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1. TIPOS DE RACIOCÍNIO
Sem pretender esgotar as espécies codificadas pela retórica, veja o
leitor alguns tipos:
a) APODÍTICO (apodeiktós) É o que se estrutura com tom de verdade
absoluta: a argumentação "fecha" as possibilidades contestatórias, sendo
inteiramente impossível ilidi-la. Exemplo: "Quem crer e for batizado será
salvo", dizem as Escrituras.

1. POR EXCLUSÃO (per exclusionem) O redator propõe várias hipóteses


e vai eliminando uma por uma, para se fixar em seu objetivo. Pode o
estudante (e mesmo o profissional) do Direito apreciar este tipo de
raciocínio em grande parte dos artigos do Prof. Dr. Damásio Evangelista de
Jesus, uma quase marca registrada do respeitado e ilustre jurista.
É bastante oportuno tal recurso argumentativo porque o leitor vai
superando as hipóteses não aceitas pelo autor para com ele abraçar a
disjuntiva defendida. No mundo literário, é o raciocínio frequentemente
encontradiço no Pe. Vieira, célebre por sua força argumentativa.

2. PELO ABSURDO (ab absurdo)


Consiste, de modo geral, em se refutar uma asserção, mostrando-lhe
a falta de cabimento ao contrariar a evidência. No exemplo da fábula do
lobo e do cordeiro, absurdo foi o argumento do primeiro ao dizer que o
cordeiro lhe turvava a água, porque este (o cordeiro) estava muito mais
abaixo.
3. DE AUTORIDADE (ex auctoritate ou ab auctoritate)
A intenção é mais confirmatória do que comprobatória. O argumento
apóiase na validade das declarações de um especialista da questão (que
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partilha da opinião do redator). É largamente explorado no discurso


jurídico com o emprego de fórmulas estereotipadas como "estribando-se na
autoridade de [...]" Segundo Tercio Ferraz Jr. (1991, p. 309), tal argumento
domina a argumentação jurídica.
Na esfera religiosa, a palavra de Deus é o argumento mais forte.
Outras formas há de argumentação: (a) contra o homem (ad hominem) cujo
ataque é frontal e específico ao adversário, em situação concreta, portanto;
(b) experimental (a posteriori) - o redator parte do resultado ou efeito para
conhecer as origens ou causas; (c) pelo silogismo do tipo sorites1 - o redator
indica um atributo do objeto que é sujeito de outra proposição, sendo este
da terceira e assim sucessivamente, a fim de concluir que todas elas são
igualmente verdadeiras, ou seja, os argumentos são todos fortes ou fracos,
sem distinção.
FALÁCIAS DA ARGUMENTAÇÃO
Muito já se falou sobre os defeitos da argumentação, mas bom é
reiterar algumas falhas a serem evitadas a fim de não comprometer o êxito
do objetivo redacional. Em primeiro plano, advirta-se a confusão entre fato
e argumento. Não se há de narrar um acontecimento, esperando que tire o
leitor conclusões argumentativas da situação concreta.
A consciência da natureza persuasiva do discurso jurídico contribui
para o emprego mais preciso dos vocábulos - material ideológico - e de
suas relações formais e materiais na enunciação silogística.
Já se falou que o Direito não é Lógica Formal, mas os recursos da
Lógica são técnicas dissertativas de alto efeito persuasivo. Em análise
última, não há discurso sem o elemento dissertativo porque a neutralidade
absoluta não é encontrada sequer nas ciências sociais que a exigem, como
no saber sociológico. Como é natural a presença de diferentes opiniões para

1 polissilogismo no qual o atributo da primeira proposição se torna sujeito da segunda, o


atributo da segunda, sujeito da terceira, e assim sucessivamente, e no qual a conclusão une o
sujeito da primeira e o atributo da última.
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um só fato, a prevalência desta ou daquela se dá pela força argumentativa


obrigatória no discurso jurídico.

2.Parecer jurídico: tudo o que você precisa saber2

O parecer jurídico é uma manifestação especializada elaborada por


juristas particulares, como um consultor jurídico, advogado ou jurista
público sobre determinado assunto quando solicitado por pessoas jurídicas
ou físicas, na existência de dúvidas ou controvérsias sobre o tema.

O Parecer Jurídico é um documento por meio do qual o jurista


(advogado, consultor jurídico) fornece informações técnicas acerca de
determinado tema, com opiniões ou declarações jurídicas fundamentadas
em bases legais, doutrinárias e jurisprudenciais. 
Geralmente é solicitado por uma pessoa jurídica ou natural (física)
como elemento necessário para tomada de uma decisão importante, ou seja,
normalmente o parecer jurídico é provocado por uma consulta, em que se
acentuam os pontos controvertidos da questão, a serem esclarecidos pelo
jurista. Entretanto o cliente não está vinculado ao parecer jurídico.
  O ponto de vista emitido é pautado em leis, princípios, doutrinas
e jurisprudências, ou seja, fontes do direito que sustentam o
posicionamento técnico do parecerista com o objetivo de elucidar o tema. 
Vale frisar que o consulente não é obrigado a seguir o parecer jurídico. É
feito com análise jurídica aprofundada que demonstrem o desenvolvimento
e o raciocínio jurídico e seguido uma estrutura adequada. 

Qual a finalidade do parecer jurídico? 

2  BENSIMON , Sarah. Parecer jurídico: tudo o que você precisa saber. Disponível em
https://www.aurum.com.br/blog/parecer-juridico/. Acesso em 03.no.2020
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A finalidade do parecer jurídico é tornar compreensível a questão de


algum assunto no Direito (conheça as áreas do direito). Nele, busca-se
ilustrar as legislações pertinentes que incidem na problemática, bem
como assimilação dos fatos, efeitos e validade jurídica decorrentes do caso
apreciado. Além disso, sugestão de como resolver o imbróglio. 

O parecer jurídico serve como base para tomada de decisão. É


uma medida adequada para prevenção de riscos e resultados danosos, estes
que podem sobrevir como consequência de não observância dos preceitos
contratuais e/ou legais. 

Em quais situações o parecer jurídico é relevante?


Como o parecer jurídico é feito de forma expressa à manifestação
técnica e formal para o consulente, pode ser utilizado para afastar uma
medida judicial, por exemplo. 
Quando há controvérsias sobre algum assunto, o parecer jurídico
pode auxiliar no entendimento sob o ponto de vista técnico. Por isso, é
sustentado e exposto o posicionamento pessoal ao final do parecer com os
devidos fundamentos e com base na legislação pertinente.

Como fazer um ótimo parecer jurídico?


Na estrutura do parecer jurídico ideal, primeiro o cabeçalho deve
identificar o documento com a numeração, consulente, referência e ementa.
Em seguida, o desenvolvimento contém as informações mais importantes
para análise. 

Primeiro tópico
Relatório que consta a síntese fática finalizando com a sentença “é o
relatório, passa-se ao opinativo”. 
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Segundo tópico
Deve conter os fundamentos jurídicos que embasam a avaliação
profissional, com as razões de fato e de direito para argumentar
juridicamente a questão central do parecer jurídico. 
Terceiro tópico
Este é o último tópico, onde deve conter a conclusão resumida das
teses defendidas pelo jurista de forma objetiva e clara. Na orientação
jurídica, o desfecho é com a expressão “é o parecer. À consideração
superior”. Após isso, deve-se finalizar com local e data, assinatura e cargo
ocupado do profissional. 

Dicas para elaborar um ótimo parecer jurídico

O principal ponto para elaboração de um ótimo parecer jurídico


é usar uma linguagem acessível e ao mesmo tempo coesa, clara e
objetiva. Também é indicado não usar nomes próprios nem dispositivos
legais e utilizar apenas frases nominais na ementa, além de sempre concluir
com parecer favorável ou desfavorável a alguma coisa. 

Tente evitar a precipitação e ter a exata compreensão do que vai ser


posto no papel por ser militante de uma área específica, assim como ser
preventivo diligente com os pensamentos organizados e concatenados. 
É importante que o documento seja revisado ao menos três vezes
para garantir que todos os pontos cruciais foram abordados. 
Não deixe de se  atentar às normas da ABNT para redigir a estrutura do
parecer jurídico. Na parte do relatório, o ideal é mencionar o fato gerador,
modo como aconteceu, contar a história e, por consequência, finalizar com
a expressão “é o relatório”. Argumente e fundamente o seu pleito! =)
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A conclusão deve ser o raciocínio jurídico favorável ou não ao


que foi questionado. Por fim, autentifique o parecer jurídico com
assinatura do profissional para dar legitimidade e autoria ao documento. 

Modelo de parecer jurídico


Parecer n. Colocar o número. Deve estar centralizado. 

Interessado: que é o consulente. 

Assunto/Ementa:  é o tema suscitado. São as palavras-chaves resumidas


do parecer. Por exemplo: (im)Possibilidade. 

Relatório: trata-se de consulta formulada por fulano de tal acerca da


viabilidade de responsabilização por perdas e danos solidariamente com o
incorporado. “É o relatório, passo a opinar”. 

Fundamentação jurídica: “a consulta exige a compreensão do instituto


da incorporação imobiliária, regida pela lei 4.591/64 (…)”

Conclusão: diante do exposto, viu-se que é atribuída ao alienante a


responsabilidade pela indenização por perdas e danos perante terceiros. “É
o parecer”.

Local, data, advogado e OAB.


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CÍVEL - MODELO PARECER3

PARECER

CABEÇALHO

ÓRGÃO SOLICITANTE: KKKKKKKKKKKKKKKKKK


ASSUNTO: COMITÊ DE ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA E
POLÍTICA TRIBUTÁRIA; ATRIBUIÇÕES; PARTICIPAÇÃO NA
ELABORAÇÃO DE EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO

EMENTA: CAF – LEGITIMIDADE - COMPOSIÇÃO – ATRIBUIÇÕES


– AUTOTUTELA - EDITAL – CONCURSO PÚBLICO –
ELABORAÇÃO - CRITÉRIOS TÉCNICOS - COMPETÊNCIA
RECONHECIDA E CARACTERIZADA

À Gerência Especial de Atividades Tributárias,


3 Disponível em : https://domtotal.com/direito/pagina/detalhe/23205/civel-modelo-parecer. Acesso
em 04.nov.2020
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RELATÓRIO

Trata a presente de consulta encaminhada pelo Ilmo.


OOOOOOOOOOOOOOOO, a esta Procuradoria-Geral, solicitando
esclarecimentos acerca das atribuições do CAF na participação de
elaboração de edital para o concurso público para o preenchimento de
vagas para o cargo de Auditor Fiscal de Tributos Municipais, Auditor
Técnico de Tributos Municipais, Analista Fazendário e Agente Fazendário.

Nesta trilha, a consulta perpassa pelos seguintes questionamentos:


* É atribuição do CAF participar na Elaboração do edital do concurso?
* O CAF tem que aprovar o edital do concurso?
*Qual o significado operacional do termo “os critérios técnicos dos
regulamentos de concurso público ” ?

* É função do CAF aprovar a definição das matérias das provas e seus


respectivos conteúdos programáticos?

Com efeito, o cerne do presente parecer versa sobre a competência do CAF


no procedimento para proposição na elaboração e aprovação de edital de
concurso público para preenchimento de cargos públicos na área da
Fiscalização Tributária do Município de Belo Horizonte.

Eis o relatório. Passo a opinar.

FUNDAMENTAÇÃO
DO COMITÊ DE ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA E POLÍTICA
TRIBUTÁRIA

O Comitê de Administração Fazendária e Política Tributária foi criado pela


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Lei Municipal nº 9303/2007.

A Portaria SMF nº 001 de 13 de março de 2007 aprovou o Regimento


Interno do Comitê De Administração Fazendária e Política Tributária.

O artigo 1º do referido Regimento dispõe sobre a natureza jurídica do CAF:


“órgão de natureza consultiva do Gabinete da Secretaria Municipal de
Finanças”.

Já o inciso IV do art. 4º do Regimento interno do CAF dispõe ser da


competência de seu Presidente ( o Secretário Municipal de Finanças (art. 2º
do RI) “aprovar, facultativamente, e fazer executar as decisões do Comitê”.

A criação do referido comitê goza de legitimidade e finalidade que não só


está em sua lei de regência, mas na própria Constituição Federal: Os
Princípios Democrático e Republicano, bem como os Princípios que regem
a Administração Pública (Legalidade, Impessoalidade, Moralidade,
Publicidade e Eficiência).

O artigo 2º da referida lei municipal criou no âmbito da Secretaria


Municipal de Finanças, o Comitê de Administração Fazendária e Política
Tributária, órgão de caráter permanente, integrado pelo Secretário
Municipal de Finanças, pelo Secretário Municipal Adjunto de
Arrecadações e pelos Gerentes de 1º Nível da Secretaria Municipal Adjunta
de Arrecadações.

Dentre as atribuições legais do CAF está a propositura, em conjunto com a


Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos, dos critérios
técnicos dos regulamentos de concurso público e de evolução funcional
para os servidores integrantes do Plano de Carreira da Área de Atividades
de Tributação (inciso, VII, do art. 2º da Lei 9.303/2007).

O Município é um componente da Federação, dotado de autonomia política


(artigo 18 da CF), que lhe confere capacidade de auto-governo, capacidade
de auto-organização, capacidade de auto-legislação, capacidade financeira,
ao arrecadar tributos de sua competência, e capacidade de auto-
adminstração.

Foram as capacidades de auto-administração e de auto-legislação que


constitucionalizaram a criação do CAF no âmbito municipal. Ora, o
Município tem competência para legislar sobre direito administrativo
(servidores públicos e critérios para o preenchimento de cargos públicos,
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bem como organizar suas atividades, competências e funções sem


interferência da União ou dos Estados), desde que respeitada a Constituição
Federal e a lei orgânica municipal.

Assim, qualquer ato administrativo ou legislativo do Município, incluídos


aí todos os órgãos municipais, dentre eles o CAF devem obediência à
Constituição da República.

Uma vez criado o CAF pela legislação municipal, qualquer ato de cuja
competência sua não seja exercida – como a propositura dos critérios
técnicos dos critérios técnicos dos regulamentos de concurso público - leva
consigo a pecha de nulidade, que merece ser sanada de pronto pela
Administração Pública, em razão de seu Poder de Auto-tutela, no já
consolidado entendimento do STF .

O CAF é o órgão municipal que permite a observância do mandamento


constitucional talhado no inciso II do artigo 37 da CF, que dispõe:

Art. 37 (...)

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação


prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo
com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista
em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei
de livre nomeação e exoneração;

O inciso VII do artigo 2º da lei 9303 de 2007 é de uma clareza de saltar aos
olhos ao conferir ao CAF a competência para propor os critérios técnicos
dos regulamentos de concurso público para os servidores integrantes do
Plano de Carreira da Área de Atividades de Tributação.

Como leciona o mestre José Afonso da Silva “competência é a faculdade


juridicamente atribuída a uma entidade ou a um órgão ou agente do Poder
Público para emitir decisões. Competências são as diversas modalidades de
poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas
funções” (Curso de Direito Constitucional Positivo, 15. ed. , Malheiros
editora, pág. 479).
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Toda norma de competência encerra um aspecto positivo e outro negativo.


Pelo aspecto positivo, a competência atribuída a um órgão deve ser por ele
efetivamente exercida. No entanto, pelo aspecto da competência negativa o
órgão deve agir nos estritos limites de sua competência, sem dela
transbordar.

Como se disse acima, o artigo 1º do referido Regimento dispõe sobre a


natureza jurídica do CAF: “órgão de natureza consultiva do Gabinete da
Secretaria Municipal de Finanças”. Já o inciso IV do art. 4º do Regimento
interno do CAF dispõe ser da competência de seu Presidente ( o Secretário
Municipal de Finanças (art. 2º do RI) “aprovar, facultativamente, e fazer
executar as decisões do Comitê”.

Assim, a competência do CAF, sua natureza consultiva, bem como as


atribuições de seu presidente estão perfeitamente delineados na legislação
municipal.

Critério técnico, insta esclarecer, é aquilo que serve de base para


comparação, julgamento ou apreciação de alguma coisa com base em
normas legais, necessidades técnicas ou regras de experiências. Um
princípio que permite distinguir o correto do incorreto, o pertinente do
impertinente. É ter discernimento, circunspeção, prudência. Este o
significado do termo. Já o termo “propositura” significa indicação,
recomendação ou sugestão.

Tais critérios técnicos devem ser feitos, preferencialmente, por pessoas de


conhecimento técnico da área e que sabem das exigências do cargo, bem
como das necessidades de qualificação de pessoal para atender as
necessidades do órgão fazendário municipal.

O CAF é integrado pelo Secretário Municipal de Finanças, pelo Secretário


Municipal Adjunto de Arrecadações e pelos Gerentes de 1º Nível da
Secretaria Municipal Adjunta de Arrecadações, estes últimos os mais
indicados para avaliar a carência e qualificação de pessoal que vai compor
os quadros da Fiscalização, porquanto sentem diariamente as dificuldades
materiais e de pessoal, em razão da função que exercem pois realizam
estatísticas, estudo, análise e ponderação técnica efetuada em nível da
Administração, com o concurso, sempre que necessário, dos dados de fato
e dos subsídios fornecidos pela Ciência e pela tecnologia disponíveis.
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Assim, a definição das matérias das provas e seus respectivos conteúdos


programáticos devem contar com a participação efetiva do Secretário
Municipal de Finanças, do Secretário Municipal Adjunto de Arrecadações
e dos Gerentes de 1º Nível da Secretaria Municipal Adjunta de
Arrecadações.

O CAF é o órgão competente, em conjunto com a Secretaria Municipal de


Administração e Recursos Humanos, para a propositura dos critérios
técnicos dos regulamentos de concurso público, e não pela elaboração do
edital para o concurso público para o preenchimento de vagas para o cargo
de Auditor Fiscal de Tributos Municipais, Auditor Técnico de Tributos
Municipais, Analista Fazendário e Agente Fazendário.

Alerte-se que estamos nos referindo especificamente aos casos em que a


elaboração de edital pressupõe uma averiguação ou operacionalização
técnica a serem resolutas em nível administrativo, até porque, muitas vezes,
seria impossível, impraticável ou desarrazoado efetuá-las no plano da lei.

Não poderia mesmo a lei ou outro órgão ou entidade propor os critérios


técnicos do edital sem a participação do referido órgão, pois os preceptivos
regulamentares do concurso servirá a um dos seguintes propósitos:

(I) limitar a discricionariedade administrativa, seja para (a) dispor sobre o


modus procedendi da Administração nas relações que necessariamente
surgirão entre ela e os administrados por ocasião do concurso público; (b)
caracterizar fatos, situações ou comportamentos enunciados na lei e no
edital mediante conceitos vagos cuja determinação mais precisa deva ser
embasada em índices, fatores ou elementos configurados a partir de
critérios ou avaliações técnicas segundo padrões uniformes, para garantia
do princípio da igualdade e da segurança jurídica;
(II) decompor analiticamente o conteúdo de conceitos sintéticos, mediante
simples discriminação integral do que neles se contém.
Note-se que, se inexistissem tais disposições concernentes ao modus
procedendi a ser elaborado pelo CAF, a multiplicidade de maneiras pelas
quais se poderiam efetuar os critérios técnicos do edital ensejaria que
outros órgãos ou agentes públicos, por desfrutarem de certa discrição
perante tais questões - dada a ausência de pormenores legais quanto a isto -,
adotassem soluções díspares entre si, incompatíveis com a boa ordem
administrativa e com a igualdade de tratamento a que os administrados
fazem jus.
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Todo edital é expedido com base em disposições legais e necessidades


administrativas que mais não podem ou devem fazer senão aludir a
conceitos precisáveis mediante averiguações técnicas, as quais sofrem o
influxo das rápidas mudanças advindas do progresso científico e
tecnológico, assim como das condições objetivas existentes em dado tempo
e espaço, cuja realidade impõe, em momentos distintos, níveis diversos no
grau das exigências administrativas adequadas para cumprir o escopo da lei
e do edital sem sacrificar outros interesses também por eles confortados.

Isto posto, não vemos como outro órgão sem a participação do CAF, órgão
consultivo da Secretaria Municipal de Finanças, em conjunto com a
Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos, tenha
competência para propor os critérios técnicos dos regulamentos de
concurso público.

Entretanto, a lei limita-se a conferir ao CAF a atribuição para a propositura


dos critérios técnicos dos regulamentos de concurso público.

Lado outro, em razão de sua natureza consultiva e da atribuição conferida a


seu presidente pelo Regimento Interno do órgão (“aprovar,
facultativamente, e fazer executar as decisões do Comitê” - inciso IV do
art. 4º) a aprovação ou não do edital, bem como a aprovação da definição
das matérias das provas e seus respectivos conteúdos programáticos e de
outras decisões do comitê é atribuição do Secretário Municipal de
Finanças, que deverá ser , em qualquer caso, motivada.

CONCLUSÃO

Por todo o exposto, opino nos seguintes termos:

a) É atribuição do CAF participar na propositura dos critérios técnicos dos


regulamentos de concurso público para preenchimento de cargos públicos
na área da Fiscalização Tributária do Município de Belo Horizonte.

b) O termo “os critérios técnicos dos regulamentos de concurso público “


significa aquilo que serve de base para comparação, julgamento ou
apreciação de alguma coisa com base em normas legais, necessidades
técnicas ou regras de experiências.
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Um princípio que permite distinguir o correto do incorreto, o pertinente do


impertinente. É ter discernimento, circunspeção, prudência. Já o termo
“propositura” significa indicação, recomendação ou sugestão.

c) Entretanto, como a lei limita-se a conferir ao Comitê de Administração


Fazendária a atribuição para a propositura dos critérios técnicos dos
regulamentos de concurso público não é sua função privativa aprovar a
definição das matérias das provas e seus respectivos conteúdos
programáticos.

d) Assim, em razão de sua natureza consultiva e da atribuição conferida a


seu presidente pelo Regimento Interno do órgão (inciso IV do art. 4º) a
aprovação ou não do edital, bem como a aprovação da definição das
matérias das provas e seus respectivos conteúdos programáticos e de outras
decisões do CAF é da competência exclusiva do Secretário Municipal de
Finanças.

É o parecer, sub censura.

Belo Horizonte, 17 de julho de 2008.

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