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INTRODUÇÃO
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Aluna do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de
Educação da Universidade de Brasília, sob orientação da Professora Drª Maria Abádia da Silva.
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Neste texto, são sinônimos: trabalho pedagógico, trabalho docente e trabalho dos professores.
Situa-se dentro do conceito de trabalho improdutivo e imaterial desenvolvido por Marx na análise
do trabalho na sociedade capitalista. Trata-se de trabalho que não produz mais-valia, ou seja, não
produz valor de troca imediata para a acumulação de capital. (MARX apud ANTUNES, 2004).
O trabalho docente tem um papel decisivo no processo educacional (Item 10.2 das Diretrizes para
a formação dos professores e valorização do magistério do capítulo IV do PNE).
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São objetos de reflexão, nesse texto, essa ação sutil que envolve o Estado, a
cultura produzida em sociedade e os sujeitos envolvidos, todas essas dimensões exigem
um novo tipo de profissional, e entre esses, um novo tipo de trabalhador da educação
pública, mais eficiente, eficaz, que produza resultados satisfatórios sob a ótica
gerencialista de análise e avaliação de políticas públicas.
Ainda segundo os autores analisados por Muller & Surel (1998a) (HALL;
SABATIER; MULLER), por trás de uma política pública há uma matriz cognitiva e
normativa comum a determinados sujeitos, cujo objetivo é:
Capitalismo concorrencial
Capitalismo monopolista
Capitalismo financeiro globalizado
A análise das políticas públicas pode servir de instrumento para compreender
como o Estado atua na construção das relações sociais mais complexas, desde as
relações econômicas até as culturais, produzidas no cotidiano das instituições públicas,
como a escola, por exemplo.
A educação escolarizada passa, a partir dos anos de 1990, a ser vista como
problema e como solução. Problema, pois o Estado gerencia mal seus recursos, e por
isso, a qualidade da escola pública tem sido questionada pela sociedade. Solução, porque
a partir da escola é possível formar o cidadão responsável e competitivo. É preciso então,
maior eficiência na administração de seus recursos, melhor eficácia e produtividade nos
resultados. Segundo o discurso neoliberal, é urgente trocar a lógica ineficiente de que a
educação escolarizada é um direito público e estatal, por uma lógica interinstitucional,
flexível e meritocrática, a lógica do mercado.
Silva (1996) faz um alerta de o provável rumo a ser tomado em relação à divisão
do trabalho na educação em substituição ao modelo anterior, como estratégia
disciplinadora de uma força de trabalho considerada ociosa e ineficiente.
À procura dessa particularidade, Hypolito (op. cit.) incita à reflexão sobre a base
material das relações de poder travadas no interior da escola, e sugere que o olhar sobre
o desenvolvimento e transformação que a organização do trabalho escolar sofre ao longo
da história pode contribuir para esse debate.
O trabalhador em educação passa de um profissional de prestígio, autônomo,
possuidor de um saber, controlador de seu trabalho para um trabalhador assalariado, com
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Expressão fundida entre as duas formas hegemônicas de organização do trabalho no século
XX. “Fordismo é um termo que se generalizou a partir da concepção de Gramsci, que o utiliza para
caracterizar o sistema de produção e gestão empregado por Henry Ford em sua fábrica, a Ford
Motor Co....”, distingue-se pela produção em massa, separação entre concepção e prática do
trabalho, resultando em trabalho fragmentado, simplificado e repetitivo, demandando por isso
pouco tempo de qualificação do trabalhador; fundamenta-se na linha de montagem e a esteira
rolante que mantém o trabalhador parado e um fluxo contínuo da produção das peças. Taylorismo:
“Sistema de organização do trabalho, especialmente industrial, baseado na separação das funções
de concepção e planejamento das funções de execução, na fragmentação e na especialização das
tarefas, controle de tempos e movimentos de remuneração por desempenho” (CATTANI, 2000).
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Conceito formulado por Antunes (1999) para atualizar e reafirmar o conceito marxista de classe
trabalhadora. Distingue a classe dos capitalistas e a classe daqueles que não possuem os meios
de produção, ou seja, incluem além dos trabalhadores ativos e produtivos, os trabalhadores do
setor improdutivo, desempregados, trabalhadores dos setores informais e ilegais. São também
aqueles trabalhadores que vendem sua força de trabalho em troca de um salário. Excluem, por sua
vez, os gestores do capital, seus altos funcionários que controlam o processo de trabalho de
valorização e reprodução do capital e que recebem rendimentos elevados; exclui também os
pequenos empresários urbanos e rurais.
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e faz uma relação dessa reestruturação com as novas formas de trabalho desenvolvidas
na escola.
Para a autora, esses elementos não são novos, desde os anos sessenta inicia-se
uma reformulação no modo de produção, na organização do trabalho e nas formas de se
exercer o poder sobre os trabalhadores. A internacionalização sempre foi uma
característica da natureza do sistema capitalista, desde a Segunda Guerra o movimento
das multinacionais foi de expansão. A guerra fria e a posição estratégica dos EUA como
reconstrutor das economias europeias e japonesa foram importantes nesse processo. A
criação dos organismos internacionais deu-se nesse cenário, quando a forma de
concentração de capitais proporcionava a inter-relação entre os Estados nacionais, por
meio de agentes de desenvolvimento local. Os Estados, portanto, tinham poder de
regulação das relações econômicas. Esse sistema de relação entre os Estados-nações e
o capital durou até a década de 70. A partir desse período, o capital prescinde dos
Estados-nações, pois a concentração de capital chegou ao ponto de as próprias
empresas se relacionarem entre si, sem a intermediação dos Estados, situação propiciada
pelo desenvolvimento das tecnologias de informação que permitem comunicação
instantânea e ininterrupta.
Diante disso, o poder se concentra em graus cada vez mais altos:
À GUISA DE CONCLUSÃO
Percebemos, com isso, que as políticas públicas levaram mudanças à escola, não
necessariamente todas àquelas reivindicadas pelas comunidades escolares e pelos
movimentos em favor da educação pública de qualidade, e essas mudanças incidem,
sobretudo, no trabalho realizado na escola.
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“Cultura organizacional significa um dado modo de vida, um sistema de crenças e valores, uma
forma aceita de interação e de relacionamento característicos de determinada organização [...] O
clima organizacional constitui o ambiente psicológico de uma dada organização...” (BRUNO, op. cit.
p. 32-33).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CATTANI, Antonio David (org.). Dicionário crítico sobre Trabalho e Tecnologia. 4. Ed.
Petrópolis: Vozes; Porto Alegre: UFRGS, 2002.
LIMA, Sandra Mara Maciel de. Autonomia versus heteronomia: impactos da tecnologia
informacional sobre o trabalho na saúde. Revista da FAE, Curitiba, v.7, n.1, p.103-118,
jan./jun. 2004.
MARX, K. & ENGELS, F. A ideologia alemã (Feuerbach). 11 ed. São Paulo: Hucitec,
1999.
MULLER, P. & SUREL, YVES. Teorias da ação pública: novas abordagens. (tradução
livre) In: L'Analyse des Politiques Publiques. Paris: Montchrestien, 1998a.
_____; GONÇALVES, Gustavo Bruno B.; MELO, Savana D.; FARDIN, Vinicius; MILL,
Daniel. Transformações na Organização do Processo de Trabalho Docente e o
Sofrimento do Professor.
Disponível em:
http://72.14.209.104/search?q=cache:YBtzDq8xV6wJ:www.fae.ufmg.br/estrado/
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SILVA, Tomaz Tadeu da. O projeto educacional da nova direita e a retórica da qualidade
total. In: SILVA Tomaz Tadeu da & GENTILI, Pablo. Escola S.A.: quem ganha e quem
perde no mercado educacional do neoliberalismo. Brasília: CNTE, 1996. p. 167-188.