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A gestão descentralizada e
participativa das políticas públicas no Brasil
Roberto Rocha
Resumo Abstract
Este artigo analisa o novo formato da This research analyzes the new format of
gestão das políticas públicas, constituin- management of public politics, taking
do-se parte do processo de redesenho ins- part of the institutional rearrangement
titucional implementado no país na déca- implemented in this country since the
da de 1990. Este novo formato, legitima- 90s. This new format, legitimated by the
do pela Constituição Federal de 1988, Federal Constitution of 1988, instituted
instituiu a descentralização e a participa- decentralization and participation as cen-
ção como eixos centrais do processo de tral axes of the democratizing process of
democratização da gestão pública brasi- brazilian public management in the fede-
leira, nas três esferas de governo: federal, ral, state, and municipal spheres. In this
estadual e municipal. Nesta perspectiva, perspective the Management Councils be-
os Conselhos Gestores se tornam o novo come the new locus of political articula-
locus de articulação política em busca da tion searching for the definition and for-
definição e formulação de políticas públi- mulation of public politics, through the
cas, através da interação entre os atores interaction of the many actors present in
inseridos nesses espaços. these spaces.
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1. INTRODUÇÃO modelo de gestão absorve em sua estrutura
vários segmentos da sociedade, passa a se
O contexto político e social brasileiro, constituir o novo locus de articulação polí-
desde as últimas décadas do século pas-sa- tica na defesa pela democratização da ges-
do, tem sido marcado pelo processo de rede- tão das políticas públicas, através dos quais
finição do papel do Estado, a partir da uni- sujeitos diversos interagem no processo de
versalização dos direitos de cidadania, des- deliberação, gestão e controle social das po-
centralização e gestão democrática das po- líticas públicas, nas diversas áreas sociais.
líticas públicas. Trata-se, assim, de um no- Convém, então, levantar os seguintes
vo formato institucional, legitimado pela questionamentos: Como consolidar um no-
Constituição Federal de 1988, integrante do vo formato na gestão pública que tenha co-
processo de implementação da gestão des- mo eixo basilar a democratização e a parti-
centralizada e participativa, que ocorreu no cipação social na implementação das políti-
Brasil nos anos de 1990, nas esferas muni- cas públicas? Em que medida o cenário atu-
cipal, estadual e federal. al possibilita de fato a consolidação da ges-
A Constituição Federal, ao assegurar, tão pública descentralizada e participativa?
dentre os seus princípios e diretrizes, “a par- A participação da sociedade civil está mesmo
ticipação da população por meio de orga- delineando novas tendências na gestão das
nizações representativas, na formulação das políticas públicas? Tais questões indicam a
políticas e no controle das ações em todos necessidade da discussão sobre a gestão par-
os níveis” (Art. 204), institui, no âmbito das ticipativa na sociedade brasileira, o que sig-
políticas públicas, a participação social co- nifica compreender até onde se pode falar
mo eixo fundamental na gestão e no con- em constituição de novas formas de gestão
trole das ações do governo. Após a sua pro- das políticas públicas no Brasil, como resul-
mulgação, o grande desafio passou a ser a tados dos encontros e desencontros na rela-
regulamentação dos preceitos constitucio- ção entre Estado e Sociedade Civil.
nais a fim de se efetivar a “tão sonhada”
participação popular. Iniciou-se, desde en- 2 O PROCESSO DE REDEFINIÇÃO INSTITU-
tão, uma intensa mobilização e articulação CIONAL DA GESTÃO PÚBLICA BRASILEIRA
dos diversos segmentos sociais organiza-
dos, no sentido de se estabelecerem os me- A década de 1980 foi marcada, no Bra-
canismos jurídicos legais necessários à ges- sil, por profundas mudanças sociais, po-
tão descentralizada das políticas públicas. líticas e institucionais, reflexos do inten-
Nesse novo formato institucional, sur- so processo de busca pela democratização
gem os Conselhos Gestores1 como um no- da gestão pública brasileira. Nesse cenário,
vo padrão de interação entre governo e so- começam a ser travados fortes embates en-
ciedade, exigindo-se dos cidadãos uma atu- tre o poder estatal, movimentos sociais e
ação efetiva, por meio de processos inte- organizações da sociedade civil, desenca-
rativos, no âmbito da gestão pública. Esse deando-se uma trajetória de lutas pela am-
3. Alguns autores, como Benevides (1991), Dagnino (1994) e Teles (1994), procuram demonstrar que a
cidadania é um processo de construção, conquista e reconstrução de direitos, que não “se vinculam a
uma estratégia das classes dominantes e do Estado para a incorporação política progressiva dos setores
excluídos, com vista a uma maior integração social, ou como condição jurídica e política, indispensá-
vel à instalação do capitalismo” (DAGNINO, 1994, p. 109).
5. Alguns autores, como Teles (1994), Dagnino (1994), Benevides (1991) e Bobbio (1992), procuram de-
monstrar que a cidadania é um processo de construção, conquista e reconstrução de direitos, que não
“se vincula a uma estratégia das classes dominantes e do Estado para a incorporação política progres-
siva dos setores excluídos, com vista a uma maior integração social, ou como condição jurídica e polí-
tica, indispensável à instalação do capitalismo” (DAGNINO, 1994, p. 109).
6. Em seu sentido etimológico, controle significa ato ou poder de controlar; fiscalização exercida sobre
atividades de pessoas, órgãos, para que não se desviem das normas preestabelescidas (FERREIRA, 2000).
O controle pode ser exercido e materializado pelos membros da sociedade, o que implica o controle so-
cial não só do ponto de vista do Estado sobre a sociedade, mas também da sociedade sobre o Estado.
7. O caráter deliberativo dos Conselhos compreende a participação da sociedade civil na definição de
agendas públicas que representam interesses coletivos, a formação de políticas, o controle público so-
bre as ações e decisões governamentais, a discussão de projetos relacionados ao interesse público, em
que se estabelecem alianças, explicitam conflitos, atuam como espaços que permitem a negociação, a
pactuação e a construção de consensos (CUNHA, 2002).
8. A paridade nos conselhos gestores deve ser entendida não apenas do ponto de vista quantitativo, mas,
principalmente, quanto ao aspecto qualitativo.
5. CONCLUSÃO