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Faculdade  

de  Direito  –  Universidade  Nova  de  Lisboa  

Ano  letivo  2016/2017  

3º  ano-­‐  2º  semestre  

Teoria  do  Processo  


 
 
Professor  Jorge  Morais  Carvalho  
 
 
 
 

 
 

 
1.   ENQUADRAMENTO  TEÓRICO  .................................................................................................................  5  

1.1.   Conceito  de  processo  .....................................................................................................................................................  5  

1.2.   Direito  substantivo  e  direito  adjetivo  ............................................................................................................................  5  

1.3.   Tipos  de  direito  processual  ............................................................................................................................................  6  

2.   MEIOS  DE  RESOLUÇÃO  DE  LITÍGIOS  .......................................................................................................  6  

2.1.   A  negociação  .................................................................................................................................................................  7  

2.2.   A  mediação  ....................................................................................................................................................................  9  


2.2.1.   A  convenção  de  mediação  .....................................................................................................................................11  
2.2.2.   Mediabilidade  .......................................................................................................................................................11  
2.2.3.   Homologação  e  executoriedade  do  acordo  obtido  em  mediação  ...........................................................................12  

2.3.   A  arbitragem.................................................................................................................................................................13  
2.3.1.   A  convenção  arbitral  .............................................................................................................................................14  
2.3.2.   Arbitrabilidade  ......................................................................................................................................................15  
2.3.3.   O  processo  arbitral  ................................................................................................................................................16  
2.3.4.   Impugnação  da  decisão  arbitral  .............................................................................................................................16  

2.4.   Os  tribunais  estaduais  ..................................................................................................................................................16  

3.   ESPÉCIES  DE  AÇÕES  .............................................................................................................................  19  

3.1.   Ações  declarativas  ........................................................................................................................................................19  

3.2.   As  ações  executivas  ......................................................................................................................................................20  

3.3.   Processos  especiais  .......................................................................................................................................................21  

4.   A  JURISDIÇÃO  VOLUNTÁRIA  .................................................................................................................  22  

5.   OS  JULGADOS  DE  PAZ  ..........................................................................................................................  23  

5.1.   Princípios  caracterizadores  dos  Julgados  de  Paz  ...........................................................................................................24  

5.2.   Competência  ................................................................................................................................................................25  

6.   A  INJUNÇÃO  ........................................................................................................................................  26  

7.   OS  INCIDENTES  PROCESSUAIS  ..............................................................................................................  28  

7.1.   A  intervenção  de  terceiros  ............................................................................................................................................31  

7.2.   A  oposição  ....................................................................................................................................................................31  

8.   PROCEDIMENTOS  CAUTELARES............................................................................................................  32  

8.1.   Espécies  de  procedimentos  cautelares  .........................................................................................................................33  


8.1.1.   Regime  do  procedimento  cautelar  comum  ............................................................................................................34  

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8.2.   A  inversão  do  contencioso  ............................................................................................................................................34  

9.   TRAMITAÇÃO  DO  PROCESSO  ................................................................................................................  35  

10.   SISTEMAS  DE  RECURSO  ....................................................................................................................  37  

10.1.   Recursos  no  processo  civil  ............................................................................................................................................37  


10.1.1.   Admissibilidade  do  recurso  ordinário  ....................................................................................................................37  
10.1.2.   Renúncia  ao  recurso  ..............................................................................................................................................38  
10.1.3.   Recurso  independente  e  subordinado  ...................................................................................................................38  
10.1.4.   Modo  de  interposição  do  recurso  ..........................................................................................................................38  
10.1.5.   Despacho  do  juiz  ...................................................................................................................................................38  
10.1.6.   Modo  de  subida  ....................................................................................................................................................39  
10.1.7.   Recursos  ordinários:  o  recurso  de  apelação  ...........................................................................................................39  
10.1.8.   Recursos  ordinários:  o  recurso  de  revista  ..............................................................................................................39  

10.2.   Recursos  extraordinários  ..............................................................................................................................................39  


10.2.1.   O  recurso  para  uniformização  de  jurisprudência  ....................................................................................................39  
10.2.2.   Recursos  extraordinários:  o  recurso  de  revisão  ......................................................................................................41  

10.3.   Recurso  para  o  Tribunal  Constitucional  ........................................................................................................................41  

11.   DISTINÇÃO  ENTRE  REGRAS  E  PRINCÍPIOS  (DOUTOR  MICAEL  TEIXEIRA)..............................................  42  

12.   A  RESPONSABILIDADE  CIVIL  DO  ESTADO  PELO  MAU  FUNCIONAMENTO  DA  ADMINISTRAÇÃO  DA  
JUSTIÇA  (PROFESSOR  DOUTOR  RICARDO  PEDRO)  ........................................................................................  45  

13.   PRINCÍPIOS  DO  DIREITO  PROCESSUAL  CIVIL  ......................................................................................  47  

13.1.   O  principio  da  tutela  jurisdicional  efetiva  .....................................................................................................................47  


13.1.1.   O  patrocínio  judiciário  ...........................................................................................................................................48  
13.1.1.1  O  patrocínio  judiciário  obrigatório  ........................................................................................................................49  
13.1.1.2.  O  mandato  judicial  ..............................................................................................................................................50  
13.1.1.3.  A  nomeação  oficiosa  ...........................................................................................................................................51  
13.1.2.   Acesso  ao  Direito  e  aos  Tribunais  ..........................................................................................................................52  
13.1.2.1.   A  proteção  jurídica  .......................................................................................................................................53  
13.1.3.   Custas  processuais  ................................................................................................................................................55  
13.1.4.   A  arbitragem  necessária  ........................................................................................................................................56  
13.1.5.   Negócios  jurídicos  processuais  ..............................................................................................................................57  
13.1.5.1.   Pactos  privativo  e  atributivo  de  jurisdição  .....................................................................................................57  
13.1.5.2.   Cláusulas  contratuais  gerais  ..........................................................................................................................58  

13.2.   O  principio  da  eficiência  processual  (Joana  Campos  Carvalho)  .....................................................................................58  


13.2.1.   Principio  da  economia  processual  .........................................................................................................................59  
13.2.2.   Princípio  da  razoabilidade  dos  prazos  ....................................................................................................................59  
13.2.3.   Principio  da  orientação  para  a  autocomposição  do  litígio  ......................................................................................60  
13.2.3.1.A  conciliação  judicial  ............................................................................................................................................60  

13.3.   O  principio  da  gestão  processual  ..................................................................................................................................62  


13.3.1.   Evolução  histórica  .................................................................................................................................................62  
13.3.2.   O  CPC  de  2013  ......................................................................................................................................................63  
13.3.3.   Recorribilidade  e  gestão  processual  ......................................................................................................................65  

13.4.   O  principio  do  dispositivo  .............................................................................................................................................66  


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13.4.1.   A  instância  ............................................................................................................................................................67  
13.4.2.   Petição  inicial  ........................................................................................................................................................68  
13.4.2.1.   Causa  de  pedir  ..............................................................................................................................................68  
13.4.3.2.  Pedido  ................................................................................................................................................................69  
13.4.3.3.  Ineptidão  da  petição  inicial  ..................................................................................................................................69  

13.5.   O  principio  do  inquisitório  ............................................................................................................................................70  

13.6.   Principio  da  cooperação  ...............................................................................................................................................70  


13.6.1.   Deveres  de  cooperação  decorrentes  do  principio  da  cooperação...........................................................................70  
13.6.1.1.   Dever  de  esclarecimento  ..............................................................................................................................71  
13.6.1.2.   Dever  de  lealdade  .........................................................................................................................................71  
13.6.1.3.   Dever  de  proteção  ........................................................................................................................................72  
13.6.2.   Alcance  do  principio  da  cooperação  ......................................................................................................................72  
13.6.3.   Consequências  do  incumprimento  ........................................................................................................................73  
16.6.4.  Cooperação  e  imparcialidade  do  juiz  ..........................................................................................................................73  
16.6.5.  Cooperação  e  caracterização  do  modelo  processual  atual...........................................................................................73  

16.7.  Principio  da  igualdade  ......................................................................................................................................................74  

13.7.   Principio  do  contraditório  .............................................................................................................................................74  

13.8.   O  principio  da  persuasão  racional  (e  outros  princípios  e  regras  relativos  à  prova)  ........................................................76  
13.8.1.   Introdução  à  atividade  probatória  .........................................................................................................................76  
13.8.2.   Apreciação  da  prova  pelo  julgador  ........................................................................................................................77  
13.8.3.   Imediação  na  apreciação  da  prova  ........................................................................................................................78  
13.8.4.   Medida  da  prova  ...................................................................................................................................................79  
13.8.5.   Ónus  da  prova  .......................................................................................................................................................80  
13.8.6.   Restrições  à  persuasão  racional  .............................................................................................................................82  
13.8.7.   Limites  à  apreciação  probatória:  a  prova  ilícita  ......................................................................................................83  

13.9.   Principio  da  transparência  do  processo  e  das  decisões  .................................................................................................83  


13.9.1.   Princípio  da  publicidade  ........................................................................................................................................83  
13.9.2.   Princípio  da  fundamentação  das  decisões  .............................................................................................................85  
 

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1.  Enquadramento  teórico  
 
1.1.   Conceito  de  processo  
 
O  que  é  um  processo?  
 
Um  processo  consiste  numa  organização  sequencial  de  acontecimentos  com  vista  a  um  objetivo,  neste  caso  o  da  
resolução  de  um  litígio.  
 
 
Pode  tratar-­‐se  de  uma  sequência  de  atos  jurídicos  ou  naturais:  qualquer  processo  é  uma  sequência  de  atos,  alguns  
deles  podem  ser  factos  jurídicos.  
 
 
Procedimento  administrativo            ≠            Processo  administrativo  
 
 
  Fora  dos  tribunais   Por  meio  dos  tribunais  
 
 
Que  atos  são  estes?  
 
Atos  processuais  ≠  Factos  com  impacto  processual  
 
Por  exemplo,  proposta  a  ação,  o  réu  contestou.  O  autor  da  ação  mata  a  outra  parte,  isto  é  um  ato  processual?  Faz  
parte  do  processo?  Não.  Tem  implicações  no  processo  mas  é  um  ato  exterior  ao  processo.  Trata-­‐se  de  um  facto  tido  
em  conta  no  processo  e  que  necessariamente  trará  origem  a  outro  processo,  não  consistindo  num  ato  desse  mesmo  
processo.  
Neste  caso,  o  juiz  pode  praticar  um  ato  processual,  dando  conhecimento  ao  processo  de  tal  facto  e  isso  sim,  será  
um  ato  processual.  O  ato  processual  é  então  trazer  esse  facto  para  o  âmbito  do  processo  ou  pelas  partes,  ou  pelo  juiz  
(se  de  conhecimento  oficioso).  
 
 
Regra  geral,  o  processo  civil  inicia-­‐se  com  a  propositura  da  ação  (petição  inicial),  terminando  com  a  decisão.  O  
processo  pode  não  terminar  com  a  decisão  proferida  pelo  juiz  se  houver,  por  exemplo,  recurso.  Pode  ainda,  acabar  
não  com  a  decisão,  mas  com  acordo  ou  desistência.  
 
Quando  algo  escapa  à  tramitação  do  processo  ®  incidentes  processuais  
 
1.2.   Direito  substantivo  e  direito  adjetivo  
 
è   Direito   substantivo   material:   conjunto   de   regras   e   princípios   que   regulam   as   relações   jurídicas   entre   as  
pessoas.  Daqui  resulta  um  conjunto  de  situações  jurídicas  ativas  e  passivas  (direitos,  deveres,  ónus…)  
 
è   Direito   adjetivo:   complexo  normativo  que  regula  os   trâmites  processuais  com  vista  à  aplicação   do   direito  
material.  São,  portanto,  as  regras  que  regulam  o  processo.  
 
 
 
 
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Common  Law                ≠                Sistema  Romano-­‐germânica  
 

  Se   tenho   um   direito,  
Há   sobreposição   do  
  direito   adjetivo.   Tem   vai,   necessariamente,  
que  se  ter  um  processo   existir   um   processo  
  adequado  à  pretensão   para  o  efetivar.  
 

Direito  de  ação  ®  Norma  material  e  não  processual  


 
Direito  do  réu  a  contestar  no  prazo  de  25  dias  ®  Norma  simultaneamente  processual  (prazo)  e  material  (direito)  
 
Quando   no   âmbito   do   processo   nasce   um   direito   na   esfera   jurídica   da   pessoa,   trata-­‐se   de   direito   material.  
Quando  o  direito  tem  um  prazo  para  ser  exercido  a  nível  de  um  processo,  trata-­‐se  de  direito  adjetivo.  
 
1.3.   Tipos  de  direito  processual  
 
Um  processo  pode  ser  administrativo,  civil,  penal,  constitucional…  sendo  a  sequência  dos  atos  que  se  reportam  a  
cada  área  do  direito  distinta.  Qual  é,  então  o  critério  para  fazer  a  distinção  entre  eles?  
Exemplo:  A  mata  B.  Podemos  não  estar,  necessariamente,  no  âmbito  de  um  processo  penal.  Podemos  ter  um  processo  
civil  para  pedir  indemnização.  Podemos  também  ter  um  processo  administrativo  se  estiver  em  causa  um  Hospital.  
è   A  distinção  é  feita  com  base  nas  normas  materiais  aplicadas  no  processo.  
 
Processo  constitucional:  Lei  orgânica  do  TC  
Processo  administrativo:  CPTA  e  Código  de  processo  tributário  administrativo  
Processo  civil:  CPC  
Processo  penal:  CPP  
Processo  tributário:  não  tem  muitas  especificidades  face  ao  administrativo,  é  essencialmente  o  processo  de  execução  
Processo  de  trabalho:  Código  de  Processo  do  Trabalho  
 
É  de  sublinhar  a  natureza  subsidiária  do  CPCivil.  Nenhum  dos  elencos  de  normas  é  fechado,  tirando  o  de  processo  civil.  
Deste  modo,  em  todos  os  restantes  há  remissão  explícita  ou  implícita  para  o  CPCivil.  Todos  os  aspetos  omissos  que  
não  sejam  compatíveis  serão  então  preenchidos  de  acordo  com  o  CPC.  
 

2.  Meios  de  resolução  de  litígios  


 
Os   meios   de   resolução   alternativa   de   litígios   designam-­‐se   como   o   conjunto  de  procedimentos  de  resolução  de  
conflitos  alternativos  aos  meios  judiciais.  A  definição  é  propositadamente  vaga,  na  medida  em  que  não  existe  uma  
tipologia  fechada.  
 
Esta  definição  não  é  suficiente  para  abarcar  a  conciliação  judicial,  uma  vez  que  esta  é  conduzida  por  um  juiz  no  
âmbito  de  um  processo  judicial,  não  se  tratando  de  um  meio  de  resolução  de  litígios  não  judicial.  Apesar  disto,  este  
método  funda-­‐se  no  consenso,  afastando-­‐se  da  forma  clássica  de  resolver  os  problemas  em  tribunal.  
Assim,  ainda  que  decorra  em  ambiente  judicial,  faz  sentido  considerar  a  conciliação  ao  lado  dos  outros  métodos  de  
resolução  de  litígios,  por  se  tratar  de  uma  resposta  alternativa  ainda  que  em  ambiente  judicial.  
 
 
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Os  meios  de  resolução  de  litígios  podem  ser:  
•   Voluntários  ou  obrigatórios:  Voluntários  são  os  casos  em  que  depende  unicamente  da  vontade  das  partes  
aderir   ou   não   a   um   mecanismo   alternativo.   No   entanto,   podemos   encontrar   meios   obrigatórios,   como   a  
arbitragem  necessária  imposta  por  lei.  
•   Adjudicatórios  ou  consensuais:  Adjudicatórios  são  os  meios  que  atribuem  o  poder  de  decisão  a  um  terceiro,  
como   a   arbitragem.   Consensuais   são   os   meios   que   visam   a   solução   através   da   obtenção   do   acordo,  
permanecendo  nas  partes,  a  capacidade  de  decisão  do  litígio.  
•   Centrado   nos   interesses   ou   nos   direitos:   A   ótica   dos   direitos   é   a   tradicional.   Baseia-­‐se   na   discussão   dos  
argumentos  legais  de  cada  parte.  É  o  que  surge  na  arbitragem.  A  ótica  dos  interesses  tem  como  ponto  de  vista  
os  interesses  das  partes,  individualmente  considerados,  desconsiderando  o  que  o  Direito  determina  sobre  o  
seu  caso.  Procura,  então,  a  pacificação  de  um  conflito  em  detrimento  da  solução  juridicamente  correta.  
 
Vão  ser  estudados  quatro  meios  de  resolução  de  litígios,  sendo  que  só  os  primeiros  três  são  alternativos:  
•   Negociação  
•   Mediação  
•   Arbitragem  
•   Tribunais  Estaduais  
 
Nota:  o  poder,  isto  é,  a  capacidade  de  coagir  alguém  a    fazer  algo  que  voluntariamente  não  faria,  também  é  visto  por  
alguma  doutrina  como  forma  de  resolução  de  conflitos,  quando  exista  uma  relação  de  dependência  entre  as  partes.  A  
lógica  é  que  “ou  fazes  o  que  quer  ou  não  trabalho/negoceio/vivo  mais  contigo”.  
 
Existem  ainda  alguns  meios  híbridos  entre  jurisdição  e  mediação,  arbitragem  e  conciliação,  formas  adjudicatórias  
e  formas  consensuais.  São  o  caso  do  mini  julgamento,  da  avaliação  neutral,  da  decisão  não  vinculativa  e  do  painel  de  
resolução   de   conflitos.   Estes   são   meios   desconhecidos   em   Portugal   que   não   têm,   sequer   uma   construção   teórica  
definitiva.  
 
2.1.   A  negociação  
 
A   negociação   consiste   num   processo   de   resolução   de   litígios   em   que   as   partes   discutem   diretamente   o   seu  
problema  e,  se  essa  discussão  for  bem-­‐sucedida,  levará  à  celebração  de  um  acordo  que  extinguirá  o  conflito.  
A  negociação  pode  contar  com  a  presença  de  defensores  das  partes  (advogados  ou  solicitadores)  ou  de  peritos,  
mas  estes  “vestem”  o  interesse  e  a  pretensão  da  parte  que  os  nomeia.  
 
Existem  várias  coisas  importantes  a  considerar  na  negociação:  
•   Importância  da  cooperação  
•   Necessidade  de  cooperação  dos  dois  lados  
•   Limites  de  uma  negociação  baseada  na  competição  
•   Não  tentar  prejudicar  o  outro  
•   Separar  a  razão  da  emoção  
•   Perceber  o  que  o  outro  está  a  pensar  
•   Importância  da  ética  na  negociação  
•   Escolher  bem  a  forma  de  negociar  
•   Perceber  que  as  rondas  nunca  acabam  
 
Competição                ≠                Cooperação  
 
 
Melhorar  o  seu   Melhorar   o  
 
resultado   resultado  global  
 
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Objetivos  da  negociação:  
•   Contacto  pontual  entre  as  partes  –  benefícios  a  curto  prazo  
•   Contacto  permanente  –  benefícios  no  curto,  médio  e  longo  prazo  
 
A  postura  deve  ser  diferente  consoante  o  benefício  que  se  procura.  Deve  ser-­‐se  mais  competitivo  se  o  contacto  for  
pontual  para  resolver  o  problema  a  curto  prazo;  sendo  a  postura  no  longo  prazo  menos  competitiva  
 

    Curto  prazo   Médio  prazo  


Estratégia   Competitiva   X    
na  
negociação   Cooperativa     X  

 
 
Elementos  da  negociação:  deve  existir  inicialmente  uma  fase  de  preparação  e  informação,  dentro  da  qual  se  deve  
preparar  a  reação  face  às  propostas  da  outra  parte  e  tentar  prever  aquilo  em  que  se  pode  conceder,  tendo  em  conta:  
•   Conteúdo:  o  acordo  deve  ser  satisfatório,  por  salvaguardar  os  interesses  das  partes  e  apto  a  cumprir  pelas  
partes.  Pode  acontecer  que  chego  a  uma  situação  em  que  o  acordo  é  ótimo  para  mim  e  péssimo  para  a  outra  
parte:  este  contrato  pode  não  ser  bom,  pode  não  ser  apto  a  ser  cumprido,  pode  não  permitir  a  manutenção  
da  relação  das  partes  para  o  futuro…  
•   Processo:  deve  haver  uma  atitude  coerente  com  a  atitude  que  se  quer  ter  com  as  outras  partes.  É  fundamental  
uma  boa  comunicação  já  que  só  se  consegue  saber  os  interesses  da  outra  parte  se  se  conseguir  comunicar  
devidamente  com  ela.  Uma  boa  negociação  prepara  também  para  futuras  negociações:  pode  estar-­‐se  num  
litigio  e  pensar  que  poderão  surgir  outros  litígios  e  outros  momentos  em  que  será  preciso  negociar.  
•   Pessoas:  as  pessoas  devem  ser  movidas  por  uma  motivação  para  o  cumprimento.  Devem  ter-­‐se  em  conta  os  
sentimentos  e  perceções  das  partes  e  todas  as  pessoas  que  possam  influenciar  a  negociação  ou  o  período  
posterior   à   mesma.   Pode   existir   um   acordo   fantástico   em   que   o   consumidor   chega   a   um   acordo   com   o  
vendedor:  chega  a  casa  e  a  mulher  não  concorda  com  o  acordo  (a  mulher  influencia  o  negócio).  Não  se  trata  
apenas  da  legitimidade  para  chegar  a  acordo,  existem  outras  pessoas  que  podem  influenciar  o  acordo  e  o  
cumprimento.  
 
Distinguem-­‐se  interesses  de  posições:  
•   Interesses:  os  interesse  podem  ser  compatíveis  apesar  de  as  posições  serem  incompatíveis.  Os  interesses  são  
muito  mais  vastos  e  variados,  podendo  não  ter  nada  a  ver  com  as  posições  que  as  pessoas  adotam.  
•   Posições:  direitos  são  posições.  Se  temos  uma  situação  jurídica  temos  uma  posição.  As  posições  são  a  parte  
visível  do  litigio,  mas  a  parte  mais  pequena.  
Exemplo:  dois  cozinheiros  querem  uma  laranja  e  dizem  que  têm  direito  a  ela:  um  porque  a  comprou,  outro  porque  a  
adquiriu   por   usucapião.   As   posições   são   incompatíveis.   Porém,   um   quer   o   sumo   da   laranja   e   o   outro   a   raspa:   os  
interesses  são  compatíveis.  
 
Conceitos  fundamentais:  
•   Legitimidade:  é  preciso  que  quem  está  a  negociar  tenha  legitimidade  para  chegar  a  acordo;  
•   Interesses  
•   Credibilidade  
•   Preparação  
 
 
 
 
 
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2.2.   A  mediação  
 
è   A  mediação  é  regida  pela  Lei  n.º  29/2013,  de  19  de  abril  
 
è   Esta  conceção  de  mediação  é  sucedânea  da  Diretiva  2008/52/CE  do  Parlamento  Europeu  
 
De  acordo  com  o  artigo  2º,  mediação  consiste  na  “forma  de  resolução  alternativa  de  litígios,  realizada  por  entidades  
públicas  ou  privadas  através  do  qual  duas  ou  mais  partes  em  litígio  procuram  voluntariamente  alcançar  um  acordo  
com  assistência  de  um  mediador  de  conflitos.  
 
 
  A  mediação  é  um  negócio  assistido  por  um  terceiro  –  
  o  mediador.  Este  é  um  terceiro  que  tem  de  ser  imparcial  
•  Existência   de   um   acordo   prévio  
  em  relação  às  partes.  
para   resolver   o   litígio   através   de  
  Assim,  não  vai  ser  ele  a  tomar  a  decisão,  mas  sim  as   mediação  
  partes   (artigo   4º);   é   nas   donas   do   litígio   que   reside   a  
  solução   adequada   e   justa   do   problema.   O   mediador   •  Numa  mediação  o  resultado  será  o  
  apenas  as  coloca  em  contacto,  ajudando-­‐as  a  conciliar  os   acordo  ou  o  não  acordo,  sendo  que  
  seus  interesses.   o  que  se  procura  é  o  acordo;  
   
   
  mediador,   de   acordo   com   o   artigo   2º   é   “um   terceiro,   imparcial   e   independente,   desprovido   de   poderes   de  
O  
imposição  aos  mediados,  que  os  auxilia  na  tentativa  de  construção  de  um  acordo  final  sobre  o  objeto  do  litígio.  
•   “imparcialidade”   -­‐   surge   no   sentido   jurídico,   da   objetividade   e   do   profissionalismo,   já   que   faz   parte   da  
condição  Humana  ser  parcial.  Pretende-­‐se  que  se  tome  o  menor  partido  possível  poo  uma  das  partes.  
•   “independência”  -­‐  significa  não  ter  relação  com  nenhuma  das  partes.  
•   “desprovido  de  poderes  de  imposição”  –  ao  contrário  de  um  árbitro  ou  de  um  juiz,  o  mediador  não  pode  
impor   um   acordo   (artigo   26º/b).   O   mediador   auxilia   e   assiste,   não   dirige   nem   impõe.   A   sua   função   é  
simplesmente  a  de  ajudar  as  partes  primeira  a  restabelecer  a  comunicação  e,  segundo,  a  encontrar  a  solução  
adequada.  
 
Nos  casos  em  que  as  partes  consigam  negociar  por  si  só  a  mediação  é  inútil.  Aqui,  a  negociação  será  a  melhor  
solução.  
 
Qual  é,  então,  a  intervenção  que  o  mediador  pode,  ou  não,  ter?  Existem  dois  modelos:  
•   Mediação  facilitadora:  centra  o  trabalho  do  mediador  na  reabertura  das  pessoas  ao  diálogo;  
•   Mediação  interventiva:  pressupõe  uma  postura  mais  ativa  do  mediador,  não  se  limitando  a  trazer  as  partes  
ao  diálogo,  mas  agindo  também  ao  nível  do  mérito  da  questão;  
 
O  modelo  português  dominante  é  o  modelo  de  uma  mediação  facilitadora  com  uma  muito  menor  intervenção  do  
mediador.  Vigora  a  ideia  de  folha  em  branco:  o  mediador  deve  ir  para  a  mediação  sem  qualquer  conhecimento  sobre  
as  partes,  colocando-­‐as  em  comunicação.    
Há  quem  defenda  que  se  houver  uma  mediação  ou  intervenção  de  um  terceiro  mais  interventiva  já  não  vamos  ter  
mediação.  O  professor  discorda  desta  consequência,  podendo  haver  uma  mediação  mais  interventiva,  ainda  que  as  
suas  fronteiras  tenham  de  ser  bem  definidas.  O  mediador  não  pode  insistir  com  as  partes  para  aceitar  determinado  
acordo,   mas   pode,   na   sequência   da   mediação,   fazer   uma   ou   outra   sugestão,   contando   que   não   se   perca   o  
empowerment.  
O  que  se  procura  na  mediação  não  é  que  as  partes  aceitem  uma  solução,  mas  que  cheguem  a  uma  solução.  Assim,  
a  maior  intervenção  do  mediador  tem  de  ser  feita  com  muita  cautela  para  que  não  se  chegue  a  uma  solução  exterior,  
por  intervenção  do  mediador.  Este  tem  que,  simplesmente,  introduzir  sugestões  que  ajudem  as  partes  a  chegar  a  um  
acordo  que  parta  da  sua  iniciativa.  
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Empowerment  -­‐  é  um  termo  chave  na  mediação  que  significa  domínio  do  processo  pelas  partes.  No  âmbito  de  uma  
mediação  as  partes  têm  de  sentir  que  o  processo  é  delas  e  que  elas  é  que  decidem  se  querem  ou  não  chegar  a  acordo,  
cabendo-­‐lhes  a  responsabilidade  pelas  decisões  que  tomam.  As  pessoas  têm,  então:  
•   Domínio  do  processo:  podem  sair  quando  quiserem,  nada  as  obrigado  a  chegar  a  acordo;  
•   Domínio  do  conteúdo:  não  é  possível  qualquer  solução  do  litígio  que  nelas  não  tenha  origem.  
 
Pacificação   social   –   O   fim   da   mediação   é   a   pacificação   social,   isto   é,   tem   como   objetivo   sanar   o   problema,  
restabelecendo  a  paz  social  entre  os  litigantes.  Este  fim  sobrepõe-­‐se  inteiramente  à  questão  do  direito.  Não  importa  
saber  quem  tem  razão,  mas  antes  procurar  resolver  os  problemas  subjacentes  ao  aparecimento  do  litígio.  Trata-­‐se,  
portanto  de  um  método  de  resolução  de  litígios  assente  nos  interesses  e  não  nos  direitos.  
 
Princípios  da  mediação:  
•   Voluntariedade:  a  mediação  é  voluntária,  não  podendo  as  partes  ser  obrigadas  a  participar  de  tal  meio  de  
resolução.  
•   Igualdade:   é   muito   difícil   uma   mediação   em   que   haja   um   desequilíbrio   entre   as   partes.   Ou   se   cria   uma  
igualdade  através  de  técnicas  de  mediação  (presença  de  advogados  na  mediação,  por  exemplo),  ou  se  deve  
terminar  a  mediação  por  não  estarem  reunidas  as  condições  para  esta  ser  bem-­‐sucedida.  
•   Confidencialidade:  a  mediação  é  confidencial  porque  se  pretende  que  as  partes  revelem  os  seus  interesses,  
isto   é,   informações   que   não   estejam   disponíveis   fora   daquele   circulo.   Deste   modo,   o  mediador   não   pode  
revelar   o   que   se   passou   na   mediação,   nem   pode   ser   chamado   como   testemunha   em   processo   judicial  
posterior.  A  confidencialidade  é  um  dos  princípios  da  mediação,  consagrado  no  artigo  5º,  LM.  
A  questão  da  prova  assume  aqui  especial  relevância:  se  o  arguido  confessar  na  mediação,  mas  nãos  e  conseguir  
o  acordo  e  o  processo  seguir,  não  pode  utilizar-­‐se  essa  confissão  como  meio  de  prova.  Não  pode,  sequer,  
saber-­‐se  que  ela  existiu.  
As  exceções  à  confidencialidade  são  três:  
o   Se  as  partes  decidirem  em  contrário;  
o   Razões  imperiosas  de  ordem  pública,  em  especial  para  assegurar  o  interesse  de  criança  ou  evitar  que  
seja  lesada  a  integridade  física  ou  psíquica  de  uma  pessoa;  
o   Situações  em  que  a  divulgação  de  conteúdo  do  acordo  obtido  por  via  de  mediação  seja  necessária  
para  efeitos  da  sua  aplicação  ou  execução;  
 
Para  que  haja  mediação,  ambas  as  partes  têm  de  recorrer  à  mesma.  
Assim,  os  teóricos  puristas  da  mediação  vão  dizer  que  não  existe  mediação  obrigatória,  as  partes  têm  de  a  querer.  
Em  alguns  países,  como  Itália,  o  que  ainda  se  aceita  é  uma  situação  de  pré-­‐mediação  obrigatória.  Isto  significa  que  
é  obrigatório  que  as  partes  vão  a  uma  sessão  de  pré-­‐mediação.  Na  qual  há  um  mediador  que  explica  o  processo,  o  que  
é  a  mediação…  no  final,  as  partes  decidem  se  querem  ou  não  participar  no  processo.  O  que  acontece  é  exigir  que  a  
partes  conheçam  a  mediação  antes  de  a  recusar.  
 
Na  prática,  existem  duas  formas  de  vinculação  à  mediação:  
•   Via  legal  (a  lei  obriga  à  mediação  em  tais  situações)  
•   Via  contratual  
 
A  mediação  em  Portugal  opera  a  três  níveis:  
•   Ligada  a  sistemas  públicos  de  mediação:  Em  Portugal,  a  mediação  é  essencialmente  ligada  a  sistemas  públicos  
de  mediação.  Isto  é,  há  uma  direção  geral  que  coordena  os  sistemas  públicos  de  mediação:  familiar,  laboral,  
penal.  Em  direito  penal,  a  mediação  pode  ser  dificultada  por  ser  entre  arguido  e  ofendido,  só  sendo  possível  
em  determinados  crimes.  
•   Ligada  aos  julgados  de  paz:  Antes  de  recorrer  ao  juiz  de  paz  há  uma  fase  de  mediação  que  é  facultativa.  É  
muito  comum  haver  mediações  dos  julgados  de  paz  que  na  prática  não  funcionam  tão  bem  como  deveriam.  

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•   Mediação  privada:  É  pouco  utilizada  em  Portugal,  existindo  poucas  regras  a  este  respeito.  Existem  as  regras  
gerais  da  lei  da  mediação  que  se  aplicam  a  todos  os  tipos  de  mediação  e  por  isso  também  à  mediação  privada.  
 
2.2.1.  A  convenção  de  mediação  
 
As   partes   podem   celebra   ruma   convenção   de   mediação,   isto   é,   no   âmbito   da   sua   autonomia   privada,   podem  
acordar,  no  âmbito  de  um  litígio  ou  previamente  à  sua  existência,  o  recurso  à  mediação.  Esta  convenção  tanto  pode  
estar  sozinha,  como  acompanhar  uma  convenção  de  arbitragem.  Neste  caso,  o  litigio  será  resolvido  em  primeiro  lugar  
pela  mediação  e,  se  esta  não  for  bem-­‐sucedida,  por  arbitragem.  
Se  existir  uma  convenção  de  mediação  (artigo  12º/1)  e  uma  das  partes  impugnar  a  questão  em  tribunal,  ignorando  
a  convenção  de  mediação,  considera-­‐se  que  a  parte  que  impugnou  já  não  pretende  a  mediação.  Neste  caso  não  deve  
ser   obrigada   a   participar   na   mediação,   podendo   eventualmente,   haver   responsabilidade   por   incumprimento   da  
cláusula  de  mediação.  
Se,  porém,  o  réu  invocar  a  existência  da  convenção  de  mediação,  a  instância  é  suspensa,  e  o  processo  é  remetido  
para   a   mediação   (artigo   12º/4).   Caso   não   exista   esta   invocação,   o   processo   decorre   normalmente   em   tribunal,  
considerando-­‐se  que  há  acordo  tácito  das  partes  quanto  a  já  não  se  pretender  mediação.  A  instância  fica  suspensa  até  
ao  acordo/não  acordo  ou  à  desistência.  Existindo  acordo,  há  homologação,  não  existindo,  o  processo  deixa  de  estar  
suspenso  e  prossegue  dentro  da  normalidade.  
Isto  serve  essencialmente  para  atrasar  o  processo.  Se  uma  parte  propôs  a  ação  é  porque  não  está  interessada  na  
mediação.   O   réu   só   invoca   então   a   mediação   para   tentar   ganhar   tempo,   já   que,   não   querendo   a   outra   parte   a  
mediação,  esta  não  se  poderá  verificar.  
 
No  lugar  paralelo  da  arbitragem,  a  consequência  é  a  da  absolvição  na  instância,  conforme  estipula  o  artigo  5º,  LAV,  
mas  as  realidades  são  diversas  pro  duas  razões:  
1.   Em  arbitragem  o  litigio  fica  definitivamente  resolvido  pela  sentença  arbitral,  pelo  que  não  faz  sentido  manter  
pendente  o  judicial;  enquanto  na  mediação  é  possível  que  não  haja  acordo,  e  se  tenha  de  retomar  a  via  judicial.  
2.   Na   mediação,   mesmo   quando   haja   acordo,   este   tem   que   ser   homologado   pelo   tribunal   conforme   impõe  o  
artigo  45º,  LM.  Ou  seja,  independentemente  do  resultado  do  processo  de  mediação,  é  sempre  necessária  uma  
intervenção  do  tribunal  onde  a  ação  se  iniciou,  pelo  que  a  solução  da  suspensão  da  instância  é  boa.  
 
A  lei  estabelece  vários  requisitos  de  validade  para  a  convenção  de  mediação:  
•   Requisitos  formais:  a  lei  exige  forma  escrita,  de  acordo  com  o  artigo  12º/2,  LM.  
•   Requisitos  materiais:  litígios  que  podem  ser  objeto  de  mediação  em  conformidade  com  o  artigo  11º,  LM.  
Não  cumpridos  estes  requisitos,  é  estatuída    anulidade  da  convenção  de  mediação.  
 
2.2.2.   Mediabilidade  
 
A  mediabilidade  relaciona-­‐se  com  os  tipos  de  litígios  que  são  mediáveis  (artigo  11º),  nomeadamente:  
•   Litígios  em  matéria  civil  e  comercial  que  respeitem  a  interesses  contratuais;  
•   Litígios   em   matéria  civil  e  comercial,  que  não  envolvam  interesses  de   natureza  patrimonial,  desde  que  as  
partes  possam  celebrar  transação  sobre  o  direito  controvertido;  
As  partes   não   podem,  de  acordo   com   o  artigo  1249º   do  CC   chegar  a  acordo  sobre  os  direitos  de  que  lhes  não  é  
permitido   dispor,   nem   sobre   questões   respeitantes   a   negócios   jurídicos   ilícitos   –   critério   da   disponibilidade   da  
situação  jurídica.  
 
  Sempre   que   estiver   em   causa   um   interesse   pecuniário   ou  
  económico,  a  mediação  é  admissível.  Inclui,  portanto,  todas  as  
  pretensões  que  se  expressem  em  quantia  pecuniária.  
 
 

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2.2.3.   Homologação  e  executoriedade  do  acordo  obtido  em  mediação  
 
O  acordo  a  que  as  partes  chegam  é,  em  princípio,  um  contato  do  qual  resultam  direitos  e  obrigações  para  as  partes.  
De  acordo  com  o  artigo  14º/1,  as  partes  podem  requerer  a  homologação  do  acordo.  A  homologação  do  acordo  
serve  para  que  se  possa  executar  o  acordo,  podendo  prescindir-­‐se  de  uma  ação  declarativa.  Não  se  pode  simplesmente  
executar   o   acordo   de   imediato   (sem   a   homologação)   porque   o   valor   do   contrato   não   seria   então   reforçado   nem  
conferiria   grande   segurança   às   partes.   A   homologação   acrescenta   o   caráter   executivo   ao   acordo   –   passa   a   ser  
executável.  
 
Querendo  as  partes  ver  o  acordo  homologado,  devem  pedi-­‐lo  a  um  tribunal  competente  em  razão  da  matéria.  
O  pedido  tem  de  ser  subscrito  pelas  duas  partes,  conforme  estabelece  o  artigo  14º/2,  LM,  eliminando  qualquer  
dúvida  sobre  a  natureza  deste  instrumento:  serve  para  conferir  força  executória  especial  ao  acordo  ou  uma  força  
executória  reforçada.  
A  lei  não  estabelece  qualquer  prazo  para  este  pedido,  pelo  que  ele  pode  ser  feito  a  qualquer  momento.  
 
O  acordo  obtido  em  edição  em  processo  pendente  é  obrigatoriamente  sujeito  a  homologação  judicial,  pelo  artigo  45º,  
LM  que  remete  para  o  artigo  14º,  LM.  Isto  quer  dizer  que  o  direito  obriga  à  homologação  mesmo  contra  vontade  das  
partes,  nos  casos  em  que  haja  processo  pendente  em  tribunal.  
 
 
Isto  é  de  certa  forma  contraditório  com  as  restritas  exigências  de  confidencialidade  previstas  no  artigo  5º,  LM.  Se  é  
verdade  que  aí  se  estipula  como  exceção  ao  dever  de  sigilo  a  divulgação  do  acordo,  sós  e  admite  precisamente  
quando  tal  seja  necessário  para  a  sua  aplicação  ou  execução.  Ora,  na  mediação  em  processo  pendente,  tal  
confidencialidade  é  sempre  quebrada  por  via  da  homologação  obrigatória,  independentemente  de  ser  condição  
necessária  de  execução.  
 
 
Ora,  a  transformação  do  acordo  em  título  executivo  pode  surgir  de  diversas  formas:  
•   A  homologação,  que  transforma  o  conteúdo  do  acordo  em  sentença;  
•   Sem  homologação,  se  preencher  os  requisitos  do  artigo  9º,  LM;  
 
Têm   força   executiva   sem   necessidade   de   homologação   judicial,   o   acordo   de   mediação   previsto   no   artigo   9º,  
nomeadamente  aquele  que,  cumulativamente:  
•   Diga  respeito  a  litígio  que  possa  ser  objeto  de  mediação  e  para  o  qual  a  lei  não  exija  mediação  judicial;  
•   Em  que  as  partes  tenham  capacidade  para  a  sua  celebração;  
•   Obtido  por  via  de  mediação  realizada  nos  termos  legalmente  previstos;  
•   Cujo  conteúdo  não  viole  a  ordem  pública  e  
•   Em  que  tenha  participado  mediador  de  conflitos  inscrito  na  lista  de  mediadores  de  conflitos  organizada  pelo  
Ministério  da  Justiça.  
 
Daqui  retiram-­‐se  dois  tipos  de  acordos:  
•   Acordo  em  que  não  tenha  participado  um  mediador  reconhecido  pelo  ministério  da  justiça  –  não  tem  força  
executiva  se  não  for  homologado;  
•   Acordo  em  que  tenha  participado  um  mediador  certificado  –  tem  força  executiva  sem  homologação;  
 
Em  conformidade  com  o  artigo  14º/3,  não  vão  ser  homologados  os  acordos  que  violem  a  ordem  pública.  
Do  ponto  de  vista  do  professor,  esta  regra  é  problemática  porque  não  deve  ser  este  o  único  critério  para  a  não  
homologação.  E  se  as  partes  violarem  uma  norma  imperativa  sem  pôr  em  causa  a  ordem  pública?  Segundo  este  artigo  
o  acordo  deve  ser  homologado.  
O  professor  acha  que  não,  porque  o  contrato  não  seria  válido  por  ser  contrário  à  lei  se  tivesse  sido  criado  fora  da  
mediação.  Não  se  pode  considerar  que  apenas  por  ter  havido  mediação  pode  passar  a  existir  um  contrato  ilícito.  Deve,  
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então,  fazer-­‐se  uma  interpretação  cautelosa  desta  norma,  alargando  os  fundamentos  de  recusa  de  homologação  aos  
casos  em  que  há  contrariedade  à  lei.  
 
Nota:   é   importante   não   esquecer   que   há   outras   formas   de   conferir   força   executiva   ao   acordo   e   que   não   exigem  
nenhum   destes   requisitos:   a   celebração   através   de   documento   autêntico   ou   autenticado;   a   subscrição,   quando  
aplicável,  de  um  título  de  crédito.  
 
2.3.   A  arbitragem  
 
è   A  arbitragem  é  regida  pela  Lei  n.º  63/2011,  de  14  de  dezembro  
 
A  arbitragem  é  o  meio  de  resolução  alternativa  dos  litígios  que  consiste  num  modo  de  resolução  jurisdicional  de  
conflitos  em  que  a  decisão,  com  base  na  vontade  das  partes,  é  confiada  a  terceiros.  
Este  é  um  meio  de  resolução  de  litígios  adjudicatório,  uma  vez  que  a   decisão  cabe  a  terceiro(s).  Esta  decisão  é  
vinculativa  para  as  partes.  
 
A  doutrina   atual   defende  que  a  arbitragem  voluntária  está  a  meio   caminho  entre  o  julgamento  de  autoridade  
judicial  e  o  contrato  livremente  consentido  pelas  partes.  
A  prova  deste  caráter  misto  é  a  eficácia  executiva  da  decisão  arbitral  (elemento  público),  por  um  lado,  e  a  limitação  
da  competência  do  tribunal  arbitral,  por  outro,  à  convenção  de  arbitragem.  
è   A  arbitragem  voluntária  é  contratual  na  sua  origem,  privada  na  sua  natureza  e  jurisdicional  na  sua  função.  
 
Nota:  Os  tribunais  arbitrais  são  considerados  tribunais  pelo  artigo  209º,  CRP.  
 
Os  poderes  dos  árbitros  têm:  
•   Fonte  contratual  
•   Fonte  jurisdicional  
 
Os  poderes  que  são  conferidos  aos  árbitros  resultam  de  um  contrato  (convenção  de  arbitragem).  As  partes  por  
acordo,  conferem  a  um  ou  mais  árbitros  poderes  para  decidirem  o  seu  litígio.  
 
Dois  mundos  de  arbitragem  em  Portugal:  
•   Litígios  de  pequeno  valor,  particularmente  de  consumo  (1  árbitro);  
•   Litígios  de  grande  valor,  particularmente  comerciais  ou  relativos  a  grandes  obras  ou  operações  financeiras  e  
com  grane  incidência  em  relações  internacionais  (comercial  –  3  árbitros,  cada  parte  escolhe  1  arbitro  e  os  dois  
escolhidos  pelas  partes  escolhem  um  3º  que  é,  em  regra,  presidente);    
 
Vantagens  da  arbitragem:  
è   A  arbitragem  sobre  casos  de  pequeno  valor  relaciona-­‐se  com  os  custos  diminutos  para  as  partes,  que  muitas  
vezes  nem  existem.  O  Estado  tem  também  interesse  na  arbitragem  já  que,  por  se  tratarem  de  litígios  de  baixo  
valor,  se  não  existisse  a  arbitragem,  estes  casos  nunca  iriam  sequer  a  tribunal.  Assim,  há  uma  maior  proteção  
da  posição  do  consumidor.  
è   A  arbitragem  sobre  casos  de  grande  valor:  a  celeridade,  a  confidencialidade,  a  escolha  dos  árbitros,  a  escolha  
das   regras   processuais…   a   escolha   dos   árbitros   pode   ser   importante   porque   as   partes   podem   escolher  
consoante  a  competência  da  pessoa.  A  arbitragem  nestes  casos  não  é  necessariamente  mais  barata,  mas  pode  
ser  mais  eficiente.  
 
Nota:  Se  existirem  duas  partes  de  países  distintos,  se  não  se  recorrer  à  arbitragem  tem  de  se  recorrer  aos  tribunais  
judiciais,  mas  de  que  país?  Cada  parte  terá  interesse  que  o  litigio  seja  resolvido  no  seu  país.  Assim,  a  arbitragem  oferece  
também  uma  solução  a  este  problema.  

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Arbitragem  voluntária  e  necessária  
Há  casos  que  têm,  obrigatoriamente,  de  ser  resolvidos  pela  arbitragem:  
•   Serviços  públicos  essenciais  (artigo  15º/2,  leis  dos  serviços  públicos  essenciais):  A  arbitragem  é  imposta  a  
pelo  menos  uma  das  partes.  A  lei  acaba  por  ficcionar  a  declaração  do  profissional  que  não  emite  a  declaração  
de  querer  recorrer  à  arbitragem,  mas  fica  vinculado  pela  escolha  do  consumidor.  Está-­‐se  a  meio  caminho  da  
arbitragem  voluntária  e  necessária.  
•   Questões   relacionadas   com   as   patentes   dos   medicamentos   genéricos:   estas   questões   têm   prevista  
arbitragem  necessária:  as  partes  não  podem  recorrer  a  tribunal  para  recorrer  a  estes  conflitos,  têm  de  recorrer  
obrigatoriamente   a   um   tribunal   arbitral.   Entendeu-­‐se,   então,   que   era   melhor   haver   tribunais   arbitrais  
especializados  nessa  matéria.  
•   Código  do  trabalho:  também  prevê  algumas  situações.  
•   Casos  de  expropriação  
•   Litígios  de  natureza  administrativa  no  desporto  
 
Existem  duas  espécies  de  arbitragem:  a  arbitragem  ad  hoc  e  arbitragem  institucionalizada.  A  arbitragem  será  ad  
hoc  ou  institucionalizada  consoante  a  vontade  das  partes.  
•   Arbitragem  institucionalizada:  A  arbitragem  institucionalizada  decorre  num  centro  de  arbitragem  com  caráter  
de  permanência.  Tem  como  vantagens  o  suporto  administrativo  e  técnico-­‐normativo  da  entidade  do  centro  
de  arbitragem.  
•   Arbitragem  ad  hoc:  a  arbitragem  ad  hoc  ocorre  fora  de  uma  câmara  arbitral,  fora  de  um  centro  de  arbitragem.  
O   tribunal   é  aqui  constituído  específica  e  unicamente  para   um  determinado  litígio.  Antes  da  execução  da  
convenção  de  arbitragem  o  tribunal  não  existe  e  após  o  proferimento  da  decisão  arbitral,  extingue-­‐se.  
 
2.3.1.   A  convenção  arbitral  
 
A  convenção  arbitral  é  o  acordo  das  partes  em  submeter  a  arbitragem  um  litígio  atual  ou  eventual.  Tem  natureza  
contratual,  na  medida  em  que  é  um  negócio  jurídico  bilateral.  
É  a  convenção  arbitral  que  determina  a  jurisdição  do  tribunal  arbitral,  isto  é,  o  tribunal  arbitral  só  tem  competência  
quando  o  litigio  que  lhe  é  submetido  está  integrado  na  convenção  de  arbitragem.  Se  houver  decisão  sobre  matéria  
não  incluída  na  convenção,  essa  decisão  é  anulável,  por  ser  proferida  por  tribunal  incompetente  (artigo  46º/3,a  iii,  
LAV).  
A   convenção   arbitral   gera   um   direito   potestativo   de   constituição   do   tribunal   arbitral   e   a   consequente   falta   de  
jurisdição  dos  tribunais  comuns.  Para  além  disto,  a  decisão  arbitral  faz  caso  julgado  e  tem  força  executória.  
 
Pode  assumir  duas  formas:  
•   Cláusula  compromissória:  existe  uma  cláusula  inserida  num  contrato  pelo  qual  as  partes  se  comprometem  a  
resolver  qualquer  litígio  por  via  arbitral;  
•   Compromisso  arbitral:  já  existe  um  litígio,  e  perante  esse  as  partes  decidem  resolvê-­‐lo  pela  via  arbitral;  
Apesar  disto,  a  convenção  arbitral  pode  ser  celebrada  na  pendência  de  ação  judicial,  implicando,  nos  termos  do  
artigo  280º  CPC,  extinção  da  ação.  
 
É  muito  mais  difícil  que  as  partes  cheguem  a  acordo  quanto  à  forma  como  vão  resolver  o  litigio  se  já  existir  um  
litigio.  Assim  são  muito  mais  comuns  as  cláusulas  compromissórias  do  que  o  compromisso  arbitral.  
 
Efeito  negativo  da  convenção  de  arbitragem  (artigo  5º,  LAV):  se  for  proposta  uma  ação  num  tribunal  judicial  havendo  
convenção  de  arbitragem,  se  o  reu  contestar,  mas  não  vier  dizer  que  há  uma  convenção  de  arbitragem  e  que  por  isso  
esse  é  que  é  o  tribunal  competente,  esta  é  uma  “revogação  tácita  da  convenção  tácita  para  esse  litigio”,  mas  não  para  
todos  os  efeitos.  

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Há  a  exceção  de  preterição  do  tribunal  arbitral.  É  uma  exceção  que  determina  a  absolvição  do  réu  da  instância:  o  
processo  termina,  mas  pode  voltar  a  fazer-­‐se  o  pedido  num  tribunal  arbitral.  Acontece  quando  uma  das  partes  alega  
a  convenção  de  arbitragem.    
Se  a  convenção  for  nula,  o  que  o  tribunal  judicial  deve  fazer  é  avaliar  se  é  ou  não  competente.  Se  houver  um  litigo  e  a  
questão  não  for  evidente  quem  vai   ter   de   resolver   é   o   tribunal   arbitral.   O   tribunal   judicial   absolve   da   instância,   o  
arbitral  vê  ou  não  se  é  competente  e  depois  poderá  ou  não  voltar  a  propor-­‐se  a  ação  no  tribunal  judicial.  
Conclusão:  Se  uma  das  partes  alegar  a  existência  da  convenção,  vai-­‐se  para  tribunal  arbitral,  se  não  invocar,  segue  no  
tribunal  judicial.  Só  o  reu  o   poderá  fazer  porque  a  outra  parte  já  negou,  a  partida  a  arbitragem  quando   colocou  a  
questão  no  tribunal  judicial.  
 
2.3.2.   Arbitrabilidade  
 
Arbitrabilidade  objetiva  -­‐  que  litígios  podem  ser  alvo  de  arbitragem  (artigo  1º/1,  LAV);  
•   Artigo  1º/1,  LAV:  pode  ser  submetido  a  convenção  de  arbitragem  qualquer  litígio  respeitante  a  interesses  de  
natureza  patrimonial  desde  que  não  esteja  submetido  aos  tribunais  estaduais  por  lei;  
•   Artigo  1º/2,  LAV:  é  válida  convenção  de  arbitragem  relativa  a  litígios  que  não  envolvam  interesses  de  natureza  
patrimonial,  desde  que  as  partes  possam  celebrar  transação  sobre  o  direito;  
•   Artigo  1º/5,  LAV:  o  Estado  e  as  outras  pessoas  coletivas  de  direito  público  podem  celebrar  convenções  de  
arbitragem  se  a  lei  o  permitir  e  em  relação  aos  litígios  em  que  a  lei  o  permite;  
 
O  critério  de  arbitrabilidade  objetiva  utilizado  em  Portugal  é  o  critério  da  patrimonialidade,  de  acordo  com  o  qual  
um  litigio  é  arbitrável  se  envolver  qualquer  tipo  de  interesse  económico,  não  sendo  relevante  se  a  relação  subjacente  
é  comercial  ou  privada,  civil  ou  administrativa,  de  direito  nacional  ou  de  direito  internacional.  
Este  é  o  critério  menos  seguro  para  as  partes,  na  medida  em  que  comporta  o  risco  de  estas  não  poderem  executar  
a  sentença  arbitral  fora  do  país  onde  foi  proferida.  Se  o  país  do  reconhecimento  não  for  tão  liberal  em  matéria  de  
arbitrabilidade  quanto  o  do  lugar  da  arbitragem,  poderá  não  ser  possível  o  reconhecimento  e  posterior  execução  da  
decisão.  
Por  outro  lado,  o  critério  da  disponibilidade  continua  a  ser  utilizado  enquanto  segundo  critério  de  arbitrabilidade,  
na  medida  em  que,  nos  termos  do  artigo  1º/2,  LAV,   é  ainda  admissível  convenção  de  arbitragem  relativamente  a  
direitos  não  patrimoniais  que  sejam  transacionáveis.  
No  que  diz  respeito  ao  direito  do  trabalho,  este  é  mesmo  o  único  critério  aplicável  (artigo  4º/4,  Lei  da  aprovação  
da  LAV),  o  que  quer  dizer  que  litígios  de  direito  do  trabalho  só  são  arbitráveis  se  forem  disponíveis.  
 
A  consequência  do  desrespeito  dos  preceitos  do  artigo  1º  e  do  artigo  2º  da  LAV  sobre  a  os  requisitos  de  convenção  
de  arbitragem  e  a  sua  revogação  é  a  nulidade,  de  acordo  com  o  artigo  3º.  
 
O  prazo  para  proferir  a  decisão  na  arbitragem  é  de  12  meses,  mas  prorrogável.  
 
Arbitrabilidade  subjetiva  -­‐  possibilidade  de  entidade  públicas  serem  partes  em  processo  arbitral  (artigo  1º/5,  LAV);  a  
participação  é  admissível  em  duas  situações:  
•   Autorização  por  lei  especial;  
•   Litígios  respeitantes  a  relações  de  direito  privado,  
 
O  que  é  excluído  pelo  artigo  1º/1,  LAV  são  os  conflitos  cuja  jurisdição  competente  é  a  pública,  por  lei  especial  a  
prever  expressamente.  
A  arbitragem  administrativa  é  regulada  nos  artigos  180º  e  ss.  do  CPTA:  a  arbitragem  no  domínio  administrativo  
está  em  evolução  porque  muitos  particulares  que  se  relacionam  com  a  administração  também  pretendem  resolver  os  
seus  litígios  com  base  na  arbitragem.  
•   A   arbitragem   prevista   para   a   administração   tem   uma   regra   de   aplicação   subsidiária   sobre   as   regras   da  
arbitragem  voluntária  (artigo  181º  CPTA);  

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•   É   necessário   despacho   do   membro   do   governo   competente   na   matéria   para   termos   uma   convenção   de  
arbitragem  (artigo  184º/1,  CPTA);  
 
2.3.3.   O  processo  arbitral  
 
Artigo  30º,  LAV:  
•   nº1:  o  processo  arbitral  deve  respeitar  os  princípios  fundamentais.  Não  apenas  os  elencados,  mas  todos  os  
princípios  fundamentais  do  processo  civil,  administrativo,  etc.  A  ideia  é  a  de  que  não  é  necessário  cumprir  as  
regras  do  CPC,  que  é  importante  é  que  os  princípios  fundamentais  do  processo  sejam  respeitados.  
•   nº2:   as   partes   podem   acordar   sobre   as   regras   de   processo   a   observar   na   arbitragem   até   à   aceitação   do  
primeiro   árbitro,   desde   que   os   princípios   fundamentais   sejam   respeitados.   Podem   fazê-­‐lo   desde   logo   na  
cláusula  compromissória,  também  pela  remissão  para  as  regras  de  um  centro  de  arbitragem.  
•   nº3:   não   havendo   escolha   das   partes,   o   tribunal   arbitral   conduz   a   arbitragem   da   forma   que   considerar  
adequada.  E  então  os  árbitros  podem  decidir  aplicar  as  regras  do  CPC?  Sim,  mas  só  se  o  disserem.  Se  não  o  
disserem,  não  se  aplicam  estas  regras  na  arbitragem,  nem  subsidiariamente  (artigo  30º/3,  LAV).  Neste  caso,  
é  aconselhável  a  elaboração  das  regras  num  momento  inicial,  na  primeira  reunião  dos  árbitros  ou  dos  árbitros  
com  as  partes,  já  que  dificilmente  se  poderá  prosseguir  o  processo  sem  essas  regras.  Apesar  de  nesta  situação  
a  competência  ser  atribuída  aos  árbitros,  é  recomendável  que  se  procure  a  colaboração  e  acordo  das  partes  
nesta  matéria,  a  fim  de  evitar  posterior  invocação  de  vícios  geradores  de  anulabilidade  da  sentença  arbitral.  
 
 
Os  árbitros  não  podem  impor  às  partes  regras  processuais  com  que  estas  não  concordem.  O  assento  tónico  nas  
regras  processuais  é  a  flexibilidade.  É  suposto  que  se  procure  o  melhor  conjunto  de  regras  processuais  para  o  que  se  
antecipa  que  venha  a  ser  aquele  conflito,  tendo  em  conta  também  os  advogados  que  representam  as  partes  e  a  sua  
prática  habitual.  Esta  escolha  adequada  de  regras  assume  aliás  um  imperativo  ético  dos  árbitros.  
 
2.3.4.   Impugnação  da  decisão  arbitral  
 
•   Recurso  (artigo  39º/4,  da  LAV):  Só  é  suscetível  de  recurso  caso  as  partes  o  tenham  previso  expressamente  na  
convenção  de  arbitragem.  Assim,  a  regra  geral  é  a  de  que  não  existe  recurso.  Se  as  partes  estabeleceram  que  
queria   resolver   o   litigio   por   via   arbitral,   a   existência   de   recurso   levaria   a   que   fosse   sempre   possível   num  
segundo  momento,  que  a  decisão  acabasse  por  ser  tomada  por  um  tribunal  da  relação  no  recurso.  
 
•   Ação  de  anulação  (artigo  46º  da  LAV):  O  recurso  só  acontece  se  as  partes  o  tiverem  convencionado.  Pelo  
contrário,   a   ação   de   anulação   existe   sempre.   A   ação   de   anulação   não   pode   ser   afastada   pelas   partes,   é  
necessária.  Não  tem  de  existir  obrigatoriamente,  mas  se  existir  um  elemento  para  a  anulação  do  processo,  
esta   não   se   pode   afastar.   A   anulação   de   uma   sentença   arbitral   pode   ser   gerada   por   uma   anomalia,   por  
exemplo.  
No  nº3  são  tratados  os  casos  em  que  pode  ser  o  tribunal  estadual  a  anular  a  sentença  arbitral.  Este  não  pode  
avaliar  o  mérito,  isto  é,  se  a  decisão  foi  bem  ou  mal  tomada,  mas  sim  a  existência  de  anomalias  no  processo.  
 
Oposição  à  execução:  uma  decisão  arbitral  constitui  título  executivo.  No  processo  executivo  há  uma  forma  de  invocar  
anomalias  que  possa  ter  surgido  com  o  título  que  é  a  oposição  à  execução:  “certo,  há  um  título,  mas  eu  vou  opor-­‐me  
a  execução  porque  este  título  tem  anomalias”.  
 
2.4.   Os  tribunais  estaduais  
 
Os  tribunais  são,  nos  termos  do  artigo  202º/1,  CRP,  “órgãos  de  soberania  com  competência  para  administrar  a  
justiça  em  nome  do  povo”.  

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Têm  como  objetivo  a  defesa  dos  direitos  e  interesses  legalmente  protegidos  dos  cidadãos,  reprimir  a  violação  da  
legalidade  democrática  e  dirimir  os  conflitos  de  interesse  públicos  e  privados  (artigo  202º/2,  CRP).  
O  artigo  202º/3,  CRP  confere,  ainda,  aos  tribunais  o  direito  de  coadjuvação  das  outras  autoridades.  
 
Nos  artigos  209º  -­‐  214,  CRP  encontramos  algumas  regras  sobre  os  tribunais,  nomeadamente:  
•   Tribunal  constitucional  
•   Tribunais  administrativos  e  fiscais  
•   Tribunais  judiciais  
•   Tribunais  de  contas  
•   Tribunais  marítimos  (integrados  nos  judiciais),  tribunais  arbitrais  e  julgados  de  paz  
 
Características  da  organização  judiciária:  
 
•   Pluralidade   de   jurisdições:   existem   várias   jurisdições   distintas,   nomeadamente   a   judicial   e   a  
administrativa/fiscal.  A  distinção  entre  jurisdições  é  característica  da  família  de  direitos  romano-­‐germânicos.  
Na  Common  law  não  existe  distinção  vincada  entre  tribunais  judiciais  e  tribunais  administrativos.  
 
•   Repartição  de  competências  jurisdicionais:  dentro  de  cada  jurisdição  existem  parcelas  de  competência,  ou  
seja,  não  é  qualquer  tribunal  que  é  competente,  é  o   que  couber  parcela  de  competência*  dentro  daquela  
jurisdição.  Para  definir  que  casos  cabem  a  cada  jurisdição  existem  critérios  específicos.  
 
*competência  –   um  tribunal  é  competente  se   tiver  poderes  jurisdicionais  para  resolver  um  determinado  litígio.  A  
competência  é  a  medida  de  jurisdição  atribuída  a  cada  um  dos  tribunais  integrado  numa  certa  jurisdição.    
Por  exemplo,  se  tenho  um  litigio  de  família,  não  posso  ir  ao  tribunal  penal  resolvê-­‐lo.  
 
 
Critério  residual:  se  não  se  souber  qual  é  o  tribunal  competente,  o  litigio  cabe  ao  tribunal  judicial.  “Os  tribunais  
judiciais  são  os  tribunais  comuns  em  matéria  cível  e  criminal  e  exercem  jurisdição  em  todas  as  áreas  não  atribuídas  a  
outras  ordens  judiciais”  (artigo  211º/1,  CRP)  
 
O  sistema  judiciário  é  regido  pela  Lei  da  Organização  do  Sistema  Judiciário  (Lei  62/2013,  de  26  de  agosto,  alterada  
pela  Lei  nº40-­‐A/2016  de  22  de  dezembro)  
 
 
Tribunais  administrativos  e  fiscais                                    Tribunais  judiciais  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Na  hierarquia  dos  tribunais  judiciais,  os  tribunais  de  primeira  instância  desdobram-­‐se  em:  
•   Tribunais  de  Comarca:  desde  o  inicio  de  2017  desdobram-­‐se  em  juízos  que  se  designam  pela  competência  e  
pelo  nome  do  município  em  que  estão  instalados.  Estes  podem  ser  de:  
o   Competência  especializada*  
o   Competência  genérica  
o   Proximidade  
•   Tribunais  de  competência  territorial  alargada:  propriedade  intelectual;  concorrência,  regulação  e  supervisão;  
marítimo;  execução  das  penas  (4);  central  de  instrução  criminal  
 
*Nos  juízos  de  competência  especializada,  não  quer  dizer  que  tenhamos  este  desdobramento  em  todas  as  comarcas,  
mas  normalmente  existem  estes  desdobram-­‐se  da  seguinte  forma:  
•   Central  Cível  (superior  a  50mil  €)  
•   Local  Cível  (inferior  a  50mil  €)  
•   Central  criminal  (crimes  mais  graves)  
•   Local  criminal  (crimes  intermédios)  
•   Local  de  pequena  criminalidade  (crimes  menos  graves)  
•   Instrução  criminal  
•   Família  e  menores  
•   Trabalho  
•   Comércio  
•   Execução  
Podem  ser  criados  juízos  de  competência  especializada  mista,  e  pode  também  proceder-­‐se  à  agregação  de  juízos.  
 
Quanto  aos  tribunais  da  relação,  existem  cinco  no  território  nacional:  Lisboa,  Évora,  Coimbra,  Porto  e  Guimarães.  
 
Estes  juízos  têm  como  limites  da  competência:  
 
•   Ordem  jurídica  interna:  competência  reparte-­‐se  pelos  tribunais  judicias  segundo:  
o   a  matéria    
o   o  valor  
o   a  hierarquia  
o   o  território:  artigos  80º  e  81,  CPC  -­‐  regras  gerais,  que  sós  e  aplicam  se  não  estivermos  perante  os  casos  
dos  artigos  70º  e  ss.  -­‐    normas  especiais.  
 
•   Competência  internacional:  competência  internacional  dos  tribunais  é  fixada  pela  lei  do  processo;  é  preciso  
verificar  se  os  tribunais  portugueses  são  competentes  de  acordo  com  os  artigos  59º,  62º  e  63º,  e  qual  o  pedaço  
da  ordem  interna  é  competente  para  o  dado  caso  em  função  da  matéria,  do  valor,  da  hierarquia  e  do  território.  
As  situações  descritas  no  artigo  63º  são  aquelas  em  que  Portugal  é  exclusivamente  competente:  
o   Matéria  de  execuções  sobre  imóveis  situados  no  território  português;  
o   Matéria  de  validade  da  constituição  ou  dissolução  de  sociedades  ou  outras  PC  com  sede  em  Portugal;  
o   Matéria  de  validade  de  inscrições  em  registos  públicos  conservados  em  Portugal;  
o   Matéria  de  insolvência  ou  de  revitalização  de  pessoas  domiciliadas  em  Portugal  ou  de  PC  com  sede  
em  Portugal;  
 
 
Competência  em  função  do  território:  
•   Tribunais  da  relação  e  de  primeira  instância:  competência  na  área  das  respetivas  circunscrições.  São  exceção  
os  tribunais  de  competência  territorial  alargada.  
•   Supremo  tribunal  de  justiça:  competência  em  todo  o  território  nacional.  

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3.  Espécies  de  ações  
 
Existem,  de  acordo  com  o  artigo  10º,  CPC  dois  tipos  de  ações:  
•   Ações  declarativas  
•   Ações  executivas  
 
Em  bom  rigor,  a  declaração  executiva  tem  partes  declarativas,  do  mesmo  modo,  em  ações  declarativas  também  
há  partes  executivas,  
Considera-­‐se   existirem   também  ações  mistas   que  têm  uma  parte  declarativa  e  outra  executiva,  sem  que  uma  
sobressaia.  
 
De  acordo  com  o  artigo  546º  existem  duas  formas  de  processo  –  comum  ou  especial.  
O  processo  especial  aplica-­‐se  aos  casos  expressamente  designados  na  lei.  Já  o  processo  comum  aplica-­‐se  a  todos  
os  casos  a  que  não  corresponde  processo  especial.  
Os  dois  tipos  de  processo  figuram  para  todos  os  três  tipos  de  ações.  Assim,  tanto  uma  ação  declarativa,  como  uma  
ação  executiva,  com  uma  ação  mista,  podem  ter  adstritas  um  processo  comum  ou  especial.  
 
3.1.  Ações  declarativas  
 
Existem  três  tipos  de  ações  declarativas  (artigo  10º/3,  CPC):  
•   Simples  apreciação  –  tem  por  fim  obter  a  declaração  de  existência  ou  inexistência  de  um  direito  ou  de  um  
facto.  É  pedido  pelo  autor  que  se  declare  uma  determinada  situação  jurídica  ativa,  um  direito  passivo  do  réu  
ou  de  terceiros.  
•   Condenação   –   tem   por   fim   exigir   a   prestação   de   uma   coisa   ou   de   um   facto,   pressupondo   ou   prevendo   a  
violação  de  um  direito.  O  tribunal  condena  o  réu  ou  o  autor  a  alguma  coisa.  
•   Constitutivas  -­‐    tem  por  fim  autorizar  uma  mudança  na  ordem  jurídica  existente.  Há  a  criação,  modificação  ou  
extinção  de  algo.  
 
Exemplos:  avaliem-­‐se  os  diferentes  pedidos:    
è   Declaração  de  nulidade  de  um  contrato  por  falta  de  forma:  Não  é  constitutiva  porque  não  modifica  uma  
situação  pré-­‐existente  já  que  a  situação  já  era  nula.  O  pedido  é  de  simples  apreciação.    Apreciação  pode  ser  
positiva  ou  negativa.  Aqui  é  negativa  porque  se  quer  provar  a  inexistência  de  um  direito.  
è   Anulação  de  um  contrato  com  base  em  erro:  É  uma  ação  constitutiva.  
è   Indemnização  no  valor  de  15mil€:  É  uma  ação  de  condenação.  
è   Prescrição  do  direito:  Temos  que  analisar  o  regime  da  prescrição  para  verificar  se  a  prescrição  já  existe  ou  
não.  É  uma  ação  de  simples  apreciação.  
è   Restituição  da  posse  de  uma  coisa  de  que  se  é  proprietário:  É  uma  ação  de  condenação  a  restituir  o  bem.  
è   Aquisição  de  propriedade  por  usucapião:  se  se  poder  invocar  a  usucapião  extrajudicialmente,  o  que  o  tribunal  
vai   fazer   é   verificar   se   existem   os   pressupostos   e   então   aí   teremos   uma   ação   de   simples   apreciação;   se   a  
usucapião  tiver  de  ser  invocada  judicialmente  então  estaremos  perante  uma  ação  constitutiva.  Na  opinião  do  
professor  a  usucapião  é  extrajudicial  e  então  será  uma  ação  de  simples  apreciação.  
 
Como   visto   anteriormente,   a   ação   declarativa   pode,   quanto   à  forma,  seguir  o   processo   comum   ou  o   processo  
especial.  
 
Processo  comum  (artigos  552º  e  ss.):  O  processo  comum  segue  uma  forma  única.  Apesar  de  existir  uma  forma  única,  
o  juiz  deve  gerir  o  processo  da  forma  que  achar  melhor.  A  possibilidade  de  gestão  processual  por  parte  do  juiz,  permite-­‐
lhe  adaptar  as  regras  de  processo  que  estão  previstas  no  CPC.  Isto  quer  dizer  que,  apesar  de  as  regras  serem  sempre  
as  mesmas,  existe  alguma  flexibilidade  que  pode  ser  utilizada  me  função  do  processo  em  concreto.  

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O  artigo  597º  é  uma  regra  geral  que  prevê  que  nas  ações  de  valor  mais  baixo  (valor  não  superior  a  metade  da  
alçada  da  Relação)  haja  uma  simplificação  processual.  
 
Processo  especial  (artigo  549º):  de  acordo  com  o  qual,  os  processos  especiais  se  regulam  por:  
•   Disposições  que  lhes  são  próprias  
•   Disposições  gerais  e  comuns  do  CPC  
•   Disposições  do  processo  comum  
 
3.2.  As  ações  executivas  
 
Dizem-­‐se  ações  executivas  aquelas  em  que  o  credor  requer  as  providências  adequadas  à  realização  coativa  de  uma  
obrigação  que  lhe  é  devida.  
Toda  a  execução  tem  por  base  um  título,  pelo  qual  se  determinam  o  fim  e  os  limites  da  ação  executiva.  
A  execução  tem  como  finalidade  a  realização  coativa  de  uma  prestação  devida,  que  pode  consistir:  
•   no  pagamento  de  quantia  certa;  
•   na  entrega  de  coisa  certa;  
•   na  prestação  de  um  facto,  quer  positivo,  quer  negativo;  
 
Espécies  de  títulos  executivos  –  artigo  703º,  CPC:  
•   Sentenças  condenatórias:  pode  ser  judicial  ou  arbitral.  As  sentenças  condenatórias  remetem  para  ações  de  
condenação  que  serão,  então,  ações  de  título  executivo.  
•   Documentos  exarados  ou  autenticados,  por  notário  ou  por  outras  entidades  ou  profissionais  com  competência  
para  tal,  que  importam  constituição  ou  reconhecimento  de  qualquer  obrigação.  
•   Títulos  de  crédito,  ainda  que  meros  quirógrafos(prescritos),  desde  que,  neste  caso,  os  factos  constitutivos  da  
relação  subjacente  que  constem  do  próprio  documento  ou  sejam  alegados  no  requerimento  executivo.  
•   Documentos   a   que,   por   disposição   especial,   seja   atribuída   força   executiva   (exemplo:   ata   da   reunião   de  
condomínio).  
Nota:  os  títulos  executivos  não  têm  todos  o  mesmo  valor;  um  pode  ser  mais  forte  de  que  o  outro.  Os  fundamentos  
pelos  quais  se  pode  atacar  um  título  são  diferentes  do  outro.  
 
Como   visto   anteriormente,   a   ação   executiva   pode,   quanto   à   forma,   seguir   o   processo   comum   ou   o   processo  
especial.  
 
Processo  comum  (artigo  550º):  pode  ser  ordinário  ou  sumário  
•   Pagamento  de  quantia  certa  
o   Processo  ordinário;  
o   Processo  sumário;  
•   Pagamento  para  a  entrega  de  coisa  certa  e  prestação  de  facto  
o   Forma  única;  
 
Processo  especial  (artigo  551º):    
•   Aplicação  subsidiária  das  disposições  do  processo  de  declaração  que  sejam  compatíveis  com  a  natureza  da  
ação  executiva;  
•   Aos  processos  especiais  são  aplicáveis  subsidiariamente  as  disposições  do  processo  ordinário;  
•   As   disposições   relativas   à   execução   para   pagamento   de   coisa   certa   são   aplicáveis   subsidiariamente   às  
execuções  com  outro  fim;  
•   À  execução  sumária  aplicam-­‐se  subsidiariamente  as  disposições  do  processo  ordinário;  
 
 
 

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Casos  práticos  
 
1.   Imagine  que  não  há  disposição  que  regule  um  determinado  aspeto  de  um  processo  executivo  especial.  A  
que  conjunto  de  disposições  se  deve  sucessivamente  recorrer?  
 
Disposições   do   processo   ordinário   (551º/4).   Se   não   conseguirmos   com   estas   regras,   aplicam-­‐se   as   disposições   do  
processo  de  declaração  (551º/1).  Dentro  do  processo  de  declaração  recorremos  primeiro  às  regras  gerais  (546º/6).  
 
2.   Imagine  que  não  há  disposição  que  regule  um  determinado  aspeto  de  um  processo  sumário.  A  que  conjunto  
de  disposições  se  deve  sucessivamente  recorrer?  
 
Disposições   do   processo   ordinário   (551º/3).   Se   não   houver   regra   do   processo   ordinário   aplicam-­‐se   as   regras   do  
processo  declarativo  (551º/1).  
 
3.3.  Processos  especiais  
 
Como  visto  anteriormente,  os  processos  especiais  aplicam-­‐se  apenas  aos  casos  expressamente  designados  na  lei.  
A  lei  pode  ser  o  CPC,  mas  também  outros  diplomas.  Fora  destes  casos,  é  aplicável  o  processo  comum.  
 
Existem  formas  especiais  de:  
•   Ação  declarativa  
•   Ação  executiva  
•   Ação  mista  
 
Processos  especiais  previstos  no  CPC:  
•   Processo  de  tutela  da  personalidade  (artigo  878º  e  ss.,  CPC):  processo  especial  para  tutelar  a  personalidade  
composto  por  apenas  três  normas.  Assim,  grande  parte  deste  processo  especial  vai  ser  encontrado  nas  regras  
que   regulam   o   processo   comum.   Não   temos   assim   tantas   especificidades   na   regulação   deste   processo.   O  
objetivo  é  que  o  processo  destas  matérias  seja  facilitado.  
•   Processo  de  prestação  de  caução  (artigos  906º  e  ss.,  CPC):  processo  especial  para  a  prestação  de  caução.  Este  
processo  envolve  algumas  especificidades  executivas  (artigo  912º).  
•   Processo   de   separação   e  divórcio   sem   o   consentimento   do   outro   cônjuge   (artigo   931º   e   932º):   o  aspeto  
essencial  que  distingue  este  processo  do  processo  comum  é  a  tentativa  de  conciliação  que  é  uma  fase  que  
decorre  também  no  processo  comum.  Aqui  tenta-­‐se  enfatizar  essa  conciliação.  
 
Processos  especiais  previstos  noutros  diplomas:  
 
•   Processo  especial  para  cumprimento  de  obrigações  pecuniárias  emergentes  de  contratos  (DL  269/98):  este  
diploma   vem   regular   a   injunção   que   é   um   procedimento   extrajudicial   não   sendo,   portanto,   um   processo  
propriamente  dito.  Está  pensado  para  os  litígios  de  massa  e  para  ser  um  processo  rápido  para  os  casos  em  que  
os  litígios  não  são  um  caso  complexo.  No  diploma  preambular  temos  uma  série  de  normas  relevantes  para  o  
regime  aprovado  em  anexo.  
 
•   Processo   de   insolvência   e   de   recuperação   de   empresas   (CIRE   –   DL   53/2004):   O   CIRE   determina   como  
insolvente  o  devedor  “que  se  encontre  impossibilitado  de  cumprir  as  suas  obrigações  vencidas  (artigo  1º/3,  
CIRE).   A   insolvência   caracteriza-­‐se,   então,   como   a   impossibilidade   de   cumprimento   da   generalidade   das  
obrigações  vencidas  de  uma  pessoa  singular  ou  coletiva,  podendo  esta  situação  ser  atual  ou  iminente.  
Este  processo  (contencioso)  especial  tem  em  vista  duas  finalidades  alternativas:  a  satisfação  dos  direitos  dos  
credores  pela  forma  que  for  contemplada  no  plano  de  insolvência;  e  a  liquidação  do  património  de  um  

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devedor  insolvente  e  a  repartição  do  respetivo  produto  resultante  da  venda  dos  bens  da  massa  insolvente,  
por  todos  os  credores  que  reclamem  os  seus  créditos.  
A  legitimidade  para  o  inicio  deste  processo  recai  sobre  o  devedor,  sobre  o  credor,  sobre  o  responsável  legal  
pelas  dívidas  do  insolvente  ou  sobre  o  Ministério  Público  em  casos  muito  raros.  
Tem  seis  características:  
o   Caráter  de  urgência:  os  prazos  e  recursos  correm  mesmo  em  férias  judiciais  e  têm  precedência  
sobre  o  serviço  ordinário  do  tribunal;  
o   Prazos  muito  curtos:  geralmente  cinco  dias;  
o   Existência  de  indicação  de  todos  os  meios  de  prova  em  todas  as  peças  apresentadas  no  processo  
o   Consagração  do  principio  do  inquisitório:  a  decisão  do  juiz  pode  ser  fundada  em  factos  não  alegados  
pelas  partes  (artigo  11º,  CIRE);  
o   Especificidade   dos   recursos:   São   apenas   admissíveis   para   o   tribunal   da   relação,   salvo   havendo  
oposição  de  julgados  (artigo  14º,  CIRE);  
o   Obrigação  de  publicação  de  sentenças  e  despachos  
 
•   Processo  de  inventário  (Lei  nº29/2009):  Tem  como  finalidade  distribuir  segundo  certas  regras  legais  um  dado  
património,  por  determinadas  pessoas,  pondo  termo  à  comunhão  hereditária,  ou  simplesmente  servindo  de  
base  à  eventual  liquidação  da  herança.  Pode  também  destinar-­‐se  à  partilha  de  bens  entre  ex-­‐cônjuges.  O  novo  
regime  jurídico  do  processo  de  inventário  confere  maior  celeridade  ao  processo  de  inventário  e  permite  uma  
maior  eficácia  da  justiça.  
Este  processo  importa  uma  desjudicialização,  já  que  se  retirou  a  competência  dos  tribunais  para  a  respetiva  
tramitação  e  se  a  transferiu  para  os  cartórios  notariais.    
O   NRJPI   manteve   a   opção   manifestada   na   Lei   29/2009   de   retirar   os   processos   de   inventário   da   esfera   de  
competência   dos   tribunais,   mas   limitou   esta   transferência   para   os   notários.   Para   além   de   excluir   a  
competência  dos  serviços  de  registo,  esta  nova  lei  não  estabelece  qualquer  controlo  jurisdicional,  atribuindo-­‐
se  ao  juiz  apenas  legitimidade  para  homologar  a  decisão  e  partilha.  
 
•   Processo  de  despejo  (artigo  14º  do  NRAU  –  Lei  6/2006):  Por  despejo  entende-­‐se  o  “desalojamento  forçado  
dos  prédios  que  ocupam  os  arrendatários  e  ação  tendente  a  tal  fim.  A  ação  de  despejo  consiste  na  ação  judicial  
destinada  a  fazer  cessar  o  contrato  de  arrendamento  nos  casos  em  que  a  lei  imponha  o  recurso  à  via  judicial,  
seguindo  a  forma  de  processo  declarativo  comum.  Compreende  a  via  judicial  e  a  vi  extrajudicial.    
Com  a  entrada  em  vigor  da  lei  nº31/2012,  o  âmbito  de  aplicação  da  ação  de  despejo  foi  consideravelmente  
diminuído.  Está,  agora,  adstrito  aos  casos  de  incumprimento  de  contrato  previstos  no  artigo  1083º/2,  CC,  por  
remissão  do  artigo  1084º/1,  CC.  
Tratando-­‐se  de  uma  ação  de  natureza  declarativa,  a  ação  de  despejo  tem  como  resultado  uma  sentença  que  
decreta  a  cessação  do  contrato  de  arrendamento  e  a  exigência  de  desocupação  do  imóvel  e  a  entrega  do  
mesmo   ao   senhorio   (artigos   1081º   e   1087º,   CC).   Sendo   julgada   procedente,   a   ação   declarativa   confere  
também  ao  senhorio  um  titulo  executivo  através  do   qual  é  possível  obter  um  titulo  de  despejo  através  do  
procedimento  especial  de  despejo  (PED),  visando  efetivar  a  cessação  do  contrato  quando  o  arrendatário  não  
desocupe  o  locado  na  data  prevista/fixada  (artigo  15º,  NRAU).  É  esta  a  via  extrajudicial.  
 
4.  A  jurisdição  voluntária  
 
A  jurisdição   consiste  na  atividade  exercida  pelos  juízes,  destinada  à  revelação  e  aplicação  do  direito   num  caso  
concreto,  solucionando  os  conflitos  que  lhe  são  presentes  para  apreciação  ou  julgamento,  com  o  intuito  de  determinar  
quais  os  direitos  de  cada  um  dos  litigantes.  
Não  é  fácil  delimitar  de  forma  clara  a  jurisdição  contenciosa  e  a  jurisdição  voluntária.  Adotou-­‐se,  então,  um  sistema  
taxativo   em   que   a   própria   lei   classifica   em   que   situações   existe   jurisdição   voluntária.   Não   obstante   a   enumeração  
taxativa  dos  processos  de  jurisdição  voluntária,  esta  não  é  suficiente.  O  Código  de  Processo  Civil  vem  estabelecer  para  
esta  jurisdição  um  regime  processual  com  certos  princípios  e  regras  processuais  específicas.  

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A  jurisdição  voluntária  é  “uma  das  formas  de  exercício  da  atividade  jurisdicional,  na  qual  o  órgão  que  a  exerce,  
fazendo   uso   da   iniciativa   probatória   que   considere   necessária   e   com   recurso   a   critérios   de   conveniência   e   de  
oportunidade,  tutela  interesses  privados,  com  vista  à  constituição,  formação,  eficácia,  validade  ou  extinção  de  uma  
relação  ou  situação  jurídica  ou,  em  determinados  casos  e  perante  circunstâncias  supervenientes  que  o  justifiquem,  
alterar   essa   relação   ou   situação   jurídica”.   Nestes   processos   não   há   um   conflito,   simplesmente   há   questões   que  
precisam  de  ser  reguladas.  
Ser  voluntária  não  tem  o  significado  comum  do  termo.  A  jurisdição  voluntária  é  obrigatória  para  os  casos  previstos  
na  lei.  Os  processos  de  jurisdição  voluntária  são  processos  especiais  como  por  exemplo  os  dos  artigos  989º  e  ss.,  CPC  
e   outros   previstos   em   legislação   avulsa.   Têm,   então,   princípios   diferentes,   nomeadamente,   as   seguintes  
características:  
•   Prevalência  do  principio  inquisitório  (artigo  986º/2)  
•   Predomínio  da  conveniência  e  da  oportunidade  sobre  a  legalidade  estrita  (artigo  987º)  
•   Modificabilidade  das  resoluções  baseadas  em  circunstâncias  supervenientes  (artigo  988º)  
•   Inadmissibilidade   de   recurso   para   o   STJ   das   resoluções   proferidas   segundo   critérios   de   conveniência   e   de  
oportunidade  (artigo  988º/2)  
 
5.  Os  julgados  de  paz  
 
Os  julgados  de  paz  são  difíceis  de  enquadrar  dentro  da  organização  processual.  Ainda  assim,  estes  são  tribunais  do  
Estado  reconhecidos  pelo  artigo  209º/2,  CRP,  com  um  regime  próprio  da  Lei  78/2001  (alterada  pela  Lei  54/2013).  
Os  julgados  de  paz  não  cobrem  todo  o  território  nacional,  o  que  que  dizer  que  não  existem  julgados  de  paz  em  
todos  os  Municípios.  Na  realidade,  não  existem  julgados  de  paz  na  maioria  dos  municípios,  o  que  quer  dizer  que  há  
uma  melhor  oferta  de  justiça  nuns  locais,  do  que  noutros.  
Estes  tribunais  pretendem  permitir  a  participação  cívica  dos  interessados  e  estimular  a  justa  composição  dos  litígios  
por  acordo  das  partes.  
 
O  processo  dos  Julgados  de  Paz  é  a  sua  vantagem,  uma  vez  que  lhe  são  retirados  mutos  formalismos.  O  ser  retirado  
o  formalismo  depende  muito  do  juiz  de  paz.  Podemos  ter  juízes  que  transformam  os  eu  tribunal  num  tribunal  formal.  
Ainda  assim,  o  principio  é  a  existência  do  processo  simplificado:  
•   Não  há  citação  edital  (artigo  43º/3,  LPJ)  
•   Desformalização  total  do  requerimento  inicial  e  da  contestação  (artigo  47º/1,  LPJ)  
•   Efeitos  das  faltas:  relaciona-­‐se  com  o  principio  da  proximidade.  Se  o  demandante  não  aparecer  considera-­‐se  
que   desistiu.   Se   o   demandado   não   apareceu,   consideram-­‐se   verificados   todos   os   factos   alegados   pelo  
demandante  (artigo  58º,  LPJ)  
 
Será  que  os  julgados  de  paz  têm  competência  exclusiva  ou  alternativa  em  relação  aos  tribunais?  
 
A  questão  da  competência  dos  Julgados  de  Paz  em  razão  da  matéria,  relativamente  aos  tribunais  judiciais  de  1ª  
instância  sempre  foi  controversa  e  geradora  de  opiniões  contrárias.  
•   Há   que   considere   que   desde   que   o   artigo   9º,   LJP   preveja   a   competência   dos   Julgados   de   Paz   sobre   essa  
matéria,  o  autor  da  ação  é  obrigado  a  requerer  a  ação  junto  do  Julgado  de  Paz  competente;  
•   Há  quem  considere  a  competência  dos  Julgados  de  Paz  alternativa  em  relação  aos  tribunais  judiciais;  
 
A  grande  dificuldade  em  chegar  a  um  consenso  prende-­‐se  com  dois  aspetos:  
•   Não  existir  uma  norma  legal  que  expressamente  indique  a  competência  dos  Julgado  de  Paz  em  relação  aos  
tribunais  de  1ª  instância;  
•   Dificuldade  em  inserir  os  Julgados  de  Paz  em  qualquer  um  dos  sistemas  de  resolução  de  litígios-­‐alternativos  
ou  judiciais;  
 
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O  Supremo  Tribunal  de  Justiça  manifestou-­‐se  quanto  a  esse  assunto  declarando  que  “No  atual  quadro  jurídico,  a  
competência  material  dos  julgados  de  paz  para  apreciar  e  decidir  as  ações  previstas  no  artigo  9º/1,  Lei  nº  78/2001,  de  
13  de  julho,  é  alternativa  relativamente  aos  tribunais  judiciais  de  competência  territorial  competente”,  o  que  quer  
dizer  que  iniciando  ação  numa  destas  ordens  de  tribunais,  a  mesma  já  não  poderá  ser  iniciada  na  outra  ordem  de  
tribunal.  Para  esta  decisão,  o  tribunal  apresenta  vários  argumentos:  
•   A  norma  constitucional  refere  em  números  diferentes  os  tribunais  judiciais  e  os  julgados  e  paz,  o  que  revela  
que  os  dois  órgãos  se  encontram  em  setores  distintos  do  sistema;  
•   A  possibilidade  de  recurso  para  os  tribunais  de  1ª  instância  (artigo  69º,  LJP),  o  que  mostra  que  estes  tribunais  
não  estão  ao  mesmo  nível,  denotando  hierarquia;  
 
Apesar   da   existência   deste   acórdão,   houve,   posteriormente,   decisões   em   contrário,   o   que   quer   dizer   que   a  
jurisprudência  não  ficou  realmente  uniformizada.  
Na  doutrina  existe  uma  maior  tendência  a  considerar  a  competência  como  exclusiva,  tendo,  inclusive  havido  votos  
de  vencido  no  acórdão  a  favor  da  competência  exclusiva.  O  próprio  professor  Jorge  Morais  Carvalho  acha  que  o  que  
faz  mais  sentido  é  que  a  competência  seja  exclusiva.  
 
Aspetos  importantes  dos  julgados  de  paz:  
è   Uma  decisão  de  um  JP  é  recorrível  para  o  tribunal  de  1ª  instância  independentemente  do  seu  valor  (artigo  
62º/1,  LJP);  
è   Aplicação  subsidiária  do  CPC  (artigo  63º,  LJP)  no  que  não  seja  incompatível  com  a  presente  lei  e  no  respeito  
pelos  princípios  dos  julgados  de  paz;  
 
No  Julgado  de  paz  pode  decidir-­‐se:  
•   Por  mediação:  se  a  mediação  falhar  o  processo  passa  para  o  juiz  de  paz  se  for  da  competência  do  julgado.  A  
mediação  não  está  sujeita  às  regras  de  competência  territorial.  
•   Pelo  juiz  de  paz  
 
5.1.  Princípios  caracterizadores  dos  Julgados  de  Paz    
 
Os  Julgados  de  paz  distinguem-­‐se  dos  tribunais  comuns  devido  à  sua  teleologia  e  forma  de  atuação,  sendo  um  meio  
pessoalizado  de  Justiça  que  procura  sempre  o  acordo  das  partes  para  eliminar  os  conflitos,  os  quais  se  caracterizam  
por  terem  diminuto  valor  económico,  mas  relevante  valor  social.  
Deste  modo,  é  possível  distinguir  alguns  princípios  caracterizadores  dos  Julgados  de  Paz  (artigo  2º,  LJP):  
•   Principio  da  participação  cívica:  os  JP  procuram  aproximar  as  pessoas  da  justiça.  Deste  modo,  não  precisam,  
por  exemplo,  de  um  mandatário  (advogado)  e  mesmo  que  o  tenham,  têm  sempre  um  momento  em  que  se  
dirigem  pessoalmente  ao  juiz.  
•   Estímulo  ao  acordo:  procura-­‐se  o  acordo  das  partes,  de  modo  a  eliminar  os  conflitos  entre  as  mesmas;  
•   Simplicidade:  este  principio  é  também  aplicado  nos  tribunais  judiciais,  porem,  procura-­‐se  que  seja  levado  ao  
limite  nos  Julgados  de  paz,  eliminando  tudo  o  que  seja  mero  ritual.  
•   Adequação:  este  principio  tem  também  paralelismo  nos  tribunais  judiciais,  manifestando  a  adequação  dos  
atos  às  especificidades  da  causa.  
•   Informalidade:   o   processo   é   despido   de   formalismos,   libertando   a   justiça   do   rito.   Isto   manifesta-­‐se,   por  
exemplo,  na  não  utilização  de  togas,  de  os  julgamentos  serem  feitos  à  roda  de  uma  mesa  em  que  se  encontram  
sentados  todos  os  intervenientes…;  
•   Oralidade:  procura-­‐se  a  participação  das  partes.  Porém,  isto  pode  tornar-­‐se  numa  desvantagem  se  as  pessoas  
que  participam  não  souberem  do  que  estão  a  falar,  o  que  dificultará  o  processo.  Inclusive,  se  uma  parte  souber  
mais  do  que  a  outra,  passa  a  haver  uma  desvantagem  
•   Economia  processual:  este  é  também  um  principio  que  se  verifica  nos  tribunais  judiciais,  mas  que  é  levado  ao  
extremo  nos  Julgados  de  Paz.  Deste  modo,  todos  os  atos  que  não  têm  conteúdo  útil  são  reduzidos  ao  mínimo  
indispensável,    

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Além   destes   princípios,  os  Julgados  de  Paz  devem,  ainda,  respeitar  os   princípios  gerais  consagrados   na   prática  
processual   portuguesa:   o   acesso   ao   Direito   e   à   tutela   jurisdicional   efetiva,   a   equidade   processual,   a   legalidade,   o  
princípio  do  inquisitório  e  do  contraditório,  entre  outros.  
 
 
Torna-­‐se,  então,  possível,  contrapor  os  princípios  orientadores  do  processo  nos  Julgados  de  Paz,  com  o  processo  
Civil  dos  Tribunais  judiciais:  
 
Julgados  de  Paz   Tribunais  judiciais  
Participação   Não  participação  
Consensualidade   Não  consensualidade  
Acessibilidade   Não  acessibilidade  
Proximidade   Distanciamento  
Equidade   Legalidade  
Celeridade/oportunidade   Morosidade  
Simplicidade   Burocracia/tecnicidade  
Informalidade   Formalidade  
Absoluta  economia  processual   Economia  processual  
Pacificação  como  fim  imediato   Pacificação  como  fim  imediato  
Oralidade   Escrita  
 
 
5.2.  Competência  
 
A  competência  dos  Julgados  de  paz  divide-­‐se  em  competência  em  razão  do  valor,  competência  em  razão  da  matéria  
e  competência  em  razão  do  território  
 
Competência  em  razão  do  valor  
 
De  acordo  com  o  artigo  8º,  LPJ,  os  JP  têm  competência  para  questões  cujo  valor  não  exceda  os  15000€.  
 
Competência  em  razão  da  matéria  
 
O  artigo  9º  prevê  o  leque  de  matérias  da  competência  destes  tribunais,  sendo  possível  agrupá-­‐los  em  dois  grandes  
grupos:  
•   Matéria  cível  (nº1):  matérias  no  âmbito  dos  direitos  reais  e  direito  das  obrigações;  
•   Matéria  criminal  (nº2):  inclui  pedidos  de  indemnização  cível  pelos  crimes  aí  previstos,  desde  que  não  haja  sido  
apresentada  participação  criminal  ou  após  a  desistência  da  mesma.  
 
É  possível  depreender  que  os  Julgados  de  Paz  versam  sobre  litígios  que  opõem  pessoas  singulares  em  disputas  de  
proximidade.  
 
Competência  em  razão  do  território  
 
A  competência  dos  Julgados  de  paz  em  razão  do  território  encontra-­‐se  estipulada  no  artigo  11º  e  ss.  da  LPJ.  Estes  
referem:  
•   Ações  referentes  a  direitos  reais  ou  pessoais  de  gozo  sobre  imóveis  e  as  ações  de  divisão  de  coisa  comum  –  
Julgado  de  paz  da  situação  dos  bens  (artigo  11º/1);  
•   Ações  relativas  ao  cumprimento  e  incumprimento  contratual  –  podem  ser  propostas,  à  escolha  do  credor,  
no  julgado  de  paz  do  lugar  em  que  a  obrigação  deveria  ser  cumprida  ou  no  julgado  de  paz  do  domicilio  do  
demandado  (artigo  12º/1).  Porém,  se  a  ação  se  destinar  a  efetivar  a  responsabilidade  civil  baseada  em  facto  
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ilícito  ou  fundada  no  risco,  o  julgado  de  paz  competente  é  o  correspondente  ao  lugar  onde  o  facto  ocorreu  
(artigo  12º/2).  
•   Regra  geral:  domicilio  do  demandado  (artigo  13º),  salvo  se  o  demandado  não  tiver  residência  habitual  ou  for  
incerto  ou  ausente.  Neste  caso,  é  demandado  no  julgado  de  paz  do  domicilio  do  demandante  (artigo  13º/2).  
•   Ações  em  que  o  demandado  é  uma  pessoa  coletiva:  julgado  de  paz  da  sede  da  administração  principal  ou  na  
sede  da  sucursal,  agência  filiar,  delegação  ou  representação,  conforme  a  ação  seja  dirigida  contra  aquela  ou  
contra  estas  (artigo  14º).  
 
Nos  termos  do  artigo  4º  da  LJP,  os  Julgados  de  Paz  podem  ser  concelhios  ou  agrupamentos  de  concelhos.  Cada  um  
deles  só  tem  capacidade  para  conhecer  litígios  que  se  processem  no  âmbito  da  sua  competência,  não  só  em  razão  do  
valore  da  matéria,  mas  também  do  território.  Assim,  cada  juiz  de  paz  só  se  pode  pronunciar,  regra  geral,  sobre  litígios  
decorridos  no  âmbito  da  sua  circunscrição  territorial.  

6.  A  injunção  
 
A  injunção  é  regulada  pelo  Decreto-­‐Lei  220-­‐A/2008.  Este  DL  comporta  duas  matérias:  
•   Ação  especial  para  o  cumprimento  de  obrigações  pecuniárias  (AECOP)  que  se  reportam  aos  litígios  de  massa;  
•   A   injunção:   “É   aprovado   o   regime   dos   procedimentos   destinados   a   exigir   o   cumprimento   de   obrigações  
pecuniárias  emergentes  de  contratos  de  valor  não  superior  a  (euro)  15  000,  publicado  em  anexo,  que  faz  parte  
integrante  do  presente  diploma.”  (artigo  1º,  diploma  preambular)  
 
No  que  toca  à  primeira  parte:  
•   Litígios  de  massa:  litígios  em  que  estamos  perante  uma  empresa  com  um  número  muito  grande  de  clientes  e  
que   regularmente   têm   de   pagar   um   preço;   estes   litígios   caracterizam-­‐se   por   se   tratarem   de   obrigações  
pecuniárias  que  resultam  de  contratos  entre  as  partes.  
•   Petição  e  contestação  simplificadas  (artigo  1º)  
•   São  litígios  com  valor  muito  baixo.  
•   Tramitação  subsequente  simplificada  (artigos  4º  e  5º)  
•   Convenção   de   domicilio   (artigo   1º-­‐A):   se   houver   um   domicilio   convencionada   no   contrato   que   emerge   a  
dívida,  esse  domicilio  será  o  domicilio  relevante  para  aquele  processo.  Se  a  pessoa  for  citada  nesse  domicilio,  
considera-­‐se  citada  mesmo  que  já  lá  não  viva.  
•   “Se   o   réu,   citado   pessoalmente,   não   contestar,   o   juiz,   com   valor   de   decisão   condenatória,   limitar-­‐se-­‐á   a  
conferir  força  executiva  à  petição,  a  não  ser  que  ocorram,  de  forma  evidente,  exceções  dilatórias  ou  que  o  
pedido  seja  manifestamente  improcedente”  (artigo  2º)  
 
No  que  toca  à  segunda  parte:  
 
A  injunção  consiste  na  “providência  que  tem  por  fim  conferir  força  executiva  a  requerimento  destinado  a  exigir  o  
cumprimento  das  obrigações”  pecuniárias  emergentes  de  contrato  cujo  valor  não  exceda  o  valor  da  alda  da  Relação  
ou  “das  obrigações  emergentes  de  transações  comerciais  abrangidas  pelo  DL  nº  32/2003  de  17  de  fevereiro  (Artigo  
7º).  
Trata-­‐se  de  uma  providência  cujo  objetivo  é  permitir  ao  credor  de  uma  prestação  pecuniária  de  montante  não  
muito  elevado  obter  um  título  executivo  para  o  seu  cumprimento  coercivo,  de  modo  rápido  e  simplificado.  
Pretende-­‐se,  então,  a  obtenção  pelo  credor,  de  forma  célere  e  simplificada,  de  um  título  executivo.  
A  finalidade  do  legislador  foi,  portanto,  a  de  descongestionar  os  tribunais,  procurando  dar  resposta  a  uma  “situação  
de  rutura  (…)  originada,  essencialmente,  pelo  crescimento  explosivo  da  procura  dos  tribunais  pelas  empresas,  que,  
como  litigantes  frequentes,  demandam,  em  regra,  cidadãos  consumidores,  que  não  pagam  atempadamente  bens  e  
serviços”  –  litigância  de  massa.  
 
 

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Âmbito  de  aplicação:  
É  possível  utilizar  a  injunção  em  dois  casos:  
•   Casos  que  cabem  na  aplicação  do  artigo  1º  do  diploma  preambular:  “obrigações  pecuniárias  emergentes  de  
contratos  de  valor  não  superior  a  15000€”;  
•   Obrigações  emergentes  de  transações  comerciais  (artigo  3ºB  do  DL  62/2013;  
 
 
“Qualquer  transação  entre  empresas  ou  entre  empresas  e  entidades  públicas,  qualquer  que  seja  a  respetiva  
 
natureza,  forma  ou  designação,  que  dê  origem  ao  fornecimento  de  mercadorias  ou  À  prestação  de  serviços  
 
contra  uma  remuneração”  (artigo  3ºB,  DL  32/2003)  
 
 
Muitas  vezes  existe  a  ideia  de  que  a  injunção  é  apenas  para  litígios  de  pequeno  valor,  mas  isso  não  é  verdade.  A  
injunção  também  se  aplica  a  casos  de  grandes  valores.  
 
A  injunção  não  é  um  processo  judicial  e  não  jurisdicional  porque  não  há  intervenção  de  um  juiz  ou  de  um  tribunal.  
Existe,  simplesmente,  um  balcão  nacional  de  injunções  que  consiste  num  órgão  administrativo.  Isto  faz  da  injunção  
um  procedimento  parajudicial.  
A   natureza   administrativa   do   procedimento   em   questão   traduz-­‐se,   fundamentalmente,   no   facto   de   este   se  
desenvolver  junto  da  secretaria  judicial  competente,  apenas   se   transmutando   em   Ação   Declarativa   Especial   (Ação  
Declarativa  Especial  para  Cumprimento  de  Obrigações  Pecuniárias  Emergentes  de  Contratos,  também  regulada  no  
regime   Anexo),   em   regra,   nas   situações   em   que   haja   oposição   do   requerido   ou,   caos   o   requerente   o   indique  
expressamente,   frustração   da   notificação   (artigos   16º/   e   17º/1).   Assim   sendo,   atribui-­‐se   ao   secretário   judicial   a  
competência  para  proceder  à  notificação  do  requerido  e,  na  ausência  de  oposição  da  fórmula  executória,  formando-­‐
se,  desta  forma,  um  título  executivo  judicial  impróprio.  
Dá  entrada  o  procedimento  de  injunção  e  se  o  requerimento  for  aceite  ocorre  a  notificação  do  requerido  para  
uma  de  duas  coisas  (artigo  12º/1):  
•   Pagar;  
•   Deduzir  oposição  à  pretensão;  
 
“Se  depois  de  notificado  o  requerido  não  deduzir  oposição,  o  próprio  requerimento  de  injunção  
 
é   carimbado   eletronicamente   a   dizer   que   o   documento   tem   força   executiva,   passando   o  
 
documento  a  constituir  força  executiva”  (artigo  14º/1)  
 
 
A  chave  de  sucesso  da  injunção  é  o  requerido  não  dizer  nada.  Se  existisse  oposição  em  todos  os  processos,  todos  
passariam  para  a  AECOP  e  a  injunção  não  serviria  para  nada.  A  injunção  serve  para  limpar  95%  dos  casos  em  que  não  
há  resposta.  
 
Notificação  (artigos  12º  e  23º)  
•   Conteúdo:  o  requerido  é  informado  de  que  a  ausência  da  oposição  tem  como  consequência  a  aposição  da  
forma  executória  ao  requerimento  de  injunção.  
•   Forma:  notificação  por  via  postal  registada  à  qual  se  segue  a  notificação  por  via  postal  simples  com  exclusão  
da  notificação  por  contacto  pessoal  ou  editais.  
 
Consequências  da  natureza  de  título  executivo  e  fundamentos  de  oposição  à  execução  
*Trabalho  da  Maria    
 
Há  uma  diferença  entre  a  oposição  à  pretensão  e  a  oposição  à  execução.    
A  oposição  à  execução  presume  que  a  injunção  já  terminou.  Deste  modo,  a  oposição  à  execução  já  vai  ocorrer  num  
processo  judicial  por  parte  do  executado  de  acordo  com  diversos  fundamentos.  Consiste  num  ato  processual  através  
do  qual  o  executado  reage  contra  a  pretensão  executiva.  
 
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Artigo  729º,  CPC:  Fundamentos  de  oposição  à  execução  baseada  em  sentença  
Fundando-­‐se  a  execução  em  sentença,  a  oposição  só  pode  ter  algum  dos  fundamentos  seguintes:  
a)  Inexistência  ou  inexequibilidade  do  título;  
b)   Falsidade   do   processo   ou   do   traslado   ou   infidelidade   deste,   quando   uma   ou   outra   influa   nos   termos   da  
execução;  
c)  Falta  de  qualquer  pressuposto  processual  de  que  dependa  a  regularidade  da  instância  executiva,  sem  prejuízo  
do  seu  suprimento;  
d)  Falta  ou  nulidade  da  citação  para  a  ação  declarativa  quando  o  réu  não  tenha  intervindo  no  processo;  
e)  Incerteza,  inexigibilidade  ou  iliquidez  da  obrigação  exequenda,  não  supridas  na  fase  introdutória  da  execução;  
f)  Caso  julgado  anterior  à  sentença  que  se  executa;  
g)  Qualquer  facto  extintivo  ou  modificativo  da  obrigação,  desde  que  seja  posterior  ao  encerramento  da  discussão  
no  processo  de  declaração  e  se  prove  por  documento;  a  prescrição  do  direito  ou  da  obrigação  pode  ser  provada  
por  qualquer  meio;  
h)  Contracrédito  sobre  o  exequente,  com  vista  a  obter  a  compensação  de  créditos;  
i)   Tratando-­‐se   de   sentença   homologatória   de   confissão   ou   transação,   qualquer   causa   de   nulidade   ou  
anulabilidade  desses  atos.  
 
Artigo  730º,  CPC:  Fundamentos  de  oposição  à  execução  baseada  noutro  título  
São  fundamentos  de  oposição  à  execução  baseada  em  sentença  arbitral  não  apenas  os  previstos  no  artigo  anterior  
mas  também  aqueles  em  que  pode  basear-­‐se  a  anulação  judicial  da  mesma  decisão,  sem  prejuízo  do  disposto  nos  n.os  
1  e  2  do  artigo  48.º  da  Lei  da  Arbitragem  Voluntária.  
 
Artigo  731º,  CPC:  Fundamentos  de  execução  baseados  noutro  título  
Não   se   baseando   a   execução   em   sentença   ou   em   requerimento   de   injunção   ao   qual   tenha   sido   aposta   fórmula  
executória,   além   dos   fundamentos   de   oposição   especificados   no   artigo   729.º,   na   parte   em   que   sejam   aplicáveis,  
podem  ser  alegados  quaisquer  outros  que  possam  ser  invocados  como  defesa  no  processo  de  declaração.  
 
Artigo  857º,  CPC:  Fundamentos  de  oposição  à  execução  baseada  em  requerimento  de  injunção  
1  -­‐  Se  a  execução  se  fundar  em  requerimento  de  injunção  ao  qual  tenha  sido  aposta  fórmula  executória,  apenas  podem  
ser  alegados  os  fundamentos  de  embargos  previstos   no  artigo  729.º,  com  as  devidas  adaptações,  sem  prejuízo  do  
disposto  nos  números  seguintes.  
2   -­‐   Verificando-­‐se   justo   impedimento   à   dedução   de   oposição   ao   requerimento   de   injunção,   tempestivamente  
declarado   perante   a   secretaria   de   injunção,   nos   termos   previstos   no   artigo   140.º,   podem   ainda   ser   alegados   os  
fundamentos  previstos  no  artigo  731.º;  nesse  caso,  o  juiz  receberá  os  embargos,  se  julgar  verificado  o  impedimento  e  
tempestiva  a  sua  declaração.  
3   -­‐   Independentemente  de  justo  impedimento,  o  executado  é  ainda  admitido  a  deduzir  oposição  à  execução  com  
fundamento:  
a)  Em  questão  de  conhecimento  oficioso  que  determine  a  improcedência,  total  ou  parcial,  do  requerimento  de  
injunção;  
b)   Na   ocorrência,   de   forma   evidente,   no   procedimento   de   injunção   de   exceções   dilatórias   de   conhecimento  
oficioso.  

7.  Os  incidentes  processuais  


 
Um  incidente  processual  é  uma  ocorrência  estranha  ao  curso  normal  do  processo,  dando  lugar  a  uma  tramitação  
própria,  dentro  do  processo.  
Os  incidentes  não  são  espécies  de  processos,  fazem,  sim,  parte  de  um  processo  e  têm  algumas  especificidades.  
Normalmente,  um  incidente  atrasa  consideravelmente  um  processo,  já  que  é  preciso  resolver  essa  questão  para  
que  o  processo  prossiga.  
 

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Os  incidentes  processuais  têm  caráter  acessório  em  relação  ao  processo  principal,  tendo  como  consequência  que  
se  não  houver  processo  principal,  o  incidente  cai.  Assim,  se,  por  exemplo,  a  meio  de  um  processo  com  um  incidente  o  
autor  desiste  pondo  fim  ao  processo  principal,  o  incidente  deixa  de  fazer  sentido  e  cai.  
 
As  regras  gerais  acerca  dos  incidentes  processuais  encontram-­‐se  nos  artigos  292º  -­‐  295º  do  CPC.  Estas  denotam  
um  processo  simplificado  para  os  incidentes  processuais,  de  modo  a  que  estes  não  produzam  tanto  transtorno  ao  
processo  principal.  
 
Artigo  292º  
Regra  geral  
 
Em  quaisquer  incidentes  inseridos  na  tramitação  de  uma  causa  observa-­‐se,  na  falta  de  regulamentação  especial,  o  que  
vai  disposto  neste  capítulo.  
 
Artigo  293º  
Indicação  das  provas  e  oposição  
 
1.   No  requerimento  em  que  se  suscite  o  incidente  e  na  oposição  que  lhe  for  deduzida,  devem  as  partes  oferecer  o  rol  
de  testemunhas  e  requerer  os  outros  meios  de  prova.  
2.   A  oposição  é  deduzida  no  prazo  de  10  dias.  
3.   A  falta  de  oposição  no  prazo  legal  determina,  quanto  à  matéria  do  incidente,  a  produção  do  efeito  cominatório  que  
vigore  na  causa  em  que  o  incidente  se  insere.  
 
Artigo  294º  
Limite  número  de  testemunhas  e  registo  dos  depoimentos  
 
1.   A  parte  não  pode  produzir  mais  de  cinco  testemunhas.  
2.   Os  depoimentos  prestados  antecipadamente  ou  por  carta  são  gravados  nos  termos  do  artigo  422º.  
 
Artigo  295º  
Alegações  orais  e  decisão  
 
Finda   a   produção   da   prova,   pode   cada   um   dos   advogados   fazer   uma   breve   alegação   oral,   sendo   imediatamente  
proferida  decisão  por  escrito,  aplicando-­‐se,  com  as  necessárias  adaptações,  o  disposto  no  artigo  607º.  
 
Existem   também   regras   especiais   para   cada   incidente   previstas   na   lei.   Sós   e   não   houver   regra   especial   é   que  
aplicamos  a  regra  geral  –  subsidiariedade  da  parte  geral.  
 
Exemplos  de  incidentes:  
 
•   Verificação   do   valor   da   causa   (artigos   296º   e   ss.):   relaciona-­‐se   com   o   facto   de   a   toda   a   causa   dever   ser  
atribuído   um   valor   certo,   expresso   em   moeda   legal,   que   represente   a   utilidade   económica   do   pedido.   A  
verificação  do  valor  varia  consoante  o  tipo  de  ação:  
o   Ação  para  o  condenamento  de  uma  quantia  em  dinheiro:  é  esse  o  valor  da  causa;  
o   Ação  com  vários  pedidos:  soma  dos  valores  de  todos  os  pedidos;  
o   Ações  de  despejo:  valor  da  renda  de  dois  anos  e  meio,  mais  o  valor  das  rendas  em  divida  ou  o  valor  
da  indemnização  pedida;  
o   Ações  sobre  o  estado  das  pessoas:  equivalente  ao  valor  da  alçada  do  tribunal  mais  0,01€;  
o   Procedimentos  cautelares:  valor  da  causa  a  que  respeitam,  salvo  se  o  incidente  tiver  realmente  valor  
diverso  do  da  causa;  

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o   Valor  dos  incidentes:  Se  a  parte  que  deduzir  o  incidente  não  indicar  o  respetivo  valor,  considera-­‐se  
este  o  valor  dado  à  causa;  pode,  porém,  a  parte  contrária,  a  parte  contrária  impugnar  o  valor  com  
fundamento  em  que  o  incidente  tem  valor  diverso  do  da  causa.  
 
•   Suspeição  do  juiz  (artigo  119º  e  ss.):  A  situações  em  que  há  fundamento  para  exigência  de  suspeição  do  juiz  
encontram-­‐se  elencadas  no  artigo  120º,  CPC.  Estas  causas  assentam,  sobretudo,  em  dois  grupos:  na  relação  
dos  juízes  com  as  partes  e  na  relação  dos  juízes  com  os  objetos  em  lide.  O  prazo  de  suspeição  do  juiz  é  de  10  
dias  a  contar  da  ocorrência  dos  factos  mencionados  no  artigo  121º/1  (artigo  149º).  O  artigo  121º/2  prevê  a  
possibilidade  de  a  parte  poder  denunciar  ao  juiz  a  causa  de  suspeição  antes  de  ele  intervir  no  processo  judicial,  
e,  nesse  caso,  declarar  a  suspensão  dos  respetivos  termos  até  decorrer  o  prazo  da  dedução  da  suspeição,  que  
é  contado  desde  a  data  de  notificação  daquele  despacho.  Temos  ainda  o  artigo  121º/3  que  se  aplica  aos  casos  
em  que  mo  motivo  de  suspeição  é  superveniente  à  interveniência  do  juiz  no  facto.  
(ver  também  artigos  122º,  123º  e  124º)  
 
•   Habilitação  (artigos  351º  e  ss.):  Quando  na  pendência  de  uma  ação,  falece  uma  das  partes,  devem  os  seus  
sucessores  ou  alguns  deles  promover  naquela  um  incidente,  designado  por  habilitação,  a  fim  de  nela  poderem  
substituir   o   falecido.   A   habilitação   também   pode   ser   promovida   pela   parte   sobreviva.   Consoante   quem   a  
requerer,  a  habilitação  é  promovida  contra  a  parte  sobreviva,7e3  ou  contra  os  sucessores  do  falecido,  sendo-­‐
o  sempre  contra  estes,  desde  que  não  sejam  requerentes.  
 
•   Liquidação  (artigos  358º  e  ss.):  “Antes  de  começar  a  discussão  da  causa,  o  autor  deduz,  sendo  possível,  o  
incidente  de  liquidação,  para  tornar  líquido  o  pedido  genérico,  quando  este  se  refira  a  uma  universalidade  ou  
às  consequências  de  um  facto  ilícito”.  
 
•   Procedimento  cautelar  (artigo  364º/1):  Procedimento  judicial  instaurado  como  preliminar  a  uma  ação  ou,  na  
pendência  desta  como  seu  incidente,  destinado  a  prevenir  ou  afastar  o  perigo  resultante  da  demora  a  que  
está   sujeito   o   processo   principal.   Através   de   uma   indagação   rápida   e   sumária,   o   juiz   assegura-­‐se   de  
plausibilidade  da  existência  do  direito  do  requerente  e  emite  uma  decisão  de  caráter  provisório,  destinada  a  
produzir  efeitos  até  ao  momento  em  que  se  forme  a  decisão  definitiva.  Exceto  se  for  decretada  a  inversão  do  
contencioso,   o   procedimento   cautelar   é   dependência   de   uma   causa   que   tenha   por   fundamento   o   direito  
acautelado  e  pode  ser  instaurado  como  preliminar  ou  como  incidente  de  ação  declarativa  ou  executiva.  
 
•   Falsidade  de  documento  (artigo  450º):  Um  documento  autêntico  é  falso  quando  o  facto  que  nele  deduz  ter  
sido  presenciado  pela  autoridade  ou  oficial  público,  na  realidade  nunca  ocorreu,  ou  quando  atesta  que  foi  
praticado   pela   entidade   responsável   um   facto   que   na   verdade   não   foi.   Se   a   arguição   da   falsidade   de  
documento  tiver  lugar  em:  
o   Ação   executiva,   em   processo   especial   cuja   tramitação   inviabilize   o   julgamento   conjunto   ou   em  
processo  pendente  de  recurso:  a  instrução  e  o  julgamento  fazem-­‐se  nos  termos  gerais  estabelecidos  
para  os  incidentes  da  instância;  
o   Ação  executiva:    nem  o  requerente,  nem  o  exequente  nem  outro  credor  pode  ser  pago,  na  pendência  
do  incidente,  sem  prestar  caução;  
o   Processo   pendente   de   recurso:   são   suspensos   os   termos   deste   e,   admitida   a   arguição,   o   processo  
baixa  à  1ª  instância  para  instrução  e  julgamento;  
 
Existem  incidentes  exclusivos  na  ação  executiva.  Nomeadamente:  
•   Dispensa  de  citação  prévia  (artigo  727º):   O  exequente  pode  requerer  que  a  penhora  seja  efetuada  sem  a  
citação   prévia   do   executado,   desde   que   alegue   factos   que   justifiquem   o   receio   de   perda   da   garantia  
patrimonial  do  seu  crédito  e  ofereça  de  imediato  os  meios  de  prova.  
 
•   Oposição  à  execução  (artigos  728º  e  ss.):  o  executado  pode  opor-­‐se  à  execução  por  embargos  no  prazo  de  20  
dias   a   contar   da   citação.   Temos   os   fundamentos   de   oposição   descritos   nos   artigos   729º,   730º   e   731º,  
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consoante   estes   se   oponham   À   execução   baseada   em   sentença,   em   decisão   arbitral   ou   noutro   título,  
respetivamente.  
 
•   Comunicabilidade  da  dívida  (artigo  741º)  
 
•   Oposição  à  penhora  (artigos  784º  e  ss.):  sendo  penhorados  bens  pertencentes  ao  executado  este  pode  opor-­‐
se  mediante  algum  dos  fundamentos  previstos  no  artigo  784º/1.  Quando  a  oposição  se  funde  na  existência  
de  patrimónios  separados,  deve  o  executado  indicar  logo  os  bens,  integrados  nos  eu  património  autónomo  
que  responde  pela  dívida  exequenda,  que  tenha  em  seu  poder  e  estejam  sujeitos  à  penhora.  
 
7.1.  A  intervenção  de  terceiros  
 
A  intervenção  de  terceiros  é  a  forma  de  incidente  mais  comum,  em  especial  na  ação  declarativa,  que  se  encontra  
nos  artigos  311º  e  ss.  Esta  expressão  designa  genericamente  os  incidentes  processuais  destinados  a  fazer  intervir  no  
processo   terceiros   alheios   à   relação   processual,   mas   que   têm   nela   um   interesse   direto   ou   indireto,   paralelo   ao  
interesse  do  autor  ou  do  réu.  
Temos,  então,  dois  tipos  de  intervenção.  
 
Intervenção  principal  (Artigos  311º  -­‐  320º)  -­‐  este  incidente  da  instância  caracteriza-­‐se  pela  intervenção  de  um  terceiro  
para  aí  fazer  valer  um  direito  próprio,  paralelo  ao  do  autor  ou  do  réu.    
•   Intervenção  espontânea:  quando  o  terceiro  dirige  um  requerimento  ao  tribunal  no  sentido  de  participar  no  
litigio.  “Estando  pendente  causa  entre  duas  ou  mais  pessoas,  pode  nela  intervir  como  parte  principal  aquele  
que,  em  relação  ao  seu  objeto,  tiver  um  interesse  igual  ao  do  autor  ou  do  réu,  nos  termos  dos  artigos  32º,  33º  
e  34º.”  A  parte  pode  aqui  intervir  por  mera  adesão  (adesão  aos  articulados  da  parte  com  quem  se  associa)  ou  
mediante  articulado  próprio  (só  admissível  até  ao  termo  da  fase  de  articulados)  
•   Intervenção  provocada:  quando  o  terceiro  é  chamado  por  uma  das  partes.  O  chamamento  pode  tanto  ser  
realizado  pelo  autor,  como  pelo  réu,  este  último  apenas  nos  casos  específicos  do  artigo  316º/3.  
 
Intervenção  acessória  (Artigos  321º  -­‐  332º):  “O  reu  que  tenha  ação  de  regresso  contra  terceiro  para  ser  indemnizado  
do  prejuízo  que  lhe  cause  a  perda  da  demanda,  pode  chamá-­‐lo  a  intervir  como  auxiliar  na  defesa,  sempre  que  terceiro  
careça  de  legitimidade  para  intervir  como  parte  principal.”  
•   Intervenção  provocada  
•   Intervenção  acessória  do  Ministério  Público:  Sempre  que  nos  termos  da  respetiva  lei  Orgânica,  o  MP  deva  
intervir  acessoriamente  na  causa,  é-­‐lhe  oficiosamente  notificada  a  pendência  da  ação,  logo  que  a  instância  se  
considere  iniciada”  (artigo  325º/1).  
•   Assistência:  “Estando  pendente  uma  causa  entre  duas  ou  mais  pessoas,  pode  intervir  nela  como  assistente,  
para  auxiliar  qualquer  das  partes,  quem  tiver  interesse  jurídico  em  que  a  decisão  do  pleito  seja  favorável  a  
essa  parte.  Para  que  haja  interesse  jurídico,  capaz  de  legitimar  a  intervenção,  basta  que  o  assistente  seja  titular  
de  uma  relação  jurídica  cuja  consciência  prática  ou  económica  dependa  da  pretensão  do  assistido”  (artigo  
326).  
 
7.2.  A  oposição  
 
A  oposição  é  um  incidente  que  consiste  na  intervenção  de  um  terceiro  numa  ação  pendente  entre  duas  ou  mais  
pessoas,  para  aí  fazer  valer  um  direito  próprio,  incompatível  com  aquele  que  invoca  o  autor  na  ação.  Enquanto  na  
intervenção  de  terceiro  há  um  interesse  direto  ou  indireto,  aqui  há  um  interesse  contrário.  
 
 
 
 
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A  oposição  pode  ser:  
•   Espontânea  (artigos  333º  -­‐  337º):  A  oposição  espontânea  consiste  na  intervenção  espontânea  numa  causa  de  
um  terceiro  como  oponente,  por  meio  de  petição,  para  fazer  valer  contra  as  partes  em  direito  próprio,  total  
ou  parcialmente  incompatível  com  a  pretensão  deduzida  pelo  autor  ou  pelo  reconvinte.  
•   Provocada  (artigos  338º  -­‐  341º):  “quando  esteja  disposto  a  satisfazer  a  prestação  que  lhe  é  exigida  mas  tenha  
conhecimento  de  que  um  terceiro  se  arroga  ou  pode  arrogar-­‐se  de  direito  incompatível  com  o  do  autor,  pode  
o   réu,   dentro   do   prazo   para   contestar,   requerer   que   o   terceiro   seja   citado   para   deduzir,   querendo,   a   sua  
pretensão,  desde  que  aquele  demandado  proceda  simultaneamente  à  consignação  em  depósito  da  quantia  
da  coisa  (artigo  338º)”  
•   Mediante  embargos  de  terceiro  (342º  -­‐  350º):  “Se  a  penhora,  ou  qualquer  ato  judicialmente  ordenado  de  
apreensão  ou  entrega  de  bens,  ofender  a  posse  ou  qualquer  direito  incompatível  com  a  realização  ou  o  âmbito  
da  diligência,  de  que  seja  titular  quem  não  é  parte  na  causa,  pode  o  lesado  fazê-­‐lo  valer,  deduzindo  embargos  
de  terceiro”  (artigo  342º).  
 
8.  Procedimentos  cautelares  
 
As  providências  cautelares  são  as  medidas  que  podem  ser  tomadas  na  sequência  de  um  procedimento  cautelar.  
O   procedimento   cautelar   é   o   processo   judicial  instaurado   como   preliminar   a   uma  ação,   ou  na  pendência  desta  
como  seu  incidente,  destinado  a  prevenir  ou  a  afastar  o  perigo  resultante  da  demora  a  que  está  sujeito  o  processo  
principal.  Através  de  uma  indagação  rápida  e  sumária,  o  juiz  assegura-­‐se  da  plausibilidade  da  existência  do  direito  do  
requerente  e  emite  uma  decisão  de  caráter  provisório,  destinada  a  produzir  efeitos  até  ao  momento  em  que  se  forma  
a  decisão  definitiva.  
As  providências  não  decidem  em  definitivo  um  determinado  litígio,  apenas  salvaguardam  as  situações  jurídicas  que  
as  partes  tenham,  nomeadamente  os  seus  direitos,  impedindo  que  durante  a  pendência  da  ação,  a  situação  de  facto  
se  altere.  
 
Artigo  2º/2:  “A  todo  o  direito,  exceto  quando  a  lei  determine  o  contrário,  corresponde  a  ação  adequada   a  fazê-­‐lo  
reconhecer  em  juízo,  a  prevenir  ou  reparar  a  violação  dele  e  a  realizá-­‐lo  coercivamente,  bem  como  os  procedimentos  
necessários  para  acautelar  o  efeito  útil  da  ação”.  
 
  Providência  cautelar  
 
Função  do  procedimento:  
•   Função  instrumental:  a  providência  cautelar  é  instrumental  relativamente  à  decisão  do  conflito  principal;  
•   Não  visa  a  composição  definitiva  do  litígio;  
 
O  procedimento  cautelar  existe  sempre  na  dependência  de  uma  ação  e  corre  por  apenso  a  ela.  Existem  três  formas  
de  as  providências  ficarem  sem  efeito:    
•   Se  a  ação  não  for  proposta  nos  trinta  dias  subsequentes  à  data  em  que  o  requerente  foi  notificado  da  decisão  
que  ordenou  as  providências  requeridas;  
•   Se  a  ação  principal  estiver  parada  mais  de  30  dias  por  negligência  do  requerente;    
•   Se  a  ação  for  julgada  improcedente;  
 
Pressupostos  da  providência  cautelar:  
•   Periculum  in  mora:  a  urgência,  o  perigo  do  atraso  na  decisão  definitiva  (artigo  362º/1);  
•   Fumu  boni  iuris:  basta  verificar  uma  probabilidade  séria  da  existência  do  direito  do  requerente  para  decretara  
providência  cautelar  (artigo  368º/1);  
 
 
 
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As  medidas  provisórias  podem  ser  antecipatórias  ou  conservatórias:  
•   Conservatórias:  destinam-­‐se  a  conservar  a  situação  jurídica  ou  direito  que  é  objeto  da  ação  até  à  decisão.  
Visam  acautelar  o  efeito  útil  da  ação  principal,  assegurando  a  permanência  da  situação  existente  quando  se  
despoletou   o   litígio   ou   aquando   da   verificação   de   periculum   in   mora.   Visam   manter   um   direito   intocado,  
manter  o  status  quo.  
•   Antecipatórias:  destinam-­‐se  a  concederão  requerente  os  efeitos  práticos  que  resultariam  da  procedência  da  
ação.  Visam  a  antecipação  da  realização  do  direito  que,  previsivelmente,  será  reconhecido  na  ação  principal.  
Visam  antecipar  a  situação  que  previsivelmente  decorará  da  decisão  da  ação  principal,  alterando  o  status  quo.  
 
8.1.  Espécies  de  procedimentos  cautelares  
 
Existem  essencialmente  dois  tipos  de  providências  cautelares:  os  procedimentos  cautelares  especificados  (artigos  
377º  e  ss.),  especificados  do  CRC;  e  os  procedimentos  cautelares  comuns  (artigos  362º  e  ss).  
 
As  providências  especificadas  são:  
•   Restituição  provisória  da  posse  (377º  e  ss.  e  1279º);  
•   Alimentos  provisórios  (384º  e  ss.,  2004º,  2007º,  CC);  
•   Arresto  (391  e  ss.  CPC  e  601º,  619º  CC);  
•   Arbitramento  de  reparação  provisória  (388º  e  ss.);    
•   Embargo  de  obra  nova  (397º  e  ss.);    
•   Suspensão  de  deliberações  sociais  (380º  e  ss.);  
•   Arrolamento,  que  pode  ser  comum  (403º  e  ss.)  ou  especial  (409º).  
 
è   São  conservatórias:  a  suspensão  das  deliberações  sociais,  o  arresto,  o  embargo  de  obra  nova  e  o  arrolamento.    
è   São   antecipatórias:   a   restituição   provisória   da   posse,   os   alimentos   provisórios   e   o   arbitramento   de   reparação  
provisória.    
è   As  providências  cautelares  não  especificadas,  reguladas  nos  artigos  362º  e  seguintes  do  CPC  podem  ser  também  
antecipatórias  ou  conservatórias,  dependendo  da  sua  finalidade.  
 
A  restituição  provisória  da  posse  permite  ao  possuidor  ser  restituído  provisoriamente  à  sua  posse  nas  situações  
em  que  se  verifique  um  esbulho  violento.  Para  o  efeito,  o  possuidor  tem  de  alegar  a  posse,  o  esbulho  e  a  violência.  No  
caso  de  não  se  apurar  que  o  desapossamento  foi  obtido  por  meio  de  esbulho  com  violência,  poderá  ser  decretada  a  
providência   cautelar   comum   que   permita   ao   requerente   obter   a   restituição   provisória   da   coisa   esbulhada.   A  
providência  cautelar  pode  ser  exercida  não  só  pelo  possuidor  em  nome  próprio,  mas  por  alguns  possuidores  em  nome  
alheio  como  o  parceiro  pensador,  o  locatário,  o  comodatário  e  o  depositário.  Os  pressupostos  para  o  ordenamento  da  
restituição   (378º)   são   a   alegação   e   prova   da   qualidade   de   possuidor   do   requerente;   e   a   alegação   e   prova   do  
comportamento  de  esbulho  com  violência  por  parte  do  requerido.  
 
A   prestação   de   alimentos   provisórios   é   estabelecida   em   função   do   estritamente   necessário   para   o   sustento,  
habitação  e  vestuário  do  requerente,  com  o  prudente  arbítrio  do  julgador.  Porém,  não  é  impeditivo  que  este  acordo  
possa   ser   fixado   pelas   partes.   Para   que   esta   providência   seja   aceite   pelo   tribunal   são   precisos   dois   requisitos:   a  
possibilidade  de  o  requerente  ser  titular  de  um  direito  a  alimentos;  e  o  requerente  carecer,  a  título  provisório  de  
alimentos  por  não  ter  condições  em  aguardar  pelos  alimentos  definitivos.  Os  alimentos  serão  prestados  na  medida  da  
necessidade  do  requerente  e  da  medida  de  prestar  do  prestador.  
 
O   arresto   consiste   numa   apreensão   judicial   de   bens,   requerida   por   um   credor,   cujo   valor   seja   suficiente   para  
assegurar  a  satisfação  do  crédito  em  dívida  pelo  requerido.  Visa,  portanto,  conservar  as  garantias  patrimoniais  dos  
credores.  O  arresto  torna  ineficazes  os  atos  de  disposição  dos  bens  sobre  que  incide,  e  confere  ao  credor  prioridade  
no  pagamento  da  obrigação,  em  relação  a  outros  possíveis  credores,  através  da  venda  dos  bens  arrestados.  Para  que  
possa  haver  arresto  têm  de  verificar-­‐se  dois  requisitos:  a  probabilidade  de  existência  de  um  crédito;  e  o  justo  receio  
de  perda  da  garantia  patrimonial  do  crédito.  O  arresto  é  decretado  sem  audiência  do  devedor,  só  sendo  este  ouvido  
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depois   da   notificação   da   concretização   do   arresto.   Decretado   o   arresto,   os   bens   arrestados   são   entregues   a   um  
depositário  que  os  guarda  e  administra  em  nome  do  Estado.  Assim,  o  devedor  perde  os  poderes  de  disposição  sobre  
os  bens,  de  forma  a  que  não  coloque  em  causa  a  garantia  patrimonial  do  seu  credor.    
 
8.1.1.  Regime  do  procedimento  cautelar  comum  
 
O   procedimento   cautelar   comum   é   “a   forma   processual   indicada   para   requerer   o   deferimento   da   providência  
cautelar  mais  adequada  à  situação  concreta,  sempre  que  a  lei  não  tenha  previsto  um  procedimento  especificado  para  
a   mesma”,   o   que   quer   dizer   que   este   regime   apenas   será   aplicado   quando   não   se   verifique   a   existência   de   um  
procedimento  nominado  específico  para  o  efeito  pretendido  (artigo  362º/3,  CPC).  
 
O  procedimento  cautelar  comum  possui  uma  estrutura  simplificada  que  combinada  com  a  sua  natureza  urgente  
(artigo  363º/1  e  2)  propicia  um  processo  célere,  de  moco  a  acautelar  o  direito  em  questão.  
 
Em   regra,   o   tribunal   ouve   o   requerido   antes   e   decretar   a   providência,   pelo   que   este   será   citado   para   deduzir  
oposição  à  pretensão  do  requerente.  O  juiz  poderá,  no  entanto,  dispensar  o  contraditório  prévio  (artigo  366º),  com  o  
fundamento  de  um  risco  sério  para  o  fim  ou  eficácia  desta  providência.  Nesses  casos,  o  requerido  apenas  poderá  opor-­‐
se   à   mesma   após   o   trânsito   em   julgado   da   decisão,   através   da   oposição   à   decisão   ou   recurso   do   despacho   que   a  
decretou  (artigo  372º).  
 
è   O  regime  previsto  para  este  procedimento  é  aplicado  subsidiariamente  aos  procedimentos  nominados  (artigo  
376º/1).  
 
8.2.  A  inversão  do  contencioso  
 
A  figura  da  inversão  do  contencioso  foi  introduzida  pela  lei  41/2013  no  artigo  369º,  CPC.  
Através  da  figura  da  inversão  do  Contencioso,  a  providência  cautelar  transforma-­‐se  na  verdadeira  decisão  definitiva  
do  litígio,  excecionando-­‐se  assim,  as  regras  da  instrumentalidade  e  a  provisoriedade.  Para  isso,  é  preciso  demonstrar  
que  a  ação  principal  seria  desnecessária,  cabendo  sempre  ao  juiz  prever  qual  o  resultado  que  seria  obtido  na  ação  
principal  para  verificar  se  a  medida  se  pode  consolidar  numa  resolução  definitiva  do  litígio.  
 
A  decisão  de  decretar  a  inversão  do  contencioso  depende  de  requerimento  da  parte  interessada  e  tem  de  ser  feito  
até  ao  encerramento  da  audiência  final  (artigo  369º/1  e  2)  mediante  os  seguintes  pressupostos:  
a)   Os  factos  auferidos  durante  o  procedimento  permitem  ao  juiz  formar  a  convicção  segura  acerca  de  existência  
do  direito  em  questão;  
b)   A  natureza  da  providência  e  adequada  à  realização  da  composição  definitiva  do  litigio,  isto  é,  a  providência  é  
antecipatória  e  não  conservatória;  
Nesta  situação,  o  requerente  fica  dispensado  do  ónus  de  propositura  da  ação  principal.  
 
O  requerido  é  notificado  para  impugnar  a  existência   do  direito  acautelado   no  prazo  de   30   dias  subsequentes  à  
notificação,  sob  pena  de  a  providência  se  consolidar  como  composição  definitiva  do  litígio  (artigo  371º/1).  
O  mesmo  acontece   quando  a  ação  é  proposta  e  o   processo  fica  parado  por  mais  d  e30  dias  por  negligência  do  
requerente,  ou  quando  o  réu  é  absolvido  da  instância  (371º/2).  
Se  o  requerido  propuser  a  ação  e  esta  for  procedente,  a  providência  cautelar  caduca  depois  de  a  decisão  transitar  
me  julgado  (artigo  371º/3).  
 
O  requerido  pode:  
•   Opor-­‐se  à  inversão  do  contencioso  conjuntamente  com  a  impugnação  da  providência  decretada,  se  se  tratar  
de  um  procedimento  sem  contraditório  prévio  (artigo  369º);  
•    Impugnar  a  decisão  que  tenha  invertido  o  contencioso  através  de  duas  formas  (artigo  372º/2):  

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o   Recorrer,  nos  termos  gerais  do  despacho  que  a  decretou,  quando  entenda  que,  face  aos  elementos  
apurados,  ela  não  devia  ter  sido  deferida;  
o   Deduzir  oposição,  quando  pretenda  alegar  factos  ou  produzir  meios  de  prova  não  tidos  em  conta  pelo  
tribunal   e   que   possam   afastar   os   fundamentos   da   providência   ou   determinem   a   sua   redução,  
aplicando-­‐se  com  as  adaptações  necessárias  os  artigos  367º  e  368º.  

9.  Tramitação  do  processo  


 
A  tramitação  processual  de  que  vamos  falar  aplica-­‐se  a  todos  os  tipos  de  processo  declarativo.    
A   tramitação   tem,   em   qualquer   processo   declarativo,   traços   comuns.   As   variações   que   existem   a   estes   traços  
comuns  vão  no  sentido  de  simplificar  ou  adequar  as  regras  ao  tipo  de  litígio.    
 
O  processo  tem  quatro  fases:    
1.   Alegar  –  petição  inicial  em  que  se  alegam  determinados  factos  e  que  se  pretende  aplicar  uma  determinada  
consequência  a  esses  factos.  Há  também  a  contestação  (alegação  feita  pela  parte  contrária).  Em  princípio,  a  
prova  documental  é  logo  introduzida  nesta  fase.    
2.   Organizar  –  momento  em  que  se  seleciona  os  factos  (ver  sobre  que  factos  as  partes  estão  ou  não  de  acordo).  
É   também   o   momento   em   que   se   procede   à   calendarização   do   processo,   sobre   que   testemunhas   se   vão  
chamar  ao  processo,  etc.  Ainda  nesta  fase,  o  juiz  dá  como  provados  determinados  factos  e  decide  quais  são  
os  factos  controvertidos  e  sobre  os  quais  é  preciso  produzir  prova.  
3.   Provar   –   esta  fase   está  essencialmente  pensada  para   a   prova  testemunhal   e  pericial.   Nesta  fase  da  prova  
também  ocorrem  as  alegações  finais  (incluindo  alegações  de  facto  e  alegações  de  direito).    
4.   Decidir.  
 
No  modelo  de  Common  law,  a  fase  decisiva  do  processo  é  a  fase  da  prova.  No  modelo  português,  a  fase  mais  
relevante  é  a  fase  de  alegação,  isto  porque  existe  o  princípio  da  preclusão,  que  determina  que  todos  os  factos  que  não  
forem  incluídos  na  fase  inicial  do  processo  não  podem  ser  invocados  numa  fase  mais  avançada  do  processo.  No  direito  
de  Common  law  não  é  necessário  alegar  os  factos  todos  numa  fase  inicial.    
 
Principais  traços  do  modelo  português:  
•   Excessiva  rigidez;  
•   Ónus  da  preclusão  da  alegação  dos  factos;  
•   Desconfiança  entre  (e  em  relação  aos)  operadores  judiciários,  em  particular  os  juízes.  
 
Fase  dos  articulados  
Na  fase  dos  articulados,  temos  a  petição  inicial,  em  que  que  ocorre  a  apresentação  do  litígio  ao  tribunal.  Seguem-­‐
se  as  alegações  e,  por  fim,  a  citação  (que  possibilita  que  a  contraparte  saiba  que  foi  proposta  uma  ação  contra  si)  –  
artigos  552º  e  seguintes  do  CPC.  
Alegações   no   CPC   atual   temos   duas:   petição   inicial   (artigos   552º   e   seguintes)   e   contestação   (artigos   569º   e  
seguintes),   nomeadamente   quando   haja   reconvenção   (artigos   583º   e   seguintes).   Após   a   contestação   temos   a  
reconvenção  e  após  a  reconvenção  temos  a  réplica.  
 
Fase  da  organização  do  processo  
Na  fase  da  organização  do  processo  (artigos  590º  e  seguintes),  há  logo  uma  decisão  imediata  do  que  for  possível.  
Em  segundo  lugar,  há  uma  delimitação  do  âmbito  do  processo  e  ainda  a  preparação  da  produção  de  prova.  Depois  o  
juiz   pode   proferir   um   despacho   pré-­‐saneador   (art.   595º)   ou   convocar   uma   audiência   prévia   como   tentativa   de  
conciliação  (artigos  591º  e  594º).  
De  acordo  com  a  alínea  c)  do  nº2  do  artigo  590º,  o  juiz  pode  decidir  logo  no  despacho  pré-­‐saneador  se  tiver  todos  
os  elementos  necessários  à  decisão  

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O  juiz  não  profere  o  despacho  saneador  sem  convocar  as  partes,  sem  audiência  previa.  Na  perspetiva  do  professor  
Jorge  Morais  Carvalho  pode  não  haver  audiência  prévia,  mas  se  não  a  fizer  o  juiz  tem  de  informar  as  partes,  dando  
oportunidade  a  estas  de  se  pronunciarem  sobre  isso.  As  partes  podem  alegar  facto  de  direito.  
Proferido  despacho  saneador,  o  juiz  profere  despacho  a  enunciar  os  temas  da  prova  (art.  596º,  nº1).  Os  temas  da  
prova  correspondem  aos  factos  controvertidos  (os  factos  em  relação  aos  quais  as  partes  não  estão  de  acordo)  e  o  juiz  
elenca  quais  os  temas  em  relação  aos  quais  é  necessário  fazer  prova.  
 
Fase  da  instrução  e  discussão  
Na   fase   da   instrução   e   discussão   temos   a   produção   de   prova   (audiência   final   ou   antes   da   audiência   final)   e   a  
discussão  da  matéria  de  facto  e  de  direito  (agora  em  simultâneo,  na  audiência  final).    
 
Sentença  
A  sentença  portuguesa  (art.  607º  CPC)  tem  normalmente  a  seguinte  estrutura:  um  relatório  (história  do  processo),  
a  fundamentação  (de  facto  e  de  direito)  e  por  fim  a  decisão.  Num  recurso,  a  estrutura  é  próxima  desta,  mas  não  nos  
podemos  esquecer  que  o  objeto  é  a  decisão  da  instância  anterior  e,  por  isso,  pode  não  conter  tudo  o  que  aconteceu  
na  primeira  instância.    
O  poder  jurisdicional  dos  juízes  extingue-­‐se  (art.  613º  CPC)  a  partir  do  momento  em  que  é  proferida  a  sentença.  A  
partir  deste  momento  o  juiz  já  não  pode  decidir  neste  sentido.  No  entanto,  no  artigo  613º,  nº2,  CPC,  temos  as  exceções  
à  extinção  dos  poderes  jurisdicionais  do  juiz:  essas  exceções  verificam-­‐se  quando  é  necessário  retificar  erros  materiais  
da  sentença  ou  quando  é  necessário  suprimir  nulidades  ou  reformar  a  sentença.  
 
Retificação  de  erros  materiais  na  sentença  
Os  erros  materiais  estão  previstos  no  art.  614º.  São  eles:    
•   Omissão  do  nome  das  partes  -­‐  quando  o  juiz  se  esquece  de  identificar  o  autor  ou  o  réu  ou  ambos,  violando  
assim  o  disposto  no  artigo  607º,  nº2;  
•   Omissão  quanto  a  custas  –  quando  o  juiz  não  de  pronuncia  sobre  a  responsabilidade  dos  litigantes  pelas  custas,  
violando  assim  o  disposto  no  art.  527º.    
•   Omissão  de  algum  dos  elementos  previstos  no  artigo  607º,  nº6;  
•   Erros  de  escrita  ou  de  cálculo  –  identificam-­‐se  com  os  referidos  no  art.  249º  CC  a  respeito  do  negocio  jurídico.    
•    Inexatidões  devidas  a  outra  omissão  ou  manifesto  lapso.    
 
Os  erros  materiais  ou  inexatidões  contidos  na  sentença  são  os  que  se  reportam  à  expressão  material  de  vontade  
do  juiz  desde  que  o  erro  seja  evidenciado  pelo  contexto  da  decisão  (nº1  do  art.  614º  ;  e  artigos  607º/6;  idêntica  solução  
para  o  acórdão  do  tribunal  da  Relação  -­‐  artigo  666º,  nº1  e  2;  e,  para  o  acórdão  do  Supremo  Tribunal  de  Justiça  -­‐  artigo  
685º).  
Se   a   sentença   enfermar   de   algum   erro   material   ou   inexatidão,   poderão   as   partes   interessadas   requerer   a  
retificação  (art.  614º,  nº1,  parte  final).  A  sentença  será  corrigida,  a  requerimento  das  partes  ou  oficiosamente,  por  
iniciativa   do   juiz,   por   simples   despacho.   Havendo   recurso,   a   retificação   pode   ser   requerida   pelas   partes   ou  
oficiosamente  decidida,  até  ao  momento  da  subida  do  recurso  para  o  tribunal  superior  (614º,  nº2).  
Se  a  retificação  apenas  for  suscitada  perante  o  tribunal  superior,  será  decidida  por  este  (614º,  nºs  1  e  2).  
Não  havendo  recurso,  a  retificação  pode  ter  lugar  a  todo  o  tempo  (614º,  nº3).  
 
O  erro  material  não  se  confunde  com  um  erro  de  julgamento:  
 
   
«O  erro  material  dá-­‐se  quando  o  juiz  escreveu  coisa  diversa  do  que  queria  escrever,  quando  o  teor  da  sentença  ou  
despacho  não  coincide  com  o  que  o  juiz  tinha  em  mente  exarar,  quando,  em  suma,  a  vontade  declarada  diverge  da  
vontade   real.   O   juiz   queria   escrever   “absolvo”   e   por   lapso,   inconsideração,   distração,   escreveu   precisamente   o  
contrario:  condeno.  O  erro  de  julgamento  é  uma  espécie  completamente  diferente.  O  juiz  disse  o  que  queria  dizer,  mas  
decidiu  mal,  decidiu  contra  lei  expressa  ou  contra  os  factos  apurados.  Está  errado  o  julgamento.  Ainda  que  o  juiz,  logo  
a  seguir,  se  convença  de  que  errou,  não  pode  socorrer-­‐se  do  art.  614º  para  emendar  o  erro».  (ALBERTO  DOS  REIS)  
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Suprimento  da  nulidade  da  sentença  
Os  vícios  que  poderão  afetar  a  validade  da  sentença  e  determinar  a  sua  nulidade  encontram-­‐se  no  art.  615º  CPC.  
No  artigo  617º  encontramos  a  descrição  do  processamento  subsequente  à  nulidade  ou  à  reforma  da  sentença.  
 
Efeitos  da  sentença  
O  principal  efeito  da  sentença  é  o  caso  julgado  (arts.  619º  e  seguintes  CPC).  A  ação  transita  em  julgado  quando  se  
torna  definitiva  e  isso  ocorre  quando  a  decisão  se  torna  insuscetível  de  recurso  ordinário  (art.  628º).  
 
10.  Sistemas  de  recurso  
 
O   recurso   é  o  principal  meio   de  impugnação  de  uma  decisão  jurisdicional,  que  fará  com  que  essa  decisão  seja  
reapreciada  por  um  tribunal  de  categoria  hierarquicamente  superior.    

No  nosso  sistema  de  recurso,  há  normalmente  um  duplo  grau  de  jurisdição,  sendo  que  em  matéria  penal  este  duplo  
grau  de  jurisdição  corresponde  a  uma  garantia  (art.  32º,  CRP).  

10.1.  Recursos  no  processo  civil  


 
Os  recursos  no  processo  civil  podem  ser  ordinários  ou  extraordinários  (art.  627º).  Os  recursos  ordinários  são  a  
apelação  e  a  revista.  Os  recursos  extraordinários  são  o  recurso  para  uniformização  de  jurisprudência  e  revisão.  
 
10.1.1.  Admissibilidade  do  recurso  ordinário  
 
A  admissibilidade  do  recurso  ordinário  está  dependente  da  verificação  de  dois  requisitos  cumulativos  (art.  629º):  a  
causa  tem  de  ter  valor1  superior  à  alçada  do  tribunal  de  que  se  recorre  e  a  decisão  impugnada  tem  de  ser  desfavorável  
ao  recorrente  em  valor  superior  a  metade  da  alçada  do  tribunal  de  que  se  recorre.  Porém,  em  alguns  casos  é  sempre  
admitido  recurso  ordinário  (art.  629º,  nºs  2  e  3).  

De  acordo  com  o  art.  44º,  nº1  da  Lei  da  Organização  do  Sistema  Judiciário  os  valores  de  alçada  em  vigor  são  os  
seguintes:  5000€  para  os  tribunais  de  primeira  instância  e  30.000€  para  os  tribunais  da  Relação.    

Hipóteses  práticas:  

1-­‐   O  valor  da  ação  (por  exemplo,  pedido  de  indemnização)  é  4.500€.  O  tribunal  de  primeira  instância  condena  o  
réu  ao  pagamento  de  uma  indemnização  no  valor  de  200€.  O  autor  pode  recorrer  para  um  tribunal  da  Relação?  
Qual  é  o  valor  da  sucumbência  do  autor?  E  a  sucumbência  do  réu?  

R:  Não  é  recorrível,  nos  termos  do  artigo  629º/1.    

O   valor   da   sucumbência   é   4500€.   O   valor   da   sucumbência   permitir-­‐lhe   ia   recorrer.   No   entanto,   os   requisitos   são  
cumulativos,  e  uma  vez  que  o  valor  da  ação  não  permitia,  não  seria  possível  recorrer.    

O  valor  da  sucumbência  do  réu  é  200€.  Portanto,  o  réu  tampouco  poderia  recorrer  por  tanto  o  valor  da  ação,  como  o  
valor  da  sucumbência,  não  o  permitirem.    

2-­‐   O   valor   da   ação   é   de   12.500€.   E   o   tribunal   de   primeira   instância   condena   o   réu   ao   pagamento   de   uma  
indemnização  no  valor  de  8.000€.  O  autor  pode  recorrer  para  um  tribunal  da  Relação?  

R:  O  valor  da  ação  é  superior  ao  valor  da  alçada  do  tribunal  de  primeira  instância.  O  valor  da  sucumbência  do  autor  é  
4.500€.  Estes  valores  são  superiores  aos  valores  necessários,  portanto,  o  autor  pode  recorrer  ao  tribunal  da  relação.  

O  réu  também  poderia  recorrer  dado  que  o  valor  da  ação  é  o  mesmo  e  o  valor  da  sucumbência  do  réu  é  8.000€.  

                                                                                                                         
1
 O  valor  da  ação  é  normalmente  o  valor  indicado  pelo  autor  quando  inicia  o  processo.  
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3-­‐   O  valor  da  ação  é  40.000€  e  o  tribunal  da  Relação  condena  o  réu  ao  pagamento  de  uma  indemnização  no  valor  
de  30.000€.  o  autor  pode  recorrer  para  o  Supremo  Tribunal  de  Justiça?    

R:  Não,  porque  o  valor  da  ação  está  preenchido  (valor  da  alçada  é  30.000€  no  Tribunal  de  Relação),  no  entanto,  o  valor  
de  sucumbência  de  10.000€  é  inferior  ao  valor  da  alçada  do  tribunal  a  que  se  recorre,  portanto,  não  poderia  recorrer.  

No  entanto,  o  réu  poderia  recorrer  para  o  Supremo  Tribunal  de  Justiça.    

10.1.2.  Renúncia  ao  recurso  


 
A  renúncia  ao  recurso  pode  ser  feita  nos  termos  do  artigo  632º.  
 
Em  primeiro  lugar,  é  preciso  ver  se  a  renúncia  é  lícita.    
A  renúncia  antecipada  (anterior  à  decisão)  só  é  válida  de  provier  de  ambas  as  partes  (632º,  nº1).    
A  aceitação  da  decisão  implica  a  perda  do  direito  de  recorrer  (632º,  nº2).  A  aceitação  da  decisão,  do  ponto  de  vista  
jurídico,  é  uma  declaração  negocial.  Pode  ser  expressa  ou  tácita  (632º,  nº3).  Por  exemplo,  o  pagamento  sem  reservas  
implica  uma  aceitação  tácita  da  decisão  e  a  renuncia  ao  direito  de  recorrer.  Deduz-­‐se  do  pagamento  a  intenção  de  não  
recorrer,  daí  que  se  deva  considerar  que  é  tácita  a  aceitação  da  decisão.  
 
10.1.3.  Recurso  independente  e  subordinado    
 
Ficando  ambas  as  partes  vencidas,  verificados  os  requisitos  da  admissibilidade  do  recurso,  podem  recorrer  as  duas  
(art.  633º,  nº1).  
 
A  parte  que  pretende  recorrer  pode  fazê-­‐lo  através  de  um  recurso  independente,  ou  seja,  independente  do  recurso  
da  outra  parte.  Ou  pode  interpor  um  recurso  subordinado,  que  é  um  recurso  subordinado  ao  outro  recurso.  
A  principal  consequência  do  recurso  subordinado  é  que  se  esse  recurso  caduca  se   o  primeiro  recurso  ficar  sem  
efeito,  por  alguma  razão.    
 
O  nº5  do  artigo  633º  está  relacionado  com  os  requisitos  para  poder  recorrer.    
Se  o  réu  recorrer,  o  autor  pode  interpor  um  recurso  subordinado  da  decisão,  apesar  de  não  ter  sucumbência.  Se  o  
réu  desistir  do  recurso,  o  recurso  do  autor  caduca.  Portanto,  a  sucumbência  não  impede  a  propositura  de  um  recurso  
subordinado,  desde  que  estejam  verificados  os  pressupostos  para  recorrer  ao  recurso  independente.    
Se  uma  parte  pode  recorrer  é  porque  o  valora  da  ação  o  permite.  Portanto,  nunca  é  possível  que  uma  das  partes  
recorra   porque   cumpre   o   requisito   do   valor   da   ação   e   a   outra   não   possa   recorrer   porque   não   tem   preenchido   o  
requisito  do  valor  da  ação,  vez  que  o  valor  da  ação  é  igual  para  as  duas  partes.  O  valor  da  sucumbência  é  que  pode  
não  ser  o  mesmo.  
 
10.1.4.  Modo  de  interposição  do  recurso  
 
O   requerimento   é   dirigido   ao   tribunal   que   proferiu   a   decisão   recorrida   (637º,   nº1).   O   recurso   contém  
obrigatoriamente  a  alegação  (639º  e  640º).  No  momento  em  que  se  dirige  ao  tribunal  é  necessário  incluir  logo  as  
alegações.    
O  prazo  geral  é  de  30  dias  a  contar  a  partir  da  notificação  da  decisão.  Mas  pode  ser  reduzido  para  15  dias  em  caso  
de  processo  urgente  (artigo  638º,  nº1).  
 
10.1.5.  Despacho  do  juiz    
 
Segue-­‐se  despacho  do  juiz  sobre  o  requerimento  (641º).  O  juiz  aprecia  o  requerimento  com  vista  ao  recurso.  
Se  não  for  admitido  o  recurso,  pode  o  recorrente  reclamar  para  o  tribunal  que  seria  competente  para  conhecer  do  
recurso  num  prazo  de  10  dias  (art.  643º,  nº1).    

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Ainda   assim,   o   juiz   que   recebeu   o   requerimento   de   recurso   pode   evitar   o   recurso,   sanando   as   nulidades   ou  
reformando  a  sentença.  Ou  seja,  pode  até  não  se  justificar  o  recurso  porque  o   juiz  pode  sanar  os  problemas  que  
encontre  na  sentença.  
 
10.1.6.  Modo  de  subida  
 
Existem  duas  vias  pelas  quais  o  recurso  pode  subir  para  o  tribunal  hierarquicamente  superior:  
•   Subida  nos  próprios  autos  (artigos  645º/1  e  675º/1):  isto  significa  subir  no  próprio  processo.  Ou  seja,  todo  o  
processo  é  remetido  para  o  tribunal  superior  e  o  objeto  do  recurso  vai  integrar  aquela  ação.  
•   Subida  em   separado  (artigos  645º/2  e  675º/2):  de   certa  forma,  o  recurso  torna-­‐se  independente  da  ação  
principal,  tendo  autonomia  suficiente  para  subir  separado.  
 
Podemos  ter  a  subir  em  separado  tudo  o  que  não  esteja  incluído  no  artigo  645º/1.      
Por  exemplo,  uma  decisão  que  ordene  uma  providência  cautelar,  não  está  prevista  no  nº1  do  art.  645º.  Assim,  irá  
subir  em  separado.  Subir  em  separado  significa  que  o  réu,  aquele  contra  quem  foi  decretada  uma  providência  cautelar,  
pode,  de  imediato,  recorrer  daquela  decisão  na  qual  foi  cautelado.    
 
10.1.7.  Recursos  ordinários:  o  recurso  de  apelação  
 
É  um  recurso  para  um  tribunal  da  Relação  e  está  regulado  nos  artigos  644º  a  670º.  
 
O  artigo  647º  oferece  duas  hipóteses:  
•   Efeito  suspensivo  (art.  647º,  nº2):  suspende  os  efeitos  da  decisão.  Pode  haver  um  interesse  muito  maior  em  
interpor  o  recurso  porque,  entretanto,  não  tenho  que  cumprir  dado  que  ficam  suspensos  os  efeitos  da  decisão.  
•   Efeito  meramente  devolutivo  (art.  647º,  nº1):  esta  é  a  regra  geral.  A  decisão  produz  os  seus  efeitos.  Só  se  vier  
ser  alterada  depois  pela  Relação  é  que  altera  os  seus  efeitos.  Enquanto  a  Relação  não  decide,  aquela  decisão  
pode   produzir   logo   os   seus   efeitos.   A   regra   é   a   de   que   o   recurso   para   o   tribunal   da   Relação   tem   efeito  
devolutivo,  não  suspende  os  efeitos  da  decisão.  Torna-­‐se  exigível  o  valor  a  que  o  réu  seja  condenado  
 
10.1.8.  Recursos  ordinários:  o  recurso  de  revista  
 
Recurso  para  o  supremo  tribunal  de  justiça  que  incide  apenas  sobre  matéria  de  direito  (artigo  674º).    
Se  o  tribunal  de  1ª  instância  tomar  uma  decisão  e  a  Relação  decidir  no  mesmo  sentido,  em  princípio,  não  há  recurso  
para  o  STJ  porque  os  dois  tribunais  anteriores  decidiram  no  mesmo  sentido  (princípio  da  dupla  conforme  –  art.  671º,  
nº3).  
Tem  de  tratar-­‐se  de  uma  questão  com  uma  relevância  jurídica  tal  que  justifique  a  intervenção  do  Supremo  Tribunal  
de  Justiça.  O  acórdão  da  Relação  tem  de  estar  em  contradição  com  o  outro  acórdão  da  1º  instância.  Porém,  se  houver  
um  acórdão  de  uniformização  de  jurisprudência  congruente  com  a  decisão  da  Relação,  não  há  necessidade  de  recorrer  
ao  Supremo.  
Sobre  o  recurso  de  revista  temos  um  sistema  de  substituição  (por  oposição  ao  sistema  de  cassação).  Isto  significa  
que  o  STJ  substitui  integralmente  a  decisão  da  instância  inferior.    
O  supremo  tribunal  de  justiça  profere  uma  decisão  definitiva  (682º,  nº1).  
 
10.2.  Recursos  extraordinários  
 
10.2.1.  O  recurso  para  uniformização  de  jurisprudência  
 
Existem  diversos  requisitos  para  interpor  um  recurso  para   Uniformização   de  Jurisprudência,   entre   eles   quando  
existe  contradição  entre  o  acórdão  recorrido  e  o  acórdão  fundamento  sobre  a  mesma  questão  de  direito  (que  deverá  
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ser   essencial   para   o   resultado   num   e   noutro   acórdão)   e   ambos   proferidos   pelo   STJ.     Estes   acórdãos   têm  
necessariamente  de  ser  do  Supremo,  não  sendo  possível  o  recurso  extraordinário  de  acórdãos  de  tribunais  da  Relação  
ou  da  decisão  singular  e  liminar  do  relator  (art.  656º  do  CPC).  O  acórdão  fundamento  poderá  tanto  ter  sido  proferido  
por  3  juízes  no  âmbito  da  revista  normal  ou  excecional  como  ainda  um  acórdão  de  uniformização  de  Jurisprudência  
desrespeitado  pelo  STJ.      
Outro  requisito  é  o  trânsito  em  julgado  de  qualquer  dos  acórdãos,  presumindo-­‐se  o  trânsito  em  julgado  do  acórdão  
fundamento  (Artigo  688º,  nº2  CPC).    
Impede   a   admissão   de   recurso   extraordinário   o   facto   de   o   acórdão   recorrido   ter   adotado   Jurisprudência  
anteriormente  uniformizada  pelo  Supremo  ou  o  facto  do  acórdão  recorrido  ser  ele  mesmo  um  acórdão  uniformizador  
(artigo  688º,  nº3  CPC).    
 
Em  principio,  apenas  a  parte  vencida  tem  legitimidade  para  interpor  recurso,  ficando  afastada  a  possibilidade  de  
recurso  a  outros  sujeitos  processuais  concretamente  prejudicados  pela  decisão  (631º,  nº2,  CPC).  Contudo,  o  artigo  
691º  CPC  confere  ao  MP  legitimidade  extraordinária  nos  casos  em  que  este  não  atua  como  representante  das  partes,  
com  o  único  objetivo  de  obter  a  uniformização  da  Jurisprudência  sem  efeitos  no  caso  concreto  (a  intervenção  do  MP  
já  está  contida  no  regime  da  revista  ampliada).  Como  bem  constata  Abrantes  Geraldes,  a  lei  exige,  quanto  aos  demais  
recursos,  uma  situação  de  sucumbência  cujo  valor  seja  superior  a  metade  da  alçada  do  tribunal  de  que  se  recorre,  no  
entanto  logo  se  percebe  que  o  Supremo,  do  qual  provem  o  acórdão,  não  tem  alçada.  Assim,  o  recurso  extraordinário  
para  Uniformização  de  Jurisprudência  é  sempre  possível,  independentemente  do  valor  da  sucumbência  desde  que  
verificados  os  requisitos  supra  referidos.    
 
O   recurso   terá   efeito   meramente   devolutivo  (693ºCPC),  o  que  significa  que  a  interposição  do  recurso  não  tem  
efeito  suspensivo  quanto  à  execução  da  decisão  recorrida.  Assim,  embora  se  encontre  pendente  um  recurso,  a  decisão  
recorrida  pode  ser  sempre  objeto  de  uma  execução.  Embora  neste  caso  o  exequente  ou  qualquer  credor  não  possam  
ser  pagos  sem  prévia  prestação  de  caução  (694º  CPC).    
 
O  prazo  para  interpor  este  recurso  é  de  30  dias  contados  do  trânsito  em  julgado  do  acórdão  recorrido,  sendo  que  
o  recorrido  terá  30  dias  para  responder  à  alegação  do  recorrente,  contados  a  partir  da  notificação  (689º  CPC).  No  
entanto,  não  será  possível  o  requerimento  de  interposição  se  estiver  pendente  alguma  reclamação  relacionada  com  
arguição  de  nulidades  ou  reforma  (684º  e  616º  CPC)  ou  se  estiver  dependente  do  resultado  do  recurso  interposto  em  
matéria  de  constitucionalidade.    
O   requerimento   da   interposição   precisa   de   ser   anexado   no   processo   e   deve   conter   todos   os   elementos   de  
contradição  entre  os  dois  acórdãos,  além  de  ser  preciso  juntar  uma  cópia  do  Acórdão  anteriormente  proferido  pelo  
STJ  (com  o  qual  o  acórdão  recorrido  se  encontra  em  contradição),  como  bem  salienta  o  artigo  690º  CPC.    
 
O   novo   acórdão   substituirá   para   todos   os   efeitos   o   acórdão   recorrido   (podendo   ter   natureza   confirmativa   ou  
substitutiva   do   acórdão   de   uniformização   que   anteriormente   tenha   sido   publicado   e   que   concretamente   foi  
desacatado;  ou  inovatória  se  a  contradição  se  revelava  entre  acórdãos  proferidos  no  âmbito  do  julgamento  normal  do  
recurso  de  revista).    
Confirmado  o  acórdão  recorrido  estabilizar-­‐se-­‐á  definitivamente  tal  decisão  (o  acórdão  Uniformizador  terá  de  ser  
publicado  na  1ª  série  do  “Diário  da  República”  (687º,  nº5)).  No  entanto  jamais  se  poderão  alterar  as  situações  jurídicas  
constituídas  ao  abrigo  do  acórdão  recorrido  nem  se  repercutirá  nas  sentenças/acórdãos  anteriormente  proferidos.  
Porém,  se  estiverem  pendentes  recursos  de  tais  decisões  deve-­‐se  suspender  a  sua  tramitação  à  espera  do  resultado  
do  recurso  extraordinário.    
 
Em  suma,  o  recurso  para  Uniformização  de  Jurisprudência  visa  essencialmente  criar  uma  maior  segurança  jurídica,  
aspeto  fulcral  em  qualquer  Estado  de  Direito  democrático.  Apesar  da  Jurisprudência  em  Portugal  não  proferir  decisões  
vinculativas   para   tribunais   inferiores,   tendo   apenas   valor   no   caso   Sub   Judice,   é   inegável   que   os   acórdãos  
uniformizadores   de   Jurisprudência   têm   um   efeito   altamente   persuasivo,   uma   vez   que,   mesmo   que   os   tribunais  
inferiores  profiram  decisões  opostas  às  dos  Supremo,  ao  ser  permitido  o  recurso,  a  uniformização  da  Jurisprudência  
irá  inevitavelmente  surgir.  Estes  acórdãos  permitem  aos  particulares  defenderem-­‐se  de  decisões  contraditórias  em  
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matéria  de  direito  e  asseguram  uma  maior  previsibilidade  decisória  que,  não  obstante  as  minudências  de  cada  caso  
concreto,  visam  assegurar  a  mesma  aplicação  e  interpretação  da  norma  jurídica.    
 
10.2.2.  Recursos  extraordinários:  o  recurso  de  revisão  
 
Em  situações  excecionais  a  sentença  transitada  pode  ser  objeto  de  revisão  (artigos  696º  e  seguintes).  É  a  estas  
exceções  que  se  aplica  o  recurso  de  revisão.    
 
10.3.  Recurso  para  o  Tribunal  Constitucional  
 
Os   recursos   interpostos   para   o   Tribunal   Constitucional   correspondem   à   chamada   fiscalização   concreta   de  
constitucionalidade,  sendo  a  norma  em  causa  avaliada  em  concreto  no  âmbito  de  um  processo.  
 
O  nosso  sistema  de  fiscalização  de  constitucionalidade  é  misto,  sendo  difuso  na  questão  em  apreço.  A  Constituição  
atribui  a  todos  os  tribunais,  no  artigo  204º,  competência  para  julgar  questões  de  inconstitucionalidade  suscitadas  a  
propósito  de  casos  concretos,  sendo  ainda  possível  interpor  recurso  para  o  Tribunal  Constitucional,  caso  se  encontrem  
verificados  os  respetivos  pressupostos.  Não  existe  recurso  direto  pelas  partes  para  o  Tribunal  Constitucional,  sendo  
que   este   intervém   apenas   a   título   incidental,   apreciando   as   decisões   de   outros   tribunais   acerca   de   matérias  
constitucionais.  
 
A  Lei  Orgânica  do  Tribunal  Constitucional  (Lei  nº  28/82,  de  15  de  Novembro)  regula  os  recursos  mencionados  no  
subcapítulo  II,  da  Secção  III,  complementando  o  disposto  no  artigo  280º  da  CRP.    
O  artigo  69º  da  Lei  Orgânica  do  Tribunal  Constitucional  determina  a  aplicação  subsidiária,  em  segunda  linha,  das  
normas   do   Código   do   Processo   Civil,   em   particular   as   relativas   ao   recurso   de   apelação,   independentemente   da  
natureza  do  processo-­‐base.  
 
As  decisões  das  quais  é  possível  recorrer  para  o  Tribunal  Constitucional  encontram-­‐se  especificadas  no  artigo  280º  
da  Constituição,  sendo  complementadas  pelo  artigo  70º  da  LTC.  O  objeto  do  recurso  é  sempre  a  decisão  do  juiz  a  quo  
de  aplicar  ou  não  a  norma  cuja  constitucionalidade  ou  ilegalidade  foi  questionada  (artigo  280º,  nº  6,  da  CRP  e  artigo  
71º   da   LTC),   sendo   que   o   juiz   deve   conhecer   ex   officio   (independentemente   de   impugnação   pelas   partes)   a  
inconstitucionalidade  ou  ilegalidade  de  uma  norma,  não  a  aplicando.  O  objeto  do  litígio  do  processo-­‐base  fica  fora  do  
âmbito  do  recurso  para  o  Tribunal  Constitucional.  
 
As  várias  possibilidades  de  recurso  previstas  podem  agrupar-­‐se  em:  decisões  positivas  (não  é  aplicada  a  norma,  por  
se  considerar  inconstitucional  ou  ilegal),  decisões  negativas  (a  inconstitucionalidade  ou  ilegalidade  é  suscitada  pelas  
partes,  mas  o  juiz  aplica  a  norma)  e  não  acatamento  de  anterior  decisão  do  Tribunal  Constitucional.    
É  ainda  relevante  mencionar  que  há  casos  em  que  o  recurso  para  o  Tribunal  Constitucional  é  obrigatório  para  o  
Ministério   Público   (artigo   280º,   nº   3,   da   CRP   e   artigo   72º,   nº   3,   da   LTC),   sendo   o   recurso   pelas   partes   sempre  
facultativo,  tendo  sempre  de  estar  previsto  nas  normas  anteriormente  mencionadas  (artigo  72º,  nº  1,  alínea  b)  e  nº  
2  da  LTC).    
É   também   importante   fazer   a   distinção   entre   os   casos   de   fiscalização   da   constitucionalidade,   da   legalidade  
(referente  a  leis  de  valor  reforçado)  e  da  conformidade  com  normas  convencionais  internacionais.  
 
Para  que  possa  haver  o  referido  recurso,  a  questão  da  inconstitucionalidade  tem  de  ter  sido  suscitada  durante  o  
processo,  tendo  o  juiz  possibilidade  de  sobre  ela  decidir,  caso  contrário  não  é  admitido  o  recurso  para  o   Tribunal  
Constitucional.  De  acordo  com  o  artigo  70º,  nº  2,  da  LTC,  no  caso  de  decisões  negativas,  apenas  é  possível  recorrer  ao  
Tribunal  Constitucional  depois  de  se  terem  esgotado  todas  as  possibilidades  de  recurso  ordinário.  
O  Tribunal  Constitucional  tem  reiterado  a  necessidade  deste  recurso  ser  instrumental,  ou  seja,  só  será  útil  o  recurso  
nos  casos  em  que  a  eventual  decisão  pela  não  constitucionalidade  ou  pela  ilegalidade  da  norma  se  irá  projetar  na  
decisão  do  litígio  do  tribunal  a  quo.  

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O  direito  a  este  recurso  é  irrenunciável  (artigo  73º  da  LTC),  não  sendo  admitida  a  sua  renúncia  antecipada,  sendo,  
no  entanto,  sempre  possível  a  desistência.  Há  uma  clara  distinção  no  que  à  extensão  do  recurso  diz  respeito,  consoante  
os   seus   autores.   Desta   forma,   quando   interposto   pelo   Ministério   Público   aproveita   a   todos   aqueles   que   tiverem  
legitimidade  para  o  interpor,  sendo  que  quando  é  interposto  por  um  interessado  pode  aproveitar  aos  restantes  (artigo  
74º  da  LTC).  Não  pode  haver  adesão  a  um  recurso  para  o  Tribunal  Constitucional  (artigo  74º,  nº  4,  da  LTC).  
 
O   prazo   para   interpor   este   recurso   é   de   10   dias   contados   da   notificação   da   decisão,   podendo   o   prazo   ser  
interrompido  (artigo  75º  da  LTC).  A  interposição  deste  recurso  interrompe  a  contagem  dos  prazos  para  outros  recursos  
que  possam  porventura  caber  da  decisão  recorrida.  A  sua  interposição  é  feita  através  de  requerimento  (artigo  75º-­‐A  
da  LTC).  
A   decisão   sobre   a   admissibilidade   do   recurso   é   da   competência   do   tribunal   a   quo,   não   vinculando   o   Tribunal  
Constitucional,   sendo,   no   entanto,   possível   efetuar   uma   reclamação   (artigos   76º   e   77º   da   LTC).   O   Tribunal  
Constitucional  também  não  se  encontra  vinculado  à  indicação  feita  pelo  recorrente  na  interposição,  das  normas  que  
considera  terem  sido  violadas,  estando,  contudo,  vinculado  às  normas  cuja  inconstitucionalidade  ou  ilegalidade  foram  
invocadas,  estando  assim  os  poderes  de  cognição  do  Tribunal  limitados  pelo  pedido  apenas  em  parte  (artigo  79º-­‐C  da  
LTC).  
 
Regra  geral  os  recursos  para  o  Tribunal  Constitucional  têm  efeito  suspensivo,  sobre  o  andamento  do  processo-­‐base  
e  a  eficácia  da  decisão  recorrida,  sendo,  no  entanto,  previstas,  algumas  exceções  (artigo  78º  da  LTC).  
 
A  decisão  do  Tribunal  pode  ser  uma  decisão  sumária  proferida  pelo  relator  após  exame  liminar  do  recurso,  quando  
a  questão  for  simples  de  decidir  ou  o  recurso  for  manifestamente  infundado  (artigo  78º-­‐A  da  LTC).  
A  decisão  do  Tribunal  faz  caso  julgado  no  processo  apenas  quanto  à  questão  suscitada.  Se  for  dado  provimento  ao  
recurso,   os   autos   baixam   ao   tribunal   a   quo   para   que   este   reforme   a   sua   decisão   (artigo   80º   da   LTC).   O   Tribunal  
Constitucional   não   pode   substituir   a   decisão   recorrida,   podendo   apenas   revogá-­‐la   total   ou   parcialmente,   visto   a  
questão  da  inconstitucionalidade  ou  ilegalidade  ser  incidental.    
O  Tribunal  pode  ainda  proferir  decisões  interpretativas,  devendo  a  norma  ser  aplicada  pelo  juiz  a  quo  de  acordo  
com  a  interpretação  dada  por  aquele  Tribunal.  A  decisão  não  produz  efeitos  fora  do  processo  em  que  é  proferida.    
Assim,  uma  norma  julgada  inconstitucional  ou  ilegal  pode  continuar  a  ser  aplicada,  sendo  que  após  este  ter  sido  o  
entendimento  do  Tribunal  Constitucional  em  três  casos  diferentes,  face  à  mesma  norma,  inicia-­‐se  um  processo  de  
fiscalização  abstrata,  por  iniciativa  de  qualquer  um  dos  juízes  do  Tribunal  Constitucional  ou  pelo  Ministério  Público  
(artigo  82º  da  LTC).  
 
Nestes  recursos  é  obrigatória  a  constituição  de  advogado  (artigo  83º  da   LTC),  o  que  é  compreensível  tendo  em  
conta  todo  o  processo,  e  a  necessidade  de  um  aprofundado  conhecimento  do  sistema  jurídico  e  da  Constituição.  
Uma  crítica  apontada  a  este  sistema  de  recurso  para  o  Tribunal  Constitucional,  no  âmbito  de  um  processo,  é  o  facto  
de  nestes  casos  o  Tribunal  Constitucional  funcionar  como  uma  4ª  instância,  sendo  o  último  recurso  dos  recursos  da  
parte  vencida.  Contudo,  apesar  de  se  reconhecer  que  i sto  possa  de  facto  suceder  com  bastante  frequência,  este  facto  
não   é   assim   tão   significativo,   por   haver   uma   análise   do   recurso   prévia   à   sua   avaliação   e   decisão   pelo   Tribunal  
Constitucional,   feita   pelo   tribunal   recorrido   e   pelo   relator,   o   que   funciona   como   uma   espécie   de   “triagem”   destes  
casos.  
 
11.   Distinção  entre  Regras  e  Princípios  (Doutor  Micael  Teixeira)    
 
O  CPC  é  repleto  de  regras,  porém,  os  princípios  assumiram  grande  importância  com  a  renovação  de  2013,  o  que  
torna  a  situação  paradoxal:  temos  uma  enormidade  de  regras  e  uma  grande  importância  dada  aos  princípios.  Dá  a  
ideia  que  o  próprio  legislador  reconhece  que  um  código  com  tantas  regras  não  é  favorável.    
Assim,  surge  a  importância  da  distinção  entre  regras  e  princípios.  Para  este  efeito,  surgiram  vários  critérios.  
 

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Critério  do  caráter  hipotético-­‐condicional:  
•   Regras  seriam  prescrições  que  seguem  uma  estrutura  hipotético-­‐condicional,  do  género,  “Se  X,  então,  Y”.  
•   Princípios  não  são  prescrições  diretamente  aplicáveis  aos  casos  concretos,  mas  antes  critérios  orientadores  
da  interpretação  das  regras  e  da  integração  de  lacunas.  
Críticas:  
o   Se  o  critério  é  a  estrutura  “Se  X,  então  Y”,  na  realidade  isso  não  pode  ser  bem  assim.  A  mesma  estrutura  
também  pode  ser  utilizada  para  descrever  princípios.  
o   O   mesmo   enunciado   legal   pode   ser   interpretado   como   contendo   uma   regra   ou   como   contendo   um  
principio.  
o   O  enunciado  legal  não  é  determinante  para  a  qualificação  do  preceito  como  regra  ou  princípio  
 
Critério  do  modo  final  da  aplicação:  
•   Regras  Se  o  critério  é  a  estrutura  “Se  X,  então  Y”,  na  realidade  isso  não  pode  ser  bem  assim.  A  mesma  estrutura  
também  pode  ser  utilizada  para  descrever  princípios.  O  mesmo  enunciado  legal  pode  ser  interpretado  como  
contendo   uma   regra   ou   como   contendo   um   principio.   O   enunciado   legal   não   é   determinante   para   a  
qualificação  do  preceito  como  regra  ou  princípio.  
•   Princípios  são  prescrições  aplicadas  de  modo  relativo/contingente,  no  sentido  em  que  mesmo  que  o  caso  se  
localize   no   âmbito   de   aplicação   de   certo   principio,   tal   não   implica   necessariamente   que   as   consequências  
jurídicas  associadas  a  esse  principio  se  apliquem,  tal  dependerá  da  ponderação  que  será  necessário  efetuar  
para  saber  se,  no  caso  em  análise,  outro  principio  igualmente  aplicável  deverá  prevalecer  no  caso  concreto;  
modo  de  aplicação  gradual  pois  o  estado  de  coisas  que  o  principio  promove  pode  ser  mais  ou  menos  atingido.  
Críticas:  
o   Não  é  correto  afirmar  que  se  se  verifica  a  previsão  de  uma  norma  então  isso  implica  que  se  aplique  a  
estatuição.  Se  uma  regra  determina  que  uma  empresa,  se  usarem  apenas  materiais  de  fabrico  de  origem  
nacional  pagam  menos  impostos.  A  empresa  usou  sempre  materiais  nacionais  e  só  houve  uma  cadeira  
em  que  usou  material  importado.  Nesse  caso  seria  melhor  utilizar  a  interpretação  teleológica,  o  sentido  
da  norma  era  promover  a  economia  nacional,  e  esta  não  foi  prejudicada  pro  uma  cadeira.  De  modo  que  
não  se  verifica  a  previsão,  mas  se  deve  aplicar  a  estatuição.  Também  pode  acontecer  que  não  se  verifique  
a  previsão,  mas  se  aplique  a  estatuição.  
o   Não  é  correto  afirmar  que  o  seu  modo  de  aplicação  é  gradual.  Isto  porque,  no  caso  das  regras  estamos  a  
comparar  o  caso  concreto  com  o  caso  previsto  na  norma;  no  caso  dos  princípios  estamos  a  comparar  o  
comportamento  do  caso  concreto,  mas  com  o  estado  de  coisas  ou  a  finalidade  prevista  no  principio.  
Conclusão:   Quanto   ao   modo   de   aplicação   as   regras   e   dos   princípios,   as   diferenças   que   vimos   não   são   assim   tão  
adequadas.     O   grau   de   abstração   com   que   se   descreve   o   comportamento   é   sempre   alto,   no   caso   das   regras   é  
tendencialmente  menor.  Esta  é  a  diferença  relevante.  
 
Critério  do  conflito  normativo  (Ronald  Dworkin  e  Robert  Alexy)  
O  critério  baseia-­‐se  uma  forma  de  resolver  casos  que  põem  em  conflito  princípios  e  regras.  
•   Conflito  entre  regras:  Este  conflito  seria  possível  ser  aferido  em  abstrato.    
•   Conflito  entre  princípios:  conflito  aferido  através  da  ponderação.  
Críticas:  
o   A  consideração  e  que  o  conflito  entre  regras  ocorre  em  abstrato  e  de  que  implica  que  uma  das  regras  seja  
considerada  inválida  é  uma  contingência,  mas  não  uma  necessidade.  
o   A  decisão  entre  aplicar  uma  regra  ou  aplicar  uma  exceção  pode  implicar  um  processo  de  ponderação  de  
motivos  semelhante  à  ponderação  dos  princípios.  
o   Não  é  verdade  que  no  caso  de  conflito  entre  regras,  se  uma  se  aplica  e  outra  não,  a  que  não  se  aplica  não  
serve  para  nada.  
o   Para  chegar  à  decisão  e  um  caso,  no  caso  de  colisão  e  princípios,  tem  sempre  de  se  aplicar  um  e  outro  
não.  
 
 

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A  posição  adotada  quanto  às  regras  e  princípios  é  a  de  Humberto  Ávila.  De  acordo  com  o  autor:  
 
•   Regras   são   as   normas   que   regulam   diretamente   certo   comportamento,   descrevendo-­‐o   como   impositivo,  
permissivo   ou   proibitivo   ou   atribuindo-­‐lhe   certos   efeitos   jurídicos   e   indiretamente   visam,   através   dessa  
regulação,  contribuir  para  a  realização  de  determinada  finalidade.    
 
•   Princípios  são  normas  que  apresentam  uma  estrutura  inversa:  impõem  diretamente  a  finalidade  que  deve  ser  
promovida,   da   qual   decorre,   indiretamente,   o   comportamento   que   deve   ser   regulado   para   que   aquela,  
tendencialmente,  se  realize.  
 
Os   princípios   também   são   normas   suscetíveis   de,   na   ausência   das   regras,   regular   comportamentos,   fazendo-­‐o  
apenas  de  forma  diferente  das  regras  e  não  sendo  necessário  que  alguma  regra  intermedeie  essa  regulação.  
Sempre  que  um  principio  regule  algum  comportamento  sem  que  uma  regra  esteja  envolvida,  o  principio  estará  a  
exercer  a  função  integrativa,  segundo  a  qual  apesar  de  não  existir  qualquer  regra  aplicável,  a  finalidade  prosseguida  
pelo  principio  impõe  uma  regulação  do  caso  orientada  à  realização  dessa  finalidade.  
 
Os  princípios  têm  cinco  funções:  
•   Função   integrativa:   se   não   tivermos   uma   regra   que   assegure   certa   finalidade,   devemos   pressupor   que   o  
principio  se  aplica  a  esse  caso  de  forma  a  prescrever  o  comportamento  necessário  para  tal.  
•   Função   definitória:   os   principio   mais   específicos   ajudam   a   delimitar   o   conteúdo   dos   princípios   mais  
abrangentes  axiologicamente  superiores  aos  primeiros.  
•   Função  interpretativa:  o  principio  mais  abrangente  serve  como  referencia  interpretativa  das  regras  que  visam  
prosseguir  a  finalidade  que  é  consagrada  por  esse  principio.  
•   Função  bloqueadora:  no  caso  de  existir  uma  regra  que  impede  a  realização  de  uma  finalidade,  devemos  
afastá-­‐la  e  aplicar  diretamente  o  principio  de  modo  a  assegurar  a  finalidade/bem  jurídico.  
•   Função   rearticuladora:   os   sobreprincípios   permitem  uma   compreensão   integrada   dos   subprincípios   e   das  
regras  que  os  concretizam.  
 
As  regras  são  critérios  de  decisão  que  apresentam  enormes  vantagens.  Permitem:  
•   Determinar  com  maior  certeza  qual  a  regulação  legal  aplicável  a  determinado  caso  –  previsibilidade;  
•   Determinar   a   maior   objetividade   envolvida   na   aplicação   das   regras,   o   que   reduz   a   discricionariedade   do  
julgador,  evitando  que  a  decisão  do  caso  seja  influenciada  por  preferências  pessoais  do  julgador;  
•   Fomentar  a  uniformidade  dos  casos  -­‐  igualdade;  
 
Como  as  regras  preveem  a  situação  que  regulam,  apresentam  uma  maior  rigidez  do  que  os  princípios.  São,  por  isso,  
mais   suscetíveis   de   regular   um   caso   de   forma   inadequada   dado   que   nem   sempre   terão   em   conta   todas   as   suas  
características  relevantes.  
Por  outro  lado,  os  princípios,  porque  determinam  a  regulação  dos  casos  em  função  do  prosseguimento  de  certa  
finalidade  e  não  da  enumeração  da  característica  dos  mesmos,  apresentam  vantagens,  nomeadamente  conferir  ao  
julgador   maior   liberdade   na   determinação   da   regulação   aplicável   ao   caso.   Em   contrapartida,   apresentam   as  
desvantagens  opostas  às  vantagens  das  regras:  imprevisibilidade,  subjetividade  e  desigualdade.  
 
A  regulação  da  realidade  pelo  direito  não  pode  prescindir  adequadamente  da  utilização  conjunta  de  regras  e  de  
princípios,  pois  as  vantagens  e  desvantagens  de  ambos  os  critérios  são  complementares.  
A   utilização   exclusiva   de   princípios   originaria   um   regime   legal   demasiado   imprevisível,   potencialmente  
desigualitário  e  sujeito  à  arbitrariedade.  
A  utilização  exclusiva  de  regras  redundaria  num  regime  demasiado  rígido  e  potencialmente  injusto.  
 
O  atual  regime  de  processo  civil  é  dominado  por  regras,  talvez  até  em  demasia.  Existem  regras  (em  exagero)  que  
parecem   ter  subjacente  a   ideia  de   querer  regular  tudo,   muitas   vezes  consagrando   complexidade  processuais  sem  
justificação  razoável”.  
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Exemplos:  
•   Artigo   652º,   CPC:   o   legislador   regula   as   funções   do   relator   com   tal   minúcia   que   especifica   que   ele   deve  
“ordenar  as  diligências  que  considere  necessárias”  e  “julgar  os  incidentes  suscitados”.  
•   Artigo   973º,   CPC:   seria   realmente   necessária   uma   norma   que   imponha   que   o   tribunal   recolha   à   sala   se  
conferências  e  que  aí  decida  não  apenas  parte,  mas  toda  a  questão?  
•   Artigo  346º,  CPC:  a  desconstrução  do  processo  de  apreciação  probatória  é  desnecessária,  sendo  muito  mais  
claro  e   simples  assumir  que  o  julgador,  considerando  todos  os  meios  de  prova  apresentados  forma   a   sua  
convicção,  não  o  fazendo  faseadamente.  
 
A  superabundância  de  regras  pode  justificar-­‐se  pelo  contexto  histórico  de  criação  do  CPC  (1939)  nos  períodos  em  
que  vigorava  a  tendência  de  centralização  do  poder.  
Apesar  das  alterações,  apenas  a  reforma  de  2013  começou  a  alterar  esta  realidade:  apesar  de  não  se  alterar  muito  
no  que  toca  às  regras,  os  princípios  ganharam  maior  importância.  
Isto  é  relevante  na  medida  em  que  face  ao  excesso  de  regras,  se  torna  importante  compreender  o  significado  dos  
princípios,  já  que  estes  são  as  finalidades  pelas  quais  nos  devemos  orientar.  
A  própria  abundância  de  regras  acaba  por  implicar  que  se  dê  maior  prevalência  aos  princípios  pela  circunstância  
prática  que  uma  lei  tão  exaustiva  como  o  CPC   levou   já   alguns   operadores   judiciários   começaram   a   defender   uma  
interpretação   de   acordo   com   a   qual   se   exclui   a   admissibilidade   de   qualquer   regime   processual   que   não   esteja  
expressamente  previsto  nas  regras  do  CPC,  sem  que  se  considere  sequer  a  resolução  do  problema  pelos  princípios.  A  
ideia  é  que  “se  uma  lei  tão  completa  como  o  CPC  não  prevê  certa  solução,  ela  não  deve  ser  admitida”.  
 
12.  A  responsabilidade  civil  do  Estado  pelo  mau  funcionamento  da  administração  
da  Justiça  (Professor  Doutor  Ricardo  Pedro)  
 
O  processo  civil  inclui  vários  intervenientes  que  podem  casuar  danos.  Neste  caso,  coloca-­‐se  a  questão  de  saber  
quem  é  o  responsável.  
Antes  de  2008,  apenas  existia  um  diploma  que  estava  pensado  para  a  responsabilidade  civil  na  administração.  Em  
2008,  com  a  entrada  em  vigor  da  Lei  67/2007  de  31  de  dezembro,  passa-­‐se  de  uma  lógica  de  irresponsabilidade,  para  
uma   lógica   de   responsabilidade.   Esta   lei   vem   regular   a   responsabilidade   civil   do   Estado   e   das   demais   entidades  
públicas.  
Esta  lei  regula  o  funcionamento  do  Estado  em  todas  as  suas  três  funções:  administrativa,  legislativa  e  jurisdicional,  
sendo  que  a  que  nos  vais  interessar  é  a  função  jurisdicional  e  dentro  dessa,  o  capítulo  III.  
Para  além  deste  capítulo,  é  também  importante  o  artigo  22º,  CRP  de  acordo  com  o  qual  o  estado  é  civilmente  
responsável  pelos  danos  causados  no  âmbito  do  exercício  das  suas  funções,  pelos  seus  funcionários.  Este  artigo  cobre  
todas  as  funções  
Releva,  ainda  o  artigo  483º,  não  por  ter  aplicação  neste  caso,  mas  por  nos  permitir  compreender  quais  os  fatores  
que  importam  para  que  haja  responsabilidade  civil:  
•   Ilicitude  
Partiu-­‐se,  então,  destes  requisitos  e  adaptou-­‐se  cada   um  eles  a  cada  função  do  
•   Culpa  
Estado.  Deste  modo,  há  uma  configuração  na  função  administrativa,  diferente  da  
•   Dano  
configuração  jurisdicional  e  diferente  da  função  legislativa  
•   Nexo  de  causalidade  
 
A  função  jurisdicional  é  aquela  levada  a  cabo  pelo  juiz  (e  apenas  pelo  juiz)  com  força  de  caso  julgado  e  apenas  
quando  ele  aplica  ao  direito  os  factos  tidos  como  comprovados.  
Dentro  do  tribunal  existe  ainda  uma  outra  função  que  não  a  jurisdicional  (já  que  esta  só  pode  ser  levada  a  cabo  
pelo  juiz)  aplicada  aos  atores  que  intervêm  também  na  ação  de  um  tribunal  à  parte  do  juiz.  O  juiz  não  exerce  também,  
apenas  uma  função  jurisdicional,  exerce  outro  tipo  de  funções.  Deste  modo,  quando  o  juiz  funciona  fora  da  função  
jurisdicional,  pode  ser  responsabilizado  fora  desse  quadro,  e  dentro  do  quadro  da  administração  da  justiça.  
 

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Pelo  exercício  da  função  jurisdicional  pode  haver  responsabilidade  civil  pelo  erro  judiciário  (artigo  13º),  excluindo-­‐
se  as  exceções  previstas  na  lei.  O  erro  judicial  é  a  violação  manifestamente  grosseira  de  normas  constitucionais  ou  
legais  –  erro  de  direito,  da  violação  dos  pressupostos  ou  da  concretização  dos  pressupostos  da  matéria  de  facto  –  erro  
de  facto.  
No  artigo  13º/2,  é-­‐nos  dito  que  só  existe  responsabilidade  por  erro  judiciário  se  antes  da  ação  de  responsabilidade  
civil  houver  uma  ação  que  revogue  a  decisão  errada.  Porém,  há  matérias  que  não  são  objeto  de  recurso,  não  havendo  
possibilidade  de  haver  uma  ação  de  responsabilidade.    
Ainda  que  depois  do  recurso  haja  erro,  pode  haver  responsabilidade  civil  do  Estado.  A  jurisprudência,  criou  uma  
definição  tão  restrita  de  erro  judiciário  que  acabam  por  haver  muitos  casos  de  erro,  mas  que  poucos  são  procedentes.  
Isto   quer   dizer   que   a   responsabilidade   por   administração   da   justiça   ganha   mais   peso   do   que   propriamente   a  
responsabilidade  jurisdicional.  
Exemplos  de  casos:  
•   Imagine-­‐se  que  um  agente  da  execução  bate  à  porta  do  1ºA  para  fazer  uma  penhora,  mas  em  vez  de  penhorar  
A,  penhorou  B.  a  família  quando  chegou  a   casa  não  tinha  nada.  Quem  é  que  indemniza  isto?  (penhora  do  
indevido)  
•   Imagine-­‐se  agora  que  um  agente  de  execução  tem  em  causa  a  penhora  de  3mil€.  O  agente  penhorou  um  casal  
de  idosos  e  penhorar  todo  o  recheio  da  casa.  Todo  o  transtorno  deve  ou  não  ser  indemnizável?  (penhora  do  
indevido)  
•   Outro  caso  foi  um  queixoso,  perante  a  prática  de  um  crime,  fez  uma  queixa  ao  MP  que  o  notificou  sempre  
como  arguido  em  vez  de  queixoso.  O  Estado  deve  ser  ou  não  responsável?  (notificação  errada)  
•   Imagine-­‐se   que   um   processo   demora   20  anos.  O  Estado  deve  ou   não  ser   responsável?   (violação  de  prazo  
razoável)  
Nota:  Portugal  já  foi  notificado  inúmeras  vezes  pelo  Tribunal  dos  Direitos  Humanos  por  violação  de  prazo  razoável.  
 
Artigo  12º:  o  Estado  é  civilmente  responsável  pelos  danos  juridicamente  responsáveis  no  âmbito  da  justiça,  sendo  
aplicável  o  regime  da  responsabilidade  civil  pela  administração  da  justiça.  Diz-­‐se  então  que  a  função  de  administração  
da  justiça  deve  ter  um  tratamento  parecido  com  a  função  administrativa.  Este  pressuposto  surge  na  lógica  de  que  o  
bem  jurídico  em  causa  na  administração  da  justiça  é  a  tutela  de  direitos.    
Este  artigo  deve  ser  reinterpretado  no  sentido  dos  requisitos  próprios  da  administração  da  justiça.  Nomeadamente:  
•   Mal  funcionamento:  sucedâneo  que  agrupa  a  ilicitude  e  a  culpa,  que  existe  quando  se  viola  a  tutela  de  direitos.    
•   Dano:  segue  o  regime  do  direito  das  obrigações,  mas  com  duas  nuances.  relevam  os  danos  em  massa.  Imagine-­‐
se  que  um  hacker  invade  um  tribunal  criminal  e  publica  todos  os  processos.  Na  administração  da  justiça,  os  
danos  em  massa  trazem  o  problema  de  que  normalmente  afetam  os  direitos  fundamentais.  No  tratamento  
destes  casos,  o  juiz  tem  de  ter  uma  cautela  adicional  pare  verificar  se  há  afetação  destes  direitos  ou  não.  
•   Nexo   de   causalidade:   Teoria   da   causalidade   adequada   (563º).   Releva   a   teoria   de   perda   de   oportunidade  
processual.  Esta  teoria  tem  a  ver  com  o  seguinte:  imagine-­‐se   que   está   a   decorrer   um   processo   crime   que  
demora,  demora,  e  chega  ao  fim  e  não  há  decisão,  violando  o  dever  de  decisão  por  prescrição  do  processo.    
 
Artigo   14º:   não   trata   propriamente   da   responsabilidade   civil   da   administração   da   justiça,   trata   apenas   da  
responsabilidade  civil  de  alguns  sujeitos,  nomeadamente  dos  magistrados.  O  artigo  diz-­‐nos  então  em  que  medida  os  
magistrados  são  responsabilizados.  Não  é  só  o  Estado  responsabilizado,  também  os  atores  judiciais  o  são.  Não  pode  
haver  ação  de  responsabilidade  direta  contra  os  juízes.  Tem  de  haver  uma  ação  de  responsabilidade  contra  o  Estado,  
e  depois  o  Estado  respondendo,  ou  não,  dá  regresso  à  responsabilidade  perante  o  juiz  –  ação  de  regresso.  
 
Artigo  9º/4,  LAV:  aos  árbitros  aplica-­‐se  o  regime  aplicado  aos  juízes,  ou  seja,  o  artigo  13º/1  da  lei  67/2007.  Há  então  
uma  analogia.  Deve  a  responsabilidade  ser  diferente  consoante  a  arbitragem  seja  necessária  ou  voluntária?  A  doutrina  
diverge.  Na  opinião  do  orador  não  há  distinção.  
 
 

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13.  Princípios  do  direito  processual  civil  
 
13.1.  O  principio  da  tutela  jurisdicional  efetiva  
 
Existem  princípios  relevantes  em  todos  os  processos  e  contextos  e  outros  que  são  apenas  relevantes  no  processo  
específico.  
O  principio  da  tutela  jurisdicional  é  um  principio  fundamental  relacionado  com  o  direito  de  acesso  aos  tribunais  e  
que  tem  dignidade  constitucional.  
 
Artigo  20º,  CRP  
Acesso  ao  direito  e  tutela  jurisdicional  efetiva  
1.   A  todos  é  assegurado  o  acesso  ao  direito  e  aos  tribunais  para  defesa  dos  seus  direitos  e  interesses  legalmente  
protegidos,  não  podendo  a  justiça  ser  denegada  por  insuficiência  de  meios  económicos.  
2.   Todos  têm  direito,  nos  termos  da  lei,  à  informação  e  consulta  jurídicas,  ao  patrocínio  judiciário  e  a  fazer-­‐se  
acompanhar  por  advogado  perante  qualquer  autoridade.  
3.   A  lei  define  e  assegura  a  adequada  proteção  do  segredo  de  justiça.  
4.   Todos  têm  direito  a  que  uma  causa  em  que  intervenham  seja  objeto  de  decisão  em  prazo  razoável  e  mediante  
processo  equitativo.  
5.   Para  defesa  dos  direitos,  liberdades  e  garantias  pessoais,  a  lei  assegura  aos  cidadãos  procedimentos  judiciais  
caracterizados  pela  celeridade  e  prioridade,  de  modo  a  obter  tutela  efetiva  e  em  tempo  útil  contra  ameaças  
ou  violações  desses  direitos.  
 
Relevam  também:  
 
Artigo  10º,  DUDH  
Toda   a   pessoa   tem   direito,   em   plena   igualdade,   a   que   a   sua   causa   seja   equitativa   e   publicamente   julgada   por   um  
tribunal  independente  e  imparcial  que  decida  dos  seus  direitos  e  obrigações  ou  das  razões  de  qualquer  acusação  em  
matéria  penal  que  contra  ela  seja  deduzida.  
 
Artigo  6º/1,  Convenção  Europeia  dos  Direitos  do  Homem  
Qualquer  pessoa  tem  direito  a  que  a  sua  causa  seja  examinada,  equitativa  e  publicamente,  num  prazo  razoável  por  
um  tribunal  independente  e  imparcial,  estabelecido  pela  lei,  o  qual  decidirá,  quer  sobre  a  determinação  dos  seus  
direitos  e  obrigações  de   carácter  civil,  quer  sobre  o  fundamento  de   qualquer  acusação  em  matéria  penal   dirigida  
contra  ela.  O  julgamento  deve  ser  público,  mas  o  acesso  à  sala  de  audiências  pode  ser  proibido  à  imprensa  ou  ao  
público  durante  a  totalidade  ou  parte  do  processo,  quando  a  bem  da  moralidade,  da  ordem  pública  ou  da  segurança  
nacional  numa  sociedade  democrática,  quando  os  interesses  de  menores  ou  a  proteção  da  vida  privada  das  partes  no  
processo   o   exigirem,   ou,   na   medida   julgada   estritamente   necessária   pelo   tribunal,   quando,   em   circunstâncias  
especiais,  a  publicidade  pudesse  ser  prejudicial  para  os  interesses  da  justiça.  
 
Artigo  2º,  CPC  
Garantia  de  acesso  aos  tribunais  
1.   A  proteção  jurídica  através  dos  tribunais  implica  o  direito  de  obter,  em  prazo  razoável,  uma  decisão  judicial  
que  aprecie,  com  força  de  caso  julgado,  a  pretensão  regularmente  deduzida  em  juízo,  bem  como  a  
possibilidade  de  a  fazer  executar.  
2.   A  todo  o  direito,  exceto  quando  a  lei  determine  o  contrário,  corresponde  a  ação  adequada  a  fazê-­‐lo  reconhecer  
em  juízo,  a  prevenir  ou  reparar  a  violação  dele  e  a  realizá-­‐lo  coercivamente,  bem  como  os  procedimentos  
necessários  para  acautelar  o  efeito  útil  da  ação.  
 
 
 

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Artigo  52º/3,  CRP  
Direito  de  petição  e  direito  de  ação  popular  
É  conferido  a  todos,  pessoalmente  ou  através  de  associações  de  defesa  dos  interesses  em  causa,  o  direito  de  ação  
popular  nos  casos  e  termos  previstos  na  lei,  incluindo  o  direito  de  requerer  para  o  lesado  ou  lesados  a  
correspondente  indemnização,  nomeadamente  para:  
a)   Promover  a  prevenção,  a  cessação  ou  a  perseguição  judicial  das  infrações  contra  a  saúde  pública,  os  direitos  
dos  consumidores,  a  qualidade  de  vida,  a  preservação  do  ambiente  e  do  património  cultural.  
b)   Assegurar  a  defesa  dos  bens  do  Estado,  das  regiões  autónomas  e  das  autarquias  locais.  
 
O  direito  de  ação  popular  relaciona-­‐se  com  as  situações  que  não  afetam  apenas  uma  pessoa.  
O  direito  de  participação  procedimental  e  de  ação  popular  está  estabelecido  na  Lei  nº  83/95  de  31  de  agosto.  
 
Artigo  31º,  CPC  
Ações  para  tutela  de  interesses  difusos  
Têm   legitimidade   para   propor   e   intervir   nas   ações   e   procedimentos   cautelares   destinados,   designadamente,   à  
defesa  da  saúde  pública,  do  ambiente,  da  qualidade  de  vida,  do  património  cultural  e  do  domínio  público,  bem  como  
à  proteção  do  consumo  de  bens  e  serviços,  qualquer  cidadão  no  gozo  dos  seus  direitos  civis  e  políticos,  as  associações  
e  fundações  defensoras  dos  interesses  em  causa,  as  autarquias  locais  e  o  Ministério  Público,  nos  termos  previstos  na  
lei.  
 
 
Interesses  individuais  generalizados  Tratam-­‐se  de  interesses  coletivos  (comunidade  organizada)  e  difusos  (grupo  
de  pessoas  não  organizadas).  
 
“Nos   processos   de   ação   popular,   o   autor   representa   por   iniciativa   própria,   com   dispensa   de   mandato   ou  
autorização  expressa,  todos  os  demais  titulares  dos  direitos  ou  interesses  causa  que  não  tenham  exercido  o  direito  de  
autoexclusão  previsto  no  artigo  seguinte,  com  as  consequências  constantes  da  presente  lei”  (artigo  14º,  LAP)  
 
“(…)  os  efeitos  das  sentenças  transitadas  em  julgado  proferidas  no  âmbito  de  processo  que  tenham  por  objeto  a  
defesa   de   interesses   individuais   homogéneos   abrangem   os   titulares   dos   direitos   ou   interesses   que   não   tiverem  
exercido  o  direito  de  se  autoexcluírem  da  representação”  (art.  19.º/1  da  LAP).  
 
13.1.1.  O  patrocínio  judiciário  
 
O   patrocínio   judiciário   é   mencionado   no   artigo   20º/2,   CRP,   quando   esta   diz   que   “todos   têm   direito   […]   ao  
patrocínio  judiciário”.  Esta  instituto  está  regulado  nos  artigos  40º  -­‐  52º,  CPC.  
 
O  patrocínio  judiciário  consiste  na  representação  e  assistência  técnica  das  partes  por  profissionais  de  foro  que  
conduzem  técnico-­‐juridicamente  o  processo,  mediante  a  prática  de  ato  processuais  adequados  e  respeitando  as  regras  
legais.   Os   profissionais   a   quem   são   conferidos   poderes   de   representação   são   os   advogados   (artigo   12º,   Lei   da  
organização  do  sistema  judiciário)  e  os  solicitadores  (artigo  15º,  LOSJ).  
 
O  patrocínio  judiciário  e  a  representação  forense  procuram  garantir  aos  cidadãos  a  assistência  necessária  e  adequada  
para  recorrerem  aos  tribunais,  efetivando  os  princípios  da  tutela  jurisdicional  e  da  igualdade  das  partes,  visto  que  ao  
serem  representados  por  profissionais  está  assegurado  um  mínimo  de  igualdade  de  armas  entre  elas.  
 
O  patrocínio  judiciário  deve  ser  exercido  com  isenção  e  independência,  no  caso  dos  advogados,  para  garantir  o  
exercício  livre  e  independente  de  mandato  que  lhes  seja  confiado.  
A  lei  assegura  certas  imunidades  como  o  direito  à  proteção  do  segredo  profissional,  o  direito  ao  livre  exercício  do  
patrocínio   e   ao   não   sancionamento   pela   prática   de   atos   conformes   ao   estatuto   da   profissão,   estando   o   mandato  
sujeito  à  tutela  disciplinar  exclusiva  da  Ordem  dos  Advogados,  sem  prejuízo  da  responsabilidade  profissional.  
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13.1.1.1  O  patrocínio  judiciário  obrigatório  
 
Em  determinadas  ações  o  patrocínio  judiciário  é  obrigatório,  impondo  a  lei  a  constituição  de  advogado  (artigos  40º  
e  58º,  CPC).  Esta  obrigatoriedade  prende-­‐se  com  razões:  
•   Técnicas:  os  interesses  das  partes  são  melhor  acautelados  por  profissionais  que  dispõem  e  conhecimentos  
técnico-­‐jurídicos;  
•   Psicológicas:  apenas  profissionais  conseguem  atuar  com  a  serenidade  desinteressada  necessária  para  ajuizar  
objetivamente  as  situações  e  os  direitos  e  deveres  das  partes;  
•   Natureza   pública:   a   adequada   e   competente   condução   processual   das   ações   contribui   para   a   boa  
administração  da  justiça;  
Nos  casos  em  que  a  constituição  de  advogado  não  é  obrigatória,  podem  as  partes  pleitear  por  si  próprias  ou  ser  
representadas  por  advogados  estagiários  ou  solicitadores  (artigo  42º,  CPC).  
 
O  artigo  40º/1,  CPC  elenca  os  casos  em  que  é  obrigatória  a  constituição  de  advogado:  
a)   Causas  de  competência  de  tribunais  com  alçada  em  que  seja  admissível  recurso  ordinário;  
b)   Nas  causas  em  que  seja  sempre  admissível  recurso,  independentemente  do  valor;  
c)   Nos  recursos  superiores  e  nas  causas  propostas  nos  tribunais  superiores;  
 
O  artigo  58º,  CPC  elenca  os  casos  de  processo  executivo  em  que  é  obrigatória  a  constituição  de  advogado:  
•   Execuções  de  valor  superior  à  alçada  da  Relação  e  nas  de  alor  igual  ou  inferior  a  esta  quantia,  mas  superior  à  
alçada  de1ª  instância,  quando  tenha  lugar  algum  procedimento  que  siga  os  termos  do  processo  declarativo.    
Ou  seja,  execuções  superiores  a  30mil€,  valor  superior  à  alçada  da  Relação,  ou  superiores  a  5mil€  superior  à  
alçada   do   Tribunal   de   1ª   instância,   se   os   procedimentos   da   execução   seguirem   os   termos   do   processo  
declarativo.  
 
Nos  Julgados  de  Paz  pelo  artigo  38º/2  da  Lei  78/2001  a  assistência  é  obrigatória  quando:  
•   A  parte  seja  analfabeta,  desconhecedora  da  língua  portuguesa  ou,  por  qualquer  outro  motivo,  se  encontrar  
numa   posição   de   manifesta   inferioridade,   devendo   neste   caso   o   juiz   de   paz   apreciar   a   necessidade   de  
assistência  segundo  o  seu  prudente  juízo  
 
Nos  processos  administrativos  é  obrigatória  a  constituição  de  mandatário  (artigo  11º/1,  CPTA)  nos  termos  previstos  
no  CPC.  
 
Em  processo  penal,  a  constituição  de  advogado  opera  o  seu  caráter  obrigacional  por  força  do  artigo  64º,  CPP  e  no  caso  
dos  assistentes  pelo  artigo  70º,  CPP:  
•   Artigo  64º/1:  é  obrigatória  a  assistência  do  defensor:  
a)   Nos  interrogatórios  de  arguido  detido  ou  preso;  
b)   Nosinterrogatórios  feitos  por  autoridade  judiciária;  
c)   No  debate  instrutório  e  na  audiência;  
d)   Em  qualquer  ato  processual,  à  exceção  da  constituição  de  arguido,  sempre  que  o  arguido  for  cego,  mudo,  
surdo,  analfabeto,  desconhecedor  da  língua  portuguesa,  menor  de  21  anos,  ou  se  suscitar  a  questão  da  
sua  inimputabilidade  u  da  sua  imputabilidade  diminuída;  
e)   Nos  recursos  ordinários  ou  extraordinários;  
f)   Nos  casos  a  que  se  referem  os  artigos  271º  e  294º;  
g)   Na  audiência  de  julgamento  realizada  na  ausência  do  arguido;  
h)   Nos  demais  casos  que  a  lei  determinar;  
•   Artigo  70º/1:  Os  assistentes  são  sempre  representados  por  advogado.  
 
Nos  processos  tributários  pelo  artigo  6º,  CPPT  é  obrigatória  a  constituição  de  advogado:  
•   Nas  causas  judiciais  cujo  valor  exceda  o  dobro  da  alçada  do  tribunal  tributário  de  1ª  instância;  
•   Nos  processos  da  competência  do  Tribunal  Central  administrativo  e  do  Supremo  Tribunal  Administrativo;  
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As  entidades  de  RAL  devem  também  assegurar  que  as  partes  não  têm  de  recorrer  a  um  advogado,  podendo  fazer-­‐se  
acompanhar  ou  representar  por  terceiros  em  qualquer  fase  do  procedimento  (artigo  10º/2,  Lei  144/2015)  
 
Sendo   obrigatória   a   constituição,   o   juiz,   oficiosamente,   ou   a   requerimento   da   parte   contraria,   notifica   a   parte  
contrária  para  constituir  advogado.  Se  a  parte  não  o  fizer,  dependendo  do  caso:  
•   O  réu  é  absolvido  da  instância;  
•   Não  tem  seguimento  o  recurso;  
•   Fica  sem  efeito  a  defesa;  
 
13.1.1.2.  O  mandato  judicial  
 
Os  advogados,  advogados  estagiários  e  solicitadores  só  podem  representar  as  partes  se  tiverem  sido  investidos  no  
poder  de  o  fazer.  Tem  que  lhes  ser  atribuído  um  mandato  judicial  (artigo  43º)  que  pode  ser  conferido  de  várias  formas:  
•   Procuração  forense:  Nomeação  do  mandatário  pela  parte  representada;  
•   Nomeação  oficiosa  do  mandatário  por  outra  entidade  (Ordem  dos  Advogados  ou  juiz  –  artigo  51º);  
•   Em  casos  de  emergência,  a  título  de  gestão  e  negócios  (artigo  49º);  
  Contrato   pelo   qual   o   advogado  
  (mandatário)  representa  a  parte  
  (mandante)  
   
Focando   a   procuração   forense,   esta   consiste   no   ato   unilateral   pelo   qual   o   mandante   (cliente)   confere   ao  
mandatário  (advogado  ou  profissional)  poderes  de  representação,  designados  poderes  forenses.  Desta  forma,  deve  
distinguir-­‐se:  
•   Procuração:  meio  pelo  qual  alguém  atribuía  outrem,  voluntariamente,  poderes  representativos  para  certos  
atos  específicos;  
•   Representação  forense  da  procuração;  
•   Representação  extrajudicial;  
 
O  mandato,  tal  como  é  definido  no  artigo  1157º  CC  é  o  contrato  pelo  qual  se  confere  poderes  de  representação  
ao   mandatário   para   a   prática   de   um   ou   mais   atos   jurídicos,   no   caso   do   mandato   com   representação,   em   que   é  
outorgada  procuração,  o  mandatário  pode  praticar  atos  jurídicos  em  nome  do  representado.  
Deve   constituir   a   forma   de   documento   público   ou   particular   (artigo   43º,   Código   de   Notariado   e   da   legislação  
especial)  ou  de  “declaração  verbal  da  parte  no  auto  de  qualquer  diligência  que  se  pratique  no  processo”.  A  sua  eficácia  
vai  depois  depender  da  aceitação  –  expressa  ou  tácita  -­‐  do  mandatário.  
 
O  mandato  conferido  no  âmbito  do  patrocínio  judiciário  é  um  mandato  especial,  designado  mandato  forense  que  
envolve  a  atribuição  de  poderes  específicos  ao  mandatário  para  representar  o  mandante  em  todos  os  atos  e  termos  
de  um  processo  principal  e  respetivos  incidentes.  Ou  seja,  é  um  mandato  assente  na  atribuição  de  um  poder  geral  
para  pleitear  em  juízo.  
A  procuração  forense  é  o  instrumento  deste  mandato,  deve  conter  a  declaração  de  que  o  respetivo  outorgante  
dá  poderes  forenses  para  agir  em  juízo,  o  que  não  inclui  poderes  de  representação  extrajudicial.  
 
Entre  os  poderes  conferidos  ao  mandatário  releva  o  direito  de  substabelecer:  documento  pelo  qual  o  advogado  
transfere  para  outro  os  poderes  forenses  que  recebeu  do  cliente  para  outro  advogado,  de  modo  a  que  o  exercício  do  
patrocínio  judiciário  não  fique  em  risco,  caso  o  advogado  não  possa  comparecer  em  tribunal.  
O  substabelecimento  pode  ser  feito:  
•   Com  reserva  de  poderes:  o  primeiro  advogado  mantém  os  seus  poderes  e  há  uma  pluralidade  de  mandatários;  
•   Sem  reserva  de  poderes:  o  primeiro  advogado  substitui-­‐se  totalmente,  restando  apenas  um  mandatário;  
 

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Quando  a  procuração  lhes  permita  fazê-­‐lo,  podem  os  mandatários  (artigo  45º):  
•   Confessar  a  ação   Quando  o  mandatário  pratica  um  destes  atos  sem  ter  poderes  para  
•   Transigir  sobre  o  seu  objeto   tal,  ou  através  de  um  mandato  irregular,  o  ato  será  nulo  e  a  sentença  
•   Desistir  do  pedido  ou  da  instância   homologatória  será  notificada  pessoalmente  ao  mandante  (291º/3).  
 
 
  Se  este  não  responder,  o  ato  será  ratificado  e  a  nulidade  
  suprida.  Se  declarar  que  não  ratifica,  então  este  não  produzirá  
  efeitos  em  relação  a  si.  
 
A  falta  de  constituição  e  advogado  não  deve  ser  confundida  com  a  situação  e  falta  de  procuração  (artigo  48º/1),  
na  qual  está  presente  um  advogado,  mas  este  age  sem  a  devida  procuração.  Neste  caso,  o  juiz  fixa  um  prazo  certo  
para  que  ele  a  apresente.  
 
O  mandatário  tem  alguns  deveres  expostos  no  artigo85º  da  Lei  15/2005.  O  advogado  está  obrigado  a:  
•   Defender  direitos,  liberdades  e  garantias;  
•   Pugnar  pela  boa  aplicação  das  leis;  
•   Pugnar  pela  rápida  administração  da  justiça  e  pelo  aperfeiçoamento  da  cultura  e  instituições  jurídicas;  
 
Quando  o  mandatário  agir  de  má-­‐fé  e  tiver  responsabilidade  pessoal  e  direta  nesses  atos,  manda  o  artigo  545º  do  
CPC  dar  conhecimento  do  facto  à  Ordem  dos  Advogados.  
 
O  termo  do  mandato  judicial  está  previsto  no  artigo  47º,  CPC.  Este  pode  terminar  através  de:  
•   Revogação  
•   Renuncia    
 
Os  efeitos  da  revogação  e  da  renuncia  produzem-­‐se  a  partir  da  notificação.  
Nos  casos  em  que  seja  obrigatória  a  constituição  e  advogado,  se  a  parte,  depois  de  notificada  da  renuncia,  não  
constituir  novo  mandatário  no  prazo  de  20  dias:  
•   Suspende-­‐se  a  instância  (se  a  falta  for  do  autor  exequente);  
•   O  processo  segue  os  seus  termos  (se  a  falta  for  do  reu,  do  executado  ou  do  requerido);  
•   Extingue-­‐se   o   procedimento   ou   o   incidente   inserido   na   tramitação   ou   de   qualquer   ação   (se   a   falta   for   do  
requerente,  oponente  ou  embargante;  
 
Vicissitudes:  Falta,  insuficiência  e  irregularidade  do  mandato  (artigo  48º  CPC):  
è   “A  falta  de  procuração  e  a  sua  insuficiência  ou  irregularidade  podem,  em  qualquer  altura,  ser  arguidas  pela  
parte  contrária  e  suscitadas  oficiosamente  pelo  tribunal.  
Se  a  situação  não  for  regularizada,  fica  sem  efeito  tudo  o  que  tiver  sido  praticado  pelo  mandatário.  
 
13.1.1.3.  A  nomeação  oficiosa  
 
Este  sistema  de  proteção  jurídica  encontra-­‐se  regulado  na  Lei  34/2004de  29  de  julho  que  compreende  o  apoio  
judiciário,   a   consulta   jurídica   e   a   informação   jurídica.   Aplicação   não   só   à   nomeação   de   advogado,   mas   também   à  
nomeação  de  solicitador.  
 
O   apoio   judiciário   e   a   nomeação  de  um  patrono   é  conferido   a  quem  demonstre  insuficiência   económica  e  não  
encontre  na  circunscrição  judicial  em  questão  quem  aceite  voluntariamente  o  seu  patrocínio  (artigo  51º/1,  CPC).  
 
 
 

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Em  direito  à  proteção  jurídica  (artigo  7º):  
•   Cidadãos  portugueses  e  da  UE;  
•   Estrangeiros  e  apátridas  com  título  de  residência  válido  num  Estado  da  UE;  
•   Pessoas  com  domicilio  ou  residência  habitual  num  Estado  da  UE;  
•   Pessoas  sem  fim  lucrativo;  
 
A   nomeação   de   um   advogado   ou   solicitador   pode   ser   requerida   à   Ordem   dos   Advogados,   pelos   tribunais,  
secretarias  ou  serviços  do  MP,  órgãos  da  policia  criminal  ou  pelo  cidadão  em  questão,  junto  dos  Serviços  de  SS,  através  
do  modelo  oficial  a  entregar  em  qualquer  serviço  de  atendimento  público  desta  entidade,  juntamente  com  as  provas  
alegadas  de  insuficiência  económica.  
O  prazo  para  decisão  é  de  30  dias,  sendo  o  silencia  equivalente  a  deferimento  tácito  do  pedido  (artigo  25º).  
No  caso  de  insuficiência  económica  em  que  o  cidadão  já  tenha  instaurado  a  ação  e  pago  as  custas  iniciais,  deverá  
formular   de   imediato   o   seu   pedido   de   apoio   judiciário,   pedindo   com   ele   a   nomeação   de   um   patrono.   Este  
requerimento  suspende  os  prazos  que  estiverem  em  curso,  que  serão  retomados  quando  o  advogado  nomeado  for  
notificado  ou  quando  o  indeferimento  do  pedido  for  notificado  ao  requerente.  
A  lei  prevê  o  fim  do  apoio  judiciário,  na  sua  totalidade  ou  em  alguma  das  suas  modalidades,  se  o  requerente  ou  o  
seu   agregado   familiar   adquirirem   meios   suficientes   para   a   sua   dispensa   (artigo   13º).   Neste   processo,   tem   o  
beneficiário  o  direito  a  ser  ouvido.  
 
A   lei   determina   que   a   nomeação   do   Patrono   cabe   à   Ordem   dos   Advogados,   que   o   faz   através   de   um   método  
escolhido  por  si,  dentro   de  uma   lista   onde   os  advogados  e  solicitadores   interessados  se  inscrevem  livremente.  Os  
patronos,   aquando   da   candidatura   deverão   indicar   a   sua   área   de   circunscrição   em   que   pretendem   atuar   e   a  
modalidade  de  prestação  de  serviços  que  pretendem  exercer.  
Se  o  mesmo  facto  der  causa  a  diversos  processos,  o  sistema  assegurará  que,  preferencialmente,  será  nomeado  o  
mesmo  patrono  para  todos  eles  (artigo  3º).  
Da  mesma  forma  que  o  requerente  pode  pedir  substituição  do  patrono  (artigo  32º),  também  o  patrono  pode  pedir  
escusa  (artigo  34º).  O  pedido  de  escusa  é  apreciado  pela  ordem  e  decidido  no  prazo  de  15  dias.  
 
13.1.2.  Acesso  ao  Direito  e  aos  Tribunais  
 
O  regime  especifico  do  acesso  ao  Direito  e  aos  Tribunais  serve  para  garantir  que  as  partes  conseguem  aceder  ao  
direito  para  garantia  do  principio  da  tutela  jurisdicional.  
 
Este  regime  encontra-­‐se  na  Lei  34/2004  de  29  de  julho,  alterada  pela  Lei  47/2007,  de  28  de  agosto.  
 
Artigo  1º,  Lei  34/2004  
1.   O  sistema  de  acesso  ao  direito  e  aos  tribunais  destina-­‐se  a  assegurar  que  a  ninguém  seja  dificultado  ou  
impedido,  em  razão  da  sua  condição  social  ou  cultural,  ou  por  insuficiência  de  meios  económicos,  o  
conhecimento,  o  exercício  ou  a  defesa  dos  seus  direitos.  
 
 
Concretização  do  princípio  da  tutela  jurisdicional  
 
Uma  distinção  relevante  a  fazer  é  entre  Informação  jurídica  e  Proteção  jurídica.  
 
O  direito  à  informação  jurídica,  enunciado  no  artigo  20º/2,  CRP  é  fundamentalmente  instrumental  ao  acesso  à  
justiça.  Isto  porque  o  conhecimento  e  o  exercício  dos  direitos  é  uma  das  condições  para  que  a  “todos  seja  assegurado  
o   acesso   ao   direito   e   aos   tribunais   para   defesa   dos   seus   direitos   e   aos   tribunais   para   defesa   dos   seus   direitos   e  
interesses  legalmente  protegidos,  não  podendo  a  justiça  ser  denegada  ou  por  insuficiência  de  meios  económicos”.  
 

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A  proteção  jurídica  é  um  direito  das  pessoas  singulares  e  coletivas  sem  fins  lucrativos,  que  não  tenham  condições  
económicas  de  acederem  ao  direito  e  aos  tribunais.  
A  proteção  jurídica  inclui:  
•   Consulta  jurídica:  constitui  uma  das  modalidades  da  proteção  jurídica  e  pode  compreender  a  realização  de  
diligência  extrajudiciais  ou  comportar  mecanismos  informais  de  mediação  e  conciliação,  conforme  constar  dos  
gabinetes  de  consulta  jurídica,  regulamento  cuja  aprovação  compete  ao  Ministério  da  Justiça.  É  relevante  para  
esclarecimento  técnico  sobre  o  direito  aplicável  a  questões  ou  casos  concretos  nos  quais  avultem  interesses  
pessoais  legítimos  ou  direitos  próprios  lesados  ou  ameaçados  de  lesão  (artigo  14º,  Lei  34/2004).  Não  se  aplica  
às  pessoas  coletivas  sem  fins  lucrativos,  que  apenas  têm  proteção  na  modalidade  de  apoio  judiciário.  
•   Apoio  judiciário:  O  apoio  judiciário  aplica-­‐se  em  todos  os  tribunais,  qualquer  que  seja  a  forma  do  processo,  
nos  processos  de  contraordenações  e  em  algumas  estruturas  de  resolução  alternativa  de  litígios.  
 
Tem   direito   à   proteção   jurídica   as   pessoas   mencionadas   no   artigo   7º   da   Lei   34/2004   (ver   13.1.1.3,   a   nomeação  
oficiosa).  
 
13.1.2.1.  A  proteção  jurídica  
 
Não   dispondo   de   natureza   gratuita   o   serviço   público   de   administração   de   Justiça,   verifica-­‐se   a   existência   de  
encargos  económicos  inerentes  ao  processo  para  as  partes,  que  podem  impedir  ou  restringir,  total  ou  parcialmente,  
o  acesso  ao  direito  e  aos  tribunais,  representando  uma  efetiva  privação  a  este  acesso  constitucionalmente  garantido  
por  insuficiência  de  meios  económicos.  
 
A  concessão  de  proteção  jurídica  baseia-­‐se  na  apreciação  da  situação  de  insuficiência  económica  do  requerente,  
efetuada  de  acordo  com  critérios  objetivos  previstos  no  artigo  8º,  Lei  34/2004,  que  visa  restringir  a  disparidade  de  
resultados  a  que  se  assistia  na  apreciação  dos  requerimentos  apresentados,  garantindo  que  este  benefício  é  concedido  
a  todos  os  que  deste  efetivamente  carecem  e  na  medida  da  respetiva  necessidade.  
 
 
O  conceito  de  insuficiência  económica  para  efeitos  de  obtenção  da  proteção  jurídica  traduz-­‐se  na  apreciação  do  
rendimento,  património  e  despesa  permanente  do  agregado  familiar  do  requerente  da  proteção  jurídica  e  na  
verificação  da  inexistência  por  parte  deste  de  condições  objetivas  para  suportar  integral  e  pontualmente  os  custos  
inerentes  a  um  processo,  cujos  critérios  objetivos  de  apreciação  constam  do  artigo  8º-­‐A  e  cujo  modo  de  prova  se  
encontra  expressamente  determinado  no  artigo  8º-­‐B.  O  critério  primordial  de  aferição  da  insuficiência  económica  do  
requerente  é,  então,  o  rendimento  (global)  do  respetivo  agregado  familiar.  
 
 
A  insuficiência  económica  das  pessoas  singulares  é  aferida  de  acordo  com  os  critérios  do  artigo  8º-­‐A/1  
 
O  valor  do  rendimento  relevante  para  efeitos  de  proteção  jurídica  corresponderá  ao  valor  do  rendimento  líquido  
do  agregado  familiar  (obtido  após  a  dedução  do  imposto  sobre  o  rendimento  e  das  contribuições  para  a  SS),  acrescido  
do   montante   da   renda   financeira   implícita   calculada   com   base   nos   ativos   patrimoniais   do   agregado   familiar,   e  
deduzidos  os  encargos  com  as  necessidades  básicas  e  com  a  habitação  do  agregado  familiar.  
Em  suma,  o  rendimento  relevante  para  efeitos  de  proteção  jurídica  é  o  montante  que  resulta  da  diferença  entre  o  
valor  do  rendimento  líquido  completo  do  agregado  familiar  e  o  valor  da  dedução  relevante  para  efeitos  de  produção  
jurídica  e  calcula-­‐se  nos  termos  previstos  no  anexo  à  referida  lei.  
 
A  prova  da  insuficiência  económica  incumbe  ao  requerente,  nos  termos  do  artigo  342º/1,  sendo  que  o  requerente  
da  proteção  jurídica  deve  demonstrar  a  sua  insuficiência  económica  para  suportar  os  custos  de  um  processo  pelos  
meios  legalmente  previstos.  
 

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Artigo  8ºA/6:  possibilidade  de  aferição  da  insuficiência  económica  apenas  considerando  os  rendimentos  auferidos  
pelo  próprio  requerente  da  proteção  jurídica.  Isto  de  modo  a  regular  determinadas  situações,  em  que  atender  ao  
rendimento   do   agregado   familiar   representaria,   para   os   cidadãos   requerentes   da   proteção   jurídica,   uma   efetiva  
restrição  no  acesso  ao  direito  e  aos  tribunais,  em  violação  do  direito  constitucionalmente  garantido.  
 
Artigo  8ºA/7:  Um  conjunto  de  situações  em  que  a  apreciação  da  insuficiência  económica  deve  ser  realizada  atendendo  
unicamente  ao  respetivo  rendimento  individual,  mediante  solicitação  do  requerente,  designadamente  as  situações  
em  que  o  requerente  da  proteção  jurídica  litiga  contra  um  ou  mais  membros  da  sua  família,  por  exemplo,  no  âmbito  
de  ações  de  divórcio  litigioso.  
 
Visando  atenuar  a  objetividade  inerente  ao  critério  de  insuficiência  económica  previsto  para  as  pessoas  singulares  
introduziu-­‐se  um  mecanismo  de  apreciação  dos  pedidos  de  proteção  jurídica,  que  permite  ao  dirigente  máximo  dos  
serviços  de  segurança  social  competente  para  a  decisão  sobre  a  concessão  do  benefício  decidir,  com  fundamentação  
especial,  de  forma  diversa  da  que  resultaria  da  aplicação  estrita  dos  critérios  previstos  no  referido  diploma,  se  esta  
aplicação  determinar  no  caso  concreto,  uma  manifesta  denegação  do  acesso  ao  direito  e  aos  tribunais.  
 
O  apoio  judiciário  compreende  várias  modalidades  (artigo  16º/,  Lei  34/2004):  
•   Dispensa  de  taxa  de  justiça  e  demais  encargos  com  o  processo;  
•   Nomeação  e  pagamento  da  compensação  de  patrono;  
•   Pagamento  da  compensação  de  defensor  oficioso;  
•   Pagamento  faseado  de  taxa  de  justiça  e  demais  encargos  com  o  processo;  
•   Nomeação  e  pagamento  faseado  da  compensação  de  patrono;  
•   Pagamento  faseado  da  compensação  de  defensor  oficioso;  
•   Atribuição  de  agente  da  execução;  
 
As  modalidades  de  concessão  de  apoio  judiciário  são  mais  profundas  ou  menos,  o  que  variará  em  primeiro  lugar  
consoante  o  requerente  seja  ou  não  pessoa  coletiva,  
 
Sendo  pessoa  coletiva:  
•   O  apoio  judicial  não  compreenderá  as  modalidades  de  pagamento  faseado  (das  alíneas  d)  à  f))  –  artigo  16º/6  
•   Não   podem   entidades   com   fins   lucrativos   recorrer   ao   apoio   judiciário   uma   vez   que   se   entende   que   estas  
devem  integrar  na  sua  atividade  económica  os  custos  do  acesso  ao  tribunal,  sem  apoio  público.  
 
Sendo  pessoa  singular  a  escolha  da  modalidade  variará  consoante  o  grau  de  carência  económica  e  o  processo  a  
que  se  destine.  
 
Artigo   16º/2:   o   pagamento   o   valor   das   prestações   da   modalidade   das   alíneas   d)   a   f)   do   número   1,   ou   seja,   os  
pagamentos  faseados,  dependerão  do  rendimento  relevante  para  efeitos  de  proteção  jurídica.  
 
Artigo  16º/3  e  4:  Se  as  prestações  não  forem  exigidas  até  os  quatro  anos  seguintes  desde  o  trânsito  em  julgado  da  
decisão  final  da  causa  deixam  de  o  poder  ser.  Este  prazo  conta-­‐se  desde  o  trânsito  em  julgado  da  última  decisão  final,  
no  caso  de  haver  pluralidade  de  causas  relativas  ao  mesmo  requerente  ou  a  elementos  do  seu  agregado  familiar.  O  
legislador  incluiu  estes  prazos  como  forma  de  limitar  temporalmente  a  exigibilidade  das  prestações.  
 
Do  Artigo  18º  resultam  várias  ideias:  
•   O  pedido  pode  ser  efetuado  por  qualquer  das  partes  no  processo,  em  qualquer  estado  da  causa  (para  a  propor  
ou  com  ela  seguir),  num  modelo  oficial,  junto  da  Segurança  Social,  por  telecópia,  por  via  postal  ou  transmissão  
eletrónica.    
•   Deverá   ser   requerido   antes   da   primeira   intervenção   processual,   exceto   no   caso   em   que   a   situação   de  
insuficiência  económica  seja  superveniente,  caso  em  que  deverá  sê-­‐lo  antes  da  primeira  intervenção  após  o  

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conhecimento  da  situação  de  insuficiência  económica  –  aqui,  suspender-­‐se-­‐á  o  prazo  para  pagamento  da  taxa  
de  justiça  e  demais  encargos  até  a  decisão  definitiva  do  pedido  de  apoio  judiciário.    
•   O  apoio  judiciário  manter-­‐se-­‐á  sempre:  quer  para  efeitos  de  recurso,  quer  nos  processos  que  sigam  por  apenso  
àquele  a  que  a  concessão  se  verificar,  assim  como  na  declaração  de  incompetência  do  tribunal  e  em  execuções  
fundadas  em  sentença  proferida  em  processo  em  que  essa  concessão  se  tenha  verificado.  A  lei  prevê  o  fim  do  
apoio  no  caso  em  de  o  requerente  ou  o  seu  agregado  familiar  adquirirem  meios  suficientes  para  a  dispensa  
de  apoio.      
•   É  conveniente  precisar  que  a  efetiva  aplicação  do  direito  só  é  possível  quando  se  verifica  igualdade  no  acesso  
à  justiça  entre  os  cidadãos.  Assim,  creio  que  o  apoio  judiciário  é  uma  importante  vertente  do  acesso  ao  direito.  
Consiste  no  mecanismo  direcionado  à  promoção  dessa  mesma  igualdade  que  leva  à  justiça  que  o  direito  exige.  
 
Têm  legitimidade  para  requerer  a  proteção  judiciária  (artigo  19º):  
•   O  interessado  na  sua  conceção  
•   O  Ministério  Público  em  representação  do  interessado;  
•   Advogado,  advogado  estagiário  ou  solicitador  em  representação  do  interessado;  
 
Qualquer  uma  destas  entidades  tem  de  demonstrara  incapacidade  económica  do  interessado.  
 
O  requerente  deverá,  ainda,  apresentar  todos  os  documentos  necessários  à  concessão  de  apoio  judiciário,  tendo  duas  
alternativas  (artigo  22º):  
•   Entregar  pessoalmente  os  documentos  necessários;  
•   Enviar  o  requerimento  por  correio  para  qualquer  serviço  de  atendimento  ao  público  da  SS;  
 
A  decisão  compete  ao  dirigente  máximo  dos  serviços  de  SS  da  área  de  residência  ou  sede  do  requerente,  devendo  
ser  tomada  num  prazo  de  30  dias  (artigo  25º).  Se  não  houver  audiência  prévia  dos  interessados,  o  prazo  fica  suspenso  
até  ao  final  do  prazo  dado  ao  requerente  para  se  pronunciar.  
Caso  decida  não  conceder  o  apoio  judiciário,  antes  de  tomada  a  decisão  final,  o  requerente  tem  de  ser  ouvido.  A  
este  propósito  são  dados  10  dias  ao  requerente  para  se  pronunciar  por  escrito.  Não  havendo  resposta  tempestiva,  a  
decisão  torna-­‐se  definitiva.  Caso  o  pedido  de  apoio  judiciário  seja  indeferido,  há  a  obrigação  do  pagamento  das  custas  
devidas.  
Esta  decisão  não  é  suscetível  de  recurso,  mas  pode  ser  impugnada  judicialmente.  
 
A  impugnação  judicial  (artigo  27º)  pode  ser  intentada  diretamente  pelo  interessado,  devendo  este  entrega-­‐la,  
sob  forma  escrita,  no  serviço  de  segurança  social  que  apreciou  o  pedido  de  proteção  jurídica,  no  prazo  de  15  dias,  após  
o  conhecimento  da  decisão.  
O  serviço  de  segurança  social  dispõe  de  10  dias  para  revogar  a  decisão  sobre  o  pedido  de  proteção  jurídica  ou,  no  
caso  de  decidir  mantê-­‐la,  enviar  a  cópia  autenticada  do  processo  administrativo  ao  tribunal  competente.  
 
É  competente  para  conhecer  e  decidir  a  impugnação  o  tribunal  da  comarca  em  que  está  sedeado  o  serviço  de  
segurança  social  que  apreciou  o  pedido  de  proteção  jurídica  ou,  caso  o  pedido  tenha  sido  formulado  na  pendência  da  
ação,  o  tribunal  em  que  esta  se  encontra  pendente  (artigo  28º).    
 
13.1.3.  Custas  processuais  
 
As   custas   judiciais   (artigo  3º/1  do  RCP   e  artigo  529º,   CPC)   correspondem  ao  total  da  taxa  de  justiça,  mais   os  
encargos  e  as  custas  de  parte.  São  assim,  “o  conjunto  de  despesa  exigível  por  lei,  resultante  da  mobilização  do  sistema  
judiciário  para  resolução  de  determinado  conflito,  e  inerente  à  condução  do  respetivo  processo”  
 
O  regime  atual  das  custas  dispõe-­‐se  por  vários  diplomas.  Nos  termos  do  artigo  3º  do  RCP  (Lei  34/2008),  estas  
incluem  três  tipos  de  despesas:  
 
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Algumas  das  despesas  a  que  o  acesso  a  tribunais  dá  lugar  são,  por  exemplo:  
•   Custas  processuais:  
o   Taxa  de  justiça:  montante  devido  pelo  impulso  processual  do  interessado.  Correspondem  ao  valor  
medido  em  UC  (Unidade  de  Conta  Processual2)  (artigo  5ºe  ss.,  RCP  e  530º,  CPC);  
o   Encargo:  despesas  que  se  vão  produzindo  ao  longo  do  processo  resultantes  da  condução  do  mesmo,  
requeridas  pelas  partes  ou  ordenadas  pelo  tribunal  (artigo  20º,  RCP  e  532º,  CPC);  
o   Custas   de   parte:   despesas   realizadas   nas   ações,   nos   incidentes,   nos   procedimentos   cautelares   ou  
outros  e  nos  recursos,  devida  à  parte   que,  com  ganho  de  causa,  os  implementou  ou  lhes  deduziu  
oposição.  São  pagas,  regra  geral,  pela  parte  vencida  (artigo  26º/2,  RCP).  O  artigo  533º,  CPC  declara  
quatro  despesas  que  integram  as  custas  de  parte:  
§   Taxas  de  justiça  
§   Encargos  efetivamente  suportados  pela  parte  
§   Remunerações  pagas  ao  agente  de  execução  
§   Honorários  do  mandatário  
•   Forma   de   garantir   o   pagamento   das   custas:   taxas   de   justiça   inicial   e   subsequente,   que   representam  
adantamentos  por  conta  da  taxa  de  justiça  final  (custas  de  parte);  
•   Constituição  de  patrono  advogado  
 
As  custas  são  aplicadas  a  todos  os  processos  (artigos  1º  e  2º),  considerando-­‐se  como  processo  autónomo  cada  
ação,  execução,  incidente,  procedimento  cautelar  ou  recurso,  corram  ou  não  por  apenso,  desde  que  o  mesmo  possa  
dar  origem  a  tributação  própria.      
Existem,   porém,   algumas   exceções   previstas   no   artigo   4º   que   isentam   algumas   pessoas   em   determinadas  
circunstâncias.  É,  por  exemplo,  o  caso  do  Ministério  Público,  ou  dos  menores  ou  respetivos  representantes  legais,  nos  
recursos  de  decisões  relativas  à  aplicação,  alteração  ou  cessação  de  medidas  tutelares,  aplicadas  em  processos  de  
jurisdição  de  menores.  
As  isenções  dividem-­‐se  em  isenções  subjetivas  (nº1)  e  isenções  objetivas  ou  processuais  (nº2),  isto  é,  as  que  estão  
ligadas  a  um  tipo  de  processo  em  causa.  
 
O  não  pagamento  de  custas  tem  como  consequências:  
•   Recusa  da  petição  inicial  pela  secretaria  (artigos  558º  e  560º/f,  CPC)  
•   Não  pagamento  pelo  réu,  após  insistência  no  mesmo,  resulta  no  desentranhamento  da  contestação  e  o  réu  é  
retirado  do  processo  (artigo  570º/6,  CPC)  
 
13.1.4.  A  arbitragem  necessária  
 
Uma   questão   relevante   no   acesso   aos   tribunais   consiste   em   saber   se   os  mecanismos   de   arbitragem   necessário  
põem  em  causa  esse  principio  do  acesso  aos  tribunais.  O  próprio  estado  poderia  impor  a  resolução  de  litígios  por  via  
arbitral  o  que  restringe  o  acesso  aos  tribunais  judiciais.  mas  será  que  insto  é  conforme  com  o  artigo  20º  da  CRP?  
Esta  questão  foi  recentemente  testada  a  propósito  do  tribunal  arbitral  do  desporto,  tendo  surgido  um  acórdão  
acerca  dessa  mesma  questão  (acórdão  781/2013).  
A  particularidade  do  TAD  é  ter  matérias  de  arbitragem  necessária.  As  primeiras  leis  que  tentaram  isolar  o  TAD  das  
outras  estruturas  judiciais  forma  declaradas  inconstitucionais.  O  tribunal  constitucional  acabou  por  estabelecer  que  
só  se  houver  recurso  é  que  há  possibilidade  de  estabelecer  um  regime  de  arbitragem  necessária.  
Nos  casos  do  TAD,  basta  uma  parte  querer  arbitragem  para  haver  arbitragem.  Isto  gera  um  problema:  estamos  a  
impor  a  arbitragem  muitas  vezes  sem  possibilidade  de  recurso.  

                                                                                                                         
2
 A  unidade  de  conta  é  atualizada  anualmente  de  acordo  com  o  valor  do  Indexante  dos  Apoios  Sociais  (IAS).  Aquando  do  início  
de  um  processo,  o  valor  que  se  deve  considerar  é  precisamente  aquele  que  estiver  em  vigor  no  momento  em  que  o  processo  é  
iniciado,  não  interessando  o  momento  em  que  a  taxa  tem  de  ser  paga.  No  entanto,  no  caso  de  um  incidente,  por  exemplo,  ser  
deduzido  em  ano  diferente,  a  taxa  de  justiça  para  essa  ação  já  será  a  que  corresponde  à  UC  daquele  ano.  Ainda  mais  importa  
referir  que  cada  ação,  execução,  procedimento,  incidente  ou  recurso  têm  uma  tributação  própria.  
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No  consumo,  existe  um  direito  potestativo  do  consumidor  á  arbitragem.  O  prestador  do  serviço  não  tem  liberdade  
de   não   ver   aquele   litigio   resolvido   por   via   arbitral.   E   como   em   alguns   casos   não   há   recurso,   a   ver   o   litigio  
definitivamente  resolvido  por  via  arbitral.  
 
Em  que  casos  pode  haver  recurso?  Se  as  partes  convencionaram.  Mas  e  se  não  houver  convenção  em  concreto,  
quais  serão  as  regras  a  aplicar?  As  do  centro  de  arbitragem.  
 
13.1.5.  Negócios  jurídicos  processuais  
 
Os  negócios  jurídicos  processuais,  ainda  que  processuais,  são  atos  de  liberdade,  que  permitem  às  partes  limitar  o  
seu  acesso  ao  direito.  
 
13.1.5.1.  Pactos  privativo  e  atributivo  de  jurisdição  
 
Os   artigos   94º   e   95º   regulam  a  modificação  da  competência  por  convenção  das  partes.  Em  ambos  os  casos,  a  
competência,   que   normalmente   seria   atribuída   a   um   dado   tribunal   para   dirimir   determinado   litigio,   poderá   ser  
modificado  por  acordo  das  partes.    
Se   a   convenção  tiver  por  fim  alterar  a  jurisdição  competente  para  dirimir  um  litigio  determinado,  ou  os  litígios  
eventualmente  decorrentes  de  certa  relação  jurídica,  estamos  perante  um  pacto  de  jurisdição  que  pode  ser  atributivo  
ou  privativo  (artigo  94º).  
 
Pacto  privativo  ®  retira-­‐se  a  competência  a  um  ou  a  vários  tribunais  portugueses,  atribuindo-­‐a  em  exclusivo  a  um  ou  
a  vários  tribunais  estrangeiros;  
 
Pacto   atributivo   ®   resulta   a   atribuição   da   competência   exclusiva   ou   alternativa,   a   um   ou   a   vários   tribunais  
portugueses.    
 
O  artigo  94º/1,  CPC  atribui  às  partes  a  possibilidade  de  convencionaram  qual  a  jurisdição  competente  para  decidir  
um  litigio  (atual  ou  eventual)  desde  que  este  decorra  se  uma  relação  jurídica  conexa  com  mais  do  que  uma  ordem  
jurídica.  
A  “designação  convencional  pode  envolver  a  atribuição  de  competência  exclusiva  ou  meramente  alternativa  com  
a   dos   tribunais   portugueses   quando   esta   não   exista,   presumindo-­‐se   que   seja   exclusiva   em   caso   de   dúvida  (artigo  
94º/2).  
 
A  eleição  do  onde  se  exerce  a  jurisdição  é  preciso  reunir  os  seguintes  requisitos  de  validade  (artigo  94º/3):  
•   Litigio  sobre  direitos  disponíveis;  
•   Aceitação  pela  lei  do  tribunal  designado  –  competência  exclusivas;  
•   Interesse  sério  de  ambas  as  partes,  ou  se  apenas  de  uma,  quando  não  seja  inconveniente  para  a  outra  parte;  
•   Não  pode  violar  a  competência  exclusiva  dos  tribunais  portugueses;  
•   Tem   de   haver   sempre   acordo   escrito   ou   confirmação   pro   escrito,   bem   como   menção   da   jurisdição  
competente;  
 
Quanto  ao  acordo  escrito  ou  confirmação  por  escrito,  o  artigo  94º/4  vem  esclarecer:  “qualquer  meio  de  comunicação  
que  fique  prova  escrita”.  Este  meio  de  comunicação  pode  conter  diretamente  o  acordo  ou  pode  dele  constar  cláusula  
que  remeta  para  documento  onde  esteja  vertido  o  acordo.  
 
Artigo  95º/1:  veda  às  partes  a  disponibilidade  de  afastarem  as  regras  de  competência  em  razão  da:  
•   Matéria  
•   hierarquia    
•   valor  da  causa  

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Permite,  no  entanto,  que  as  partes,  por  convenção  expressa,  afastem  a  aplicação  das  regras  de  competência  em  razão  
de  território,  salvo  os  casos  a  que  se  refere  o  artigo  104º,  casos  em  que  a  incompetência  relativa  é  de  conhecimento  
oficioso.  
 
Artigo  95º/3:  equipara  a  obrigatoriedade  e  respetiva  força  vinculativa,  da  convenção  de  competência  de  certo  foro  à  
própria  determinação  de  competência  derivada  da  lei.  
 
Existem,  no  essencial,  quatro  requisitos  para  que  o  acordo  seja  válido:  
1.   Deve  respeitar  a  forma  do  contrato,  fonte  da  obrigação,  contanto  que  seja  reduzido  a  escrito  (artigo  95º/2  
com  remissão  para  o  artigo  94º/4);  
2.   Deve  designar  as  questões  a  que  se  refere  ou  especificar  o  facto  jurídico  suscetível  de  as  originar  (artigo  95º/2  
e  95º/4);  
3.   Deve  indicar  o  tribunal  português  concretamente  competente  (artigo  95º/2);  
4.   Não  pode  versar  sobre  os  casos  previstos  no  artigo  104º/1  (95º/1,  parte  final);  
 
Regulamento  nº1215/2012  de  12  de  dezembro:  aplicável  em  todos  os  Estados-­‐Membros  da  UE  com  o  objetivo  de  
facilitar   a   justiça,   prevendo   especialmente   normas   relativas   à   competência   dos   tribunais   e   ao   reconhecimento   da  
execução,   rápidos   e   simples,   e   decisões   em   matéria   civil   e   comercial   proferidas   nos   Estados-­‐Membros,  
independentemente  da  natureza  da  jurisdição  (artigo  1º).  
Este  regulamento  determina  os  órgãos  jurisdicionais  dos  vários  estados-­‐Membros  que  são  competentes  para  decidir  
sobre  um  litigio  em  matéria  civil  e  comercial  sempre  que  exista  um  elemento  internacional.  
Estabelece  ainda  que  as  decisões  proferidas  num  Estado-­‐Membro  são  reconhecidas  nos  outros  Estados-­‐Membros  sem  
necessidade  de  qualquer  outra  formalidade  especial.  Ou  seja,  uma  decisão  proferida  num  Estado-­‐Membro  que  seja  
executória   nesse   país   é   igualmente   executória   noutro   estado-­‐Membro,   sem   necessidade   de   uma   declaração   de  
executoriedade.  
 
13.1.5.2.   Cláusulas  contratuais  gerais  
 
Em  traços  gerais,  tem-­‐se  entendido  que  não  é  possível  alguém  se  vincular  a  arbitragem  por  via  de  uma  cláusula  
contratual  geral.  Ou  seja,  se  a  vinculação  resultar  de  uma  CCG,  considera-­‐se  que  a  parte  não  teve  oportunidade  de  
discutir  e  que  por  isso  não  houve  uma  verdadeira  decisão  e  recorrer  a  arbitragem.  
 
“São   em   absoluto   proibidas,   designadamente,   as   cláusulas   contratuais   gerais   que   (…)   excluam   ou   limitem   de  
antemão   a   possibilidade   de   requerer   tutela   judicial   para   situações   litigiosas   que   surjam   entre   os   contratantes   ou  
prevejam  modalidades  de  arbitragem  que  não  assegurem  as  garantias  de  procedimento  estabelecidas  na  lei”  (Artigo  
21º-­‐H,  DL  446º/85).  
 
13.2.  O  principio  da  eficiência  processual  (Joana  Campos  Carvalho)  
 
Este  é  o  princípio  segundo  o  qual  o  processo  deve  atingir  a  sua  finalidade  com  o  mínimo  de  gastos  possíveis  (tempo  
e  dinheiro).  
O  principio  da  eficiência  processual  convive  com  todos  os  outros  princípios  do  processo  civil.  Quando  dizemos  que  
o  processo  deve  ser  levado  a  cabo  com  o  mínimo  de  recursos  possíveis  temos  de  ter  em  conta  que  este  principio  tem  
como  limite  todos  os  outros  princípios.  Não  podemos  ter  uma  situação  em  que  para  cumprir  este  principio,  ponhamos  
em  causa  outros  princípios.  
Por  exemplo,  o  juiz  não  pode  tomar  uma  decisão  que  permite  resolver  muito  rapidamente  o  litigio  se  essa  decisão  
violar  o  principio  do  contraditório.  
 
 
 
 
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Este  principio  subdivide-­‐se  em  quatro  outros  princípios,  dos  quais  relevam  os  três  primeiros:  
•   Principio  da  economia  processual  
•   Principio  da  razoabilidade  dos  prazos  
•   Principio  para  a  autocomposição  do  litígio  
•   Principio  da  adequação  procedimental  
 
13.2.1.  Principio  da  economia  processual  
 
Este  princípio  tem  duas  vertentes:  a  economia  de  processos  e  a  economia  de  atos.  
 
Economia  de  processos:  cada  litígio  deve  ser  resolvido  através  do  menor  numero  de  processos  possível.  Este  principio  
impõe  que  o  numero  de  ações  propostas  para  resolver  o  mesmo  litigo  seja  o  menor  possível.  Sempre  que  possamos  
resolver  o  mesmo  litigio  por  três  ações,  duas  ou  uma,  devemos  preferir  a  solução  que  abarque  o  menos  numero  de  
ações.  
 
A  este  propósito,  o  CPC  inclui  vários  institutos  que  têm  como  finalidade  garantir  que  o  mesmo  litígio  é  resolvido  
através  do  menor  número  de  ações  possível.  Relevam:  
•   Litisconsórcio   voluntário:   permite  que  as  ações  sejam  propostas  por  vários  autores  ou  contra  vários  réus,  
evitando  a  multiplicação  de  ações  quando  o  conflito  envolve  mais  do  que  duas  partes  (Artigo  32º,  CPC).  
•   Coligação:  permite  que  duas  ações  que  podiam  existir  em  separado  sejam  juntas  num  mesmo  processo  (artigo  
36º,  CPC)  
•   Conjugação  de  pedidos  numa  mesma  ação:  
o   Pedidos  alternativos  (artigo  553º)  
o   Pedidos  subsidiários  (artigo  554º)  
o   Cumulação  de  pedidos  (artigo  555º)  
•   Reconvenção:  Permite  que  o  réu  aproveite  a  mesma  ação  para  formular  ele  próprio  pedidos  contra  o  autor  
(artigo  583º);  
 
Existem,  também  institutos  que  permitem  salvar  a  ação,  economizando  processos:  
•   Incidentes  de  intervenção  de  terceiros  que  permitem  chamar  pessoas  que  são  importantes  para  a  ação  depois  
de  esta  já  ter  começado  e  de  já  haver  uma  ou  mais  peças  processuais;  
•   Convite  ao  suprimento  das  exceções  dilatórias  (artigo  590º/2,a,  CPC);  
 
Estes  institutos  são  apenas  exemplos  deste  principio  da  economia  de  processos.  Contudo,  como  qualquer  principio,  
o   principio   da   economia   de   processos   deve   orientar   a   atuação,   designadamente   do   juiz,   em   todos   os   momentos.  
Portanto,  num  caso  em  que  o  juiz  tenha  de  tomar  uma  opção  entre  uma  solução  que  permite  economia  de  processos,  
assim  o  deverá  fazer.  
 
Economia  de  atos:  dentro  de  cada  processo  deve  haver  o  menor  número  de  atos  possível,  devendo  cada  ato  ser  o  
mais  simples  possível.  Podemos  encontrar  exemplos  desta  vertente:  
•   Artigo  130º:  “não  é  licito  realizar  no  processo  atos  inúteis”;  
•   Artigo  131º/1:  “os  atos  processuais  têm  a  forma  que,  nos  termos  mais  simples,  melhor  corresponda  ao  fim  
que  visam  atingir”;  
 
O  conteúdo  deste  principio  sobrepõe-­‐se  em  grande  medida  ao  principio  da  adequação  procedimental.  
 
13.2.2.  Princípio  da  razoabilidade  dos  prazos  
 
Fala-­‐se  aqui  de  economia  temporal.  Daqui  resulta  que  o  processo  deve  ter  a  menor  duração  possível  e  nunca  uma  
duração  superior  à  que  é  considerada  razoável.  
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Este  principio  é  tão  importante  que  tem  assento  constitucional  no  artigo  20º/4  da  CRP.    
De  nada  serve  propor  uma  ação  para  conseguir  um  fim  e  apenas  conseguir  uma  decisão  quando  o  problema  se  
esgotava  num  período  de  tempo  muito  inferior.  Uma  decisão  só  é  útil  se  for  tomada  enquanto  o  problema  ainda  existe.  
Justifica-­‐se  então,  com  forma  de  proteger  o  acesso  ao  direito,  que  a  constituição  preveja  que  os  processos  têm  de  ter  
uma  duração  razoável.  
Não  há,  efetivamente,  acesso  ao  direito  se  eu  propor  hoje  uma  ação  e  só  tiver  uma  solução  daqui  a  20  anos.  O  
problema  não  foi  resolvido  pelo  que  não  houve  realmente  acesso  ao  direito.  
 
Este  principio  deve  ser  uma  preocupação  do  juiz,  mas  sobretudo  uma  preocupação  do  Estado,  já  que  o  juiz  não  
controla  grande  parte  dos  fatores  que  influenciam  a  duração  do  processo.  
 
Nota:  As  durações  médias  dos  processos  têm  sido  bastante  longas  nos  últimos  anos  (37  meses  nos  processos  cíveis,  
desde  2013).  
 
Tendo  assento  constitucional,  este  principio  é  um  direito  fundamental.  Se  temos  o  direito,  o  Estado  tem  o  dever,  
pelo  que  se  houver  incumprimento  pode  exigir-­‐se  da  parte  do  Estado  de  uma  indemnização:  responsabilidade  civil  do  
Estado.  
Este  principio  tem  também  acolhimento  no  artigo  6º  da  CEDH:  “qualquer  pessoa  tem  direito  a  que  a  sua  causa  seja  
examinada,  equitativa  num  prazo  razoável”.  
 
13.2.3.  Principio  da  orientação  para  a  autocomposição  do  litígio  
 
Este  principio  determina  que  sempre  que  possível,  o  litigo  deve  ser  resolvido  pelas  próprias  partes.  Isto  é,  a  decisão  
para  determinado  conflito  deve  ser,  em  primeira  linha,  das  partes  e  só  se  isso  não  for  possível,  do  juiz.  
Os  casos  em  que  as  partes  resolvem  o  seu  próprio  conflito  têm  duas  vantagens:  
•   Poupança  de  recursos;  
•   Solução  à  medida  daquele  caso  concreto  e  não  fruto  da  aplicação  de  uma  norma  geral  (que  não  têm  em  conta  
todas  as  circunstâncias  de  um  caso);  
 
Incentivos  à  resolução  pela  mediação:  
•   Artigo   273º/1,   CPC:   em   qualquer   estado   da   causa,   e   sempre   que   o   entenda   conveniente,   o   juiz   pode  
determinar  a  remessa  do  processo  para  mediação,  suspendendo  a  instância,  salvo  quando  alguma  das  partes  
expressamente  se  opuser  a  tal  remessa.  
•   Artigo  13º/2,  LM:  se  suspendem  os  prazos  de  caducidade  e  prescrição  dos  direitos  enquanto  estiver  a  decorrer  
um  processo  de  mediação.  Se  eu  tiver  um  direito  prestes  a  prescrever,  eu  não  preciso  de  propor  uma  ação  
judicial   para   impedir   que   o   direito   prescreva,   pode   recorrer-­‐se   à   mediação,   durante   a   qual   o   prazo   vai  
suspender.  
•   Artigo  533º/4,  CPC:  o  autor  que,  podendo  recorrer  a  estruturas  de  resolução  alternativa  de  litígios,  opte  pelo  
recurso  ao  processo  judicial,  suporta  as  suas  custas  de  parte,  independentemente  do  resultado  da  ação.  
 
13.2.3.1.A  conciliação  judicial  
 
A  conciliação  judicial  é  um  meio  de  resolução  de  litígios  pelo  qual  o  terceiro  ajuda  as  partes  a  chegar  a  uma  solução  
para  o  seu  litigio.  A  diferença  para  com  a  mediação  é  que  na  conciliação,  o  terceiro  tem  posterior  poder  de  decisão:  
•   Juiz  
•   Arbitro  
•   Empregador  num  processo  judicial  
 
 

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O  poder  de  decisão  posterior  afeta  duas  das  principais  características  da  mediação:  
•   Confidencialidade:   é   essencial   para   que   haja   confiança   e,   muitas   vezes,   numa   passagem   das   posições   aos  
interesses;  a  parte  nunca  vai  admitir  nada  que  possa  comprometer  o  futuro  sucesso  da  ação;  
•   Empowerment:  não  há  plenos  poderes  das  partes  
 
Não  temos  no  Ordenamento  Jurídico  regime  para  a  conciliação.  Apenas  existe  regime  para  a  conciliação  judicial  
(artigo  594º  do  CPC).  
 
  Quando  a  causa  couber  no  âmbito  dos  poderes  de  disposição  das  partes,  pode  ter  lugar,  em  qualquer  estado  do  
processo,  tentativa  de  conciliação,  desde  que  as  partes  conjuntamente  o  requeiram  ou  o  juiz  a  considere  
“Em  qualquer  estado  do  processo”  
  oportuna,  mas  as  partes  não  podem  ser  convocadas  exclusivamente  para  esse  fim  mais  do  que  uma  vez”  
A  tentativa  de  conciliação  pode  ter  lugar  em  qualquer  estado  do  processo  
 
Qualquer  estado  do  processo:  
•   Pode  ser  uma  das  finalidades  da  audiência  prévia  (artigo  591º/1,  a)  
•   Pode  ser  realizada  na  audiência  final  (artigo  604º/1)  
•   Pode  ser  realizada  em  qualquer  momento  do  processo  
 
Podendo  ocorrer  em  qualquer  momento  do  processo  é  obrigatória  em  algum  momento?    
Não,  apesar  de  o  artigo  604º  estabelecer  que  o  juiz  procura  conciliar  as  partes.  Este  artigo  tem  de  ser  conjugado  
com  o  artigo  594º  -­‐  “quando  o  juiz  considerar  oportuno”.  
 
Este  entendimento  está  em  linha  com  os  princípios  do  atual  processo  civil,  designadamente  com  o  principio  da  
gestão  processual.  
É  também  o  único  entendimento  que  se  adequa  à  natureza  de  conciliação  (apenas  é  útil  nalguns  casos,  não  deve  
ser  encarada  como  um  obstáculo  processual  a  passar  rapidamente).  
 
è  Há  um  caso  em  que  a  conciliação  é  obrigatória:  sempre  que  as  partes  o  requeiram  conjuntamente.  
 
O  papel  do  juiz  na  tentativa  de  conciliação  aufere-­‐se  de  acordo  com  o  artigo  594º/3.  De  acordo  com  este  artigo,  a  
tentativa   de   conciliação   é   presidida   pelo   juiz,   devendo   este   empenhar-­‐se   ativamente   na   obtenção   da   solução   de  
equidade  mais  adequada  aos  termos  do  litigio.  
A  principal   pergunta  que  se  coloca  é  saber  se  o  juiz   pode/deve  controlar   o   conteúdo  do  que  ali  é   discutido.  A  
conclusão  é  que  na  conciliação  o  juiz  controla  o  processo  e,  em  parte,  o  resultado  e  as  partes  controlam  o  conteúdo.  
 
Resultado  da  conciliação:  
•   Desistência  do  pedido:  o  autor  pode  entender  que  quer  desistir  do  pedido;  
•   Desistência  da  instância:  o  autor  não  abdica  do  seu  direito,  mas  abdica  do  processo  naquele  momento,  o  que  
não  quer  dizer  que  não  possa  propor  nova  ação  no  futuro;  
•   Confissão:  o  réu  confessa  que  o  autor  tem  razão;  
•   Transação:  as  partes  alcançam  o  acordo;  
•   Sem  sucesso;  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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No  caso  de  uma  conciliação  com  sucesso,  o  juiz  controla  o  resultado  através  da  homologação  (artigo  290º).  
O  juiz  não  tem  de  confirmar  se  aquele  acordo  a  que  se  chegou  trouxe  a  mesma  solução  que  o  direito  traria  para  
aquele  caso,  ou  se  a  solução  é  sequer  justa.  O  juiz  não  se  deve  deixar  contaminar  pelo  seu  conhecimento  jurídico,  
procurando  vetar  o  acordo  por  qualquer  motivo.  
O  juiz  apenas  controla  a  validade  daquela  declaração/contrato:  
•   Capacidade  
•   Legitimidade  
•   Objeto  (artigo  280º)  –  impossível,  contrário  à  lei  ou  á  ordem  pública  
 
O  juiz  controla  se  as  partes  poderiam  celebrar  aquele  contrato  fora  do  processo.  Não  se  seria  aquela  a  solução  
que  o  direito  tem  para  o  caso,  nem  se  uma  das  partes  cedeu  mais  do  que  outra.  
 
Alguns  motivos  de  insucesso  da  conciliação  podem  ser:  
•   Falta  de  preparação  dos  juízes  
•   Mentalidades  
•   Falta  de  tempo  
 
Esta  é  uma  fase  que  pode,  nalguns  casos,  e  se  bem  conduzida,  pode  ser  muito  útil  para  a  prossecução  do  objetivo  
do  processo  civil  –  resolver  o  litígio  entre  as  partes.  
Enquanto  instituto  pode,  ainda,  contribuir  para  a  melhoria  da  qualidade  da  justiça.  
 
13.3.  O  principio  da  gestão  processual  
Artigo  6º,  CPC.  
 
1.   Cumpre  ao  juiz,  sem  prejuízo  do  ónus  de  impulso  especialmente  imposto  pela  lei  às  partes,  dirigir  ativamente  o  
processo   e   providenciar   pelo   seu   andamento   célere,   promovendo   oficiosamente   as   diligências   necessárias   ao  
normal  prosseguimento  da  ação,  recusando  o  que  for  impertinente  ou  meramente  dilatório  e,  ouvidas  as  partes,  
adotando  mecanismos  de  simplificação  e  agilização  processual  que  garantam  a  justa  composição  do  litígio  em  prazo  
razoável.  
2.   O   juiz   providencia   oficiosamente   pelo   suprimento   da   falta   de   pressupostos   processuais   suscetíveis   de   sanação,  
determinando  a  realização  dos  atos  necessários  à  regularização  da  instância  ou,  quando  a  sanação  dependa  de  ato  
que  deva  ser  praticado  pelas  partes,  convidando  estas  a  praticá-­‐lo.  
 
13.3.1.  Evolução  histórica  
 
Antes  do  CPC  de  2013,  tínhamos  o  CPC  de  1939  onde  tínhamos  dois  pontos  essenciais:  
•   Principio  do  dispositivo:  o  andamento  do  processo  dependia  do  impulso  das  partes  e  não  dependia  do  juiz;  
isto  queria  dizer  que  eram  as  partes  que  tinham  a  responsabilidade  de  propor  a  ação.    
•   Principio   da   legalidade   das   formas:   o   juiz   não   podia   alterar   as   regras   de   tramitação   do   processo   nem   o  
conteúdo   ou   a   forma   dos   atos   processuais.   Aquilo   que   era   dado   ao   juiz   era   um   guião   que   o   juiz   tinha,  
basicamente,  que  seguir.  O  que  se  pretendia  era  assegurar  a  certeza  e  a  previsibilidade  do  processo.    
 
Depois  disto,  houve  uma  grande  reforma  processual  em  95/96  que  levou  a  que  alguns  destes  princípios  fossem  
alterados.  
 
No  principio  do  dispositivo:  
•   Manteve-­‐se  a  necessidade  de  impulso  inicial  correspondente  à  propositura  da  ação;  
•   Uma  vez  proposta  a  ação,  cabe  ao  juiz  providenciar  pelo  andamento  do  processo,  salvo  quando  a  lei  exija  um  
impulso  das  partes  (artigo  256º/1);  
 
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No  principio  da  legalidade  das  formas  processuais:  
•   A  legalidade  das  formas  manteve-­‐se  como  regra  
•   Adequação  formal  (artigo  265ºA):  o  juiz  pode  introduzir  variações  no  esquema  legal  se  este  for  desadequado  
às  particularidades.  Enquanto  no  CPC  de  39  era  sempre  necessário  convocar  uma  audiência  na  fase  intermédia  
do  processo,  ao  abrigo  da  adequação  formal  essa  audiência  deixou  de  ser  obrigatória  (pode  ser  dispensada  se  
as  partes  já  discutiram  tudo  o  que  havia  a  discutir).  
   
Ainda  na  reforma  de  95/96:  
•   Alterou-­‐se  também  a  orientação  para  a  decisão  de  mérito,  na  qual  se  passou  a  exigir  uma  intervenção  ativa  
do  juiz  na  sanação  da  falta  de  pressupostos  processuais  sanáveis  (artigo  265º/2).  
•   A  economia  processual  (artigo  137º  e  37º/2)  passou  a  concretizar-­‐se  em  dois  subprincípios  (economia  dos  
atos  dentro  do  próprio  processo  e  economia  de  processos  numa  perspetiva  de  concentrar  no  mesmo  processo  
a  apreciação  de  tantas  questões  quanto  fosse  possível).  
 
Procedeu-­‐se  desta  forma  até  2006,  altura  em  que  surgiu  um  processo  experimental  que  assentava  em  dois  aspetos  
essenciais:  
•   O  juiz  assume  um  papel  determinante  na  direção  do  processo;  
•   A   instrumentalidade   do   processo   civil   face   ao   direito   substantivo   conduz   à   mitigação   do   formalismo  
processual.   O   processo   serve   para   atingir   um   fim:   a   ideia   é   que   não   é   o   fim   que   tem   de   se   adaptar   ao  
instrumento,  é  o  instrumento  que  tem  de  se  adaptar  ao  fim,  daí  que  se  preveja  a  mitigação  do  formalismo,  
quando  esse  formalismo  possa  prejudicar  o  fim  visado.  
 
Quadripartição  pela  qual  se  optou  no  regime  processual  civil  experimental:  
•   Adaptação  da  tramitação  às  necessidades  da  causa;  
•   Adequação  da  forma  e  do  conteúdo  dos  aspetos  processuais;  
•   Eficiência  dos  processos;  
•   Agilização  traduzida  por  alguns  instrumentos;  
 
13.3.2.  O  CPC  de  2013  
 
Chegando  ao  CPC  de  2013,  se  olharmos  para  o  artigo  6º  verificamos  que  o  principio  da  gestão  processual  é  um  
principio   fundamental   do   processo   civil.   Isto   resulta   não   apenas   dos   trabalhos   preparatórios,   da   sua   inserção  
sistemática,  mas  sobretudo  do  papel  que  a  gestão  processual  desempenhou  ao  longo  de  toda  a  reforma.  
 
A  gestão  processual  tem  quatro  vertentes:  
•   Ónus   de   impulsos   subsequente:   cabe   ao   juiz,   sem   prejuízo   do   ónus   de   impulso   subsequente,   dirigir  
ativamente  o  processo  providenciando  oficiosamente  as  diligencias  necessária  ao  decorrer  da  ação.  Não  pode  
o  processo,  salvo  nos  casos  previstos  na  lei,  ficar  parado  por  ausência  de  impulso.  É  verdade  que  há  desvios  
em  relação  a  esta  regra,  mas  a  regra  geral  não  deixa  de  ter  importância  por  isso.  O  importante  é  que  se  tenta  
ao  máximo  que  o  processo  não  fique  parado.  
•   Eficiência  processual:  “recusando  o  que  for  impertinente  ou  meramente  dilatório”.  A  referência  à  eficiência  
abrange  os  atos  das  partes  e  os  atos  do  juiz.  
•   Simplificação  e  agilização  do  processo:  “adotando  mecanismos  de  simplificação  e  agilização  processual  que  
garantam  a  justa  composição  do  litigio  em  prazo  razoável”.  
•   Sanação  da  falta  de  pressupostos  processuais  sanáveis  
 
A   gestão   processual  é  um  macroprincipio  que  agrupa  uma  série  de  outros  aspetos  e  de   outros  princípios.  
Podemos  concordar  ou  discordar  quanto  á  inclusão  de  alguns  destes  princípios  dentro  da  gestão  processual,  mas  esta  
congrega  uma  série  de  ideias  fundamentais.  
 

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A  direção  ativa  do  processo  caracteriza  a  nova  roupagem  da  gestão  processual.  Se,  no  CPC1939,  o  que  se  exigia  do  
juiz  era  uma  abordagem  passiva  –  “andamento  regular  e  célere  do  processo”  -­‐,  no  CPC2013,  aquilo  que  se  exige  é  uma  
abordagem  proactiva  que  dirija  ativamente  e  providencie  pelo  seu  andamento  célere  –  “dirigir  ativamente  o  processo  
e  providenciar  pelo  seu  andamento  célere”.    
Por  exemplo,  se  uma  das  partes  falecer,  no  âmbito  do  código  anterior,  o  juiz  teria  de  notificar  a  parte  contrária  
para  que  juntasse  aos  atos  uma  certidão.  Hoje  em  dia,  o  próprio  juiz  providencia  ele  próprio  a  certidão  através  dos  
registos.  Se  pode  ele  próprio  atuar,  não  há  motivo  para  esperar  pelas  partes.  
 
Dentro  da  agilização  e  da  simplificação  há  duas  posições:  
•   Estas  têm  um  significado  autónomo  (Paulo  Faria,  Ana  Luísa  Loureiro);  
•   Tradução  do  poder  de  adequação  Formal  (Lebre  de  Freitas);    
 
Esta   vertente   de   gestão   processual   não   se   diferencia   das   outras   pela   sua   natureza   vinculada.   A   agilização   e  
simplificação   do   processo   podem   alargar   ou   encurtar   o   guião   processual.   Reconduz-­‐se,   no   essencial,  à   adequação  
formal.  
 
No  CPC  de  2013,  a  gestão  processual  apresenta-­‐se  coma  seguinte  quadripartição:  
•   Impulso  subsequente  
•   Oficiosidade   Quatro  vertentes  que  caracterizam  o  macroprincipio  
•   Adequação  formal   da  gestão  processual  
•   Eficiência  processual  
 
A  adequação  formal  está  prevista  no  artigo  547º  e  tem  três  vertentes:  
o   A  adequação  da  tramitação  às  especificidades  da  causa;  
o   A  adaptação  da  forma  e  conteúdo  dos  atos  processuais;  
o   O  equilíbrio  entre  a  legalidade  e  a  liberdade  das  formas  processuais;  
 
O  juiz  segue  a  forma  legal  podendo  afastá-­‐la  quando:  
o   Desadequada  ao  caso  concreto;  
o   Apesar  de  adequada,  exista  outra  forma  ainda  mais  adequada  ao  caso;  
 
Exemplos:  tramitação  processual  
o   Inquirição  de  testemunhas  na  audiência  prévia;  
o   Alteração  da  ordem  de  produção  da  prova  na  audiência  final;  
o   Réplica  fora  dos  casos  previstos  na  lei;  
Forma  e  conteúdo  dos  atos  processuais  
o   Substituição  do  depoimento  oral  por  depoimento  escrito;  
o   Sentença  oral;  
 
A  gestão  processual  tem  como  finalidades:  
•   A  prevalência  da  decisão  de  mérito  sobre  a  decisão  formal;  este  aspeto  representa  o  principio  da  oficiosidade  
–  o  juiz  deve  providenciar  pela  sanação  da  falta  de  pressupostos  processuais  quando  estes  são  sanáveis,  ou  
sanando  ele  próprio,  ou  convidado  a  parte  a  sanar.  
•   A  obtenção  de  decisão  em  prazo  razoável;  
•   Salvaguardar  a  instrumentalidade  das  regras  processuais  face  ao  direito  substantivo;  
 
 
 
 

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13.3.3.  Recorribilidade  e  gestão  processual    
 
A  regra  geral¸  é  a  da  recorribilidade  das  decisões  judiciais.  Apesar  disto,  existem  limites  na  recorribilidade,  como  
limites  em  razão  do  valor,  por  exemplo.  
Um   outro   limite   são   os   despachos   proferidos   no   uso   de   um   poder   discricionário   (artigo   630º/1).   Estes   são  
irrecorríveis  porque  envolvem  juízos  de  oportunidade.  
Exemplo:   inspeção   judicial   (artigo   490º/1)   –   “sempre   que   o   julgue   conveniente”   remete-­‐nos   para   um   juízo   de  
oportunidade.    
 
è   A  discricionariedade  não  se  confunde  com  a  arbitrariedade.  
 
Os  poderes  discricionários  também  têm  limites.  Deste  modo,  são  recorríveis:  
•   Quando  não  se  verifiquem  os  respetivos  pressupostos  (“uso  legal  do  poder  discricionário”);  
•   Quando  há  uma  violação  dos  princípios  do  processo  equitativo  (artigo  20º/4,  CRP).  O  processo  equitativo  é  
um  limite  a  qualquer  processo  judicial.  O  artigo  630º/2  tem  uma  enumeração  de  alguns  princípios  do  processo  
equitativo,  mas  não  de  todos.  Apesar  de  o  nº1  não  fazer  referência  a  este  principio,  existindo  uma  cláusula  na  
CRP,  esta  prevalece  sobre  regras  processuais.  
 
Controlo  pelo  Tribunal  de  Recurso  
Poder  discricionário   Poder  vinculado  
Controlo  de  legalidade  sem  entrar  no  mérito;   E  controlo  de  legalidade  envolve  a  análise  do  mérito;  
Em  caso  de  ilegalidade:  juízo  cassatório   Em  caso  de  ilegalidade:  juízo  substitutivo  
 
 
Antes   do   CPC   de   2013   não   existia   regra   especial,   pelo   que   a   conclusão   dependia   da   qualificação   do   despacho  
(vinculado  ou  discricionário).  A  doutrina  encontrava-­‐se  dividida.  
Com  a  reforma  de  2013  passou  a  haver  uma  oscilação  entre  a  irrecorribilidade  (2011)  e  a  recorribilidade  (2013).  
Temos   hoje   uma   solução   intermédia   no   artigo   630º/2:   A   regra   consiste   na   irrecorribilidade   dos   despachos   de  
adequação   formal,   mas   estes   despachos   tornam-­‐se   recorríveis   quando   coloquem   em   causa   a   igualdade,   o  
contraditório,  a  aquisição  de  factos  ou  o  direito  à  prova.  
 
Daqui  surgem  varias  questões:  
 
1.   Poder  vinculado  ou  discricionário?  
 
•   A  gestão  processual  compreende  poderes  vinculados  e  discricionários,  o  que  implica  que  esta  seja  um  instituo  
heterogéneo  (Paulo  Ramos  de  Faria/  Ana  Luísa  Loureiro)  
•   Os  despachos  de  adequação  formal  são  proferidos  ao  abrigo  de  um  poder  discricionário  (Miguel  Teixeira  de  Sousa)  
 
O   objetivo   dos   conceitos   indeterminados   não   é   conferir   poderes   discricionários   ao   juiz,   mas   apelar   a   uma  
ponderação  técnica  e  objetiva  face  ao  caso  concreto.  
 
Artigos  6º  e  547º:  cabe  ao  juiz  determinar  o  ato  a  praticar  (discricionariedade  criativa).  Noutros  casos,  a  lei  limita  o  
conteúdo  da  gestão  processual  (tentativa  de  conciliação  –  artigo  594º).  
 
Conclusão:  
•   Quando  se  verifiquem  os  pressupostos  dos  artigos  6º  e  547º  ,  o  juiz  deve  gerir  o  processo  –  poder  de  exercício  
vinculado.  
•   Os  artigos  6º/1  e  547º  atribuem  ampla  liberdade  ao  juiz  na  conformação  do  conteúdo  do  despacho  de  gestão  
processual  –  discricionariedade  de  decisão.  
 
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A  recorribilidade  limitada  não  decorre,  pois,  da  discricionariedade.  Isto  com  os  fundamentos  da:  
•   Efetividade  no  exercício  dos  poderes  de  adequação  formal;  
•   Maior  proximidade  do  juiz  de  1ª  instância  em  relação  ao  processo;  
 
2.   Âmbito  de  aplicação  do  artigo  630º/2  
 
O  artigo  630º/2  só  abrange,  literalmente,  os  despachos  de  adequação  formal.  
 
Interpretação  extensiva:  a  solução  da  recorribilidade  limitada  justifica-­‐se  da  mesma  forma  para  as  restantes  vertentes  
da  gestão  processual.  
 
3.   Recorribilidade  limitada  e  processo  equitativo  
 
O  artigo  630º/2  só  admite  o  recurso  dos  despachos  de  gestão  processual  quando  estes  contendam  com:  
•   Igualdade  
•   Contradição  
•   Aquisição  processual  de  factos  
•   Direito  à  prova  
 
Processo  equitativo  (artigo  20º/4,  CRP)  
•   Prazos  razoáveis;  
•   Direito  à  prova;  
•   Fundamentação;  
•   Contraditório;  
•   Publicidade;  
•   Igualdade;  
•   Transparência;  
•   Justa  composição  do  litígio;  
 
Numa  interpretação  conforme  à  Constituição:  os  despachos  de  gestão  processual  serão  recorríveis  sempre  que  esteja  
em  causa  um  principio  do  processo  equitativo.  
 
Gestão  processual  ®  fundamento  e  limite  no  processo  equitativo  
 
Controlo  pelo  Tribunal  de  Recurso  
Despacho  de  gestão  processual   Omissão  de  gestão  processual  
(poder  vinculado)  
Controlo  limitado  à  violação  do  processo  equitativo;   O  juiz  tem  o  dever  de  gerir  o  processo  
Em  caso  de  ilegalidade:  juízo  cassatório   A  omissão  conduz  a  nulidade  processual*  
   
 
*mesmo  nos  casos  de  omissões  deve  seguir-­‐se  a  regra  do  artigo  630º/2  e  só  quando  está  em  causa  a  violação  do  
processo  equitativo  é  que  é  recorrível.  
No  final,  o  que  se  controla  é  a  violação  do  processo  equitativo  (artigo  630º/2).  
 
13.4.  O  principio  do  dispositivo  
 
No  século  XIX,  o  juiz  desempenhava  o  papel  de  mero  “árbitro”  num  jogo  protagonizado  pelas  partes.  Nos  dias  de  
hoje,   o   juiz   deixa   de   se   reduzir   a   este   papel,   e   passam   a   ser-­‐lhe   atribuídos   mais   poderes,   pautando-­‐se   o   direito  
processual  civil  pela  cooperação  entre  o  tribunal  e  as  partes.  

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Conforme  o  artigo  3º  do  CPC,  o  tribunal  só  poderá  resolver  um  conflito  de  interesses  quando  essa  resolução  tenha  
sido  solicitada  por  uma  das  partes  e  a  outra  tenha  sido  chamada  a  deduzir  oposição.  É  à  parte  interessada  que  cabe  
solicitar  a  tutela  pretendida  para  o  caso  concreto.  
 
De   acordo   com   o   principio   dispositivo   as   partes   dispõem   do   processo,   sendo   a   função   do   juiz   controlar   a  
observância  das  normas  processuais  e,  por  último,  proferir  a  decisão  acerca  do  conflito  de  interesses  que  determinou  
a  propositura  da  ação.  
 
13.4.1.  A  instância  
 
Nos  termos  do  artigo  3º/1,  CPC,  o  impulso  processual  inicial  é  exclusivo  do  autor.  Após  a  propositura  da  ação,  
momento  em  que  se  constitui  a  instância  (artigo  259º/1),  cabe  ao  juiz  providencia  pelo  andamento  do  processo.  
 
A  instância  consiste  na  elação  jurídica  entre  o  autor  e  o  tribunal.  Com  a  citação  (artigo  259º/2),  o  ato  de  propositura  
passa  a  produzir  efeitos  em  relação  ao  réu  e  a  relação  jurídica  torna-­‐se  triangular:  partes  e  o  tribunal.  
 
Na   pendência   da   causa,   as   partes   podem   acordar   a   suspensão   da   instância,   desde   que   por   períodos   que,  
combinados,  não  excedam  os  3  meses  (artigo  274º/4).  
Au  autor,  é  também  dada  a  possibilidade  de  desistência  da  instância,  que  consiste  na  declaração  expressa  de  querer  
renunciar  à  ação  proposta,  sem  simultaneamente  renunciar  aos  direitos  que  através  dela  quis  fazer  valore  (artigo  
285º/2)  
 
A  lei  admite  que  as  partes  disponham  das  situações  jurídicas  que  são  objeto  de  pretensão,  de  forma  unilateral  ou  
bilateral,  por  termo  do  processo  ou  fora  deste  (artigo  289º/1).  
Os  negócios  jurídicos  de  autocomposição  do  litigio,  sendo  de  natureza  substantiva  (na  medida  em  que  as  partes  
atuam  diretamente  sobre  as  situações  jurídicas  que  são  objeto  da  pretensão  com  um  claro  efeito  negocial),  tratam-­‐se  
de  atos  de  autonomia  privada,  e  devem  ser  excluídos  do  âmbito  do  dispositivo.  
 
Ao  propor  a  ação  o  autor:  
•   Formula  o  pedido  
•   Disponibiliza  a  providência  requerida   Conformação  do  objeto  do  processo  
•   Afirma  uma  situação  jurídica  ou  um  efeito  querido  
•   Fundamenta  a  causa  do  pedido  
 
No  entanto,  este  objeto  inicial  pode:  
•   Ser  ampliado  pela  dedução  do  pedido  do  réu  contra  o  autor  –  reconvenção  (artigo  266º)  
•   Ser  alterado  ou  ampliado  por  acordo  das  partes  em  qualquer  momento  do  processo,  em  1ª  ou  2ª  instância  
(artigo  264º)  
•   Ser  reduzido  ou  ampliado  até  ao  encerramento  da  discussão  em  1ª  instância  por  qualquer  umadas  partes  –  
desistência  parcial  (artigo  283º)  
 
Na   petição   inicial,   o   autor   identifica   também   o   réu  (artigo   552º/1,   a),  podendo  ainda  a  ocorrer  a  intervenção  
superveniente  de  terceiro.  Não  pode,  nunca,  ser  o  juiz  a  chamar,  por  sua  iniciativa,  o  terceiro  a  intervir.  
 
è   É  exclusiva  das  partes  a  conformação,  tanto  objetiva,  como  subjetiva.  
 
Quanto  à  matéria  de  facto,  é  também  às  partes  que  cabe  alegar  os  factos  (artigo  141º)  principais  da  causa,  não  
podendo  nunca  o  juiz  substituir-­‐se  a  uma  das  partes  na  produção  de  factos,  pode  sim  convidá-­‐las  a  suprir  insuficiências  
ou  imprecisões  na  matéria  de  facto  exposta  nos  articulados.  

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Está  aqui  presente  a  ideia  do  monopólio  das  partes  na  alegação  dos  factos  principais  da  causa.  Cada  uma  das  
partes  tem  como  que  um  ónus  de  alegação  dos  factos  que  lhe  são  favoráveis.  
Existem  exceções  a  este  monopólio,  nomeadamente  factos  de  conhecimento  oficiosos  como  o  facto  notório  e  o  
facto  que  o  tribunal  conhece  no  exercício  das  suas  funções  (artigo  412º)  e  simulação  do  litigio  (Artigo  612º).  
Facto  notório  será  aquele  que  é  cognoscível  pela  generalidade  das  pessoas  de  determinada  esfera  social,  que  deve  
abranger  o  juiz  e  as  partes.  
Os  factos  instrumentais,  não  carecendo  de  alegação,  são  oficiosamente  considerados  como  meio  de  atingir  a  prova  
(direta  ou  indireta)  dos  factos  principais  (artigo  5º/2,  a  CPC).  
Podendo  dizer-­‐se  que  as  partes  têm  o  poder  de  disposição  dos  factos  que  introduzem  no  processo,  nada  impede  
o  acordo  das  partes  sobre  a  realidade  dos  factos  da  causa  até  ao  encerramento  da  discussão  em  1ª  instância,  momento  
em  que  cessa  a  possibilidade  de  exercício  de  faculdades  processuais  relativas  á  alegação  e  prova  dos  factos.  
 
13.4.2.  Petição  inicial  
 
É  na  fase  dos  articulados  que  são  definidos  os  termos  da  ação.  Segundo  o  artigo  147º/1  “os  articulados  são  as  
pelas  em  que  as  partes  expõem  os  fundamentos  da  ação,  e  da  defesa,  e  formulam  os  pedidos  correspondentes”.  
A   petição   inicial   é   o   articulado   em   que   o   autor   propõe   a   ação,   formulando   a   tutela   jurisdicional   pretendida,  
juntamente  com  os  respetivos  fundamentos  de  facto  e  de  direto.  Em  regra,  o  juiz  só  pode  ter  em  conta   os  factos  
essenciais  alegados  pelas  partes,  adquirindo  a  petição  inicial,  uma  importância  basilar  em  todos  o  processo.  
O  artigo  522º  elenca  uma  série  de  requisitos  relativos  à  petição  inicial,  relevando  essencialmente  dois:  
•   A   exposição   dos   factos   essenciais   que   constituem   a   causa   de   pedir   e   as   razões   de   direito   que   servem   de  
fundamento  à  ação  (alínea  d)  
•   A  formulação  do  pedido  (alínea  e)   Facto  jurídico  de  que  depende  a  pretensão  
  do   autor,   e   o   pedido   traduz-­‐se   no   efeito  
  jurídico   pretendido   pelo   autor,   como  
  forma  de  tutela  do  seu  interesse  
 
13.4.2.1.  Causa  de  pedir  
 
A  parte  da  petição  inicial  em  que  o  autor  expõe  os  factos  e  as  razões  de  direito  que  servem  de  fundamento  à  ação  
apelida-­‐se  narração.  Esta  nem  sempre  se  deve  circunscrever  aos  factos  considerados  essenciais,  podendo  expandir-­‐
se,   nomeadamente,   quando   a   causa   de   pedir   seja   complexa.   Nestes   casos,   devem   alegar-­‐se   os   factos   de  natureza  
complementar  e  instrumental,  que  permitam  atingir  a  prova  dos  factos  principais.  
 
Em  relação  à  causa  de  pedir,  encontramos  um  monopólio  das  partes,  uma  vez  que  se  considera  que  elas,  melhor  
do  que  ninguém,  conhecem  os  factos  relevantes  no  âmbito  das  suas  relações  jurídicas,  de  forma  a  construir  o  material  
fático  da  causa.  E  presume-­‐se,  ainda,  que  tudo  aquilo  que  alegam  é  verdadeiro,  uma  vez  que  não  têm  o  direito  de  
mentir.  
Assim,  conforme  o  artigo  5º/1  CPC,  recai  sobre  as  partes  o  ónus  de  alegação  dos  ‘factos  essenciais  que  constituem  
a  causa  de  pedir  e  aqueles  em  que  se  baseiam  as  exceções  invocadas’.  
O  artigo  581º/4  CPC  indica-­‐nos  que  ´há  identidade  de  causa  de  pedir  quando  a  pretensão  deduzida  nas  duas  ações  
procede  do  mesmo  facto  jurídico’.  Em  jeito  de  exemplificação,  esclarece  que  nas  ações  reais  a  causa  de  pedir  é  o  facto  
jurídico  de  que  deriva  o  direito  real’  e  que  ‘nas  ações  constitutivas  e  de  anulação  é  o  facto  concreto,  ou  a  nulidade  
específica,  que  se  invoca  para  obter  o  efeito  pretendido’.  
Acrescento  que  nas  ações  de  responsabilidade  civil  extracontratual  encontramos  uma  causa  de  pedir  complexa,  
uma  vez  que  envolve  a  situação  de  facto  de  onde  emerge  o  direito  à  indemnização,  tendo  ainda  de  ser   alegada  a  
matéria  de  facto  relacionada  com  o  evento,  a  ilicitude,  a  culpa,  os  danos  e  o  nexo  de  causalidade  entre  o  evento  e  os  
danos.  
 
 

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13.4.3.2.  Pedido  
 
A  parte  da  petição  inicial  em  que  o  autor  formula  a  tutela  jurídica  que  pretende  obter,  o  mesmo  que  dizer,  o  pedido,  
é  a  conclusão.  O  pedido  surge,  assim,  como  o  resultado  da  soma  da  narração  dos  factos  e  do  seu  enquadramento  no  
sistema  legal,  sendo  ‘determinado  formalmente  pela  providência  requerida,  e  materialmente  pela  afirmação  de  uma  
situação   jurídica,   de   um   efeito   querido   ou   de   um   facto   jurídico’.   Devido   ao   estatuído   no   artigo   609º/1   CPC,   a  
formulação  do  pedido  constitui  um  forte  limite  à  sentença  da  ação  proposta,  uma  vez  que,  o  juiz  não  pode  condenar  
em  quantidade  superior,  ou  em  objeto  diferente  do  que  se  pedir,  sob  pena  de  nulidade  da  sentença,  artigo  615º/1,  e)  
CPC.  
 
Existem  diferentes  formas  de  pedido,  sendo  importante  distinguir,  ainda  que  abreviadamente,  cada  uma  delas:  
•   Os   pedidos   alternativos,   previstos   no   artigo   553º   CPC,   são   permitidos   em   relação   a   direitos   que   por   sua  
natureza,  ou  origem,  sejam  alternativos,  ou  que  se  possam  resolver  em  alternativa.  Quando  a  escolha,  nas  
obrigações  alternativas,  couber  ao  autor,  o  pedido  por  ele  formulado  deve  ser  fixo  porque,  caso  contrário,  
presumir-­‐se-­‐á  que  o  mesmo  renunciou  ao  direito  de  escolher.    
•   Os  pedidos  subsidiários,  previstos  no  artigo  554º  CPC,  são  aqueles  que  são  apresentados  ao  tribunal  com  o  
objetivo  de  só  serem  considerados  no  caso  de  improcedência  do  pedido  anterior.  Estes  pedidos  têm  lugar,  
regra  geral,  quando  o  autor  tem  dúvidas  acerca  do  êxito  da  sua  pretensão,  de  forma  a  evitar  o  risco  de  ver  
precludido  o  seu  direito,  com      improcedência  da  ação.    
•   A  cumulação  de  pedidos,  prevista  no  artigo  555º  CPC,  acontece  quando  o  autor  deduz  contra  o  mesmo  réu,  
num  só  processo,  vários  pedidos  compatíveis,  caso  não  se  verifiquem  circunstâncias  que  impeçam  a  coligação.    
•   Os   pedidos   genéricos,   previstos   no   artigo   556º   CPC,   podem   ser   formulados   em   três   situações   diferentes:  
‘quando  o  objeto  imediato  da  ação  seja  uma  universalidade,  de  facto  ou  de  direito’,  quando  não  seja  possível  
determinar,  de  modo  definitivo,  as  consequências  do  facto  ilícito’  e  ‘quando  a  fixação  do  quantitativo  esteja  
dependente  da  prestação  de  contas  ou  de  outro  ato  que  deva  ser  praticado  pelo  réu’.    
•   Quanto  aos  pedidos  de  prestações  vincendas,  previstos  no  artigo  557º  CPC,  é  importante  esclarecer  que  são  
permitidos,  porque,  nº1,  quando  estamos  perante  prestações  periódicas,  em  que  o  devedor  deixa  de  pagar,  o  
pedido   pode   compreender   tanto   as   prestações   vencidas,   como   as   que   se   vencerem   enquanto   subsistir   a  
obrigação,  pretendendo-­‐se  evitar  que  o  autor  tenha  de  propor  sucessivas  ações  declarativas  contra  o  réu.  Ou  
pode  pedir-­‐se  a  condenação  em  prestações  futuras,  nos  casos  elencados  no  nº2.  
 
13.4.3.3.  Ineptidão  da  petição  inicial  
 
A  ineptidão  é  um  vício  próprio  da  petição  inicial  (artigo  186º  CPC)  em  que  tudo  se  passa  no  âmbito  do  pedido  e  da  
causa  de  pedir:  a  falta  ou  ininteligibilidade  de  algum  deles,  a  contradição  entre  ambos  e  a  sua  cumulação  indevida.  
 Pretende-­‐se,   através   desta   figura,   evitar   que   o   tribunal   seja   colocado   na   situação   de   impossibilidade  de  julgar  
corretamente  a  causa,  considerando-­‐se  nulo  o  processo  em  que  for  inepta  a  petição  inicial.  
•   A  falta  ou  ininteligibilidade  do  pedido  ou  da  causa  de  pedir  concretiza-­‐se  na  falta  da  indicação  dos  parâmetros  
que  hão  de  limitar  a  atividade  do  juiz,  no  seguimento  do  artigo  609º  CPC,  conforme  anteriormente  referido.  
A   ineptidão   verifica-­‐se  tanto  nos  casos  em  que  é  totalmente  omitido  o  pedido,  como  nos  casos   em   que  o  
pedido  é  formulado  em  termos  ininteligíveis,  que  impeçam  saber  qual  a  tutela  jurídica  pretendida,  por  via  da  
ação.  O  mesmo  se  pode  dizer  em  relação  à  causa  de  pedir,  uma  vez  que  da  sua  falta,  ou  ininteligibilidade,  
resulta  não  se  saber  qual  o  facto,  ou  ato  jurídico,  em  que  o  autor  fundamentou  o  seu  pedido.  Nos  casos  em  
que  o  pedido,  ou  a  causa  de  pedir,  estão  redigidos  de  forma  incorreta,  o  autor  deve  ser  convidado  a  suprir  as  
imprecisões,  artigo  590/º3  CPC.    
•   A  contradição  entre  o  pedido  e  a  causa  de  pedir  resulta,  igualmente,  em  ineptidão,  uma  vez  que  a  petição  
inicial  tem  de  corresponder  a  um  raciocínio  lógico,  entre  as  razões  de  direito  e  os  fundamentos  de  facto.  A  
contradição  acontece,  por  exemplo,  quando  é  invocada  a  nulidade  do  contrato  pelo  autor  que,  mesmo  assim,  
pede  a  condenação  no  pagamento  de  importância  devida  por  força  do  mesmo  contrato.    
•   A  cumulação  de  causas  de  pedir  ou  pedidos  incompatíveis  também  determina  a  ineptidão  da  petição  inicial,  
mesmo  sendo  conferida  ao  autor  a  possibilidade  de  formular  diversos  pedidos  contra  o  mesmo  réu,  como  
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visto  anteriormente.  Devem  considerar-­‐se  incompatíveis  os  pedidos  que  mutuamente  se  excluem  e  os  que  
assentam   em   causas   de   pedir   inconciliáveis.   Tendo   o   autor   formulado   dois   pedidos   incompatíveis,   não   há  
possibilidade  de  saber  qual  é,  verdadeiramente,  a  sua  pretensão.      
 
13.5.  O  principio  do  inquisitório  
 
O  principio  do  inquisitório  releva  pelas  suas  implicações  em  matéria  probatória.  
Este   principio   traduz-­‐se   no   dever   do   juiz   de   realizar   ou   ordenar   oficiosamente   as   diligências   necessárias   ao  
apuramento  da  verdade  (artigo  411º,  CPC).  Contrapõe-­‐se  ao  princípio  da  controvérsia:  na  instrução  do  processo,  ao  
juiz  cabe  a  iniciativa  e  às  partes  do  dever  de  colaborar.  
Não  obstante,  a  possibilidade  de  iniciativa  no  campo  da  instrução,  acentuada  pela  revisão  de  95/96,  cada  uma  das  
partes  tem  o  ónus  da  prova  dos  factos   cujo  efeito  lhe  é  favorável,  paralelamente  ao  ónus  da  sua  alegação.  Só  em  
principio  estes  dois  ónus  assentam  nas  mesmas  regras,  deixando  tal  de  acontecer  quando  se  dá  a  inversão  do  ónus  da  
prova,  que  não  dispensa  nunca  o  ónus  de  alegação.  
 
13.6.  Principio  da  cooperação  
 
Na  teoria  do  negócio  jurídico  existe  um  dever  principal  (prestação)  e  existem  deveres  anexos  e  de  proteção.    

Os   deveres   anexos   visam   assegurar   o   cumprimento   da   prestação   de   forma   a   que   o   credor   possa   retirar   dela   o  
benefício  esperado:  visa  assegurar-­‐se  o  cumprimento  de  acordo  com  a  finalidade  que  subjaz  à  prestação;  os  deveres  
de   proteção   visam   evitar   a   produção   de   danos   e,   portanto,   visam   também   o   cumprimento   de   acordo   com   tal  
finalidade.  A  fonte  destes  deveres  anexos  e  de  proteção  é  a  boa-­‐fé  (primazia  da  materialidade  subjacente).  

Os  deveres  anexos  e  de  proteção  implicam  a  cooperação  entre  as  partes,  nomeadamente  impondo-­‐lhes  deveres  
de  esclarecimento,  de  lealdade  (deveres  anexos)  e  de  proteção.  

A  distinção  entre  dever  principal  e  deveres  anexos  e  de  proteção  pode,  com  vantagem,  ser  transplantada  para  o  
direito  processual.  Também  no  âmbito  processual  é  possível  identificar  um  “dever”,  um  objetivo  principal,  que  é  a  
“justa  composição  do  litígio”,  bem  como  deveres  anexos  (e  de  proteção)  relativamente  ao  principal  mas  essenciais  
para  assegurar  a  realização  daquele;  neste  âmbito  os  deveres  anexos  e  de  proteção  são  aqueles  que  decorrem  do  
principio  processual  da  cooperação.  Porquê?  Porque  ao  procurar-­‐se  atingir  qualquer  objetivo  através  do  cumprimento  
de   determinadas   regras   (algo   que   ocorre   tanto   nos   negócios   jurídicos   como   no   processo)   é   possível   perverter   o  
cumprimento  de  regras  de  modo  a  que  o  objetivo  não  seja  cumprido.  
 
13.6.1.  Deveres  de  cooperação  decorrentes  do  principio  da  cooperação  
 
O  princípio  da  cooperação  engloba  os  seguintes  deveres:  

•   Dever  de  esclarecimento;  


•   Dever  de  lealdade;  
•   Dever  de  proteção.  

Note-­‐se  que  cada  regra  que  veremos  é  simultaneamente  a  decorrência  de  mais  do  que  um  destes  deveres  (pois  
todos  eles  estão  ligados  em  função  da  sua  origem  comum,  que  é  a  boa-­‐fé),  mas  é  possível  identificar  uma  dimensão  
essencial,  um  dever  que  é  principalmente  assegurado  em  cada  regra,  ainda  que  sem  excluir  os  demais.    
 
 
 
 
 

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13.6.1.1.  Dever  de  esclarecimento  
 
O  dever  de  esclarecimento  é  um  dever  do  juiz.  O  juiz  deve  então:  

•   Procurar  esclarecer  (alertar)  as  partes  relativamente  a  quaisquer  aspetos  de  facto  ou  de  direito  que,  no  seu  
entendimento,   elas   não   conheçam   e   devam   passar   a   conhecer,   para   que   se   possam   pronunciar   (vertente  
ativa);  
•   Esclarecer-­‐se  junto  das  partes  relativamente  a  quaisquer  questões  de  facto  ou  de  direito  alegadas  pelas  partes  
de  forma  obscura  ou  incompreensível  (vertente  passiva).  

Como  podemos  ver,  o  dever  de  esclarecimento  divide-­‐se  numa  vertente  ativa  e  numa  vertente  passiva.    

Dentro  da  vertente  ativa,  temos  as  seguintes  ações:  

•   Convite  dirigido  ao  suprimento  de  pressupostos  processuais  (artigos  590º,  nº2,  al.  a)  +  6º,  nº2);  
•   Convite   dirigido   ao   suprimento   de   irregularidades   e   à   clarificação   ou   concretização   das   peças   processuais  
(artigos  7º,  nº2  +  590º,  nº2,  al.  b),  nºs  3  e  4  +  639º,  nº3);  
i)   Suprimento  de  irregularidades  dos  articulados  (590º,  nº3);  
ii)   Suprimento   das   insuficiências   ou   imprecisões   na   exposição   ou   concretização   da   matéria   de   facto  
alegada  (590º,  nº4);  
iii)   Suprimento   de   irregularidades,   insuficiências   ou   imprecisões   no   âmbito   das   conclusões   do   recurso  
(639º,  nº3);  
•   Convite  dirigido  à  correção  do  enquadramento  jurídico  do  caso,  diferente  do  discutido  pelas  partes  (art.  3º,  
nº3  –  princípio  do  contraditório).  

Por  outro  lado,  a  vertente  passiva  traduz-­‐se  essencialmente  no  dever  do  juiz  de  questionar  as  partes  de  modo  a  
tornar  claro  ao  juiz  qual  o  sentido  que  a  parte  pretende  atribuir  a  certa  alegação  de  facto  ou  de  direito  ou  a  um  pedido  
(art.  7º,  nº2).  

Um  exemplo  jurisprudencial  relativo  à  necessidade  de  formular  um  convite  dirigido  à  correção  do  enquadramento  
jurídico  do  Tribunal  da  Relação  de  Coimbra  de  13/11/2012  (AVELINO  GONÇALVES):  «Estaremos  perante  uma  decisão  
surpresa  quando  ela  comporte  uma  solução  jurídica  que  as  partes  não  tinham  obrigação  de  prever,  quando  não  fosse  
exigível  que  a  parte  interessada  a  houvesse  perspetivado  no  processo,  tomando  oportunamente  posição  sobre  ela  ou,  
no  mínimo  e  concedendo,  quando  a  decisão  coloca  a  discussão  jurídica  num  módulo  ou  plano  diferente  daquele  em  
que  a  parte  o  havia  feito».  
 
13.6.1.2.  Dever  de  lealdade  
 
O  dever  de  lealdade  é  um  dever  essencialmente  dirigido  às  partes  e  a  terceiros,  mas  indiretamente  também  ao  
juiz.  Visa  assegurar  que  os  sujeitos  processuais:  

•   Não  adotem  um  comportamento  que  impeça  ou  onere  desnecessariamente  o  correto  apuramento  da  verdade  
e/ou  do  direito  aplicável  (vertente  negativa);  
•   Adotem   um   comportamento   que   promova   ativamente   o   correto   apuramento   da   verdade   e/ou   do   direito  
aplicável  (vertente  positiva).  

A  vertente  negativa  traduz-­‐se  na  proibição  da  chamada  litigância  de  má-­‐fé,  que  ocorre  se  a  parte,  com  dolo  ou  
negligencia:  

•   “Tiver  deduzido  pretensão  ou  oposição  cuja  falta  de  fundamento  não  devia  ignorar”  (art.  542º,  nº2,  al.  a);  
•   “Tiver  alterado  a  verdade  dos  factos  ou  omitido  factos  relevantes  para  a  decisão  da  causa”  (542º,  nº2,  al.  b);  
•   “Tiver  feito  do  processo  ou  dos  meios  processuais  um  uso  manifestamente  reprovável,  com  o  fim  de  conseguir  
um   objetivo   ilegal,   impedir   a   descoberta   da   verdade,   entorpecer   a   ação   de   justiça   ou   protelar,   sem  
fundamento  sério,  o  transito  em  julgado  da  decisão  (542º,  nº2,  al.  d).  

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A   vertente   positiva   traduz-­‐se,   por   um   lado,   num   dever   genérico   de   todas   as   pessoas   (as   partes   também,  
naturalmente)  de  colaborarem  com  a  descoberta  da  verdade  “respondendo  ao  que  lhes  for  perguntado,  submetendo-­‐
se  às  inspeções  necessárias,  facultando  o  que  for  requisitado  e  praticando  os  atos  que  forem  determinados”  (417º,  
nº1).  Encontramos  concretizações  particulares  deste  dever  genérico  nos  artigos  482º,  nº1  (exame  de  reconhecimento  
de  letra)  e  490º,  nº1  (inspeção  judicial).  

Por  outro  lado,  a  vertente  positiva  engloba  obrigações  específicas  para  as  partes  de  colaborarem  ativamente  na  
descoberta   da   verdade.   Exemplos:   art.   429º   a   431º   (documentos   em   poder   da   parte   contrária);   art.   452º,   nº1  
(comparência  para  depoimento  de  parte);  art.  7º,  nº3  (comparência  para  prestar  esclarecimentos  ao  juiz).  
 
13.6.1.3.  Dever  de  proteção  
 
O  dever  de  proteção,  à  semelhança  do  dever  de  esclarecimento,  é  um  dever  do  juiz.  O  juiz  deve  então:  

•   Promover  ativamente  a  descoberta  da  verdade,  não  se  limitando  à  iniciativa  probatória  das  partes  (vertente  
inquisitorial).  Traduz-­‐se  no  poder-­‐dever  de  o  juiz  requerer  oficiosamente  a  produção  de  prova,  sempre  que  
achar  necessário.  Exemplos:  art.  411º  (dever  genérico  de  inquisitoriedade;  art.  436º,  nº1  (documentos);  art.  
452º,  nº1  (prova  por  confissão  das  partes;  art.  466º,  nº2  (prova  por  declarações  de  parte);  art.  467º,  nº1;  art.  
468º,  nº1,  al.  a)  +  487º,  nº2  (prova  pericial);  art.  490º,  nº1  (inspeção  judicial);  art.  501º  +  516º,  nº4  +  526º,  
nº1  (prova  testemunhal).  
•   Auxiliar  as  partes  no  que  toca  ao  exercício  dos  seus  direitos,  faculdades,  deveres  e  ónus  processuais  (vertente  
assistencial)  –  art.  7º,  nº4.  

O   dever   de   esclarecimento   traduz-­‐se   em   regras   que   têm   simultaneamente   por   finalidade   assegurar   o   dever   de  
proteção.  Todas  as  regras  que  visam  o  dever  de  esclarecimento  visam  também  o  dever  de  proteção  (na   vertente  
assistencial),  mas  nem  todas  as  regras  que  visam  o  dever  de  proteção  (nomeadamente  na  vertente  inquisitorial)  visam  
o  dever  de  esclarecimento.  
 

13.6.2.  Alcance  do  principio  da  cooperação  


 
O  principio  da  cooperação,  enquanto  princípio  jurídico,  não  se  limita  a  enquadrar  soluções  já  previstas  nas  regras  
legais,  podendo  ser  fonte  de  soluções  não  previstas  na  lei  (função  integrativa)  e  pode  mesmo  justificar  a  não  aplicação  
de  soluções  previstas  na  lei  (função  bloqueadora).    

Exemplos:  
•   Função  integrativa  do  princípio  da  cooperação:  
i)   Convite  dirigido  à  correção  do  enquadramento  jurídico  do  caso,  diferente  do  discutido  pelas  partes  –  
dever  de  esclarecimento  (vertente  ativa)  e  de  proteção  (vertente  assistencial);  
•   Função  bloqueadora  do  princípio  da  cooperação:  
i)   O  art.  637º,  nº2,  prescreve  a  recusa  imediata  das  alegações  de  recurso  caso  não  sejam  acompanhadas  
do   acórdão   fundamento,   o   que   é   incompatível   com   o   princípio   da   cooperação   (dever   de  
esclarecimento,   na   vertente   ativa   +   dever   de   proteção,   na   vertente   assistencial),   impondo-­‐se   a  
emissão  de  convite  à  junção  da  cópia  antes  da  rejeição;  
ii)   A  apresentação  de  documentos  em  língua  estrangeira  que  as  partes  e  o  tribunal  não  compreendam  
pode  implicar  que  o  juiz  ordene  a  presentação  de  tradução  parcial,  apenas  das  partes  relevantes,  caso  
seja  patente  que  só  estas  interessam  ao   caso  (art.  134º,  nº1,  que  parece  exigir  a  tradução  total)  –  
evidencia-­‐se  o  dever  de  proteção  na  vertente  assistencial  (está  também  em  causa  a  função  integrativa  
do  princípio  da  economia  processual).  

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13.6.3.  O  incumprimento  
 
Quais  as  consequências  do  incumprimento  de  alguma  das  regras  decorrentes  do  princípio  da  cooperação?  

•   Se  quem  incumprir  for  uma  parte,  deverá  ser  condenada  em  multa  (542º,  nº2,  al.  c);  
•   Se  a  irregularidade  influir  no  exame  ou  decisão  em  causa,  gera-­‐se  uma  nulidade  processual3  (195º,  nº1);  
•   Por  vezes,  a  lei  prevê  consequências  específicas:  exemplo:  art.  417.º,  n.º2  (apreciação  livre  da  recusa  para  
efeitos  probatórios  e,  caso  a  recusa  implique  a  impossibilidade  da  prova,  inversão  do  ónus  da  prova  –  344.º,  
n.º2  do  CC).  
 
16.6.4.  Cooperação  e  imparcialidade  do  juiz  
 
O  princípio  da  cooperação,  nomeadamente  o  dever  de  esclarecimento  na  vertente  ativa  e  o  dever  de  proteção  na  
vertente  assistencial,  pode  por  em  causa  a  imparcialidade  do  juiz  relativamente  à  parte  a  quem  é  dirigida  a  assistência  
do  juiz?  

O  critério  que  devemos  utilizar  para  determinar  se  o  juiz  foi  imparcial  no  exercício  destes  seus  deveres  é  o  seguinte:    

•   Se  o  aspeto  sobre  o  qual  incide  a  assistência  do  juiz  às  partes  (nomeadamente  o  convite)  for  suscitado  por  
algum   elemento,   implícito   ou   explícito,   que   as   partes   mencionaram,   então   não   há   violação   do   dever   de  
imparcialidade;   o   juiz   estará   apenas   a   auxiliar   as   partes.   Exemplo:   o   autor   fundamenta   o   seu   pedido   em  
incumprimento  contratual,  mas  os  factos  que  alega  indiciam  a  existência  de  enriquecimento  sem  causa  e  o  
juiz  convida  as  partes  a  discutirem  esta  possibilidade.  
 
•   Se  o  aspeto  sobre  o  qual  incide  a  assistência  do  juiz  às  partes  (nomeadamente  o  convite)  for  completamente  
novo,  a  que  as  partes  não  aludiram  de  todo,  então  o  juiz  não  estará  a  ser  imparcial;  o  juiz  estará  a  tomar  
partido  por  uma  das  partes.  Exemplo:  o  réu  não  alude  à  figura  do  abuso  de  direito  nem  alega  quaisquer  factos  
do  qual  este  possa  resultar  e  o  juiz  convida  as  partes  a  discutirem  esta  questão  e  alegar  os  eventuais  factos  
respetivos.  
 
16.6.5.  Cooperação  e  caracterização  do  modelo  processual  atual  
 
Os  dois  modelos  processuais  típicos  são  o  adversarial  (predomínio  da  liberdade  e  autonomia  das  partes  e  respetiva  
responsabilização)  e  o  inquisitorial  (predomínio  dos  poderes  do  juiz).  

O   atual   regime   processual   civil   é   orientado   por   interesses,   por   um   lado,   de   natureza   privada   (princípio   do  
dispositivo)  e,  por  outro,  de  natureza  pública  (cooperação  e  economia  processual);  

Assim,   o   regime   processual  civil  segue  um  modelo  intermédio  mais  equilibrado  e  justo:  o  modelo  cooperativo.  
Neste  modelo  as  partes  devem  ter  o  controlo  sobre  a  configuração  do  processo  (interesses  privados  -­‐  dispositivo)  mas  
devem  encontrar  nos  tribunais  as  condições  reais  para  conseguir  que  essas  pretensões  sejam  asseguradas  (interesses  
públicos  -­‐  cooperação  e  economia  processual).  
 
 
 
 

                                                                                                                         
3
 Problema:  as  nulidades  têm,  em  regra,  que  ser  arguidas  pelo  interessado  no  prazo  de  10  dias  desde  o  momento  em  que,  depois  
de  cometida  a  nulidade,  a  parte  interveio  em  algum  ato  no  processo  (arts.  199.º,  n.º1  e  149.º,  n.º1),  mas  a  violação  de  muitas  (não  
todas)  das  regras  decorrentes  do  princípio  da  cooperação  só  é  “descoberta”  aquando  da  sentença.  O  Professor  Teixeira  de  Sousa  
avança  uma  solução:  considerar  que  tal  nulidade  está  “consumida”  pela  nulidade  da  sentença  por  “excesso  de  pronúncia”  (art.  
615.º,  n.º1,  al.  d)  e  n.º4).  
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16.7.  Principio  da  igualdade  
 
O  princípio  da  igualdade  das  partes  ou  “igualdade  de  armas”  corresponde  ao  princípio  constitucional  da  igualdade  
no  plano  processual  e  é  um  princípio  fundamental  do  processo  civil.    

Existem  duas  conceções  sobre  a  igualdade  processual:  

•   Igualdade  formal:  identidade  de  meios,  cominações  e  sanções  processuais.  Exemplos:  mesmo  prazo  para  a  
prática  de  atos  processuais  (art.  588º,  nº3)  e  regras  idênticas  para  a  apresentação  de  meios  de  prova  (arts.  
552º,  nº2  +  572º,  al.  d);  
•   Igualdade   substancial:   além   da   igualdade   formal,   envolve   a   correção   de   assimetrias   extraprocessuais.  
Exemplos:  convite  ao  aperfeiçoamento  dos  articulados  (art.  590º,  nº1)  e  redução  ou  carência  de  multa  em  
caso  de  carência  económica  (art.  139º,  nº8).  

A  doutrina  maioritária  considera  que  a  igualdade  consagrada  é  uma  igualdade  meramente  formal,  pois  rejeita  a  
intervenção  assistencialista  do  juiz  com  base  na  neutralidade  e  equidistância  do  julgador,  afirmando  a  existência  de  
outros  mecanismos  (como  o  apoio  judiciário)  que  visam  salvaguardar  a  igualdade  substancial.  

Deve-­‐se  entender  que  a  igualdade  substancial  existe,  mas  só  nos  casos  previstos  na  lei.  O  orador  não  considera,  
então,  a  igualdade  substancial  um  principio.  É  de  exigir  uma  norma  expressa  que  exija  essa  intervenção  assistencialista.  
O  artigo  4º  deve  ser  interpretado  no  sentido  de  igualdade  formal.  A  concretização  do  instituto  de  igualdade  substancial  
é  dada  por  exemplos  de  igualdade  formal  e  não  de  assistencialidade.  

O  juiz  pode  verificar  que  há  uma  desigualdade  técnica  muito  grande  e  promover  a  igualdade  convidando  a  parte  
a  colocar-­‐se  ao  mesmo  nível  que  a  outra  parte.  É  o  caso  de,  por  exemplo,  uma  parte  ser  representada  por  advogado  
e  outra  não.  

A  igualdade  formal  impõe,  contudo,  um  tratamento  diferenciado  para  situações  distintas,  no  pressuposto  de  que  
é  diferente  a  posição  das  partes  no  processo.  Por  isso,  o  autor  pode  escolher  o  momento  para  propor  a  ação.  Por  sua  
vez  o  réu  dispõe  de  um  prazo  para  contestar,  eventualmente  prorrogável  (art.  569º).  Réu  e  autor  estão  em  posições  
diferentes  no  processo.    

Exemplos  que  levantaram  duvidas  quanto  à  igualdade  formal:  


•   Posição  do  MP:  em  algumas  situações,  o  MP  pode  assumir  um  papel  muito  importante  de  representação  das  
partes.  O  problema  surgiu  antes  da  reforma  de  95/96  porque  as  partes  representadas  pelo  MP  tinham  um  
estatuto  processual  próprio.  O  TC  foi  chamado  a  pronunciar-­‐se  sobre  isto  e  decidiu  que  não  havia  ofensa  ao  
principio  constitucional  com  base  na  organização  interna  do  MP  e  com  base  na  circunstancia  de  esta  situação  
não   ser   livremente   escolhida   pela   parte,   ao   contrário   do   que   normalmente   acontece   (a   parte   seleciona  o  
próprio  advogado).  Atualmente,  estas  regras  foram  eliminadas,  na  sequencia  da  reforma.    
•   Declarações  de  parte:  estas  declarações  são  um  meio  de  prova  caracterizado  pela  prestação  de  declarações  
da  parte  a  seu  pedido  (o  autor  pede  para  ser  ouvido,  artigo  466º).  Se  uma  das  partes  pede  para  ser  ouvida  na  
declaração  final,  mas  a  outra  parte  não  está  presente  nessa  audiência,  quis  juris?  Se  olharmos  para  a  máxima  
da  igualdade,  temos  que  uma  das  partes,  ao  não  estar  presente  se  colocou  numa  situação  de  desigualdade:  
foi  a  parte  que  optou  (estratégia  processual)  por  se  colocar  numa  situação  de  não  poder  prestar  declarações  
de   parte   na   audiência   final.   Não   ofende   o   princípio   da   igualdade   proceder   com   a   audiência   e   admitir   o  
depoimento  de  quem  o  solicitou.  Nestas  situações  o  juiz  pode  atuar  de  duas  formas:  
i)   Prosseguir  com  a  audiência  e  admitir  o  depoimento  da  parte;  
ii)   Interromper  a  audiência  para  que  a  outra  parte  também  tenha  a  possibilidade  de  depor.  
 
13.7.  Principio  do  contraditório  
 
O   princípio   do   contraditório   visa   conferir   às   partes   a   possibilidade   de   influenciar   a   decisão   e   é  indissociável  do  
direito  de  defesa  nas  dimensões  de  conhecimento  do  processo  e  de  audição  prévia.  

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O  modo  de  comunicar  o  processo  ao  requerido  (conhecimento  do  processo)  pode  ser  feito  de  duas  formas:  
•   Citação  (ação  declarativa  e  ação  executiva);  
•   Notificação  (procedimento  de  injunção).  Nesta  vertente  de  conhecimento  do  processo  verifica-­‐se  um  conflito  
entre  duas  vertentes  do  processo  equitativo:  o  direito  de  defesa  e  a  obtenção  de  decisão  em  prazo  razoável.  

A  forma  da  notificação  está  prevista  no  artigo  12º  do  DL  269/98  sob  a  forma  de:  
•   Notificação  postal  registada  para  a  morada  indicada  pelo  requerente;  
•   Notificação  postal  simples  para  as  moradas  constantes  de  bases  de  dados  oficiais.  

Quanto   ao   conteúdo   da   notificação,   esta   deve   conter,   entre   outros   elementos,   o   prazo   de   oposição   e   deve  
descrever  as  consequências  da  falta  de  oposição.    

A  oposição  à  execução  é  dos  meios  de  defesa  que  o  executado  dispõe  na  ação  executiva.  A  lei,  no  artigo  857º  
estabelece  uma  equiparação  entre  os  meios  de  defesa  na  execução  de  sentença  e  de  requerimento  de  injunção  com  
fórmula   executória.   A   questão   que   se   coloca   é   que   para   além   de   não   estarmos   perante   um   caso   em   que   existe  
apreciação  jurisdicional,  a  forma  de  notificação  é  completamente  distinta  da  citação.    

As  questões  que  se  colocavam  eram  essencialmente  duas:    

•   Será  a  notificação  postal  simples  um  meio  idóneo  para  assegurar  a  cognoscibilidade  do  requerimento?  
•   Será  que  a  notificação  não  deveria  aludir  expressamente  aos  meios  de  defesa  na  ação  executiva?  A  única  coisa  
a  que  se  aludia  no  artigo  12º  era  ao  prazo  de  oposição  e  às  consequências  da  falta  de  oposição.  Portanto,  a  
notificação  não  anunciava  todas  as  suas  consequências.  Por  isso  o  TC  declarou  inconstitucional  o  art.  857º  por  
violação  do  direito  de  defesa.    

A   segunda   vertente   do   direito   de   defesa   é   a   audiência   prévia   do   réu.   De   acordo   com   o   artigo   3º/2   só  
excecionalmente  se  pode  saltara  a  audiência  prévia.  A  regra  geral  é  a  audição  do  réu.  Os  fundamentos  são:  

•   Assegurar  o  exercício  do  contraditório  em  condições  de  igualdade  com  o  autor;  
•   Permitir  uma  prova  e  uma  decisão  mais  esclarecida  a  mais  informada  por  parte  do  próprio  juiz.  Assim  permite-­‐
se-­‐lhe  ter  em  conta  todos  os  aspetos  que  as  partes  trouxerem  ao  processo.  Há  a  criação  de  um  quadro  mais  
completo.  

A   audiência   prévia   pode   ser   dispensada   me   algumas   situações.   Essa   dispensa   depende   sempre   de   previsão   legal  
expressa  (“casos  excecionais  previstos  na  lei”).  O  contraditório  é  diferido  e  não  suprimido  (ocorre  depois  da  decisão).  

Exemplos:    
•   No  procedimento  cautelar  comum  (artigo  306º/1)  a  audiência  prévia  do  requerido  é  a  regra.  Porém,  pode  ser  
dispensada  para  assegurar  o  fim  ou  a  eficácia  da  providência  ou  caso  a  citação  pessoal  não  seja  viável;  
•   No  caso  de  restituição  provisória  da  posse  e  arresto  (artigos  378º  e  393º,  nº1)  dispensa-­‐se  automaticamente  
a  audiência  prévia,  pois  presume-­‐se  que  a  audiência  representaria  um  risco  sério  para  o  resultado.  
•   Na  ação  executiva  na  forma  sumária  a  regra  é  a  de  que  o  executado  não  é  citado  antes  da  penhora  (art.  855º,  
nº3),  sendo  o  contraditório  diferido  para  depois  da  penhora  (art.  856º,  nº1),  garantindo  assim  uma  maior  
segurança  dos  títulos  executivos  abrangidos  por  esta  forma  processual.  

O  contraditório  pode  ser  avaliado  numa  tripla  dimensão:  

•   Razões  de  facto:  aqui  o  contraditório  deve  ser  exercido  por  escrito  na  petição  inicial  e  na  contestação  em  que  
a  parte  deve,  para  além  do  pedido,  indicar  quais  os  factos  subjacentes  a  esse  pedido.  Desde  2013  a  resposta  
às  exceções  é  por  regra  oral  e  tem  lugar  em  audiência.  Isto  implica  que  na  primeira  fase  do  processo  há  uma  
petição  inicial,  há  uma  contestação  por  parte  do  réu4  por  escrito  (552º  e  272º).  O  resto  terá  a  forma  oral  e  sob  
a   forma   de   audiência   (603º).   O   fundamento   é   a   simplificação   do   processo   (redução   da   fase   inicial)   e  

                                                                                                                         
4
  O   réu   pode   defender-­‐se  por  impugnação   (alegando   que   os   factos   não   são  verdadeiros)   ou   por   exceção  (não   contrariando   a  
veracidade  dos  factos,  mas  alegando,  por  exemplo,  que  o  contrato  é  nulo,  que  o  prazo  prescreveu,  etc.).  
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prevalência  da  oralidade.  Apesar  disto,  o  juiz  pode  admitir  articulados  escritos  adicionais  ao  abrigo  da  gestão  
processual.  
•   Razões   de   Direito:   por   regra   as   alegações   de   direito   são   escritas   e   devem   constar   da   petição   inicial   e   da  
contestação  (552º  e  572º).  Na  audiência  final  processa-­‐se  oralmente  (604º,  nº3,  al.  e).  As  alegações  de  direito  
correspondem  a  um  ónus  das  partes;  
•   Prova.  

Para  analisar  convenientemente  o  princípio  do  contraditório  é  preciso  ter  em  conta  outros  princípios  processuais,  
como  o  dispositivo,  a  oralidade  e  o  conhecimento  oficioso  do  direito.  

Contraditório  e  jura  novit  cura  (principio  do  conhecimento  oficioso  de  direito)  –  artigo  5º/3:  o  juiz  não  está  sujeito  
às  alegações  das  partes  no  que  toca  à  indagação,  interpretação  e  alegação  na  matéria  de  direito.  Este  principio  tem  
como  limites:  
•   Principio  dispositivo;  
•   Conhecimento  da  questão  dependente  da  sua  invocação  pelas  partes  (casos  de  prescrição  e  anulabilidade):  
ainda  que  conste  do  processo  o  facto  pelo  qual  decorre  a  prescrição  ou  de  anulabilidade,  o  juiz  não  o  pode  
fazer  sem  que  a  parte  o  tenha  invocado.  

Um  dos  princípios  mais  importantes  quando  se  fala  no  jura  novit  cura  é  a  proibição  de  decisões  surpresa.  Exemplo:  
o  juiz  entende  que  o  contrato  é  de  depósito  e  não  de  comodato  como  assumido  pelas  partes.  Quid  juris?  O  juiz  deve  
promover  o  contraditório  (artigo  3º/3).  

Duas  conceções  quanto  à  proibição  das  decisões  surpresa:  


•   Conceção   ampla:   O   contraditório   impõe-­‐se   sempre   que   o   juiz   considere   outra   qualificação   jurídica   ou   a  
aplicação  de  regra  jurídica  distinta.  
•   Conceção  restrita:  o  contraditório  impõe-­‐se  caso  a  alteração  não  seja  previsível  de  acordo  com  critério  de  
razoabilidade.  Para  além  de  isto  gerar  uma  controvérsia  em  torno  da  questão  de  saber  se  a  alteração  era  ou  
não   previsível,   vai   contra   a   ideia   de   cooperação   entre   as   partes   e   o   juiz,   que   vai   contra   o   principio   do  
contraditório.  

O  juiz  deve  promover  o  contraditório  se  considerar  alterar  a  qualificação  jurídica.  


 
13.8.  O  principio  da  persuasão  racional  (e  outros  princípios  e  regras  relativos  à  prova)  
 
13.8.1.  Introdução  à  atividade  probatória  
 
O  processo  civil  visa  a  resolução  adjudicatória  do  litígio.  A  determinação  dos  contornos  do  litígio  pressupõe  que  se  
afiram  os  factos  que  lhe  deram  origem;  esses  factos  são  necessariamente,  factos  passados.  

A  atividade  probatória  consiste  na  identificação  e  análise  dos  vestígios  que  os  factos  passados  deixaram  no  mundo  
para  deles  inferir  uma  conclusão  acerca  da  sua  ocorrência  ou  não  ocorrência.  

Os  meios  pelos  quais  se  analisam  esses  vestígios  chamam-­‐se  meios  de  prova:  
•   Prova  testemunhal;  
•   Prova  pericial  ou  prova  por  inspeção;  
•   Vestígio  intencional  -­‐  registo  da  ocorrência  ou  não  ocorrência  nalgum  suporte  durável:  prova  por  documentos.  

No  estudo  da  atividade  probatória  iremos  tentar  compreender  a  resposta  a  estas  perguntas:  
•   Como  se  processa  este  raciocínio  que  nos  permite  passar  da  análise  dos  meios  de  prova  para  a  conclusão  da  
ocorrência  ou  não  ocorrência  de  um  facto?  
•   Como  avaliar  os  meios  de  prova  da  melhor  maneira?  
•   A  que  tipo  de  conclusão  podemos  chegar  com  esta  análise  dos  meios  de  prova?  Podemos  ter  a  certeza  de  que  
o  facto  aconteceu  ou  não  aconteceu?  
•   O  que  fazer  se  não  se  conseguir  chegar  a  qualquer  conclusão?  
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•   A  lei  pode  dizer-­‐nos  como  construir  essa  conclusão?  
•   Quais  os  limites  na  análise  dos  meios  de  prova?  
 
13.8.2.  Apreciação  da  prova  pelo  julgador  
 
Breve  excurso  histórico  relativo  à  evolução  da  atividade  probatória:  
•   Idade  média  e  centralização  do  poder  político:  menos  poder  dos  juízes;  
•   Tradução  desta  realidade  na  atividade  probatória:  a  prova  tarifada;  
•   Revoluções  liberais  e  movimento  de  “democratização”;  
•   Tradução  desta  realidade  na  atividade  probatória:  julgamento  por  júri  e  apreciação  da  prova  totalmente  livre;  
•   Posteriormente,  chegou-­‐se  à  conclusão  de  que  esta  forma  de  avaliar  levava  a  situações  absurdas  e  assim  se  
chegou  ao  atual  modelo  de  apreciação  probatória,  mais  equilibrado:  a  persuasão  racional.  

Atualmente   o   modelo   da   persuasão   racional   tem   uma   consagração   expressa   na   lei:   “Na   fundamentação   da  
sentença,  o  juiz  declara  quais  os  factos  que  julga  provados  e  quais  os  que  julga  não  provados,  analisando  criticamente  
as  provas,  indicando  as  ilações  tiradas  dos  factos  instrumentais  e  especificando  os  demais  fundamentos  que  foram  
decisivos  para  a  sua  convicção;  o  juiz  toma  ainda  em  consideração  os  factos  que  estão  admitidos  por  acordo,  provados  
por  documentos  ou  por  confissão  reduzida  a  escrito,  compatibilizando  toda  a  matéria  de  facto  adquirida  e  extraindo  
dos  factos  apurados  as  presunções  impostas  pela  lei  ou  por  regras  de  experiência”  (art.  607º,  nº4).  

Vamos   partir   da   análise   deste   artigo   para   compreender   o   processo   de   apreciação   da   prova   pelo   julgador,  
nomeadamente  pela  análise  da  expressão  “extraindo  dos  factos  apurados  as  presunções  impostas  (...)  por  regras  de  
experiência”,  pois  nela  se  contém  o  essencial  para  compreender  aquele  processo.  

Todo  o  processo  de  apreciação  da  prova  assenta  na  lógica  da  presunção.  Qual  a  estrutura  de  uma  presunção?  Se  
se  prova  o  facto-­‐base  da  presunção,  então  assume-­‐se  que  ocorreu  o  facto  presumido,  exceto  se  se  provar  que  não  
ocorreu  o  facto  presumido,  independentemente  de  se  provar  o  facto-­‐base  da  presunção  (presunção  ilidível).  

Nas  presunções  previstas  na  lei,  esta  estabelece  quais  são  os  factos-­‐base  e  os  factos  presumidos;  

Nas  presunções  que  ocorrem  no  âmbito  da  apreciação  dos  meios  de  prova  (presunções  judiciais),  os  factos-­‐base  
são  os  factos  instrumentais  e  os  factos  presumidos  são  os  factos  principais.  

Dentro  da  categoria  dos  factos  instrumentais  podemos  distinguir  os  factos  probatórios  e  os  acessórios:  
•   Factos  probatórios:  são  os  factos  diretamente  revelados  pelos  meios  de  prova;  
•   Factos  acessórios:  são  os  factos  que  atestam  a  verosimilhança  da  ocorrência  dos  factos  essenciais.  

Exemplo:    
•   Facto  principal:  A  entregou  X  a  B  (necessário  para  verificar  o  cumprimento  do  contrato);    
•   Facto  probatório:  o  facto  de  que  uma  testemunha  refere  ter  visto  A  entregar  X  a  B;  
•   Factos  acessórios:  o  facto  de  que  a  testemunha  está   próxima  do  acontecimento  (por  ex.  provado  por  uma  
fotografia),  o  facto  de  que  o  depoimento  foi  coerente.    

Conclusão:  o  que  os  meios  de  prova  nos  relevam  diretamente  não  são  os  factos  essenciais/principais  mas  antes  e  
apenas   os   factos   instrumentais;   só   indiretamente,   por   meio   de   uma   inferência,   é   que   podemos   concluir   pela  
ocorrência,  ou  não,  dos  factos  principais;  Logo,  toda  a  prova  é  indireta.  

Com  que  critério  podemos  afirmar  que  os  factos  instrumentais,  em  particular  os  probatórios,  indiciam  a  ocorrência  
dos  factos  principais?  Esse  critério  consiste  nas  máximas  de  experiência:  estas  são  conhecimentos  da  experiência  de  
vida,   da   lógica,   da   regularidade   ou   normalidade   dos   acontecimentos   que   permitem   afirmar   que   se   certos   factos  
ocorreram  (factos-­‐base),  então  é  provável  que  outros  tenham  ocorrido  também  (factos  presumidos);  

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Exemplos  (Luís  Pires  de  Sousa,  Prova  por  presunção  no  direito  civil):    

1-­‐   Coerência  do  discurso,  em  si  e  em  confronto  com  outros,  indicia  a  sua  veracidade;  
2-­‐   Quanto  maior  for  a  improbabilidade  dos  factos  probandos  (eventuais  factos  presumidos),  em  abstrato,  maior  
será  a  necessidade  de  os  factos-­‐base  indiciarem  fortemente  a  sua  ocorrência  para  que  se  possa  concluir  por  
ela;  
3-­‐   A  prova  do  habitual  modo  de  proceder  de  alguém  indicia  a  improbabilidade  de  um  ato  incoerente  com  esse  
modo  de  proceder;  
4-­‐   A  falta  de  necessidade  para  a  prática  de  um  ato  indicia  a  existência  de  vícios  no  consentimento  para  a  prática  
desse  ato.  
5-­‐   A  prova  da  destruição  de  um  documento  por  quem  poderia  ser  prejudicado  pela  prova  dos  factos  que  esse  
documento  poderia  demonstrar  indicia  a  ocorrência  desses  factos;  
6-­‐   O  facto  de  um  condutor  percorrer  todos  os  dias  o  mesmo  percurso  indicia  que  ele  conhecia  bem  os  locais  mais  
perigosos  do  mesmo;  
7-­‐   A  colaboração  de  alguém  nalguma  obra  ou  ato  indicia  o  consentimento  na  sua  realização;  
8-­‐   Se  alguém  que  está  em  cadeira  de  rodas  dá  o  seu  cartão  bancário  e  respetivo  código  a  certa  pessoa  e  esta  
alega  que  lhe  fez  uma  doação  avultada,  tal  indicia  falta  de   consentimento  na  mesma,  pois  para  fazer  uma  
doação  avultada  existem  meios  mais  adequados.  

O   recurso,   devidamente   justificado   e   explicitado   (607.º-­‐4),   às   regras   da   experiência   é   o   que   garante   a   correta  
apreciação   da   prova   e   é   nisso   que   se   concretiza   o   traço   distintivo  do  modelo  probatório  da  persuasão  racional  (o  
princípio  caracteriza  o  modelo  probatório  atual),  que  visa  contribuir  para  a  objetividade  na  apreciação  da  prova  e  
garante  a  possibilidade  prática  de  recurso  sobre  decisões  de  facto.  
 
13.8.3.  Imediação  na  apreciação  da  prova  
 
A  apreciação  da  prova  segundo  as  regras  da  experiência  procura  assegurar  uma  decisão  sobre  a  matéria  de  facto  
que  se  aproxime  o  mais  possível  da  realidade  (além  de  ter  também  o  objetivo  de  explicitar  e  permitir  o  recurso  –  
sindicabilidade  –  desta  decisão);  

Contudo,  a  apreciação  da  prova  segundo  as  regras  da  experiência  não  é  a  única  forma  de  contribuir  para  aquele  
objetivo.  Outra  forma  de  contribuir  para  ele  é  procurar  que  o  julgador  esteja  na  melhor  posição  possível  para  apreciar  
os  meios  de  prova,  ou  seja,  o  mais  próximo  possível  deles  para  os  analisar  de  forma  o  mais  completa  e  precisa  possível.  
Nisso  consiste  o  princípio  da  imediação  na  apreciação  da  prova.  

O  princípio  da  imediação  na  apreciação  da  prova  traduz-­‐se  nas  seguintes  regras:  

•   Produção  de  prova  e  discussão  de  facto  (e  de  direito)  perante  o  mesmo  juiz  que  irá  decidir  acerca  da  ocorrência  
dos  factos  (art.  605.º);  
•   Realização  dos  atos  de  produção  de  prova,  discussão  de  facto  (e  de  direito)  e  julgamento  num  curto  intervalo  
temporal  entre  eles,  tendo  lugar,  os  dois  primeiros,  na  audiência  final  (art.  604.º-­‐3  e  4),  que  deve  ser  contínua  
(art.  606.º),  e  o  terceiro  no  prazo  de  30  dias  desde  o  encerramento  de  tal  audiência  (art.  607.º-­‐1);  
•   Regras  que  podem  ser  unificadas  na  ideia  de  que  os  meios  de  prova  que  possam  ser  apresentados  sob  a  forma  
de  depoimento  oral  o  sejam  realmente,  perante  o  julgador  (cfr.,  por  exemplo,  os  arts  452.º-­‐1,  466.º-­‐2,  2.ª  
parte,   486.º-­‐1   e  526.º,  n.º1).   Especialmente   relevante  a  este  respeito  é   a  regra   constante   do   art.   461.º-­‐2,  
respeitante  à  prova  por  confissão  mas  aplicável  ex  vi  arts.  466.º-­‐2,  2.ª  parte  e  516.º-­‐7  à  prova  por  declarações  
de  parte  e  à  prova  testemunhal  respetivamente,  que  determina  a  proibição  de  o  depoente  levar  o  depoimento  
escrito  e  se  limitar  a  lê-­‐lo.    

Há   a   necessidade   de   compatibilizar   este   princípio   com   outros,   como   a   economia   processual   ou   mesmo   com   a  
necessidade  de  análise  de  maior  quantidade  de  provas.  
 

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13.8.4.  Medida  da  prova  
 
Vimos  que  a  atividade  probatória  consiste  na  análise  dos  vestígios  que  os  factos  passados  deixaram  no  mundo  para  
poder  aferir  da  sua  ocorrência  ou  não  ocorrência,  num  raciocínio  de  estrutura  presuntiva.  Assim  sendo,  este  raciocínio  
baseado  em  indícios  ou  vestígios  nunca  pode  levar  a  uma  conclusão  absolutamente  certa,  mas  apenas  a  uma  conclusão  
provável.  Pode  acontecer  que  essa  conclusão  seja  altamente  provável,  quando  os  indícios  são  muito  fortes,  ou  pouco  
provável,  quando  os  indícios  são  fracos.  Por  isso,  terá  sentido  graduar  a  probabilidade  com  que  podemos  afirmar  a  
conclusão:  a  essa  graduação  chamamos  de  medida  da  prova,  mas  também  são  usadas  as  expressões  “graus  de  prova”  
e  “standard  de  prova”;  esta  graduação,  como  veremos,  vai  ajudar  no  próprio  processo  de  apreciação  da  prova.  

  Prova  para  lá  de  toda  


a  dúvida  razoável  
 

     
0%   50%   75%   90%   100%  
 

  Prova  clara  e  convincente  


  Provada  a  não  ocorrência  

  Provada  preponderante  
 

   

 
Ponto  de  ignorância  
 

Dadas  as  várias  medidas  da  prova,  qual  deve  ser  a  medida  que  deve  estar  atingida  para  que  se  possa  decidir  com  
base  na  ocorrência  de  certo  facto?  Com  que  critério  devemos  decidir  qual  é  a  medida  aplicável?  O  critério  é  a  diferença  
entre   a   gravidade   de   uma   decisão   condenatória   (factos   principais   considerados   provados)   e   de   uma   decisão  
absolutória   (factos   principais   não   considerados   provados)   se   assumirmos   que   houve   erro   na   apreciação   da   prova  
(“erro  judicial”),  pois  não  podemos  excluir  essa  hipótese.  Quanto  maior  for  essa  diferença,  maior  deve  ser  a  medida  
da  prova  para  assim  se  minimizar  a  probabilidade  de  erro  judicial.  

Daquele  critério  resulta  que:  


•   No   âmbito   do   direito   penal   a   medida   da   prova   deve   ser   a   mais   exigente   (prova   para   lá   de   toda   a   dúvida  
razoável)  pois,  neste  âmbito,  “condenar  erradamente”  é  muito  mais  grave  do  que  “absolver”  erradamente:  
 
0%   50%   90%   100%  
 

         
In  dúbio  pro  reo   Provada  a  
   
Provada  a  não  ocorrência     ocorrência  

 
Ponto  de  ignorância:   Página  79  de  85  
  presunção  de  inocência  
•   Se   uma   decisão   condenatória   for   igualmente   grave   quando   comparada   com   a   decisão   absolutória  
correspondente,  então  não  há  razão  para  exigir  uma  elevada  medida  de  prova;  é  o  que  ocorre  na  maioria  das  
matérias  de  direito  privado.  Neste  caso,  a  medida  da  prova  mais  apropriada  será  a  prova  preponderante,  que  
implica  uma  igual  exigência  probatória  quer  para  a  prova  dos  factos  em  causa  (condenação)  quer  para  a  prova  
de  que  esses  factos  não  ocorreram  (absolvição):  
 

  50%   100%  
0%  
       

   

   

  Provada  a  não  ocorrência  


  Provada  a  ocorrência    

   

   
Ponto  de  ignorância  
     

•   No  entanto,  existem  alguns  casos  que,  embora  se  reportem  ao  âmbito  do  direito  privado,  exigem  que  a  prova  
dos   factos   seja   feita   segundo   uma   medida   da   prova   mais   exigente,   nomeadamente   a   prova   clara   e  
convincente.   Exemplos:   processos   de   jurisdição   voluntária;   processos   em   que   se   discuta   a   titularidade   de  
direitos  de  propriedade  industrial.  A  justificação  para  esta  maior  exigência  reside  no  facto  de  neles  estarem  
em  causa  interesses  de  terceiros  que  implicam  que  uma  decisão  favorável  ou  desfavorável  ao  autor  tenham  
gravidades  distintas:  

 
0%   50%   75%   100%  
 

   

  Provada  a  ocorrência  
Provada  a  não  ocorrência  
 

  Ponto  de  ignorância  


 
 
13.8.5.  Ónus  da  prova  
 
Vimos  que  o  juiz  ao  começar  a  apreciar  as  provas,  encontra-­‐se  no  ponto  de  ignorância.  Mas  como  deve  o  juiz  decidir  
(proibição  de  non  liquet)  se,  mesmo  após  a  apreciação  das  provas,  continuar  no  ponto  de  ignorância?  

É  neste  âmbito,  e  apenas  neste  âmbito,  que  é  relevante  o  ónus  da  prova,  enquanto  critério  de  decisão  na  dúvida  
sobre   a   ocorrência   de   um   facto.   O   ónus   da   prova   funciona   da   seguinte   forma:   na   dúvida   deve   decidir-­‐se  como   se  
tivesse  ocorrido  a  versão  factual  (positiva  ou  negativa)  desfavorável  à  parte  que  suporta  o  ónus  da  prova.  

Assim,  o  problema  fundamental  para  compreender  o  funcionamento  deste  critério  de  decisão  é  o  de  determinar  a  
distribuição  do  ónus  da  prova,  ou  seja,  o  problema  de  saber  qual  das  partes  deve  suportar  o  OP  de  que  versão  factual.  

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O  critério  legal  de  distribuição  do  ónus  da  prova  (e  da  alegação)  consta  do  art.  342º  do  CC:  

•   Cabe  ao  autor  o  ónus  da  prova  dos  factos  constitutivos  do  direito  do  autor;  
•   Cabe  ao  réu  o  ónus  da  prova  dos  factos  impeditivos,  modificativos  e  extintivos  do  direito  do  autor.  

Os  factos  constitutivos,  impeditivos,  modificativos  e  extintivos  formam  o  conjunto  dos  factos  principais/essenciais.  

Este  é  o  critério  regra,  de  origem  alemã  (teoria  das  normas  de  Leo  Rosenberg),  usado  em  vários  ordenamentos  de  
civil  law:  segundo  este  critério  a  qualificação  dos  factos  depende  da  forma  como  as  normas  estão  escritas,  ou  seja,  da  
forma  como  as  normas,  na  sua  literalidade,  apresentam  os  factos  como  constitutivos  ou  impeditivos.  

Exemplo  do  funcionamento  da  teoria  das  normas  -­‐  artg.  509.º,  n.º1  do  C.C.:  “Aquele  que  tiver  a  direcção  efectiva  
de  instalação  destinada  à  condução  ou  entrega  da  energia  eléctrica  ou  do  gás  (...)  responde  pelo  prejuízo  que  derive  
da  condução  ou  entrega  da  electricidade  ou  do  gás  (...)  excepto  se  ao  tempo  do  acidente  esta  estiver  de  acordo  com  
as  regras  técnicas  em  vigor  (...)”.  Nesta  norma  encontramos:  

•   Elementos  literais  que,  em  regra,  prenunciam  a  indicação  de  factos  constitutivos:  “aquele  que”,  “sempre  que”,  
“desde  que”,  “apenas  se”,  e  outras  de  significado  equivalente;  
•   Elementos  literais  que,  em  regra,  prenunciam  a  indicação  de  fatos  impeditivos:  «a  não  ser  que»,  «isto  não  vale  
se»,  «exceto  se»,  «salvo  se»,  «este  preceito  não  se  aplica  quando»,  e  outras  de  significado  equivalente.  

No  entanto,  a  aplicação  do  critério  da  teoria  das  normas  apresenta  vários  problemas:  

1-­‐   Primeiro  porque  a  identificação  de  que  factos  são  constitutivos,  impeditivos,  modificativos  ou  extintivos:  
•   Nem  sempre  é  praticável  –  critérios  de  decisão  sem  base  textual  fixa,  sem  que  estejam  consagrados  em  regras  
com  previsão  e  estatuição  definidas  (exs.:  abuso  de  direito,  garantia  bancária  autónoma  e  cláusulas  gerais);    
•   Nem  sempre  é  coerente  –  o  mesmo  facto  pode  ser  considerado  como  constitutivo  ou  como  impeditivo  (ex.:  
os  factos  que  consubstanciam  a  nulidade  de  um  contrato  (ex.:  falta  de  forma)  podem  ser  impeditivos  numa  
ação  em  que  se  peça  o   cumprimento  do  contrato  e  podem  ser  constitutivos  numa  ação  em  que  se  peça  a  
declaração  de  nulidade).  

Uma  possível  solução  pode  consistir  em  procurar  na  compreensão  dos  vários  institutos  do  direito  material  a  solução  
para  a  correta  qualificação  dos  factos  como  constitutivos  ou  como  impeditivos;  porém,  o  direito  material  não  tem  em  
conta  os  problemas  relativos  à  prova,  que  são  os  que  interessam  a  propósito  do  OP.  

2-­‐   Depois  porque  aquele  critério  é  completamente  formal,  não  visa  atingir  qualquer  finalidade  materialmente  
valiosa   ou   justa,   pois   não   é   possível   encontrar,   na   forma   como   as   normas   estão   redigidas   ou  no   direito  
material,  qualquer  preocupação  relativa  à  distribuição  do  OP  –  este  é  o  problema  essencial.  

Exemplo  -­‐  artg.  509.º,  n.º1  do  C.C.:  

“Aquele  que  tiver  a  direção  efectiva  de  instalação  destinada  à  condução  ou  entrega  da  energia  eléctrica  ou  do  gás  (...)  
responde  pelo  prejuízo  que  derive  da  condução  ou  entrega  da  electricidade  ou  do  gás  (...)  exceto  se  ao   tempo  do  
acidente  esta  estiver  de  acordo  com  as  regras  técnicas  em  vigor  (...)”  

Mudando  a  redação  da  norma,  “transformamos”  um  facto  impeditivo  num  facto  constitutivo:  

“Aquele  que  tiver  a  direcção  efectiva  de  instalação  destinada  à  condução  ou  entrega  da  energia  eléctrica  ou  do  gás  e  
que  esteja,  ao  tempo  do  acidente,  em  desconformidade  com  as  regras  técnicas  em  vigor,  responde  pelo  prejuízo  que  
derive  da  condução  ou  entrega  da  electricidade  ou  do  gás”.  

Um  critério  alternativo  à  teoria  das  normas  para  a  distribuição  do  OP  consiste  na  distribuição  dinâmica  do  OP.  O  
conceito,  numa  primeira  abordagem,  refere-­‐se  à  possibilidade  de  o  juiz  atribuir  o  ónus  da  prova  à  parte  com  maior  
facilidade  relativa  de  provar  a  versão  dos  factos  que  a  favorece.  

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Quanto  ao  modo  de  aplicação  da  distribuição  dinâmica  do  OP:  como  identificar  qual  a  parte  que  apresenta  maior  
facilidade  probatória?  Existem  alguns  critérios  que  a  indiciam:  

•   A  proximidade  e  o  controlo  dos  factos;  


•   Os  conhecimentos  técnicos  e  o  exercício  de  uma  atividade  enquanto  profissional;  
•   O  acesso  aos  meios  de  prova.  

A  verificação  destes  critérios  não  implica  que  a  parte  onerada  apresente  efetivamente  maior  facilidade  probatória.  

O  juiz  deve  ouvir  as  partes  antes  de  decidir  (na  audiência  prévia).  

Exemplo  da  aplicação  da  distribuição  dinâmica  do  OP:    

1.   Prova  de  que  o  devedor  e  o  terceiro  (não)  agiram  de  má  fé,  nos  casos  de  impugnação  pauliana  de  ato  oneroso  
-­‐  Art.  612.º  do  CC:  “O  ato  oneroso  só  está  sujeito  à  impugnação  pauliana  se  o  devedor  e  o  terceiro  tiverem  
agido  de  má  fé”.  Vejamos  como  a  solução  será  diferente:  
•   Se  aplicarmos  a  teoria  das  normas:  a  má  fé  é  apresentada  como  um  facto  constitutivo  do  direito  à  impugnação  
pauliana  –  é  o  interessado  na  impugnação  que  tem  o  ónus  de  provar  a  má  fé  do  devedor  e  do  terceiro.  
•   Se  aplicarmos  a  distribuição  dinâmica:  o  devedor  (e  o  terceiro)  tem  o  controlo  do  facto:  praticou  o  ato  que  se  
visa  impugnar  –  ele  tem  o  ónus  de  provar  que  não  agiu  de  má  fé.  
 
2.   Prova  de  que  a  intervenção  médica  (não)  foi  efetuada  de  acordo  com  as  boas  práticas  médicas  em  casos  de  
negligência  médica  (responsabilidade  contratual;  obrigação  de  meios).  
•   Teoria  das  normas:  art.  798.º  do  CC:  “o  devedor  que  falta  culposamente  ao  cumprimento  da  obrigação  torna-­‐
se  responsável  pelo  prejuízo  que  causa  ao  credor”  –  o  incumprimento  apresenta-­‐se  como  facto  constitutivo,  
logo  o  paciente  suporta  o  ónus  da  prova  de  que  a  intervenção  não  respeitou  as  boas  práticas;  
•   Distribuição  dinâmica:  o  médico  tem  o  controlo  do  facto  que  se  visa  provar;  o  médico  praticou  esse  facto  
enquanto  profissional  –  o  médico  suporta  o  ónus  da  prova  de  que  a  intervenção  respeitou  as  boas  práticas.  

As  vantagens  da  distribuição  dinâmica  (valores  que  ela  promove)  são:  

•   A  procura  pela  verdade  material  (maior  probabilidade  de  se  provarem  os  factos  e  de,  na  dúvida  sobre  a  sua  
ocorrência,  a  decisão  corresponder  à  verdade);  
•   Igualdade  entre  as  partes  (uma  tem  mais  facilidade  em  provar  mas  a  outra  não  suporta  o  ónus  da  prova);  
•   Economia  processual.  

Limitações  da  distribuição  dinâmica:  

•   Implica  a  existência  e  a  identificabilidade  de  um  desequilibro  nas  capacidades  probatórias  das  partes,  o  que  
nem  sempre  se  verifica.  
 
13.8.6.  Restrições  à  persuasão  racional  
 
A  atividade  probatória  encontra-­‐se  genericamente  regulada  pelo  modelo  da  persuasão  racional,  avaliando-­‐se  as  
provas  de  acordo  com  as  regras  da  experiência  relevantes  no  caso  concreto,  sendo  estas  determinadas  e  aplicadas  
pelo  julgador.  

Contudo,  existem  ainda  alguns  casos  em  que  se  podem  ter  em  conta  na  decisão  do  processo  factos  que  não  foram  
provados  segundo  o  modelo  da  persuasão  racional.  

A  primeira  situação  em  que  tal  acontece  corresponde  a  alguns  casos  de  prova  tarifada  (também  chamada  prova  
legal,  pois  o  seu  valor  probatório  está  previsto  na  lei)  que  ainda  subsistem  na  legislação  atual.  

Trata-­‐se   de   casos   em   que   a   lei   estabelece   previamente   quais   os   “factos   presumidos”   que   se   devem   considerar  
provados  se  se  verificarem  certos  “factos-­‐base”,  também  estes  previstos  na  lei;  nalguns  desses  casos  a  lei  admite  prova  

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em  contrário  (prova  plena)  e  noutros  não  (prova  pleníssima);  a  sua  justificação  é  ainda  as  regras  da  experiência,  mas  
determinadas  pelo  legislador.  Exemplos:  

•   Admissão  por  acordo  (prova  pleníssima),  art.  574.º,  n.º2  -­‐  justificada  pela  regra  de  experiência  de  que  se  duas  
partes  em  litígio  estão  de  acordo  sobre  a  ocorrência  de  um  facto,  ele  corresponderá  à  verdade;    
•   Documentos  autênticos  e  documentos  particulares  com  assinatura  reconhecida  (prova  plena),   arts.   371.º,  
372.º  e  375.º  e  376.º  do  CC  –  justificada  pela  autoridade  pública  reconhecida  à  entidade  documentadora  ou  
que  reconhece  as  assinaturas;  
•   Todos  os  casos  de  presunções  legais  ilidíveis  (prova  plena)  –  justificada  pelas  regras  da  experiência.  

O  outro  caso  em  que  se  podem  ter  em  conta  na  decisão  do  processo  factos  que  não  foram  provados  segundo  o  
modelo  da  persuasão  racional  é  o  dos   chamados  factos  notórios   (412.º,  n.º1).  Os  factos  notórios  são  os  factos  do  
conhecimento   geral,   cuja   ocorrência   seja   indiscutível.   O   facto   de   serem   do   conhecimento   geral   não   significa  
necessariamente  que  sejam  do  conhecimento  de  toda  a  gente:  podem  ser  apenas  do  conhecimento  de  certo  grupo  
de  pessoas  (por  exemplo,  os  habitantes  de  certa  localidade),  desde  que  esse  grupo  inclua  as  partes  e  o  juiz.  Exemplos:  
a  distância  entre  duas  localidades,  a  ocorrência  de  um  evento  meteorológico  fora  do  comum  (cheias,  trovoada  forte),  
etc.  
 
13.8.7.  Limites  à  apreciação  probatória:  a  prova  ilícita  
 
A  apreciação  da  prova  segundo  o  modelo  da  persuasão  racional  tem  limites,  dado  que  os  valores  que  este  visa  
proteger   não   podem   justificar   a   apreciação   de   meios   de   prova   obtidos   de   forma   ilícita   (ex.:   apresentação   de  
documentos  furtados,  testemunha  ameaçada  para  depor  em  certo  sentido,  apresentação  de  um  vídeo  que  viole  a  
intimidade  da  vida  privada);  

Trata-­‐se  de  uma  matéria  muito  estudada  no  âmbito  do  processo  penal,  onde  o  CPP  a  regula  expressamente  (arts.  
125.º  e  126.º  do  CPP),  tal  como  a  CRP  (art.  32.º,  n.º8);  

No   processo   civil   não   há   regras   diretamente   aplicáveis   que   regulem   esta   questão,   pelo   que   se   considera   ser  
aplicável,  por  analogia,  o  regime  do  art.  32.º,  nº8  da  CRP  à  obtenção  de  provas  no  processo  civil  (Isabel  Alexandre,  
Provas  Ilícitas  em  Processo  Civil):  “São  nulas  todas  as  provas  obtidas  mediante  tortura,  coação,  ofensa  da  integridade  
física   ou   moral   da   pessoa,   abusiva   intromissão   na   vida   privada,   no   domicílio,   na   correspondência   ou   nas  
telecomunicações.”  
 
13.9.  Principio  da  transparência  do  processo  e  das  decisões  
 
Este  princípio  tem  como  subprincípios:  
•   Princípio  da  publicidade  
•   Princípio  da  fundamentação  das  decisões  
 

13.9.1.  Princípio  da  publicidade    


 

O  principio  da  publicidade  inclui:  


•   Publicidade  da  audiência  
•   Acesso  ao  processo  
•   Publicidade  das  decisões  finais  
 
 
 
 
 
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Publicidade  da  audiência    

“As   audiências   dos   tribunais   são   públicas,   salvo   quando   o   próprio   tribunal   decidir   o   contrário,   em   despacho  
fundamentado,   para   salvaguarda   de   dignidade   das   pessoas   e   da   moral   pública   ou   para   garantir   o   seu   normal  
funcionamento”  -­‐  Art.  206º,  CRP.  

“Qualquer  pessoa  tem  direito  a  que  a  sua  causa  seja  examinada,  equitativa  e  publicamente  […]  O  julgamento  deve  
ser  público,  mas  o  acesso  à  sala  de  audiências  pode  ser  proibido  à  imprensa  ou  ao  publico  durante  a  totalidade  ou  
parte   do   processo,   quando   a   bem   da   moralidade,   da   ordem   publica   ou   da   segurança   nacional   numa   sociedade  
democrática,  quando  os  interesses  de  menores  ou  a  proteção  da  vida  privada  das  partes  no  processo  o  exigirem,  ou,  
na  medida  julgada  estritamente  necessária  pelo  tribunal,  quando,  em  circunstâncias  especiais,  a  publicidade  pudesse  
ser  prejudicial  para  os  interesses  da  justiça”  -­‐  Art.  6º,  nº1  da  Convenção  Europeia  dos  Direitos  do  Homem.  

Este  princípio  é  fundamental  porque:  

1.   Permite  o  controlo  social  da  decisão  do  tribunal  e  do  processo  que  conduziu  a  essa  decisão,  evitando  decisões  
arbitrárias  ou  injustas;  
2.   Assegura   a   transparência   da   justiça   em   geral   e   de   cada   julgamento   em   particular,   permitindo   reforçar   a  
legitimidade  democrática  de  que  se  revestem  as  decisões  judiciais;  
3.   Contribui  para  a  salvaguarda  do  princípio  da  imparcialidade;  
4.   Releva  para  o  cabal  conhecimento  do  direito  pela  sociedade;  
5.   Assegura  a  certeza  e  a  uniformidade  jurídicas;  
6.   É  importante  no  avanço  da  ciência  do  direito.  

“A   audiência   [final]   é   pública,   salvo   quando   o   juiz   decidir   o   contrário,   em   despacho   fundamentado,   para  
salvaguarda  da  dignidade  das  pessoas  e  da  moral  pública,  ou  para  garantir  o  seu  normal  funcionamento”  –  Art.  606º,  
nº1,  CPC.    

Os  jornalistas  podem  assistir  e  filmar  ou  gravar  em  ficheiro  áudio.    

O  princípio  da  publicidade  da  audiência  tem  de  ser  articulado  com  o  direito  à  imagem,  consagrado  no  art.  79º,  
nº2,  CC,  onde  se  afirma  que  “não  é  necessário  o  consentimento  da  pessoa  retratada  quando  […]  a  reprodução  da  
imagem   vier   enquadrada   na   de   lugares   públicos,   ou   na   de   factos   de   interesse   público   ou   que   hajam   decorrido  
publicamente”.  

Acesso  ao  processo    

“O  processo  civil  é  público,  salvas  as  restrições  previstas  na  lei”  –  Art.  163º,  nº1,  CPC.  

“A  publicidade  do  processo  implica  o  direito  de  exame  e  consulta  dos  autos  na  secretaria  e  de  obtenção  de  copias  ou  
certidões  de  quaisquer  peças  nele  incorporadas,  pelas  partes,  por  qualquer  pessoa  capaz  de  exercer  o  mandato  judicial  
ou  por  quem  nisso  revel  interesse  atendível”  –  Art.  163º,  nº2,  CPC.  

No  entanto,  existem  limitações  à  publicidade  do  processo:  

“O  acesso  aos  autos  é  limitado  nos  casos  em  que  a  divulgação  do  seu  conteúdo  possa  causar  dano  à  dignidade  das  
pessoas,  à  intimidade  da  vida  privada  ou  familiar  ou  à  moral  pública,  ou  pôr  em  causa  a  eficácia  da  decisão  de  proferir”  
–  Art.  164º,  nº1,  CPC.  

O   nº2   do   art.   164º   CPC   concretiza  a   cláusula  geral  do  nº1,  indicando  alguns   casos  em   que  o  acesso   é   sempre  
limitado.    
 
Publicidade  das  decisões  finais    

Segundo  a  jurisprudência  do  Tribunal  Europeu  dos  Direitos  do  Homem,  esta  reveste  carácter  absoluto.    

Considera-­‐se  suficiente  o  depósito  da  sentença  que  fique  acessível  ao  público,  não  sendo  necessária  a  sua  leitura  
pública.  
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Para  a  publicidade  das  decisões  finais  é  importante  a  publicação  na  internet  (em  Portugal,  www.dgsi.pt),  revelando-­‐
se  adequada  a  não  divulgação  de  dados  pessoais  das  partes  e  outros  envolvidos,  com  vista  a  garantir  o  equilíbrio  dos  
interesses  em  questão,  tendo  em  conta  a  proteção  da  intimidade  da  vida  privada  e  familiar  (art.  26º,  CRP).  

No  que  diz  respeito  à  arbitragem,  de  acordo  com  o  art.  30º,  nº5  da  LAV:  “Os  árbitros,  as  partes  e,  se  for  o  caso,  as  
entidades  que  promovam,  com  carácter  institucionalizado,  a  realização  de  arbitragens  voluntárias,  têm  o  dever  de  
guardar   sigilo   sobre   todas   as   informações   que   obtenham   e   documentos   de   que   tomem   conhecimento   através   do  
processo  arbitral,  sem  prejuízo  do  direito  de  as  partes  tornarem  públicos  os  atos  processuais  necessários  à  defesa  dos  
seus  direitos  e   do  dever  de   comunicação  ou  revelação  de  atos  do  processo  às  autoridades  competentes,   que  seja  
imposto   por   lei”.   No   entanto,   tal   “não   impede   a   publicação   de   sentenças   e   outras   decisões   do   tribunal   arbitral,  
expurgadas  de  elementos  de  identificação  das  partes,  salvo  se  qualquer  destas  a  isso  se  opuser”  (art.  30º,  nº6  da  LAV).  
 
13.9.2.  Princípio  da  fundamentação  das  decisões  
 
“As  decisões  dos  tribunais  que  não  sejam  de  mero  expediente  são  fundamentadas  na  forma  prevista  na  lei”  –  Art.  
205º,  nº1,  CRP.  

O  princípio  da  fundamentação  das  decisões  encontra  o  seu  fundamento  na  proteção  das  partes  contra  o  arbítrio  
do  juiz  e  no  sentido  do  controlo  da  decisão  (incluindo,  quando  admitido,  o  recurso,  enquanto  meio  de  pôr  em  causa  a  
decisão  junto  de  um  tribunal  hierarquicamente  superior).  Contribui  também  para  o  prestigio  da  oferta  de  justiça,  
escrutinada  pelo  público  e  pela  opinião  pública,  legitimando  o  poder  judicial.  

Quando  aos  tribunais  do  Estado:  

•   O  princípio  da  fundamentação  é  um  princípio  transversal,  que  assume  um  papel  mais  significativo  em  alguns  
processos  (penal,  administrativo,  por  exemplo);  
•   A  sentença  proferida  nos  julgados  de  paz  deve  conter  apenas  “uma  sucinta  fundamentação”  –  Art.  60º,  nº1,  
al.  c)  da  LJP.  
•   No  regime  da  AECOP  a  sentença  deve  ser  “sucintamente  fundamentada”  –  art.  4º,  nº7.  

Normas  do  CPC  que  se  relacionam  com  este  princípio:  art.  154º  +  567º,  nº3.  

Quando  à  arbitragem:  

•   “A  sentença  deve  ser  fundamentada,  salvo  se  as  partes  tiverem  dispensado  tal  exigência  […]”  –  art.  42º,  nº3  
da  LAV.  Pergunta:  será  este  preceito  conforme  à  CRP?  

 
 

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