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INTRODUÇÃO
Tragédia ou crime, o que se sabe é que o rompimento da barragem em Brumadinho
no dia 25 de janeiro de 2019, foi uma lastimável tragédia, um dos maiores desastres
ambientais da mineração do Brasil, depois do rompimento de barragem em Mariana,
e trouxe inumeras consequências para a meio ambiente, pois a lama liberada
pelo rompimento da barragem afetou o rio Paraopeba, tornando a água imprópria para
consumo em virtude da contaminação, e matando tambpem animais e plantas
aquáticas em decorrência da redução da quantidade de oxigênio na água.
A tragédia poderia ter sido evitada, porém a empresa responsável não prestava
informações corretas ao Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de
Mineração (SIGBM), ademais a época dos fatos foi amplamente divulgado pela
imprensa do país que a empresa possuía documentos internos que demonstravam
que no mínimo dez barragens estavam acima do limite aceitável, e apesar de estar
documentado não era tornado público.
Alguns danos são irreparáveis, no caso de Brumadinho o meio ambiente não foi o
único a ser afetado, pois o rompimento da barragem é também considerado o maior
acidente de trabalho no país a ocasionar perda de vidas humanas e o segundo maior
desastre industrial do século, a inundação de lama e rejeitos resultou na morte de 270
pessoas, e mesmo após três anos anos do ocorrido, ainda existe cinco vítimas
desaparecidas, três mulheres e dois homens.
A Constituição Federal de 1988 prevê o direito à vida no artigo 5º, que está situado no
campo dos direitos e garantias fundamentais, e mais especificamente, nos direito e
deveres individuais e coletivos. O direito à vida é o principal direito garantido a todas
as pessoas, sem nenhuma distinção. Segundo Alexandre de Moraes “o direito à vida
é o mais fundamental de todos os direitos, já que se constitui em pré-requisito à
existência e exercício de todos os demais.”
DIREITO SUCESSÓRIO
A vida do indivíduo chega ao fim com o advento de sua morte, conforme determinação
expressa da Lei 10.406/2002, em seu art. 6º, “a existência da pessoa natural termina
com a morte”. Atualmente de acordo com o entendimento doutrinário e também
normativo, existem duas espécies jurídicas da morte: real e presumida.
As duas espécies de morte colocam fim a personalidade jurídica da pessoa natural,
sendo a morte real aquela que deve ser aferida e atestada por um médico, de forma
clara, certa e incontestável uma vez que comprovada a materialidade do fato, ou seja,
um corpo sem vida.
“Art. 77. Nenhum sepultamento será feito sem certidão do oficial
de registro do lugar do falecimento ou do lugar de residência do
de cujus, quando o falecimento ocorrer em local diverso do seu
domicílio, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista
do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso
contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado
ou verificado a morte. (Redação dada pela Lei nº 13.484, de
2017)”
Por outro lado a espécie de morte presumida, não possa ser confirmada, é aceita pelo
ordenamento jurídico como havendo ocorrido, tendo em vista as probabilidades que
resultariam no fato morte, levando em consideração as circunstâncias fáticas que
levam a esse entendimento.
Existem dois os tipos de morte presumida: com declaração de ausência e sem
declaração de ausência. Cada um desses tipos de morte presumida é determinado de
acordo com o que dispõe a atual legislação pátria.
“art. 7º do Código Civil determina que pode ser declarada
a morte presumida sem decretação de ausência: I - se for
extremamente provável a morte de quem estava em perigo de
vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito
prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da
guerra.”
Lamentavelmente, é sabido que o desastre ceifou muitas vidas, especificamente 275
se contarmos aqueles que ainda estão desaparecidos, e considerando a normativa do
direito sucessório, existem duas possibilidades considerando o caso, as mortes reais
dos indivíduos que tiveram seus corpos encontramos e entregues as famílias para um
sepultamento digno, e as mortes presumidas dos 05 indivíduos que ainda estão
desaparecidos, e considerando a gravidade da tragédia, acredita-se que estão mortos.
Nos casos das mortes reais, com a descoberta dos corpos e sepultamento da vítima,
a família pode legalmente dar início a aberta da sucessão, e a herança transmite-se,
desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
O momento da morte da pessoa é, para o Direito Sucessório, o marco inicial para a
transmissão dos bens aos herdeiros, e caso o “de cujos” não tenha outorgado
testamento, a herança será transmitida aos herdeiros legítimos, conforme dispõe a lei,
respeitando a ordem de vocação hereditária.
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
IV - aos colaterais.
Por outro lado, nos casos da morte presumida, considerando o caso Brumadinho, o
IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família) solicitou providências ao CNJ
(Conselho Nacional de Justiça), sugerindo um Provimento que determinasse a morte
presumida de pessoas desaparecidas em decorrência da tragédia. Adicionalmente,
enviou ao então Ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, sugestão de Medida
Provisória com igual intuito, isto é, a declaração de morte presumida de
desaparecidos; tudo, visando a garantir direitos sucessórios aos familiares.
CONCLUSÃO
O fato resultou em duas situações em relação ao direito sucessório, aos familiares
daqueles que tiveram seus corpos recuperados, não existe nenhum obstáculo ou
impedimendo a abertura da sucessão, porém para os familiares daqueles que ainda
encontram-se desaparecidos a situação é bem mais complexa, e apesar da demora
em relação ao pedido feito pelas famílias do reconhecimento da morte presumida, a
demana judiciária nesse caso refere-se a apenas 05 (cinco) pessoas desaparecidas,
o que nos leva a acreditar que considerando a gravidade dos fatos, ocorerrá de forma
célere. Sendo assim se torna favorável aos familiares a recomendação da IBDFAM
ao CNJ e ao Ministério da Casa Civil, porque desta forma as famílias das vítimas
poderão ser asseguradas pelo direito da sucessão, para que possam continuar suas
jornadas e encerrar o ciclo da vítima de seus entes queridos de forma digna, provendo
de seus direitos, mesmo após uma tragédia como está, que vale ressaltar, poderia ter
sido evitada.