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Entenda o conceito de direito das obrigações, suas fontes fontes e espécies

Felipe Bartolomeo

Felipe Bartolomeo

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Importância do direito das obrigações

O que é o direito das obrigações

Elementos constitutivos ou essenciais das obrigações

Elementos acidentais das obrigações

Fontes das obrigações

Espécies das obrigações

Conclusão

19 ago 2020

ìcone Relógio

Artigo atualizado 10 set 2021

O direito das obrigações é a parte do Direito Civil que estuda os vínculos jurídicos criados entre
pessoas em que o patrimônio do devedor poderá responder pelo seu inadimplemento. Tem sua
previsão no Código Civil.

Pode-se dizer com bastante certeza que a base do direito obrigacional é uma das mais importantes
de todo o Direito em razão de sua repercussão no dia-a-dia de absolutamente todas as pessoas que
vivem em sociedade.

Neste texto, você confere os principais conceitos relacionados ao tema. Para começar, vamos seguir
entendendo por que é tão importante e, depois, passaremos aos elementos, fontes e espécies de
obrigações. Boa leitura!

Importância do direito das obrigações

Você consegue pensar em um único dia que não tenha realizado um contrato?
Ah, lembre-se que contrato não é somente aquele papel escrito cheio de formalidades entre
“contratante” e “contratado”. Ou seja, uma mera compra de uma bala no baleiro que fica na frente
do colégio é, tecnicamente, um contrato de compra e venda de bem móvel e fungível.

Todos os contratos são baseados em, ao menos, uma das partes se comprometer a dar, fazer ou não
fazer algo para a outra parte. Este comprometimento tem como fundamento justamente o direito
das obrigações.

Por outro lado, aprofundando ainda mais no tipo de contrato citado acima, pode-se ver uma
obrigação do baleiro de dar a bala para o comprador e outra obrigação do comprador de dar um
dinheiro para o baleiro.

Este é apenas um exemplo de como os contratos (e, por consequência, as obrigações) estão em
nosso cotidiano. Mas poderíamos citar a obrigação do trabalhador chegar no horário e cumprir sua
carga horária no trabalho, a obrigação de o motorista de ônibus cumprir sua trajetória, de o
restaurante servir o prato pedido, dentre inúmeros outros.

Percebe-se, assim, que o dito das obrigações está presente em inúmeros atos que todos nós
praticamos durante todo o nosso dia. Vamos entender um pouco mais deste preciosíssimo ramo do
Direito?

O que é o direito das obrigações

Como foi brevemente definido, o direito das obrigações é a parte que estuda os vínculos jurídicos
criados entre pessoas em que o patrimônio do devedor poderá responder por seu inadimplemento.

Mas há outros conceitos importantes para entender o direito obrigacional por completo. E é o que
veremos a seguir.

Direitos absolutos e relativos

Os direitos de uma pessoa são contrapostos ao dever de outras pessoas e, de uma forma geral,
estão divididos entre duas espécies:
Direitos absolutos: são aqueles oponíveis a todas as pessoas (erga omnes) e o direito do titular
corresponde a um dever negativo dos demais (inação). Se eu tenho direito à vida, todas as demais
pessoas têm o dever de não me tirar a vida.

Direitos relativos: são aqueles direitos inerentes àqueles que se manifestam em uma relação jurídica
entre dois (ou mais) sujeitos certos e determinados. Isso quer dizer que o direito de uma das partes
corresponde a um dever da outra parte (inter pars). Se eu vou comprar uma bala, o vendedor deve
me entrega a mesma.

Origem da palavra obrigação

Antes de apresentar um conceito formal sobre o que vem ser obrigação, é importante entender o
que essa palavra significa.

Obrigação decorre de duas palavras em latim: ob (para) e ligatio (ligação), que juntas formam a
obligatio que quer dizer que se vincula, que se liga.

No direito romano, a obligatio era considerada um vínculo jurídico, um elo ao qual as pessoas
escolhiam se submeter e se mantinham obrigadas a cumprir uma prestação.

Conceito de obrigação

O Código Civil não apresenta o conceito de obrigações em seu conteúdo, no entanto, vários
doutrinadores apresentam sua conceituação.

A definição dada por Caio Mário é:

Vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra prestação economicamente
apreciável.”

Já Washington de Barros assim conceitua:

Relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste
numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo,
garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio.”
Desta forma, pode-se conceituar obrigação como:

Relação jurídica transitória existente entre um sujeito ativo e outro passivo, cujo objeto é uma
prestação descrita nos direitos pessoais (seja ela positiva ou negativa), e, caso não seja cumprida, a
obrigação poderá ser satisfeita pelo patrimônio do devedor.

Importante esmiuçar este conceito.

Relação jurídica: norma que regula relação existente entre as partes e o objeto da obrigação;

Transitória: não é eterna, possui um fim;

Sujeito ativo: quem pode exigir o cumprimento da obrigação (credor);

Sujeito passivo: quem deve cumprir a obrigação (devedor);

Prestação pessoal: a obrigação, seja de fazer, deixar de fazer ou dar, deve ser adimplida pela parte;

Patrimônio do devedor: quem responde pelo inadimplemento da obrigação é o patrimônio do


devedor, não existindo mais castigos ou penas pessoais (prisão, transformação da pessoa em bem –
escravidão…)

Elementos constitutivos ou essenciais das obrigações

Algo muito importante deve ser trazido para analisar o direito das obrigações: seus elementos
constitutivos. Estes elementos estão no plano de existência de uma obrigação, ou seja, sem sua
presença não existe uma obrigação.

São estes os elementos constitutivos: subjetivo, objetivo e imaterial.

Elemento subjetivo

É aquele que diz respeito aos sujeitos, às partes.

O elemento subjetivo é dividido em sujeito ativo e passivo, sendo que o primeiro é o beneficiário,
quem tem o direito de exigir o cumprimento da obrigação, enquanto o segundo é quem assume o
dever, e, se não o cumprir, responde com seu patrimônio.

Na maioria das obrigações ocorre um sinalagma obrigacional.


“Sina o que?”

Sinalagma obrigacional é o nome técnico que descreve a situação em que ambas as partes são
credoras e devedoras ao mesmo tempo.

Voltando ao exemplo do baleiro na porta da escola ao vender uma bala:

Ao mesmo tempo que o baleiro está sendo devedor da obrigação de dar a bala para o comprador,
ele também está se tornando credor da obrigação do comprador dar dinheiro para ele. Visto pelo
lado do comprador, este é credor de receber a bala e é devedor de pagar o dinheiro por ela
correspondente.

Elemento objetivo

Diz respeito ao objeto da obrigação, ou seja, a prestação.

Prestação é o dever específico de fazer, não fazer ou dar.

É importante fazer um destaque neste ponto: no caso do baleiro, o objeto da obrigação era a
obrigação de dar.

O objeto do objeto de uma obrigação é conhecido como objeto mediato. Isso quer dizer que o
objeto de uma venda de uma bala é a prestação de dar, enquanto o objeto da prestação de dar é a
bala em si.

Lembre-se que o art. 104 do Código Civil, que aponta as condições de validade de um negócio
jurídico, descreve no seu inciso II que para ter validade, o objeto de uma obrigação deve ser lícito,
possível e determinado (ou determinável).

Fora destas condições, ainda se faz necessário inserir uma outra condição para ser regulada pelo
direito das obrigações: natureza patrimonial. O que quer dizer que a obrigação pode ser
transformada em valores financeiros caso não seja cumprido.
Em outras palavras, quando o namorado promete todas a gotas do oceano, todas as estrelas do céu
e todos os grãos de areia para sua amada, está fazendo apenas uma graça e mostrando o quão
grande é seu amor, mas não importa em uma promessa regida pelo direito obrigacional.

Elemento imaterial ou abstrato

Não é visível. É o vínculo jurídico que cria a liga entre as partes e o objeto.

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Elementos acidentais das obrigações

Os elementos acidentais são aqueles que podem ou não estar presentes em uma obrigação e dizem
respeito ao plano de eficácia das obrigações, ou seja, a partir de quando que a obrigação poderá ser
exercida ou parará de ser exercida.

Os elementos acidentais são a condição, o termo e o encargo.

Condição

Acontecimento de algo que gerará a situação suspensiva ou resolutiva e diz respeito a um evento
futuro e incerto.

Na condição suspensiva o efeito da obrigação apenas se iniciará depois de alcançada esta condição.
Por exemplo: Apenas te venderei meu carro se eu comprar outro.

Na condição resolutiva o efeito da obrigação vai extinguir depois de alcançada esta condição. Por
exemplo: Você pode usar meu carro até que eu o venda para um terceiro.

O Termo
Diz respeito ao acontecimento de um evento futuro e certo que gerará a situação de iniciar ou
terminar uma obrigação.

O termo inicial aponta quando a obrigação começará a ter efeito. Por exemplo: Vou te pagar daqui 1
semana.

Já o termo final aponta quando a obrigação se finda. Por exemplo: Você pode usar meu carro até a
semana que vem.

Encargo

Um ônus que pode ser imposto ao beneficiário por uma obrigação gratuita. Por exemplo: eu te doo
o imóvel caso você construa uma creche para pessoas carentes e a mantenha por 5 anos.

Fontes das obrigações

Existe uma certa divergência doutrinária quanto ao que gera obrigações.

Alguns doutrinadores capitaneados por Caio Mário apontam que apenas a vontade humana e a lei
são fontes. A maioria da doutrina, no entanto, entende que o ato ilícito também é fonte das
obrigações.

Fernando Noronha aponta que:

A vontade sozinha não cria nenhuma obrigação e que a lei sozinha também não é fonte de qualquer
obrigação”

Fernando Noronha. Direito das Obrigações. Volume I. São Paulo: Editora Saraiva, 2003, p. 343

Nelson Rosenvald, se baseando em Fernando Noronha, aponta a tripartição das obrigações segundo
as suas funções, quais sejam:

Negócio Jurídico

Antes é importante frisar a diferença de ato, fato e negócio jurídico.


Fato jurídico: acontecimento natural que geram efeitos jurídicos;

Atos Jurídicos (lato sensu): ações ou omissões decorrentes da vontade humana que geram efeitos
jurídicos;

Atos Jurídicos (stricto sensu): ações ou omissões decorrentes da vontade humana que tem seus
efeitos determinados na lei. Por exemplo: constituição de um domicílio, promessa de recompensa
(art. 854 a 860), gestão de negócios (861 a 875), entre outros.

Negócio jurídico: ações ou omissões decorrentes da vontade humana que tem seus efeitos
determinados na lei minimamente na lei, mas as partes possuem maior amplitude para dispor sobre
o objeto da relação. É um ato de autonomia privada. Como exemplo temos: contrato de compra e
venda – objeto, forma, preço, tempo, lugar de pagamento etc.

Leia também: Aspectos, princípios e requisitos da teoria geral dos contratos

Responsabilidade civil

Obrigações decorrentes de danos à pessoa ou ao patrimônio alheio. Ou seja, alguém violou um


dever negativo (não causar danos a terceiros) descrito nos art. 186 (ato ilícito propriamente dito),
187 (abuso de direito) e 927 (dever de indenizar) todos do Código Civil.

A culpa (lato sensu) subdivide-se em dolo (intenção) e culpa (stricto sensu), e esta última se
subdivide em

Negligência: alguém deixa de tomar uma atitude ou apresentar conduta que era esperada para a
situação. Age com descuido, indiferença ou desatenção, não tomando as devidas precauções;

Imprudência: por sua vez, pressupõe uma ação precipitada e sem cautela. A pessoa não deixa de
fazer algo, não é uma conduta omissiva como a negligência. Na imprudência, ela age, mas toma uma
atitude diversa da esperada; e

Imperícia: falta de técnica necessária para realização de certa atividade.

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Enriquecimento injustificado (art. 884)


Coloca em seu patrimônio o que deveria ser de outra pessoa.

Difere da responsabilidade porque esta busca reparar um dano, enquanto o enriquecimento


injustificado busca remover os acréscimos patrimoniais de uma pessoa. A ideia não é voltar ao status
quo ante, mas sim transferir os acréscimos.

Lembrando-se o Enunciado 35 do CJF:

A expressão se enriquecer à custa de outrem do art. 884 do novo Código Civil não significa,
necessariamente, que deverá haver empobrecimento”

Espécies das obrigações

1. Obrigação de dar

A obrigação de dar é aquela em que um bem está em posse do devedor e deve ser passado para a
posse do credor.

Esta obrigação pode ser subdividida em obrigação de entregar (quanto o bem nunca esteve na posse
do credor) ou de restituir (quanto o bem já esteve na posse do credor e agora está com o devedor).

Da mesma forma, existe ainda outra subdivisão que diz respeito ao objeto: se ele é certo ou incerto.

Se o objeto for certo, então o bem é infungível, individualizado, determinado. Por exemplo: uma
Ferrari de placa HHH1111.

No entanto, se ele for incerto, o bem é fungível e pode ser individualizado de acordo com as
características dele no momento do cumprimento da obrigação. Por exemplo: uma maçã vermelha.

Um ponto de absoluta importância sobre a entrega do bem objeto da obrigação é que o Credor não
é obrigado a aceitar coisa diversa da que lhe é devido, mesmo que mais valiosa, nem é o devedor
obrigado a dar bem diverso do ajustado (art. 313 do Código Civil), o que é conhecido como princípio
da identidade.
2. Obrigação de fazer

A obrigação de fazer é uma obrigação positiva, isso quer dizer que o devedor deve cumprir uma
tarefa ou atribuição.

A obrigação de fazer é uma das poucas que gera para o credor o direito de Autotutela. O art. 249 §
único do Código Civil aponta que em caso de urgência, o credor pode cumprir a tarefa antes de pedir
ao juiz e o pedido passa a ser que ele seja ressarcido.

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3. Obrigação de não fazer

A obrigação de não fazer é uma obrigação negativa, isso quer dizer que o devedor deve se abster de
realizar uma conduta. Esmiuçando ainda mais, o devedor deve não fazer algo ou tolerar que o credor
faça (permissão). A inadimplência começa na data que o ato for praticado.

Se o ato foi realizado, o credor pode exigir que seja desfeito, se o devedor não desfazer e for uma
questão urgente, o próprio credor pode desfazer e cobrar perdas e danos depois, ou seja, mais um
caso de autotutela permitida pelo direito.

Por sua natureza, o inadimplemento da obrigação de não fazer não comporta o atraso (ou mora),
apenas o inadimplemento total (ou não faz ou faz, não tem como não fazer só um pouquinho).

Conclusão

O direito das obrigações é a base de toda relação jurídica privada.

É extremamente importante se atentar para a enorme gama de atuação por parte dos advogados,
que devem prezar pelos detalhes específicos cabíveis em cada caso concreto para que o direito seja
bem utilizado ou não seja mau utilizado.

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