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DIREITO CIVIL

SUCESSÕES
Professor Me. Ricardo Oliveira da Silva Júnior
Aula 01- Aula Introdutória
Direito das Sucessões

§ Também conhecido por Direito Sucessório, o Direito


das Sucessões é o conjunto de normas que
disciplinam a transferência do patrimônio de alguém,
depois de sua morte, em virtude de lei ou testamento.
Trata-se de um ramo do Direito Civil, cujas normas
regulam a transferência do patrimônio do morto ao
herdeiro. Ou seja, o fundamento do Direito Sucessório
é a propriedade, conjugada ou não com o direito de
família.
■ O Direito admite duas formas de sucessão: inter vivo (no
momento vivo) e causa mortis (no momento morte). Da
sucessão entre vivos cuida o Direito das Obrigações, já o
Direito das Sucessões trata do segundo caso e tem como
fundamento o Direito da Propriedade.

■ Aqui no Brasil, as normas referentes ao Direito das


Sucessões constam no artigo 5º da Constituição Federal,
incisos XXX e XXXI, nos artigos 1784 a 2027 do Código Civil,
na Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
Pressupostos do Direito das Sucessões
■ Obviamente, para que tenhamos um processo relativo ao Direito
Sucessório deve-se haver a morde do de cujus (o autor da herança).
Além disso, deve-se ter a vocação hereditária dos que pleiteiam a
sucessão.

■ Conforme definido pelo Art. 1.829, a sucessão legítima é reconhecida


em uma ordem estabelecida e considera os seguintes sucessores:
I – Os descendentes;
II – Os ascendentes;
III – O cônjuge sobrevivente;
IV – Os colaterais.
DIREITO CIVIL
SUCESSÕES
Professor Me. Ricardo Oliveira da Silva Júnior
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
DAS SUCESSÕES
■ O livro referente ao Direito das Sucessões é o último do CC/2002, assim como
ocorria com o Código de 1916, com o vigente Código Civil Português e o BGB
Alemão (Erbrecht). E não poderia ser diferente, pois a morte deve fechar qualquer
codificação que se diga valorizadora da vida civil da pessoa humana.

■ Nota-se, portanto, que o termo sucessões, para os devidos fins, deve ser lido
apenas para incorporar a sucessão mortis causa, ou seja, que decorre da morte.
Não se pode esquecer, todavia, que há a sucessão por ato inter vivos, que pode
estar presente em várias situações, como naquela em que uma empresa sucede a
outra por questões contratuais.
■ O Direito das sucessões realiza a finalidade institucional de dar a continuidade possível ao
descontínuo causado pela morte.

■ A continuidade a que tende o Direito das sucessões manifesta-se por uma pluralidade de
pontos de vista.

■ No plano individual, ele procura assegurar finalidades próprias do autor da sucessão, mesmo
para além do desaparecimento deste. Basta pensar na relevância do testamento.

■ A continuidade deixa marca forte na figura do herdeiro. Veremos que este é concebido ainda
hoje como um continuador pessoal do autor da herança, ou de cujus. Este aspecto tem a sua
manifestação mais alta na figura do herdeiro legitimário.

■ Mas tão importante como estas é a continuidade na vida social. O falecido participou desta, fez
contratos, contraiu dívidas... Não seria razoável que tudo se quebrasse com a morte,
frustrando os contraentes. É necessário, para evitar sobressaltos na vida social, assegurar que
os centros de interesses criados à volta do autor da sucessão prossigam quanto possível sem
fracturas para além da morte deste” .
■ Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka apresenta como fundamento pertinente
para o Direito das Sucessões a necessidade de alinhar o Direito de Família ao direito
de propriedade, eis que “o fundamento da transmissão causa mortis estaria não
apenas na continuidade patrimonial, ou seja, na manutenção pura e simples dos
bens na família como forma de acumulação o de capital que estimularia a poupança,
o trabalho e a economia, mais ainda e principalmente no ‘fator de proteção, coesão e
de perpetuidade da família.

■ A partir das lições dos Mestres, conclui-se que o Direito Sucessório está baseado no
direito de propriedade e na sua função o social (art. 5.o, incs. XXII e XXIII, da
CF/1988). Porém, mais do que isso, a sucessão mortis causa tem esteio na
valorização constante da dignidade humana, seja do ponto de vista individual ou
coletivo, conforme o art. 1.o, inc. III, e o art. 3.o, inc. I, da Constituição Federal de
1988.
■ O registro da origem do direito sucessório se
A evolução consagrou em Roma, após cada pater família
constituir sua família.

histórica do ■ O direito sucessório tem origem e composição remota,


direito das pois a partir do momento que o homem deixou de ser
nômade e começou a construir o patrimônio, passou-

sucessões no
se a estruturar as sociedades e assim cada família
possuía seu próprio patrimônio e religião que se
denominou o culto familiar.
Mundo.
■ Um homem morria sem filhos; para saber quem seria
o seu herdeiro, bastava procurar aquele que deveria
ser o continuador do seu culto. Ora, a religião
doméstica transmitia-se pelo sangue, de varão em
varão. Só a descendência em linha masculina
estabelecia entre dois homens a ligação religiosa,
permitindo a um continuar o culto do outro.
■ Na obra de Coulange, o filho primogênito era responsável por toda a sucessão
testamentária, após a morte de seu genitor, o titular dos bens, que era transmitido
através de um culto religioso.

■ exceção, onde nas famílias romanas não atribuía essa responsabilidade de títulos de
propriedades aos filhos ilegítimos, pois no Direito Romano a legislação era a Lei das
XII Tábuas que expressava legalmente que os filhos havidos da relação concubinária,
não sendo concedidos os direitos aos alimentos e à sucessão paterna, mas se a
família não possuía nenhum herdeiro, seja ele por grau de parentesco, a adoção era
um meio de assegurar o título de propriedade e o culto religioso do falecido.

■ Na Idade Média o direito de sucessão se deu através da linhagem masculina, pois


era o filho homem e mais velho que o genitor transmitia o título, e assim o mesmo
garantia e assegurava todo o seu patrimônio.
■ Na última fase do Direito Romano, foi posto que os filhos naturais, gerados do seio
de uniões concubinárias, seriam equiparados aos legítimos, já que os filhos extra
matrimoniais não eram considerados filhos e não tinham se quer um pai.

■ No século XVIII, na França em 1804, o titular de uma herança e propriedade era


imediatamente herdeiro seja ele homem ou mulher, sem nenhuma distinção de raça,
cor e sexo, onde a linha hereditária inicia-se com os herdeiros descendentes;
ascendentes e colaterais privilegiados e na ausência destes a linha sucessória se dá
a partir dos sucessíveis, seja estes filhos então tidos como naturais, o cônjuge
sobrevivo e o Estado.
■ No Brasil, no início do século passado, o Código
Civil de 1916, nos artigos 978 e 1572, reconhecia

A evolução que os filhos ilegítimos concebidos fora do


casamento, não possuíam nenhum direito

histórica do sucessório, pois a família era apenas constituída


diante do casamento legal e com filhos legítimos,

direito das mas quando o Código Civil de 1916 entrou em


vigor.

sucessões no
Brasil
■ a Constituição Federal de 1988 vedou esse ato
discriminatório em relação a filiação e consagrou
os herdeiros ilegítimos no enquadramento no
princípio da igualdade na filiação, seja estes frutos
fora do casamento ou adoção, já que entende-se
pelo ato de suceder é um ato que alguém seja ele
herdeiro legitimo ou ilegítimo, recebe essa
transmissão de títulos e obrigações, em
decorrência da morte do antigo titular dos bens.
■ Hodierno o Direito Sucessório tem previsão legal no art. 5º, incisos XXX e XXXI da
Constituição Federal de 1998; no art. 10 da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro; nos artigos 982 a 1169 do Código de Processo Civil; nos artigos 1784 a
2027 do Código Civil e na Lei 11.441/2007.
Modalidades básicas de sucessão mortis causa

Sucessão legítima – aquela que decorre da lei, que


enuncia à ordem de vocação hereditária, presumindo a
vontade do autor da herança. É também denominada
sucessão ab intestato justamente por inexistir testamento.

Sucessão testamentária – tem origem em ato de última


vontade do morto, por testamento, legado ou codicilo,
mecanismos sucessórios para exercício da autonomia
privada do autor da herança.
SUCESSÕES LEGITIMA
■ A sucessão legitima, segundo o Código Civil, no artigo 1829, estabelece:

A sucessão legitima defere-se na ordem seguinte:

– Aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este


com o falecido no regime de comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(artigo 1640, parágrafo único); ou se, o regime da comunhão parcial, o autor da herança
não houver deixado bens particulares;
– Aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

– Ao cônjuge sobrevivente;

– Aos colaterais;
■ Os herdeiros na sucessão legitimam, distinguem-se dos herdeiros necessários,
como descreve Gonçalves:

“Os herdeiros necessários também denominados legitimariam ou reservatórios, dos


facultativos. Herdeiro necessário é o parente ou cônjuge com direito a uma quota-parte
da herança, da qual não pode ser privado. No novo código ostentam-se tal titulo aos
descendentes, os ascendentes e o cônjuge. A parte que lhes é reservada pela lei e que
constitui metade dos bens do falecido chama-se legitimo. A existência de tais herdeiros
impede a disposição, por ato de ultima vontade, dos bens constitutivos da legitima ou
reserva.”
Sucessões Testamentárias

-Pessoal, por não


-Unilateral, pois
admitir atuação ou
Possui as seguintes depende unicamente
intervenção de
características: da vontade dos
terceiros nos atos de
testados
disposição.

-Formal ou solene, -De eficácia contida,


-Revogável, só a
pois exige modelo pois se aplica
pessoa que o faz é
próprio nos moldes somente após a
que pode modificá-lo.
da lei. morte do testado.
■ Nas duas formas da sucessão, o regramento fundamental consta do
art. 1.784 do CC, pelo qual aberta a sucessão – o que ocorre com a
morte da pessoa –, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários. Trata-se da consagração da máxima droit
de saisine.
■ A expressão, segundo Jones Figueiredo Alves e Mário Luiz Delgado,
tem origem na expressão gaulesale mort saisit le vif, pela qual “com a
morte, a herança transmite-se imediatamente aos sucessores,
independentemente de qualquer ato dos herdeiros. O ato de aceitação
da herança, como veremos posteriormente, tem natureza
confirmatória”.
■ A saisine é conceituada com grande maestria por Maria
Helena Diniz ao lecionar que a morte é a pedra angular
Saisine de todo o direito sucessório, uma vez que esta
determina a abertura da sucessão. Não se compreende,
neste quadrante, tal instituto sem o óbito do de cujus,
dado que não há herança de pessoa viva.

■ O que vale dizer, que no instante da transmissão da


posse e da propriedade, o herdeiro recebe o patrimônio
tal como se encontrava com o de cujus. Logo,
transmitem-se, também, além do ativo, todas as dívidas,
ações e pretensões contra ele existentes.

■ Por outro prisma, o doutrinador Silvio de Salvo Venosa


conceitua como sendo “o direito que têm os herdeiros
de entrar na posse dos bens que constituem a herança.”
■ Alicerceado pelo artigo 1.784, Código Civil, clarifica, ainda, que a saisine possibilita
que todos os bens do falecido se transfiram, de imediato e com sua morte, aos seus
herdeiros, legítimos ou testamentários, ao passo que a definição adotada pela
jurisprudência pátria não destoa da definição legal ou doutrinária.

■ Neste sentido, o princípio de saisine aplica-se no momento do óbito do de cujus, ato


que abre a sucessão, transmitindo-se, sem solução de continuidade, a propriedade e
a posse dos bens do falecido aos seus herdeiros sucessíveis, legítimos ou
testamentários, que estejam vivos naquele momento, independente de qualquer ato.
1) Abre-se a herança com a morte do sujeito, e no mesmo
instante os herdeiros a adquirem. Verifica-se, portanto,
imediata mutação subjetiva;

2) Não é o fato de estar próximo que atribui ao herdeiro a


posse e propriedade dos bens, mas sim a sucessão - a
posse e a propriedade advêm do fato do óbito;

Saisine e 3) O herdeiro passa a ter legitimidade ad causam


(envolvendo a faculdade de proteger a herança contra a
seus efeitos investida de terceiros);

4) Com o falecimento do herdeiro após a abertura da


sucessão, transmite-se a posse e propriedade da herança
aos seus sucessores, mesmo sem manifesta aceitação;

5) Mesmo que os bens não estejam individualizados e


discriminados, constitui a herança em si mesma um valor
patrimonial, e, como tal, pode ser transmitida inter vivos.
Do Lugar

■ Regra: O art. 1.785 do CC que a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do


falecido.

■ Art. 96 do CPC/1973:
Ato contínuo, ainda pelo Estatuto Processual anterior, seria competente o foro:
I) Da situação dos bens, se o autor da herança não possuísse domicílio certo.
Exemplos: casos de nômades e circenses.
II) Do lugar em que ocorreu o óbito se o autor da herança não tivesse domicílio certo e
possuía bens em lugares diferentes.
■ O dispositivo recebeu algumas alterações pelo Código de Processo Civil de 2015,
correspondendo, agora, ao art. 48 do Estatuto Processual emergente. De início, o caput
do novo comando dispõe que o foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o
competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições
de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as
ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Em
suma, foi mantida a regra geral anterior nesta primeira parte da norma.

■ Porém, o parágrafo único do novo art. 48 do CPC/2015 dispõe que, se o autor da herança
não possuía domicílio certo, será competente:

I) o foro de situação dos bens imóveis. Como se nota, essa nova norma menciona apenas
os bens imóveis e não os móveis, que eram englobados pela regra anterior;
I) havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes, o que é inovação
legislativa;
II) não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio, o que passa
a ser aplicado aos bens móveis.
Considerações Finais

■ Para finalizar o estudo dos preceitos gerais e básicos relativos à sucessão mortis
causa, deve-se atentar ao fato de ser o direito à herança garantido como um direito
fundamental pelo art. 5.o, inc. XXX, da Constituição Federal de 1988. Vários são os
exemplos de concreção da norma constitucional, em um sadio diálogo entre o Direito
das Sucessões e o Direito Constitucional, na linha da escola do Direito Civil
Constitucional.
DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO
■ A herança é o conjunto de bens formado com o falecimento do
de cujus (autor da herança).

■ Conforme o entendimento majoritário da doutrina, a herança


forma o espólio, que constitui um ente despersonalizado ou
despersonificado e não de uma pessoa jurídica, havendo uma
universalidade jurídica, criada por ficção legal.

■ A norma processual reconhece legitimidade ativa ao espólio,


devidamente representado pelo inventariante (art. 75, inc. VII,
do CPC/2015, correspondente ao art. 12, inc. V, do
CPC/1973).
■ Além de sua imobilidade, a herança é um bem indivisível antes da partilha.

■ Nos termos do art. 1.791 do Código Civil, a herança defere-se como um todo unitário, ainda
que vários sejam os herdeiros. Pelo mesmo comando legal, até a partilha, o direito dos
coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas
normas relativas ao condomínio.

■ Forma-se, então, um condomínio eventual pro indiviso em relação aos bens que integram a
herança, até o momento da partilha entre os herdeiros.
Situações Hipotéticas
Os herdeiros respondem pelas dívidas do de cujus somente até os limites da herança
e proporcionalmente às suas quotas. Exemplo: o falecido deixou dois herdeiros e um
patrimônio de R$ 500.000,00. Deixou, ainda, uma dívida de R$ 1.000.000,00. Cada
herdeiro somente responde nos limites das suas quotas na herança (R$ 250.000,00).

Nos contratos impessoais, a obrigação do falecido transmite-se aos herdeiros. É o


caso, por exemplo, da empreitada, em regra (art. 626 do CC). O ônus que é
transmitido aos herdeiros vai até os limites da herança .

Nos contratos pessoais ou personalíssimos (intuitu personae), a obrigação do falecido


não se transmite aos herdeiros, como ocorre na prestação de serviços (art. 607 do
CC).
Se um dos devedores solidários
falecer deixando herdeiros,
cada um destes será obrigado
a pagar a quota que
corresponder ao seu quinhão
hereditário, nos limites da
herança.
Prazos
■ O Código Civil Brasileiro de 2002 prevê um prazo de 30
dias, a contar da abertura da sucessão (o que se dá pela
morte), para a abertura do inventário do patrimônio
hereditário (art. 1.796 do CC).
■ O Código de Processo Civil de 2015 trouxe em seu art. 611,
que o processo de inventário e de partilha deve ser
instaurado dentro de 2 meses, a contar da abertura da
sucessão, ultimando-se nos 12 meses subsequentes,
podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a
requerimento de parte. Como se percebe, o prazo para a
abertura foi alterado de 60 dias para 2 meses, o que não
corresponde necessariamente ao mesmo número de dias.
■ Em relação ao prazo de encerramento do inventário, este
foi mantido em doze meses.
HERANÇA JACENTE

A herança jacente é aquela que ocorre quando alguém falece e não é deixado nenhum herdeiro, e
nenhum testamento, tornando-a assim uma herança sem nenhuma destinação.

É prevista no Código Civil, mediante o artigo 1.819, que quando falece alguém sem deixar nenhum
testamento indicando quais são os herdeiros legítimos ou os legatários para receber a herança do
falecido, ou ainda na hipótese de que quando os herdeiros são indicados pelo testamento, mas não
existem ou não aceitaram a herança e ainda se o falecido não deixar nenhum cônjuge ou companheiro.

Art. 1819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os
bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um curador, até a sua
entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância.

O pedido de declaração da herança jacente deverá ser elaborado pela Fazenda Pública, Ministério Público
e/ou interessado por meio de advogado, instruído com a certidão de óbito.
HERANÇA VACANTE

A herança vacante é aquela em que o bem é devolvido ao patrimônio publico, por não haver herdeiros que se
habilitassem no período da jacência. É a herança em que é declarada ser de ninguém.

Art. 1.820 – Código Civil: praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos
editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro
habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante.

Após ser declarada essa vacância, se existir algum herdeiro colateral, estes ficam excluídos, sem direito a
sucessão. Já os outros herdeiros, que são os ascendentes e descendentes, tem o prazo de cinco anos contados
da abertura da sucessão para dar início a ação de petição de herança. E, se nenhum herdeiro der início a ação e
passar o prazo de cinco anos da abertura da sucessão, o acervo hereditário será em definitivo do poder público.

Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que legalmente se habilitarem;
mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou
do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando
situados em território federal.
DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA E OS LEGITIMADOS A
SUCEDER
■ O direito à sucessão é garantido pela Constituição da República de
1988, em seu art. 5º, XXX: “é garantido o direito à herança”.

■ O Código Civil definiu em seus arts. 1798 e 1799 quem são as pessoas
com capacidade sucessória legítima e testamentária, ou seja, que
possuem condições para suceder o autor da herança. Frisa-se que
capacidade sucessória não se confunde com capacidade civil, pois esta
refere-se a aptidão para exercer os atos da vida civil, enquanto aquela
diz respeito à atribuição do direito de suceder, é uma condição comum a
toda e qualquer pessoa, física ou jurídica, existente na época da
abertura da sucessão.
■ O artigo 1798 do Código Civil, dispõe que: Legitimam-se a suceder as
pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da
sucessão.

- Atualmente, existem divergências em relação às duas teorias


constantemente abordadas pelos doutrinadores.

■ Pela teoria natalista, a personalidade jurídica só se inicia com o


nascimento com vida. Assim, o nascituro só terá direitos sucessórios
caso nasça com vida, do contrário não terá.
■ Por outra linha, tem-se a teoria concepcionista, para qual a
personalidade jurídica se inicia com a concepção, muito embora
alguns direitos só possam ser plenamente exercitáveis com o
nascimento. Sustentam que o nascituro é pessoa e, portanto, sujeito
de direitos.
DA ACEITAÇÃO DA HERANÇA
■ A aceitação da herança é o ato do herdeiro que confirma a transmissão da herança.

■ Três são as formas de aceitação da herança que podem ser retiradas dos arts. 1.805 e
1.807 do CC:
1- Aceitação expressa – feita por declaração escrita do herdeiro, por meio de instrumento
público ou particular.
2- Aceitação tácita – resultante tão somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.
Como exemplo, cite-se a hipótese em que o herdeiro toma posse de um bem e começa a
administrá-lo e a geri-lo como se fosse seu.
3- Aceitação presumida – tratada pelo art. 1.807 do CC, segundo o qual o interessado em
que o herdeiro declare se aceita ou não a herança, poderá, vinte dias após aberta a
sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de 30 dias, para, nele, se pronunciar
o herdeiro. Isso, sob pena de se haver a herança por aceita.
RENÚNCIA DA HERANÇA
■ Em relação à renúncia da herança, esta sempre deve ser expressa, constando de
instrumento público ou termo judicial (art. 1.806 do CC). Assim, não se admite a
renúncia tácita, presumida ou verbal. O desrespeito a essa regra importa em nulidade
absoluta do ato, por desrespeito à forma e à solenidade.

■ Conforme se extrai da melhor doutrina, duas são as modalidades de renúncia à


herança:
1- Renúncia abdicativa – o herdeiro diz simplesmente que não quer a herança, havendo
cessão pura e simples a todos os coerdeiros, o que equivale à renúncia. Em casos tais,
não há incidência de Imposto de Transmissão Inter Vivos contra o renunciante.
2- Renúncia translativa – quando o herdeiro cede os seus direitos a favor de determinada
pessoa (in favorem). Como há um negócio jurídico de transmissão, incide o Imposto de
Transmissão Inter Vivos .
Existem situações previstas em lei, somadas ou não a
ato de última vontade do autor da herança, em que é
excluído o direito sucessório do herdeiro ou legatário.
DOS
EXCLUÍDOS DA
A diferença inicial fundamental entre a exclusão por
indignidade sucessória e a deserdação é que no SUCESSÃO:
primeiro caso o isolamento sucessório se dá por
simples incidência da norma e por decisão judicial, o
INDIGNIDADE
que pode atingir qualquer herdeiro (art. 1.815 do CC). SUCESSÓRIA E
DESERDAÇÃO.
Já na deserdação, por outro lado, há um ato de última
vontade que afasta herdeiro necessário, sendo
imprescindível a confirmação por sentença.
As hipóteses de indignidade e de deserdação estão unificadas em parte,
e não totalmente, pela atual codificação privada. Assim, são
considerados herdeiros indignos, nos termos do art. 1.814 do CC:

1- Os herdeiros que tiverem sido autores, coautores ou partícipes de


homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão
se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente.

2- Os herdeiros que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor


da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de cônjuge
ou companheiro.

3- Os herdeiros que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou


obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato
de última vontade.
■ Conforme os arts. 1.962 e 1.963 do CC, além das causas mencionadas no
art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes
e vice-versa:

I) A prática de ofensa física entre tais pessoas.


II) A injúria grave entre elas.
III) As relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto; bem como as
relações ilícitas com a mulher ou companheira do(a) filho(a) ou a do(a) neto(a).
Como relações ilícitas, a doutrina entende a prática de atos sexuais e
envolvimentos afetivos entre as pessoas elencadas, tidos como adúlteros, de
infidelidade ou incestuosos.
IV) O desamparo praticado entre essas pessoas, havendo alienação mental ou
grave enfermidade do prejudicado.
SUCESSÃO LEGÍTIMA
CONCEITO

A sucessão é legítima quando, na falta de testamento, defere-se o


patrimônio do morto a seus herdeiros necessários e facultativos,
convocados conforme relação preferencial da lei. Se houver testamento
mas não abranger todos os bens, a sucessão legítima também será
aplicada art. 1788.

■ Veja como dispõe o CC. 2002:


Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos
herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem
compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o
testamento caducar, ou for julgado nulo.
■ Com o falecimento de uma pessoa, sua sucessão se dá conforme sua
última vontade formalizada em testamento ou, se o autor da herança (a
pessoa que morreu) houver falecido ab intestato (sem deixar
testamento), a sucessão é regulada pela lei.

■ Assim, dá-se o nome de sucessão legítima àquela regulada pela lei, pela
ordem de vocação hereditária, com determinação da escala de
preferência dos herdeiros no chamamento à herança.

■ Como esta forma se dá apenas se não houver testamento, ou se este for


parcial, tiver caducado ou tiver sido declarado nulo, diz-se que a
sucessão legítima se dá apenas de forma supletiva.

■ A sucessão legítima, como vimos, é determinada por lei, aplicando-se a


lei vigente ao tempo da abertura da sucessão, ou seja, a lei que estiver
em vigência quando do falecimento do autor da herança.
A ordem de sucessão legítima
■ O art. 1.829 do Código Civil é essencial na compreensão da sucessão legítima:
determina a ordem de sucessão. Vamos verificar, de maneira sumária, a ordem
determinada pelo Código Civil para, depois, analisar cada hipótese mais
detalhadamente.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se
casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da
comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
DESCENDENTES, EM CONCORRÊNCIA COM O
CÔNJUGE SOBREVIVENTE

■ Os descendentes são privilegiados na partilha dos bens, e


são os primeiros na ordem de sucessão, concorrendo com o
cônjuge. No caso, o cônjuge não concorre com os
dependentes quando houver sido casado com o falecido no
regime de comunhão universal de bens ou em regime
obrigatório de separação total de bens, ou ainda quando,
casado em regime de comunhão parcial de bens, o autor da
herança não tiver deixado bens particulares.
ASCENDENTES, EM CONCORRÊNCIA COM O
CÔNJUGE SOBREVIVENTE

■ Neste caso, o cônjuge sobrevivente concorre em


partes iguais com os pais do falecido. Assim, se o
falecido deixar seu pai, sua mãe e o cônjuge, a cada
um caberá 1/3 da herança. Contudo, em caso de
ascendentes de maior grau (avós, bisavós), ao
cônjuge caberá a metade da herança, sendo a outra
parte dividida entre os ascendentes.
AO CÔNJUGE SOBREVIVENTE
■ O cônjuge sobrevivente tem direito a toda a herança se não houver descendentes
ou ascendentes com quem concorrer na sucessão, independentemente do regime
de bens de sua união com o falecido.

Aspectos especiais sobre o cônjuge sobrevivente


■ Em qualquer hipótese de sucessão, o cônjuge sobrevivente só terá direito à
herança se não estiver separado judicialmente ou de fato do falecido. O Código
Civil apresenta dois critérios para esta regra: a separação não pode ter acontecido
há mais de dois anos da data do falecimento e, em qualquer caso, cabe prova de
que o cônjuge sobrevivente não deu causa à impossibilidade do convívio, para
resgatar o direito à herança (art. 1.830 do Código Civil).
Também, o art. 1.831 do Código Civil determina o direito real de moradia ao
cônjuge sobrevivente. No caso, se não houver mais imóveis residenciais na
herança deixada pelo falecido, assegura-se o direito real de moradia ao cônjuge
sobrevivente, qualquer que tenha sido o regime de bens da união.
AOS COLATERAIS
■ Os colaterais são chamados à sucessão na ordem de sua proximidade,
considerando-se os graus de parentesco.

■ Nesse ponto, é interessante discutirmos as linhas de parentesco, conceito


essencial para entender a sucessão. A linha de parentesco é o vínculo de duas
pessoas a partir de um ascendente comum. Assim, para determinar o grau de
parentesco entre duas pessoas, contam-se as “linhas” até o ascendente comum. As
“linhas” de parentesco podem se dar em linha reta, quando nos referimos a
ascendentes e descendentes, ou em linha colateral, quando as pessoas não
descendem umas das outras mas têm o mesmo tronco ancestral comum (irmãos,
tios, sobrinhos e primos).

■ Assim, se não houver cônjuge sobrevivente, ascendentes ou descendentes, são


chamados os colaterais, pela ordem de proximidade com o autor da herança:
primeiro, chamam-se os irmãos. Na falta destes, os sobrinhos. Se também não
houver sobrinhos, chamam-se os tios e, não havendo também tios, chamam-se os
colaterais de quarto grau: primos, tios-avós e sobrinhos-netos.
Regras de sucessão legítima para
vocação

■ Uma classe somente pode ser convocada quando não há


herdeiros na classe anterior, ou seja, não se convoca os
colaterais se houver ascendentes.

■ Em uma mesma classe os mais próximos excluem os mais


remotos, assim, então não se chama o neto se existe filho, não
se chama o avô se existe pai, salvo o direito de representação.
Formas de Partilha
■ Por linhas: ocorre quando são chamados à partilha os ascendentes. Por
exemplo, Camila morre sem descendentes e cônjuge, bem como seus pais
também já morreram, mas a avó paterna está viva e o avô e a avó materna
também. Então a herança será dívida em metade à avó paterna e a outra
metade, dividida entre os outros dois avôs maternos.

■ Por cabeça: divide-se a herança em partes iguais entre herdeiros da mesma


classe, por exemplo, Camila morre e seus 4 filhos vão receber sua herança
por cabeça e por direito próprio.

■ Por estirpe: é a forma de partilha em que os herdeiros sucedem em graus


distintos por direito de representação. A título exemplificativo, Camila morre e
tem um filho pré-morto que deixou três netos, então seus três filhos vivos vão
herdar por direito próprio e por cabeça, enquanto cada um de seus netos
herdará por direito de representação e por estirpe.
Herdeiros

■ Legítimos: descendentes, ascendentes, cônjuge, colaterais;

■ Necessários: descendentes, ascendentes e cônjuge – Art.


1846 CC;
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno
direito, a metade dos bens da herança, constituindo a
legítima.

■ Testamentários: instituídos pelo falecido por testamento.


Modos da sucessão legítima
■ Direito Próprio: as pessoas que sucedem por direito próprio são
aquelas herdeiras da classe chamada, assim, o filho herda do pai
por direito próprio.

■ Direito de Representação: sucede por direito de representação a


pessoa que fica no lugar de um herdeiro pré-morto.

■ Direito de Transmissão: sucede-se por direito de transmissão


quando se substitui o herdeiro pertencente à classe chamada,
depois da abertura da sucessão, mas antes da conclusão do
inventário.
Sucessão Testamentária

■ O herdeiro pode receber a herança através da sucessão legítima e da sucessão


testamentária, através da manifestação de última vontade do falecido, devendo sempre
sem cumprida, é ato personalíssimo, podendo ser revogado ou anulado enquanto vivo e
capaz o testador.

■ O testamento é um ato personalíssimo, pois é realizado pelo próprio testador dispondo


em vida de seus bens, atribuindo patrimônio para pessoa certa e determinada para
depois de sua morte, sem interferência de terceiro. Porém um terceiro a pedido do
testador e seguindo suas orientações, poderá acompanhar a sua elaboração, sem
interferência em seu conteúdo e na vontade do testador.
O testamento é um ato causa mortis, pois seus efeitos só se produzem após a morte
do testador. É um negócio jurídico unilateral, o testador declara sua vontade para que
seja cumprida após sua morte. Depende da manifestação da vontade livre e solitária
do testador de dispor.

E é um ato solene, prescrito em lei, devendo ser observadas algumas formalidades,


determinadas na lei, para dar garantia e certeza sobre a vontade do testador, e
verificar a veracidade das clausulas.

O Código Civil prevê que a capacidade de testar é de toda pessoa física de direito
natural, maior de 16 anos, não declarada incapaz pela lei e que esteja em pleno
discernimento no momento do testamento.

Qualquer pessoa é capaz de receber por testamento, seja pessoa física ou jurídica.
Segundo o artigo 1798 do CC, “Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já
concebidas no momento da abertura da sucessão”.
TESTAMENTO - CONCEITO
■ Conforme ensinamento de Carlos Roberto Gonçalves
(2010, p.74)

"Testamento constitui ato de última vontade, pelo qual o autor


da herança dispõe de seus bens para depois da morte e faz
outras disposições, sendo considerado pelo Código Civil, ato
personalíssimo e revogável pelo qual alguém dispõe da
totalidade dos seus bens, ou parte deles, para depois de sua
morte (arts. 1.857 e 1.858)".
CARACTERÍSTICAS
b) constituir negócio unilateral,
aperfeiçoando-se com uma única
manifestação de vontade
As principais características do a) ato personalíssimo, privativo (declaração não receptícia de
testamento são: do autor da herança; vontade), e prestar-se à produção
de diversos efeitos por ele
desejados e tutelados na ordem
jurídica;

c) ser solene; somente será


válido, observadas todas as
formalidades essenciais e) ser essencialmente revogável
prescritas na lei, exceto o d) ser um ato gratuito, não visa (art. 1.969), sendo nula a
testamento nuncupativo (de viva vantagens para o testador; cláusula que proíbe a sua
voz), admissível somente como revogação;
espécie de testamento militar
(art. 1.896);

f) ser ato causa mortis,


produzindo efeitos somente após
a morte do testador.
Disposições Gerais
■ Filhos não concebidos a época da abertura da sucessão do testamento são
incapazes a receber por testamento, com exceção dos indicados pelo
testador, vivas na abertura da sucessão. O nascituro terá direito de adquirir
por testamento observados dois anos estabelecidos por lei para concepção
do herdeiro esperado.

■ Pessoas Jurídicas de Direito Público e Privado, não existentes à época da


morte do testador, cuja organização for determinada pelo testador sob a
forma de fundação.

■ As testemunhas devem ser alheias ao testamento para não influenciarem o


testador. A concubina não pode receber por testamento, salvo se for
separada de fato do cônjuge há mais de cinco anos, e a culpa da separação
não for sua.
■ De acordo com o Código Civil, se extingue em 5 anos o direito de impugnar a
validade do testamento, contado o prazo da data do seu registro. Após a morte
do testador, e da apresentação do testamento ao Juiz.

■ A fim de se evitar fraudes a ultima vontade do morto, o testamento perdido ou


destruído não pode ser refeito.

■ O artigo 1863 CC proíbe o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou


correspectivo. Proíbe o testamento que indaga a mais de uma pessoa, com as
mesmas disposições e veda a reciprocidade, pois cada testador institui a
herança ao outro como seu herdeiro pelo fato de ele tê-lo nomeado herdeiro em
seu testamento.
FORMAS ORDINÁRIAS DE TESTAMENTO
Testamento Público: Artigos 1864 a 1867 do Código Civil.

■ É o mais utilizado no Brasil, devendo ser redigido em Língua Nacional Portuguesa, se configura
em uma escritura pública, que deve ser lavrado ou redigido em um livro de notas, ato privativo e
indelegável do tabelião, mas que pode ser realizado por seu substituto legal, de acordo com as
declarações do testador.

■ É considerado o mais seguro dos testamentos, pois uma cópia fica registrada no cartório,
impossibilitando perdas e destruição do testamento. Podendo qualquer pessoa ter acesso após
a sua morte.

■ Exigem duas testemunhas, maiores de dezesseis anos, alfabetizadas e com capacidades para
os atos da vida civil, e que compreendam a língua portuguesa, essenciais para a validade do
ato.
Essa forma de testamento não pode ter como testemunha o surdo, o cego, o herdeiro ou o legatário
instituído no testamento, seus descendentes, ascendentes, irmãos, cônjuges ou companheiros. Deve
ser alguém totalmente alheio as partes envolvidas.

O testamento deve ser lavrado, lido em voz alta pelo tabelião ao testador e as duas testemunhas ao
mesmo tempo. O tabelião, testador e testemunhas devem assinar o documento. Se o testador não
souber assinar, o oficial declara o fato e designa uma das testemunhas para assinar pelo testador.

Art. 1.866. “O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não o souber,
designará quem o leia em seu lugar, presentes as testemunhas.”

Art. 1.867. “Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes,
uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo
testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento.”

Ao analfabeto e ao cego apenas é permitido testar na forma pública.


- Testamento Cerrado: Artigos 1868 a 1875 do Código Civil.

■ É o testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa a seu rogo, ficando sujeito à aprovação
pelo tabelião ou seu substituto legal em presença do testador e de duas testemunhas para que seja
assegurada a autenticidade do ato.

■ Ele só possui eficácia após o auto de aprovação ser lavrado por tabelião, na presença de duas
testemunhas idôneas.

■ Esse testamento pode ser escrito mecanicamente, desde que enumeradas e autenticadas com
assinatura todas as páginas.

■ O testamento cerrado possui caráter sigiloso, para quem quer manter segredo sua última vontade,
até a sua abertura.

■ Segundo o Art. 1.869 do Código Civil, “o tabelião deve começar o auto de aprovação imediatamente
depois da última palavra do testador, declarando, sob sua fé, que o testador lhe entregou para ser
aprovado na presença das testemunhas; passando a cerrar e coser o instrumento aprovado.”
O testamento cerrado poderá ser escrito em língua nacional ou estrangeira.

Analfabeto e o cego não pode fazer esse tipo de testamento. Não pode dispor de seus bens em
testamento cerrado, quem não saiba ou não possa ler.

O surdo mudo contando que escreva de próprio punho o testamento e assine pode realizar
essa forma de testamento, entregando para o tabelião perante duas testemunhas, escrevendo
na face externa do papel que aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe pede.

O testamento será aprovado e depois de lacrado, entregue ao testador. Só então, o tabelião


lançará no seu livro nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e
entregue.

Após o falecimento do testador, o testamento será apresentado ao juiz, que abrirá e fará o
registro, ordenando que seja cumprido, se não achar vício que o torne nulo ou suspeito de
falsidade.
- Testamento Particular: Artigos 1876 a 1880 do Código Civil.

■ O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mecanicamente, em língua


estrangeira, se as todas as testemunhas a compreenderem.

■ Se o testamento for escrito de próprio punho, deverá ser lido e assinado por quem
escreveu na presença de três testemunhas que o devem subscrever. Se for escrito
mecanicamente, não poderá conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser
assinado pelo testador e lido na presença de três testemunhas que o subscreverão.
Correndo o risco de ser considerado nulo, se não respeitar esses requisitos.

■ Com a morte do testador, o testamento é levado para o juiz do inventário, com citação
dos herdeiros legítimos e as testemunhas devem ser convocadas para confirmar a sua
autenticidade, para o reconhecimento do testamento e de suas assinaturas.
Não é necessária a presença do tabelião para esse testamento, porém ele depende
da confirmação em juízo das testemunhas, que poderão não estar mais presentes
ou não se lembrarem mais do ocorrido após a abertura da sucessão.

De acordo com o Art. 1.878 do Código Civil. “Se as testemunhas forem contestes
sobre o fato da disposição, ou, ao menos, sobre a sua leitura perante elas, e se
reconhecerem as próprias assinaturas, assim como a do testador, o testamento
será confirmado.

Parágrafo único. Se faltarem testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos


uma delas o reconhecer, o testamento poderá ser confirmado, se, a critério do juiz,
houver prova suficiente de sua veracidade.”

Caso não seja encontrada nenhuma testemunha, mesmo que não houver duvida da
autenticidade do testamento, o juiz devera homologar o testamento.
CODICILOS
- Artigos 1881 a 1885 do Código Civil.

■ Consiste em um registro com poucas formalidades do ato de última vontade, despesas de


pouco valor e desejos de pouca importância.

■ Assuntos relacionados a seu enterro, esmolas de pouca monta, legar móveis, roupas e joias de
pouco valor de seu uso pessoal, reabilitar o indigno.

■ Trata-se de um documento particular, escrito e assinado pelo testador, possuindo a data como
requisito essencial. Não necessita de testemunhas e deve ser fechado de forma semelhante ao
testamento cerrado.

■ Um codicilo pode revogar outro codicilo, um testamento pode revogar um codicilo. Mas o
codicilo não pode revogar o testamento. Se houver um testamento posterior ao codicilo, este
deve menciona-lo e confirma-lo para não revoga-lo.
FORMAS ESPECIAIS DE TESTAMENTO
■ São testamentos que levam em consideração não ter meios de utilizar a forma ordinária e a
situação na qual se encontram, para manifestar a sua última vontade em eminente risco de
morte.

- Testamento Marítimo e Aeronáutico: Artigos 1888 a 1892 do Código Civil.

■ O testamento marítimo é facultado a quem estiver em viagem, a bordo de navio nacional de


guerra ou mercante. Perante o comandante, na presença de duas testemunhas, através do
testamento publico ou cerrado, e o comandante devera fazer o registro no diário de bordo.
Pode ser feito em alto mar, em vias pluviais ou lacustres, no caso de haver incidência de risco
de vida e impossibilidade de desembarque em algum porto para que seja feito o testamento
na forma ordinária.
O testamento aeronáutico pode se utilizado para quem estiver a bordo de
aeronave militar ou comercial, perante pessoa designada pelo comandante,
na presença de duas testemunhas, através de testamento público ou
cerrado, devendo o comandante fazer o registro no diário de bordo.
O comandante ficará sob a guarda do testamento marítimo ou aeronáutico, e
o entregará à autoridade administrativa do primeiro porto ou aeroporto
nacional.

O testamento caducará se o testador não morrer durante a viagem, ou nos


noventa dias subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer
um outro testamento, em forma ordinária.

Art. 1.892. “Não valerá o testamento marítimo, ainda que feito no curso de
uma viagem, se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde o
testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária.”
- Testamento Militar: Artigos 1893 a 1896 do Código Civil.

■ Esse testamento pode ser feito de forma pública, cerrada ou oral. Restringe-se aos
militares ou civis que estejam a serviço das Forças Armadas. A lei exige que o testador
esteja em campanha, fora do país ou em praça sitiada, ou em local que esteja com a
comunicação interrompida, não havendo tabelião ou representante legal.
■ O testamento pode ser feito perante duas testemunhas, e se o testador não souber
assinar terá de ser feito por três testemunhas, onde uma assinará por ele.
■ Pode ser escrito pelo comandante, ou por algum oficial de saúde se o mesmo estiver
impossibilitado em tratamento hospitalar.
■ Segundo o Art. 1.895. “Caduca o testamento militar, desde que, depois dele, o testador
esteja, noventa dias seguidos, em lugar onde possa testar na forma ordinária, salvo se
esse testamento apresentar as solenidades prescritas no parágrafo único do artigo
antecedente.”
Existe o testamento nuncupativo como espécie de testamento
militar, estando empenhadas em combate ou feridas, em
perigo iminente, pode testar nuncupativamente, na forma
verbal, confiando sua ultima vontade a duas testemunhas.

Caso o testador morra em combate e a testemunha sobreviva,


procurará seu oficial de patente e lhe informará o testamento.
O oficial reduz a termo, com assinatura dele e das
testemunhas.

Caduca se o testador não morrer.


INVENTÁRIO E PARTILHA

■ O procedimento especial de inventário e partilha encontra-se disciplinado no


Código de Processo Civil, título III do livro I, parte especial, especificamente, nos
art. 610 a 673 do CPC/2015.

■ Inventário é o procedimento de partilha dos bens deixados pelo de cujus, que


pode ocorrer por meio judicial ou extrajudicial.

■ O inventário compreende respectivamente as seguintes etapas: a abertura do


inventário, a nomeação do inventariante, o oferecimento das primeiras
declarações, a citação dos interessados, a avaliação dos bens, o cálculo e
pagamento de impostos devidos, as últimas declarações, a partilha e sua
homologação.
Noções Conceituais

■ A teor do art. 1.784 do Código Civil, “aberta a sucessão, a


herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários”.

■ A morte, portanto, é o evento futuro e certo que deflagra a


abertura da sucessão. Não obstante o Código Civil diga que é
automática a transmissão da herança (consagrando a
tradicional regra da saisine), na prática, essa transmissão
depende de duas questões:
Em que se constitui a herança? Quem
são os sucessores?
Para responder a essas duas
questões, o CPC estruturou o O inventário, portanto, é
procedimento de inventário e procedimento judicial ou Vale dizer que quando o
extrajudicial, que se presta a patrimônio resumir-se a pequenos
partilha, o qual persegue proceder o levantamento dos bens
catalogar e partilhar - dividir, são existentes, pagar as dívidas e valores, podem ser levantados por
justamente esses dois objetivos meio de alvará.
que dominam o procedimento de partilhar o saldo entre os
inventário e partilha. herdeiros.

A sentença no procedimento de
inventário é meramente A lei permite a simplificação da
declaratória, pois, nos termos do primeira etapa, quando o
princípio de saisine, a inventário é substituído por
transferência da propriedade se um arrolamento.
deu no momento da morte do
titular dos bens.
Espécies de Inventário

O inventário pode ser judicial e extrajudicial. Será judicial quando houver


testamento ou interessado incapaz.

Por outro lado, será extrajudicial o inventário quando todos os herdeiros


forem capazes, sendo a escritura pública o documento hábil para
transferência civil dos bens do falecido, bem como para levantamento de
quantia depositada em instituição financeira.

Vale destacar que o tabelião só lavrará a escritura pública que se tornará


documento hábil à partilha, se todos os herdeiros estiverem representados
por advogado ou defensor público, devendo estes assinar o ato notarial.
Prazo de Abertura do Inventário

■ O art. 1.796, do Código Civil, prevê que o Inventário deverá ser instaurado
no prazo de 30 dias, a contar da abertura da sucessão, ou seja, do dia da
morte do autor da herança.

■ No entanto, a partir de 18 de março de 2016, passou a vigorar o Código de


Processo Civil de 2015, o qual alterou esse prazo para 2 meses, a contar da
abertura da sucessão, senão vejamos:

ü Art. 611. O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro


de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12
(doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de
ofício ou a requerimento de parte. (CPC/2015).
- Prioritariamente, cabe a quem estiver na posse e
administração do espólio, o requerimento de
inventário, nos termos do art. 615 do CPC: "o
requerimento de inventário e de partilha incumbe a
quem estiver na posse e na administração do espólio,
no prazo estabelecido no art. 611. Parágrafo único. O
requerimento será instruído com a certidão de óbito
do autor da herança" (BRASIL, 2002).
Legitimidade
- Importa ressaltar que quem estiver na posse e
administração do espólio será o administrador
provisório encarregado pela herança até a nomeação
do inventariante.
- Possuem, ainda, legitimidade concorrente para requerer o inventário, o
cônjuge ou companheiro supérstite, o herdeiro, o legatário, o
testamenteiro, o cessionário do herdeiro ou legatário, o credor destes ou
do autor da herança, o administrador judicial da falência do herdeiro ou
do legatário, bem como do autor da herança ou do cônjuge ou
companheiro supérstite, o Ministério Público, havendo incapazes e a
Fazenda Pública, quando tiver interesse (art. 616 do CPC).

- Vale lembrar que o juiz pode, inclusive, determinar o início do inventário


mesmo que nenhum interessado o requeira.
Documentos necessários para
abertura do inventário
■ Para o processamento do inventário são necessários as seguintes
certidões: de óbito do autor da herança; de casamento, se for o caso;
de nascimento dos filhos; as negativas de débitos, das esferas
federal, estadual e municipal, além do recolhimento do ITCMD
(imposto), procuração, e os comprovantes de propriedade dos bens
etc.
Valor da causa no inventário

■ É o valor dos bens transmitidos, incluindo a meação,


pois esta será fixada e dividida no próprio inventário.
Contudo, a meação não é considerada para efeito de
cálculo de tributo de transmissão.
Foro Competente para abertura do
inventário

Como a sucessão se abre no lugar do último domicílio do falecido, é nesse domicílio


que deve ser ajuizado o inventário. Contudo, se o falecido, o morto, o autor da
herança teve mais de um domicílio, será competente o último, segundo a lei.

Se o falecido não tinha domicílio certo, será competente o do lugar da situação dos
bens e, se não possuía domicilio certo, mas bens em lugares diferentes, competente
será o juízo do lugar em que o óbito se deu.

Ressalte-se, outrossim, que as partes (herdeiros ou interessados) não podem


escolher outro foro.
■ Todos os bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança
tenha morrido ou domiciliado no estrangeiro, devem ser
inventariados e partilhados no Brasil. A norma também rege o
inventário e partilha de bens de estrangeiros, quando situados
no Brasil.

Ø Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão


de qualquer outra:
II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de
testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados
no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
O Inventariante

Inventariante é alguém que exerce o munus público de


representar, ativa e passivamente, o espólio, em juízo e
fora dele, ou seja, assume a obrigação de impulsionar o
inventário e levá-lo à partilha. Esse ônus é mitigado se o
inventariante for dativo ou judicial.
O espólio consiste nas relações patrimoniais do falecido.
Quando a ação disser respeito ao patrimônio, quem
responde é o inventariante. Se for direito da
personalidade, serão os herdeiros quem responderão.
Nomeação do Inventariante
■ O art. 617 do CPC indica, em rol taxativo e preferencial, aqueles que podem ser nomeados
inventariantes, senão vejamos:

■ Art. 617/CPC: O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:

I – o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da
morte deste;
III – qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio;
IV – o herdeiro menor, por seu representante legal;
V – o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver
distribuída em legados;
VI – o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII – o inventariante judicial, se houver;
VIII – pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
Parágrafo único. O inventariante, intimado da nomeação, prestará, dentro de 5 (cinco) dias, o
compromisso de bem e fielmente desempenhar a função
Cumprido o disposto no art. 642, § 3º do CPC, ou
seja, separados os bens para pagamento das
dívidas do de cujus, "o juiz facultará às partes
que, no prazo comum de 15 (quinze) dias,
formulem o pedido de quinhão e, em seguida,
proferirá a decisão de deliberação da partilha,
resolvendo os pedidos das partes e designando
os bens que devam constituir quinhão de cada
A Partilha de herdeiro e legatário" (art. 647 do CPC).

Bens
Na partilha, serão observadas: a máxima
igualdade possível quanto ao valor, à natureza e à
qualidade dos bens; a prevenção de litígios
futuros; a máxima comodidade dos coerdeiros, do
cônjuge ou do companheiro, se for o caso
(art. 648 do CPC/2015).
O partidor organizará o esboço da partilha de acordo com a decisão judicial,
observando nos pagamentos a seguinte ordem: I - dívidas atendidas; II - meação
do cônjuge; III - meação disponível; IV - quinhões hereditários, a começar pelo
coerdeiro mais velho.

Nos termos do art. 657 do CPC, "a partilha amigável, lavrada em instrumento
público, reduzida a termo nos autos do inventário ou constante de escrito
particular homologado pelo juiz, pode ser anulada por dolo, coação, erro essencial
ou intervenção de incapaz, observado o disposto no § 4º do art. 966".

O direito à anulação de partilha amigável extingue-se em 1 (um) ano, contado esse


prazo: I - no caso de coação, do dia em que ela cessou; II - no caso de erro ou dolo,
do dia em que se realizou o ato; III - quanto ao incapaz, do dia em que cessar a
incapacidade (art. 657 do CPC).

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