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Jan./
Mar Fev.2018
/ Abr 2021
RELAÇÕES AFETIVAS ENTRE ADVOGADOS DE FAMÍLIA
E SEUS CLIENTES: AMOR OU TRANSFERÊNCIA?

José Eduardo Coelho Dias

Professor de Direito de Família e de Direito das Sucessões da


Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim – ES. Advogado militante.
Especialista em Direito de Família. Membro do Instituto Brasileiro de Direito
de Família – IBDFAM.

Claudia Pretti Vasconcellos Pellegrini

Psicanalista. Membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória.


Coordenadora do Fórum Clínico da Infância e da adolescência. Vice-Diretora
de Relações Interdisciplinares do IBDFAM.

Resumo: Revisitando o conceito de “transferência”, fundamental


para a Psicanálise, investiga as semelhanças entre as posições
ocupadas pelos analistas e os advogados de família no exercício
regular de suas atribuições cotidianas. Questiona se a par da
inexistência de dispositivo específico no Código de Ética da
Ordem dos Advogados do Brasil, haveria algum impedimento
para os relacionamentos afetivos entre advogados de família e
seus clientes. Investiga, tendo por base a literatura e o raciocínio
lógico, se esses relacionamentos, quando existentes, são
decorrentes da afetividade ou da própria transferência. Conclui
no sentido de que a transferência não ocorre exclusivamente
no contexto de uma psicanálise, podendo ser encontrada
facilmente nas mais diversas situações em que existe interação
social, e que os advogados de família devem pautar sua
conduta na ética, evitando confundir a relação romântica com
a transferencial, até mesmo pela impossibilidade lógica de se
ocupar dois lugares ao mesmo tempo, já que para a Psicanálise
todo amor é transferencial

Palavras-chave: Ética. Advocacia de família. Transferência.


Psicanálise. Afetividade.

REVISTA IBDFAM - Famílias e Sucessões 29


Abstract: Revisiting the concept of “transference”, fundamental
to psychoanalysis, it investigates the similarities between the
positions occupied by analysts and family lawyers in the regular
exercise of their daily duties. It questions whether, in addition
to the lack of a specific provision in the Code of Ethics of the
Brazilian Bar Association, there would be any impediment to
the emotional relationships between family lawyers and their
clients. It investigates, based on literature and logical reasoning,
whether these relationships, when they exist, are the result of
affectivity or transference itself. It concludes in the sense that
the transference does not occur exclusively in the context of
psychoanalysis, and can easily be found in the most diverse
situations in which there is social interaction, and that family
lawyers must guide their conduct in ethics, avoiding confusing
the romantic relationship with the transferential, even for the
logical impossibility of occupying two places at the same time,
since for psychoanalysis all love is transferential.

Keywords: Ethics. Family law. Transfer. Psychoanalysis.


Affection.

Sumário: 1. Introdução. 2. Advogados e clientes podem se


relacionar intimamente? 3. Estresse e questões familiares.
4. A transferência em Freud. 5. A relação paciente x analista e a
relação cliente x advogado de família. 6. O lugar do advogado
de família. 7. O manejo da transferência. 8. Conclusão.
9. Referências.

1  INTRODUÇÃO

A ausência de uma regulamentação específica deixa margem para


que advogados e clientes possam estabelecer entre si, além de uma relação
profissional, uma relação afetiva.

Objetivo deste artigo é investigar se essas relações, quando envolvem


advogados e advogadas que militam nas Varas de Família, podem estar sendo
induzidas por um fenômeno conhecido na Psicanálise como “transferência”
e se isso não colocaria em xeque a própria existência de uma relação afetiva
propriamente dita.

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Para consecução do objetivo recorremos à pesquisa bibliográfica
e desde já vale deixar claro que não temos o propósito de realizar uma
investigação exaustiva e panorâmica sobre o fenômeno, mas tão somente
de chamar a atenção para sua possível ocorrência e sobre suas prováveis
implicações.

Apesar de notáveis avanços na área, o Direito ainda tem-se valido pouco


das contribuições da Psicanálise para uma melhor compreensão das relações
humanas, sendo de extrema relevância aproximar esses dois campos tão
importantes do conhecimento. Trazer à tona alguns conceitos fundamentais
da Psicanálise, desmistificando-os a partir de situações concretas ou factíveis,
pode colaborar para essa aproximação.

2  ADVOGADOS E CLIENTES PODEM SE RELACIONAR INTIMAMENTE?

A independência e a liberdade são elementos essenciais para o


exercício pleno da advocacia num Estado Democrático de Direito, o que não
afasta o dever do profissional de seguir determinados padrões éticos e morais
em sua conduta.

Como marcado nas considerações iniciais do Código de Ética


da Advocacia, “a realização das finalidades institucionais da Ordem
dos Advogados do Brasil inclui o permanente zelo com a conduta dos
profissionais inscritos em seus quadros”, já “que o advogado é indispensável
à administração da Justiça, devendo guardar atuação compatível com a
elevada função social que exerce, velando pela observância dos preceitos
éticos e morais no exercício de sua profissão”.1

Vale lembrar que as disposições do mencionado Código de Ética obrigam


a todos os advogados, a teor do disposto no artigo 33 do Estatuto da Ordem
dos Advogados do Brasil, segundo o qual “o advogado obriga-se a cumprir
rigorosamente os deveres consignados no Código de Ética e Disciplina”.2

O Código de Ética da Advocacia chega a sugerir um determinado


padrão de conduta em que valores como honra, nobreza, dignidade da
profissão, destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade,
lealdade, dignidade, boa-fé e boa reputação pessoal e profissional são

1
BRASIL. Resolução CFOAB n. 02, de 19 de outubro de 2015. Aprova o “Código de Ética e Disciplina da Or-
dem dos Advogados do Brasil – OAB”. Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em:
<https://www.oab.org.br/publicacoes/AbrirPDF?LivroId=0000004085>. Acesso em: 23 abr. 2020.
2
BRASIL. Lei n 8.906, de 4 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 23 abr.
2020.

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exaltados,3 mas é completamente silencioso em relação à possibilidade ou
não de advogados e seus clientes manterem relações afetivas entre si.

Acompanhando o silêncio da Ordem os grandes escritórios de


advocacia localizados no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília abrem mão de
estipular para seus colaboradores qualquer proibição expressa neste sentido,
como indica levantamento feito naquelas cidades, em que se constatou
que embora não exista uma regra expressa indicando a proibição nas
relações íntimas entre clientes e advogados, estas não são bem vistas pelos
profissionais, o que sugere uma espécie de código de ética velado, como se
houvesse uma regra implícita contendo a proibição.4

Cumpre questionar, então, se uma norma expressa proibindo


os relacionamentos íntimos entre advogados e clientes teria respaldo
constitucional.

Ao julgar a ADI 4277, o Plenário do Supremo Tribunal Federal


consagrou o entendimento segundo o qual o silêncio da Constituição
Federal a respeito do uso concreto do sexo dos indivíduos implica em ampla
permissão, de forma tal que é forçoso reconhecer o “direito à preferência
sexual como direta emanação do princípio da ‘dignidade da pessoa humana’:
direito a autoestima no mais elevado ponto da consciência do indivíduo”,
deixando evidente que há um direito à busca da felicidade, que guarda
umbilical relação com o exercício da própria sexualidade.5

Nada obstante a existência desse direito de buscar a felicidade por


meio da realização sexual, nossa sociedade demonstra ojeriza às relações
estabelecidas com quem não esteja em condições de consentir livremente,
demonstrando tal repulsa quando, por exemplo, tipifica como estupro a
conjunção carnal ou ato libidinoso com quem tenha menos de 14 (catorze)
anos6 e prescrevendo que incorre nas mesmas penalidades quem pratica tais
atos “com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência”.

3
BRASIL. Resolução CFOAB n. 02, de 19 de outubro de 2015. Aprova o “Código de Ética e Disciplina da
Ordem dos Advogados do Brasil – OAB”. Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, art. 2º. Dispo-
nível em: <https://www.oab.org.br/publicacoes/AbrirPDF?LivroId=0000004085>. Acesso em: 23 abr. 2020.
4
MUNIZ, Mariana. Advogados e clientes podem se relacionar intimamente? Jota.info. 27 dez. 2016. Disponível
em: <https://www.jota.info/advocacia/advogados-e-clientes-podem-se-relacionar-intimamente-27122016>.
Acesso em: 23 abr. 2020.
5
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4277, Relator: Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, julgado em
05.05.2011, DJe-198, Divulg. 13.10.2011, Public. 14.10.2011. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/
jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000171086&base=baseAcordaos>. Acesso em: 12 out. 2019
6
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal, art. 217-A. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso: 23 abr. 2020.

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A pedra de toque, então, é a capacidade de oferecer resistência a
uma eventual investida de caráter íntimo, o que pressupõe alguém com reais
condições de decidir.

Evidentemente não podemos presumir que toda pessoa que busca um


advogado está em situação de vulnerabilidade capaz de justificar qualquer
restrição ao livre exercício de sua sexualidade, já que isso equivaleria,
também, a presumir que todo advogado é, em tese, um estuprador em
potencial, o que seria inadmissível.

Apesar disso é preciso atentar para alguns detalhes específicos quando


falamos da relação entre clientes que procuram ajuda profissional nos
momentos de crises familiares e seus advogados.

3  ESTRESSE E QUESTÕES FAMILIARES

A vida não é um fluxo contínuo e constantemente nos deparamos


com situações que representam modificação na nossa rotina, exigindo a
preparação física e psíquica para a nova realidade que advém. A perda de
um emprego, uma proposta de casamento, o falecimento de um ente querido,
o divórcio, a necessidade de buscar alimentos para os filhos, entre outros, são
exemplos de situações que demandam adaptações por vezes extremas.

O estresse, geralmente visto como algo negativo, é, na verdade,


a reação natural do organismo para lidar com situações que envolvam
adaptações extremas, ativando uma série de mecanismos fisiológicos para
permitir que o sujeito enfrente bem esses fatores estressores, como ensinam
Margis e outros, que complementam afirmando que:

A resposta de enfrentamento ao evento estressor, selecionada a partir


dos componentes cognitivo, comportamental e fisiológico, caso consiga
eliminar ou solucionar a situação estressora provocará uma diminuição da
cascata fisiológica ativada. Se a resposta ao estresse gerar ativação fisiológica
freqüente e duradoura ou intensa, pode precipitar um esgotamento dos
recursos do sujeito com o aparecimento de transtornos psicofisiológicos
diversos, podendo predispor ao aparecimento de transtornos de ansiedade
entre outros transtornos mentais. O desenvolvimento de um transtorno está
diretamente relacionado à freqüência e duração de respostas de ativação
provocadas por situações que o sujeito avalia como estressoras para si.7

MARGIS, Regina et al. Relação entre estressores, estresse e ansiedade. Revista de Psiquiatria do Rio Gran-
7

de do Sul, Porto Alegre, v. 25, supl. 1, p. 65-74, abr. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082003000400008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 abr. 2020

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Não é difícil perceber, assim, que o estresse pode afetar até mesmo a
saúde mental do indivíduo, interferindo negativamente na sua capacidade
de resistência e tornando duvidosa determinadas manifestações de vontade.

Mariangela Gentil Savoia8 ensina que a denominada Escala de


Reajustamento Social de Holmes e Rahe é o instrumento mais utilizado para
medir eventos vitais, baseando-se na premissa de que o esforço que cada
indivíduo deve fazer para voltar à sociedade depois de determinados eventos
pode criar um desgaste tal que pode levar a sérias doenças. Partindo dessa
premissa foi elaborada uma lista de eventos considerados significativos e a
cada um desses eventos foi atribuído um peso. Segundo tal escala, que atribui
um determinado número de pontos por evento (de acordo com sua gravidade
e potencial de causar danos ao indivíduo) o mais grave evento estressor
seria a morte do cônjuge, com 100 (cem pontos) e o mais leve seriam as
transgressões não graves da lei, com 11 (onze) pontos.

Importante ressaltar que cada sujeito humano se constitui


psiquicamente de forma a manter uma nodulação que o insere no mundo e
nas relações familiares presentes em sua vida. No entanto, nunca é demais
lembrar que essa constituição nunca é completa, possui sempre um ponto de
falta, decorrente da impossibilidade humana de se constituir como um todo,
o que é testemunhado pelo inconsciente descrito por Sigmund Freud, criador
da Psicanálise. O inconsciente surge, assim, como essa outra cena da vida do
sujeito humano, apartado de sua existência, mas, ao mesmo tempo, tendo o
poder de produzir sintomas e comandar a vida de cada um a seu despeito.
Esse ponto de falta no arranjo estrutural construído acompanha a todos vida
afora e, muitas vezes, a partir de determinados eventos na vida de cada um,
eles podem sofrer uma certa “desnodulação”, deixando o sujeito mais ainda
precário e carente de afeto.

Alguns momentos, que podemos nomear como “pontos de virada” na


vida de cada um, são terreno fértil para que isso ocorra e não por acaso eles
estão nomeados entre os 10 eventos com maior pontuação na referida escala.
Entre eles, pelo menos cinco podem motivar a busca por um profissional
da área de família: morte do cônjuge (com 100 pontos, em primeiro lugar),
divórcio (com 73 pontos, em segundo lugar), morte de pessoa querida da
família (com 63 pontos, em terceiro lugar), casamento (com 50 pontos, em
sexto lugar) e reconciliação com o cônjuge (com 45 pontos, em oitavo lugar).

Os profissionais que militam nas lides familiaristas estão acostumados


a conviver com as maiores mazelas que o ser humano é capaz de produzir:
violência doméstica e contra a mulher, negativa de pagamento de alimentos

SAVOIA, Mariangela Gentil. Escala de eventos vitais e de estratégias de enfrentamento (coping). Revista
8

Psicologia Clínica. 1999. Disponível em: <https://www.academia.edu/25731678/Mariangela_Savoia_-_


PSICOLOGIA?auto=download>. Acesso em: 23 abr. 2020.

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a filhos, alienação parental, traições das mais variadas, de sexuais a
financeiras, fraudes na aquisição de bens com escopo de frustrar o regime de
bens livremente escolhido pelo casal e tantos outros que somos até mesmo
capazes de dizer que nenhuma escala de aferição de estresse é necessária
para que se tenha dimensão do estado de espírito e do nível de aflição que
acomete os que procuram advogados nessa área.

Nos momentos difíceis e de muita fragilidade em que se encontram


é comum que esperem que os operadores do Direito se coloquem em
um lugar de ideal, detentores de um saber que possa resolver os conflitos
existentes e restabelecer o conforto de cada um. Para esse lugar ideal, muitas
são as projeções feitas, projeções essas que respondem e têm origem em
idealizações e fantasias infantis inconscientes, o que pode trazer algumas
dificuldades no manejo dessas relações.

Não é, em verdade, nem um lugar nem um saber, é um suposto saber


e, por que não dizer, um suposto lugar.

4  A TRANSFERÊNCIA EM FREUD

A Psicanálise não nasceu pronta, mas, pelo contrário, demandou


muitos estudos, erros e acertos de seu criador, Sigmund Freud, e dos que o
sucederam, como Lacan e tantos outros.

Embora para Freud a percepção de que o processo de adoecimento dos


pacientes neuróticos estava ligado às frustrações e a repressão da libido, que
encontraria vazão nas manifestações sintomáticas, só mais tarde conseguiu
perceber que não seria possível encontrar um vitorioso na luta pulsão x
repressão e que tanto o reprimido, ou recalcado, quanto as pulsões, seriam
material para uma linguagem própria, nomeada de inconsciente.

Num primeiro momento, Freud acreditava que a função do analista


seria traduzir o que estaria no inconsciente, permitindo que fosse vertido
para o consciente e que isso bastaria para que o paciente estivesse “curado”,
mas logo se viu diante de um problema: a resistência. Alguns pacientes não
aceitavam a “tradução” do analista e um dos motivos residiria no fato de que
o que o que causaria impacto no paciente não causaria idêntica impressão
no analista e vice-versa.

A partir dessa premissa e ciente de que o inconsciente tinha uma


estruturação própria, Freud abandona a hipnose, que vinha utilizando por
acreditar que ela permitiria um acesso direito ao conteúdo do inconsciente,

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e passa a se dedicar a uma escuta atenta, dentro do que ele nomeou de regra
fundamental da Psicanálise, a “associação livre”.

Deriva daí uma nova situação: os pacientes, que deveriam ter como
única preocupação tentar encontrar nas próprias memórias o elemento
reprimido, causador dos seus problemas, começam a desenvolver especial
interesse pelo analista.

Em seu texto, A Dinâmica da Transferência, Freud9 tenta explicar


como esta comparece necessariamente durante o tratamento e os efeitos
causados por esse fenômeno, até então pouco elaborado, e chega a afirmar
que cada sujeito tem um padrão estereotípico de se relacionar em sua vida
erótica e amorosa, que tende a se repetir e ainda que é isso que se dirige ao
psicanalista no decorrer do tratamento:

Cada indivíduo através da ação combinada de sua disposição inata e das


influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um método
específico próprio de conduzir-se na vida erótica - isto é, nas pré-condições
para enamorar-se que estabelece, nos instintos que satisfaz e nos objetivos
que determina a si mesmo no decurso daquela.

Segue dizendo que esse padrão comparece na relação analítica, em


que o psicanalista é incluído em uma dessas séries psíquicas. A transferência
engloba, portanto, aspectos conscientes e inconscientes, sendo condição
necessária para que um processo analítico ocorra. Ao mesmo tempo, a partir
de sua definição, fica claro, e Freud o afirma textualmente, que a transferência
não é um privilégio do processo analítico, comparecendo em outros tipos
de relação, uma vez que sua origem está na neurose, e não na estrutura da
análise.

Já em Observações sobre o amor transferencial,10 ele retoma essa


questão advertindo aos psicanalistas que estes devem reconhecer que o
interesse aparentemente demonstrado pelo paciente é, na verdade, induzido
pela situação analítica e não decorreriam dos supostos encantos da pessoa do
analista, que, dessa forma, não teriam o menor motivo para sentirem orgulho
de uma suposta conquista que, na verdade, não aconteceu.

Ao mesmo tempo, Freud insiste o tempo todo na necessidade de


manejar esse amor transferencial, que traz para a cena da análise uma série

9
FREUD, Sigmund. A dinâmica da transferência. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. XII, p. 133.
(Edição Standard Brasileira)
10
FREUD, Sigmund. Observações sobre o amor transferencial (Novas recomendações sobre a técnica da psica-
nálise III). Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. XII. (Edição Standard Brasileira).

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de afetos que abrange não somente o amor, mas também o ódio, sua outra
face. É exatamente nesse sentido que a transferência pode apresentar-se como
resistência ao trabalho, prejudicando seu bom andamento.

Na Psicanálise esse amor transferencial dirigido ao psicanalista


precisa ser manejado, incluindo-o na série de elementos presentes, sendo
uma situação a ser atravessada pelo mesmo, para que tenha o andamento
esperado.

Trata-se, para o psicanalista, de recusar-se a retribuir esse amor,


sem, no entanto, rechaçá-lo ou reprimi-lo de forma a impedir a análise,
mas também sem uma postura de enganação, praticando o que veio a ser
denominado “manejo da transferência”. É uma situação a ser tratada dentro
do espaço analítico e fazendo parte dele. Cabe, então, ao psicanalista, não
se achar digno de uma grande conquista, como nos aponta Freud. Ele precisa
recusá-lo sem tirar proveito pessoal desse suposto amor dirigido a ele, não
apenas por motivos éticos, mas também por motivos técnicos.

A figura do analista surge, então, como alguém que é colocado


no lugar de alguém que pode oferecer ao analisando o que ele precisa:
confiança, admiração, atenção, enfim: afeto! É pela via do afeto que Jacques
Lacan irá falar da transferência como um dos quatro conceitos fundamentais
da Psicanálise, afirmando ainda que este é um “conceito determinado pela
função que tem em uma práxis. Este conceito dirige o modo de tratar os
pacientes. Inversamente, o modo de tratá-los comanda o conceito”.11

Não é uma relação, mas um componente da neurose. Não é


paixão pelo analista, é a correspondência a um afeto que o analisando
inconscientemente gostaria que existisse ou que reside no campo de suas
fantasias. É a necessidade de se ver e se fazer amado que está em cena. Da
mesma forma, não é a figura do analista, nem tampouco suas características
pessoais, que determinam essa transferência, mas o lugar que ele ocupa e o
momento em que é procurado.

Quando associa o amor ao conceito de repetição e coloca a transferência


como efeito desta repetição, Freud o separa do amor verdadeiro, esse da vida
cotidiana, apenas em um ponto: o de que, no caso do amor de transferência,
o psicanalista encontra-se advertido a respeito de sua origem, sendo, assim,
possível seu manejo, pois que este se dirige a um saber que deverá fazer parte
do processo analítico.

11
LACAN, Jacques. O seminário. Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1985, p. 120.

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Já no exercício da advocacia, que não prevê o manejo transferencial
como ferramenta de trabalho como fazem os que atuam no setting analítico,
a transferência pode causar espécie e sequer ser identificada como tal, razão
pela qual é de se refletir acerca da importância (ou mesmo necessidade) de
conhecer todo esse processo e verificar que o amor transferencial acontece
justamente para que o advogado familiarista tenha condições mais propícias
para exercer sus atribuições profissionais sem misturar-se demais à avalanche
de sentimentos e afetos que podem se fazer presentes e, ainda, se dirigirem
a sua figura.

5  A RELAÇÃO PACIENTE X ANALISTA E A RELAÇÃO CLIENTE X


ADVOGADO DE FAMÍLIA

Como visto acima, entre os 10 eventos com maior pontuação na Escala


de Reajustamento Social de Holmes e Rahe pelo menos cinco deles podem
motivar a busca por um profissional da área de família: morte do cônjuge
(com 100 pontos, em primeiro lugar), divórcio (com 73 pontos, em segundo
lugar), morte de pessoa querida da família (com 63 pontos, em terceiro lugar),
casamento (com 50 pontos, em sexto lugar) e reconciliação com o cônjuge
(com 45 pontos, em oitavo lugar).

Nesta lógica, não é de se esperar que o cliente chegue ao advogado


de família no seu melhor estado psíquico. Pelo contrário, o que se espera
encontrar, diante desse quadro, são pessoas muito fragilizadas, consumidas
pelo estresse e sentindo na pele suas consequências e, sobretudo, precisando
de alguém que possa se ocupar de suas questões de forma não apenas pela
via do saber jurídico, mas que também possa escutá-las em seu momento
dificuldade. Nas rupturas das relações afetivas é de se esperar pessoas com
baixa autoestima, cheias de autopiedade, sofrendo e clamando por atenção,
carinho, segurança e, sobretudo, afeto.

Como já sugerido aqui, as pessoas que procuram os advogados


familiaristas estão acostumados a conviver com as maiores mazelas que o
ser humano é capaz de produzir: violência doméstica e contra a mulher,
negativa de pagamento de alimentos a filhos, alienação parental, traições das
mais variadas, de sexuais a financeiras, fraudes na aquisição de bens com
escopo de frustrar o regime de bens livremente escolhido pelo casal e tantos
outros. Não é preciso muito esforço para concluir que o estado de espírito e
o nível de aflição que essas pessoas atravessam é bastante significativo.

Da mesma forma, é apenas uma questão de raciocínio lógico concluir


que são incontáveis as semelhanças de estados psíquicos das pessoas que
buscam um psicanalista e as pessoas que chegam a um escritório de um

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advogado de família. No entanto, é absolutamente importante ressaltar que
apesar de ambos os profissionais possuírem esse lugar de escuta, suas práticas
e suas funções são absolutamente e evidentemente distintas. Não se espera
de um advogado familiarista que se coloque no lugar de psicanalista para
seus clientes, o que seria desastroso em todos os sentidos.

Ademais, se a transferência é definida como uma repetição, mesmo um


deslocamento de questões inconscientes para situações vividas no presente,
questões estas experimentadas nos tempos primeiros da constituição psíquica
de cada um, seu endereçamento é feito para alguém, aqui no caso o advogado
familiarista, que será colocado em um lugar de tudo saber. E de onde ainda o
cliente espera ser atendido e amado em suas fragilidades. No entanto, se isso
se passasse dentro de uma situação analítica, esse fenômeno seria tomado de
forma a promover o trabalho analítico, pois que seria manejado como tal. Já
em um escritório de advocacia é fundamental distinguir não somente o papel
do advogado na relação com seu cliente como ainda preservar de forma ética
seu campo de atuação.

6  O LUGAR DO ADVOGADO DE FAMÍLIA

Apesar de defendermos a necessidade de o advogado de família ter


como competência fundamental o que chamamos de escuta qualificada, tal
competência não o qualifica como profissional da área “psi”.

O médico, o psicólogo e o psicanalista passam por processos de


formação profissional completamente diferentes da que é oferecida ao
advogado e qualquer tentativa deste de oferecer tratamento, terapia ou
análise não pode ser vista com bons olhos por motivos óbvios.

A escuta do advogado, assim, não teria como propósito o diagnóstico


de alguma questão psíquica, comportamental, mental ou a estas relacionadas
envolvendo o cliente, prestando-se tão somente para que tenha real dimensão
do conflito que fez com que aquele sujeito comparecesse diante de si, o que
lhe permitiria, a partir daí, a utilização das melhores técnicas disponíveis
relacionadas ao tratamento do conflito posto. Além disso, a identificação das
questões jurídicas e o conhecimento das respectivas normas são posteriores a
este diagnóstico, elaborado a partir dessa escuta qualificada.

Aqui vemos uma situação de bastante semelhança: o advogado, quando


se coloca na posição de ouvinte, assume posto equivalente ao do analista no
imaginário do sujeito que demanda seus serviços, estando, evidentemente,
exposto ao processo de transferência descrito em linhas anteriores.

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Lacan afirma que a relação analítica se dá em plano não recíproco, não
simétrico. Trata-se de um sujeito que se dirige a um outro (um psicanalista) a
procura de uma verdade sobre si. Nesta relação, um é suposto saber, ou pelo
menos saber mais do que o outro. Assim se constitui o trabalho inicial de
uma psicanálise, pela via do que nomeamos de um trabalho de transferência
que, em seu manejo e ao longo do processo, se transformará em transferência
de trabalho, possibilitando o caminho a ser seguido. Para o psicanalista,
podemos afirmar que a transferência, enquanto atualização da realidade do
inconsciente, fornece importantes recursos para o trabalho a ser realizado,
sobretudo na perspectiva de uma mudança subjetiva.

Da mesma forma, o advogado familiarista também recebe alguém em


estado de completa fragilidade de um lado e que clama por um outro que
resolva seu problema e, mais do que isso, que lhe escute, que lhe dê a atenção
que supostamente não teria conseguido no privado de sua relação amorosa.
Encontra-se também na posição de um suposto saber, dotado de uma suposta
força capaz de derrotar um suposto inimigo comum, aquele que, na visão
do cliente, seria o causador de toda sua dor e sofrimento. O terreno para a
transferência é fértil. Mas qual seria o uso a ser feito dela?

7  O MANEJO DA TRANSFERÊNCIA

Assim como acontece em relação à busca por um analista, também em


relação ao advogado de família a confiança é elemento primordial.

Sem confiar no analista o paciente não se engaja no tratamento e sem


confiar no advogado as informações mais relevantes para o tratamento do
conflito são sonegadas. Vale lembrar: lidamos com questões íntimas dos que
nos procuram e geralmente não se fala dessas intimidades com quem não se
confia.

Para a Psicanálise, a transferência é uma importante aliada no


tratamento, formando o que alguns pós-freudianos denominariam de “aliança
terapêutica”, que estaria ligada com “o desejo de colaborar, de trabalhar
com determinação e afinco na situação analítica, de seguir adiante apesar
das resistências ou da transferência negativa. Não podemos esquecer que
Freud coloca a autenticidade do amor transferencial como uma questão e
recomenda aos analistas um manejo ético e cuidadoso dela, razão pela qual
recomenda que o analista nem ceda ao paciente, nem o rejeite de forma
ríspida. Mostrar ao paciente que não é a situação atual, nem a figura do
analista que estão relacionadas com a origem de seus sentimentos e sim
que estas são a repetição de aspectos inconscientes que se comparecem na
estrutura da relação analítica e que pedem interpretação.

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Da mesma forma, é possível dizer que não é o advogado de família o
alvo de eventual interesse de seu cliente, sendo apenas mera representação
de algo que aquele ser humano em estado de sofrimento necessita, ainda que
inconscientemente.

Agir com ética, afastando o cliente de lides temerárias, de utilização


dos filhos como moeda de troca e do processo como arma para atingir
relações afetivas malresolvidas, buscando alcançar, por outro lado, as justas
e adequadas pretensões e auxiliar no luto da relação que finda é algo que
que os advogados de família podem fazer quando manejam adequadamente
a transferência.

Em síntese, é possível dizer que os elementos inconscientes e primitivos


desse sujeito, que busca o profissional familarista, são projetados para o lugar
desse advogado que está aí em um momento difícil da vida do seu cliente
e de quem espera-se alívio para o sofrimento apresentado pela lide judicial.
Cabe ao profissional ocupar seu lugar de forma ética e técnica, limitando-se
às condutas que sejam necessárias ao andamento de sua tarefa profissional,
sem descuidar jamais de investigar suas próprias questões inconscientes e
também encaminhar, sempre que entender necessário, seu cliente para
acompanhamento do profissional “psi”.

Encantar-se pelo amor que possa eventualmente lhe ser dirigido por
um cliente e levar à frente uma relação daí advinda pode misturar papéis
e impossibilitar que o exercício profissional seja desempenhado de forma
satisfatória. Ou seja, o advogado familiarista que supõe poder ocupar para
seu cliente um lugar também na sua vida amorosa e erótica pode estar
confundindo os papéis e inviabilizando sua atuação como profissional do
caso em questão.

8  CONCLUSÃO

Embora o Código de Ética da Advocacia não conste com expressa


proibição de que os advogados se relacionem afetivamente com seus clientes,
essa permissão tácita é de ser vista com bastante reserva, sobretudo quando
lidamos com a advocacia familiarista.

O fenômeno da transferência, identificado por Freud no decorrer de


suas pesquisas acerca da Psicanálise e depois utilizado como importante
ferramenta no processo analítico, não ocorre exclusivamente no contexto de
uma análise nem somente nas relações analista x analisando, podendo ser
encontrado facilmente nas mais diversas situações em que existe interação
social.

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No entanto, podemos pensar que tanto os psicanalistas quanto os
advogados de família podem ocupar, para as pessoas que os procuram, a
posição de fortaleza ou de amparo de que tanto necessitam nesses momentos
turbulentos, razão pela qual pode ser de extrema relevância que os advogados
de família também tomem para si a mesma recomendação de Sigmund
Freud aos psicanalistas, quando aponta que estes precisam fazer o que ele
denominou como “limpeza das chaminés”, referindo-se à importância de
os psicanalistas investirem em suas análises pessoais adquirindo, a partir
daí, elementos e recursos para que consigam separar suas próprias fantasias
inconscientes das de seus pacientes e assim estarem mais preparados para
conduzir o processo psicanalítico.

Lembremos que são pessoas fragilizadas, carentes afetivamente,


buscando um saber que imaginam ser portado por aquele profissional, o
que faz com que possam dirigir a esses toda sua admiração, idealização e
mesmo amor e que se o advogado não permitir que suas questões subjetivas
atrapalhem sua atuação profissional, todos sairão ganhando. Não havendo
proibição legal nem ética, ainda assim existiria uma impossibilidade lógica
de se ocupar os dois lugares simultaneamente: ou bem se é advogado de um
determinado cliente, ou parceiro amoroso. Cabe ao advogado, então, refletir
sobre a questão, levando-a, se for o caso, para sua análise pessoal e investigar
do que se trata, até porque a demanda afetiva pode até ser sua e não de seu
cliente.

Inegável, entretanto, que a atuação profissional demanda seriedade


e responsabilidade, razão pela qual pode ser interessante ao advogado até
mesmo decidir em que campo quer atuar, se no profissional ou no pessoal,
fazendo uma escolha, que também implicará em uma renúncia, já que
arvorar-se nas duas funções ao mesmo poderá contribuir para uma má
atuação profissional.

É dever do advogado agir com extrema cautela e manter-se atento à


sua vaidade e narcisismo, além de ter plena consciência de que seus clientes
podem não estar de fato interessados neles, mas naquilo que eles representam,
fruto de um buraco sem dimensão mensurável que se convencionou chamar
de desejo.

9  REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
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www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 23 abr. 2020.

BRASIL. Resolução CFOAB n. 02, de 19 de outubro de 2015. Aprova o “Código


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Janeiro: Imago, 1976, v. XII. (Edição Standard Brasileira).

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recomendações sobre a técnica da psicanálise III). Obras Completas. Rio de
Janeiro: Imago, 1976, v. XII. (Edição Standard Brasileira).

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