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º 1
Ana está desempregada. Bela gostaria muito de ajudar a amiga.
Um dia, encontrando-a mais desanimada do que o habitual, Bela
oferece-se para lhe pagar € 1.000 se Ana lhe disser quantos candeeiros tem
a Ponte Vasco da Gama. Era algo que sempre tivera curiosidade em saber, e
desse modo veria satisfeito esse seu desejo ao mesmo tempo que
aproveitava para ajudar a amiga. Ana aceita de imediato
.Uns dias depois Ana telefona a Bela e diz-lhe exatamente quantos
candeeiros tem a Ponte Vasco da Gama. Bela agradece, e acrescenta que
esteve a pensar melhor na sua oferta, tendo chegado à conclusão de que
não se justificava pagar os € 1000 a Ana. Quid juris?
Exercício n.º 2
Carlos e Diana assistem a um jogo de futebol entre o Benfica e o
Sporting. Ao intervalo, com o marcador ainda a zeros, começam a discutir
sobre qual das equipas estaria a jogar melhor. A discussão só acaba quando
ambos decidem apostar sobre o resultado final da partida. A aposta é
ganha por Carlos. Diana paga-lhe os € 100. Quando chega a casa, Eunice,
sua irmã estudante de direito, diz-lhe que a aposta é nula. No dia seguinte,
Diana dirige-se a Carlos e exige-lhe que devolva os € 100. Quid juris?
Diana e Carlos estão, ao apostar. A aposta é, jurídicamente, um
contrato nulo, mas cria obrigações naturais. O cumprimento das obrigações
naturais depende da livre vontade das partes, não podendo ser coagidas
pelo Estado, pois há apenas um dever de justiça a prestá-las (artigo 402.º do
CC) . Ou seja, Diana pode recusar pagar os 100€, violando um dever social e
talvez moral, que não tem consequências jurídicas.
Neste caso há apenas uma obrigação natural, a de entregar a
quantia de 100€ à parte que ganha a aposta.
Porém, tendo Diana já pago a quantia a Carlos, nos termos do
artigo 403.º do CC, ela não pode exigir a quantia de volta. A pessoa que
vence a aposta não pode exigir judicialmente o cumprimento da obrigação
pelo perdedor da aposta, nem esta última pode exigir, depois de ter pago a
quantia, o valor apostado de volta.
Exercício n.º 3
Carlos e Diana decidem comprar a meias uma moto para se
deslocarem mais facilmente ao estádio nos dias de jogo. É Carlos quem vai
tratar do assunto. Dispõe-se a adiantar a totalidade do preço, desde que
Diana se comprometa a entregar-lhe a sua parte, o mais tardar até à
véspera do jogo seguinte.
Diana, que ainda não se conformara com a aposta perdida,
responde-lhe que sim, que promete pagar-lhe, mas acrescenta entredentes
que a promessa valeria o mesmo que uma das suas apostas. Carlos
responde-lhe: «Como queiras!» Chega a véspera do jogo e Carlos pede a
Diana a sua parte do preço. Diana observa que nada lhe deve. Carlos
assevera-lhe que não tem razão. Quid juris?
Exercício n.º 4
Vera dirige-se a Xavier, advogado, pedindo-lhe que trate de
despejar um seu inquilino, Zé, que há meses deixara de pagar-lhe a renda
da casa. Xavier põe mãos à obra. Passados alguns dias, Xavier telefona a
Vera para lhe dar conhecimento de que a ação está prestes a dar entrada
em tribunal.
Vera informa-o de que afinal já não precisa dos seus serviços, pois
horas antes Zé devolvera-lhe as chaves de casa, que entretanto desocupara.
Passados mais alguns dias, Vera recebe em casa uma fatura no valor de €
3000, a título de honorários pelos serviços prestados por Xavier. Quid juris?
Exercício n.º 5
É noite alta. João e Ricardo passeiam-se pelas ruas do Bairro Alto.
A certa altura, apercebem-se de que estão a ser seguidos por um bando de
malfeitores. Ricardo apressa-se a enfiar umas quantas notas no bolso das
calças de João. Esclarece: «São os € 150 que te devia!» Quid juris?
Exercício 6
Felícia e Natália são colegas de escola. Sabendo que os seus pais
haviam acordado na compra e venda de uma Bimby, ocorreu-lhes dar-lhes
uma mãozinha.
Numa tarde sem aulas, Felícia foi a casa buscar a dita Bimby e
entregou-a a Natália. Esta foi a casa, deixou a geringonça no balcão da
cozinha, foi à carteira da mãe buscar dinheiro e pagou o montante
acordado a Felícia. Quid juris?
Exercício n.º 8
a) Patrícia vendeu algumas joias a Raquel. Porque no dia em que o
acordo fora firmado ambas estavam com pressa, não chegaram a combinar
quando e onde Patrícia entregaria as joias a Raquel e esta pagaria o preço a
Patrícia. Raquel pergunta agora a Sofia, estudante de direito, quando e
onde deve dirigir-se para esse efeito. No lugar de Sofia, o que responderia a
Raquel?
b) E se Patrícia entregasse logo as joias a Raquel, que, por só
dispor de uns trocos na carteira, se comprometera a, quando pudesse,
passar por casa de Patrícia para lhe pagar o preço das joias?
Exercício n.º 12
Silvino, produtor de rolhas de cortiça, celebra com Terêncio,
produtor de vinho californiano, um contrato de compra e venda de uma
tonelada de rolhas de cortiça. Estas são transportadas por Ulisses, que as
apanha no porto de Sines e as leva até ao porto de Santa Cruz, na
Califórnia, onde ficam a apodrecer, pois Terêncio, que entretanto descobrira
um novo método de vedar garrafas de vinho, não chega a ir buscá-las.
Terêncio obrigara-se a pagar a Silvino o preço das rolhas na data em que
estas chegassem a Santa Cruz. Quid juris se a compra e venda se
subordinasse:
a) Ao Incoterm EXW?
Esta é uma obrigação de vir buscar (E).
O vendedor (devedor) só tem que ter as coisas disponíveis para
entrega no seu armazem. Cabe ao comprador (credor) ir buscar as rolhas de
cortiça ou mandar o transportador Ulisses buscá-las. Aqui Ulisses seria
colaborador de Terêncio.
Silvio cumpriu a sua obrigação no momento da entrega das rolhas
de cortiça a Ulisses no seu armazem. O direito de propriedade e o risco
transferem-se também nesse momento para o comprador, Terêncio, dando
se a concentração da obrigação genérica.
[caso tivessem acordado data - com mora o risco transfere-se para o credor]
É, portanto, irrelevante a deteriorização das rolhas de vinho no
porto de Santa Cruz, tendo Terêncio que entregar o preço a Silvino.
b) Ao Incoterm FOB?
Esta é uma obrigação de envio (F).
O cumprimento ocorre quando as rolhas são entregues por Silvino
(vendedor/ devedor) ao transportador/ com o carregamento do navio pelo
devedor em Sines.
Assim é irrelevante a deteriorização das rolhas de vinho no porto
de Santa Cruz, tendo Terêncio que entregar o preço a Silvino.
c) Ao Incoterm CIF?
Esta é uma obrigação de envio (C).
O cumprimento ocorre no momento em que Silvino carrega o
navio em Sines com as rolhas.
Mas é o devedor, Silvino, que suporta o custo do transporte, do
navio.
Assim é irrelevante a deteriorização das rolhas de vinho no porto de Santa
Cruz, tendo Terêncio que entregar o preço a Silvino.
d) Ao Incoterm DAT?
Esta é uma obrigação de levar (D).
O cumprimento ocorre no porto de santa cruz, quando as rolhas
são descarregadas do navio. Até a esse momento o vendedor suporta tudo.
Neste caso o cumprimento da obrigação de Silvino também já
tinha ocorrido, logo é irrelevante a deteriorização das rolhas de vinho no
porto de Santa Cruz, tendo Terêncio que entregar o preço a Silvino.
Exercício n.º 10
a) Moreno vendeu a Ruivo a totalidade de um de dois anos de
produção de vinho tinto reserva, podendo o negócio incidir, quer sobre a
colheita de 2009, quer sobre a colheita de 2010. O pagamento do preço foi
contemporâneo da celebração do contrato. As partes fixaram no contrato a
data de entrega do vinho. Nessa data, Moreno recusa-se a honrar o seu
compromisso, pois Ruivo gostaria de ficar com a produção de 2009. Pode
exigir a sua entrega a Moreno?
Exercício n.º 9
Em janeiro de 2012 Pedro e José celebram um contrato de
arrendamento por cinco anos, o primeiro como senhorio e o segundo como
inquilino. Em simultâneo, Pedro vende a José todo o recheio da casa
arrendada, comprometendo-se José a pagar-lhe o respetivo preço em doze
prestações mensais. Tudo corre bem até agosto de 2012, mês de férias de
José. Mal se vê na praia José esquece-se de todos os seus compromissos,
falhando ambos os pagamentos devidos a Pedro. Ao regressar a casa, José
encontra na caixa do correio uma carta de Pedro, exigindo-lhe o pagamento
integral e imediato das suas dívidas perante Pedro, a saber, cinco
prestações do preço do recheio e cento e quarenta e nove rendas da casa.
Quid juris?
Exercício n.º 11
Catarina é contratada por Dália, mãe de Elisa, para cantar o Ave
Maria de Bach/Gounod na cerimónia de casamento de Elisa e de Filipe, a ter
lugar no dia 29 de setembro pelas 12h00. Quid juris se:
Exercício n.º 14
Em meados de setembro Albino contratou Branco, pintor, para lhe
pintar de negro as paredes da sala de estar. Na altura não chegaram a
agendar a prestação do serviço. Uns dias depois, Albino telefonou a Branco,
perguntando-lhe quando tencionava lá ir a casa. Branco não se
comprometeu com uma data, afirmando-se muito ocupado. Daí em diante
não mais atendeu o telefone a Albino. Este, agastado, enviou-lhe uma carta
dando-lhe dez dias para fazer o serviço. Nada. No início de novembro,
Branco encontrou Albino na rua e perguntou-lhe se poderia passar lá por
casa já nessa tarde. Albino respondeu-lhe que já não precisava das paredes
pintadas de negro, porque estas, se pintadas a tempo e horas, teriam
servido para surpreender os seus amigos com um jantar de Halloween.
Branco encolheu os ombros, explicando que não se importava de
não fazer a pintura, desde que Albino lhe pagasse a quantia acordada.
Acrescentou que perdera o número de telefone de Albino, mas que durante
o mês de outubro se deslocara por duas vezes a sua casa com vista a fazer o
serviço, tendo-lhe o acesso sido negado por quem «não tinha instruções
para deixar entrar ninguém em casa». Quid juris?
Exercício n.º 15
Madalena fora contratada em janeiro para passar o mês de
agosto com a família Pipoca, que acompanharia numa viagem à Sardenha
para tomar conta dos filhos pequenos do casal. No início de julho, Madalena
telefonou a Nuno, pai Pipoca, dizendo-lhe que já não podia ir com eles em
agosto pois conhecera um homem deslumbrante com quem planeava
passar o mês de agosto no Algarve. No final de julho, Nuno recebeu novo
telefonema de Madalena, dizendo-se muito arrependida e novamente
desimpedida. Nuno explicou-lhe que tarde falava, pois já a haviam
substituído. Fez bem?
Contrato celebrado em Janeiro de prestação de serviço
decorrente em Agosto. Em Julho Madalena diz que não vai cumprir e em
Agosto volta a dizer que está disponível para cumprir.
I) Esta é uma declaração de não cumprimento
Neste caso, a obrigação ainda não era exigível, pois Madalena
declara em Julho que não vai cumprir o serviço de Agosto. O devedor
informa o credor que não vai cumprir. Há uma violação do contrato, da sua
obrigação.
A declaração produz efeitos. Ela não destroi a obrigação, mas dá a
possibilidade (direito) ao credor de aceitar as palavras do devedor (a
declaração de não cumprimento). Dá também a possibilidade de exigir o
cumprimento – não podendo porém obrigar fisicamente exige uma
indemnização pela violação obrigacional por parte de Madalena.
A atitude do credor, ao aceitar a declaração de não cumprimento,
determina a extinção da obrigação. É uma forma de incrumprimento
definitivo da declaração. A declaração de não cumprimento é antecipada à
ao vencimento da obrigação.
O que acontece quando há incumprimento definitivo?
Artigo 808.º do CC [Perda do interesse do credor ou recusa de
cumprimento]
(n.º1) Se o credor, em consequência da mora, perder o interesse que tinha
na prestação, ou esta não for realizada dentro do prazo que razoavelmente
for fixado pelo credor, considera-se para todos os efeitos não cumprida a
obrigação.
(n.º 2) A perda do interesse na prestação é apreciada objectivamente.
Implicitamente remete para o regime da impossibilidade imputável. [o
reciocinio é: se o artigo remete para o regime que não existe (regime do
incumprimento) aplica-se o regime da impossibilidade imputável]
A obrigação extingue-se e o credor pode resolver o contrato e tem o direito
de receber uma indemnização – artigo 801.º do CC e ss..
Exercício n.º 16
Joaquim foi à loja de Leopoldo comprar uma torradeira. De
regresso a casa, e uma vez que o passeio lhe abrira o apetite, tentou dar-lhe
uso imediato, verificando então que a torradeira não aquecia o suficiente
para torrar o pão que lá introduzira. Voltou à loja e contou a Leopoldo o que
se passara. Este mostrou-se conhecedor do problema.
Explicou a Joaquim que este tivera azar, pois quatro em cada cinco
das torradeiras que vendera até ao momento funcionavam até bastante
bem. Disse-lhe ainda o mesmo que dissera aos clientes a quem o
mesmo problema teria acontecido: que não podia fazer nada, mas que na
loja ao lado, que por acaso era de um irmão seu, tinham imenso jeito para
reparar aquele defeito, que bem conheciam. Como deveria Joaquim reagir a
esta atitude de Leopoldo?
Exercício n.º 17
Ricardo é mestre de obras. Na execução dos trabalhos para os
clientes que o contratam, Ricardo, pedreiro de formação, recorre com
frequência à ajuda de marceneiros, pintores, canalizadores, eletricistas,
ladrilheiros, etc. Por cautela, em todos os contratos que celebra com os seus
clientes faz notar que não se responsabiliza pelos danos que os seus
colaboradores possam vir a causar aos seus clientes. É válida essa
estipulação?”
Este exercício diz respeito a cláusulas de limitação de
responsabilidade.
Tem que se conjugar o artigo 809.º do CC e o n.º 2 do artigo 800.º
do CC responsabilidade por auxiliares.
Ter também em atenção o regime das Clausulas Contratuais
Gerais – Artigo 18.º, alíneas a) a d).
O artigo 809.º do CC é a regra geral: é alvo de interpretações
muito diferentes pela jurisprudência e doutrina.
A doutrina tradicional defende a nulidade de todas e quaisquer
cláusulas limitativas de responsabilidade, salvo as n.º 2 do artigo 800.º do
CC.
Logo, a resposta para ester exercício, como é o relativamente ao
n.º 2 do artigo 800.º do CC, não existe nulidade da cláusula limitativa de
responsabilidade.
Exercício n.º 18
Ricardo é contratado por Susana, dona de uma série de
perfumarias nos arredores de Lisboa. Ricardo obriga-se a fazer obras de
recuperação e/ou ampliação em todas as lojas de Susana. As partes fixam
no contrato as datas de reabertura de cada uma das lojas.
Ricardo compromete-se a pagar € 1000 a Susana por cada dia de
atraso na execução da obra. Se o atraso for superior a dez dias, para além
desses montantes Ricardo pagará a Susana o montante adicional de €
50.000. Se, passados três meses desde o dia em que a obra deveria
terminar, a obra ainda não estiver pronta, Ricardo cessará nesse momento
todos os trabalhos ainda em curso e pagará a Susana um montante final e
global de € 250.000, valor que as partes entendem corresponder a uma
justa estimativa dos prejuízos que Susana viria a sofrer em resultado do
incumprimento de Ricardo. Se Ricardo faltar ao prometido, e desde que
verificados os respectivos pressupostos, poderia Susana exigir a Ricardo o
pagamento dos montantes acima referidos?
Exercício n.º 19
Na segunda-feira João comprou a Paulo, um seu colega de
faculdade, dez pares de sapatos em segunda mão. Pagou-lhe logo uma
parte do preço acordado, tendo ficado de passar por sua casa no dia
seguinte para lhe pagar o remanescente. Nessa noite, João foi descomposto
pela mãe, que o proibiu de gastar mais dinheiro em roupas ou calçado até
ao final do semestre e lhe tirou todo o dinheiro que João tinha no mealheiro.
Na terça-feira, João explicou a Paulo que não tinha dinheiro para lhe pagar.
Não querendo ficar a dever nada a Paulo, João perguntou-lhe se em vez do
dinheiro poderia entregar-lhe umas quantas camisolas praticamente novas
que já não lhe serviam. Paulo não aceitou a troca.
João regressou a casa e, algo envergonhado, explicou à mãe o
sucedido. A mãe, resignada, passou um cheque à ordem de Paulo. Na
quarta-feira, João entrega o cheque a Paulo. Nesse mesmo dia, Paulo
passou pelo banco e depositou o cheque na sua conta bancária. Na quinta-
feira, Paulo consultou online um extracto da sua conta e verificou que a
quantia em causa já estava disponível. Na sexta-feira, Paulo foi ao banco e
levantou o dinheiro. Em que dia se extinguiu a obrigação de João?”
Dação
Se a proposta do João tivesse sido aceite por Paulo:
Existiria uma dação em cumprimento. Ao contrário do
cumprimento, em que a prestação devida é entregue, o credor aceita uma
prestação diferente que tem o mesmo efeito que o cumprimento da
obrigação devida. Implica a extinção da obrigação.
De acordo com o artigo 837.º CC [Quando é admitida],
aqui não houve dação em cumprimento porque só existiria se a proposta de
João tivesse sido aceite.
Artigo 838.º do CC [Vícios da coisa ou do direito]
O credor a quem for feita a dação em cumprimento goza
de garantia pelos vícios da coisa ou do direito transmitido, nos termos
prescritos para a compra e venda; mas pode optar pela prestação primitiva
e reparação dos danos sofridos.
Quando ocorre uma dação em cumprimento, dá-se ao
credor a possibilidade de exigir o cumprimento da prestação original, se se
vier a arrepender.
Tem o mesmo regime do comprimento defeituoso e
ainda se dá a possibilidade ao devedor de se arrepender e exigir a prestação
primitiva e a reparação dos danos sofridos.
Artigo 839.º do CC [Nulidade e anulabilidade da dação]
Sendo a dação declarada nula ou anulada por causa
imputável ao credor, não renascem as garantias prestadas por terceiro,
excepto se este conhecia o vício na data em que teve notícia da dação.
Garantias, como por exemplo, fiança. Destroem-se
retroactivamente as garantias.
Exercício n.º 20
Imagine agora que na terça-feira, depois de explicar a Paulo que
já não tinha dinheiro para lhe pagar o remanescente do preço dos sapatos,
João é violentamente agredido por Paulo, que o expulsa de casa ao murro e
ao pontapé, gritando-lhe: «Com que então não tens dinheiro? Toma lá, que
assim ficamos quites!» Quid juris?
Exercício n.º 21
Agora suponha que na terça-feira, depois de explicar a Paulo que
já não tinha dinheiro para lhe pagar o remanescente do preço dos sapatos,
João se comprometeu a entregar-lhe no dia seguinte todas as suas
camisolas, quer lhe servissem, quer não lhe servissem. Paulo perguntou-lhe
quantas camisolas seriam, tendo João respondido que seriam para aí umas
quinze. Paulo aceitou a troca. No dia seguinte, ainda na faculdade, Paulo
dirigiu-se a João, dizendo-lhe que pensara melhor na sua situação e que
preferia simplesmente esquecer a dívida, considerando-se satisfeito com o
pagamento da primeira prestação do preço. João aceitou de imediato a
proposta do amigo, feliz e agradecido. Quid júris?
Situação de Novação
Situação muito semelhante à dação em cumprimento.
Na dação em cumprimento, não me obrigo a cumprir nada.
Apenas presto coisa diferente que, se o credor aceitar. O regime aplica-se a
todo o tipo de prestações, coisas ou não. Aqui, eu não me comprometo a
prestar coisa diferente.
Quanto á segunda parte (mudança de ideias de Paulo)
Estamos perante uma remissão. [Este é outro modo de extinção
de obrigações.]
Artigo 863.º do CC.
Artigo 234.º do CC [Dispensa da declaração de aceitação] – não é
preciso existir uma verdadeira declaração de aceitação. Basta que a outra
parte demonstre (expressa, oral ou tacitamente) a sua aceitação.
A remissão é um dos efeitos do contrato.
O contrato não pode ser sinalagmático, se não não há remissão.
Exercício n.º 22
Júlia pedira dinheiro emprestado a Patrício, seu pai.
Comprometera-se a restituir o dinheiro até ao Natal. Subitamente, morre
Patrício. Júlia é a sua única herdeira. O que sucede à sua dívida?
Exercício n.º 23
Carlos empresta € 10.000 a David. Este compromete-se a
devolver-lhe o dinheiro no prazo de um ano. A certa altura, Carlos precisa de
dinheiro, pelo que vende a Elvira, ao preço de € 8.500, o seu crédito sobre
David. David, que entretanto herdara de uma tia uma quantia avultada,
devolve de imediato os € 10.000 a Carlos. Este aceita o dinheiro, nada
dizendo a David sobre a venda do seu crédito a Elvira. Na data em que o
crédito se venceria, Elvira bate à porta de casa de David, explicando-lhe a
situação e pedindo-lhe os € 10.000. David recusa-se a pagar-lhe o dinheiro,
retorquindo que só a Carlos devera dinheiro, e que a Carlos o devolvera,
nada devendo a Elvira. Quid juris?
Estabelece-se uma relação obrigacional entre Carlos e David.
Carlos fica com um direito de crédito no valor da quantia emprestada sobre
David, e este último fica com o dever de entregar essa quantia no prazo de
um ano. Há, portanto, uma prestação a prazo, devendo ser cumprida dentro
de um ano.
Há um contrato de cessão do crédito entre Carlos e Elvira, nos
termos do artigo 577.º do CC. Este é um contrato, não do mesmo tipo que o
contrato de compra e venda, sendo este um tipo contratual, mas sim um
contrato definido pela função/ efeitos do contrato (ex: contrato a favor de
terceiros).
De acordo com o artigo 578.º, é aplicável o regime do tipo de
negócio que serve de base à cessação. Neste caso, o direito de crédito
decorre de um contrato de múto, entre Carlos e David, mas a cessão do
crédito resulta do contrato de compra e venda do crédito entre Carlos e
Elvira. [Já se Paulo cedesse o crédito, sme exigir uma contraprestação,
Carlos estaria a doar o direito de crédito, aplicando-se o regime da doação].
David, porém, nunca teve conhecimento da cessação do negócio,
logo, nos termos do artigo 583.º do CC, apesar da contrato de cessação do
crédito ser válido inter partes (artigo 406.º do CC), este não podia ser
opinível ao devedor. Logo, o cumprimento de David extingue a sua
obrigação.
David estava protegido, apesar da cessão ter efeitos inter partes
no momento da celebração, os seus efeitos não eram opiníveis a David,
podendo este último pagar ao credor inicial.
Já Elvira poderia invocar contra Carlos o regime do
enrequicimento sem causa.
Também é bastante comum as partes estabelecrem no contrato
que o credor deve agir respeitando o contrato. Podia haver una base
contratual para a violação do contrato de cessação de crédito. Mas tal não
acontece aqui.
Poderiamos ainda discutir se se podia invocar a boa fé em
execução do contrato, decorrente do n.º 2 do artigo 762.º do CC. Aqui
estariamos perante a violação de deveres acessórios do cedente. Isto é
discutível.
Quanto ao valor pelo qual Carlos pagou o crédito a Elvira,
poderia.-se considerar que Elvira estava-se a aproveitar da circunstância de
Carlos precisar de dinheiro para comprar o crédito pro um valor inferior ao
que ele vale. Porém, só se pode conlcui isto com base com base no regime
usurário.
Em regra, vende-se crétidos que se umprem um ano após a
celebração, por preços superiores ao comprado. Aqui a inflacção funciona
ao contrário.
Ter em atenção, que quando não se diz nada, o prazo tem-se
estabelecido a favor do de devedor, não podendo o credor exigir o seu
cumprimento antes do prazo estipulado.. Logo, é normal que quando o
prazo é longo e estes precisem de dinheiro, os titulares de direitos de
rédito vendam esses créditos a um preço superior.
[Tendo em conta que no exercício diz “venda”, entendemos que o
contrato de cessação do crédito era válido. De outro, modo, se o exercício
apenas se refirice que se havia “celebrado um contrato”, aí já se podai
discutir se a forma foi cumprida ou não.
Exercício n.º 24
Felisberto deve € 2.000 a Gustavo. Horácio, vizinho de Gustavo,
deve € 1.500 a Felisberto. Na data aprazada, Gustavo dirige-se a Felisberto,
pedindo-lhe os € 2.000. Felisberto não dispõe daquela quantia em dinheiro,
pelo que paga € 500 a Gustavo em dinheiro e cede-lhe o seu crédito sobre
Horácio. Explica que, uma vez que não dispõe de mais dinheiro, este seria o
único meio de Gustavo ver o seu interesse satisfeito ainda
naquele dia, uma vez que, sendo ele vizinho de Horácio, não lhe custaria
muito bater-lhe à porta e pedir-lhe o dinheiro. Gustavo aceita, na condição
de Horácio lhe pagar ainda nessa data. Se assim não fosse, voltaria a bater
à porta de Felisberto. Quid juris?
Exercício n.º 25
Imagine agora que Horácio nega dever o que quer que seja a
Felisberto. No entanto, dispõe-se a pagar os € 1.500 a Gustavo, na condição
de este lhe ceder a faculdade de exigir semelhante pagamento a Felisberto.
Gustavo assim faz, regressando a casa com o seu crédito satisfeito na
íntegra. Horácio dirige-se então a casa de Felisberto, explicandolhe que
agora é ele o credor, e exigindo-lhe os € 1.500. Explica-lhe ainda que, se
Felisberto não lhe der o dinheiro naquele momento, terá de pagar-lho mais
tarde, e com juros. É assim?
Exercício n.º 7
Luís sofreu um acidente de viação causado por Tiago, que
conduzia a sua bicicleta a grande velocidade e em contramão. Para não o
atropelar, Luís desviara-se do seu caminho e acabara por chocar contra uma
árvore, danificando muito substancialmente o seu carro novo. Luís não se
dava bem com Tiago, mas era muito amigo do seu primo
Simão. Uma vez que Tiago se recusou a pagar-lhe o que quer que fosse, Luís
dirigiu-se a Simão e contou-lhe o que se passara. Simão logo lhe pagou o
arranjo do carro, pedindo-lhe muita desculpa pelo comportamento do primo
e dizendo-lhe que não pensasse mais no assunto, que este se resolveria em
família. Em seguida, Simão dirigiu-se a Tiago, a quem exigiu o reembolso da
quantia paga a Luís. Tiago recusou-se a pagar-lhe, com o argumento de que
Simão «não tinha nada que se ter metido onde não era chamado». Quid
juris?
Exercício n.º 26
Felisberto não consegue pagar a sua dívida a Horácio. Gustavo
dirige-se então a Horácio, oferecendo-se para ficar ele com a dívida de
Felisberto, desde que Horácio lhe desse um desconto e aceitasse a redução
do seu montante para € 1.200. Horácio aceita a proposta de Gustavo. Este
paga-lhe os € 1.200 e vai bater à porta de Felisberto, pedindo-lhe os €
1.500. Pode fazê-lo?
Exercício n.º 27
Joana comprou a Luísa todo o material necessário à renovação e
montagem de diversos pontos de luz na sala de estar de Maria. Joana fê-lo
porque desejava oferecer à amiga uma nova decoração da sua sala de
estar. Maria aceitou a oferta de bom grado, pois confiava no bom gosto
de Joana, mas insistiu em assumir perante Luísa a dívida contraída por
Joana, que na altura da compra do material não chegara a pagar o
respetivo preço a Luísa. Joana aceitou a proposta de Maria. Contudo, Luísa
não viu com bons olhos a troca, insistindo em que era Joana a devedora do
preço do material. Uns dias mais tarde, Joana dirigiu-se a Maria, pedindo-
lhe que pagasse o preço do material a Luísa, que já por diversas vezes lhe
telefonara a exigir o dinheiro. Maria, que não ficara encantada com a nova
decoração da sua sala, explicou-lhe que não devia nada a Luísa, já que, nas
palavras desta, a única devedora do preço do material era Joana. Quid
juris?
Exercício n.º 28
Ana dá um passeio pelo parque. Exibe, satisfeita, o vestido de
lantejoulas que a mãe lhe
oferecera por ocasião do seu último aniversário. Na mesma direção segue
Bruno, estudante de direito, que saíra à rua para passear o seu cão.
Distraído, não repara que este, atraído pelo brilho das lantejoulas, se atira
com violência ao vestido de Ana. Mal se apercebe da situação, Bruno corre
a imobilizar o seu cão, mas nessa altura já o vestido estava feito num
farrapo.
Este é um caso evidente de responsabilidade civil (artigos 593.º e
ss).
Exercício n.º 29
Adolfo é tio de Bernardo. Nos seus tempos de estudante
universitário, Bernardo encheuse de dívidas, pois só pensava em sair à noite
e em divertir-se com os amigos, não olhando a meios para satisfazer tais
fins. A certa altura da vida lá acabou por ganhar juízo. No entanto, os
credores do antigamente continuam a bater-lhe à porta. O tio, que muito o
aprecia, pretende deixar-lhe em testamento a sua casa no Algarve. Mas
quer que esta se mantenha na família, e não que acabe nas mãos dos
credores de Bernardo. O que aconselharia Adolfo a fazer?
Aqui aplica-se o artigo 603.º do CC, quanto á limitação da
responsabilidade patrimonial por terceiro. Adolfo estabelece uma cláusula
de limitação da responsabilidade por dívidas de Bernardo.
O Bernardo é o legatário, e o facto de o bem entrar no seu
património, neste caso, não implica que seja susceptível de execução pelos
credores anteriores ao registo da cláusula.
Outra solução possível seria a consignação de rendimentos,
prevista no artigo 656.º do CC. Esta, porém, não é indicada, já que é um
meio de extinção da obrigação em que os rendimentos da liberdade são
consigados á extinção de um crédito.
Outra possibilidade ainda era Adolfo legar o bem a outrem, mas
reservar o direito a usufruto a Bernardo. Porém, sendo o usufruto um
direito real, este também era penhorável, a menos que se instituisse o
intuito personae.
A alternativa mais viável, ainda melhor do que a aplicação do
artigo 603.º do CC, seria o fedeicomisso, previsto nos artigos 2286.º e ss. do
CC.
Adofo, através desta figura, deixaria os bens aos herdeiros de Bernardo, por
exemplo. O bem, deste modo, teria a limitação, de não entrar no seu
património, pois Bernardo teria apenas uma titularidade provisória, ficando
com o encargo de estimar e conservar o bem para depois o entregar aos
herdeiros. A cláusula de registo fica no nome de Bernardo,
enquanto finduciário.
Isto vale tanto para os credores anteriores quanto posteriores.
A propriedade só se transfere (encontrando-se ela no limbo
entretanto), com a morte do fiduciário, portanto, com a morte de Bernardo.
Não permite que haja execução de credor anterior ou posterior.
Exercício n.º 30
Na segunda-feira, Ricardo encomenda dois tapetes a Sofia, cujo
preço esta fixa em € 400. Na quarta-feira, encomenda a Teresa uma mesa e
duas cadeiras ao preço de € 800. Em ambos os casos, compromete-se a
pagar 50% do preço num prazo de 48 horas a contar da data das
encomendas. Na quinta-feira, Sofia bate-lhe à porta e pede-lhe o dinheiro
que lhe cabe. Ricardo explica-lhe que ainda vive com os pais e que, uma vez
que ainda procura o seu primeiro emprego, não tendo outros rendimentos,
o seu património resume-se às notas e moedas que tem no mealheiro, no
montante total de € 500. Explica-lhe que, não podendo ele pagar a ambas,
entre as duas prefere pagar a Teresa, o que fará no dia seguinte, sexta-
feira. Quid juris?
O Ricardo contraiu dívidas a dois credores e só tem património
para pagar a um. Ricardo escolha pagar a obrigação que se vence por
último, a em que Teresa é credora.
Primeira abordagem: Aqui, Teresa e Sofia são duas credoras
comuns. Logo, estas apenas contam com a garantia geral é aplicado o
princípio par condicio creditorum. Assim, as duas credoras são pagas
proprocionalmente, as duas recebem a mesma percentagem da sua
obrigação (o que depende da quantia do direito de crédito).
Implicíto: aqui estamos perante uma situação de insolvência.
A não satisfação de um dívida é sempre um acto ilícito.
Como ainda não se está num processo de insolvência, Ricardo
pode escolher qual a obrigação que quer pagar primiero ou se apenas quer
pagar uma. Este nem necessita de se justificar.
Esta possibilidade de descriminação é lhe concedida por este ser
um particular. Se este fosse uma empresa aplicar-se-lhe-iam os artigos 3.º,
5.º e 18.º do Código de insolvência e recuperação de empresas. A situação
de insolvência diverge do processo de insolvência, sendo a ligação o
desencadear do processo.
Segundo o artigo 18.º do CIRE os particupares não tem que
apresentar a insolvência, tendo estes o dever de aplicar o princípio par
condicio creditorum.
Sofia não podia exigir que Ricardo lhe pagasse primeiro. Ricardo
continuava a ser devedor de Sofia, podendo esta última invocar um direito
indemnização contra Ricardo. Porém, isto não pesaria, já que Ricardo não
tem bens.
Por isso é que, quando se vê que o devedor não tem dinheiro, o
credor deve instituir outras garantias. O credor tem que verificar que tipo
de património o potencial devedor tem. Tem que se avaliar a garantia geral
do potencial devedor.
O património integral de Ricardo serviria para pagar parcialmente
o crédito para com Teresa.
Aqui, a obrigação de Teresa vencer-se ia no dia seguinte, e só
nesse dia é que Ricardo irá cumprir.
[Estando em causa várias dívidas vencidas, pode o devedor escolher. Se
uma obrigação não for vencida então o devedor não a pode escolher (?).]
Exercício n.º 31
Simão enterrou-se em dívidas. Receando que algum credor se
lembrasse de penhorar os seus bens, forjara um contrato de compra e
venda e de comodato. Da leitura de semelhante documento resultava que
Simão vendera a Teresa, sua amiga de longa data, todo o recheio de sua
casa, recheio esse que Teresa emprestara a Simão, para que dele se
servisse. A seu pedido, o documento fora assinado por Teresa. Com a casa
Simão não teria de preocupar-se, uma vez que era um bem próprio de
Úrsula, sua mulher. Restava-lhe a conta bancária. Para que os
credores não lhe chegassem, esvaziou-a, dando todo o seu dinheiro ao seu
filho Vicente. Zé, credor de Simão, não sabe como reagir a estes atos de
Simão. O que o aconselharia a fazer?
Exercício n.º 32
Vitória viu desaparecer a sua casa e todos os seus pertences num
incêndio que, de um dia para o outro, a deixou sem nada. Amargurada com
a vida, Vitória nem participou a ocorrência à seguradora com quem
celebrara um seguro de incêndio. Urânia, a quem Vitória devia € 5.000,
tentou convencê-la a pedir a indemnização à seguradora, tendo-lhe aquela
respondido que não iria dar-se a esse trabalho, visto que todo o dinheiro
que viesse a receber seguiria decerto para as mãos dos seus credores, em
nada a beneficiando. Urânia não se conforma com essa atitude. O que pode
ela fazer?
Exercício n.º 33
António arrendara uma casa a Benedita. Esta só aceitara
arrendar-lha se António arranjasse um fiador, pois desconfiava da sua
solvabilidade. António fora ter com o amigo Celso, a quem pedira para ser
seu fiador. Celso assim fez. A certa altura, António perdeu o emprego e
deixou de pagar as rendas. Benedita foi bater à porta de Celso e exigiu-lhe
o pagamento das rendas em dívida e de uma indemnização igual a metade
de tais rendas. Quid juris?
Exercício n.º 34
Duarte vendeu um livro raro a Emília. Ficou de lho entregar assim
que ele chegasse à loja, vindo do armazém. Filipe, seu vizinho, que ouvira a
conversa, convenceu Duarte a vender-lhe o livro a ele, oferecendo-lhe o
dobro do preço já pago por Emília.
Duarte assim fez e, quando o livro lhe chegou às mãos, entregou-o
de imediato a Filipe. No dia seguinte, Emília veio ter com Duarte e
perguntou-lhe se o livro já tinha chegado. Duarte explicou-lhe que o vendera
a Filipe. O que pode fazer Emília?
Exercício 35
Ana, Bárbara e Catarina são comproprietárias de um veleiro, que
herdaram por morte de sua mãe. Ainda antes da partilha, haviam-se
comprometido perante Duarte a vender-lhe o veleiro ao preço por este
sugerido. A celebração do contrato de compra e venda fora já agendada
para dali a quinze dias. Catarina decide aproveitar ao máximo o veleiro
enquanto este ainda é, ainda que parcialmente, seu. Em virtude da sua
inexperiência, acaba por afundar o veleiro ao largo da baía de Cascais.
a) O que poderia fazer Duarte?
b) Imagine agora que Ana, Bárbara e Catarina, as únicas herdeiras de sua
mãe, haviam explicado a Duarte que o veleiro seria herdado, não pelas três
mas por qualquer uma das três irmãs, comprometendo-se cada uma delas,
isoladamente, a vendê-lo a Duarte na eventualidade de o veleiro vir a ser-
lhe ser distribuído na partilha?
Exercício 36
Elisa, Filipa e Graça foram admitidas como estudantes da FDUNL.
Como são de fora de Lisboa, arrendaram a Hélio, Inácio e Josué um T3 na
Lapa, comprometendo-se a pagarlhes uma renda mensal de € 900. O
pagamento seria feito por transferência bancária. Uns meses depois, Hélio
consulta o extrato da sua conta bancária e verifica que no mês anterior a
sua conta havia sido creditada apenas com € 100.
.
d) Então Hélio podia exigir a um dos devedores que lhe pagasse os
900€, nos termos do artigo 512.º do CC. Os restantes credores teriam
depois direito de regresso sobre a quantia que Helio recebeu e que não
correspondia à sua parte.
Se Hélio exigisse a Elisa tudo, Elisa podia pagar tudo a outro
credor, mesmo que esta não a tivesse interpelado. O artigo 528.º do CC
prevê tal, mas também introduz certas excepções. (Nada se dizendo não se
pode presumir que a solidariedade foi feita em beneficio do devedor.)
Exercício n.º 37
Luís ficara a dever € 150 a Mónica. Esta emprestara-lhe o dinheiro
por um período de três meses. Mesmo no último dia do prazo, vendo-o a
atravessar a rua Mónica chama por ele e pede-lhe os € 150. Luís explica-lhe
que acaba de regressar de Londres e dispõe-se a entregar-lhe £ 125,
pedindo-lhe o troco em euros. Mónica recusa-se a receber o pagamento em
libras.
a) Podia fazê-lo?
a) Nos termos do artigo 550.º do CC, Luis teria que pagar por
euros e uma quantia de 150 euros. Isto porque, a obrigação pecuniária é de
quantidade, derivante de contrato de mútuo (artigo 1142.º do CC). Assim
tem que ser pago em moeda em curso do país e ainda o valor facial da
moeda e não o valor de troca. Se a moeda perder valor não interessa. A
obrigação será sempre cumprida no montante de 150 euros.
Regulamento (CE) nº 974/98 do Conselho de 3 de Maio de 1998 –
que determinam que a moeda em curso nos Estados-Membros da Zona
Euro são o euro.
150
150 150
+Juros +Juros do múto
+Juros moratórios
Mónica tem aqui três pretenções:
1.ª A restituição do montante emprestado, neste caso os 150 euros, nos
termos do artigo 1142.º do CC. Esta era uma obrigação pecuniária.
2.ª Os juros pela disponibilização do dinheiro, devidos em conformidade
com o artigo 1145.º do CC, que determina que o mútuo é, em regra,
oneroso. Este artigo, porém, não diz que a obrigação vence juros. A
remissão do n.º 2 para o artigo 559.º dá a entender que se vencem juros. É
do n.º 2 do artigo 785.º do CC que se entende que a remuneração faz-se
sobre a forma de juros, remetendo-se para o artigo 559.º do CC.
Os juros são uma obrigação nova que acrescem à obrigação de restituição
de 150 euros (de capital).
Entenda-se que a obrigação de juros é quantificada em percentagem,
podendo, porém ser em montante fixo pecuniário.
Esta obrigação de capital vence juros civis, cujo montante é de 4%, sendo
estável desde 2003 (entrada em vigor da portaria que os estabelece –
Portaria 291/2003).
Neste caso, se por dívida de 100€ se pagava 4% de imposto, então por 150€
pagar-se-ia 6% de imposto.
Mas como as taxas de juro são aplicadas, em regime supletivo, a um ano, e
o periodo da dívida neste exercício é de 3 meses, teriamos que saber
quanto é que era ¼ de 6 = 1,5. Este 1, 5 euros correspondiam à
remuneração.
Estes são juros remuneratórios.
3.ª Refere-se a juros sobre juros e ainda sobre o capital.
A estes juros não se pode aplicar aplicar o artigo 560.º do CC, pois a ratio
deste artigo não visa abranger estes casos. Os juros a que Mónica se refere
são juros moratórios, que visam compensar a mora. Estes juros podem ser
aplicados à quantia total, isto é, ao capital e aos juros compensatórios.
Aceitar os juros moratórios sobre juros remuneratórios devem ser
admitidos, pois de outro modo estaria se a desproteger o credor, pois os
juros moratórios seriam uma espécie de consequência pela perrogação do
contrato.
A jurisprudência, porém, divide-se quanto a saber se estes juros sobre juros
são admitidos: i) admitem juros moratórios sobre capital e juros
remuneratórios, admitindo-se a capitalização e ii) admitem somente os
juros sobre o capital. Não há uma posição uniforme na jurisprduência
actual.
O regime dos juros moratórios retira-se do artigo 806.º do CC. Haveria,
portanto, se adoptarmos a jurisprudência i), capitalização dos juros e capital
anteriores ao prazo de cumprimento, resultando o montante em 151,5. A
paritr deste montante os juros moratórios serão, nos termos do n.º 2 do
artigo 806.º do CC idênticos à taxa legal, portanto, de 4%. Estes não se
capitulam, a menos que tenha passado um ano e “a partir da notificação
judicial feita ao devedor para capitalizar os juros vencidos ou proceder ao
seu pagamento sob pena de capitalização” ou se celebrar acordo sobre tal
(artigo 560.º do CC).
Exercício n.º 38
Retomemos a a história do exercício n.º 28:
Ana dá um passeio pelo parque. Exibe, satisfeita, o vestido de
lantejoulas que a mãe lhe oferecera por ocasião do seu último aniversário.
Na mesma direção segue Bruno, estudante de direito, que saíra à rua para
passear o seu cão. Distraído, não repara que este, atraído pelo brilho das
lantejoulas, se atira com violência ao vestido de Ana. Mal se apercebe da
situação, Bruno corre a imobilizar o seu cão, mas nessa altura já o vestido
estava feito num farrapo.
Imagine agora que Ana, vizinha de Bruno, ouvira a mãe deste
dizer que este havia celebrado com a Companhia de Seguros Felicidade,
S.A., um contrato de seguro de responsabilidade civil para cobertura dos
danos causados a terceiros pelo seu cão. Ana pretende saber se, ao abrigo
desse contrato, terá direito a exigir uma indemnização à seguradora. Para
esse efeito, dirige uma carta à seguradora pedindo-lhe que confirme ou
infirme a existência desse direito e que lhe faculte uma cópia da apólice.
Pode a seguradora recusar-se a aceder aos pedidos de Ana?
Exercício n.º 39
Anacleto entrara um dia no estabelecimento comercial de
Bonifácio, alfarrabista, pedindo-lhe que fosse buscar ao armazém os livros
constantes da lista que então lhe entregou, pois tinha interesse em comprá-
los. Perguntou ainda a Bonifácio em quanto ficaria a aquisição,
respondendo-lhe este que, no total, se se confirmasse a sua intenção de
comprar os livros, lhe venderia os livros por € 500. Uns dias depois, Anacleto
telefonou a Bonifácio, pedindo-lhe o NIB. Bonifácio deu-lhe de imediato a
informação solicitada, pois sabia-a de cor, e não mais pensou no assunto,.
Mais uns dias passados, Anacleto fez uma transferência bancária para a
conta de Bonifácio, e apareceu na loja com os respetivo comprovativo,
exigindo a entrega dos livros. Bonifácio explicou-lhe que nada lhe devia, pois
entre ambos não chegara a celebrar-se nenhum contrato.
a) Teria razão Bonifácio, ao afirmar que nada devia a Anacleto?
Exercício n.º 40
Retomemos o exercício n.º 7:
Luís sofreu um acidente de viação causado por Tiago, que
conduzia a sua bicicleta a grande velocidade e em contramão. Para não o
atropelar, Luís desviara-se do seu caminho e acabara por chocar contra uma
árvore, danificando muito substancialmente o seu carro novo. Luís não se
dava bem com Tiago, mas era muito amigo do seu primo Simão. Uma vez
que Tiago se recusou a pagar-lhe o que quer que fosse, Luís dirigiu-se a
Simão e contou-lhe o que se passara. Simão logo lhe pagou o arranjo do
carro, pedindolhe muita desculpa pelo comportamento do primo e dizendo-
lhe que não pensasse mais no assunto, que este se resolveria em família. Em
seguida, Simão dirigiu-se a Tiago, a quem exigiu o reembolso da quantia
paga a Luís. Tiago recusou-se a pagar-lhe, com o argumento de que Simão
«não tinha nada que se ter metido onde não era chamado». Quid juris?
Exercício n.º 41
Dionísio contratara Elias, designer de interiores, para lhe mobilar
a casa de férias em Sesimbra. Pagara-lhe à cabeça uma parte da
remuneração acordada. No entanto, uns dias depois de celebrado o
contrato, e ainda antes de iniciada a sua execução, deflagra um incêndio em
Sesimbra que, propagando-se à casa de Dionísio, a deixa em ruínas. Dionísio
telefona a Elias, explicando-lhe que em vista do sucedido já não precisa dos
seus serviços e pedindo-lhe a devolução do dinheiro. Elias recusa-se a
devolver-lho, argumentando que os seus serviços haviam sido contratados,
não tendo ele nada a ver com o incêndio em Sesimbra. Terá razão?
Exercício n.º 42
Filinto era um adepto ferrenho do S. C. Campomaiorense. Uma vez
que era proprietário de um monovolume com sete lugares, sempre que o
seu clube jogava fora, dispunha-se a dar boleia a quem pretendesse apoiar
o clube. Golias aceitara a sua boleia, tendo-se depois verificado que em vez
de ir assistir ao jogo em causa aproveitara para ir às compras a um
conhecido outlet nas imediações do estádio. O que pode fazer Filinto?
Exercício 43:
Num dos casos, Ivo tinha chegado à conclusão que tinha encomendado
demasiada compota e tinha direito a fazer alguma coisa quanto a isso. Ivo
pretende proceder à venda em consignação: em vez de o produtor vender
ao distribuidor, como é coisa genérica, entrega a coisa aos distribuidores,
sendo que o risco se mantém na esfera do produtor. Os distribuidores
vendem em nome próprio. Na medida em que conseguem vender, o
dinheiro vai para o produtor. Aquilo que não venderem, voltam a entregar
ao produtor. Aplica-se o regime do mandato sem representação.
Jorge tem de entregar a compota a Higina, não tendo de passar por Évora.
Vai directamente para Lisboa.
Exercício 44:
Mas, neste caso concreto, não chegou a haver danos, porque a loja estava
intacta.
- Não havendo danos, o que é que Xana pode exigir a Vigário? R: Vigário
esteve uns meses a aproveitar-se dos bens de Xana. Por isso, existe uma
obrigação de restituição.
Art. 473º CC
3.º. Não deve haver causa – Para haver ESC, não pode haver causa
que leve a esse enriquecimento.
No entanto, aquele que se encontra de boa-fé, que julga que aquilo que
está a fazer é um direito seu, só toma consciência do enriquecimento sem
causa mais tarde. Assim, a obrigação de restituição só é constituída quando
o sujeito toma consciência.
Exercício 45
“Narciso e a sua família passam os meses de agosto na Quarteira, no rés-do-
chão de um
edifício de apartamentos com vista para o enorme jardim que rodeia a
vivenda de Olinda.
Sabendo que Olinda raras vezes lá aparece em agosto, por não gostar de
multidões,
Narciso adquiriu o hábito de saltar da sua janela para o jardim da vizinha,
passando as
tardes na companhia da sua família a tomar banhos de sol e de piscina no
jardim de
Olinda. Esta veio a saber do que se passava e mandou instalar uma sebe de
arame
farpado a passar mesmo por baixo da janela de Narciso. No entanto, quer
saber se pode
exigir uma indemnização a Narciso. Quid juris?”
Resposta:
- Aqui, nãos e trata de responsabilidade civil; constitui ESC. Por isso, não
falamos de indemnização, mas de uma obrigação de restituição.
Art. 466º/3 CC
Exercício 46:
Resposta:
- O taxista deve prestar o seu serviço a quem o requisita. Mas, aqui, aquele
que beneficia nem dá conta ao taxista de que esta se encontra a prestar
uma boleia sem saber. O sujeito no porta-bagagens está de má-fé desde o
início. Logo, há obrigação de restituição desde o início, tendo de pagar o
valor da prestação, que corresponderá ao valor da viagem de táxi.
Resposta:
- Alguém pega no casaco que acha que é do seu filho. Paga bastante por
mandar arranjá-lo e, no final, tem de restituir o casaco arranjado ao
verdadeiro dono. Alda apresenta custos que deviam ter sido pagos por
outra pessoa.
Mas, no nosso caso concreto, Beatriz iria utilizar o casaco. Pode dizer que
não ia realizar a despesa, que não estava a pensar fazê-lo, mas esse
argumento não é suficiente para evitar que Beatriz pague.
Portanto, aquilo que se vai discutir em tribunal é o valor que Beatriz terá de
pagar e aquilo que leva à obrigação de pagar (o motivo, o
enriquecimento/vantagem concreta).
Exercício 48:
“Maria, funcionária da padaria Pão-de-Mel, tem por função gerir as relações
com os
fornecedores. A certa altura, ela própria encomenda a título pessoal uns
quantos quilos
de farinha. O fornecedor faz a entrega, em simultâneo, dos seus pacotes de
farinha e dos
pacotes de farinha da padaria. Maria não se apercebe da diferença e, nos
dias seguintes, a
sua própria farinha é consumida na Pão-de-Mel. Uns dias mais tarde, ao
tratar da
papelada relativa àquela entrega, apercebe-se do seu engano. Quid juris?”
Resposta:
- Pão de Mel não enriqueceu. Aqui (art. 479º CC), a restituição pode ser em
pacotes de farinha, porque não estamos perante coisa infungível, mas
fungível. Podemos recorrer a restituição em espécie e não em valor
pecuniário.
Exercício n.º 49
“Daniel telefona à mãe, Emília, pedindo-lhe que transfira € 200 para a sua
conta bancária, pois já gastou toda a sua mesada e ainda faltam dez dias
para o final do mês. Emília, resignada, lá dá ordem de transferência, mas
engana-se a introduzir o NIB do filho e os € 200 vão parar à conta de Fátima.
Quid juris?”
Resposta:
Resposta:
Antero ouve dizer que a sua vizinha Berenice sofreu um acidente de viação e
está internada no hospital, com várias costelas partidas, e a partir desse dia
passa a regar o jardim da vizinha ao mesmo tempo que rega o seu e a zelar
pela alimentação do gato de Berenice, que entra e sai livremente de sua
casa por uma portinhola a ele especialmente destinada. Antero fez bem?
Quando a vizinha regressasse a casa Antero poderia pedir-lhe alguma coisa
pelos serviços prestados a Berenice?
Exercício n.º 52
Exercício 58:
Resposta:
Este art. regula provas. Se não houver prova escrita da fonte da obrigação
propriamente dita, mas tivermos uma promessa de cumprimento ou um
reconhecimento de dívida, isso servirá como prova de existência de uma
obrigação anterior.
Mas este não é um exemplo de declaração unilateral para fins negociais.
Exercício 59:
Resposta:
- A prof defende-se, alegando que emitiu uma declaração não séria. Mas,
não podemos aplicar o art. 245º CC, porque, para aplicarmos este artigo era
preciso que os alunos tivessem conhecimento de que realmente a prof
estava a brincar com eles, incentivando-os, apenas, a estudar.