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Faculdade SENAI/ CETIQT

Pós-graduação Lato Sensu


Design de Estamparia

Resenha crítica sobre o artigo “Designer de moda ou estilista? Pequena reflexão sobre a
relação entre noções e valores do campo da arte, do design e da moda”, de Deborah
Chagas Christo
Por Cléo Rocha Ramos

Em 2008, Deborah Chagas Christo, mestra e doutoranda em Design pela PUC-Rio,


publicou, no livro “Design de Moda: Olhares Diversos”, um artigo sobre a relação entre os
conceitos de estilista e designer de moda, a partir de comparações entre as noções de artista,
como um gênio, e de designer.
A autora inicia o texto dando exemplos da recente aproximação entre moda e design,
especialmente na área acadêmica, e da incorporação de conceitos de moda pelo design.
Afirma que, no Brasil, a dificuldade que antes existia de incorporar a moda ao design se devia
às origens do design no país. Com base no livro Uma introdução à história do design,
publicado em 2000, de Rafael Cardoso Denis, Ph.D em história da arte, mostra que a origem
do design no Brasil possui uma influência modernista, caracterizando o design pelo
racionalismo e funcionalismo, afastando-o do campo da arte.
Ela exemplifica esta influência modernista no design brasileiro apresentando o caso do
Styling, na década de 30. Este estilo era muito mal visto pelos designers no Brasil, pois
apresentava como diferencial dos produtos não aspectos funcionais, e sim estéticos. A autora
argumenta a favor do Styling, explicando o contexto histórico e econômico no qual o estilo
surgiu. Após a crise de 29, era necessário desenvolver novos produtos a fim de estimular o
consumo, e uma forma de fazer isto era modificar a forma, o estilo de produtos já existentes.
Depois, ela apresenta a questão principal do artigo, comentando sobre a tradução inicial
da palavra Design no Brasil para o termo Desenho Industrial e sobre uma possível tradução
do termo fashion designer. Ela afirma que, apesar de o termo fashion designer poder servir
tanto para designer de moda para como estilista, parece existir um consenso de que designer
de moda estaria relacionado ao campo do design, no sentido de uma produção industrial, e
estilista ao conceito de artista como gênio, pertencente ao campo da arte. Então parte para
uma análise dos conceitos de artista e designer para compreender esta relação.
O conceito de artista é analisado, principalmente, do ponto de vista histórico, mostrando
como o artista, a partir do século XV, sai do anonimato da produção coletiva das Guildas,
devido ao aumento da demanda por obras de arte pelas classes mercantis, e ganha status
social, passando a ser visto como gênio. Ela cita o livro A produção social da arte, publicado
Design e Estampas
Sérgio Sudsilowsky
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em 1982, de Janet Wolff, professora de Sociologia Cultural da University of Manchester,


EUA, afirmando que a figura do artista como ser excêntrico e à margem da sociedade torna-se
uma definição universal de artista. E, após a Revolução Industrial, surge uma indústria
cultural, e com o aumento e diversificação do público consumidor, inicia-se uma produção de
bens simbólicos, gerando uma diferenciação entre produtos com valor mercantil e produtos
com valor cultural. Citando Pierre Bourdieu (1930-2002), sociólogo francês, afirma que essa
divisão proporciona o desenvolvimento de uma “teoria pura da arte”, e determina a diferença
entre o que chamamos de “arte pura” e “arte aplicada”.
Depois, cita uma definição de design por Tomás Maldonado, professor da Escola de Ulm
de 1955 a 1967, citada no livro de Gustavo Amarante Bonfim (1952-2005), Idéias e formas
na história do design: uma investigação estética, publicado em 1998. O discurso de
Maldonado é voltado para a indústria e o mercado, e busca aproximar o design da ciência e da
técnica e afastá-lo do campo da arte.
Por fim, a autora compara o conceito de artista ao de design, criticando a definição de
design ligada à indústria e mercado, mostrando que a função de designer surgiu no campo da
arte, já que os artistas, antes de sua emancipação, tanto pintavam como desenvolviam objetos
utilitários, e a partir do desenvolvimento das manufaturas, surge a figura do mestre-
desenhista, responsável pelo desenvolvimento dos projetos. O projeto torna-se mercadoria, e
este profissional passa a ser altamente valorizado.
Antes de concluir, a autora cita novamente Rafael Cardoso Denis, a respeito do
desenvolvimento de uma definição sobre design, e fala sobre a importância de se perceber que
os objetos desenvolvidos não são carregados somente de valores funcionais, mas emocionais.
Também afirma que os valores desses objetos se modificam com o passar do tempo e com as
mudanças nos contextos nos quais estão inseridos.
Em sua conclusão, a autora afirma que, se estilista está relacionado ao campo da arte, o
design está ligado tanto ao campo da arte quanto ao da indústria, e o design de moda está
relacionado ao campo do design, não seria correto separar os termos de estilista e designer de
moda. No decorrer do texto, a autora critica, de forma velada, o conceito funcionalista de
design. Analisando os conceitos de arte e design do ponto de vista histórico, social e
econômico, ela mostra que o design surgiu dentro do campo da arte, e, portanto, estão
profundamente relacionados.

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Sérgio Sudsilowsky

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