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A RESPONSABILIDADE SOCIAL E O PARADIGMA DA

INCLUSÃO: IDEOLOGIAS ARTICULADAS AO PROJETO DA


“DIREITA PARA O SOCIAL”
André Silva Martins
Professor Adjunto da UFJF
andremartinsjf@gmail.com

Leonardo Docena Pina


Professor da rede publica municipal de Angra dos Reis
leodocena@yahoo.com.br

Este trabalho integra os esforços que vêm sendo realizados em um estudo que
busca analisar as práticas políticas destinadas ao processo de legitimação da burguesia
enquanto classe dirigente no Brasil de hoje, bem como as estratégias empregadas por
esta classe na afirmação da sociabilidade capitalista nesse início de século1.
O objetivo central do presente texto é captar o movimento da classe burguesa
nesse processo a partir das proposições sobre inclusão social de pessoas com
deficiência. A análise se concentra nas formulações e proposições do Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social, um aparelho privado de hegemonia que foi criado
com a tarefa de difundir referências políticas e de orientar a intervenção da classe
burguesa nas questões sociais de modo mais orgânico a partir da ideologia da
responsabilidade social.
As reflexões aqui apresentadas buscam contribuir para a compreensão das
relações de poder e dos processos de dominação que vêm sendo implementados na
realidade brasileira nesse início de século.

A ideologia da responsabilidade social e seu desenvolvimento no Brasil


No final do século XX, a configuração das relações sociais capitalistas
contribuiu para delinear o surgimento de uma ideologia que buscou, principalmente,
reorganizar as frações empresariais em torno de um único projeto e definir novas linhas
de ação coletiva sobre as questões sociais, de modo a diminuir as tensões internas da
própria classe e garantir a dominação capitalista por meio do convencimento.
Conhecida como responsabilidade social empresarial, ou simplesmente

1
Segundo Martins (2009), “padrão de sociabilidade” refere-se à forma pela qual os indivíduos e as
classes produzem e reproduzem, em um dado momento histórico, as condições objetivas e subjetivas
de sua própria existência. Tais condições resultam das relações de poder e são mediadas pelas relações
sociais de produção da vida humana.
responsabilidade social, essa ideologia sintetizou a linha dos fundamentos políticos e a
perspectiva de intervenção da burguesia em dois movimentos concomitantes: buscou
definir as novas bases para a construção da unidade política e atualizar a postura dos
empresários. Buscava-se não só minimizar as representações em torno da figura do
“patrão” como também definir novas estratégias para difundir valores, crenças e
comportamentos políticos compatíveis com o projeto hegemônico a ser seguido pelo
conjunto da sociedade.
A ideologia da responsabilidade social se constituiu numa resposta à crise de
hegemonia burguesa nos final dos anos de 1980, frente à “insuficiência” de respostas do
neoliberalismo ortodoxo e da social-democracia clássica2. Conforme salienta Martins
(2009), os fundamentos dessa ideologia se encontram expressos no programa da
Terceira Via3 . Trata-se de uma construção que articula uma concepção de mundo e
formas de intervenção na realidade que procuram oferecer respostas práticas e diretas
para afirmação das chamadas “sociedade do conhecimento” e “economia do
conhecimento”, evidenciando que a dominação nas formações sociais capitalistas
complexas não se exerce sem um intenso trabalho educativo sobre o conjunto da
sociedade.
A gênese da responsabilidade social no Brasil pode ser apreendida, inicialmente,
na articulação político-ideológica de setores do empresariado brasileiro em torno do
movimento o Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE), criado, nos anos
finais da década de 1980, com o intuito de rearticular a classe burguesa e viabilizar um
projeto de nação para recuperar o desenvolvimento econômico conjugado com o ideal
de “democracia” e “justiça social” nos marcos do capitalismo. Os embates travados
naquele período e os avanços políticos na recomposição do bloco histórico burguês nos
anos de 1990 foram decisivos para delinear o surgimento da ideologia da
responsabilidade social no Brasil.
Um dos pontos marcantes do trabalho do PNBE foi sobre a indicação de que o
empresariado, para se reafirmar como classe dirigente, deveria assumir uma nova
posição frente à democracia e à política no país. Para mostrar a viabilidade dessa nova
postura, os principais intelectuais orgânicos do PNBE se vincularam às lutas de
organizações populares em defesa dos interesses da criança e do adolescente frente às
formas de violência e exploração dos menores no país. Essa vinculação se deu por meio

2
Sobre a crise de hegemonia burguesa no Brasil, ver Bianchi (2001).
3
A Terceira Via é definida como o programa do neoliberalismo para o século XXI (NEVES, 2005).
da Associação dos Fabricantes de Brinquedos (ABRINQ), uma entidade empresarial
criada em 1985 para representar os interesses específicos do setor. A ABRINQ foi
apresentada como uma organização de “empresários éticos” interessados em
transformar suas unidades de negócio em “empresas cidadãs”. A atuação dessa entidade
na defesa da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, ao lado de
organizações ligadas às lutas populares no país, pode ser interpretada como um
laboratório de experiência política para a constituição da responsabilidade social. Ao
longo da década de 1990, outras experiências foram sendo gestadas, envolvendo o
PNBE. Todas elas foram importantes para difundir a idéia de consertação (ou pacto)
social entre capital e trabalho, afirmar os parâmetros da cidadania e, ainda, legitimar os
empresários como classe dirigente no país.
Em síntese, a defesa do PNBE, em nome da unidade e renovação das práticas
políticas da classe empresarial, marca uma inflexão na ideologia burguesa, indicando
que o empresariado tinha “soluções” para os problemas do país referenciado no preceito
de democracia. Porém, cabe ressaltar que isso não significou uma ação verdadeiramente
compromissada com o aprofundamento radical da democracia tal como defende Wood
(2003). Na verdade, a perspectiva apresentada manteve a histórica forma burguesa de
separar o político do econômico na definição de democracia, confirmando que a
socialização da participação política não coincide, no capitalismo, com socialização do
poder.
Essa perspectiva ficou muito clara na medida em que os principais intelectuais
orgânicos da ideologia da responsabilidade social atuaram junto a outros intelectuais do
capital para viabilizar uma coalizão de forças em defesa da candidatura de Fernando
Henrique Cardoso, em 1994, e, posteriormente, atuar na organização do novo bloco no
poder.
Nesse contexto, a responsabilidade social passou a compor as referências
ideológicas do novo bloco no poder no período de governo Fernando Henrique Cardoso.
Os intelectuais orgânicos do capital identificados com a responsabilidade social tiveram
um papel decisivo no processo de legitimação dessa ideologia. A criação do órgão
Comunidade Solidária, na aparelhagem estatal, é uma das principais indicações de que
essa ideologia passou a se constituir como referência para o bloco no poder.
As ações do órgão Comunidade Solidária foram destinadas a implantar, no
Brasil, a “sociedade do bem-estar”, redefinindo as funções estatais frente às questões
sociais e legitimando a ação empresarial neste campo. O trabalho desse órgão consistiu
na mobilização e na coordenação de esforços do aparelho de Estado e de organizações
empresariais e não empresariais para atuarem em projetos de difusão das noções de
“colaboração social” e de “parcerias” em favor do “bem-comum”. Isso fica claro na
seguinte afirmação:

A Comunidade Solidária significa um novo modelo de atuação social


baseado no princípio da parceria. Somando esforços dentro de um
espírito de solidariedade, governo e sociedade são capazes de gerar os
recursos humanos, técnicos e financeiros necessários para combater
com eficiência a pobreza e a exclusão social (BRASIL, 1995).

A concepção e as iniciativas práticas ordenadas pelo Comunidade Solidária


foram uma clara evidência de que as frações da classe empresarial, integrantes do bloco
no poder, ao redefinir o caráter e o alcance das políticas sociais, tinham clareza de que o
processo de dominação a ser exercido sobre o conjunto da classe trabalhadora exigiria
um intenso, permanente e variado mecanismo de obtenção do consenso.
Se ainda existia alguma dúvida entre os empresários sobre a relevância político-
estratégica da responsabilidade social para o exercício da dominação, o papel
desenvolvido pelo Comunidade Solidária, no primeiro período de governo Fernando
Henrique Cardoso, foi decisivo para dirimi-la. No período de 1995 a 2002, a
responsabilidade social se tornou uma ideologia orgânica à classe empresarial,
viabilizando o exercício da “nova pedagogia da hegemonia” (NEVES, 2005). Entre
2003 a 2007, período de governo Lula, essa ideologia se manteve forte com
reverberações positivas no bloco no poder (MARTINS, 2009).

Sobre o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social


Análises mais detalhadas sobre a atuação do empresariado no Brasil a partir da
segunda metade dos anos de 1990 revelam que o “nível de consciência política
coletiva”, de acordo com a acepção gramsciana, alcançou um patamar mais elevado, e
que essa mudança correspondeu a um movimento mais forte de homogeneização das
frações em torno de um único projeto hegemônico. Se as diferenças e disputas entre as
frações de classe não foram eliminadas, pelo menos deixaram de se constituir como
empecilhos à unidade política da classe na viabilização de um único projeto dominante.
Além das articulações por dentro da aparelhagem de Estado, os intelectuais orgânicos
do capital foram precisos em criar novas organizações no âmbito da sociedade civil,
com o objetivo de difundir os fundamentos da nova dominação. Entre estes aparelhos,
destaca-se o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, criado em 1998
pelo grupo que havia liderado o PNBE.
O Instituto Ethos propiciou o amadurecimento da classe e a radicalização de
suas ações políticas na obtenção do consenso. Dentre os critérios que balizam a
intervenção empresarial na realidade à luz da ideologia da responsabilidade social,
pode-se destacar: respeito aos direitos de cidadania e direitos trabalhistas; disposição
para implementar ações de mobilização de voluntários, de promoção social e de
preservação ambiental; atuação junto à aparelhagem estatal na definição e
implementação de políticas públicas e apreciação de projetos de lei concernentes ao
tema da responsabilidade social; disposição para defender a diversidade em todos os
campos da vida; aceitação do diálogo como princípio e base de relação com indivíduos,
organizações e instituições sejam da sociedade civil ou da aparelhagem estatal;
valorização da transparência e verdade nas ações empresariais; desprendimento para
valorizar as formas de desenvolvimento sustentável da sociedade (INSTITUTO
ETHOS, 1998).
Para assegurar a legitimação da responsabilidade social, o Instituto Ethos, em
sintonia com os movimentos internacionais, defende que o lucro, razão de ser da
empresa privada e da própria burguesia, não é incompatível com princípios éticos e com
ações sociais de novo tipo. Pelo contrário, interpreta que a responsabilidade social
confere à luta hegemônica condições importantes para a manutenção das relações
sociais capitalistas, mesmo em um país dependente como o Brasil.
Nessa perspectiva, o Instituto Ethos defende que posturas socialmente
responsáveis devem ser iniciadas no âmbito da própria empresa, mas não podem se
manter restritas em seu interior. No seu entendimento, as ações de responsabilidade
social devem abranger acionistas e funcionários, envolver a relação com fornecedores e
clientes e, ainda, devem se dirigir às comunidades ou a regiões inteiras do país,
abrangendo temas diversos, tais como educação, saúde, meio ambiente,
desenvolvimento comunitário, infância, diversidade, entre outros.
Em linhas gerais, numa perspectiva crítica, identifica-se que a proposição é que
cada empresa, uma unidade de negócios, se converta em aparelho privado de hegemonia
responsável pela difusão molecular dos valores, comportamentos e concepções
dominantes no tecido social.
Enquanto um aparelho privado de hegemonia, o Instituto Ethos tem apresentado
uma atuação exemplar desde sua fundação. Além de atuar na mobilização permanente
dos empresários em torno da ideologia da responsabilidade social, o Instituto
desenvolve outras ações significativas.
Uma delas se refere às orientações políticas para a definição de uma agenda
pública de viés empresarial no âmbito da aparelhagem estatal, especificamente nos
fóruns e instâncias governamentais. O objetivo é criar canais de influência nos
processos de definição das políticas sociais nas esferas municipal, estadual e federal
para submeter o conteúdo e o alcance das políticas sociais à concepção empresarial de
mundo.
A outra se liga à produção de conhecimentos e de informações sistematizadas.
No âmbito da própria classe, essa produção serve para legitimar a importância das
intervenções empresariais nas questões sociais. A proposta é produzir referências que
sirvam de contraponto aos que defendem que toda e qualquer empresa deve se limitar a
pagar impostos, gerar lucro e distribuí-los aos seus acionistas. No plano mais amplo, a
produção de conhecimentos e informações se destina a qualificar o empresariado e seus
intelectuais na batalha de idéias presente na sociedade civil, sobretudo, nas disputas que
envolvem direta ou indiretamente o padrão de sociabilidade capitalista.
A linha de publicações do Instituto Ethos destaca-se nesse processo. A linha
editorial é formada por: ferramentas de gestão – publicações atualizadas ano a ano que
prestam informações sobre os indicadores de responsabilidade social adotados pelo
Instituto; guias – publicações destinadas a orientar a montagem de “balanços sociais”
também atualizadas anualmente; reflexão – edições de textos sobre temáticas diversas
ligadas à responsabilidade social; debates – textos que reproduzem discussões
importantes aos interesses político-sociais da burguesia; outras publicações – relatórios
de pesquisas de opinião envolvendo a percepção dos consumidores sobre a
responsabilidade social e textos sobre temas como “código de ética”, ética empresarial e
mercados emergentes, entre outros; manuais – documentos que ensinam como as
empresas podem realizar ações em sete áreas específicas, entre elas, educação,
diversidade, infância-adolescência, etc, e como podem contribuir com a aparelhagem
estatal na realização de políticas sociais; publicações especiais: edições sobre a
problemática da responsabilidade social direcionadas aos jornalistas.
Em conjunto, essas ações do Instituto Ethos devem ser compreendidas como
estratégias de afirmação da classe empresarial em seu empenho para homogeneizar, nos
planos intelectual e moral, toda a sociedade em torno de um modo de vida capitalista
renovado, traduzido pelo apassivamento dos movimentos sociais e pela noção de
“cidadão empreendedor e colaborador”.

A incorporação do paradigma da inclusão à ideologia da responsabilidade social

A empresa boa para os trabalhadores com


deficiência será boa para todos os
trabalhadores. Uma sociedade com empresas
boas para as pessoas com deficiência será
uma sociedade saudável, pois terá respeito
pelos seres humanos e pelas suas diferenças
(GIL, 2002, p. 27).

O Instituto Ethos situa a inclusão de pessoas com deficiência como um dos


temas mais importantes a serem tratados pelas empresas. De fato, é possível reconhecer
que a inclusão social é um tema de fundamental importância a ser tratado pelas
empresas, assim como por aqueles que buscam compreender e transformar a sociedade
na qual vivemos. Trata-se de um tema importante devido ao fato de seus princípios
serem muito difundidos e aceitos nos dias de hoje. Como as ideias que circulam na
sociedade desempenham papel fundamental na dinâmica social, torna-se necessário
tratar os temas amplamente difundidos no conjunto da sociedade.
Em virtude disso, é necessário considerar como o paradigma da inclusão é
incorporado pela ideologia da responsabilidade social. De que forma o Instituto Ethos se
insere no debate sobre a inclusão? Em que medida a inclusão social reforça a linha geral
de atuação do Instituto Ethos? Que objetivos o Instituto pretende alcançar com a defesa
do paradigma da inclusão? Essas são apenas algumas questões que tentaremos
responder com a análise de algumas das iniciativas desse aparelho privado de
hegemonia no que diz respeito a problemática da inclusão das pessoas com deficiência.
O Instituto Ethos considera que “a inclusão das pessoas com deficiência faz
parte da responsabilidade social empresarial” (GIL, 2002, p. 11). Em virtude disso,
implementa iniciativas que caminham no sentido de reforçar a inclusão como um
importante fundamento que integra a responsabilidade social.
Uma dessas iniciativas é a divulgação de ações e a organização de ferramentas
de comunicação, que servem de exemplo para mobilizar empresários e, sobretudo,
mostrar à sociedade como é possível tornar o capitalismo mais harmonioso e humano.
Conforme consta em Gil (2002), as empresas Fleury, Gelre, Gimba, Laffriolée
Sobremesas, Medley, Natura Cosméticos, Prodam, Serasa e White Martins são
apontadas pelo Instituto Ethos para exemplificar casos de inclusão de pessoas com
deficiência e, assim, inspirar novas experiências. No que diz respeito às ferramentas de
comunicação, encontra-se, por exemplo, o “Fórum de empregabilidade da pessoa com
deficiência”, que teve sua criação defendida em um evento realizado na sede da Serasa
Experian, em São Paulo. A proposta de criação do Fórum foi uma iniciativa da
Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, da Serasa
Experian e do Instituto Ethos. Trata-se de uma tentativa de reunir, em um mesmo espaço
de debate, a sociedade política e a sociedade civil para discutir possíveis soluções
referentes à problemática da inclusão das pessoas com deficiência. Um dos argumento
utilizados pelo Instituto Ethos é o de que as pessoas com deficiência ainda sofrem a
falta de oportunidades no mercado de trabalho. Diante disso, a criação do Fórum é
situada como instrumento que pode atuar decisivamente para reverter essa situação4.
Outra iniciativa do Instituto Ethos é a difusão dos fundamentos da inclusão
social através de sua linha de publicações, utilizada como elemento de comprovação das
verdades que o Instituto vem difundindo. Uma publicação que vem sendo utilizada
como referência sobre a inclusão social é o manual O que as empresas podem (e devem)
fazer pela inclusão social das pessoas com deficiência, de 2002, sistematizado por
Marta Gil à pedido do próprio Instituto5.
Nesse manual, consta a afirmação de que o “Instituto Ethos considera que a
inclusão faz parte do compromisso ético de promover a diversidade, respeitar a
diferença e reduzir as desigualdades sociais” (GIL, 2002, p.7).

4
Essas e outra informações podem ser obtidas na publicação “Fórum de empregabilidade da pessoa
com deficiência”, de 24 de setembro de 2009, na qual Sérgio Mindlin, um dos fundadores do Instituto
Ethos, defende a importância de se constituir um fórum de empregabilidade da pessoa com
deficiência. Disponível em <http://institutoethos.blogspot.com/2009/09/forum-de-empregabilidade-
da-pessoa-com.html>.
5
Em geral, as publicações do Instituto Ethos são coordenadas por intelectuais orgânicos à serviço desse
aparelho privado de hegemonia. Marta Gil, que sistematizou o documento em questão a pedido do
Instituto Ethos, formou-se em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e, a partir da década de
1990, destacou-se no planejamento, implementação e coordenação de redes de comunicação e
informação sobre deficiência, dedicando-se à realização de ações e orientações de projetos voltados à
inclusão social e aos Direitos Humanos. Algumas das iniciativas coordenadas por Marta Gil são as
seguintes: Reintegra (Rede de Informações Integradas sobre Deficiências), Rede SACI (Solidariedade,
Apoio, Comunicação e Informação), Campanha Acesso de Humor, além da pesquisa “Caracterização
sociológica de indivíduos portadores de cegueira e deficiência visual”. Essa intelectual atuou como
consultora em instituições e projetos, dentre os quais pode-se destacar: a equipe de Deficiência e
Desenvolvimento Inclusivo do Banco Mundial, a Secretaria de Educação à Distância do MEC, o
CTDRHU (Centro de Treinamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos da Secretaria de Estado
da Educação de São Paulo), o Programa Acessa São Paulo de capacitação de monitores e elaboração
de material didático e a série Vida em Movimento. Essas e outras informações podem ser obtidas no
site: <http://www.forumdaconstrucao.com.br/mostraperfil.php?cod=169>.
Essa afirmação já evidencia um objetivo proclamado pelo documento, qual
seja, o de atuar de acordo com o princípio ético de promoção da diversidade, de respeito
às diferenças e de redução das desigualdades sociais. O estabelecimento desse objetivo
integra a defesa do Instituto Ethos pela adoção, por parte do empresariado, de princípios
éticos que configurem uma face humanizada ao capitalismo. Dentre tais princípios,
encontra-se a disponibilidade para defender a diversidade em todos os campos da vida.
É fundamental destacar que o respeito às diferenças humanas é uma ação
importante, que deve sim ser adotada pelo conjunto da sociedade. Entretanto, deve-se
estar atento ao fato já mencionado por Duarte (2006) e reforçado por Pina (2009) de que
o princípio do respeito às diferenças tem sido utilizado para legitimar a sociedade
capitalista. Com o Instituto Ethos não é diferente. A própria citação apontada
anteriormente já fornece uma valiosa dica para a identificação das bases ideológicas que
sustentam a proposta de inclusão social das pessoas com deficiência.
Consta, na afirmação, que o Instituto Ethos considera a inclusão social como
parte integrante do compromisso ético de reduzir as desigualdades sociais. Ora, a
desigualdade social nada mais é que uma expressão da contradição capitalista, e pôr fim
a desigualdade demanda o ataque aos fundamentos centrais do modo de produção
vigente. O Instituto Ethos não defende a erradicação nem o ataque aos determinantes
essenciais desse problema social. Sua defesa reside na contenção, ou dito de outra
forma, na redução da desigualdade social.
O Instituto Ethos vai ainda mais além nas formulações sobre a redução da
desigualdade, o que deixa claro seu posicionamento sobre o tema. Em um documento
mais recente desse organismo, publicado em 2008 com o título de Diversidade e
Eqüidade – Metodologia para o senso nas empresas (ETHOS, 2008), consta a
afirmação de que existem, na sociedade, “desigualdades injustas”. Vejamos o que diz o
trecho seguir:

O senso pode oferecer informações de qualidade sobre o público


interno e iniciar uma nova fase, em que os dados sejam monitorados e
resultem em planos de ação para enfrentar barreiras, desigualdades
injustas e formas de tratamento não condizentes com as práticas da
responsabilidade social para um negócio sustentável (ETHOS, 2008,
p. 5, grifos nossos).

Em linhas gerais, pode-se dizer que o senso a que se refere o texto consiste em
uma tentativa empresarial de produzir informações no âmbito interno das empresas, de
modo a desencadear ações a partir do monitoramento de “possíveis situações de
iniqüidades, assimetrias ou hierarquizações das diferenças, transformadas em motivo
para essas desigualdades injustas” (ETHOS, 2008, p.7). As desigualdades injustas
seriam, de acordo com o documento, aquelas relacionadas à sexo, cor ou raça, idade e
deficiência. Não há nenhuma indicação sobre quais seriam as “desigualdades justas”.
Entretanto, ao considerar o conjunto das reflexões apresentadas no documento, torna-se
possível constatar que, para o Instituto Ethos, a desigualdade de classe, embora não seja
mencionada, toma a forma de algo, no mínimo, desejável. Essa afirmação sustenta-se no
fato de que a luta pela desigualdade proposta pelo documento refere-se à superação de
condições de inferioridade social que atingem indivíduos pertencentes a grupos
historicamente discriminados. As ações propostas pelo Instituto Ethos, sobretudo por
estarem centradas no paradigma da inclusão, não buscam superar a desigualdade
político-econômica marcada pela divisão de classes, mas apenas aquelas desigualdades
classificadas pela visão burguesa como “injustas”. Evidência disso é a defesa pela
inclusão social no mercado de trabalho, a qual demonstra o entendimento de que não é
a exploração o problema a ser atacado, mas, sim, a “exclusão”, que estaria impedindo as
pessoas com deficiência de venderem sua força de trabalho no mercado.
Um pressuposto fundamental da sociedade capitalista consiste na dissociação
entre os trabalhadores e a propriedade dos meios pelos quais realizam o trabalho. Essa
dissociação formou duas espécies diferentes de possuidores de mercadoria: o
proprietário de dinheiro, de meios de produção e de meios de subsistência, interessado
em produzir capital; e o trabalhador, detentor apenas de sua força de trabalho, que a
vende como condição para manter sua própria existência. Essa divisão mantém sua
essência até os dias de hoje, sendo que o sentido de superfluidade característico da
sociedade capitalista contemporânea descarta e torna supérflua parcela enorme da força
humana mundial que necessita trabalhar para sobreviver (ANTUNES, 2005). Ao invés
de atacar essa divisão da sociedade que força os trabalhadores a venderem sua força de
trabalho para a produção de capital, o Instituto Ethos se contenta em lutar pela
“inclusão” das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Seguindo a tendência
de entender que o “problema dos dias de hoje” não é a exploração, mas a “exclusão”, o
referido Instituto não se propõe a superar as leis fundamentais das relações capitalistas
na produção da existência humana, mas, apenas, promover adequações jurídicas e
culturais para que os portadores de deficiência tenham maiores oportunidades de vender
sua força de trabalho. Sua forma de ação sustenta-se no entendimento de que é preciso
“mudar o mercado”, em especial, as empresas, para que as pessoas com deficiência
possam competir por vagas nos postos de trabalho juntamente com os outros
trabalhadores.
Sassaki (1999, p. 60) explica que, no passado, o mercado de trabalho poderia
ser comparado a um campo de batalha: de um lado, estariam as pessoas com deficiência
e seus aliados, empenhando-se arduamente para conseguir alguns empregos; e de outro,
estariam os empregadores, praticamente despreparados e desinformados sobre a questão
da deficiência, recebendo ataques furiosos por não preencherem as vagas com
candidatos portadores de deficiência tão qualificados quanto os candidatos não-
deficientes.
O “no passado” a que se refere o autor consiste em um momento histórico
frequentemente denominado de “fase da exclusão”. Nela, “a pessoa com deficiência não
tinha nenhum acesso ao mercado de trabalho competitivo” (SASSAKI, 1999, p.60).
Trata-se da fase em que “a humanidade considerava uma crueldade a idéia de que
pessoas deficientes trabalhassem”, visto que “empregar pessoas deficientes era tido
como uma forma de exploração que deveria ser condenada por lei” (SASSAKI, 1999,
p.60).
Com o passar dos anos, porém, ganhou espaço o entendimento de que as
pessoas com deficiência também poderiam ser exploradas para a produção de capital.
Daí a atual defesa do paradigma da inclusão para que as pessoas com deficiência sejam
“inseridas no mercado de trabalho”. Para tanto, o paradigma da inclusão defende a
necessidade de consolidar uma nova fase, na qual o mercado de trabalho não seja
entendido como campo de antagonismo entre as classes sociais. Se, na “fase da
exclusão”, o mercado de trabalho era composto, de um lado, pelos capitalistas e, de
outro lado, pelos trabalhadores (sejam eles deficientes ou não deficientes),

na atual fase da inclusão, o mundo do trabalho tende a não ter dois


lados. Agora, os protagonistas, em geral, parecem querer enfrentar
juntos o desafio da produtividade e competitividade. A idéia que
começou a vingar timidamente é a de que não haverá mais batalhas e
muito menos vencedores e vencidos. Surge, então, no panorama do
mercado de trabalho a figura da empresa inclusiva (SASSAKI, 1999,
p.65).

A “empresa inclusiva”, segundo Sassaki (1999), é aquela que acredita no valor


da diversidade humana, contempla as diferenças individuais, efetua mudanças nas
práticas administrativas, implementa adaptações nos ambientes físicos, adapta
procedimentos e instrumentos de trabalho, além de treinar todos os recursos humanos na
questão da inclusão. Seria, portanto, uma empresa “mais humana”, que obtém lucro,
mas não deixa de atuar de acordo com o princípio ético de “valorização das diferenças”.
A inclusão social no mercado de trabalho é entendida pelo Instituto Ethos como uma
das exigências que, ao emergir das relações sociais, impuseram a necessidade de
promover mudanças no pensamento empresarial. Em vista disso, o Instituto defende a
figura da empresa inclusiva, afirmando que é preciso fazer mais do que contratar as
pessoas com deficiência, tal como evidencia a afirmação a seguir:

Quanto à inclusão no mercado de trabalho, é necessário assegurar as


condições de interação das pessoas portadoras de deficiência com os
demais funcionários da empresa e com todos os parceiros e clientes
com os quais lhes caiba manter relacionamento. Não se trata, portanto,
somente de contratar pessoas com deficiência, mas também de
oferecer as possibilidades para que possam desenvolver seus talentos e
permanecer na empresa, atendendo aos critérios de desempenho
previamente estabelecidos (GIL, 2002, p.11).

Aparentemente, a “empresa inclusiva” pode significar um avanço em relação à


“empresa comum”, visto que aquela possibilita às pessoas com deficiência uma
ampliação da possibilidade de garantir sua própria sobrevivência, a partir da venda de
sua força de trabalho. Da mesma forma, pode-se considerar um avanço o
reconhecimento da pessoa com deficiência como indivíduo possuidor de capacidades
laborativas. Entretanto, ao visualizar esses deslocamentos levando em consideração a
totalidade da vida social, pode-se afirmar que tais avanços se deram de modo a produzir
capital. As modificações trazidas pela inclusão social no mercado de trabalho não
alteraram a essência das relações sociais capitalistas; tais modificações mantêm atuante
a lógica de explorar seres humanos. A figura da empresa inclusiva apenas reforça a ideia
defendida pelo Instituto Ethos, qual seja, a de que o lucro, não é incompatível com a
adoção de princípios éticos supostamente comprometidos com a valorização da
diversidade.
A proposta do Instituto Ethos, de promover a inclusão das pessoas com
deficiência no mercado, expressa a compreensão imediata do fenômeno que gerou a
segregação de indivíduos pertencentes a esse grupo social. Tal compreensão considera
que o referido fenômeno corresponde a uma exclusão. É como se as pessoas “excluídas”
estivessem fora da sociedade ou do mercado, por exemplo. Daí a ideia de que a ação de
combate à exclusão seria a de “inserir as pessoas excluídas”. Essa ação, porém, não leva
em consideração a necessidade de atacar a raiz do problema, o capitalismo, que empurra
parte da classe trabalhadora para as margens da sociedade. Não é demais mostrar que os
conceitos de inclusão social e inclusão profissional, adotados pelo Instituto Ethos,
fornecem a base para tal linha ação:

Inclusão profissional: Processo de inserção no mercado de trabalho


de cidadãos que dele foram excluídos. No caso dos portadores de
deficiências, a inclusão diz respeito, além de sua contratação, ao
oferecimento de oportunidades de desenvolvimento e progresso na
empresa. Inclusão social: Processo de inserção na sociedade – nos
mercados consumidor e profissional e na vida sociopolítica – de
cidadãos que dela foram excluídos, no sentido de terem sido privados
do acesso a seus direitos fundamentais (GIL, 2002, p.53, grifos da
autora).

Segundo Fontes (2005), o fato de grandes parcelas da população ficarem de


fora do processo de assalariamento durante longos períodos não significa que tenham
permanecido fora das relações capitalistas. Assim, a segregação de grupos
historicamente discriminados não é, em essência, uma exclusão, visto que os grupos em
tese “excluídos” ainda se encontram no interior das relações sociais capitalistas. A
afirmação de que grupos sociais foram excluídos, isto é, mantidos de fora, desconsidera
que, independentemente da forma pela qual as populações ou grupos sociais se
conectam às relações sociais capitalistas, todos fazem parte dessas relações, sendo de
alguma forma afetados por elas.
O Instituto Ethos não consegue entender que a partir da submissão à intenção e
objetivação do contínuo acúmulo de capital, inúmeros grupos sociais são obrigados a se
adequar ao modo de vida exigido pelo bloco no poder. É exatamente tal obrigação que
empurra para as margens da sociedade as pessoas com deficiência. “Reinseri- los” na
sociedade, ou se preferir, no mercado, sem alterar a dinâmica capitalista não impede que
os “incluídos” sejam novamente deslocados do centro da vida social. Portanto, a ação
proposta pela inclusão social de “inserir as pessoas de volta” se mostra insuficiente nos
marcos da sociedade capitalista, visto que não ataca o problema social em sua
radicalidade. Porém, embora não seja capaz de promover modificações mais profundas
nas relações sociais, tal ação possui efeitos educativos importantes para a hegemonia
burguesa.
A bandeira de luta levantada pelo paradigma da inclusão – e reforçada pelo
Instituto Ethos de Empresas e responsabilidade social – significa a substituição do
confronto de classes pela noção de que a colaboração de todos vai prover o bem-
comum. O entendimento difundido é o de que os “empresários éticos”, juntamente com
o conjunto da sociedade, podem implementar ações de combate a problemas sociais
contemporâneos. Trata-se de uma tentativa de configurar o consenso de que os
problemas sociais dos dias de hoje podem ser resolvidos sem a necessidade de superar o
capitalismo.
Segundo o Instituto Ethos, uma das iniciativas que deve ser adotada pelo
empresariado é a adoção de ações pautadas no conceito de “desenho universal”, como
forma de se resolver o problema da falta de acessibilidade6.
Sassaki (1999) explica que, desde a década de 1960, tem-se vivenciado um
movimento pela eliminação ou modificação de barreiras arquitetônicas. No início, o
movimento buscou chamar a atenção para a existência desses obstáculos e para a
necessidade de eliminá-los ou reduzi-los ao mínimo possível, culminando com o
conceito de “adaptação do meio físico”. Tratava-se de adaptar os ambientes físicos, os
transportes e os produtos já existentes para se tornarem utilizáveis não só pelos
portadores de deficiência, mas também pelas pessoas obesas, as de baixa estatura, as
idosas, dentre outras. Daí a referência a termos como “prédio adaptado”, “ônibus
adaptado”, “restaurante adaptado” etc. (SASSAKI, 1999). Com o passar dos anos, a luta
pela adaptação do meio físico deu lugar, segundo o autor, à luta baseada em dois outros
conceitos. O primeiro deles foi o chamado “desenho acessível”. Esse conceito surgiu a
partir do questionamento de que, ao mesmo tempo em que ambientes físicos já
construídos eram adaptados, novos ambientes inacessíveis iam sendo criados. O autor
explica que o desenho acessível defendeu a construção de projetos que levassem em
conta a acessibilidade especificamente voltada para as pessoas com deficiência, de
modo que elas pudessem utilizar os ambientes físicos e os transportes com autonomia e
independência. Daí denominações como “prédio acessível”, “ônibus acessível” etc.,
para se referir àqueles já construídos sob a ótica da acessibilidade. O outro conceito,
“desenho universal”, também chamado de “desenho inclusivo”, é mais recente na luta

6
O desenho universal articula-se à chamada “equiparação de oportunidades”, a qual é definida como o
“processo mediante o qual os sistemas gerais da sociedade, tais como o meio físico, a habitação e o
transporte, os serviços sociais e de saúde, as oportunidades de educação e de trabalho, e a vida cultural
e social, incluídas as instalações esportivas e de recreação, são feitos acessíveis para todos”
(DRIEDGER E ENNS apud SASSAKI, 1999, p.39).
pela acessibilidade. Seus produtos e ambientes não são especialmente destinados a
pessoas com deficiência, podendo ser utilizados por qualquer pessoa, deficiente ou não.
Segundo Sassaki (1999), o desenho universal poderia também ser chamado de “desenho
inclusivo”, o qual, pensado em conformidade com o paradigma da inclusão, seria capaz
de “incluir todas as pessoas”.
É possível reconhecer que o “desenho universal” pode ser considerado um
avanço, tendo em vista a ampliação das possibilidades de acesso àqueles que antes
estavam impedidos. Uma pessoa que utiliza cadeira de rodas, por exemplo, teria poucas
possibilidades de transitar pelas ruas, prédios, cinemas, teatros, escolas, hospitais etc.,
caso esses espaços apresentassem barreiras arquitetônicas. Ao modificar os espaços
físicos com base no desenho universal, a equiparação de oportunidades, de fato, amplia
as possibilidades de acesso. É com base nesse entendimento que o Instituto Ethos
incorpora o conceito de desenho inclusivo, afirmando que

As calçadas, as ruas, os transportes, os elevadores, os corredores, as


portas, enfim, os meios de acesso de que qualquer pessoa precisa
dispor são, na maior parte das vezes, obstáculos intransponíveis para
quem tem pouca mobilidade, seja ela temporária ou definitiva, e
constituem um dos principais entraves para que a pessoa com
deficiência desenvolva uma atividade produtiva. As condições de
acessibilidade oferecidas no local de trabalho tanto podem reforçar a
limitação causada por uma deficiência, quanto podem minimizá-la, ou
mesmo neutralizá. Um piso com faixa tátil de orientação para a pessoa
com deficiência visual e programação visual explícita que atenda ao
portador de deficiência auditiva beneficiam também os visitantes e
todos os que circulam naquele ambiente. Móveis e arquivos acessíveis
a um “cadeirante” também facilitam o acesso de pessoas com menor
estatura. Estima-se que o acréscimo de custo para construir seguindo
parâmetros de desenho universal seja de menos de 5%. E ele favorece
também as pessoas obesas ou cardíacas, gestantes e idosos-la. O
conceito de desenho universal demonstra que ambientes livres
beneficiam a todos, não somente às pessoas com deficiência (GIL,
2002, p.25).

Embora seja importante promover as modificações propostas pelo desenho


universal, é necessário considerar que essas mudanças são assimiladas pela dinâmica
capitalista. De fato, nem todos podem ter acesso aos serviços oferecidos na sociedade,
pois as condições de vida no capitalismo impossibilitam o acesso universal não só aos
serviços oferecidos, como aos bens produzidos pela humanidade. O Instituto Ethos
identifica a não acessibilidade, mas não a relaciona com a dinâmica capitalista. Assim,
sua linha de ação torna-se insatisfatória. A adoção do desenho universal nos transportes,
por exemplo, como sugere o Instituto Ethos, não garante a acessibilidade de todos.
Basta lembrar que, no capitalismo, tudo tende a se tornar mercadoria. Assim, embora os
serviços de transporte sejam responsáveis pelo deslocamento de uma grande quantidade
de pessoas diariamente, quando um empresário oferece tal serviço, ele não o faz para
atender essencialmente às necessidades humanas, mas, sim, para obter lucro.
A princípio, muitas pessoas precisam usar serviços de transporte como, por
exemplo, ônibus e metrô. Contudo, nem todas podem usá-los, visto que, no capitalismo,
esse serviço também é oferecido como uma mercadoria, estando, portanto, destinado
apenas aos que possuem condições de consumi-lo. A construção de “ônibus inclusivos”,
pautados no desenho universal, não passa de uma ampliação do serviço de transporte
que visa incorporar novos consumidores. Dito de outra forma, embora a construção de
“ônibus inclusivos” amplie a possibilidade de locomoção das pessoas que utilizam
cadeira de rodas, por exemplo, permitindo a elas utilizar um serviço que antes lhes era
impedido, isso não significa uma alteração da lógica que rege o funcionamento desse
serviço, muito menos que tal serviço esteja efetivamente acessível para todos. Para
tornar o serviço de transporte efetivamente acessível para todas as pessoas, seria
necessário superar a lógica capitalista que o rege, além das modificações propostas pela
inclusão que ampliam a possibilidade de acesso aos deficientes, idosos, obesos, dentre
outros.
O Instituto Ethos, seguindo o paradigma da inclusão, utiliza a luta pela
acessibilidade como uma tentativa de convencer o conjunto da sociedade de que o
problema da não acessibilidade pode ser resolvido sem a superação do capitalismo.
Desconsidera-se que é esse modo de produção da vida humana o principal responsável
pela construção de “obstáculos intransponíveis”. Assim, torna-se mais fácil ocultar o
fato de que, no capitalismo, a circulação de ônibus inclusivos não garante o acesso real
de todos aos serviços de transportes, a construção de casas com portas mais largas não
garante efetivamente o acesso à moradia, assim como a eliminação de barreiras
arquitetônicas no ambiente de trabalho não garante o real acesso ao emprego7.

7
Até mesmo a utilização de calçadas vem sendo condicionada aos interesses do capital. Mclaren e
Fahramandpur (2003) explicam que a “privatização das calçadas” vem sendo pensada como
alternativa para impedir que pessoas desabrigadas deitem ou sentem nas calçadas do “distrito de
negócios”. Tal fato ampliaria ainda mais a não-acessibilidade promovida pelo capital, pois até mesmo
a calçada (seja ela “adaptada”, “acessível” ou “inclusiva” teria acesso restrito aos que possuem o
privilégio de consumo.
É importante destacar que um fator essencial que determina a defesa do
Instituto Ethos pela inclusão social reside nos benefícios a serem obtidos pelas
empresas.
No plano mais geral das relações de hegemonia, a repercussão positiva da
atuação dos “empresários éticos” e da “empresa cidadã” é importante para sinalizar que
as “ações socialmente responsáveis” são promotoras de uma nova dinâmica social, o
capitalismo de face humanizada, um mundo em que todas as pessoas teriam
oportunidades de trabalho e vida.
No plano específico da concorrência inter-capitalista, o Instituto Ethos indica
que o simples fato de contratar pessoas com deficiência já agrega valor à marca, criando
um diferencial ao produto no mercado consumidor. Sobre esse tema, o Instituto afirma
que

O prestígio que a contratação de pessoas com deficiência traz às


empresas está bastante evidente na pesquisa Responsabilidade Social
das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro, realizada
anualmente no Brasil, desde 2000, pelo Instituto Ethos, jornal Valor e
Indicator. Em 2000, 46% dos entrevistados declararam que a
contratação de pessoas com deficiência está em primeiro lugar entre as
atitudes que os estimulariam a comprar mais produtos de determinada
empresa. Em 2001, essa continuou sendo a atitude mais destacada,
com 43% dos consumidores entrevistados repetindo essa mesma
resposta (GIL, 2002, p. 19).

Além da valorização da marca, a contratação da força de trabalho de pessoas


com deficiência gera fortalecimento organizacional, potencializando o aumento da
produtividade do trabalho. Segundo o Instituto Ethos,

A empresa inclusiva reforça o espírito de equipe de seus funcionários,


fortalecendo a sinergia em torno dos objetivos comuns e expressando
seus valores coletivamente. O ambiente físico adequado atenua as
deficiências e torna-se mais agradável para todos. Enfim, esses fatores
humanizam mais o ambiente de trabalho. Com um clima
organizacional assim, também é possível obter ganhos de
produtividade, se as pessoas com deficiência estiverem devidamente
inseridas nas funções onde possam ter um bom desempenho (GIL,
2002, p.19).

Seis aspectos são apontados pelo Instituto Ethos como sendo os principais
ganhos cumulativos para o empresariado, a saber: 1) o desempenho e a produção das
pessoas com deficiência, que muitas vezes supera as expectativas do início do contrato;
2) o desempenho da empresa que mantém empregados portadores de deficiência, em
geral, é impulsionada pelo clima organizacional positivo; 3) os ganhos de imagem
tendem a fixar-se a longo prazo; 4) os impactos positivos de empregar pessoas com
deficiência refletem-se sobre a motivação dos outros funcionários; 5) os empregados
portadores de deficiência ajudam a empresa a ter acesso a um mercado significativo de
consumidores com as mesmas características, seus familiares e amigos; 6) o ambiente
de trabalho fica mais humanizado, diminuindo concorrência selvagem e estimulando a
busca da competência profissional.
Embora enfatize os ganhos da empresa, o Instituto Ethos defende o
entendimento de que a inclusão social beneficia também os trabalhadores, sejam eles
deficientes ou não, trazendo repercussões positivas para toda a sociedade. Assim,
difundindo a ideia de que a inclusão social é um ganho para todos, o Instituto procura
afirmar os interesses particulares do empresariado como se fossem interesses de toda a
sociedade. O chamado “círculo virtuoso da inclusão das pessoas com deficiência” nos
fornece elementos para identificar os ganhos reais dos trabalhadores – com ou sem
deficiência.

Figura 1 – O círculo virtuoso da inclusão das pessoas com deficiência

Fonte: GIL (2002, p. 12)


O suposto círculo virtuoso nos fornece elementos que nos permitem destacar o
seguinte: a afirmação de que “todos ganham com a inclusão social” consiste em uma
tentativa de legitimar os interesses do empresariado através do convencimento. A noção
de empregabilidade, situada como prioridade do círculo virtuoso da inclusão, é
apresentada pelo Instituto Ethos como sendo algo benéfico aos trabalhadores. Assim,
torna-se possível convencer-los de que a empregabilidade é um bem-comum a ser
adotado pelo conjunto da sociedade.
Cumpre ressaltar que, sob o ponto de vista da burguesia, na atual fase
capitalista, o trabalhador deve possuir “novas” capacidades – chamadas de
competências – que o permitam contribuir para o contínuo acúmulo de capital. Ao
mudar as bases materiais de produção, o regime de acumulação flexível (HARVEY,
2007) tornou necessária a capacitação de um trabalhador de “novo tipo”. Assim, o bloco
no poder passou a almejar um trabalhador capaz de desempenhar múltiplas tarefas, sem
o alto grau de especialização presente no fordismo. Não mais o executor de tarefas
repetitivas e segmentadas, do regime de acumulação taylorista/fordista, mas o possuidor
de competências cognitivas complexas. Dentre as competências exigidas pelo regime de
acumulação flexível, pode-se citar, dentre outras: o domínio do raciocínio abstrato; a
tomada de decisões; a facilidade de trabalhar em equipe; a comunicação clara e
objetiva; a resolução de problemas; a adaptação aos avanços tecnológicos; a
responsabilidade pessoal sobre a produção; além de qualificação diversificada e de uma
visão globalizante dos processos tecnológicos, que permita o desempenho de tarefas
múltiplas (RUMMERT, 2000).
Desse modo, o projeto de formação humana, mediado pela ideologia da
responsabilidade social, envolve não só a formação técnica, mas também a ético-
política. Sobre este aspecto, a finalidade é educar a classe trabalhadora para aceitar –
como inevitável e até mesmo desejável – a perda de soberania nacional, a
desindustrialização, o crescimento do desemprego, a flexibilização das relações de
trabalho, a instabilidade social e profissional, o agravamento da “exclusão social”, a
perda de direitos historicamente conquistados e a recorrência à competição, ao
individualismo, à passividade ou mesmo à restrita participação política como estratégia
de convivência social (NEVES, 2007).
Vale destacar que um dos aspectos demandados pelo capitalismo, no que diz
respeito à formação ético-política, se refere à aceitação do crescimento do desemprego
como algo inevitável ou até mesmo desejável. É por isso que, desde a década de 1980,
passou-se a estimular os trabalhadores a aceitarem os termos da empregabilidade –
exatamente o conceito priorizado pelo Instituto Ethos como a “prioridade do negócio”.
De acordo com Gentili (2005), a empregabilidade é o eufemismo da
desigualdade estrutural que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade
– também estrutural – da educação em cumprir sua promessa integradora. Conforme
explica o autor, esse conceito ganhou centralidade a partir da década de 1990, sendo
definido como eixo fundamental de um conjunto de políticas supostamente destinadas à
diminuição de riscos sociais gerados pelo desemprego. Para o discurso dominante, o
conceito de empregabilidade não significa garantia de inclusão, mas apenas melhores
condições para competir na luta pelos poucos empregos disponíveis no mercado de
trabalho. Esse conceito acaba com a concepção do emprego e da renda como esferas de
direito, pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condições de
empregabilidade não garante a inserção no mercado (GENTILI, 2005).
Portanto, pode-se dizer que a empregabilidade, prioridade do círculo virtuoso
da inclusão das pessoas com deficiência, não passa de um conceito que expressa o
interesse da classe burguesa em educar os trabalhadores para a nova sociabilidade. Esse
interesse específico do empresariado, porém, é apresentado pelo Instituto Ethos como se
fosse representante do interesse comum. Assim, fazendo uso de estratégias de
convencimento, torna-se mais fácil afirmar sua linha de ação.
O Instituto Ethos, conforme ilustra a epígrafe desta seção, defende a ideia de
que a empresa inclusiva é boa para os trabalhadores. No seu entendimento uma
sociedade com “empresas boas” será uma sociedade saudável, pois terá respeito pelos
seres humanos e pelas suas diferenças. Essa ideia defendida pelo Instituto Ethos ilustra
sua tentativa de tornar as empresas “mais humanas” no intuito de contribuir para a
construção de um “capitalismo humanizado”. Entretanto, não se pode esquecer que a
empresa inclusiva mantém a mesma lógica da empresa comum: visa explorar seres
humanos para produzir lucro. Uma empresa que segue essa lógica só pode ser
considerada boa por aqueles que não sentem – de forma mais dramática – os efeitos da
dinâmica capitalista. Se considerarmos o crescente número de trabalhadores que, por
não conseguir vender sua força de trabalho ao capital, são empurrados para miséria,
torna-se possível entender que, em essência, as modificações introduzidas pela inclusão
social não trazem benefícios reais à classe trabalhadora no geral. O trabalho realizado
pelos trabalhadores nas empresas inclusivas não deixam de ser um trabalho alienado. E
enquanto a atividade vital dos trabalhadores – sejam eles deficientes ou não – se
configurar como um processo alienado e/ou alienante, não será possível configurar uma
sociedade que, de fato, valorize as diferenças humanas. O “capitalismo humanizado”, a
que almeja o Instituto Ethos, não deixa de ser uma sociedade na qual a atividade vital
dos seres humanos assume a forma de um processo alienado e alienante. Por meio da
defesa da inclusão social, os intelectuais orgânicos da burguesia visam manter esse
modo de produção da vida humana através da articulação do paradigma da inclusão à
responsabilidade social, de modo a legitimar um modo de vida que reforce a dominação
capitalista através da obtenção do consenso.
Em síntese, é possível afirmar que o empresariado busca obter vantagens com a
inclusão social, tanto como diferencial na concorrência intercapitalista quanto na
educação do consenso para, assim, legitimar a sua condição de classe dirigente.

Considerações finais
Os enunciados gerais do Instituto Ethos afirmam os fundamentos da
responsabilidade social como algo a ser seguido pelo conjunto da sociedade, o que
acaba por evidenciar sua atuação ideológica. Suas formulações reúnem concepções,
idéias, experiências e propostas que empurram os homens para a ação coletiva, visando
alcançar os objetivos políticos de médio e longo prazo no país. Assim, o Instituto Ethos
cumpre a missão de consolidar referências simbólicas e materiais importantes para
afirmar a “nova pedagogia da hegemonia”.
Através da qualificação de novos intelectuais orgânicos, o Instituto Ethos iniciou
a construção de uma unidade político-ideológica voltada à legitimar o papel do
empresário moderno: o “financiador do bem-comum e da solidariedade”, um exemplo a
ser seguido por todos, constituindo, desse modo, uma “direita para o social”. Procurou
legitimar também a sua nova plataforma de intervenção na realidade, apresentando-a
como referência para ação de outros cidadãos e organismos da sociedade civil.
A direita para o social vem se afirmando no século XXI como força política
capaz de impulsionar e orientar a ação política do conjunto da sociedade, a partir da
difusão de um novo padrão de sociabilidade, estabilizador das relações sociais, algo
positivo para a manutenção do sistema capitalista (MARTINS, 2009). O
reposicionamento dos empresários face à nova ideologia revela que está em curso em
nosso país a formação de um importante segmento da classe, comprometido com as
causas sociais e ambientais do país e do mundo. O crescimento deste grupo pode ser
apreendido a partir da análise dos estudos de Pelliano (2003a; 2003b; 2006). Isso
significa que, ao lado do Instituto Ethos, um aparelho formulador da ideologia burguesa,
associam-se outros aparelhos privados (as empresas) com a missão de difundir
molecularmente a nova ideologia.
O processo de análise da atuação do Instituto Ethos tem revelado que esse
aparelho privado de hegemonia é uma expressão singular da direita para o social, que
tem empregado, ao menos, três indicações para educar o consenso: (1º) o confronto de
classes e os questionamentos à ordem estabelecida devem dar lugar à noção de
colaboração de todos para o “bem-comum”; (2º) a sociedade deve ser preparada para se
ocupar da promoção do bem-estar em parceria com o Estado; (3) os cidadãos devem se
transformar em voluntários, desenvolvendo o capital social e o capital cultural de suas
comunidades. Tais indicações convergem para um ponto comum: a construção de uma
base social ampla que reivindique o “capitalismo humanizado” como horizonte
histórico.
A incorporação do paradigma da inclusão à ideologia da responsabilidade social
constitui uma das estratégias de formação dessa base social que tem a manutenção do
capitalismo como horizonte histórico. Por meio dessa ação, o Instituto Ethos busca
estimular a colaboração entre capital e trabalho no sentido da construção da coesão
social e da nova cultura cívica como forma de negação da luta de classes.
A ação do Instituto Ethos, ao defender o paradigma inclusão como forma de
construção do consenso, confirma, na prática social concreta, que os processos de
dominação burguesa na atualidade ocorrem por meio de estratégias cada vez mais
refinadas, ainda que persistam velhas práticas políticas referenciadas pelo uso da força
direta. As novas estratégias possuem um duplo sentido político: ao mesmo tempo em
que reafirmam, num patamar superior, a condição do empresariado como classe
dirigente, difundem um conjunto de referências materiais e simbólicas que asseguram e
legitimam, como válidas, as bases do modo de produção capitalista da existência.

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