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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DE EMPRESAS

Regime Laboral

1º Ano

Ética Geral

Ética Politica

Discentes:

Alexandre Ferreira

Niloyd Fager

Obizanjo Mateus

Sávio Givandás

Shahab Aly

Sofia Micaila

Yussina Agy

Docente: Prof. Dr. Biembe Médard

Beira, Outubro 2021


Índice
Introdução ............................................................................................................................. 1

1. Ética Politica .................................................................................................................. 2

1.1. Sociologia da ação politica .......................................................................................... 2

1.2. A ética politica na historia da moral ............................................................................ 3

1.3. Fundamentação e conteúdo da ética politica ................................................................ 5

1.4. Posições históricas diante do problema da relação entre politica e moral ..................... 6

1.5. Ética e politica: duas grandezas referenciais ................................................................ 6

1.6. Insistências temáticas da doutrina social da Igreja ....................................................... 8

1.6.1. Princípios e valores .......................................................................................... 8

1.7. Conteúdos Da Ética Politica Na Perspetiva Integradora ......................................... 10

1.8. Conteúdos Da Ética Politica Na Perspetiva Critica ................................................ 11

Conclusão ........................................................................................................................... 12

Referências Bibliográficas................................................................................................... 13

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Introdução
Para Bittar (2002), a ética se refere à reflexão crítica sobre o comportamento humano, reflexão
que interpreta, discute e problematiza, investiga os valores, os princípios e o comportamento
moral, à procura do bem-estar da vida em sociedade, que atualmente tem como característica
marcante o individualismo e a competitividade, tornando ainda mais necessária uma reflexão
ética destas questões, para a busca de um maior comprometimento e respeito entre indivíduos
e suas ações. Ética vem do grego ethos, que significa analogamente modo de ser ou caráter.
Moral vem do latim mos ou mores, costume ou costumes. Tanto ética como moral assentam-
se num modo de comportamento, numa disposição natural, e que também é algo adquirido ou
conquistado por hábito.

O estudo da ética, considerada a filosofia da moral, permite a aproximação entre questões


práticas de política e moral.

Nesse sentido, uma abordagem que contemple teorias da moral, do direito e da sociedade pode
contribuir com o estudo da relação entre a política e a formação das normas morais. O homem
é um ser político por natureza e que precisa viver em sociedade. Partindo dessa premissa,
verificamos ao longo da história das sociedades a necessidade de criação e aplicação de normas,
morais e legais, que possibilitem esse convívio coletivo.

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1. Ética Politica

Para Bittar (2002), a ética pública é a prática de fazer julgamentos morais sobre a ação política
e os agentes políticos. Abrange duas áreas. A primeira é a ética do processo, que trata dos
funcionários públicos e dos métodos que eles usam. A segunda área, a ética da política, diz
respeito a julgamentos sobre políticas e leis

1.1. Sociologia da ação politica

Para Bittar (2002), sociologia política é o ramo da sociologia que reflete sobre o poder,
o Estado e o dever político. É o estudo das bases sociais da política. A Sociologia ajuda a
entender a politica em si. Esta deriva do grego politica. Estuda a influência recíproca que
exercem a política e Sociologia na dicotomia Estado-Sociedade.

Segundo Bobbio (2000), o que importa ressaltar, porém, numa discussão sobre o foco de uma
Sociologia Política, é que o postulado clássico das ciências sociais com respeito às relações
entre os aspetos de distribuição e de produção de poder, postulado que aparece com ênfase no
marxismo, por exemplo, é exatamente o postulado sociológico de que as características
assumidas pelo Estado, como foco por excelência do esforço coletivo de produção de poder e
de exercício do poder em nome de interesses compartilhados ou do bem público, dependem
em princípio do substrato correspondente à distribuição social do poder. Retomando algo já
dito antes, o fato de que o Estado venha a ser, em alguma medida, a expressão real da vontade
de todos ou do interesse público ou, diferentemente, o instrumento apropriado por algum
conjunto particular de interesses, inclinado a subjugar os demais interesses e viabilizar a
exploração deles, depende da forma assumida pelo jogo de interesses que se dão no plano
estrutural da sociedade e de quem prevalece nesse jogo, em termos marxistas, depende da luta
de classes. E duas coisas podem ser ditas sobre esse postulado analítico ou metodológico no
que respeita às suas relações com a questão dos sentidos substantivos da autonomia do político
e com o problema da democracia e sua institucionalização. Em primeiro lugar, a adesão a ele
nada prejulga quanto às indagações envolvidas nos problemas relativos à neutralidade do
Estado, à sua presença ou capacidade de iniciativa e à institucionalização das regras do jogo.
Em segundo lugar, o problema da democracia e de sua institucionalização revela-se, num
exame um pouco mais atento, como algo que gira em torno de certa articulação justamente
entre esses três sentidos atribuídos à noção de autonomia do político, no quadro definido pelo
postulado metodológico. Pois assim como podemos ter um Estado que intervém porque não é
neutro, ou porque algum dos atores no conflito social conseguiu controlá-lo de vez (considere-
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se a ideia da "ditadura do proletariado, ou a experiência do regime autoritário brasileiro de
1964, com a combinação de forte intervencionismo e de claro viés quanto a seu suporte social
e seus vínculos e lealdades), assim também podemos ter regras do jogo estáveis e consolidadas
que nem por isso deixem de consagrar relações de dominação abertas ou veladas (considere-se
a ideia da dependência estrutural do Estado, perante os interesses dos capitalistas como algo
inerente à dinâmica do capitalismo, supostamente mesmo nos países de tradição democrática,
ou o diagnóstico da tecnoestrutura de que nos falava John Kenneth Galbraith há tempos com
respeito aos Estados Unidos).

Segundo Bobbio (2000), é claro que o problema da democracia é justamente o de criar as


condições que não podem ser senão sociais, em última análise, para que o Estado seja neutro:
como implantar o compromisso social que permita ao Estado um grau importante de autonomia
perante as relações de força e as prováveis assimetrias no jogo dos interesses privados, de sorte
que se torne possível a ele intervir de maneira a não apenas garantir os direitos liberais e o
Estado de direito, mas também a compensar as desigualdades da distribuição social de poder e
assegurar as "liberdades positivas" em que cada qual venha a ter melhores condições de auto-
realização pessoal. Nessa perspetiva, em que se acha fatalmente presente um componente de
paternalismo por parte do Estado (que não responde apenas à capacidade diferencial de pressão
dos diversos interesses), pode-se perceber, como ramificação relevante, que o velho problema
das relações entre capitalismo e democracia, normalmente tomado em termos de democracia
política, na verdade se dá de maneira crucial em conexão com a questão da democracia social:
não apenas a possibilidade da revolução e da rutura das relações de poder no plano social geral
são o condicionante talvez decisivo da eventual instabilidade democrática, mas também a
operação efetiva da democracia não tem como deixar de colocar, de alguma forma, a meta da
democracia social. O que, de passagem, revela as ameaças que tendem a brotar do novo mundo
hiperliberal em que a velha social-democracia se vê posta em xeque.

1.2. A ética politica na historia da moral

Segundo Bobbio (2000), a ética política não designa uma moral diversa da moral privada;
porém a moral aplicada à política com exigências peculiares. Maquiavel queria a ciência
política autônoma, desligada da moral, com regras próprias para a conquista e a manutenção
do poder. Hobbes via a política superior a moral, as razões políticas preponderando sobre as
morais, para a realização de seus fins. Depois de Kant, porém, predominou o princípio de que
a moral política seria a mesma que a da vida privada, ou seja: as regras morais da vida privada

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estendidas à vida pública. Só existe uma moral, o que está fora dela é imoral. Hoje, entretanto,
se tem uma noção mais ampla do cumprimento moral na política. Como termo político, a ética
consiste, abstratamente, na observância da moral como dever imprescindível na prática de atos
pelos agentes públicos. O comportamento humano não se julga simplesmente pelos fins justos
ou legítimos que se desejam, mas também pelos meios morais empregados para sua obtenção.
Exige-se, assim, o ato correto na consecução de um fim, quer seja um fim propício à
coletividade, ou o de vitória pessoal na luta política. Por isso se diz que a ética é intrínseca à
ação política e condena-se, na boa política, como imoral o dito de que "os fins justificam os
meios". Entretanto, na aplicação política, a ética sobrepõe os fins aos meios, pois que os fins,
quando justos e úteis, são forçosamente atingidos, e a ética fornece os meios morais
apropriados às circunstâncias.

Segundo Bobbio (2000, p.45):

O processo moral é eficaz na prática de cada ação, conseguindo, assim, os fins


desejados por meio de atos moralmente corretos. A moralidade, como observância da
moral, tem os seus preceitos e regras de comportamento prefixados, vindos das leis e
dos costumes, mas necessita de novas prescrições que a ética fornece na hora da prática
de novos atos políticos. Deste modo, cabe à ética, como ciência da moral, estabelecer
os princípios, regras e normas para a prática política em termos morais e inculcar os
meios para o julgamento posterior dos atos dos agentes do poder público, em face de
suas intenções e de suas responsabilidades perante os seus compatriotas. A ética
prende-se à ação e adapta-se, como consequência, às circunstâncias em que ela é
exercida, de modo que não se prende aos mesmos preceitos rígidos e imutáveis,
aplicáveis a todos os casos. Assim, a política emprega, normalmente, a força para a
consecução de determinados fins e para o resguardo da autoridade de seus agentes, mas
ainda aí deve estar presente a ética com regras e preceitos aceitáveis como honestos,
com o fim de evitar a confusão entre o interesse da coletividade e o utilitarismo dos
possuidores do poder. Os atos políticos devem estar em conformidade com a moral,
porém as necessidades públicas imprevistas exigem, muitas vezes, a criação de novos
princípios éticos; daí poder dizer-se que a moral é estática, mas que a ética, como
ciência da moral, é dinâmica. Na vida particular, a escolha de uma decisão deve estar
entre dois deveres e não entre o interesse próprio e o dever; com o que a moral
predomina sobre o interesse. esta a regra universal para o comportamento humano.

Na vida política, porém, a defesa do interesse público constitui um dever e o homem de governo
tem que decidir entre o dever da defesa do bem público e o dever de não afastar-se da moral.
Então, para o seu ato pessoal, a decisão será entre dois deveres. O que se espera do homem
público é a sua firme determinação de não relegar os princípios morais, quando entra em causa
o seu interesse próprio. A simples alegação de razões do Estado não justifica a decisão imoral.
Em doutrina, a não ser no caso excecional de salvação pública, os atos impostos pela força,

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sem o apoio de leis justas e equânimes; as ações baseadas em razões mentirosas; a falta de
escrúpulo nas decisões, para satisfação de interesse pessoal; o cinismo de dizer uma coisa e
fazer outra, contrária; as fraudes cometidas sob a capa de cumprimento legal revelam
comportamentos eticamente condenáveis e politicamente ilegítimos.

1.3. Fundamentação e conteúdo da ética politica

Para Bobbio (2000), seguindo o filósofo grego Aristóteles, a política é a ciência que tem por
objetivo a felicidade humana e divide-se em ética (que se preocupa com a felicidade individual
do homem na Cidade-Estado, ou pólis), e na política propriamente dita (que se preocupa com
a felicidade coletiva). A política situa-se no âmbito das ciências práticas, ou seja, as ciências
que buscam conhecimento como meio para a ação.

Segundo Bobbio (2000), vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda
comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são
praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam algum bem,
é evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras, tem mais que todas,
este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade
política.

A crise política sem fim e sem precedentes sugere algumas reflexões sobre o problema
da ética na política. Nenhuma profissão é mais nobre do que a política porque quem a exerce
assume responsabilidades só compatíveis com grandes qualidades morais e de competência. A
atividade política só se justifica se o político tiver espírito republicano, ou seja, se as suas ações,
além de buscarem a conquista do poder, forem dirigidas para o bem público, que não é fácil
definir, mas que é preciso sempre buscar. Um bem público que variará de acordo com
a ideologia ou os valores de cada político, mas o qual se espera que ele busque com prudência
e coragem. E nenhuma profissão é mais importante, porque o político pode ter uma má
influência sobre a vida das pessoas maior do que a de qualquer outra profissão.

A ética da política não pode ser diferente da ética da vida pessoal. E além de observar os
princípios gerais, como não matar ou não roubar, o político deve mostrar ao povo que o elegeu
sua capacidade de defender o bem comum, e o bem-estar de toda a sociedade, sem se preocupar
com o simples exercício do poder. Além de não distinguir, de qualquer forma, os demais
membros da sociedade, deve ser capaz de mostrar a esses membros que assume a

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responsabilidade pela consecução deste objetivo. Exerce assim, o que se convencionou chamar
da "ética da responsabilidade.

E a ética da responsabilidade leva em consideração as consequências das decisões que o


político adota. Em muitas ocasiões, o político pode ser colocado frente a dilemas morais para
tomar decisões. Mas, o político ciente, de sua obrigação com a ética da responsabilidade, sabe
que não deve subverter seus valores e, muito menos aqueles que apresentou para seus eleitores.

1.4. Posições históricas diante do problema da relação entre politica e moral

Segundo Bobbio (2000), a discussão sobre se as regras da política podem ser submetidas às
regras da moral é uma espécie de pilar do estudo da política e pode-se dizer que está presente
em todos os clássicos desde Platão. O tema foi abordado por Nicolau Maquiavel, Thomas
Hobbes, Emmanuel Kant e Max Weber, só para citar alguns. A distinção entre política e moral
assim como a conhecemos, no sentido de que o que é obrigatório na moral nem sempre o é na
política e de que o que é lícito na política pode ser moralmente ilícito é atribuída a Maquiavel.
Grosso modo, a conhecida teoria do pensador italiano estabelece que enquanto que moralmente
uma ação é boa ou má tomando-se por base uma norma pré-estabelecida, um critério associado
ao conceito de bem, na política o que determina se ela é boa ou má é seu resultado.
Popularmente, a teoria foi reduzida ao conhecido os fins justificam os meios.

No estudo e mesmo na prática política, a teoria maquiavélica não é única, apesar de sua força
em diferentes correntes do pensamento. Além disso, a distinção entre tipos de éticas está
presente em várias outras áreas da ação humana. Existem, por exemplo, a ética do mercado, a
do Direito ou a da Medicina. As diferenciações são estabelecidas de forma a que se entenda o
quanto regras de conduta pessoal, do trato entre indivíduos, nem sempre podem ser aplicadas
a grupos. Mesmo seguindo esta linha, a política teria algumas características exclusivas, uma
vez que trataria tão somente dos deveres para com os outros, sem a distinção entre estes e os
deveres para consigo mesmo.

1.5. Ética e politica: duas grandezas referenciais

Podemos dizer que foi com o surgimento intempestivo de Sócrates na Ágora que o problema
ético adentra à cena filosófica e à política no mundo ocidental. Suas constantes inquietações
sobre o que é virtude, o que é justo, o que é certo, o que é apropriado, o que é o bem, o que é o
belo, interrogando a todos, colocavam em xeque questões morais da sociedade ateniense, e
mais ainda dos seus supostos sábios. Trazia para a discussão pública a questão da formação do

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homem honesto, realizando uma crítica aos sofistas que tornam os homens mais hábeis, mas
não mais sábios. E mostrava que a verdadeira luta não é do bem contra o mal, mas da sabedoria
contra a ignorância; o objetivo da justiça não é punir – a maior punição possível é a ignorância
e a única pena que os erros merecem é educação, esclarecimento, sabedoria.

Mas, será com Aristóteles que a ética se consolida como preocupação filosófica genuína. A
ética como uma ciência prática – a ciência do possível, não do necessário. Não se abordam
objetos concretos ou naturais, coisas unívocas, mas relações humanas, coisas abstratas,
pluridimensionais; examinam-se as convenções humanas, não leis invariáveis, revelando a
dificuldade de se estabelecerem, precisamente, as linhas divisórias entre o certo e o errado,
deliberando pela busca do meio termo. Trabalha-se com a imprecisão dos atos e valores
humanos, e a tentativa de buscar errar menos, ao invés de tentar acertar sempre: há inúmeras
formas de errar o alvo, mas só uma para acertar – se for para errar o alvo, que pelo menos, não
se acertem as demais pessoas.

Possível é aquilo que acontece se houver um agente com poder para fazer acontecer. O agente
do possível é a vontade livre de qualquer um de nós, como o poder de escolher entre alternativas
contrárias e deliberar sobre o sentido, o curso e a finalidade de uma ação. No possível, o
acontecimento resulta da escolha deliberada feita pelo agente, que avalia meios e fins de sua
ação. Entretanto, o agente livre realiza duas ações simultaneamente: para o agente livre, os
efeitos de sua ação fazem crescer sua liberdade e são efeitos livres; porém, para outros, os
efeitos de uma ação livre podem ser contingentes, que tanto podem aumentar quanto diminuir
a liberdade desses outros; da minha ação pode haver um bom ou um mau encontro com os
demais cidadãos. Assim, a ética seria como uma complementação na formação política, na qual
necessita criar disposições, pois naturalmente não seremos éticos, nem políticos, uma vez que
a ética e a política são comportamentos artificiais, como uma superação da ação imediata da
natureza que nos induz a reações antes que ações. Uma ética do possível – saber julgar a
circunstância e o momento – e deliberar da forma menos injusta, quando não se sabe onde está
a justiça. Não se espera nem santidade, nem heroísmo, mas, antes, o desenvolvimento de um
bom senso. Enquanto a política pode promover o bom cidadão, a ética deve complementar e
formar a boa pessoa, pois que as leis são insuficientes para o devido procedimento, diante das
circunstâncias da vida, na medida em que não dão conta de todas as ocorrências da vida. Boa
parte da vida das pessoas não está determinadas por normas sociais ou políticas, mas decorre
das escolhas dos indivíduos perante as diversificadas escolhas que a sociedade promove ou que
se inventa cotidianamente. A lei, como nos alerta Aristóteles, na Ética a Nicômaco, só

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prescreve atos e não se estende aos motivos ocultos desses atos, e ainda menos a preocupam
os atos puramente internos como o desejo de assassinato, traição, roubo etc. Por esta razão, não
se pode dizer que a lei instale a virtude, pois a virtude autêntica exige que não só se realizem
fatos justos, mas também se levem a cabo pelo motivo devido. A simples obediência à lei não
é garantia de virtude ética, pois é possível apegar-se à lei e atuar por um motivo puramente
egoísta ou utilitário. Certo é que ao exigir atos justos a todos, a lei predispõe aos homens a
adequação à virtude cívica, porém, não pode ir mais além. Portanto, deve ser complementada
por uma educação, a saber, a que abarca todos os atos humanos, inclusive os atos internos, e a
única que é capaz de produzir a virtude e não só sua aparência, ou seja, deve receber uma
formação ética. O império das leis é inferior ao império da inteligência viva, porque as leis,
devido a sua generalidade, não podem determinar sabiamente o que é reto e próprio em todas
as circunstâncias, dada a infinidade variada de circunstâncias: só a pessoa que está no lugar
poderá decidir o que é justo e apropriado nas situações concretas.

1.6. Insistências temáticas da doutrina social da Igreja

Doutrina Social da Igreja (DSI) é o conjunto de ensinamentos contidos na doutrina da Igreja


Católica, consoante ao Magistério da Igreja Católica e constante de dezanove encíclicas (até
a Laudato si', de 2015, da autoria do Papa Francisco) e de pronunciamentos papais inseridos
na tradição multissecular, que versa sobre a dignidade humana e sobre o bem comum na vida
em sociedade. Conquanto suas origens remontem a Santo Agostinho e São Tomás de Aquino,
e mesmo aos primeiros tempos do cristianismo, ou aos preceitos bíblicos e ensinamentos
apostólicos, desta vez, à luz também de sua dimensão social, é de costume atribuir ao Papa
Leão XIII e à sua Rerum Novarum (primeira entre as dezanove encíclicas referidas, publicada
em 1891) o início da Doutrina Social da Igreja em seu sentido estrito.

Têm esses ensinamentos a finalidade de fixar princípios, critérios e diretrizes gerais no que
toca à organização política e social dos povos e nações. Trata-se de um convite à ação. A
finalidade da Doutrina Social da Igreja é levar os homens a corresponderem, com o auxílio
também da reflexão racional e das ciências humanas, à sua vocação de construtores
responsáveis da sociedade terrena.

1.6.1. Princípios e valores

Segundo a Carta dos Direitos da Família (1983), são princípios básicos em que se condensa a
Doutrina Social da Igreja:

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 A dignidade da pessoa humana, como criatura à imagem de Deus e a igual dignidade
de todas as pessoas;
 Respeito à vida humana;
 Princípio de associação;
 Princípio da participação;
 Princípio da solidariedade;
 Princípio da subsidiariedade;
 Princípio do bem comum;
 Princípio da destinação universal dos bens;

Os princípios da dignidade da pessoa humana do bem comum, da subsidiariedade e o da


solidariedade a Doutrina Social da Igreja os considera de caráter geral e fundamental,
permanentes e universais. Esta doutrina indica, ainda, valores fundamentais que devem presidir
a vida social. Um dos valores é:

Trabalho humano

O homem, segundo esta doutrina, foi criado ut operaretur - “para trabalhar”. As realidades
criadas, são boas em si mesmas, existem em função do homem. O trabalho portanto, pertence
à condição originária própria do homem, é anterior à queda do pecado original, não pode por
isto ser entendido nem como punição e nem como sendo uma maldição ou castigo. É um
instrumento eficaz contra a pobreza e deve ser sempre honrado, é essencial, mas não é o fim
último da razão de ser da existência do homem, este não deve esquecer que a última razão da
sua existência é Deus.

O trabalho representa uma dimensão fundamental do homem como participante da criação e


da redenção. O trabalho é meio de santificação. Ninguém pode se sentir no direito de não
trabalhar e de viver à custa dos outros. O trabalho é também uma obrigação, vale dizer, um
dever do homem. Constitui uma obrigação para consigo, para com a família, a sociedade e
a nação.

A pessoa é o parâmetro da dignidade do trabalho: Não há dúvida nenhuma, realmente, de que


o trabalho humano tem seu valor ético, o qual, sem meios-termos, permanece diretamente
ligado ao fato de aquele que o realiza ser uma pessoa. Isto é, o valor do trabalho está não no
que é feito, mas está em quem o faz: a pessoa humana. O trabalho humano tem também a sua
dimensão social: o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho.

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1.7. Conteúdos Da Ética Politica Na Perspetiva Integradora

Para Bittar (2002), em vez de perguntar apenas qual conclusão é moralmente justificável (como
filósofo ou cidadão deveria inicialmente), a ética política pergunta ainda qual deve ser a
conclusão adotada como política e coercitivamente aplicada como lei quando os cidadãos
discordam razoavelmente sobre os valores em jogo, ou quando pertencem a diferentes
comunidades e nações.

Os principais problemas da ética política não são conflitos entre fins e meios, ou entre o
processo e os resultados, mas sim entre os valores dos fins ou resultados próprios. Muitas das
questões salientes na política de ética são impulsionadas pela tensão geral entre reivindicações
ou obrigações parciais e imparciais.

Segundo Dworkin (2005), isso pode ser visto claramente no trabalho sobre o que se tornou um
das as áreas mais ativas, justiça distributiva global. Por um lado, o parcialista (sustentando uma
doutrina às vezes chamada de liberalismo social) dão prioridade ao estado-nação, e exigem
transferência internacional apenas para sustentar instituições domésticas.

Por outro lado, os imparciais (sustentando uma doutrina conhecida como cosmopolitanismo
dar aos interesses de cada indivíduo igual respeito, independentemente de sua cidadania, e
requer uma distribuição mais ampla de recursos e muito mais exigindo obrigações
internacionais. Outros são internacionais em perspetiva, mas resiste à identificação com
qualquer uma das visualizações.

Conflitos semelhantes surgem em outra área de política que estimulou importantes


contribuições na imigração. Os cosmopolitas tendem a favorecem as fronteiras abertas,
enquanto os liberais sociais justificam restrições para proteger as instituições.

O conflito entre os fins surge em outras áreas, mas as entidades são diferentes.

No caso da política ambiental, o conflito é em parte entre o presente e o futuro gerações. Uma
questão política saliente é como as gerações futuras podem ser representadas (especialmente
considerando o fato de que a política atual determinará quem eles serão).

A ética política em uma democracia examina todas essas áreas políticas com este questão em
mente: que diferença devem as circunstâncias da política democrática faço? Essas
circunstâncias incluem a necessidade de tomar decisões coletivas que são

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vinculativa para todos os cidadãos, e a diversidade de visões morais e políticas na sociedades.
Os cidadãos têm direito a uma voz igual na decisão de políticas, mas em um sociedade
pluralista, eles discordam fundamentalmente sobre quais políticas são certas. sugere que,
mesmo se acreditarmos que uma política está certa, temos que considerar se em luz do
desacordo deve ser modificado, uma política alternativa adotada, ou isenções permitidas.

1.8. Conteúdos Da Ética Politica Na Perspetiva Critica

Para Bittar (2002), alguns críticos (os chamados realistas políticos) argumentam que a ética
não tem lugar na política. Para que os políticos sejam eficazes no mundo real, eles não podem
ser limitados por regras morais. Eles têm que perseguir o interesse nacional. No entanto,
Dworkin (2005), aponta que se os realistas forem solicitados a justificar suas afirmações, eles
quase sempre apelarão para seus próprios princípios morais (por exemplo, para mostrar que a
ética é prejudicial ou contraproducente).

Outro tipo de crítica vem daqueles que argumentam que não devemos prestar tanta atenção aos
políticos e às políticas, mas sim olhar mais de perto para as estruturas mais amplas da
sociedade, onde residem os problemas éticos mais sérios. Os defensores da ética política
respondem que, embora a injustiça estrutural não deva ser ignorada, muita ênfase nas estruturas
negligencia os agentes humanos responsáveis por mudá-las.

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Conclusão

Chegado ao termino do trabalho pode-se concluir que, para Maquiavel, o político eficiente
possui um caráter híbrido, simultaneamente homem e animal, e sabe "utilizar-se de uma e de
outra natureza." Parece sempre "piedoso, fiel, humano, íntegro, religioso", mas nunca se deixa
abater pela timidez, pois tem ousadia suficiente para, em determinadas ocasiões, agir sem peias
morais. Não cora ao valer-se da astúcia da raposa "para conhecer as armadilhas" e delas se
livrar; nem se envergonha ao servir-se da ferocidade do leão "para atemorizar os lobos" e
afugentá-los, se for preciso para vencer os embates internos e preservar, no plano internacional,
a soberania do Estado.

Na Política, não há lugar proeminente para os fracos e santarrões, pois "os homens ou se
conquistam ou se eliminam." Assim, é conveniente que o político possua virtudes e seja
habilidoso. Todavia, essas qualidades não lhe garantem o êxito. O sucesso ele somente alcança
se for forte e ousado, tanto para conquistar como para manter o poder. Além disso, depois de
assenhorear-se da posição de mando, precisa definir logo as ofensas que deseja executar, para
concretizá-las de uma só vez. Se almeja a confiança dos governados, não pode se esquecer
de "fazer as injúrias todas de um só golpe", para não ter que renová-las a cada dia. Quanto aos
benefícios, deve cedê-los "aos poucos, de sorte que sejam mais bem saboreados". Em
circunstância alguma pode olvidar que "os principais fundamentos do Estado são as boas leis
e as boas armas" nas mãos de tropas regulares, compostas não de mercenários, mas de súditos
e cidadãos leais, sem os quais não pode eficientemente defender-se nem proteger a soberania
do Estado, nos momentos de adversidade. [18]

Maquiavel frisa ainda que o político "não deve ser crédulo nem precipitado, nem atemorizar-
se, e sim proceder com equilíbrio, prudência e humanidade, para que o excesso de confiança
não o torne incauto, nem a desconfiança excessiva o faça intolerável." Ao homem público, ele
acrescenta, convém ser, ao mesmo tempo, amado e temido. Todavia, se não puder reunir as
duas qualidades, é "muito mais seguro ser temido do que amado."

Há outro ensinamento precioso na doutrina do mencionado autor: o político precisa se esforçar


para não despertar ódios contra sua pessoa, e consegue isso privando-se "da posse dos bens e
das mulheres dos cidadãos e dos súditos". Caso resolva "derramar o sangue de
alguém," somente o faça "se houver justificativa apropriada e causa manifesta", nas chamadas
razões de Estado

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Referências Bibliográficas

Bittar, E. B. C. (2002). Curso de ética jurídica: Ética Geral e Profissional. São Paulo, Brasil:

Saraiva.

Bobbio, N. (2000). Teoria geral da política. Tradução Daniela Beccaccia Versiani. Rio de
Janeiro, Brasil: Campus.

Dworkin, R. (1999). O império do Direito. São Paulo, Brasil: Martins Fontes.

Dworkin, R. (2005). Uma questão de princípio. São Paulo, Brasil: Martins Fontes.

Carta dos Direitos da Família. (1983). Vaticano: Tipografia Poliglota Vaticana.

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