, sua
eminência e importância em comunidades carentes, que realizam políticas públicas em prol da
sociedade civil, e substituem por assim dizer o poder estatal. Sua relação com o governo e as
empresas, seu raio de atuação e o papel que ocupam na economia e na sociedade enfrentam
pesadas críticas, isso sem mencionar a questão de apropriação indevida das relações
institucionais e dos recursos. O estudo buscou esclarecer se esse chamado terceiro setor, que
muitas vezes assume as funções que o Estado deixou de realizar, tem razão de existir,
principalmente em comunidades de baixa renda. Em síntese, esta pesquisa qualitativa
contribui para uma reflexão sobre o caso, em que os problemas, em sua maioria, têm raízes na
desigualdade social, na pobreza, no desemprego, enfim, em conflitos sociais.

Palavras Chave: ONGs; Terceiro Setor; Organizações Não Governamentais; Sociedade Civil;
Comunidades Carentes.

ABSTRACT

This academic work proposes to discuss the role of ONGS - Non-Governmental


Organizations, their eminence and importance in needy communities, which carry out public
policies in favor of civil society, and substitute, as it were, state power. Their relationship with
government and business, their range and their role in the economy and society face heavy
criticism, not to mention the misappropriation of institutional relations and resources. The
study sought to clarify whether this so-called third sector, which often assumes the functions
that the state has failed to perform, has reason to exist, especially in low-income communities.
In summary, this qualitative research contributes to a reflection on the case, in which
problems, mostly, are rooted in social inequality, poverty, unemployment, in short, social
conflicts.

Key Words: ONGs; Third sector; Non-Governmental Organizations; Civil Society; Needy
Communities.

1
apodetepereira@gmail.com.
2
marcos.w.mayer@gmail.com.
3
rubensfernandesramos@gmail.com.
2

1. INTRODUÇÃO

Este estudo vincula-se à temática de pesquisa Políticas Públicas do curso de


Tecnólogo em Gestão Pública da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro, e vem
analisar o papel das ONGs especialmente em comunidades carentes e sua importância. Termo
criado em 1940 pela Organização das Nações Unidas – ONU, as Organizações Não
Governamentais – ONGs caracterizam-se por entidades da sociedade civil cujo foco prevê
ajuda humanitária e projetos de interesse público.
O processo de expansão econômico e populacional sentido pelo Brasil nas últimas
décadas, segundo Francisco (2019) trazem consigo uma carência cada vez maior por políticas
públicas que atendam às necessidades da população em geral.
Segundo Ioschpe (1997), na comparação das organizações do Terceiro Setor com os
outros tipos de organizações, considera-se como características mais particulares e
complementares que as primeiras: a) Não têm fins lucrativos, sendo organizações voluntárias;
b) São formadas, total ou parcialmente, por cidadãos organizados voluntariamente; c) O corpo
técnico normalmente é constituído por cidadãos ligados à organização por razões filosóficas;
d) São orientadas para a ação; e) Comumente são intermediárias entre o cidadão comum e
entidades que podem participar da solução de problemas identificados.
Apesar da magnitude do terceiro setor no Brasil, as ONGs sofrem inúmeras
dificuldades tanto para realizar suas atividades, quanto para evitar a degradação negativa logo
nos seus primeiros anos de trabalho. Esbarram também em obstáculos para sobreviver
mediante, principalmente, de doações e na busca de voluntários em suas funções.
Para Rothgiesser (2004), o terceiro setor consiste em cidadãos que participam de modo
espontâneo e voluntário de ações que visam o interesse social. Isto vem mostrar algo
corriqueiro em relação ao Estado que é o fato de ambos cumprirem com uma função acima de
tudo coletiva.
Além disso, Olak (1999), também afirma que os recursos financeiros chegam às
instituições do Terceiro Setor sob a forma de contribuições, doações e subvenções.
Isso que é das maiores dificuldades enfrentadas por essas entidades, especialmente em
comunidades carentes, a captação de recursos financeiros. Baixos incentivos fiscais e
governamentais, projetos desestruturados, especialmente os de longo prazo e problemas para
firmar e fixar parcerias são as principais queixas nesse ponto. Além disso, ausência de
profissionais qualificados mediante uma vasta gama de pessoal bem intencionado, porém sem
aptidão técnica e de experiência para desempenhar determinados cargos. Enfim, analisam-se
também prováveis sobreposições de incumbências, ou seja, o Terceiro Setor assumindo
deveres relativos exclusivamente ao Estado.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Histórico

A fim de trazer luz para o perfil das ONGs brasileiras é importante descrever acerca da
evolução histórica dessas entidades e da própria construção do terceiro setor frente à realidade
nacional.
A partir da Constituição de 1988, no Brasil, foram postas em práticas muitas propostas
a fim de reformar o Estado para um novo modelo de desenvolvimento a ser construído.
Nogueira (1998) ressalta que a questão da estabilidade econômica, do equilíbrio
macroeconômico, no final dos anos 80 e início dos 90, subordinou, não só no Brasil, mas em
toda a América Latina, o tema da reforma do Estado.
Revisar as ligações entre Estado/sociedade no processo de reforma do governo esteve
não muito presente em algumas mudanças e propostas no tema das políticas sociais. E a
constituição de 1988 foi o marco histórico dessa etapa. Ela trouxe novas ideias no que se
referiam aos modelos então vigentes de proteção social. Os avanços visavam o apuramento do
caráter igualitário das políticas sociais, bem como de maior dever no compromisso público na
sua condução e participação popular e também na sua administração e controle.
Segundo Draibe (1990, p. 35), essas mudanças na política social brasileira abriram
perspectivas para novos contextos institucionais, novos modos de atuação de parte dos
programas sociais. Ela identifica-os em três padrões: a) o político-institucional – o
“localismo” como espaço político e institucional para uma relação mais efetiva entre
demandado e demandantes; b) o social – a elevação da participação popular nas políticas
públicas por meio de conselhos e outros mecanismos, como fator de reorganização do
controle social; e c) o das relações entre o Estado, o setor privado lucrativo e o setor privado
não lucrativo na produção e oferta de bens e serviços sociais, recriando a trama de interações
entre esses agentes.
Para Bielschowsky (1999), integrante do Plano Diretor da Reforma do Estado, o
Programa Nacional de Publicização, lançado no primeiro mandato de governo do então
presidente Fernando Henrique Cardoso, consistia na publicização de serviços não-exclusivos
de Estado, onde a atuação das Organizações Sociais era apresentada como nova forma de
prestação de serviços sociais para a população, com um maior foco nas mais carentes.
Essa chamada publicização, ou terceirização desses serviços, seria realizada por meio
de sua transferência para entidades qualificadas como Organizações Sociais (Lei no 9.637/98)
que se adentraria no marco legal vigente sob a forma de associações civis sem fins lucrativos,
de direito privado. A novidade envolvia a possibilidade para receber recursos públicos e
administrar bens e equipamentos do Estado além de flexibilidade administrativa. As
avaliações dos resultados seriam feita por meio de contrato de gestão e o controle social,
através dos conselhos de administração.
Segundo Oliveira (2000), a Comunidade Solidária, por sua vez, foi lançada em 1995
com a proposta de criar novos canais de participação e fomentar ações de combate à pobreza e
de promoção do desenvolvimento social.
O esboço teórico que explica a origem e o aumento dessas organizações, assim como
sua correta definição, ainda está sendo traçado. Essa observação decorre da própria
diversidade terminológica que a bibliografia técnica utiliza: entidades da sociedade civil,
terceiro setor, setor sem fins lucrativos, setor voluntário, setor independente, ONGs, setor
filantrópico, OSCIPs, etc.
Com a reestruturação do Estado, a comoção social gerou volumosa atividade
associativista, com novas entidades aparecendo e outras alterando seu padrão de atuação,
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além também de ficaram mais evidentes, ganharam destaque nas políticas públicas e na mídia
e tornaram-se mais focalizadas e atuantes.
Assim vieram outras formas de relação para o enfrentamento dos problemas
socioinstitucionais, na década de 90, e os hábitos organizacionais e gerenciais se alteraram.
Em muitas organizações, principalmente naquelas identificadas como ONGs, a improvisação
concedeu a uma estrutura mais organizada de trabalho, especialmente com a chamada figura
do “projeto”. Ganhou-se em profissionalização e institucionalização.
A diversidade de objetivos e natureza das organizações da sociedade civil criadas, sua
afinidade com o governo, o conceito de a idéia de filantropia empresarial e de voluntariado,
entre outras, são fundamentos importantes que auxiliam para a compreensão desse tema.
Segundo Hudson (1999, p. 11), o termo Terceiro Setor tem algo em comum com o
setor público já que suas atividades não geram lucros e procuram atuar em prol do bem
comum. Algo a mais em relação ao Estado é que o referido setor não está sujeito a controle
político direto e têm independência para determinar seu próprio futuro.

2.2 Comunidades Carentes

A desigualdade, um dos sinais do desenvolvimento capitalista, foi se intensificando


nas últimas décadas, no contexto das mudanças estruturais ocorridas. Sposati (1988) destaca
que, ao invés de natural, a pobreza é gerada pela opção de desenvolvimento econômico social
adotado. Esta escolha por um modelo de desenvolvimento econômico que produz e reproduz
desigualdades, fez, por exemplo, com que as diferentes classes sociais que constitui a
sociedade brasileira tivessem que disputar as áreas existentes na cidade.
A definição de comunidade carente se torna algo imensamente complexo. Pode ser
realizada considerando-se algum “juízo de valor”, em formas relativas ou absolutas. Pode ser
estudada exclusivamente do ponto de vista econômico ou analisando aspectos não-
econômicos à análise, sendo descrita dependente ou não da estrutura sócio-política da
sociedade.
Refere-se à pobreza como “juízo de valor” quando se aborda de uma visão abstrata,
subjetiva, do indivíduo, em relação do que deveria ser um grau suficiente de satisfação de
necessidades, ou do que teria que ser um grau de privação normalmente suportável. A
população apresenta sentimentos e receitas, de caráter essencialmente normativo, do que
deveriam ser os padrões contemporâneos da sociedade quanto à pobreza. Não se leva em
consideração a situação social caracterizada pela falta de recursos.
Já do ponto de vista macroeconômico, a pobreza tem relação direta com a
desigualdade na distribuição de renda. É percebida segundo o padrão de vida atual na
sociedade, os pobres como as pessoas situadas na camada inferior da distribuição de renda,
quando comparadas àquelas melhor posicionadas.
Segundo Sen (1999), a pobreza pode ser definida como uma privação das capacidades
básicas de um indivíduo e não apenas como uma renda inferior a um patamar pré-
estabelecido.
De forma geral, ela é caracterizada como ausência do que é necessário para o bem-
estar material, especialmente serviços básicos, alimentos, terra, moradia e outros ativos. Além
disso, também como a falta de recursos múltiplos que leva à fome, à privação física, carência
de oportunidades econômicas e falta dos serviços públicos.
Para Narayan (2000):

“Pobreza é fome, é falta de abrigo. Pobreza é estar doente e não poder ir ao médico.
Pobreza é não poder ir à escola e não saber ler. Pobreza é não ter emprego, é temer o
futuro, é viver um dia de cada vez. Pobreza é perder o seu filho para uma doença
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trazida pela água não tratada. Pobreza é falta de poder, falta de representação e
liberdade”.

A falta de empregos, a carência na área da educação, escassez de qualificação e, como


resultado, o déficit de oportunidades são alguns dos motivos que advêm o surgimento, de
modo geral, de comunidades carentes.
Ainda segundo Narayan (2000), as condições de vida dos pobres são geralmente
críticas e negativas. Uma parte considerável da população pobre não recebe nenhum apoio
institucional que não seja o da sua própria família. Além disso, a qualidade do atendimento
prestado nos centros de saúde pública e demais serviços é objeto de queixas constantes. A
educação, segundo os pobres, é avaliada pelo custo-benefício.

2.3 ONGs

Devido à reestruturação do Estado frente à Constituição de 1988, chamada também de


Constituição Cidadã, houve o aparecimento e ascenção das ONGs no Brasil e demais países
em desenvolvimento por intermédio de ações populares em prol da solidificação da
democratização política, tais organizações concentraram e ainda concentram-se em serviços
voltados a redução das desigualdades sociais, mais consolidadas em áreas carentes e
subdesenvolvidas, e proteção dos direitos dos habitantes locais.
Em 1996, a Comissão Sobre Governança Global definiu as entidades como,
As ONGs constituem um grupo diverso e multifacetado. Suas perspectivas e suas
áreas de atuação podem ser locais, regionais ou globais. Algumas se dedicam a
determinadas questões ou tarefas; outras são movidas pela ideologia. Algumas
visam ao interesse público em geral; outras têm uma perspectiva mais estreita e
particular. Tanto podem ser pequenas entidades comunitárias cujas verbas são
escassas, como organizações de grande porte, bem dotadas de recursos humanos e
financeiros. Algumas atuam individualmente; outras formaram redes para trocar
informações e dividir tarefas, bem como ampliar seu impacto. (COMISSÃO SOBRE
GOVERNANÇA GLOBAL, 1996, p. 192).

Seu surgimento se deu com o objetivo de eliminar ou diminuir às falhas admitidas pelo
Governo. Dentro disso, este segmento engloba entidades custeadas pelo capital privado, com
rumo dessas ao público de interesse de cada uma das organizações, como fundações, ONGs,
unidades assistenciais, associações civis e religiosas.
As ONGs brasileiras têm como principal função trabalhos coletivos organizados.
Nessa linha, o Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada – IPEA promoveu uma pesquisa
com 780 mil empresas privadas, onde constatou-se que 59% dessas tem recursos voltados a
comunidades carentes, como em educação, saúde, esporte, alimentação, e cidadania
(TACHIZAWA, 2004).
No entanto, a ligação ONG-Estado pode ser vista de diversas maneiras. Do lado
neoliberal, ela é tida como uma alternativa para a prestação de obrigações públicas sob a
responsabilidade do Estado. Para alguns esquerdistas tal parceria viria a ser uma estratégia de
terceirização por parte do Estado. Outro meio vê a cooperação como uma oportunidade da
ONG alargar sua área de atuação e, ao mesmo tempo, inspirar os processos de elaboração de
políticas públicas.
Como não possuem receitas específicas, as ONGs necessitam buscar alternativas para
manterem-se em atividade. Para isso, contam com o apoio financeiro de pessoas físicas, de
empresas privadas e até mesmo do governo, que fornece recursos e apoio para atividades em
que ambos possam unir forças.
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Em 2011 a atuação das ONGs ganhou destaque na mídia. Os motivos principais foram
denúncias de eventuais irregularidades nos repasses de quantias ministeriais para entidades
desse tipo, que despertaram mais uma vez o debate sobre a fragilidade da fronteira entre as
esferas pública, privada e estatal no Brasil.
Embora não se possa generalizar, parcerias e contratos entre o governo federal e tais
entidades estariam sendo manipulados como forma de desviar dinheiro público. Ministros
foram afastados, investigações estão em curso e o Executivo tomou providências drásticas.
As denúncias obtiveram atenção de diversos críticos pela ausência de controles e
fiscalização sobre o trabalho dessas instituições e pela expansão considerável nos últimos
anos do número de ONGs que recebem montantes significativos de verbas públicas.
Escândalos como esse contribuíram na construção de uma imagem negativa das
ONGs, gerando descontentamento e dúvida por parte da sociedade e prejudicando inúmeras
instituições de boa índole.
Reportagem da revista Época (2008), no Brasil, a maior parte dos recursos
movimentados pelas ONGs não vêm do Governo. De acordo com a pesquisa, apenas 17% da
arrecadação das ONGs estão vinculadas a convênios ou repasses do Estado. O restante, 69%
vem do resultado da venda de produtos e serviços e 17% são provenientes de doações do setor
privado.

2.4 Impacto e importância das ONGs

Através das ONGs, diversos povoados e comunidades carentes possuem a


possibilidade de conhecer e se tornar peça de uma realidade diversa àquela habituada e
expandir sua visão do mundo. Elas atuam como meio de inovação e criatividade na busca de
uma solução para problemas complexos onde o Estado é negligente ou não tem alcance.
A principal finalidade de uma ONG e seu motivo de existir é que são menos
burocráticas e mais flexíveis do que o governo. Essas associações são compostas muitas vezes
por mentes jovens e abertas ao novo, sem temor a mudanças. Esse posicionamento favorece e
amplia a busca de parcerias para buscar soluções de problemas que prejudicam o nicho da
sociedade que elas buscam atender.
A elevada qualificação profissional revela-se uma característica das pessoas
empregadas nas ONGs brasileiras. Estudo realizado pelo Instituto Superior de Estudos da
Religião (ISER), em 1991, revelou que 87% possuía curso de graduação e 39% de pós-
graduação, percentuais bastante expressivos em um país com baixo nível de escolaridade
(GARRISON, 2000).
As atividades arrojadas das ONGs produzem benefícios sociais e até mesmo indicam
caminhos para as políticas públicas de responsabilidade do Governo. Um dos fatos notórios é
o da política de AIDS. No início do surto, o Poder Público estava inerte. As ONGs de
DSTs/Aids ou de portadores do vírus passaram a pressionar o Estado, pleitando políticas
públicas para o combate do problema. Essa política pública foi elaborada, estabelecida e
aplicada em parceria dos órgãos de saúde com as próprias organizações. Hoje o Brasil é um
modelo global em política pública de tratamento e prevenção de DSTs/AIDS.
Outros exemplos estão às iniciativas como clubes de leitura onde projetos que
ampliam a educação e o gosto pela leitura em crianças e adolescentes que lêem livros e fazem
resumos escritos daquilo que entenderam, no qual são avaliados por voluntários e recebem
notas.
Projetos de empoderamento feminino onde ocorrem rodas de conversa com mulheres e
meninas das comunidades, com objetivo de atender demandas e assuntos que vezes se tornam
tabus em seus lares, e no intuito de esclarecer eventuais dúvidas que elas possuem sobre
questões diversas da vida.
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ONGs de animais que dão abrigo a cães abandonados ou que sofreram maus-tratos,
vacinando, castrando e desvermifugando e encaminhando-os para adoção.
Ações de visita a hospitais que visam apoiar e trazer conforto a enfermos e doentes
terminais em clínicas e ambulatórios, com atendimento psicológico, confecção de perucas e
palestras de prevenção a câncer e demais doenças.
Causas nas quais são criados projetos auto-sustentáveis em comunidades de baixo
nível sócio econômico, promovendo programas de capacitação profissional e oficinas
comunitárias; provendo assistência médica, odontológica e educacional; instalando
infraestrutura que proporcione lazer às famílias; distribuindo cestas básicas, medicamentos,
artigos de higiene, roupas, calçados e brinquedos; dentre outras ações.
Atitudes visando à capacitação e encaminhamento ao mercado de trabalho de
adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Entidades que oferecem cursos de
comunicação com módulos de fotografia, design, comunicação escrita, marketing e mídias
sociais.
Organizações que trabalham pela defesa dos direitos de pessoas que vivem nas favelas
mais precárias, diminuindo sua vulnerabilidade por meio do engajamento comunitário e da
mobilização de jovens voluntários, resgatando a dignidade humana e a cidadania plena,
respeitando o meio ambiente.
ONGs que buscam a promoção da cidadania LGBT (lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais). Grupos que se mantém por meio de recursos captados para a execução
de projetos pontuais específicos e também através de doações de colaboradores com a causa
LGBT.
Enfim, são muitos os exemplos praticados por voluntários que fazem a diferença na
vida de diversas comunidades, pessoas essas que seriam literalmente esquecidas e
abandonadas pelo Estado e que viveriam na beira do caos, fragilizadas por falta de recursos e
desinteresse social e a mercê da própria sociedade.
No Brasil, desde cedo, tais indivíduos sofrem com a falta de direitos sociais básicos
como alimentação, profissionalização, habitação, escolarização, e do respeito às diferenças
raciais, sociais e de gênero. O fato é que vivenciamos um sistema estruturado, que ao oposto
de políticas rumo ao interesse do povo, de uma atuação direta modificadora, justa e
igualitária, oferecem políticas assistencialistas, que só fazem aumentar a pobreza e a
desigualdade social, permitido à perpetuação da desigualdade no contexto social.
Para SCHILLING, 2004,
Nessas sociedades em tempos de “globalização”, “mundialização”, ”sociedade pós-
industrial”, ”pósmodernidade”, ”modernidade radical”, não se supõe a existência de
uma igualdade de acesso a novos bens ou possibilidade ou às novas possibilidades.

De acordo com Romão (1982) a partir de uma breve análise, percebe-se que existem
vários elementos que promovem a dificuldade de acesso a serviços e infraestrutura básicas,
mas a ausência de renda mínima é um dos fatores desencadeadores da situação de exclusão e
o mais perverso deles. Daí deriva a condição de não cidadania por ausência de direitos sociais
básicos.
Segundo MEREGE (1997), alguns estudiosos afirmam que há hoje um consenso
internacional sobre o importante papel que o Terceiro Setor representa na construção de uma
sociedade menos conflituosa.
Essas entidades teriam a eficiência necessária para atuarem com eficácia, agilidade e
comprometimento, com objetivos que não a maximização do interesse individual.
Conforme CASTELLS (2001), o trabalho do setor de serviços sociais representa
atualmente entre 20 e 25 por cento do total de empregos dos países que compõem o chamado
"G7', com exceção do Japão.
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2.5 Gestão Pública

Segundo Prestes (2013), a administração pública começou a se organizar nos séculos


XVIII e XIX, época que imperava o Estado Absolutista o qual detinha o poder centralizado e
autoritário. Até então havia poucas regras e obras e sem princípios constitucionais próprios
como há hoje, o que dariam início aos atuais conceitos de direitos constitucionais e
administrativos.
A administração pública, através dos tempos, aperfeiçoou os serviços ofertados pelo
Estado à população, de acordo com novas situações, deficiências e necessidades, buscando
sempre o melhor para a sociedade, surgimento do termo gestão pública.
Para que a gestão pública possa atingir os resultados positivos que almeja, isto é,
eficiência e eficácia na prestação de serviços à população, é necessário que haja uma
integração entre as quatro funções ou processos fundamentais que a compõem: planejamento,
organização, execução e controle.
Porém, com o grande crescimento das cidades e a falta histórica de investimentos para
o seu desenvolvimento, isso acabou criando barreiras de acesso a serviços para a população
mais carente, em especial das políticas públicas e ações sociais, gerando o não aproveitamento
das suas potencialidades e aumentando a sua vulnerabilidade, seja social, econômica e/ou
política.
Para KOHUT (1999), o fato de comunidades carentes serem formadas por indivíduos,
nem sempre empregadas em atividades formais, por falta de condições de competir no mundo
do escasso emprego, é que muitas organizações, geralmente do terceiro setor se dedicam a
projetos de voluntariado não formal, voltados para jovens e adultos.
A idéia da constituição das ONGs era, a princípio, de que o Estado necessitava de
parceiros para prestações de serviços e isso consolidou-se na década de 1990. Elas eram
anunciadas como um meio moderno para solucionar as lacunas deixadas pelo Estado e pelo
mercado.
Segundo KOHUT (1990), o Estado era tido por muitos como lento e ineficiente, preso
ao gigantismo da máquina burocrática e seria substituído por ações focadas de especialistas,
motivados não pela ineficiência do Poder soberano, mas pelo altruísmo social.
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3. METODOLOGIA

Para Thiollent (1993), a metodologia de pesquisa desempenha um papel de bússola na


atividade dos pesquisadores, esclarecendo cada uma de suas decisões, por meio de alguns
princípios de especificidade.
Devido que as grandes mudanças que a globalização promoveu, do campo de exclusão
de parte da população, da constante deterioração do meio ambiente e das inexistentes ou
equivocadas políticas governamentais, um novo parâmetro sobre essas questões tem adquirido
importância cada vez maior: a relação do homem com seu semelhante e o planeta. Esses
pontos não se focam na teoria acadêmica, mas também se generalizam, especialmente através
dos meios de comunicação em massa, como a televisão e internet.
Nesse contexto, tem-se como problema de pesquisa, a seguinte interrogação: Qual o
papel das Organizações Não Governamentais em comunidades carentes, uma vez que o
Estado não possui estrutura e nem meios para atingir a população mais necessitada em um
país com extensão territorial tão grande?
Explica-se a escolha do tema pelo ensejo de demonstrar a atuação dessas organizações,
que se esforçam em acudir uma parcela da população que necessita de cuidados em
determinado aspecto, sem possuir fins lucrativos para tal. Além disso, tem-se a atenção pelo
assunto, a fim de examinar sobre essas entidades que somam um peso inestimável a vivência
de quem direta ou indiretamente é tocado por ela.
O método de pesquisa realizado envolveu um estudo qualitativo com base no tema
acima, desenvolvido a partir de revisões bibliográficas, artigos, dissertações e teses em bancos
de dados e classificada quanto aos objetivos como descritiva.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve por finalidade compreender o papel atribuído ao Terceiro Setor
nas políticas públicas brasileiras. Desse modo, procurou-se desvendar a importância da
participação dessas organizações na implementação de políticas sociais e qual a sua ligação
com o desenvolvimento da sociedade como um todo, utilizando-se do discurso da falência e
ineficiência do Estado no provimento de bens e serviços sociais, amplamente difundidos pela
mídia, pelo capital e pelos próprios governos.
O alcance do Estado não é o suficiente para todos, visto que o país possui uma alta
taxa de indivíduos carentes de serviços e também de atenções básicas e o ingresso a essas
comunidades não sempre são fáceis. O Governo, em seu papel fundamental, passa ausente em
muitas de suas áreas de atuação, e faz-se complementar as Organizações sem fins lucrativos,
as quais passam a serem únicas e protagonistas em determinadas situações.
De fato, é difícil crer que o governo brasileiro possa expandir sua atuação direta na
erradicação às graves adversidades sociais que precisam ser enfrentadas. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2016), com encargos tributários que consomem
quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB), utilizada para prover a atual máquina estatal seria
praticamente incabível que a estrutura disponível no setor público fosse alargada, o que teria,
certamente, que ser realizado às custas de novas elevações na arrecadação de impostos.
Segundo o Relatório Final da "CPI das ONGs" (2007), todos os especialistas ouvidos
pela Comissão foram unânimes em destacar a importância da parceria Estado-ONG. Todos,
sem exceção, reconheceram que as entidades sem fins lucrativos têm um importante papel na
formulação, execução e fiscalização de políticas públicas. Não como substituto do Estado,
mas como parceiro, em respeito, inclusive, aos preceitos e objetivos da ordem social inscritos
na Constituição brasileira, especialmente em comunidades carentes e indivíduos na miséria.
Componente do terceiro setor, as organizações não-governamentais (ONGs) surgem
como atores de suma importância para a sociedade na atualidade, tidas como capazes de
prover apoio a iniciativas locais de modo ágil e apropriado, quer através da provisão ou
acesso a estrutura e serviços básicos, seja através de aconselhamento, monitoramento e
incentivos a promoção e desenvolvimento animal, pessoal e ao meio ambiente.
O ofício das ONGs é desenvolver estrategicamente a questão social, mas acabam
substituindo funções que o Estado deveria provir, recebendo apoio graças a parcerias, numa
condição em que todos saem ganhando.
Tendo prática no auxílio das necessidades sociais das populações pobres, essas
entidades expandiram suas atividades, contribuindo para amenizar o fosso entre a busca por
serviços sociais e a sua oferta e para criar novos postos de trabalho.
As organizações do terceiro setor podem não só colaborar como são impulsionadoras
de determinados programas sociais. Elas são um posto de acolhimento e mobilização de
empresas e pessoas dispostas a doar recursos, serviços e materiais em prol de ações sociais.
Dessa forma, ocupam um espaço privilegiado de intermediar e canalizar esforços para realizar
projetos. Nisso pode estar seu maior mérito.
Além disso, os impactos de seus feitos precisam ser identificados e divulgados para
não haver diferentes interpretações de suas ações nas comunidades e desconfiança por parte
da população.
O Terceiro Setor possui uma especial tendência para colaborar significativamente na
geração de empregos por ser tipicamente de trabalho intensivo, destinando-se o grau de
atenção à pessoa humana requerido por suas atividades. Com uma educação básica e serviços
de saúde melhores há um aumento no potencial do indivíduo de auferir renda e de, assim,
livrar-se da pobreza medida pela renda.
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Sem as ONGs e entidades atuantes em diversas áreas, o país não iria para adiante. Se
atualmente a situação do país não é dos melhores no campo social e igualitário, sem as ações
das organizações não governamentais os problemas, sem dúvida, seriam imensos para o
Estado gerir. Sai governo e entra governo a situação não de modifica.
O fato é que as ONGs se tornam provedoras de bens coletivos, procurando suprir
necessidades da sociedade quando o estado se mostra incompetente para fazê-lo.
Acredita-se, então, na grande contribuição das entidades não governamentais para a
formação de uma nova cultura política no Brasil, no sentido em que estes começam a
questionar velhas práticas mais tradicionais e apontam para uma redefinição da cidadania no
aspecto da relação público privado (GOHN, 2005, p. 59).
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REFERÊNCIAS

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