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COTROLE SOCIAL
A expressão controle social pode ser duplamente interpretada segundo a teoria política,
podendo assumir sentidos distintos das Na teoria política, o significado de controle social é
ambíguo, podendo ser concebido em sentidos diferentes a partir de diferentes visões de Estado
e de sociedade civil. Assim pode representar o controle exercido pelo Estado sobre a sociedade,
como do controle exercido pela sociedade, ou no caso do controle social da saúde por
movimentos sociais, sociedade civil organizada, ONG’s entre outras que agem coletivamente
sobre as ações do Estado.
Diante desses aspectos, Mannheim deixa claro que a garantia da soberania popular está
diretamente ligada ao controle social exercido pela população sobre o Estado.
De acordo com Iamamoto & Carvalho e para outros autores de linha marxistas, dentro da
economia capitalista, o Estado além de impor regras e comportamentos padrão, atua
diretamente através da sua intervenção na implementação de políticas sociais visando a
manutenção da ordem social, atuando sobre os conflitos sociais que emergem reprodução do
capital. Tendo como objetivo principal atuar em prol dos interesses das classes dominantes.
“a burguesia tem no Estado, enquanto órgão de dominação de classe por excelência, o
aparato privilegiado no exercício do controle social” (Iamamoto & Carvalho, 1988, p. 108).
Partindo de uma análise Gramsciana, devemos considerar que não há oposição entre Estado
e Sociedade, mas sim o estabelecimento uma relação orgânica entre as mesmas, visto que as
disputas são travadas entre as classes sociais, que competem pela hegemonia tanto no Estado
como na sociedade civil. Diante desse processo, podemos afirmar de acordo com Coutinho,
2002, que o controle social se dá através de uma forma contraditória, podendo ser exercido por
diferentes classes sociais. Dessa forma, para determinar qual classe exerce o controle social
sobre a sociedade, faz-se necessária uma análise das correlações de forças exercidas por elas
em determinado período histórico.
O controle social exercido pelas classes subalternas se faz a partir da formação de consensos
dentro da sociedade civil direcionado ao seu projeto de classe, quando essas classes unidas
passam a ser protagonistas da história, em luta pela superação dos modelos comportamentais
impostos. Devem adotar a tática de controle das ações do Estado, objetivando a incorporação
de seus interesses na mesma intensidade que vem representando e atendendo aos anseios da
classe dominante. Nessa perspectiva torna-se primordial a sociedade civil organizada
desempenhar seu papel representativo perante a gestão das políticas públicas, interferindo e
norteando as ações e gastos do Estado, no sentido de dar resposta aos interesses e as demandas
das classes a que representam, contribuindo no seu processo hegemônico.
Tendo como referência o estudo de Bravo e Souza (2002) que destaca quatro principais
posicionamentos teórico político dos estudos relacionados ao controle social, podemos elencar
os relacionados as teorias de Gramsci, anteriormente citado, os neo-habermasianos que
apontam os conselhos como lugar de formulação de consensos, onde diferentes opiniões devem
ser discutidas e unificadas e pactuadas, de acordo com as teorias de Habermas. Outro
posicionamento teórico parte da análise de Estado e as instituições como aparelhos de
repressão das classes dominantes advinda da visão estruturalista althusseriana do marxismo,
que parte da negativa da historicidade e desconsidera a dimensão objetiva do real. Por último,
os estudos que questionam a democracia participativa, elegendo como modelo único a
democracia representativa, sendo esses de tendência neoconservadora.
No Brasil, as discussões e práticas há cerca da expressão controle social tiveram sua ascensão
maior durante o período da Ditadura Militar, sendo exercido por um Estado autoritário por meio
da repressão, o que implicava na total falta de diálogo entre os setores da sociedade e o Estado,
que agiu para coibir e tornar ilegal os movimentos sociais e diversas formar de organização
social, bem como a liberdade de expressão inclusive individual quando instituída a lei da
censura. Sendo essa a maneira adotada pelas classes dominantes para proporcionar o
crescimento do capitalismo monopolista no país, e exercer o controle social.
Ainda segundo Coutinho, em contrapartida as relações de poder estabelecidas pelo governo
vigente, aflorou de forma acelerada o combate ao autoritarismo imposto e as lutas por
democracia como emerge uma intensiva busca por mudanças no âmbito das políticas públicas.
O que é caracterizado como uma pseudodicotomia na relação Estado e sociedade civil, além de
uma pseudo-homogenização desta última, onde se é tratada como composta apenas pelas
classes subalternas e por progressistas. Sendo a partir dessas premissas o uso corriqueiro da
expressão controle social como a necessidade de regulação da sociedade civil sobre o Estado.
Na década de 80 retomamos o debate a respeito da participação social, fruto do período de
grande efervescência política e do processo de democratização da nação, novamente com o
entendimento de que cabe aos setores organizados da sociedade civil exercer o controle social
sobre o Estado. Começa a se tecer os moldes para a participação social no que cerne a
formulação, acompanhamento da execução e financiamento das políticas públicas por parte do
Estado, como forma de garantir os interesses da coletividade.
A participação social e o controle social foram instituídas na área da saúde de forma pioneira,
desde a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, a primeira que contou com a
participação dos movimentos sociais e usuários, e que trouxe em um de seus eixos de trabalho
o debate sobre o controle social. Sendo esta conferência um momento fruto dos embates
travados pelo Movimento de Reforma Sanitária que cominou na criação do SUS a partir da
Constituição de 1988.
Diversos autores brasileiros analisam o Controle Social no SUS, e discorrem sobre a
importância da inserção desses atores no processo de construção de uma política de saúde
democrática.
“o conjunto de intervenções que as diferentes forças sociais realizam para influenciar a formulação, a execução
e a avaliação das políticas públicas para o setor saúde” (Machado, 1987, p. 299)
“controle social é expressão de uso recente e corresponde a uma moderna compreensão de relação Estado-
sociedade, onde a esta cabe estabelecer práticas de vigilância e controle sobre aquele” Carvalho (1995, p. 8)
“ao longo de décadas, os governos submeteram os objetivos de sua ação aos interesses particulares de alguns
grupos dominantes, sem qualquer compromisso com o interesse da coletividade” (Barros, 1998, p. 31).
Tendo como base o aparado teórico de Gramsci, Abreu (1999) nos traz a categoria de Estado
ampliado onde analisa a relação orgânica entre sociedade civil e sociedade política, levantando
a discussão sobre o caráter político dos conselhos de direitos que em sua conjuntura atual,
levando em consideração as transformações das correlações de força, se aproximam mais do
controle do capital do que com a luta da classe trabalhadora.
Já outro pesquisadora de base Gramsciana, Correia (2002), diz que através das políticas
sociais o Estado exerce seu controle sobre a sociedade, ao mesmo tempo em que acolhe
algumas de suas demandas, o que torna o campo dessas políticas contraditório. E entende o
controle social como o mecanismo de força utilizado pelos movimentos sociais emergentes da
sociedade civil para intervir na gestão pública, norteando o financiamento e as ações
desenvolvidas pelo Estado para ir de encontro com as necessidades da população.
Assim, em meio a diferentes referenciais teóricos, ressaltamos o consenso existente entre as
distintas análises que tratam das relações de Estado e sociedade civil, colocando os conselhos
como instancias participativas, fruto dos embates travados no Brasil em prol da democracia.
Salientamos que os conselhos e conferências configuram fundamentais mecanismos dentro
do processo de gestão participativa, mas que não são os únicos meios de participação social e
garantia de direitos. Podemos também destacar, a atuação do ministério público, a Promotoria
dos Direitos do Consumidor (Procon), os conselhos profissionais, além das comissões setoriais
do Congresso Nacional, das Assembléias Leegislativas e das Câmaras de Vereadores. Ao mesmo
tempo em que podemos nos utilizar dos meios de comunicação como ferramentas de denúncia
e mobilização social.
Cada Conselho de Saúde deve ter seu regimento interno (devidamente discutido e
aprovado em plenária do mesmo), homologada e publicada em diário oficial.
A alocação dos recursos do Fundo Nacional de Saúde – FNS, sendo esse o maior
responsável pelo investimento e custeio na área da saúde. O financiamento federal
das ações e serviços de saúde serão repassados fundo a fundo de aos municípios,
estados e distrito federal. Esse repasse é condicionado a implantação e pleno
funcionamento dos Conselhos de Saúde.
QUESTÕES:
01- Correa (2006) sustenta que a temática do controle social tomou vulto no Brasil a partir do
processo de democratização na década de 80 e, principalmente, com a institucionalização dos
mecanismos de participação nas políticas públicas na Constituição de 1988. A autora afirma
que foi pioneira neste processo a seguinte área:
2013 - CEPERJ - SEPLAG-RJ
a) da assistência social
b) da saúde
c) da criança e do adolescente
d) do idoso
e) da Previdência Social
02 - O controle social ganhou força no Brasil no contexto das reformas durante a década de
1980.
2014 - FGV - SUSAM
Assinale:
03 - A ampliação dos processos democráticos e do controle social nas políticas tem sua
emergência institucional com a Constituição Federal de 1988 que prescreve a participação da
sociedade na gestão das políticas públicas. Entre os pressupostos centrais dos conselhos
gestores pode-se destacar:
2012 - FCC - TRT 6ª Região
A. Uma estratégia estabelecida pela elite para a reprodução social, bem como o estímulo à
subalternidade dos cidadãos e cidadãs.
B. Estabelecimento de mecanismo de representação destinado à manutenção da ordem e do
status quo.
C. O cumprimento do papel das polícias e dos tribunais que possuem essa atribuição,
exercendo-se de forma vertical e centralizada.
D. Filiada a um modelo de democracia direta e participativa.
E. Influência que o governo exerce na formação da agenda comunitária para determinada
área.
A. Tornar-se cada vez mais conselhos consultivos, na medida em que guardam em sua
composição diferentes segmentos populacionais, e excluir a responsabilização do Estado.
B. Superar a participação dos conselhos apenas como espaços de melhoria gerencial do
Estado, e reconstruir os princípios de uma sociedade mais democrática com a
responsabilização do Estado.
C. Modificar suas leis, sucumbindo a modalidade de conselhos por políticas públicas setoriais,
e criar conselhos de desenvolvimento social e econômico.
D. Ampliar sua capacidade de participação e executar ações em parceria com o Estado para
que a desigualdade social possa ser superada.
E. Ampliar a participação dos membros governamentais, sobretudo na função de presidentes
dos referidos conselhos, e torná- los corresponsáveis pela operação das suas deliberações.
a) Desenvolvimento Social
b) Gestão Social
c) Controle Social
d) Proteção Social
10 - A institucionalização dos mecanismos de controle social na gestão das políticas sociais tem
como objetivo garantir:
2014 - FGV - DPE-RJ
a) uma estratégia estabelecida pela elite para a reprodução social, bem como o estímulo à
subalternidade dos cidadãos e cidadãs.
b) estabelecimento de mecanismo de representação destinado à manutenção da ordem e do
status quo.
c) o cumprimento do papel das polícias e dos tribunais que possuem essa atribuição,
exercendo-se de forma vertical e centralizada.
d) filiada a um modelo de democracia direta e participativa.
e) influência que o governo exerce na formação da agenda comunitária para determinada
área.
GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
B C A D B E A C A D D C