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OS CONSELHOS DE DIREITO COMO CONTROLE SOCIAL NA DEFESA DOS

DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA GESTÃO MUNICIPAL

Tatiane Lopes Ericeira1


Andrea Mendonça da Silva2

Resumo
O presente trabalho traz um estudo acerca dos conselhos de direito como instância de controle
social na defesa dos direitos das crianças e adolescentes no âmbito da gestão municipial,
sendo fundamentais enquanto instâncias de participação social para defesa e garantia de
direitos pela sociedade as políticas públicas. Versando sobre as legislações existentes que
trazem a efetivação de tal órgão, e ainda destacando o Conselho Municipal dos Direitos das
Crianças e dos Adolescentes, que tem por responsabilidade formular e deliberar políticas
públicas neste eixo de acordo com as prerrogativas do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Palavras - Chave: controle social; participação socia; criança; adolescente; política pública.

Abstract
The present work brings a study about the councils of law as an instance of social
control in the defense of the rights of children and adolescents in the scope of the
municipal management, being fundamental as instances of social participation for the
defense and guarantee of rights by the society the public policies. Dealing with the
existing laws that bring the effectiveness of such a body, and also highlighting the
Municipal Council for the Rights of Children and Adolescents, which is responsible for
formulating and deliberating public policies in this axis in accordance with the
prerogatives of the Statute of the Child and Adolescent.

Keywords: social control; social participation; child; adolescent; public policy.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo irá abordar acerca dos Conselhos de Direito como Controle Social
na Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes na Gestão Municipal, sendo este um
equipamento de suma importância no controle social no âmbito da administração pública pelo
eixo de participação e controle social de políticas públicas.

1
ericeiratatiane@gmail.com
2
andreamendonca24@gmail.com
Faz-se uma breve reflexão acerca da Participação social, enquanto mecanismo que está
atrelado ao exercício da cidadania e do sujeito enquanto ser atuante frente as instâncias de
participação social. Neste sentido, a participação social torna-se um instrumento crucial para o
funcionamento de um Estado Democrático de direitos, a partir de tal, realizaremos uma breve
análise, sobre os Conselhos de Direito e estes promovem a sua organização/funcionamento de
maneira democrática, transparente frente a esfera municipal, atendendo ainda aos interesses
sociais e realizando o controle social de políticas de direitos. Ressaltando, as legislações que
versam acerca do funcionamento e implementação deles em âmbito municipal.
Pontua-se também uma contextualização histórica do Controle Social e conselho,
tomando como referência a constituição de 1988, que é considerada uma marco na garantia de
direitos e de políticas públicas, buscando identificar o desenvolvimento do controle social a
partir da mesma, destacando os conselhos, como mecanismos de controle social na
administração pública, pontuado a relação entre Estado e Sociedade no desenvolvimento e
implementação das políticas públicas, bem como as possibilidades da efetiva participação
popular.
No que remete ao controle social das políticas de defesa dos direitos da criança e do
adolescente, é colocada a importância de utilizar as potencialidades desse espaço de exercício
da democracia, através da democratização da gestão das políticas públicas e do fortalecimento
da participação da sociedade civil. Os Conselhos de Direito representam a materialização do
controle social, do instrumento de monitoramento e de defesa da efetivação de direitos
conquistados por meio da sociedade.
Pontuando ainda, o resgate histórico dos direitos das crianças e adolescentes no Brasil,
sendo possível perceber que este é marcado por lutas e conquistas sociais, onde o
reconhecimento através da Constituição Federal e criação de uma Lei que tratam
especificamente da criança e adolescente como um todo, foi um grande avanço para o país,
que no seu decorrer histórico teve algumas constituições e processos de redemocratização, até
a Constituição de 1988 que os dias atuais está em vigor.
Neste trabalho, será abordado como exemplificação de Conselho de Direito o que é
instituído em âmbito municipal que versa sobre os Direitos das Crianças e dos Adolescentes,
que tem como responsabilidade formular e deliberar políticas públicas relacionadas a crianças
e adolescentes. Considerando-se a relevância da temática abordada por este trabalho, o
presente artigo científico tem como problema de
pesquisa: Como o Conselho de Direito como organizações democráticas podem promover a
democracia, transparência e o controle na gestão municipal? Para fundamentar tal
questionamento há a necessidade de se fazer uma revisão bibliográfica capaz de permitir que
a temática investigada atinja o objetivo geral da pesquisa que é mostrar a importância do
controle social na efetivação de direitos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 Participação Social

A Participação Social está relacionada com a influência e a participação da


sociedade civil, organizada ou não, nos espaços e nas organizações da comunidade e da
sociedade. Nela se tem a oportunidade de se transformar e ampliar as possibilidades de
acesso das classes mais populares aos atos de gestão se vista numa perspectiva de
desenvolvimento da sociedade civil de fortalecimento dos mecanismos democráticos. A
participação social é essencial para a construção de um processo de mudança em prol de todos
os grupos que compõe a vida em sociedade.
Sendo assim, a participação social é um mecanismo que beneficia o exercício da
cidadania, e a sua valorização implica também o resgate de formas de participação social que
se estrutura em torno de valores e mecanismos de sociabilidade. Nesse sentido, a participação
social torna-se um instrumento crucial para o funcionamento de um Estado Democrático.
Hoje, com as emergentes formas de participação digital, as mobilizações e
manifestações da sociedade brasileira, as necessidades de se atender aos mecanismos e
acordos internacionais estabelecidos, da ampliação e qualificação dos mecanismos já
existentes e da criação de novos processos e formas de participação, foi instituído um novo
decreto com novas formas de Participação Social, sendo esta a Política Nacional de
Participação Social (PNPS).
Concomitante a criação dessa política, firmou-se um Compromisso Nacional pela
participação Social, que tem como objetivo promover a participação social como método de
governo e política de Estado, é então um instrumento para reconhecer a participação social
como estratégia de democratização das decisões sobre as políticas públicas.
O principal objetivo da PNPS é a consolidação da participação social como método de
governo. Para tanto, todos os órgãos e entidades da administração pública federal, direta e
indireta, irão elaborar um plano de ação a cada dois anos para ampliação e fomento da
participação social. A proposta da Política Nacional de Participação Social é a de abrir
caminho para as novas formas de participação social, por meio das redes sociais e dos
mecanismos digitais de participação via internet.
Dentro desses planos e compromissos firmados para uma participação mais efetiva da
política de Participação Social, onde os cidadãos podem estabelecer um novo diálogo com as
diversas instâncias da administração pública federal, destacamos um novo espaço de
participação digital criado pelo governo, como o Dialoga Brasil e o Participar.br que é um
espaço de participação digital onde suas ideias viram propostas que ajudam a melhorar as
ações do governo. Nesse espaço, o cidadão pode fazer sugestões para melhorar os programas,
apreciar propostas de outros participantes e conhecer as principais ações do governo federal.
Tendo ainda, outro espaço que se discute a necessidade da ampliação da Participação
social, são os foros, a exemplo o foro de participação Cidadã da UNASUL que coloca como
prioridades em sua agenda de discussão a participação social, mais direitos e mais integração,
com representantes de movimentos sociais e populares do Mercosul e de Estados associados.
Nesse sentido, e sem entrar na discussão sobre as perdas sofridas nas últimas décadas
das diversas formas de organizações sociais criadas através de lutas enquanto modo de
democracia participativa e de suas contribuições e múltiplas ações que as diferentes forças
sociais desenvolvem, com o objetivo de influenciar a formação, execução, fiscalização e
avaliação de políticas públicas na área social, saúde, educação, habitação, transporte, etc.
acerca do desenvolvimento político e da emancipação social, bem como da sua imensa
importância no cenário brasileiro.
Contudo, toda essa discussão sem dúvidas é uma discussão ampla e necessária para a
sociedade de forma geral, realizamos assim uma breve análise, sobre a Participação Social e
algumas das medidas adotadas pelo governo Federal, levando em consideração a necessidade
de respostas ágeis a sociedade e mobilizações populares, bem como da necessidade de se
atender as exigências impostas pelos organismos internacionais.
2.2 CONTROLE SOCIAL E CONSELHO: Contextualização Histórica

A constituição de 1988, popularmente conhecida como constituição cidadã, é um


marco no desenvolvimento histórico brasileiro, seja, no que tange a garantia de direitos, seja,
na efetivação de mecanismos de participação popular a partir da criação de instrumentos que
subsidiem a participação popular na esfera estatal, estipulando o controle social como um
mecanismo, eficaz, de participação popular democrática na administração pública.
O controle social pode ser realizado tanto no momento da definição das políticas a
serem implementadas, quanto no momento da fiscalização, do acompanhamento e
da avaliação das condições de gestão, execução das ações e aplicação dos recursos
financeiros destinados à implementação de uma política pública. O direito à
participação popular na formulação das políticas públicas e no controle das ações do
Estado está garantido na Constituição de 1988 e regulamentado em leis específicas,
como a Lei Orgânica da Saúde (LOS), o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e o Estatuto das Cidades.
Estas leis preveem instâncias de consulta e deliberação cidadãs, especialmente por
meio de conselhos de políticas públicas nos três níveis do Executivo (Federal,
Estadual e Municipal). Além disso, o controle social pode ser exercido fora dos
canais institucionais de participação, pela população em geral, acompanhando as
políticas públicas em todos os níveis da federação. (POLIS, 2014)

A participação popular é garantida desde o 1° artigo “todo poder emana do povo, que
o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição”
evidenciando através desta, constituição, e de muitas outras leis (como a Lei de Diretrizes
Orçamentária, Lei de Responsabilidade Fiscal etc.) a garantia da participação popular nos
espaços de gestão pública.
Todo e qualquer cidadão pode estar participando, efetivamente, da gestão pública
através do controle social, um importante mecanismo criando para facilitar essa participação
foi a criação dos Conselhos de políticas públicas, nas instâncias – Municipal, Estadual e
Nacional, pois o controle social como, mecanismo de participação social na gestão pública,
compreende a participação cidadã nas três esferas governamentais: legislativo, executivo e
judiciário.
Os chamados Conselhos de Políticas Públicas foram criados com o objetivo de
operacionalizar os ideais participativos presentes na Constituição Federal,
permitindo a população brasileira um maior acesso aos espaços de formulação,
implementação e controle social das políticas públicas. Em vez das decisões
governamentais ficarem restritas aos membros do poder executivo e aos gestores
públicos, elas passaram a ser compartilhadas com a sociedade civil. (MINISTÉRIO
DO PLANEJAMENTO; UNIÃO EUROPEIA, 2012, p.23)
De acordo com a classificação do (IPEA, 2010b) os conselhos são classificados em
quatro áreas temáticas: políticas sociais, garantia de direitos, desenvolvimento econômico,
infraestrutura e recursos naturais, e funcionam como um mecanismo de garantir a participação
social na gestão democrática de políticas e serviços públicos no processo de formulação,
desenvolvimento e fiscalização desses serviços.
Nesse os conselhos conferem espaço de discursão e cooperação entre o Estado e a
Sociedade na formulação e implementação das políticas públicas, de forma que a sociedade,
por meio dos conselhos, desempenha o “acompanhamento do desempenho do governo e de
controle, por parte da sociedade, de seus atos” (IPEA apud CARNEIRO y COSTA, 2001).
Embora a constituição de 1988 tenha sido um marco, no que tange a participação
popular na gestão pública, mesmo antes, por meio das lutas sociais, já haviam conselhos, vale
destacar o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e o Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher, instituídos em 1964 e 1968 respectivamente, mas que, entretanto, só
foram ter sua efetivação a partir da constituição cidadã, “muito embora, a figura de um órgão
colegiado como um conselho não fosse uma novidade no Estado brasileiro, a configuração
assumida por esses novos espaços após a Constituição de 1988 foi uma verdadeira revolução
institucional.” (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO; UNIÃO EUROPEIA, 2012, p.23)
A década passada, a partir da instauração do governo Lula, também representou um
avanço significativo, com a criação de diversos conselhos.
(...) em torno de novos direitos e temáticas, tais como: gênero, juventude, alimentar,
cidades, igualdade racial e transparência pública. Em geral são conselhos
consultivos, cujas decisões não são vinculantes para o gestor público. São ainda
conselhos nacionais, que não se desdobram necessariamente em um sistema
participativo nos âmbitos estaduais e municipais. (MINISTÉRIO DO
PLANEJAMENTO; UNIÃO EUROPEIA, 2012, p.24-25)

Embora os conselhos representem um avanço, no que tange a participação popular nos


serviços públicos, ainda existem avanços a serem alcançados para que essa participação se
efetive, qualificadamente, porque embora exista o espaço dos conselhos, ainda falta
informação. A população manifesta muito receio em participar de “algo que ela não conhece”,
é necessário que se instigue a população a conhecer as políticas, orçamentos, planos etc. para
que, de fato, a participação popular se efetive.
2.3 Fundamentos Legais do Controle Social

A Constituição de 88 possibilitou a criação de instrumentos que fortaleceram a


participação do cidadão em praticamente todas as áreas sob orientação do Estado. Ela prevê
em seus artigos, a participação de populares nas decisões políticas do país. Há duas formas de
exercer o controle social, segundo o artigo 1° da Constituição, de modo representativo e
direto: Todo poder emana do povo, que exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente.
O inciso XXXIII do artigo 5° da Constituição, com título Direito e Garantias
Fundamentais, deixa evidente o princípio da transparência da administração pública, onde
qualquer cidadão tem livre acesso a todas as informações, seja de interesse próprio ou
coletivo. O inciso XXXIV e LXXIII fala de duas formas de interação entre o cidadão e o
Estado. O primeiro trata do direito de petição na defesa dos seus direitos, ou contra a
ilegalidade ou abuso de poder. E o segundo trata de instrumentos da ação popular, que não
pode ser considerado um recurso do controle social, pois possibilita ao cidadão solicitar a
interrupção de qualquer ato que ele considere abusivo ou que cause alguma lesão ao
patrimônio público.
Há também outros artigos da Constituição de 88 que permite a participação popular na
administração pública, dentre eles destaca-se o inciso 3° do Art. 37 que possibilita novas
formas de participação popular o processo legislativo pelas audiências públicas; inciso 2° do
Art. 61 que prevê a iniciativa popular para a produção de leis; inciso 2° do Art. 74 possibilita
a provocação do Tribunal de Contas da União por meio de denúncia popular; Art. 89 prevê a
participação de cidadãos nos Conselhos da República; inciso 9° do Art. 92 prevê
transparência das decisões do poder judiciário e o Art. 94 prevê a participação de entidades de
classes para a escolha do quinto constitucional para os Tribunais Federais, dos Estados e
Distrito Federal. O artigo 227 prevê também a participação da sociedade no Conselho de
proteção de criança e adolescente.
Além da Constituição de 88, há mais duas Leis que são fundamentais para que seja
efetivado o controle social que é garantido por direito ao cidadão na Constituição, a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF) e a Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A LRF trata
principalmente da gestão dos recursos públicos nos três níveis de governo: Municipal,
Estadual e Federal, e a LDO orienta a produção e execução dos recursos públicos
disponibilizados pela Lei Orçamentária Anual (LOA).
A LRF denomina as leis orçamentárias de “instrumentos de transparência da gestão
fiscal” e que a estas deve ser dada ampla divulgação. O seu art. 48 é enfático na questão da
participação popular e disponibilidade da informação, preceituando o “incentivo à
participação popular” por meio de audiências públicas, e a “liberação ao pleno conhecimento
e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a
execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público.”
(CONCEIÇÃO, 2010)
A transparência certamente constitui um dos mais importantes pilares da Lei de
Responsabilidade Fiscal e se revela como um instrumento democrático que busca o
fortalecimento da cidadania, servindo de pressuposto ao controle social e como forma de
valorar e tornar mais eficiente o sistema de controle das contas públicas. A transparência é
tratada na LRF como princípio da gestão fiscal responsável e, como tal, pressupõe a
publicidade e a compreensibilidade das informações, já que a mera divulgação sem tornar o
conteúdo compreensível para a sociedade não é transparência, como também não o é a
informação compreensível sem a necessária divulgação. (CONCEIÇÃO, 2010)
A LDO também faz referências à transparência e a participação popular no processo
de elaboração e execução orçamentária federal. O que merece destaque nessa Lei e a
obrigatoriedade de publicação das versões simplificadas do Projetos de Leis Orçamentarias de
2010 e dos relatórios de gestão orçamentária dos Poderes e do Ministério Público da União
(art. 17, §1º, alínea “b” e inciso IV), o que corrobora com a necessidade de que tais
informações sejam compreensíveis ao cidadão. (CONCEIÇÃO, 2010)
Além dos aqui citados, outros normativos legais preveem a participação do cidadão,
como a Lei de Licitações (8.666/1993) e o Estatuto das Cidades (Lei 10.257, de 2001).

3 METODOLOGIA

A abordagem metodológica adotada tem como base referencial a perspectiva de


totalidade, buscando apreender a realidade em seu movimento contraditório, identificando e
analisando as determinações estruturais e conjunturais dos conselhos de direitos, bem como
seus significados no processo de Controle Social Único de como integrante das políticas
públicas.
Refletindo ainda, na forma de produção e socialização de conhecimentos, para a
elaboração do presente artigo, fez-se necessária pesquisa bibliográfica sobre controle social e
a sua eficácia enquanto instância de participação social. Além do levantamento bibliográfico,
pois incorpora características básicas desse campo de estudo. Consistindo em cunho
qualitativo, sendo o objeto de análise os documentos legislativos nacionais que versam sobre
o controle social, conselhos de direitos e instâncias de participação social que promovem
transparência e efetivação de políticas públicas na sociedade.
A pesquisa proposta teve como base a revisão de literatura acerca da área dos
Conselhos de direitos, de modo a aprofundar e atualizar o debate presente no Controle Social,
sua forma de operacionalização e de instância de participação social.

4 RESULTADO DA PESQUISA

4.1 CONSELHOS: Mecanismo de participação democrática

Os Conselhos são formados por representantes do governo e da sociedade civil, tem


como um dos objetivos, a participação democrática da sociedade na formulação e
implementação das políticas públicas.
Segundo o Portal de Transparência do Governo Federal, devem compor os conselhos
de forma paritária os representantes do governo e a sociedade civil, ou seja, se houver 10
conselheiros, metade deles deve ser composta por representantes da sociedade civil e a outra
metade por representantes do Estado.
É importante destacar que cada Conselho atua de acordo com a realidade da cidade a
qual está inserido, os conselhos municipais realizam reuniões mensais com objetivo de
avaliar, apresentar soluções e diretrizes, para a efetivação da política do município. Os
conselhos podem ter caráter fiscalizador, ou seja, podem fiscalizar as contas públicas;
deliberativo, o que permite que os conselhos tenham caráter decisório sobre as suas
funcionalidades; consultivo, cabe aos conselhos julgar determinado assunto que lhes é
apresentado; normativo, pode criar normas ou reinterpretar as existentes e propositivos, o que
permite aos conselhos a proposição de ações ao Poder Público.
Os Conselhos têm a responsabilidade de estreitar as relações entre o governo e a
sociedade civil, possibilitando a participação popular juntamente com a
administração pública. Ao participar dos Conselhos a população avança no sentido de fazer
parte das discussões, das ações e da implementação das políticas públicas, além disto, a
sociedade pode viver a sua cidadania.

4.2 Direito da Criança e Adolescente: Breve Histórico

Dentro da Constituição Federal de 1988 há um artigo que trata especificamente dos


direitos da criança e do adolescente, que foi crucial para a criação do ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente) que foi criado em 1990 e prevê todos os direitos reconhecidos por
lei. O Artigo 227 diz:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (Art. 227 da Constituição Federal Brasileira)

Fazendo um breve histórico sobre os direitos da criança e do adolescente no Brasil,


podemos retroceder à época de 1900, na transição do Império ao Brasil em condição de
República, onde o ensino era obrigatório e crianças menores que 12 anos não poderiam
trabalhar, apesar de que não era levado em consideração filhos de escravos, nem crianças que
tinham qualquer tipo de doença ou que não fossem vacinados. No Brasil República, nasceu o
Juizado de Menores em 1923 e em 1927 o Código de Menores. Este Código não era destinado
para todas as crianças, mas para um determinado grupo, considerado em “situação irregular”,
ou seja, menores excluídos que ficavam à mercê do Poder Judiciário:
O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18
anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de assistência
e proteção contidas neste Código. (Código de Menores - Decreto N. 17.943 A – de
12 de outubro de 1927)

Na década de 1930, junto a outros programas, surgiu a LBA (Legião Brasileira de


Assistência) que era voltada a crianças órfãs de guerra. Nessa época, predominava o
assistencialismo e não a efetivação de direitos reconhecidos por Lei. Programas como este
estava relacionado à figura da primeira-dama. Durante 1945 e 1964, houve no Brasil um
processo de redemocratização, onde no governo Vargas, que foi instituída a 4ª Constituição
Brasileira (1946) que tinha caráter liberal e trouxe consigo a redemocratização no país. Em
1964, o Brasil foi marcado pela ditadura militar e neste período se consolidou no que diz
respeito criança e adolescente, a Lei que deu
origem a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Lei 4.513 de 1/12/64) e o Código de
Menores de 79 (Lei 6697 de 10/10/79).
Na década de 1980, o Brasil passou por outra fase de redemocratização, onde em 1988
foi promulgada a Constituição Federal, conhecida também como Constituição Cidadã, que foi
fundamental para que mais tarde, em 13 de julho de 1990 o ECA fosse criado, tendo em vista
a conquista e os avanços no âmbito dos direitos humanos. Considerando que o Estatuto da
Criança e do Adolescente que prevê os direitos e deveres dos mesmos.

4.3 Controle Social nas Políticas de Defesa dos Direitos da Criança e


Adolescente

As crianças e adolescentes passaram por um longo período no Brasil, sem amparo


judicial e político. Com a criação da Constituição Federal de 1988, houve significativas
mudanças quanto ao tratamento dado às crianças e adolescentes, em que a sociedade e o
Estado asseguram direitos fundamentais, jamais vistos antes, como o direito à vida, a
educação, entre outros. A responsabilidade é compartilhada, está a cargo do Estado, da
família, da sociedade, conforme o Artigo 227, da Carta Magna:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e
ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(BRASIL, 1988)

Tem-se a inovação, quanto a visão do sistema de garantias de direitos a crianças e


adolescentes. Esse sistema traz aspectos de articulação e integração entre a sociedade e as
instâncias públicas, em que ambas estão responsáveis em preconizar a efetivação das normas,
que devem ser aplicadas a fim de garantir direitos normatizados em lei.
O sistema é articulado em três meios, a promoção, o controle e a defesa, e envolve as
esferas, federal, estadual, municipal, e órgãos do poder público, que devem estar articulados
em rede, como um só sistema de integração e trabalho conjunto. Assim, essa articulação está
presente na Lei nº 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 86:
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á
através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais,
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, 1990)

Como a própria lei dispõe, os direitos da criança e do adolescente, deve ser


articulado entre união, órgãos de defesa, a fim de resguardar o que está preconizado. Como
desafio para a garantia desses direitos, está na efetivação das políticas públicas direcionadas
para esse público. Para que isso seja garantido de maneira permanente e participativa, há
mecanismos que garantem a participação popular no controle social.
É por intermédio dos conselhos de direitos que se observa o funcionamento
adequado dos conselhos de direitos e tutelares, legitima a participação da população nas
relações políticas, na proposição de políticas pública, e monitoramento dos recursos e das
atividades, mostrando a democratização desses espaços, e a influência em suas decisões.
O Estado Democrático de Direito assegura a atuação para além dos espaços
institucionais da política, como nas eleições, mas é essencial para a sociedade a criação dos
mecanismos de participação na definição das políticas públicas e no controle social nas ações
do poder público. Assim, materializa-se na democratização da gestão das políticas públicas,
nos Conselhos de Direitos paritários, nas discussões de questões locais, deliberações e
implementações de diretrizes e processos orçamentários.
Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente são instâncias de
participação dos representantes da sociedade para discussões das questões relativas a
crianças e adolescentes e definição de diretrizes para atendimento dos seus direitos.
A instituição desses espaços de interlocução, que redefiniu as relações entre governo
e sociedade, está intimamente ligada aos processos de reivindicação e luta, por
democracia e justiça social, gestados no interior da sociedade civil. (LIMEIRA, p.
113, 2014)

Portanto, o controle social é um instrumento democrático que estimula a participação


do povo na gestão das políticas públicas. No que concerne nas políticas de defesa do direito
da criança e adolescente, cabe ao Conselho de Direitos fazer o controle e monitoramento da
gestão e atos do governo, promover discussões sobre os direitos das crianças, adolescentes e
famílias, avaliar as condições de funcionamento da rede, dos projetos, programas, induzir o
poder público a respostas concretas a população, mas antes de tudo, é o instrumento que
deve resguardar os
direitos conquistados, e não confundir com privilégios, práticas eleitoreiras ou de trocas de
favores.

4.4 CMDCA: Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente

Os Conselhos dos Direitos da Criança e Adolescente é um órgão previsto pelo Estatuto


da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei n° 8.069 de 13 de julho de 1990, mais precisamente
no artigo 88, inciso II do ECA que os Conselhos são criados, fazem parte do Poder Público
nos três níveis – federal, estadual e municipal, tendo paritariamente em sua composição
membros do governo e a sociedade civil. Tendo funções deliberativas como criação,
acompanhamento de políticas públicas para atender crianças e adolescentes, assegurando-lhes
uma proteção integral.
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: I –
municipalização do atendimento;
II – criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e
do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis,
assegurada a participação popular paritária por meio de organizações
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; III – criação e
manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-
administrativa;
IV – manutenção de Fundos Nacional, estaduais e municipais vinculados aos
respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;
V – integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria,
Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para
efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria
de ato infracional;
VI –mobilização da opinião pública no sentido da indispensável participação dos
diversos segmentos da sociedade. (BRASIL,1990).

A participação popular é o modo de representação dos reais interesses da sociedade,


frente à garantia de direitos e efetivação das políticas públicas, sendo ainda um espaço de
lutas em prol da qualidade de vida de crianças e adolescentes, que diante de uma sociedade
desigual muitas vezes têm os seus direitos negados. Sendo assim, o Conselho o órgão
fundamental na perspectiva de fato da garantia de direitos. Também é função do CMDCA ter
todos os registros de instituições, ong’s, abrigos etc. que atuam com crianças e adolescentes.
É responsável pela conduta do processo eleitoral de escolha dos Conselheiros dos Conselhos
Tutelares – órgão responsável por zelar pelos direitos da criança e do adolescente, que faz
parte do Sistema de Garantia de Direitos (SGD).
Os Conselheiros Tutelares são eleitos pela sociedade civil para um mandato de três
anos, o Conselho Tutelar é um órgão independente, possuindo assim autonomia funcional, a
quantidade de Conselheiros varia de acordo com a
necessidade de cada município, mas é obrigatória a existência de pelo menos um por
município.
O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente (CMDCA) na cidade de
São Luís foi criado pela Lei Municipal nº 3.131, de 27 de maio de 1991. O Conselho tem
como diretrizes para sua existência, na estância municipal o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), que traz que a criação de Conselhos Municipais é obrigatória em todos os
municípios da Federação, é composto por 14 conselheiros, que são distribuídos de modo
paritário – sete representam as secretarias do poder executivo municipal, cada um escolhido
pelo órgão que representam, e os outros sete são representatividades da sociedade civil que
atuam na garantia de direitos de crianças e adolescentes.
[...] Os conselhos municipais representam uma importante inovação institucional na
gestão das políticas sociais. É neste sentido que os consideramos como canais de
participação mais expressivos da emergência de um novo regime da ação pública no
plano local, caracterizados pela abertura de novos padrões de interação entre
governo e sociedade em torno da definição de políticas sociais (SANTO; RIBEIRO;
AZEVEDO, 2004, p. 25).

Dentro do CMDCA existe o Fundo Municipal para Atendimento dos Direitos da


Criança e do Adolescente (FMADCA), que tem como objetivo facilitar a captação, os
repasses, e ainda a aplicação de recursos destinados ao desenvolvimento de projetos e ações
envolvendo crianças e adolescentes. O Fundo é mantido através de doações de pessoas físicas
e jurídicas, o valor doado é deduzido no Imposto de Renda a pagar, ou acrescida na sua
restituição.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O controle social é de suma importância nos direitos da criança e adolescente, o


conselho de direitos é marcado pela conquista de um espaço democrático, de debates e
deliberações, marcado pelo pluralismo da sociedade, e empoderamento da população junto a
gestão de políticas públicas. Dentro do Conselho, significa um espaço de interlocução pública,
publicização de ações do governo e instrumento de mudanças, que pode fazer a diferença nas
políticas públicas.
A Constituição de 1988 representou um profundo impacto, significativo, no que
tange a garantia de direitos, consequentemente, refletindo na garantia participação popular
nos espaços de gestão pública, possibilitando que a população tenha coparticipação nos
mecanismos de formulação, implementação e fiscalização
das políticas públicas, enfim, embora tenham havidos avanços significativos no campo da
participação social, ainda existem muitos avanços a serem alcançados e desafios a serem
superados.
Sendo assim, a Carta Magna foi de fundamental importância para o desenvolvimento
do controle social, pois ela procurava inovar com a integração de direitos sociais e coletivos e
possibilitava a criação de instrumentos que fortaleciam a participação do cidadão. O controle
social é um direito fundamental do cidadão precisa ser garantido pelo Estado.
De acordo com os apontamentos acerca do Conselho como espaço de Controle
Social é necessário destacar a importância do Conselho como forma de participação
democrática, como um espaço em que a sociedade tem acesso a discutir, compreender,
propor, fiscalizar e contribuir para a elaboração das políticas públicas. É importante se pensar
que ninguém melhor que os usuários das políticas públicas que compõem a sociedade civil
para destacar a importância deste, bem como seria a efetivação, visto que a sociedade conhece
às necessidades e pode pontuar de forma efetiva a aplicação da política pública em
determinada especificação/área. Desta forma, destacamos a importância e a necessidade posta
de que a sociedade faça jus a esse direito e adentre a estes espaços de discussões, para
conhecer e acompanhar os processos em as todas as três instâncias de gestão.
Abordando do contexto histórico, a efetivação dos direitos e deveres da criança e do
adolescente enquanto direitos humanos garantidos em legislação, se tem um processo
histórico marcado por lutas sociais e conquistas. O CMDCA tem um papel fundamental na
efetivação dos direitos de crianças e adolescentes, a descentralização permite uma maior
funcionalidade atrelada a territorialização e as necessidades reais de cada região, sejam elas
em situação de vulnerabilidade ou não, pois o Conselho não cabe apenas as que estão em risco
pessoal ou social.
REFERÊNCIAS

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Brasília, DF: Senado, 1988.

. Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/1990.

BRASIL. Código de Menores, Lei Federal 6.697, de 10 de outubro de 1979, dispõe sobre
assistência, proteção e vigilância a menores (www.senado.gov.br, acesso em 20/09/2022).

CONCEIÇÃO, Antônio César. Controle Social da Administração Pública:


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popular nos orçamentos públicos. Brasília, 2010.

LIMEIRA, Maria Zilda; Participação e controle social: reflexões sobre a representação da


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criança e do adolescente: defesa, controle democrático, políticas de
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MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO: UNIÃO EUROPÉIA. Relatório Participação


Social na Administração Pública Federal: desafios e perspectivas para criação
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SANTOS, Orlando Alves dos: RIBEIRO, Luís Cesar de Queiroz. Governança


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SERAFIM, Lizandra; TEIXEIRA, Ana Claudia C. IN: PÓLIS – Instituto de Estudos,


Formação e Assessoria em Políticas Sociais – Organização Não-
Governamental de atuação nacional, constituída como sociedade civil sem fins
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Disponível em: http://www.polis.org.br/uploads/1058/1058.pdf.
Acesso em 08/08/2022.

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