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Direitos Reais (18.01.

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A presente prova é composta por 3 grupos de questões. Os grupos I e II são de resposta obrigatória. No
tocante ao grupo III o aluno deverá escolher duas – e só duas - questões para resposta.

Há dez dias, A (professor de música) comprou a B (advogado) um apartamento


correspondente ao rés-do-chão de um prédio de cinco andares, todos rigorosamente iguais
entre si e todos eles destinados, segundo o título de constituição do prédio em propriedade
horizontal, a “escritórios e serviços”. Hoje, A recebeu uma carta remetida pelo também
condómino C, na qualidade de “administrador do condomínio”, nos termos da qual:

a) C exige a A o pagamento imediato do montante correspondente à soma das


“mensalidades do condomínio” correspondentes a todo o ano de 2009 e de 50% dos
custos de instalação de um elevador no prédio e de reparação do telhado, também
ocorrida em 2009, com os seguintes fundamentos:

a. B deixou aqueles montantes por pagar, e o regulamento de condomínio


aprovado na primeira reunião da assembleia de condóminos inclui uma
disposição segundo a qual os adquirentes das fracções respondem pelas
dívidas que não sejam pagas pelos alienantes;

b. O valor das “mensalidades do condomínio” para 2009 e a realização das obras


de instalação do elevador e de reparação do telhado foram oportunamente
aprovados pela assembleia de condóminos, apenas com o voto contra de B; e

c. Nos termos do título constitutivo de propriedade horizontal, à fracção adquirida


por A corresponde uma percentagem de 50%, exclusivamente para efeitos de
comparticipação em quaisquer custos de interesse comum;

b) C intima A a abster-se de realização de quaisquer trabalhos de renovação do


apartamento, na medida em que do regulamento de condomínio consta que quaisquer
obras, independentemente da sua dimensão, carecem “de aprovação dos demais
condóminos” e, pelo menos, ele, C, opõe-se à realização de quaisquer obras; e

c) C comunica a A que está absolutamente fora de causa que, naquele prédio, possam
ser dadas aulas de música, independentemente da obtenção de todas as autorizações
administrativas necessárias para o efeito, pois o ruído decorrente do exercício daquela
actividade prejudicaria o trabalho a desenvolver nas demais fracções.

Analise individualmente cada uma das pretensões de C.

II

A, filho e único herdeiro de B, encontra-se a preparar o processo de sucessão deste, que


morreu há cerca de um mês. No âmbito desse processo foi confrontado com a seguinte
situação:

a) A B, em 1988, foi doada, por C, uma casa junto à praia;

b) B, ainda em 1988, contratou D para realização de obras de remodelação da referida


casa, tendo D procedido à realização imediata dos trabalhos para que foi contratado;
c) B nunca registou a aquisição da casa a seu favor e, entretanto, desinteressou-se por
completo da casa, nunca tendo pago a D o preço da empreitada;

d) Em Janeiro de 1993, zangado por nunca ter recebido o preço da empreitada e tirando
proveito de a casa permanecer desocupada, D resolveu passar a utilizá-la, tendo para
isso substituído a fechadura da porta exterior;

e) Nos Verões de 1993 e 1995, D passou largas temporadas, com a sua família, na casa;

f) Em Dezembro de 2008, D, com a ajuda de uns amigos, outorgou – perante notário -


escritura de justificação, invocando que utilizava a casa desde 1990, com
desconhecimento de quem fosse o seu verdadeiro proprietário.

A pretende saber se e, em caso afirmativo, como pode “tomar conta” da casa. Dê-lhe a
sua opinião.

III

Comente duas – apenas duas - das seguintes frases:

a) É nula a cláusula que, em contrato de constituição de direito de superfície perpétuo


relativo a um pomar, constitua o superficiário na obrigação de, nos primeiros cinco
anos, entregar um quarto dos frutos que colha ao proprietário do solo.

b) Atenta a tripartição tradicional dos direitos reais em direitos reais de gozo, de aquisição
e de garantia, a qualificação do direito de superfície como um simples direito de gozo é
redutora, por força do conteúdo que este direito pode assumir.

c) A alínea a) do artigo 1253.º do Código Civil constitui a demonstração definitiva do


acolhimento de uma concepção subjectivista da posse no direito português.

d) Nunca o possuidor de um terreno adquirirá esse mesmo terreno por acessão industrial
imobiliária, quaisquer que sejam as obras que realize.

e) A obrigação do usufrutuário de manter a forma, a substância e o destino económico da


coisa, a todo o tempo, constitui um elemento essencial do usufruto.

f) Admitir a validade da propriedade em garantia no direito português corresponde ao


simultâneo desvirtuamento do conceito de propriedade, tal como tradicionalmente
reconhecido e pressuposto no regime legal pertinente.

Observações:
1. As cotações das perguntas são:
- Grupo I: 9 valores
- Grupo II: 6 valores
- Grupo III: 2,5 valores cada
2. O tempo máximo para a realização da prova é de três horas.

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