Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A ESCOLA EM CASA
Resumo
1
Mestranda em Educação – UFPR (2015) graduação em Pedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná (2001),
pós-graduação em Psicopedagogia Institucional e Clínica (2006), Educação Especial (2009) pela Faculdade
Bagozzi e Educação Especial Inclusiva com ênfase em Gestão Escolar pela FACEL (2013). Compõe a equipe da
Coordenadoria de Apoio às Necessidades Especiais/CANE da Secretaria Municipal da Educação, na Gerência de
Currículo da Educação Especial e ministra aulas e palestras para o Ensino Superior. Email:
faneves@sme.curitiba.pr.gov.br
2
Mestre em Educação: Teoria e Pratica Pedagógica na Formação de Professores (PUCPR) responsável pelo
Programa de Escolarização Hospitalar, Atendimento Pedagógico Domiciliar, Comunicação Alternativa e Projeto
Bullying não é Brincadeira da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. Educação, Formação Docente e
Tecnologias Educacionais em diferentes níveis e contextos, Autora de aulas para EAD, Especialista em Séries
Inicias, Ensino Fundamental, em Educação Especial e Magistério Superior.
E-mail:vmaito@sme.curitiba.pr.gov.br
ISSN 2176-1396
13447
tratamento de saúde como uma das ações que oportunizam o acesso dos estudantes às
atividades educacionais, que por motivos de saúde tiveram que se ausentar do espaço escolar.
Atualmente quatro instituições de saúde são atendidas pelo Programa de Escolarização
Hospitalar e conveniadas com a Secretaria Municipal da Educação em Curitiba: Hospital de
Clínicas, Hospital Erasto Gaertner, Hospital Pequeno Príncipe e a Associação de Apoio a
Criança com Neoplasia - APACN.
Com o objetivo de dar continuidade ao trabalho pedagógico desenvolvido nas
instituições de saúde, de pacientes/estudantes que tem a alta médica para ir para casa mas não
de imediato retorno a escola de origem, foi implantado desde o ano de 2008 o Atendimento
Pedagógico Domiciliar - APD pela Secretaria Municipal da Educação de Curitiba. Além
disso, esse trabalho viabiliza a equidade social, reduz a evasão escolar de estudantes que por
motivos de saúde deixam de frequentar as aulas regularmente, incentivando o estudante em
seu processo de escolarização por meio da promoção da continuidade do vínculo com sua
escola de origem.
Este projeto de Atendimento Pedagógico Domiciliar/APD atende estudantes do Ensino
Fundamental que estão afastados do espaço escolar devido tratamento de saúde.
Caracterização do APD
a aplicação de atividades pedagógicas que poderão ser enviadas pelo professor diretamente
ao profissional de referência no NRE que o atenderá.
O envolvimento da família neste processo é de extrema relevância. Esta exerce o papel
de anfitriã do profissional da educação que adentra o lar do estudante mediante prévia
autorização do responsável. Cabe a família proporcionar um ambiente adequado para os
atendimentos como: lugar arejado com cadeiras e mesa para a realização das atividades
pedagógicas e ambiente livre de excessiva circulação de pessoas, que permita ao estudante
concentração no período do atendimento. Além disso, durante o período do APD a família
deve motivar o estudante quanto à continuidade de seus estudos formais, auxiliando o mesmo
nas tarefas de casa, quando solicitadas e na organização do seu material para os dias
previamente agendados de APD.
Atualmente entende-se que a cooperação da família é condição essencial para o
desenvolvimento infantil. Entretanto, faz-se necessário resgatar ou “reconstruir” o papel da
família e o papel da Escola e ambas precisam assumir suas próprias responsabilidades.
Para Romanelli (2002) família é uma instituição universal embora com variação de
costumes e características próprias, está presente em todas as culturas (onde a base do
aprender é através da oralidade). Já a Escola é uma instituição delimitada (não é universal) e
situa-se numa esfera pública (base do aprender se configura na escrita e letramento). A
Família em sua essência acaba caracterizando-se por sua heterogeneidade e a Escola por sua
homogeneidade.
Neste sentido, o que as duas tem em comum é a missão de preparar o indivíduo para a
inserção social, bem como, suas funções sociais que permitirão o mesmo a prosseguir.
Para que a Escola e Família exerçam seus papéis e de forma conjunta é necessário
segundo Sigolo e Oliveira (2008) que a Escola “conheça, conviva e respeite a diversidade
cultural das famílias, além de ser necessário salvaguardar as especificidades de papéis de cada
um dos envolvidos nesta interconexão”. Conhecer o estudante de forma global é fundamental
para enxergá-lo dentro de suas especificidades como é o caso dos estudantes de recebem
Atendimento Pedagógico Domiciliar e estão em tratamento de saúde.
Neste sentido uma comunicação clara e sincera é imprescindível. Descer dos pedestais
de poder, despojando-se das munições de proteção, são ações iniciais básicas para que
Família e Escola desenvolvam um relacionamento cúmplice, maduro e eficaz. Construir
objetivos comuns, buscando uma mesma linguagem na ação educativa.
13450
Por isso, é importante a Família saber qual é a filosofia de ensino da Escola que seu
filho frequenta, que é também seguida pelo professor do APD, sua visão de mundo, visão de
homem, visão de ensino e aprendizado. Essas considerações precisam convergir, em grande
parte, com os princípios da Família. Cabe a Família a iniciativa de conhecer, perguntar e
participar do processo de educação formal de seu filho.
Experiências vividas
a) “Com o atendimento ele pode dar continuidade aos seus estudos. Eu tenho
esperança que um dia ele possa frequentar normalmente a escola” (mãe do João,
matriculado no 2º ano em 2009, estudante portador de uma síndrome que a
característica básica é a disfunção das glândulas sudoríparas e necessita de ambiente
totalmente climatizado); b) “O Atendimento Pedagógico Domiciliar é muito
importante, pois, caso contrário, ela estaria perdendo completamente os conteúdos
escolares deste ano.” (pai da Rafaela, matriculada no 3º ano em 2009, a estudante
fez cirurgia ortopédica) e; c) “O seu desenvolvimento pessoal, cultural, social,
intelectual... não ficará estagnado. Seu tempo “livre”, por mais que eu (mãe) tente
deixar preenchido, com diversas atividades, sejam elas: literárias, tv, jogos,
conversas/bate-papo... com certeza não ficará ocioso e repetitivo. Aprender,
aprender, aprender... esse é o caminho.” (mãe do Bryan matriculado na 1ª etapa C II
em 2009, fez várias cirurgias ortopédicas).3
Esses são apenas alguns depoimentos que evidenciam como é importante o estudante
sentir-se respaldado no período que está afastado do ambiente escolar para tratamento de
saúde. Ao voltar para a escola sente-se capaz de retomar seus estudos formais, restabelecer os
laços de amizade e prosseguir com seus sonhos e expectativas em relação ao futuro.
Ao final do atendimento é encaminhado para a escola um portfólio contendo:
atividades realizadas com as devidas anotações necessárias quanto ao seu desempenho
durante a realização das mesmas, parecer descritivo referente a sua situação de aprendizagem
durante o APD e conteúdos escolares abordados.
Durante a realização dos atendimentos pedagógicos em ambiente domiciliar é possível
observar que devido à situação delicada de saúde do estudante, o mesmo apresenta alterações
psíquicas no contexto em que vive devido às angústias, medos, ausências e dores que
3
Depoimentos fornecidos pelos familiares durante os atendimentos pedagógicos em domicílios realizados no
ano de 2009 pela professora Fabiana Neves, profissional da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba.
13451
enfrenta, e as atividades escolares trazem consigo um novo vigor, uma esperança, uma nova
expectativa em relação à vida.
O Atendimento Pedagógico Domiciliar tem uma dimensão inclusiva no sentido de
possibilitar ao estudante acesso aos conteúdos escolares que devem estar em consonância com
acontecimentos sociais, políticos, culturais e econômicos, onde o professor media
informações e conhecimentos necessários a inserção social deste estudante pós alta médica.
Esta forma de atendimento encontra-se, no município de Curitiba, sob a orientação da
Coordenadoria de Atendimento às Necessidades Especiais/CANE.
educação recreativa”, ressalta ainda que o ensino deve ter “regularidade e uma
responsabilidade com as aprendizagens formais da criança” incluindo pais e escola neste
processo.
O planejamento prévio deve ser priorizado, onde as atividades são elaboradas de
acordo com as necessidades de cada estudante, adequando o ensino ao seu tempo, modo e
estilo de aprender.
Esta forma de atendimento requer do professor repensar a sua prática e flexibilizá-la a
partir do contexto vivido onde o tempo precisa ser otimizado, a aprendizagem deve ocorrer de
modo efetivo, a família precisa ser acolhida e parceira neste processo e o prejuízo educacional
devido à ausência ao ambiente escolar minimizado.
Pedro Demo (2005) enfatiza em seus estudos a pesquisa como elemento essencial a
formulação de conceitos, onde cabe ao professor gerenciar as informações e conhecimentos a
serem investigados, posicionando-se como pesquisador. O questionamento do que realmente
é importante de ser apreendido deve estar imbricado ao planejamento do professor. A
otimização do tempo torna-se ponto crucial durante os APD’s. O planejamento do professor
não deve ser engessado, mas flexibilizado as reais necessidades do educando, tomando o
cuidado para que o foco do atendimento seja preferencialmente pedagógico e não terapêutico.
Acredita-se que a pesquisa impulsiona o ensino, por meio de indagações e com ela a
busca por respostas. Freire (2003, p.29) evidencia esta afirmação de acordo com a seguinte
citação:
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses quefazeres se encontram
um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, procurando. Ensino
porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar,
contatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que
ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.
Estratégia de ensino
Uma das estratégias de ensino que tem se demonstrado produtiva durante os APD’s é
o trabalho com roteiros que instiga a pesquisa e a busca de respostas por meio de
questionamentos, seja em atividades de Língua Portuguesa, Ciências, Artes ou demais áreas
do conhecimento. Diante desta prática o professor media a construção do conhecimento,
ativando a Zona de Desenvolvimento Proximal, utilizando-se do que o estudante já sabe para
que seja capaz de formular novos conceitos e assim avançar em suas aprendizagens.
O planejamento das atividades e a ação educativa no atendimento pedagógico em
domicílio são desafios à medida que ultrapassam os limites arquitetônicos da escola, onde as
aprendizagens se efetivam na sala da casa do estudante, no quarto (quando necessita de
repouso), na garagem ou ao ar livre. Neste sentido a intencionalidade pedagógica e a
abordagem dos conteúdos escolares devem ser mantidas, bem como, as peculiaridades desta
forma de atendimento redimensionando a prática educativa, Isso significa considerar o
histórico do estudante, sua condição física e biológica para aprender, o apoio que a família
Considerações Finais
tratamento de saúde tenham garantida a continuidade dos seus estudos formais quando da alta
hospitalar.
Como resultado apresentado por meio de relatos de escolas e familiares, os estudantes
atendidos pelo Atendimento Pedagógico Domiciliar na cidade de Curitiba retornam ao final
do tratamento às suas escolas sem perdas significativas na aprendizagem sendo capazes de
acompanhar suas turmas regulares.
REFERÊNCIAS
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 7.ed. Campinas: São Paulo: Autores Associados,
2005.