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Introdução. Fundamento do Direito Sucessório.

Terminologia. Principais conceitos: morte, ordem da


vocação hereditária, herdeiros necessários, meação x
herança, direito de representação, comoriência.

Sandra Muriel Zadroski Zanette


Professora de Direito das Sucessões
INTRODUÇÃO
George Santayana: “Ao nos dar a memória, a natureza revelou-nos uma
verdade amarga e de outro modo inimaginável: a verdade sobre a
mortalidade e a morte”.

Direito das Sucessões cuida da transmissão da titularidade de direitos e


obrigações que compunham o acervo de quem falece. 

Luiz Paulo Vieira de Carvalho (Direito das Sucessões, São Paulo, Editora Atlas,
2014, p. 18): “Direito das Sucessões é o ramo do Direito Civil, obviamente
permeado por valores e princípios constitucionais, que tem por objetivo
principal estudar e regulamentar a destinação do patrimônio da pessoa física
ou natural em decorrência de sua morte, momento em que se indaga qual o
patrimônio transferível e quem são as pessoas que o recolherão. ”
Abertura da Sucessão.
• Abertura da sucessão: “é a ocorrência indiscutível da morte da
pessoa física, de modo a gerar a transmissão da titularidade dos
bens que deixou e a responsabilidade pelo pagamento das dívidas
que contraiu em vida e ainda não solveu.” (Paulo Lôbo)
• O morto é o “autor da herança”.
• A morte é fato jurídico em sentido estrito. A morte faz com que o
ser humano deixe de ser pessoa e, por consequência, desapareça a
titularidade sobre seu patrimônio.
• A finitude da pessoa é parte de sua condição humana.
Morte real e morte presumida
• Morte real: a Organização Mundial da Saúde caracteriza a morte
como a cessação completa e irreversível das funções cerebrais,
provocada pela perda de contato entre cérebro e o restante do
organismo, a incapacidade muscular, a parada espontânea da
respiração, o colapso da pressão sanguínea. Ocorre a morte da
pessoa, mesmo sem parada cardiorrespiratória do corpo.
• Morte presumida: se dá em virtude da ausência, tendo por efeito a
abertura da sucessão. Ausência é o desconhecimento, por longo
período de tempo, do paradeiro de uma pessoa, por seus parentes e
conhecidos, constatado pela demorada interrupção de informações.
COMORIÊNCIA.
Art. 8º CC – Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros,
presumir-se-ão simultaneamente mortos.
• O preceito não exige que a morte tenha ocorrido no mesmo lugar, mas sim
que tenha se dado ao mesmo tempo.
• Interessa quando os comorientes são sucessores entre si, apenas, porque
entre comorientes não se dá a transmissão sucessória.
• “Não podendo afirmar com absoluta certeza, em face da prova dos autos,
a premoriência de uma das vítimas de acidente em que veículo é
abalroado e vem a explodir em seguida, deve ser mantida a presunção de
comoriência” – TJMG, Acórdão 1.0137.06.900006-5/001, 5ª Câmara Cível,
Carlos Chagas, Rel. Des. Cláudio Renato dos Santos Costa, j. 09.11.2006,
DJMG 1º.12.2006.
PERFIL DO DIREITO SUCESSÓRIO:
transmissão da titularidade de direitos e obrigações que
compunham o acervo de quem falece.
Principais pressupostos:
• a morte, que põe fim à existência da pessoa natural;
• a vocação hereditária: instituída pelo falecido ou pela lei, no
silêncio daquele (art. 1.829 CC).
Ordem de vocação hereditária: é uma relação preferencial,
estabelecida pela lei, das pessoas que são chamadas a suceder ao
finado.
• A lei faz a escolha dos chamados a herdar, colocando-os na ordem
preferencial que imagina ser a querida pelo falecido.
SUCESSÃO EM GERAL
Livro V da Parte Especial do Código Civil:

• Sucessão em geral – normas gerais especialmente quanto à transmissão, à


aceitação, à renúncia, à petição da herança e os excluídos da herança.
• Sucessão Legítima – sucessão que se opera por lei, ab intestato, conforme a
ordem da vocação hereditária e outras regras.
• Sucessão testamentária – sobre as regras relativas à transmissão que se
opera por ato de última vontade (testamento).
• Inventário e partilha – normas sobre o processo judicial não contencioso,
por meio do qual se efetua a divisão dos bens entre os herdeiros, além de
normas sobre colações e sonegados.
Herdeiros necessários

Herdeiros necessários são aqueles que não podem ser afastados


da sucessão pela simples vontade do falecido.

Art. 1845 – São herdeiros necessários os descendentes, os


ascendentes e o cônjuge (ou o companheiro) – depois do
paradigmático julgamento do RE n. 878.694-MG, pelo STF –
relatoria do Min. Luis Roberto Barroso, em maio de 2017)
Herdar por cabeça e herdar por estirpe
Os descendentes chamados a herdar podem ser de graus diversos (1º
grau e 2º grau, por exemplo).
Nessa hipótese, a sucessão se dará por cabeça e por estirpe.
• Por cabeça (ou por direito próprio): aqueles que herdam pela sua
própria vez de chamamento (ex: os filhos - 1º grau – chamados a herdar)
• Por estirpe (ou por direito de representação): aqueles que são
chamados a herdar em lugar de descendente do autor da herança que
antes deste tenha falecido (ex: os netos – 2º grau – filhos do filho pré-
morto).
Direito de Representação
• Pelo direito de representação um herdeiro substitui outro (pré-
morto), por força de convocação realizada pela lei. Essa categoria
gera a chamada sucessão por estirpe.
• São duas as situações em que o direito de representação se dá:
• Representação na linha reta descendente (art.1.852 CC). Atenção: não há
direito de representação na linha reta ascendente.
• Representação na linha colateral ou transversal (art. 1.853 CC) – somente
em favor de filhos de irmão pré-morto do falecido, quando com irmãos
deste concorrerem.
• Os representantes só herdam o que o representado herdaria, se vivo
fosse (art. 1.854 CC).
Não se deve confundir meação com a
herança!
 
Meação é o direito de cada sócio da sociedade conjugal, consistente na
metade dos bens que integram o patrimônio comum do casal. Esta
metade ideal já pertencia a cada um deles, mesmo antes do falecimento
do autor da herança. A metade que pertencia ao sobrevivente continua
lhe pertencendo (mas não por força do deferimento sucessório).

Herança é o patrimônio deixado pelo falecido. Pode consistir na meação


que lhe pertencia em vida, somada a outros bens (particulares) que não
integravam o patrimônio comum.

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