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METODOLOGIA DO

ENSINO DE FILOSOFIA

Autores: Silvio Wonsovicz

Geverson Luz Godoy

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra Bárbara Götzinger
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf

Revisão de Conteúdo: Prof. Fernando Scheeffer

Revisão Gramatical: Profa. Márcia Maria Junkes



Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci

Copyright © UNIASSELVI 2010


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

107
W87299m Wonsovicz, Silvio
Metodologia do Ensino de Filosofia/
Silvio Wonsovicz [e] Geverson Luz Godoy.
Centro Universitário Leonardo da Vinci –
Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010.x;
109 p.: il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-779-0

1. Filosofia 2. Estudo e Ensino de Filosofia


I. Centro Universitário Leonardo da. Vinci II. Núcleo
de Ensino a Distância III. Título
Silvio Wonsovicz

Graduado em Filosofia e Letras pela


Faculdade de Filosofia Ciências e Letras
Dom Bosco (1985). Mestre em Antropologia
Filosófica pela Pontifícia Universidade Católica
de Porto Alegre (1990). Doutor em Educação pela
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
– (2004). Atua como professor e presidente do
Sistema de Ensino Reflexivo – S.E.R. (Educação
- Filosofia, Crianças - Filosofia, Pensamento,
Filosofia - Projeto pedagógico). Mais informação
acesse o site: http://www.portalser.net/. Algumas
das publicações pela editora Sophos: Filosofar:
os primeiros passos: 1º ano; Partilhar, brincar e
aprender a filosofar: 2º ano; Juntos pensamos
e filosofamos melhor: 3º ano; A filosofia e o
entendimento do mundo: 4º ano; Filosofar e
o encantamento: 5º ano; Vamos filosofar?
entre outros.

Geverson Luz Godoy

Possui graduação em Filosofia pela


Fundação Educacional de Brusque (2002). Atua
como professor e assessor filosófico-pedagógico do
Sistema de Ensino Reflexivo. – S.E.R.
Sumário

APRESENTAÇÃO...................................................................... 7

CAPÍTULO 1
Filosofia e Educação: Desdobramentos na
Educação Brasileira .............................................................. 9

CAPÍTULO 2
Variações na Metodologia de Ensino de Filosofia .......... 37

CAPÍTULO 3
Caminhos e Metodologia de Ensino de Filosofia ............. 87
APRESENTAÇÃO
Seríamos audaciosos ao tentar dar uma resposta a pergunta: Para que serve
a Filosofia?, sabendo que ela possui um valor intrínseco, em si e por si.

O que parece é que na sociedade em que vivemos, quando se deseja


justificar algo, exige-se algumas atitudes práticas. Que tudo esteja envolto por
uma ideologia essencialmente materialista, na qual o pensar possui um caráter
prático e objetivo e esteja imbuído de reconhecimentos lucrativos, dando um
embasamento para um pensamento pragmático-materialista. Cabe-nos fazer
menção ao pensamento de Marilena Chauí, em seu livro Convite à Filosofia (1997,
p. 10), que: “Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar
que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática
muito visível e imediata”.

No entanto, percebendo estas variações em nosso cotidiano, que está


sobrecarregado de diversos valores, a Filosofia precisa manter a sua missão de
ser fonte de todo e qualquer conhecimento, tornando justa a busca pela verdade,
para libertar os que ainda se sentem presos pela massificação e alienação.
Ela vem demonstrar que ainda estamos sonolentos, ou melhor, muitos estão
dormentes diante da realidade. Realidade na qual alguns acordaram e zelam
pelo sono da massa alienada. Estes que já acordaram, são minorias que detém
o poder nas mãos e, para eles, se todo o povo acordar da ignorância será um
grande problema, talvez até sem solução.

Bem sabemos, que a Filosofia em si, não proporciona a ninguém ter poder
sobre outras pessoas, tão pouco adquirir riquezas, bens materiais e lucros
econômicos. A Filosofia deve ser vista e encarada como na primeira visão
platônica e aristotélica, em que devemos desvelar os nossos “assombros” perante
a realidade, tendo o dever de descobrir o que se oculta por detrás dos dogmas
sócio-econômico-religioso-culturais que as classes dominantes impõem às
classes dominadas. Tomando posse do conhecimento, nos é permitido livrar-nos
de algumas amarras que foram trançadas pela dominação ideológica opressora.

A Filosofia não possui uma receita mágica para resolver os problemas,


porém, pode ser instrumento interessante para entendermos melhor as
situações pelas quais passamos, possibilitando que façamos escolhas bem
pensadas. O papel da Filosofia é de questionar, interrogar, causar incômodo;
no entanto, o dia em que não houver mais questionamentos, não haverá mais
razão de a Filosofia existir.

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C APÍTULO 1
Filosofia e Educação: Desdobramentos
na Educação Brasileira

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Conhecer a Filosofia relacionada com a Educação a partir da concepção


reflexiva e emancipatória.

33 Relacionar os marcos históricos e as principais concepções e representações


conceituais da Filosofia com o ensino na tradição da educação brasileira.

33 Conhecer as identidades e diretrizes decorrentes dos sujeitos históricos e


movimentos sociais que sustentaram sua presença ou ausência no sistema
educacional brasileiro.

33 Conhecer os aspectos legais e curriculares da presença ou


da ausência da Filosofia na educação brasileira.
Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

Contextualização
Uma vida que não é examinada
não merece ser vivida.
(Sócrates)

Damos início aos estudos desta disciplina de Metodologia do Ensino de


Filosofia com uma interrogação: Por que, para que e como filosofar?

Poderíamos responder a essa pergunta de inúmeras maneiras. Respostas


favoráveis ou contrárias, com sentido ou somente levando em conta a sua
validade, numa sociedade que é imediatista e prática. Porém, utilizando a
afirmativa de Sócrates apresentamos uma resposta extremamente significativa e
importante para cada um de nós, seres racionais. Ao não examinar, questionar e
investigar sobre si mesmo, sobre o outro e o mundo, não há muito interesse em
viver (no sentido pleno do que seja viver). Nossa racionalidade garante pensar
nas causas e efeitos; nas vantagens e desvantagens; nos ganhos e perdas; no
que posso ou no que não posso fazer; no bem e no mal; enfim, numa vida melhor
tanto para mim quanto para aqueles que vivem comigo.

No processo do filosofar posso fazer inúmeras outras perguntas. Muitas com


respostas, outras que me deixam perplexo e sem uma resposta objetiva. Assim,
perguntamos num ou noutro momento da vida:

• Por que preciso comer certos alimentos?

• Por que devo praticar atividades físicas?

• Tenho de respeitar as regras de convivência em sociedade ou posso fazer o


que quero?

• O que me leva a buscar aperfeiçoamentos em minha atividade profissional? É


um direito, uma obrigação ou um privilégio?

• Quem garante que tudo tem de ser como é e que não poderia ser de outra
forma?

• O que devo fazer para ser feliz e viver bem?

• Por que devemos ser éticos? É fácil ser ético no mundo em que vivemos?

• As pessoas são realmente livres ou as suas ações são determinadas pela


genética e pelo meio ambiente?

Você já deve ter feito inúmeras outras perguntas. Para algumas, você teve
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Metodologia do Ensino de Filosofia

respostas, outras podem ter deixado você pensando. Como você está vendo, há
vários tipos de questionamentos que somos capazes de fazer e, só nós é que
fazemos tais perguntas -, portanto filosofamos.

Somos convidados e desafiados a pensarmos bem. A tarefa não é fácil, ainda


mais quando tudo e todos que estão à nossa volta preferem o caminho mais fácil.
Querem respostas prontas, pensam pouco e não têm o hábito de investigar, de
refletir e discutir ideias.

Por tudo isso é que respostas à pergunta “Por que, para que e como
filosofar?” Está em nós mesmos. Somos racionais e queremos investigar sobre
o mundo, sobre as ideias, sobre as nossas ações e as ações daqueles que
vivem conosco. Queremos poder viver bem, viver em comunidade, ser cidadãos
participantes e ativos.

Este capítulo apresentará alguns fatores históricos da entrada da Filosofia no


currículo escolar brasileiro. Além disso, conceitos de Filosofia e Educação farão
parte de nossos estudos para o entendimento e busca da Paideia, como forma que
os gregos concebiam a Educação, ou seja, formação do homem como um todo,
do homem integral. Não podemos esquecer que para compreendermos os fatores
educacionais, também faremos resgates históricos e políticos de nossa história.

Para iniciarmos esse capítulo e nossos estudos sobre a Metodologia do


Ensino da Filosofia, apresentamos o pensamento de Edgar Morin (1986, p.11):

Saber pensar não é algo que se obtém por técnica, receita ou


método.
Saber pensar não é só saber aplicar a lógica e a verificação
aos dados da experiência.

Precisamos, pois, compreender que regras, que princípios


regem os pensamentos que nos fazem organizar o real, isto é,
selecionar/privilegiar certos dados, eliminar/subalternar outros.

Precisamos adivinhar a que impulsos obscuros, a que


necessidades de nosso ser, a que idiossincrasia de nosso espírito
obedece ou responde aquilo que consideramos como verdade.

Em uma palavra, saber pensar significa, indissociavelmente,


saber pensar o seu próprio pensamento. Precisamos pensar-
nos ao pensar, conhecer-nos ao conhecer.

É essa a existência reflexiva fundamental, que não é só do


filósofo profissional e não deve estender-se apenas ao homem
de ciência, mas deve ser a de cada um e de todos.

A partir destas primeiras ponderações sobre o porquê, para que e como


filosofar; e, impulsionados pelo pensamento de Edgar Morin, inicialmente vamos
entender a Filosofia e a Educação como Paideia.

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Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

A Filosofia e a Educação como Paideia


A Lei 9.394/96 (LDB) fala da abrangência da Educação da seguinte forma em
seu artigo 1º:

A educação abrange os processos formativos que se


desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais. (BRASIL, 1996).

Tendo continuidade no artigo 2º afirmando que esta educação é dever da


família e do Estado, porém não é o dever de educar que queremos abordar
neste momento e sim os seus princípios que são: “De liberdade nos ideais,
de solidariedade humana, tendo por finalidade o pleno desenvolvimento do
Educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação no
trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim ratificamos que Filosofia e Educação possuem mais A Filosofia aqui,


afinidades do que imaginamos. O tema é a Filosofia, o campo é a é aceita como
Educação. O objetivo é investigar a possibilidade e realização de uma o máximo de
educação reflexiva emancipatória. A Filosofia aqui, é aceita como o consciência possível
máximo de consciência possível que uma época ou sociedade pode que uma época ou
alcançar. O ponto de partida é a premissa de que todo homem produz, sociedade pode
ou se sustenta sobre uma determinada filosofia de vida ou conjunto de alcançar.
ideias e valores.

Para tanto, apresentamos análises históricas e educacionais


da experiência curricular e social e, também uma metodologia de
educação filosófica especialmente desenvolvida já com crianças, Conceitua-se
adolescentes e jovens, em busca de uma educação emancipatória. educação como
transmissão de
Um ensino filosófico e reflexivo entendido num conceito de autonomia,
geração para
crescimento cultural e enriquecimento pedagógico dos educadores, geração dos
educandos e todos envolvidos neste processo. valores culturais de
uma comunidade
Assim, como a Filosofia a Educação também não possui um social em que se
conceito universal, pois os princípios sobre os quais estes conceitos está inserido e da
se apoiam modificam-se conforme o tempo, lugar e circunstâncias, qual se recebe
apresentando variáveis conforme concepções políticas e ideológicas um conjunto de
do tempo em que se está sendo pensado. técnicas normativas
que satisfaça as
necessidades
No sentido comum que as pessoas utilizam em seu dia a dia,
físicas, biológicas e
o conceito educação, significa cortesia, gentileza, polidez, respeito culturais, integrando
e civilidade. Num sentido de ciência temos outros entendimentos e, o indivíduo à
houve vários modelos educacionais que perpassaram a história de sociedade.
nosso país.
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Metodologia do Ensino de Filosofia

De maneira geral, conceitua-se educação em toda e qualquer civilização


como: transmissão de geração para geração dos valores culturais de uma
comunidade social em que se está inserido e da qual se recebe um conjunto de
técnicas normativas que satisfaça as necessidades físicas, biológicas e culturais,
integrando o indivíduo à sociedade.

A Filosofia foi sempre encarada como uma forma racional de compreender


o mundo e a realidade na qual estamos inseridos. Sendo realizada dentro das
condições materiais, econômicas e ideológicas da sociedade. A Filosofia como
saber e método de investigação da realidade, assume uma expressão peculiar.
Dentre as possíveis definições de Filosofia, destaca-se “a construção histórica
que acentua uma determinada concepção de conhecimento e uma forma de
entender a realidade, a partir do concurso da razão e dos processos racionais”.
(WONSOVICZ, 2004, p. 22).

O ensino de Filosofia passa, continuamente, por um processo avaliativo, bem


como por críticas. É um movimento importante de permanente avaliação de seus
pressupostos, formas e métodos, objetivos e contradições.

É preciso entender que, historicamente, há um ethos paternalista que exclui


as crianças, adolescentes e jovens da participação dos processos políticos
decisórios. Parece também evidente que, na Filosofia, do ponto de vista histórico,
há pouco interesse e disposição em pensar a questão da infância e adolescência
em suas implicações na educação. Esta visível indiferença da Filosofia para com
a educação das crianças é um problema intrínseco da Filosofia. Portanto, temos a
criança como um problema oculto que está presente no discurso filosófico desde
a antiguidade. Filosofia e Educação e paideia se pertencem mutuamente, porque
comungam do mesmo interesse, isto é da formação do homem.

Ethos: do grego que significa costumes humanos quanto à


bondade ou maldade deles. Este termo foi o que deu origem a
palavra Ética que estuda a bondade e a maldade de qualquer ato
humano, em qualquer sociedade, sendo este conceito ética universal
e atemporal.

Paideia: do grego pais, paidos: a educação de uma criança.


Relacionado a pedagogia. O pedagogo é o responsável pela
orientação da educação das crianças. Em sentido lato, equivale ao
Latim Humanitas (daí “as humanidades”), significando a aprendizagem
geral que deve ser patrimônio de todos os seres humanos.

Promover a aproximação da infância, adolescência e juventude com a Filosofia


é questionar o conceito de filosofar. Prova disto é a tendência formal da Filosofia,
de acreditar na existência de uma incompatibilidade entre infância e Filosofia.

A liberdade de pensar é, desde Sócrates, um bem inegociável. Em sua


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Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

origem na Grécia Antiga, a Filosofia foi voz da liberdade do pensamento, por outro,
resultado da falta e da negação de tal liberdade. Por isto pensar nas razões do
silêncio, no preconceito, no impedimento do filosofar na infância e adolescência
tem sido objeto de análises e reflexões de filósofos e educadores contemporâneos.
O que corrobora com a ideia de que há uma relação intrínseca entre Filosofia e
Educação, ou melhor, entre as Ciências da Educação e a Filosofia.

A Filosofia surgiu das condições materiais, econômicas e


ideológicas da sociedade grega antiga. Desta forma de saber e de Filosofia é uma
concepção de
método de investigação da realidade foi que, nossa cultura ocidental
conhecimento e uma
assumiu uma linguagem especial. Por isto, dentre as definições de forma de entender a
Filosofia, destacamos a que afirma que “[...] é uma concepção de realidade a partir da
conhecimento e uma forma de entender a realidade a partir da ampliação ampliação da razão
da razão e de seus processos racionais”. (WONSOVICZ, 2005, p. 44). e de seus processos
racionais.
Há outras perspectivas que apontam ser a Filosofia uma
orientação moral, uma conduta de vida; existem os que entendem
Filosofia como uma doutrina ético-religiosa ou um saber esotérico e há ainda
aqueles que entendem como uma forma racional de compreender a realidade a si
mesmo e ao mundo.

São concepções que surgiram na Grécia Clássica do século IV a.C. e estão


presentes na história da cultura ocidental. Diante desta construção histórica, a
Filosofia foi quase sempre definida como oposição às demais formas de saber e
compreender a realidade.

Os primeiros filósofos preocuparam-se com um tipo de saber que fosse capaz


de superar o pensamento mitológico, que é um estilo primário de conhecimento.
Definiam-no como doxa, como um saber ingênuo, simplista, e também como
opinião, pois não queriam confundir a Filosofia com o dogmatismo das doutrinas
e adivinhações mitológicas vigentes. O ponto que delimitava a intencionalidade
do saber filosófico que ora surgia, era a distância de um saber primário, o senso
comum, e a negação do saber mitológico. Assim lemos em Aristóteles na tradução
de seu livro Política (1985 p. 982):

[...] foi pela admiração que os homens começaram a filosofar,


tanto no princípio como agora; perplexos de início, ante
as dificuldades mais obvias, avançaram pouco a pouco e
enunciaram problemas a respeito das dificuldades ainda
maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol, e das estrelas,
assim como da gênese do universo; [...], portanto, como
filosofavam para fugir à ignorância, é evidente que buscavam
a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária.

Filosofar continua sendo questionar os fundamentos da realidade, os


processos históricos e as ações e contradições do ser humano. Nos séculos IV e
III a.C., no auge do esplendor da experiência política de Atenas, a investigação era
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Metodologia do Ensino de Filosofia

sobre o que era o homem, quais eram as suas determinações, suas identidades,
peculiaridades, potencialidades e natureza. Filosofar tinha uma função social e
ideológica: explicar racionalmente o agir do homem no mundo e determinar os
fundamentos do seu existir moral, de sua natureza política e visão estética, não
havia mais o interesse em perguntar sobre o problema do mundo. A questão
central da pólis e da Filosofia grega clássica era a investigação da identidade e da
essência do homem. Temos, assim, reflexões de todos os filósofos do século IV e
III, com destaque para Sócrates, Platão e Aristóteles.

A educação, a persuasão pela palavra, como os sofistas


queriam, o conhecimento, as origens da virtude e do poder, tal como
preconizava Sócrates – considerando o pensador que inaugurou
a reflexão ética na Filosofia: logo, acompanhada da reflexão sobre
virtude, o saber, a alma, a dialética ou ascese das coisas sensíveis ao
sumo bem, no pensamento idealista de Platão, ou ainda, a brilhante
original formulação do axioma clássico, o homem como animal
político, na célebre definição de Aristóteles, todas estas questões
estão superpostas na investigação reflexiva da dimensão humana e
sua realidade ética, estética e política inaugurada pela pólis de Atenas,
constituindo temático antropológico ou clássico. (NUNES, 2000, p. 60).

No campo educacional, reflexões racionais da ação educativa vieram de


filósofos e estas que propuseram a máxima de que toda a Filosofia encerra-se
numa paideia, no resgate deste clássico conceito grego de formação plena do
homem para a vida na pólis.

Com a prática dos filósofos educadores, o conceito de paideia ia além da


simples instrução da criança. Era a formação do homem integral, para a vida
na pólis. Aplicava-se à vida adulta, à formação e a cultura, à sociedade e ao
universo espiritual do homem; propunha a investigação da natureza humana a fim
de compreendê-la e oferecia possibilidade de participação política. A verdadeira
educação consistia em proporcionar ao homem as condições para o fim autêntico
da vida. Diz-nos Jaeger (1984, p. 407):

A história da paidéia, encarada como a morfologia genética


das relações entre o homem e a pólis, é o fundo filosófico
indispensável no qual se deve projetar a compreensão da
obra platônica. Para Platão, ao contrário dos grandes filósofos
da natureza da época pré-socrática, não é o desejo de
resolver o enigma do universo que justifica todos os esforços
pelo conhecimento da verdade, mas sim a necessidade do
conhecimento para a conservação e estrutura da vida. Platão
aspira realizar a verdadeira comunidade, como o espaço
dentro do qual se deve consumar a suprema virtude do
homem. A sua obra de reformador está animada do espírito
educador da socrática, que não se contenta em contemplar a
essência das coisas, mas quer criar o bem. Toda a obra escrita

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Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

de Platão culmina nos dois grandes sistemas educacionais,


que são a República e as Leis, e o seu pensamento gira
constantemente, em torno das premissas filosóficas de toda
a educação, e tem consciência de si próprio como a suprema
força educadora de homens.

A atitude filosófica ocidental, articulada como um conhecimento humano


fez uma conexão entre o fazer filosofia e a ação de educar. Isto conferiu uma
identidade entre Filosofia da Educação (Paideia) e a reflexão ética e política, que
ficou patente na concepção da Educação como fundamento da sociedade.

Foi Sócrates quem promoveu a mudança temática na Filosofia, tornando-se


a representação tipológica do “filósofo”, e mostrou na prática o que era filosofar.
Lemos em Jerphagnon (1992, p. 23):

[...] Conhece-te a ti mesmo, proferia o Oráculo a que Sócrates


gostava de se referir. O que não significava entrega-te às
delícias da introspecção, mas um “sabe que não és um deus”,
que és um homem, consciente de suas capacidades e de
seus limites. O homem não tem a medida de todas as coisas,
o poder sobre todas as coisas, como pretendia Protágoras, e
não se arranja tudo com palavras. Há uma realidade exterior
ao discurso e que julga o discurso; o pensamento tem um
objeto que julga o pensamento; a ação tem a norma que
domina a ação. [...] Se Sócrates tornou-se a imagem do
filósofo, sem dúvida foi porque simbolizou bem cedo a unidade
da consciência benfeitora, fazedora de bem. O saber e o não
saber são tão perigosos um quanto o outro, e a ação é cega.
Há um saber verdadeiro e uma ação boa; em cada homem,
pensa Sócrates, a filosofia tem como fim último, adquirir
aquele e consumar esta numa vida unificada.

Podemos ainda compreender a Paideia como cultura. Este termo é atribuído


em alguns autores como a formação do homem, o refinar-se, polir-se. A pessoa
que possui cultura é uma pessoa requintada, fina e de boa postura. Quem não
gostaria de ser reconhecido por sua cultura adquirida?

Atividade de Estudos:

1) Conforme o Art. 2º da LDB, Lei 9.394/96, quais são os princípios


da Educação?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

2) Por que Filosofia e Educação não possuem um único conceito?


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3) O que significa afirmar que historicamente existe um ethos


paternalista?
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4) Qual o significado de Paideia dentro da Educação e para a


Filosofia grega?
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5) Qual foi a preocupação dos primeiros filósofos?


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Metodologia do Ensino da Filosofia:


Crítica e Dialética
Assim como todo procedimento filosófico traça sua história e tem um
passado, a luta pelo espaço da Filosofia no currículo escolar desde a Educação
Infantil até o Ensino Médio, com professores, crianças, adolescentes e jovens,
também fez a sua.

Seria muita pretensão querer fazer com que, pela primeira vez,
começássemos a filosofar sozinhos. Filosofar é, em primeiro lugar, colocar-se
diante de uma Filosofia anterior, considerando-se aqui a tradição filosófica. As
correntes filosóficas, as grandes filosofias são bem diferentes das insuperáveis
obras primas que veneramos e respeitamos quando as visitamos num museu.

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Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

A tradição histórica da Filosofia deve servir como meio para descobrirem-


se pensamentos vivos e atuais, para encontrar-se a Filosofia em atitude, por
meio da qual se torne possível dar ao próprio pensar um suporte, uma bússola
para orientá-lo.

Uma Metodologia do Ensino da Filosofia condizente com os dias atuais e


realidades sociais que vivemos, pressupõem uma releitura dos textos e escritos
dos filósofos ou seus comentadores. É preciso aprender a ler, interpretar e
comentar os entendimentos e os frutos das reflexões resultantes de tais leituras.

A partir desta prática, dialética em sua estrutura, é preciso reconstruir,


escrupulosamente, o trabalho do pensamento dos outros participantes, evitando-
se os estereótipos escolares que simplificam as obras e contornam os obstáculos
apresentados pelas palavras e pela aparência simplista e enganosa das fórmulas
prontas. Com isto torna-se possível situar as ideias em contextos, sistemas
coerentes, libertando-as de todo peso histórico e tornando-as um pensamento vivo,
atual e condizente com as faixas etárias e com a situação real de cada indivíduo.

É de suma importância estabelecerem-se as distinções e as definições a


respeito do termo dialética. Ele tem assumido diferentes significados no campo
da pesquisa em Ciências Humanas. A Dialética, como mediação sócio-analítica,
possui estruturas sólidas no campo da pesquisa em Educação. E na concepção
dialética da pesquisa em Educação, a metodologia está intimamente envolvida
com uma concepção de realidade, de mundo, de uma visão do homem e
da história. A dialética é entendida então, a partir de suas matrizes filosóficas,
encontradas nas origens do pensamento grego.

Heráclito de Samos (apud NUNES, 1996, p. 13) – século VI a.C. – afirmava


que “tudo muda, nada permanece igual, como este fogo eternamente vivo, como
a união dos contrários de amor e ódio”. Platão, com sua metodologia filosófica
investigativa, definia a Filosofia como dialética, partindo das coisas sensíveis até
atingir as verdades plenas e perfeitas. Sua dialética seria a transcendência da
realidade sensível para se atingir, pelo pensamento e espírito, o mundo das ideias.
Sua dialética está retratada no Diálogo intitulado, O Sofista, dedicado ao combate
dos sofistas na cidade de Atenas. Platão apresenta a dicotomia entre verdade e erro;
e, pretende pela dialética, desmascarar a falsidade verbal e retórica dos sofistas.

A dialética em Hegel é a lei que rege a realidade absoluta do mundo, portanto,
uma força interna do espírito objetivo que se desenvolve progressivamente na
realidade histórica e material. A partir do conceito de alienação, no qual o homem
se reconhece como estranho ao meio natural social, tomando consciência de sua
própria estranheza. No devir do processo histórico, ou seja, no acontecimento de
sua vida dentro da história, o homem deve compreender, pela sua racionalidade, o
que existe de universal e inteligível no mundo e aproximar-se disso, enriquecendo o
seu espírito e evoluindo plenamente para o conhecimento objetivo – isto é Filosofia:

• um esforço consciente do homem em apropriar-se do mundo inteligível. O


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Metodologia do Ensino de Filosofia

pensamento dialético, nascido do conceito de transformação e dinamismo do


mundo, evolui para diferentes direções, a partir da lógica interna da contradição;

• tese, antítese, síntese, negando-se e afirmando-se plenamente. Não basta


adquirir métodos de trabalho, que já mostraram seu valor em diferentes etapas
de formação, com o simples objetivo de progredir na realização de trabalhos
escritos ou orais. O essencial é que cada indivíduo seja capaz de acompanhar
as exigências práticas de elucidação e de justificação de suas ideias;

• a metodologia não pode ser assimilada e limitada a um conjunto de técnicas


genéricas, cuja aplicação levaria a um bom resultado, ela não é mera habilidade
externa ao saber. Para adquirirem-se métodos de trabalho em Filosofia, há de
se compreender que o método é inerente a própria Filosofia. Elaborar uma
metodologia já é fazer Filosofia, visto que isto envolve necessariamente uma
concepção filosófica da Filosofia.

Atingir a maturidade filosófica, dentro da aprendizagem que visa, a


Atingir a maturidade
filosófica, dentro princípio, a autonomia intelectual é:
da aprendizagem
é: apoderar-se de • apoderar-se de técnicas de leitura;
técnicas de leitura;
• de interpretação de textos;
de interpretação de
textos; do espírito • do espírito de investigação filosófica e,
de investigação
filosófica e • das condições de tratamento sistemático das questões clássicas.
das condições
de tratamento
Portanto, crianças, adolescentes e jovens que venham a assimilar
sistemático das
e a obrigar-se a tal prática estarão formando autenticamente o seu
questões clássicas.
espírito e concretizando o desejo de pensar por si mesmos, que é o que
os motiva. Neste sentido afirma Lipman (1990, p. 51):

Fazer investigação filosófica é estar, a vida toda, pondo-se as questões


filosóficas e buscando corrigir, aprimorar ou produzir novas respostas a essas
questões sem perder-se em ceticismos que nada indicam, ou em relativismos que
indicam pobremente – porque são particulares. Fazer investigação filosófica é ter
um estilo de viver envolvido na e com a construção de significações humanas,
ainda que tenham que ser constantemente refeitas. [...]. O problemático é
inesgotável e se reafirma desumanamente, quaisquer que sejam nossos esforços.

Como em qualquer método ou programa de ensino, a eficácia do trabalho


de reflexão filosófica depende, em grande parte do:

• empenho pessoal;
• da capacidade de iniciativa dos professores e alunos;
• do desejo de investigar;
• de leituras;
20
Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

• de discussões;
• de produções de textos.

Um programa filosófico, com sua metodologia e programas de conteúdos,


não tem como meta convidar o estudante, independente de sua idade, a contentar-
se em produzir esta ou aquela ideia filosófica, ou aquela receita para entender o
mundo e a realidade.

Como um verdadeiro educador, um programa de ensino com seu rol de


conteúdos, sua metodologia, não tem outro objetivo que o de tornar-se inútil tão
logo desencadeie nos alunos a capacidade de terem, por si mesmos, o domínio
do trabalho e do pensamento filosófico, o que implica em primeiro lugar, um desejo
de filosofar; puro e simplesmente, pensar por si mesmo, decidir, tomar nas mãos a
responsabilidade por sua história. Por isso, um Programa com sua metodologia e
com uma estrutura de conteúdos precisa e deve ser crítico e dialético.

Atividade de Estudos:

1) Como é definido aqui, filosofar?


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2) Qual a utilidade da tradição histórica da Filosofia dentro do


aprender a filosofar?
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3) Como é entendida a dialética como mediação socioanalítica?


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4) De que depende a eficácia do trabalho de reflexão filosófica?


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Metodologia do Ensino de Filosofia

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5) Qual é o objetivo principal de um programa ou método de ensino?


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Breve Histórico da Filosofia na


Educação Brasileira: da Colônia à
Atualidade
Foi no século XVI que a Filosofia passou a fazer parte dos currículos
educacionais brasileiros. Com o desenvolvimento marítimo europeu de uma
nação com traços predominantes cristãos, os portugueses chegaram ao Brasil
através da ordem Jesuítica. Desembarcaram onde é, hoje conhecida, a cidade de
Salvador, na Bahia, com a missão de catequizar e instruir os povos colonizados.

Preocupados em arrebanhar mais pessoas para a Igreja, os Jesuítas


caracterizaram a Educação e o ensino da Filosofia, em seu princípio, como
um modo propedêutico, preparatório. Sendo ensinado com base na doutrina
aristotélica e no pensamento escolástico, pois era o que interessava ao clero, na
época, para valorizar ainda mais a fé e a doutrina católica, em resposta à liberdade
de religião advinda da Reforma Religiosa (Lutero).

A educação no Brasil Colônia era uma cópia da cultura da metrópole, pois havia
uma afinidade de interesses entre a elite emergente e a coroa portuguesa, em que
a educação, representada pela Igreja, tendo um saber estruturado em uma cultura
clássica, tradicional, livresca e com o domínio da gramática, era para bem poucos.

O método pedagógico utilizado para o ensino da Filosofia era formado pelo


22
Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

processo de repetição e memorização, sendo estes considerados os únicos


métodos válidos e eficientes na aprendizagem. Até hoje, ainda se ouve falar que
a repetição é a mãe da aprendizagem. O que se ensinava como conteúdo era a
História da Filosofia e os pensamentos filosóficos já existentes, sem haver uma
preocupação maior com o desenvolvimento do pensamento reflexivo, sendo
valorizado apenas a memorização dos sistemas filosóficos, e o pensar reflexivo,
quando feito, era algo feito extraclasse.

Mesmo com a expulsão dos jesuítas em fins do século XVIII, a Filosofia não
desapareceu, sendo que o seu ensino ainda apresentava uma forma precária, no
entanto, manteve os mesmos aspectos livrescos e religiosos como método de ensino.

Somente no século XIX que houve o surgimento dos cursos profissionalizantes


e superiores, estes últimos a partir de 1930, sendo que o ensino secundário ficou
incumbido de preparar os jovens como curso propedêutico para o ingresso nos
cursos de nível superior.

Foi neste momento que a disciplina de Filosofia ganhou caráter de


obrigatoriedade nos currículos do Ensino Médio. Entretanto, não foi sanada com a
obrigatoriedade algumas dificuldades que resultavam da falta de organização dos
conteúdos filosóficos, identificação de que conteúdos deveriam ser lecionados e
em quais séries, dentre outros.

Houve uma grande mudança no sistema educacional brasileiro durante o


século XX com o surgimento de novos movimentos ligados ao liberalismo. Estes
novos movimentos defendiam uma educação desligada das influências da Igreja
Católica em relação à formação da conduta humana. Para estes movimentos o
que se fazia necessário era o desenvolvimento de forma objetiva da instrução
científica e a busca pelo seu conhecimento. Esta busca era totalmente influência
do pensar positivista de Auguste Comte, prevalecendo até os dias atuais em
nossa realidade educacional. Estes movimentos criticaram então, a presença da
Filosofia nos currículos do Ensino Médio, pois não entendiam a sua utilidade na
formação do pensamento cultural brasileiro.

Liberalismo: Doutrina nascida e firmada na Idade moderna


que defendeu e procurou realizar a liberdade no campo político. Foi
dividida em duas fases, a primeira no século XVIII caracterisada pelo
individualismo, e a segunda no século XIX caracterizada pelo estatismo.

Além do interesse no saber científico, houve também, um despertar de


interesse na organização política. Após a proclamação da República, o Ensino
Médio sofreu modificações, deixando o seu caráter propedêutico e assumindo
uma postura mais científica, preparando os jovens para uma vida pública e para
o mercado de trabalho, ou seja, era necessário fabricar mão de obra qualificada

23
Metodologia do Ensino de Filosofia

para o desempenho das atividades exigidas pelo Estado. Tendo em vista esta
educação profissionalizante, muitos jovens perderam a oportunidade de ingressar
em uma universidade.

Era necessária a ordem para haver o progresso, para isso se fazia


também necessário construir uma única forma de pensar. Com as mudanças
educacionais e a Filosofia esquecida, ou abandonada, a escolha de um curso
superior ficou de lado e o que prevalecia eram as instruções práticas para a
vida e uma instrução geral da cultura que levasse todos os indivíduos a terem o
mesmo modo no pensar.

Foi a partir de 1915, com o decreto nº 11.530, que se definiu que o Ensino
Médio teria a única função de ministrar conhecimentos e criar a possibilidade
de qualquer educando ingressar mediante um rigoroso exame, em qualquer
universidade. A Filosofia no Ensino Médio deixa o caráter complementar e passa
a ser facultativa na escola pública.

Em 1925, seguindo o decreto nº 16.782, no qual se afirmava que o


Em 1925, seguindo Ensino Médio era o pilar fundamental para a cultura geral do país e era
o decreto nº
o meio mais eficaz para o ingresso aos cursos de nível superior, voltava
16.782, a Filosofia,
a Filosofia, como caráter obrigatório nas grades curriculares brasileiras,
como caráter
obrigatório nas tendo por objetivo preparar o homem para a vida e contribuir para a
grades curriculares cultura geral do país. Houve um porém, de forma negativa, as aulas
brasileiras, tendo foram reduzidas ao quinto e sexto anos do colegial, ministradas três
por objetivo aulas por semana sendo utilizados sistemas nada reflexivos.
preparar o homem
para a vida e Duas mudanças se fizeram significativas no sistema educacional
contribuir para a nas décadas de trinta e quarenta. A primeira na década de trinta,
cultura determinou através de decreto que o Ensino Médio deveria formar o
geral do país. homem para todos e quaisquer setores da vida e para o desenvolvimento
da nação. A segunda mudança, ocorrida já na década de quarenta,
intitulada como Lei Orgânica do Ensino Secundário, determinava a
necessidade de fornecer conhecimento intelectual, formar a personalidade e a
consciência patriótica dos educandos.

Neste mesmo período surgiu outro movimento denominado Escola Nova,


que defendia as ideias do filósofo John Dewey, colocando a instrução escolar
como meio de desenvolvimento econômico e social. Para que isto acontecesse,
os seguidores deste movimento, conhecidos como escolanovistas, defendiam
a escola leiga, gratuita e obrigatória com direito de acesso a ambos os sexos.
Este movimento ainda visava uma reformulação geral do Ensino Médio brasileiro,
em que se valorizava a questão da consciência social do ser humano. Mesmo
sendo mantida a disciplina de Filosofia como obrigatória por este movimento,
ela foi perdendo o seu espaço, teve carga horária reduzida, incluiram-se temas
genéricos, ou seja, não filosóficos à disciplina, tornando-a cada vez mais
desorganizada e sem nexo como estudo filosófico propriamente dito.
24
Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

Com a promulgação da lei Nº 4.024 em 1961, surgiu no Brasil a Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional, passando novamente a disciplina de
Filosofia de caráter obrigatório a complementar na grade curricular do Ensino
Médio. Até 1963 a disciplina de Filosofia era facultativa, podendo ser escolhida para
compor a grade curricular ou não. Em 1964, com o golpe militar, nasceu um forte
movimento de troca da Filosofia por disciplinas que elevassem o civismo nacional.
Neste contexto em 1968, o MEC, recebendo orientações diretas dos
EUA, que financiavam a nova organização educacional (acordo MEC – Em 1971,
USAID), fez reformas universitárias (Lei 5.540/68), do ensino primário com a reforma
e médio (Lei 5.692/71). Estas leis estabeleceram uma estreita relação educacional, foram
entre educação e produção como teoria do capital humano. excluídas todas
as disciplinas de
Em 1971, com a reforma educacional, foram excluídas todas caráter reflexivo da
as disciplinas de caráter reflexivo da grade curricular, pois o mais grade curricular, pois
importante era a formação profissional como meio concreto do o mais importante
era a formação
conhecimento. Aqui tinha-se o objetivo de proporcionar ao educando
profissional como
a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades
meio concreto do
como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e
conhecimento.
preparo para o exercício da cidadania.

No governo Geisel (entre 1974–1979) a Filosofia voltou a grade curricular,


porém de forma facultativa e a cargo de cada instituição de ensino ministrá-la.
Devido a sua carga horária reduzida, poucas instituições de ensino optaram por
lecionar Filosofia.

Durante os anos de regime militar, por vários motivos, o ensino


no Brasil, não correspondeu às expectativas enquanto ensino Em 1982, quando o
profissionalizante, como as reformas queriam: a falta de orientação Conselho Federal de
Educação publicou
profissional, precariedade das escolas, descaso com a educação
e editou o parecer
séria, deixando a preocupação com uma educação de qualidade na
7.044/82, afirmando
retórica, esquecendo-se da prática.
que a Filosofia
passava a fazer
O ensino de Filosofia sofre novas alterações em 1982, quando parte do elenco das
o Conselho Federal de Educação publicou e editou o parecer disciplinas do núcleo
7.044/82, afirmando que a Filosofia passava a fazer parte do elenco diversificado
das disciplinas do núcleo diversificado do currículo, e que caberia aos do currículo.
conselhos estaduais de educação a responsabilidade por este núcleo.

Em 1996 houve então, a aprovação da nova LDB – Lei de Diretrizes e Bases


para a Educação Nacional, quando a Filosofia foi excluída de maneira inexplicável
do quadro de disciplinas do Ensino Médio, sendo que as mesmas diretrizes se
referiam ao Ensino Médio da seguinte forma: Seção IV – Do Ensino Médio Art. 35º:

O Ensino Médio, etapa final da educação básica, com duração


mínima de três anos, terá como finalidades:

§ 1º [...] III Domínio dos conhecimentos de filosofia e sociologia


necessária ao exercício da cidadania. (BRASIL, 1996).

25
Metodologia do Ensino de Filosofia

Reconhecida a importância da Filosofia no aprimoramento do educando


como pessoa humana, na sua formação ética, no desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico do indivíduo; porém, não integrada na grade
curricular obrigatória no Ensino Médio, e sim, como conteúdo a ser aplicado
dentro das demais disciplinas. Com o parecer Nº 15/98 a Filosofia passa a
assumir caráter interdisciplinar, devendo ser lecionada obrigatoriamente, não
como disciplina única, mas dentro de outras disciplinas, como por exemplo, no
campo da Matemática, Física, Português, entre outras.

Alguns estados brasileiros como Paraná, Santa Catarina, Maranhão entre


outros, assim como alguns municípios, São José/SC, Belmonte/SC, São Luís/MA
entre outros, em suas diretrizes de educação, incluíram a Filosofia como disciplina
obrigatória no Ensino Fundamental e Médio já há alguns anos. O Conselho
Federal de Educação somente incluiu o ensino da Filosofia e Sociologia no Ensino
Médio como disciplina obrigatória no ano de 2008.

Atividade de Estudos:

1) Quando e como a Filosofia foi introduzida no pensamento


brasileiro?
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2) Qual era o método utilizado para se ensinar Filosofia no Brasil


Colônia?
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3) Durante o século XX, com o surgimento de novos movimentos


ligados ao liberalismo, houve algumas mudanças. Cite algumas.
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Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

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4) O que se definiu com o decreto nº 11.530 de 1915?


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5) Nas décadas de 30 e 40 houve duas mudanças no sistema


educacional. Quais foram?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

A Obrigatoriedade do Ensino da
Filosofia no Projeto de Lei Nº
1641/2003
Tendo presente que a juventude apresentava algumas características de
desesperanças e poucas perspectivas futuras, como envolvimento com drogas,
prostituição, desemprego, criminalidade, e também por ter vivenciado na sua
adolescência e juventude o regime militar, o Deputado Federal Dr. Ribamar Alves,
do PSB do Maranhão, questionava: o que poderia fazer enquanto representante
político para modificar esta realidade? Dr. Ribamar queria apresentar um PL -
Projeto de Lei, que desse aos jovens o direito ao questionamento, condições de
lutar contra as adversidades, que tomassem consciência de si e dos outros, para
que deixassem de ser presas fáceis dos vendedores de ilusão.

Com esta intenção, o Deputado Dr. Ribamar reapresentou o PL do ex-Deputado


Padre Roque PT/PR. Depois de reelaborado o documento, foi apresentado como
o PL nº 1641 em 07 de agosto de 2003, ficando o projeto sob proposição sujeita à
apreciação pelas Comissões de Educação e Cultura, Constituição e Justiça e de
Redação. A proposta do Projeto de Lei foi a de alterar a Lei Darcy Ribeiro, Lei de
Diretrizes e Base da Educação Nacional – LDB Lei nº 9.394 de 20 de dezembro
de 1996, alterando os dispositivos do artigo 36, incluindo as disciplinas de Filosofia
e Sociologia no currículo escolar, como disciplinas obrigatórias do Ensino Médio.

Em 2 de Junho de 2008, o vice-presidente da República, no


Lei 11.684, de 2 de
exercício do cargo de Presidente da República, José de Alencar Gomes
junho de 2008: Art.
da Silva fez saber que o Congresso Nacional decretara e sancionada
36 -
por ele, a Lei 11.684, de 2 de junho de 2008:
IV – serão incluídas
a Filosofia e
Art. 1º O Art. 36 da lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
a Sociologia
passa a vigorar com as seguintes alterações:
como disciplinas
obrigatórias em Art. 36 [...]
todas as séries do IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas
ensino médio. obrigatórias em todas as séries do ensino médio (BRASIL, 2008).

O artigo 2º revoga o inciso II do art. 36 da Lei nº 9.394 de 20 de


dezembro de 1996, que tinha como objetivo do Ensino Médio o domínio dos
conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania.
Já o artigo 3º afirma que presente Lei entra em vigor a partir de sua publicação
no Diário Oficial da União, que no caso foi publicada no dia 03 de junho de 2008.

Para fins de pesquisa pode-se acessar a lei na íntegra no site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.
htm

28
Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

Com esta atitude de apresentar o Projeto de Lei e lutar pela obrigatoriedade


da Filosofia, o Deputado Ribamar Alves entra para a história da Filosofia e da
Educação brasileira. Porém, ainda mantêm-se algumas preocupações com
conteúdos a serem trabalhados, metodologias e a formação dos profissionais que
irão desempenhar a disciplina, assuntos a serem tratados em capítulos seguintes.

Há um movimento acontecendo, liderado pelo Centro de Filosofia Educação


para o pensar: Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens, com sede em
Florianópolis/SC, de inclusão da Filosofia como proposta de Educação para o
Pensar no Ensino Fundamental. O Deputado Dr. Ribamar Alves, em seu parecer
ao Centro de Filosofia, demonstra ser simpatizante desta proposta.

Pode-se acompanhar uma entrevista feita com o Deputado Dr.


Ribamar Alves pelo Jornal Corujinha Ano XVI – Nº 59, 3º Trimestre –
2007 que está disponível no site:
http://www.centro-filos.org.br/professores/?action=materiasCoruja&id
Coruja=28

Atividade de Estudos:

1) O que motivou o Dep. Dr. Ribamar Alves propor a volta da Filosofia


e da Sociologia como disciplinas obrigatórias na grade curricular das
escolas brasileiras?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

2) Qual é a proposta do Projeto de Lei Nº 1.641?


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3) Como fica constituída a LDB após a apresentação do PL 1.641?


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4) Como foi que Ribamar Alves Encontrou meios para inserir o seu
PL?
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Ética, Política e Educação:


Distinções e Possibilidades
Vivemos neste começo de século uma época de incertezas e de profundas
transformações. A Filosofia, enquanto uma ciência histórica, oferece ao homem
alguns parâmetros que ajudam na compreensão e entendimento de sua realidade
pessoal e da sociedade por ele construída.

30
Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

Como vimos anteriormente, a característica da Filosofia, principalmente neste


momento histórico, está em aproximar-se constantemente da atitude fundamental
de compreender a realidade, aquela formulada por Heráclito como dinâmica e
contraditória.

Perante tais constatações não é possível conceber diante da obrigatoriedade


do ensino da Filosofia uma metodologia do Ensino da Filosofia de maneira
reducionista, quer como um conjunto de verdades e definições, ou mesmo como
um conjunto de técnicas, formas e métodos de conhecimento e pensamento.

Quando a Filosofia oportuniza a apreensão sistemática da cultura, ela dá ao


homem uma consciência crítica de seu tempo e uma responsabilidade pessoal
e social. Gera uma ação ética, política e educacional que tem seu tempo de
maturidade, que vivencia experiências a cada instante e que é responsável por si
e pela comunidade.

Queremos que os educadores, as crianças, os adolescentes e os jovens,


por meio de um programa filosófico-pedagógico, com conteúdos específicos
para cada faixa etária, com metodologias e instrumentos de avaliação, pensem,
reflitam e atuem no e sobre o ambiente em que vivem.

Esta postura crítica de ensinar e aprender a filosofar vai ao sentido de


uma abertura que se coloca contra qualquer dogmatismo. Queremos que os
envolvidos no processo compreendam a realidade como dialética, que mantém
uma correlação de forças conservadoras e transformadoras em todos os níveis e
estruturas (mental, social, econômica e moral). Esta é uma apreensão crítica da
realidade proposta pela Filosofia e que é o objetivo e busca de uma metodologia
do ensino da Filosofia com um viés ético e político.

Uma reflexão filosófica engajada e atual deve considerar a contradição


decorrente do duplo comprometimento que se traduz na compreensão de
nossa época e também com a ação coerente, na direção de nossos sonhos que
projetamos para o nosso futuro. Nessa linha afirma César Nunes (2003, p. 35):

A ação emancipatória torna-se efetiva quando articula a


teoria, a reflexão analítica, com a ação consistente, metódica,
politicamente determinada com a intencionalidade propositiva.
Chamamos de emancipatória a perspectiva que visa produzir
autonomia crítica, cultural e simbólica, esclarecimento
científico, libertação de toda forma de alienação e erro, de toda
submissão, engodos falácia ou pensamento colonizado, incapaz
de esclarecer os processos materiais, culturais e políticos. Ao
mesmo tempo que liberta, aponta que emancipação significa
também a prática da autonomia ética, o ideal e propósito de
constituir valores que justifiquem nossas condutas morais,
indica ainda a responsabilidade social pelas escolhas e opções
que fazemos, até constituir-se num ideal de elevação estética.
[...] Por fim, emancipação significa coerência, autonomia,

31
Metodologia do Ensino de Filosofia

convicção e libertação política, a constituir-se em grupos e


comunidades de pessoas esclarecidas pela ciência e motivadas
pelos ideais e virtudes coletivas.

Vale aqui, trazer à tona a questão da ética, da política e da educação,


atitudes que estão muito próximas no ser e no agir de quem busca uma postura
reflexiva, filosófica e, uma ação coerente. Ao pensarmos a realidade, somos
convidados a ver o mundo em sua dinamicidade histórica e, sendo a Filosofia
a expressão do máximo de consciência possível que uma época ou período
histórico tem sobre si mesmo, a Filosofia está convocada a dar razões para a
manutenção da esperança e da causa do homem.

Levar os indivíduos envolvidos no processo de ensino-


Levar os indivíduos
aprendizagem a desenvolver uma reflexão ética e uma ação condizente
envolvidos no
processo de ensino- (política) é o nosso grande objetivo pedagógico, principalmente pela
aprendizagem a exigência atual de uma postura ética.
desenvolver uma
reflexão ética e uma Temos a convicção de que na nossa cultura, o destino da Ética está
ação condizente irrevogavelmente ligado ao destino da razão. Mesmo em uma época
(política) é o nosso de perplexidades, de uma civilização que fez da razão seu emblema
grande objetivo maior e caminhou ousada e dramaticamente na inversão de valores e
pedagógico, na suspeita que se exprimem num niilismo ético radical.
principalmente pela
exigência atual de
Vivemos numa democracia. Ora, no sistema democrático,
uma postura ética.
todos somos seres políticos. Quando delegamos o poder a alguém,
escolhemos pelo voto, aquele que mais se parece conosco, com o
qual simpatizamos por defendermos as mesmas posições, por termos
ideias que favoreçam o desenvolvimento da cidade ou do país. Muitos escolhem
seus representantes pela sigla partidária. Dentre os que se candidatam a ser
representantes do povo, há os decentes e os indecentes e oportunistas, mas isso
ocorre em todos os setores da sociedade. Diferenciamos então, a ação política da
politicagem, definindo-se a segundo pelo comportamento indecente de políticos
corruptos que pensam poder comprar a democracia.

Desde Platão, nos últimos cinco séculos antes de Cristo, a Filosofia, a Ética e
a Filosofia Política estão ligadas entre si. Tal ligação é tão forte que se considera o
ideal da Filosofia Política como uma continuação da Filosofia Moral. Ambas têm a
mesma finalidade - buscam o bem viver.

O ser humano quando é livre em seu agir e criador do seu próprio destino,
responde eticamente por sua ação. Ao mesmo tempo em que ele escolhe
livremente, há uma série de contradições históricas que exigem sempre novas
opções. A partir de tais escolhas, temos a ação política que é essencialmente
ação e se compreende como tal dentro de uma determinada coletividade social.
Qualquer pessoa que queira viver bem, portanto eticamente, não se pode omitir
do seu papel político.

32
Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

Atitude ética e atitude política são, portanto duas formas de se considerarem


o que se vai fazer e como vamos usar nossa liberdade. A atitude ética é, antes
de tudo, pessoal; por meio da qual, cada um escolhe o que melhor corresponde
ao seu próprio bem-estar naquele momento específico de sua vida e não há a
necessidade de convencer os outros de que essa opção é a melhor. Na atitude
política há o outro a ser considerado, portanto há acordos e é preciso haver
ordenação e organização, pois as ações políticas afetam grupos de indivíduos.

O momento histórico em que vivemos está marcado por contradições e


desafios. Vivemos na era da globalização, um tempo cheio de novidades e
também de voracidades institucionais e subjetivas. O século XXI despontou
marcado pelos estigmas do século passado, guerras, acumulação de renda,
totalitarismos e uso inadequado das ciências (dando-lhes fins destrutivos e
elitistas), intolerância religiosa, relativismos morais, comercialização do sexo e
da sexualidade, ampliação do poder massificante e desumanizador da indústria
cultural. Toda essa realidade vivenciada pela sociedade marca nosso universo e
interfere em nossos significados e em nosso agir.

Ao lado, e no contraponto de tal realidade, as sociedades carregam


contradições e injustiças sociais, padece-se de fome, há doenças que já poderiam
estar erradicadas, mas continuam a matar e a fazer miséria. As cidades crescem
sobre relações frias e normas impessoais, a violência atinge índices nunca antes
vistos, o progresso tecnológico não se acompanhou pelo progresso moral, pela
elevação ética nem pelo desenvolvimento estético emancipatório e realizador.

As contradições são muito visíveis em nosso país. No século XX


presenciamos o Brasil saindo de uma estrutura agrária e rural (de forte tradição
colonial escravista, imperial e republicana, determinada por interesses elitistas
e aristocráticos) para uma estrutura industrializada e urbanizada. Toda esta
mudança ocorreu muito rapidamente, movida pelo espírito desenvolvimentista,
pelos ideais de modernização conservadora, conduzida por experiências
políticas alternantes entre o populismo e autoritarismo que culminaram em uma
sociedade globalizada em processo de articulação cultural-econômico que nos faz
dependentes e subservientes.

Diante deste cenário que trouxe consequências negativas tanto para o


indivíduo como para a sociedade brasileira, coloca-se o desafio a todos os
cidadãos, particularmente aos educadores. Trata-se da necessidade de se criar
uma sociedade reflexiva, tanto sobre o comportamento moral, os costumes
socialmente assumidos, quanto sobre os parâmetros internos de uma justificação
racional de nossa ação e vivência.

Movidos por tal necessidade, lutamos por uma educação reflexiva por meio do
ensino da Filosofia através de programas filosófico-pedagógicos, cujo fio condutor
defende um rol de conteúdos em direção a uma reflexão filosófica emancipada.

33
Metodologia do Ensino de Filosofia

Os programas devem ser sempre objetos de investigação e discussão, por parte


dos pensadores, educadores e cidadãos que continuam a nutrir os mais elevados
sentimentos e parâmetros éticos.

O ensino da Filosofia no terceiro milênio, a partir de nossa realidade


educacional, deve produzir cidadania, consciência histórica, responsabilidade
moral, elevação ética, participação política e sensibilização estética nas
gerações presentes e futuras. Desde os primeiros anos escolares as crianças
e os professores têm o direito de filosofarem e continuarem por todo processo
educacional. Esta será a tônica de nossas reflexões daqui para frente em nossos
estudos na Metodologia do Ensino da Filosofia.

Algumas Considerações
Durante o capítulo foram apresentados alguns pontos a serem refletidos.
Um destes pontos é o exame da própria vida, sendo que este deve ser feito com
consciência crítica, maturidade e qualidade.

Esta prática de refletir sobre os próprios atos parece ser impossível na


sociedade hodierna, sendo que muitos “contra-valores” nos obrigam a correr atrás
da máquina em busca do ter, deixando de lado o ser.

A Filosofia prima por uma educação reflexiva; e esta, por sua vez, busca a
formação do homem integral, ou ainda, formação integral do homem. Questionar
é uma das habilidades buscadas por esta metodologia, o que por muitas vezes é
visto de forma inconveniente em uma sociedade que não sabe explicar o porquê
das coisas.

O desejo de quem busca o domínio das massas é que não se tenha


conhecimento do que e como as coisas acontecem. A Filosofia proporciona
parâmetros que nos ajudam a compreender a realidade ocorrida em nossa
dimensão pessoal e social.

Atividade de Estudos:

1) O que oferece ao homem a Filosofia enquanto ciência histórica?


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34
Capítulo 1 Filosofia e Educação:
Desdobramentos na
Educação Brasileira

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2) Como a dialética é entendida neste contexto?


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3) Qual a relação feita no texto entre Filosofia, Política e Ética?


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4) Segundo o prof. Dr. César Nunes, o que deve se levar em


consideração numa reflexão filosófica engajada e atual, para tornar-
se uma ação emancipatória?
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35
Metodologia do Ensino de Filosofia

Refefências
ARISTÓTELES. Política. Brasília: Ed. da UNB, 1985.

BRASIL. Lei n. 11.684, de 2 de junho de 2008. Altera o art. 36 da Lei no 9.394,


de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos
currículos do ensino médio. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm#art1>. Acesso em: 10 nov. 2009.

______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes


e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/l9394.htm>. Acesso em: 15 set. 2009.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1997.

JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem Grego. São Paulo: Herder, 1984.

LIPMAN, Mattheu. A filosofia vai à escola. São Paulo: Summus, 1990.

MORIN, Edgar. Para Sair do Século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

NUNES, César Aparecido. As Origens da articulação entre filosofia e educação:


matrizes conceituais e notas críticas sobre a paidéia antiga. In: LOMBRADI, J. C.
(Org.) Pesquisa em Educação. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2000, p.
57-75.

______. Educar para a Emancipação. Florianópolis: Sophos, 2003.

______. Filosofia, Sexualidade e Educação: As relações entre os ressupostos


ético-sociais e histórico-culturais presentes nas abordagens institucionais sobre
a educação sexual escolar. 1996. 319 f. Tese (Doutorado) - Curso de Educação,
Departamento da Faculdade de Educação, Unicamp, Campinas, 1996.

WONSOVICZ, Silvio. Crianças Adolescentes e Jovens Filosofam.


Florianópolis: Sophos, 2005. Vol. II

WONSOVICZ, Silvio. O Ensino de Filosofia na escola fundamental: O projeto


de educação para o Pensar em Santa Catarina (1989-2003) – A proposta, a
crítica, contradições e perspectivas. 313 f. Tese (Doutorado) - Curso de Educação,
Departamento de Filosofia e História da Educação, Unicamp, Campinas, 2004.

36
C APÍTULO 2
Variações na Metodologia de
Ensino de Filosofia

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Conhecer as variadas formas de ensino dos conteúdos filosóficos.

33 Compreender a Educação como ação prática de intervenção social destinada


a fazer ligações concretas como as que levam em consideração a historicidade
e a solidariedade do processo que instaura a humanidade no tempo.

33 Identificar a Filosofia como busca e não como saber pronto e acabado.

33 Conhecer as formas e critérios de avaliação no ensino da Filosofia.

33 Despertar nos estudantes o significado do que é filosofar e o que significa


ensinar Filosofia.

33 Aprender formas de aplicar avaliações na disciplina de Filosofia.

33 Diferenciar aula de Filosofia de aula filosófica.


Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

Contextualização
No primeiro capítulo, relatamos um pouco da história da Filosofia no Brasil,
seus entraves, presença e ausência no currículo, decisões e indecisões políticas,
e a metodologia proposta em todo o período histórico do Ensino Médio ou
Secundário como foi chamado em alguns períodos.
Houve também, a presença do ensino da Filosofia em cursos superiores de
Direito, Medicina, Pedagogia e cursos direcionados ao ensino propriamente dito
de Filosofia, Sociologia e também de Psicologia.
Neste capítulo trataremos um pouco sobre a presença da Filosofia na estrutura
curricular, destacando a sua importância, possibilidades e métodos de ensino,
habilidades e competências. Ainda por meios históricos, daremos uma maior
ênfase a um método que tem sido referência em educação para o pensar, assim
como, será tratado sobre métodos de avaliação na disciplina de Filosofia desde a
Educação Infantil, passando pelo fundamental, até chegar ao Ensino Médio.

Presença da Filosofia na Estrutura


Curricular
Como vimos no primeiro capítulo, historicamente, o ensino de Filosofia
nunca teve sua presença garantida na estrutura educacional brasileira. Por
consequência, ficou uma lacuna na reflexão, na produção escrita sobre o seu
ensino, na produção de material didático acessível para o seu entendimento e a
sua tradução para a realidade.
Sempre que se discutiu sobre a importância e presença da Filosofia na
educação, estendeu-se como preocupação com o Ensino Médio e a Universidade,
sem contemplar a fase inicial da educação. Por este fato, houve também, um
desencontro entre a teoria e a prática, sendo construída muitas vezes, uma
reflexão filosófica superficial nas universidades sobre o ensino da Filosofia,
preparando poucos profissionais para a discussão e valorização do ensino e de
uma Pedagogia da Filosofia, apresentada como discussão filosófica.
Posições e decisões de educadores foram necessárias quando se referia ao
o que e como trabalhar a Filosofia em sala de aula. Certas atitudes levaram ao
desinteresse e desestímulo de educandos e educadores. Educadores expondo
seu método de maneira impositiva como se fosse toda a Filosofia ou ainda pior,
como se fosse à única.
A Filosofia, em toda a sua história, mostra-se uma atividade humana que, na
sua essência é educativa. Em essência somos reflexivos, e a atividade filosófica
é natural ao ser humano. Desta forma, o ensino de Filosofia é condição básica,
um fazer pedagógico constante para a formação humana, situado na história e na
sociedade. A essência humana que almejamos passa pela valorização do sujeito
enquanto indivíduo, que possui suas mediações históricas pela transformação
da natureza (trabalho), pela participação social (grupo comunitário) e pelo
39
Metodologia do Ensino de Filosofia

desenvolvimento cultural (criatividade), lutando para que o trabalho não seja


degradante, a comunidade não seja opressiva e a criatividade não seja alienação
e massificação.
É por meio de uma educação reflexiva que se pode efetivar
Formar as novas uma luta assídua contra tais falhas educacionais, entendendo tal
gerações por meio ação como prática de intervenção social destinada a fazer ligações
de um ensino concretas da nossa vida e auxiliar na instauração de forças construtivas
reflexivo é inserir e emancipatórias. Estas ligações devem ser as que levam em conta a
os educandos historicidade e a solidariedade do processo que instaura a humanidade
no mundo do no tempo. Formar as novas gerações por meio de um ensino reflexivo é
trabalho, da cultura, inserir os educandos no mundo do trabalho, da cultura, da participação
da participação social através do conhecimento, pelo pensar per se (por si mesmo
social através do – emancipação) a partir de uma visão critica, criativa e criteriosa,
conhecimento, pelo abandonando o formato ingênuo, mecânico e dogmático, até então,
pensar per se. dominante na educação.
A abordagem e a postura filosófica proporcionam o processo
de produção do objeto conhecido, processo de construção de
conhecimento, não importando em qual fase escolar o educando encontra-se, o
importante é que o educando perceba o significado de sua existência histórica e
de sua presença no mundo.
Faz-se necessário um ensino de Filosofia que não só valorize, mas que,
priorize uma formação filosófica consistente e persistente, um ensino de Filosofia
como postura, atitude de espírito humano diante da existência histórica, social
e cultural, ensino que esteja presente em todos os segmentos escolares para o
desenvolvimento de indivíduos emancipados.
É pela reflexão e pelo conhecimento que o homem pode sonhar e chegar
aos caminhos de sua libertação, estando apto para a intervenção de sua história
e realidade, com o objetivo de garantir respeito e dignidade. Por este e outros
motivos que o conhecimento deve ser competente, criativo, crítico e criterioso,
demonstrando-se um conhecimento alinhavado dentro de uma reflexão filosófica.
O filósofo almejado dentro do universo educacional, é lançado para uma
dimensão política e pedagógica. O individuo que ao emancipar-se, utiliza o
conhecimento, poderá alcançar uma visão epistêmica e ética da realidade, pois
a reflexão histórica estará ligada ao mundo do indivíduo coletivo, histórico e
social. Portanto, a Filosofia é considerada paideia, a que forma o indivíduo para a
coletividade humana.

Epistêmica vem de epistemologia que significa estudo crítico


dos métodos empregados nas ciências.

O filósofo deve assumir o papel do educador da cidade. Buscar por um ensino


filosófico é buscar uma coletividade humana, pensando o porquê da existência. Esta
abertura, além de capacitar o indivíduo a desenvolver uma determinada habilidade;
sensibiliza-o para um estilo de reflexão, ampliando-a e efetivando-a; despertando
um modo de pensar, uma maneira de ser e fazer a subjetividade de cada um.

40
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

Desde a colonização, com a chegada dos jesuítas no Brasil, a atividade


filosófica foi marcada por sua atuação singular e de alguns outros pensadores.
Para não divergir de Portugal, as primeiras Faculdades de Filosofia, junto ao
colégio da Bahia (1583) e ao colégio do Rio de Janeiro (1649), adotavam um
currículo tradicionalista medieval.
Nos colégios jesuítas havia os cursos secundários de Letras Humanas e o
de Filosofia (denominado Curso de Artes), a língua oficial do ensino era o latim,
os subsídios eram dos filósofos gregos e romanos que mais se aproximavam da
doutrina da Igreja. Havia também, os escritos dos moralistas Cícero, Quintino e
Sêneca. Os cursos tinham duração de três anos e eram abordados os estudos de
lógica, metafísica, moral, matemática, ciências físicas e naturais. Pelo currículo, no
primeiro ano, Aristóteles e São Tomás de Aquino eram os conteúdos estudados,
nos outros dois, ciências físicas e ciências naturais. O objetivo da Filosofia nesse
período era o de formar homens letrados, eruditos e, acima de tudo católicos.
Aprender Filosofia na escola foi por muito tempo artigo de luxo,
privilégio de alguns senhores ricos e ilustrados ou de alguns filhos de Aprender Filosofia
colonos brancos, cujos pais chegaram aqui degredados e, aos poucos, na escola foi por
tornaram-se classe dominante na Colônia. Esta classe reproduzia muito tempo artigo
de luxo, privilégio
os hábitos aristocráticos da Europa. O ensino filosófico a eles
de alguns senhores
proporcionado era estritamente livresco, já pronto. Saber reproduzir
ricos e ilustrados ou
as ideias da moda era sinal de “intelectualidade filosófica”. O saber
de alguns
era erudição livresca, e a Filosofia, um discurso teológico centrado na
filhos de colonos
escolástica aristotélica ensinada pelo pensamento jesuítico.
brancos.
Houve um clima de renovação humanística e universalista no
pensamento pedagógico durante o processo de emancipação política do Brasil.
No ensino da Filosofia, os conteúdos foram influenciados pelas ideias iluministas
da época, houve uma libertação do ensino e da cultura da “autoridade” e do
aristotelismo medieval. Sua organização seguiu os moldes de aulas régias, com
disciplinas avulsas e isoladas.
No Brasil, houve dezoito reformas e em cada uma delas tivemos uma grade
curricular nova. Foi omitido o ensino da Filosofia da grade curricular em cinco
delas. Assim, entre 1856 e 1926, estava prevista a presença da “Philosophia” em
duas séries, dentro do período da segunda à sétima, de maneira livre. Com a
indefinição programática, e a não obrigatoriedade da presença, a Filosofia era
oferecida como curso livre.
A partir da Revolução de 1930, que acabou com o monopólio do poder das
oligarquias e criou condições para a implantação do capitalismo industrial no País,
houve uma abertura no horizonte cultural. Tivemos, sobretudo, a expansão do
ensino, como resultado das pressões dos segmentos organizados. A estrutura e
a visão pedagógica, no entanto, permaneceram conservadoras, aristocráticas e
elitistas. Esta educação consolidou-se nas reformas educacionais que estavam
por vir – 1932, 1942, 1961, 1971 e 1996 – sendo que, na última, houve uma
abertura para a possibilidade do retorno da Filosofia ao Ensino Médio.
Como podemos perceber, somente na década de 30 que a Filosofia disputou
e ocupou lugar junto a outras disciplinas nos currículos. Porém, sua permanência
é vulnerável no sistema de ensino brasileiro. Nas décadas de 30 e de 70 surgiram
41
Metodologia do Ensino de Filosofia

programas oficiais e obrigatórios de Filosofia, o que não caracteriza o verdadeiro


ensino da Filosofia.
Desde as aulas régias aos cursos livres, da sua estruturação como matéria
optativa até o caráter complementar, passaram-se quatro séculos de educação, e o
ensino de Filosofia não obteve seu espaço devido. Vimos no discurso oficial e legal
uma exaltação à sua importância na formação da criança e do jovem, porém, na
prática pedagógica, o ensino de Filosofia ainda é visto e, muitas vezes, efetivado como
um humanismo formalista, retórico, embasado no gramaticismo e na erudição livresca.
Diante desta realidade, foi percebida a necessidade de que a
Como pano de
Filosofia conquistasse seu espaço dentro da estrutura curricular, muito
fundo, o ensino
mais no campo político-institucional (por leis) do que somente na
de Filosofia tem
consciência educacional de pais e professores. A Filosofia carrega um
até hoje questões
conteúdo a ser ensinado, a discussão gira em torno de qual natureza
como: o quê?,
deve ser esse conteúdo e sobre qual metodologia se deve fundamentar
como?, para
a prática do ensino de Filosofia. Como pano de fundo, o ensino de
quem?, por
Filosofia tem até hoje questões como: o quê?, como?, para quem?,
quê? e para
por quê? e para quê? Perguntas facilitadoras como instrumento e
quê? Perguntas
ferramenta da reflexão.
facilitadoras como
instrumento e Houveram contradições nas leis e pareceres técnicos do MEC e suas
ferramenta da resoluções referentes ao PCNEM (Parâmetros Curriculares Nacionais
reflexão. para o Ensino Médio); bem como, a posição oferecida à Filosofia e à
Sociologia, que foi organizado em um Projeto de Lei, pois havia uma
brecha para sua não efetivação nos currículos do ensino médio.

[...] Nesta área [de ciências humanas] incluir-se-ão também os


estudos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da
cidadania, para cumprimento do que manda a letra da lei. No
entanto, é indispensável lembrar que o espírito da LDB é muito
generoso com a constituição da cidadania e não a confina a
nenhuma disciplina específica, como poderia dar a entender
uma interpretação literal a recomendação do inciso III, do § Iº
do artigo 36. (BRASIL. SEMTEC, 1999a, p. 163).

Mesmo não contemplando a grade curricular com a disciplina de Filosofia, a


LDB — lei 9.394/96, no artigo 36, parágrafo Iº, inciso III, diz que:

Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação


serão organizadas de tal forma, que ao final do ensino médio,
o educando demonstre [...] domínio dos conhecimentos de
Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania.
(BRASIL, 1996).

Tal parecer possui um texto vago e paradoxal e coloca a Filosofia como algo
desnecessário, além de dar margem à continuidade do processo de descaracterização
que a disciplina vinha sofrendo nas últimas duas décadas, ficando a presença da
Filosofia no currículo à mercê da subjetividade dos diretores das escolas.
Outro agravante é que, ao se afirmar que os alunos devem ter noções de
conhecimentos filosóficos, não implica, necessariamente, a presença efetiva
de aulas de Filosofia. Entenda-se aqui, que tais conhecimentos podem (e por

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Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

que não “devem”?) ser abordados por outras disciplinas. Não se defende a
interdisciplinaridade, como à primeira vista poderia ser entendido. No próprio
documento, há contradições com relação a isto:

[...] a interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário,


mantém sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir
da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm
sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias
para a constituição de conhecimentos, comunicação
e negociação de significados e registro sistemático de
resultados. (BRASIL, SEMTEC, 1999a, p.133-134).

Quando lemos os documentos elaborados pelo MEC percebemos que o mesmo


inspira-se em dicotomias como, por exemplo, o debate entre as epistemologias de
Piaget e Vigotsky, quando confirma que a produção do conhecimento interdisciplinar
se processa pelas bases de informações específicas, isto é, o educando,
conhecendo os conceitos, passa a compreender uma dada realidade geral. A partir
disto, temos que o conhecimento a ser desenvolvido na escola deve percorrer o
caminho oposto ao do conhecimento espontâneo, próprio do homem.

Atividade de Estudos:

1) Qual a relação entre a Filosofia, a natureza reflexiva do ser


humano e o fazer pedagógico?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

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2) O que se consegue a partir de uma educação reflexiva?


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3) Que tipo de ensino de Filosofia se faz necessário?


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4) Como era o ensino de Filosofia durante a atuação dos jesuítas?


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Capítulo 2 Variações na Metodologia
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5) Em quais reformas curriculares o ensino da Filosofia teve alguma


abertura no Brasil? O que estas reformas significaram efetivamente
para o ensino de Filosofia?
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6) Quais são as implicações, a partir da LDB/96 para o ensino de


Filosofia?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

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Importância da Filosofia no Ensino


Tendo em vista a realidade atual em que vivemos, cheia de
Pensar é contradições e dicotomias gritantes, ainda há necessidade de se falar
necessário, mas sobre a importância da Filosofia no ensino.
parece ser mais
‘fácil’ uma posição Dentro de um modelo educacional em que o relacionamento
comodista, sem entre pessoas, saberes, teoria e prática encontram-se petrificados, é
voz, indiferente um pouco difícil encontrar lugar onde caibam inovações e mudanças
e preguiçosa. Os paradigmáticas. Pensar é necessário, mas parece ser mais ‘fácil’ uma
que ousam pensar, posição comodista, sem voz, indiferente e preguiçosa. Os que ousam
agir e falar, em um pensar, agir e falar, em um primeiro momento até são ouvidos, em um
primeiro momento segundo momento são desconsiderados e por último, desencorajados.
até são ouvidos, O que se percebe então, com tamanho descaso e desinteresse, é uma
em um segundo desilusão por falta de apoio e credibilidade dentro da própria educação.
momento são
A Filosofia, não só como disciplina curricular, mas como proposta
desconsiderados
de vida, sinaliza uma nova postura reflexiva por parte de educadores e
e por último,
educandos. Com a introdução da Filosofia no Brasil, desde a colonização
desencorajados.
até nossos dias, são constatadas situações que vêm solidificando e
enraizando nossa cultura do pensar. Em nossa atualidade, é presente
e perceptível uma visão conteudísta, pragmática e positivista, heranças
do iluminismo e positivismo. Dentro destes modelos educacionais, historicamente,
o ensino de Filosofia nunca teve garantido a sua estabilidade na estrutura da
educação brasileira.
A Filosofia em si, em toda a sua história tem se mostrado uma atividade humana
que, em sua essência, é educativa. O filósofo Sócrates com sua metodologia, a

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Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

Maiêutica, é um filósofo educador. Platão, com a alegoria da caverna, sai das


sombras enquanto opinião e vai em busca da perfeição que fica no mundo das
ideias, ou seja, vai em busca da luz da razão. E não fica nisto, mas volta para
convencer outras pessoas fazendo de seu método um ato educativo. Aristóteles,
ao exemplo dos mestres Sócrates e Platão, também demonstra um grande
interesse pela educação quando escreve textos filosóficos a – República, Política
e Ética a Nicomaco. O que diferencia seu método de seu mestre Platão, é que ao
contrário do mundo idealista, Aristóteles aponta para o mundo real.

Maiêutica do grego significa tirar de dentro – parto. O método


socrático “consiste na multiplicação de perguntas, induzindo
o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na
conceituação geral de um objeto”. (HOUAISS, 2009).
Opinião vem do termo grego doxa. Em linhas gerais doxa é um
“sistema ou conjunto de juízos que uma sociedade elabora em um
determinado momento histórico supondo tratar-se de uma verdade
óbvia ou evidência natural, mas que para a filosofia não passa de
crença ingênua, a ser superada para a obtenção do verdadeiro
conhecimento”. (HOUAISS, 2009).

A Filosofia não só proporciona ferramentas para o autoconhecimento, mas


também, estabelece parâmetros de convivência com outrem, que costumamos
chamar de ethos. Este ethos é o que faz respeitar os limites de outrem, pois
através dele sabemos que para tudo há parâmetros, chegando no entanto, em uma
formação de convivência harmoniosa ou não, dependendo somente da consciência
de cada indivíduo de querer seguir as regras estabelecidas pelo grupo. Esta área
da Filosofia é tratada pela ética que abrange também conhecimentos políticos.

Ethos significa um conjunto de regras, normas e leis que busca


harmonizar a convivência humana.

Ainda dentro da Filosofia encontramos outras áreas de estudo. Dentro da lógica


é instrumentalizada a linguagem, o pensar correto e a busca de argumentos fortes
e verdadeiros. A lógica preocupa-se em dar sustentáculos para que argumentos
em uma fala, por exemplo, não se depare em desarmonia e contradição.
A estética também pertence a área da Filosofia, estando esta a dispor das
formas de perceber o mundo, sendo elas de interpretações artísticas, dando
ênfase ao belo, ao feio, o gosto, a arte, os estilos e as tendências.
A política também é um ramo de estudo da Filosofia, sendo que para os
gregos, os filósofos eram exatamente aqueles que estavam preocupados com os
problemas e o bem estar da polis.
Assim como as grandes áreas de estudos da Filosofia: Teoria do Conhecimento,

47
Metodologia do Ensino de Filosofia

ética, política, lógica e estética, houve outras áreas de interesses e estudos dentro
da Filosofia, que caminharam dentro de seu contexto que chamaram-se correntes
filosóficas. Estas possuem sua importância dentro do estudo filosófico, pois ajudam
a compreender o contexto histórico de cada momento vivido pela humanidade.

Na disciplina de Temas e Teorias de Filosofia você já estudou


sobre este assunto. Caso não recorde consulte novamente o material.

A Filosofia enquanto amor pelo saber se aplica na busca pela verdade,


embora não a possua. Na aplicação pelas causas primeiras, a Filosofia requer o
olhar socrático, em que o conhecimento será desvelado como que uma parturição.
Nesta visão o homem encontra-se na posição do que não possui saber e que há
sempre algo a ser aprendido.

A expressão parturição deriva de parto que significa tirada de


dentro, nascida, vir à luz, ser desvelada.

Para encontrar o saber filosófico, Sócrates, melhor que ninguém, nos mostra
qual o caminho: o da busca. É na procura que o homem se revela a si mesmo
como homem. Na busca o homem encontra a sua essência, o de buscador,
perguntador, questionador.
Colocando-nos na posição de quem não sabe tudo, concluímos que
necessitamos de outrem que possua conhecimentos para que os nossos se
amplie. Há sempre algo a ser aprendido e a verdade possui esta necessidade de
ser parturida, ela necessita vir à luz, de ser desvelada.
A verdade é o que nos liberta das sombras, segundo o filósofo Platão.
Conclui-se, então, que o alcance da verdade é a conclusão desta busca, é a
resposta para a nossa essência humana. Se não a encontramos, há uma grande
probabilidade de não nos conhecermos enquanto seres e, por consequência, não
nos conhecermos em nossa essência, tornarmo-nos seres metafísicos, o que nos
diferencia de todos os outros animais.
O que torna complexa esta busca pela verdade é a cultura pelo pensar
que encontramos nas classes escolares. Raciocinar é um problema difícil e
complicado, que faz parte de uma grande realidade atual educacional. Muito
além de construir conceitos, ser filósofo é ter amor, sede pelo saber, e procurar
respostas para as muitas perguntas lançadas no mundo, sendo que vivemos
uma realidade complexa, em que a informação e a tecnologia buscam o domínio
desta realidade e o profissional que não se adequar a mesma estará excluso do
mercado de trabalho.
A partir desta realidade, parece mais propício aos jovens apropriarem-se ao
mercado de trabalho. Realizam cursos técnicos ou profissionalizantes que melhor
correspondem ao seu perfil vocacional, tornando-se estes jovens especialistas de
áreas limitadas e restritas.
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Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

Pelo que vimos no primeiro capítulo, a educação esteve à deriva de um


pensamento reflexivo durante muito tempo, desde a colonização. Em alguns
momentos, existiu a disciplina de Filosofia, porém, na maioria do tempo histórico
educacional ela esteve ausente da formação.
As aulas de Filosofia são importantes para que os estudantes superem
suas ingenuidades, desmascarem a sua ignorância e enxerguem o mundo a
partir de outro prisma, tomando consciência do que existe a nossa volta, de
sua potencialidade em transformar a realidade, não apenas aceitando o que
nos é imposto.
Há uma característica forte nos alunos que é a de perguntar:
por que isso?, por que aquilo?, o que irei fazer com isso?. Este Há uma
é um ótimo momento para aproveitar e fazer uma reflexão filosófica característica forte
com eles, aproveitando de suas curiosidades e espantos. Pois, com nos alunos que
o passar do tempo, percebemos que esta curiosidade vai tornando-se é a de perguntar:
normal, esquecida, apagada e o que lhe causava dúvida, assombro e por que isso?,
espanto não lhe faz mais sentido em buscar o seu porquê, perdendo a por que aquilo?,
oportunidade de buscar o verdadeiro sentido da vida. o que irei fazer
com isso?. Este é
A busca por métodos apropriados para este resgate do ser um ótimo momento
enquanto ser, ainda é uma incógnita para muitos educadores. Não que para aproveitar e
não exista bons métodos, bons conteúdos ou ainda bons materiais fazer uma reflexão
didáticos, o que acontece ainda dentro da realidade do ensino filosófico filosófica com eles,
é que há grande preconceito no preparar os futuros docentes quanto aproveitando de
ao ensino da disciplina para jovens iniciantes, levando ao fato que os suas curiosidades
conteúdos práticos, didática e dinâmica ficam em segundo plano. e espantos.
A Filosofia é importante no currículo pelo próprio resgate da
dignidade de seres pensantes. É necessário um pensar correto, coerente, crítico
e criterioso, para que com habilidades de raciocínio bem desenvolvidas, possam
ser desenvolvidas outras habilidades em outras áreas de conhecimento.

Atividade de Estudos:

1) Pesquise em outras bibliografias sobre o que é Teoria do


Conhecimento.
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Metodologia do Ensino de Filosofia

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2) ‘Convivência com os outros’, ‘instrumentação da linguagem’,


‘percepção de mundo’, ‘preocupação com o bem comum’, são
questões relacionadas à que áreas da Filosofia, respectivamente?
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3) Cite o nome de algumas correntes filosóficas.


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4) O que é ser filósofo?


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Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

5) Por que as aulas de Filosofia são importantes?


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Filosofia - Filosofar: Ensinar


Filosofia ou Ensinar a Filosofar
É perceptível no acompanhamento da história da Filosofia no Brasil o
enfoque das condições e possibilidades do ensino. Sendo que, a questão de seu
ensino, passa a ser vista como um problema filosófico, assim como político, e não
somente, como uma questão pedagógica.
Esta problemática destaca as análises da atividade filosófica, também
aviventando o antigo problema da função educativa, agora, sobre a responsabilidade
do campo da Filosofia: o da produção e a reprodução dos saberes e
práticas. A responsabilidade
da Filosofia: o
Aparecem como pano de fundo, dois âmbitos distintos como da produção e a
locais de produção e reprodução de Filosofia. Em primeira instância, reprodução dos
aparece o local em que se produziria a Filosofia, que no caso são saberes e práticas.
as universidades. A Filosofia, assim como outro campo de pesquisa,

51
Metodologia do Ensino de Filosofia

pertence aos cientistas iniciados da área, restringindo o seu estudo a outros


âmbitos sociais. Por outro lado, surge o local de reprodução de onde aparece
ainda, a universidade como produtora e reprodutora de conhecimento filosófico.
Após ela, encontramos outras instituições de formação de docentes e as escolas.
Esta prática separatista de ambientes de produção e reprodução filosófica
acaba sendo excludente, assegurando que de um lado mais forte e robusto fiquem
os filósofos e pesquisadores da área, e de outro não tão forte, ou considerado
pelo primeiro grupo inexistente, mas que começa a ganhar o seu espaço, que
são os aprendizes de Filosofia, ou seja, os estudantes da disciplina. Esclarecendo
um pouco melhor, há um preconceito escancarado da parte dos entendidos da
área de Filosofia, sendo que estes não aceitam que crianças, adolescentes e
jovens sejam capazes de pensarem por si só. Mesmo que estes consigam formar
argumentos consistentes, os filósofos acadêmicos não reconhecem a prática
como válida dentro do campo filosófico.
Perante esta realidade, destacam-se também três questões problemáticas
relacionadas ao ensinar Filosofia, que são:
• Uma delimitação de um campo teórico e textual: Filosofia propriamente dita.
• Reconhecimento de uma atividade prática: o filosofar.
• A possibilidade da introdução de outros, que não iniciados neste campo teórico
e textual e de introduzi-los nesta prática: o ensinar Filosofia e a filosofar.

Referindo-se ao terceiro item, ensinar Filosofia e a filosofar é o que


Ensinar Filosofia e defendemos como proposta filosófico-pedagógica; e, é o que mais tem
a filosofar é o que assustado os professores de Filosofia, por não terem o conhecimento
defendemos como
de onde partirem com seus educandos. Que conteúdos aplicar? Qual
proposta filosófico-
a metodologia a ser tomada? O que responder quando chegarem as
pedagógica.
perguntas: o que é Filosofia, professor? Para que serve esta disciplina?
Qual a ocupação e utilidade dos filósofos?
Temos certeza de que todo professor com o passar do tempo se habitua a
estas perguntas e formula o seu próprio material didático e sua metodologia, até
por não haver muitas opções conhecidas pelos mesmos, o que acaba gerando
milhares de formas e métodos dentro de uma mesma rede de ensino. Isto não é
muito positivo para a educação, pois, como iremos falar de interdisciplinaridade,
conteúdos que são pares às diversas disciplinas, se não possuímos uma mesma
linguagem dentro de uma única disciplina?
Estamos nos referindo a um fio condutor que organize um norte ao plano
de ensino do educador, que permita ao educando, quando saindo de uma escola
de uma rede educacional e, migrando para outra escola da mesma rede, tenha
a capacidade de dar continuidade aos seus estudos sem prejuízo algum nas
disciplinas estudadas. Este fio condutor é um programa seguido pelos professores
como traços gerais, e os planejamentos fossem criados a partir deste programa,
permitindo aos educadores se adaptarem às regras e realidade de sua escola.
Qualquer que seja a disciplina, quando perguntado ao professor qual o seu
campo de pesquisa, sem hesitar, qualquer que seja a área, compõe a sua resposta.
Já na disciplina de Filosofia é notável um malabarismo para tentar chegar a uma

52
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

resposta precisa e transparente, porém, a impressão é que sempre fica faltando


algo. Não é de se estranhar tal atitude, pois as formas de apresentar a disciplina
de Filosofia são varáveis. Alguns preferem apresentar de forma particular, outros
recorrem às definições dadas por filósofos no decorrer da história, formando um
repertório de definições. Há professores que preferem destacar as atividades
possíveis através dela, tentando justificar a sua utilidade enquanto disciplina. Não
há sombra de dúvida de que a Filosofia é importante na educação; porém, há uma
diferenciação entre, importância e utilidade, até porque, a utilidade moderna se
refere a termos práticos.
A metodologia baseada na transmissão da história da Filosofia e o pensamento
dos filósofos, sem construir algo a partir desta, acaba sendo ineficiente. O dever
da educação é fazer com que o educando seja questionador, curioso e que
procure sanar suas dúvidas, tornando-se um pesquisador autônomo, dono de
suas respostas; mas, que dialogue com seus colegas e professor, em posição
horizontal, sendo um bom ouvinte, para que, junto com seus companheiros de
aprendizagem, possa construir o conhecimento.
Para alcançarmos melhor o enfoque do tema proposto, que é aproximar-se
da Filosofia e do filosofar, precisamos ainda ter presentes outras questões que
nos ajudem a compreender a realidade, ligando-as à Filosofia.
Há uma preocupação entre os professores que seguem o método tradicionalista
de transmissão dos conhecimentos filosóficos de forma eficiente. Para estes
é necessário ter o domínio sobre o saber. Lembrando que esta é uma forma de
compreender a Filosofia, não sendo esta a única e nem a mais válida ou ‘verdadeira’.
Outra metodologia é a de questionar a possibilidade de que no ensino de Filosofia,
em qualquer nível, tenha algo próprio ao filosófico, que possa fazer uma ligação
entre o iniciante e o filósofo experiente. A questão, então, passa a ser: sem importar
a quantia de conhecimento, em que medida poderia ser um pouco filósofo?
Encontramos, então, graus de definições, em se tratando de conhecimento
filosófico, em que um método considera a quantidade de conteúdos conhecidos
e outro a qualidade de construção de conhecimentos. No segundo método, é
permitido que seja possível aprender a filosofar desde a primeira infância, podendo
as crianças em sua aprendizagem posicionar-se com perguntas filosóficas, e até
mesmo tentar respondê-las. Com certeza, encontraríamos um grau de diferença,
ao comparar um estudante iniciante de Filosofia ao filósofo experiente enquanto
especialista. Porém, os questionamentos da criança, não são menos filosóficos
que os questionamentos do especialista.
Esta metodologia requer uma atitude questionadora, crítica, criativa,
radical e de conjunto, que não permita deixar passar nada sem ser percebido,
que problematize o que aos olhos leigos pareça óbvio ou natural. Aliás, nossa
sociedade atual é campeã em transformar problemas sociais em algo muito
normal. O prof. Dr. Roberto Crema chama isto de Normose.

Normose: doença da normalidade. Tudo é normal, o estupro, a


morte, a violência, o tráfico, a prostituição, e nada se questiona, pois
é normal.

53
Metodologia do Ensino de Filosofia

Diante do aprender filosofar existe a subjetividade, ou seja, os valores e


características próprias de cada um. Esta característica é pessoal e irredutível,
o que faz com que cada um tenha o seu olhar pessoal sobre o mundo, suas
vontades e desejos. Falamos sobre isto para dizer que é possível demonstrar que
outras pessoas amaram a sabedoria, mas não conseguimos ensinar como amar
a sabedoria, justamente por causa da subjetividade. A Filosofia tornar-se-á objeto
da relação amorosa pelo saber na medida em que haja o interesse do sujeito
neste sentido.
Qualquer pessoa pode filosofar o que não garante que qualquer pessoa
queira filosofar. Entra neste momento o papel do professor, de fazer com que o
estudante desperte seu interesse pelo conhecimento filosófico e de demonstrar
aos educandos o porquê do filosofar.
Uma boa explicação é a construção de bons argumentos e com bom senso.
Até mesmo a Bíblia Sagrada, em várias passagens de sua escrita, menciona o
poder do homem sensato. Sensatez faz com que o homem construa a sua casa na
rocha. Ensinar a filosofar é ensinar a desenvolver o pensamento, desenvolver bons
argumentos a ser um homem sensato, que constrói seus valores e princípios sólidos
na rocha. Então, por que filosofar? A resposta seria: porque é possível fazê-lo.
Aristóteles afirmara, no século V antes de Cristo, que o homem é
Filosofar requer um animal social, e todos os homens por natureza desejam o saber.
uma decisão: a de Cabe ao educador, professor de Filosofia, estimular a levar adiante este
querer atrever-se a desafio, fazer despertar este desejo. Filosofar requer uma decisão: a de
pensar por si só. querer atrever-se a pensar por si só.
Mais que realizar uma aula de Filosofia, o melhor seria construir
uma aula filosófica, fixada em olhares subjetivos, questionadores e
problematizadores sobre o mundo. A isto chamamos de educação reflexiva, em que
há um respeito pelo pensar do outro, que tão importante quanto falar sobre o assunto
é saber escutar o que o outro pensa e tem a dizer a respeito do assunto. Que a aula
reflexiva não seja local de respostas prontas a perguntas que não contemplam o
interesse dos educandos.

É Possível Ensinar a Filosofia? e, se


Possível, Como?

É necessário fazer a pergunta: que Filosofia se quer ensinar? Supõe-se,
portanto, uma determinada concepção de Filosofia a ser ensinada. Há várias
afirmações para definir o que é Filosofia na tradição filosófica. Esta nos mostra
que não há uma única resposta possível à questão, e que, ao longo dos séculos,
a filosofia foi concebida de diferentes maneiras, dando origem a várias tradições.
Segundo uma, das muitas tradições que relatam o surgimento da Filosofia,
Pitágoras teria respondido a Léon, tirano de Fliús, quando interrogado sobre, afinal
quem era, Pitágoras afirmou: “Sou um filósofo”. É interessante notar aí, que o termo
filósofo surge antes mesmo da palavra Filosofia, o que pode reforçar a ideia de
alguns pensadores que afirmam não existir Filosofia, e sim, filósofos. Diferenciando
o filósofo do sábio sophos, Pitágoras apresenta-se de forma humilde e modesta,
54
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

não se considerando um iluminado, mas sim, aquele que está em busca do saber, o
que tem a consciência de ainda não o ter encontrado, de não possuí-lo. A Filosofia,
então, define-se deste modo, mais por busca do que pela posse do saber.
Esta primeira concepção destacada consiste, portanto, em ser a Filosofia a
busca e não o saber pronto e acabado; uma atitude indagadora e não a posse da
verdade ou do conhecimento. O buscar nos transforma, faz-nos mudar de atitude
em relação ao que sempre fomos. Revela nossas insatisfações e nos impulsiona
a atingir uma nova visão das coisas. O método da busca talvez seja interminável,
mas nela está o que nos torna filósofos.
Partindo desta afirmação da busca e do conhecimento como algo
não acabado, não é possível ensinar Filosofia, mas se pode ensinar a Partindo da busca
e do conhecimento
filosofar, no sentido de motivar e impulsionar para busca.
como algo não
Certamente o filósofo Sócrates é herdeiro dessa tradição que acabado, não é
remontaria a Pitágoras, sendo que o seu pensamento, tal como o possível ensinar
conhecemos pelos assim chamados “diálogos socráticos” de Platão, Filosofia, mas se
reafirma o caráter prático do filosofar, como mudança de atitude. pode ensinar
Filosofar consiste em romper com a atitude comum, o domínio a filosofar.
da opinião e das crenças recebidas, em que através dos hábitos
nos aferramos a uma visão das coisas, por apenas ouvir falar, que
incorporamos muitas vezes sem nos darmos conta disso. É nisso que consiste
o domínio do preconceito, da visão pré-concebida, irrefletida. Este é o berço da
Apologia de Sócrates, segundo o qual “a vida não examinada não vale a pena
ser vivida” (SÓCRATES, apud MARINOFF, 2008, p. 391). Essa atitude deve dar
lugar ao espírito crítico; quando interrogamos nossas crenças e valores, quando
interpelamos o que nos é transmitido como verdadeiro. A atitude refletida e
questionadora é a garantia de que estamos na busca do saber, no caminho para o
qual apontava Pitágoras.
Sócrates nos ensina que o que mais importa é a virtude: Arete. Esta não
pode ser ensinada, porque deve ser descoberta a partir de cada um. O papel do
filósofo é o de despertar em cada um, aquilo que já traz dentro de si, o ímpeto,
a curiosidade, a capacidade que permitirá com que empreenda ele próprio, essa
busca. A Filosofia consiste em um processo de reflexão que nos leva a buscar as
respostas às indagações que encontramos em nossas experiências próprias.

Arete: A palavra arete (h(a)reth/, h=j) desígna o mérito ou


qualidade pelo qual algo ou alguém se mostra excelente.

Em contraste com esta concepção, temos outra de caráter mais histórico em


que a Filosofia consiste na tradição filosófica, sendo que é esta tradição que deve
ser ensinada. O caminho para o ensino da Filosofia aqui, é a leitura e interpretação
das obras dos filósofos mais importantes e mais influentes, que contribuíram para
a formação da tradição do conhecimento filosófico.
O conhecimento filosófico perpassa o conhecimento da tradição, sendo que
o primeiro não pode ser independente do segundo, pois é através da tradição que

55
Metodologia do Ensino de Filosofia

se entra em contato com os problemas filosóficos, e a forma como os filósofos


mais influentes tratam tais problemas. Existe, portanto, um saber a ser adquirido,
consistindo nas principais teorias e nos grandes sistemas da tradição, desde o
seu surgimento na Grécia Antiga até o pensamento contemporâneo.
A história da Filosofia nos revela, contudo, que ao longo dessa tradição não
houve uma única linha de pensamento que predominou, nem mesmo um único
estilo de fazer Filosofia. Seu desenvolvimento deu-se através de aproximações
em maior ou menor grau com a ciência natural, a matemática, a arte, a política,
a religião e o mito, expressando-se o pensamento filosófico em diferentes estilos,
nos poemas, diálogos, aforismos, tratados, cartas, autobiografias.
Mesmo com o reconhecimento do valor e a importância da contribuição à
Filosofia dos pensadores que são incluídos na tradição, é difícil identificar o traço
comum entre pensadores do mesmo período, o final da antiguidade, como por
exemplo, entre o piedoso Boécio e o crítico Sexto Empírico. Há pensadores, que
se encontram no limite entre a filosofia e a literatura ou a retórica, como Cícero,
ou entre a Filosofia a ciência, como Euclides. Seria talvez, inútil tentar encontrar
traços comuns entre os filósofos que a tradição incorporou. Essa tradição se
formou de modo menos linear e mais descontinuo do que quis Hegel em suas
lições de História da Filosofia. O que a história da Filosofia e o exame da tradição
filosófica parecem nos ensinar é que, se primeiro dizíamos que antes de haver
Filosofia há filósofos, agora devemos dizer que não há Filosofia, mas filosofias, ou
seja, que a Filosofia é plural.
Não há um critério teórico, independente das próprias doutrinas filosóficas,
que permita escolher entre elas. Desde a antiguidade encontramos várias
doutrinas e concorrentes, que se excluem mutuamente e se proclamam como a
verdadeira Filosofia. O Ceticismo antigo combatendo o dogmatismo, a academia
de Platão, o Liceu de Aristóteles, o Estoicismo, o Epicurismo, etc. Portanto, já na
Filosofia antiga não se encontra uma única Filosofia.
Podemos supor, então, que essas duas concepções, a Filosofia como busca
ou como estudos da tradição filosófica não necessariamente se excluem, mas
podem, ambas, trazerem elementos valiosos para o ensino da Filosofia.
A história da Filosofia pode contribuir para despertar o interesse por questões
filosóficas através do contato com as obras dos grandes pensadores que primeiro
as formularam. Seu modo de tratá-las pode servir de inspiração e motivação para
nossa busca, mesmo que criticamente. Deve ser vista como contribuição dos
grandes filósofos ao introduzirem questões que, até hoje, nos motivam a pensar,
e como indicação dos vários modos como essas questões foram tratadas. Pode
ser vista ainda como inclusão do intenso debate entre os vários filósofos e as
várias correntes de pensamento, as críticas, rupturas, controvérsias, polêmicas
que já se encontram desde o início da Filosofia, como a crítica de Parmênides
aos mobilistas, de Platão aos sofistas e de Aristóteles aos platônicos. A tradição
filosófica é uma história de grandes polêmicas, mais do que da formação
progressiva de um saber ou da constituição de uma doutrina.
Nem todas as questões da tradição permanecem atuais. Por outro lado, os
problemas que levaram Platão, Aristóteles e os estoicos à formulação de seus

56
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

conceitos, como a necessidade de um princípio para a ética ou a necessidade de


explicarmos o movimento e a mudança, são problemas que ainda nos preocupam.
A consideração da historia da Filosofia não nos revela o
progresso de um saber, nem a expansão de um conhecimento. Não Não são as
é linear, nem cumulativa, mas, antes, os problemas são recorrentes, respostas dos
incessantemente retomados. Assim, não são as respostas dos filósofos, filósofos, mas suas
mas suas perguntas, que nos motivam. É através dessas perguntas perguntas, que
que encontramos o seu ensinamento, desde que possamos retomá-las nos motivam.
e reformulá-las como nossas. Para que a teoria da tradição se torne
relevante, para que reviva e tenha seu interesse despertado, há a
necessidade de um leitor interessado, um leitor que torne suas aquelas
questões, retome-as e as leve adiante em um novo contexto.
A história da Filosofia deve ser vista, assim, como história dos conceitos que
inicialmente formulados por filósofos acabaram por ir além do âmbito da discussão
filosófica e se incorporaram à nossa forma de pensar, à nossa visão de mundo.
Deve ser vista também, como a história dos argumentos filosóficos, ou seja, do
modo como os filósofos procuraram justificar uma determinada concepção, ou
defender racionalmente uma determinada posição. Podemos concluir, assim, que
as duas metodologias não se excluem e ainda podem servir de ponto de partida
para o ensino da Filosofia.

a) Para que Ensinar Filosofia?

A questão da possibilidade do ensino da Filosofia supõe agora, uma nova


questão, sobre o objetivo desse ensino. Para que queremos ensinar Filosofia,
para que alguém deve aprender Filosofia?

As escolas de Filosofia na Grécia Antiga distinguiam entre as doutrinas


esotéricas e as exotéricas. Em outras palavras, é o que podemos hoje, chamar de
leigos e iniciados. Os iniciados estavam inclusos no ensinamento esotérico que
era voltado para o público interno das escolas, para aqueles que visavam a tornar-
se filósofos e pertencer à escola, discípulos da doutrina ensinada. Era necessária
uma dedicação maior e mais aprofundamento no estudo de textos e uma maior
preparação na arte de argumentar. Os leigos estavam inseridos no ensinamento
exotérico. Ao contrário do primeiro, este era voltado para o grande público. Tinha
por objetivo atestar a popularidade da Filosofia na Grécia. Quando a doutrina
tratava de filósofos famosos era grande a procura por suas lições. Possuía uma
linguagem mais acessível, com um estilo mais retórico, dando ênfase à questões
de interesse mais geral.

Embora com finalidades diferentes, ambos igualmente importantes, o


ensinamento esotérico era essencial para o desenvolvimento da Filosofia e para a
formação das futuras gerações de filósofos, mas sem os ensinamentos exotéricos
a Filosofia ficaria restrita, não atingiria o público em geral, não mostraria sua
relevância, não ampliaria sua discussão e até mesmo poderia deixar de atrair
novos discípulos e novas vocações filosóficas.

Comprova-se desta forma que a Filosofia não precisa ser necessariamente

57
Metodologia do Ensino de Filosofia

um discurso hermético (fechado), embora o estudo de textos clássicos da Filosofia


pressuponha certamente um conhecimento altamente especializado, e com
frequência a linguagem dos filósofos contenha termos técnicos, com conceitos
que os mesmos formularam e utilizaram. É possível fazer com que a discussão
filosófica seja acessível e que todo aquele que tiver interesse possa se sentir
capaz de filosofar, na medida em que a Filosofia diga respeito às questões que
interessam a todos, desde a ética até as formas de argumentação e os problemas
do conhecimento e da ciência.
As questões dos filósofos não estão necessariamente, distantes das pessoas
comuns, que não possuem qualquer conhecimento filosófico, mas dizem respeito
à preocupações que todos compartilhamos, por exemplo, sobre que decisão
tomar ou como justificar uma crença ou uma escolha.
Hoje, já não falamos mais em doutrinas esotéricas ou exotéricas, mas
podemos distinguir, em linhas gerais, entre o ensino da Filosofia que visa ao
formar o professor ou o pesquisador e o voltado para estudantes ou profissionais
de outras áreas que terão apenas um contato inicial com a Filosofia. No primeiro
caso, o do estudante de Filosofia, há um papel formativo, levando-o a desenvolver
suas próprias reflexões com base no conhecimento dos filósofos da tradição,
de seus textos, de seus argumentos. Este estudante deve ser capaz sempre de
buscar as suas próprias questões, mas sua reflexão se desenvolverá na medida
em que puder aperfeiçoar um método de leitura dos textos dos filósofos, de
interpretar e reconstruir seus argumentos.
Com o intuito de mostrar a relevância e a influência de teorias e de conceitos
filosóficos em nossa tradição, para além das próprias teorias filosóficas, no
segundo caso, a Filosofia tem um papel mais geral em um sentido cultural, fazendo
assim, com que o estudante entenda melhor essa tradição, sua formação, seus
desdobramentos, suas crises. Por fim, pode ter um papel de aprofundamento, para
quem atua em outras áreas para as quais o conhecimento de teorias filosóficas
pode trazer uma contribuição específica. Pode ocorrer, sobretudo, áreas como
Filosofia da Ciência, Filosofia da Arte, Filosofia da Linguagem, Filosofia Política
em que a reflexão filosófica sobre essas determinadas áreas contribui para a
discussão metodológica e epistemológica daqueles que atuam nelas.
Como vimos, a preparação do filósofo, de certa forma, demanda menos,
porque já parte de uma motivação inicial pela Filosofia e o que se requer é que ele
possa desenvolver suas indagações filosóficas por um lado e conhecer
os elementos mais importantes da tradição por outro, e que cada
O grande desafio aspecto de sua formação possa alimentar o outro um ao outro.
para o ensino da
Filosofia consiste O grande desafio para o ensino da Filosofia consiste na motivação
na motivação daquele que ainda não possui qualquer conhecimento do pensamento
daquele que ainda filosófico, ou sequer sabe para que serve a Filosofia, a desenvolver o
não possui qualquer interesse por este pensamento a compreender sua relevância e a vir a
conhecimento elaborar suas próprias questões.
do pensamento
filosófico. Profissionais de outras áreas e estudantes já maduros não terão
maiores dificuldades neste sentido, se o curso for adaptado às suas

58
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

necessidades e aos seus interesses. O caso mais especial e que demanda maior
atenção e cuidado do professor é o ensino da Filosofia em níveis iniciais, para
estudantes da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e Médio.
Deve-se então, partir da realidade deste estudante, de seu contexto, de sua
experiência de vida, de suas inquietações. É necessária uma maior sensibilidade
aos seus dilemas e interesses. Por isso, há a defesa de um trabalho com material
didático que possua um fio condutor adaptado à realidade do estudante, como
também, à sua faixa etária, que respeite a formação de sua idade cognitiva.
Os textos dos filósofos da tradição, os conceitos que formularam e os argumentos
que desenvolveram podem fornecer os pontos de partida e os instrumentos através
dos quais essa reflexão se desenvolva, tanto para os que pretendem dedicar-se a
Filosofia, como para os estudantes de outras áreas de conhecimento.
A reflexão crítica se elabora a partir das questões de cada um, sendo elas
existenciais, profissionais, científicas ou teóricas. Não sendo a reflexão crítica
espontânea, devemos através dos métodos e argumentos que a tradição filosófica
nos legou, de alguma maneira, convertê-la em nossa.

b) Que Metodologia Utilizar no Ensino da Filosofia?


Quanto à escolha do método a ser adotado, depende da arbitrariedade de
quem o organiza, do contexto em que está situado, dos filósofos que, por algum
motivo se tornaram mais acessíveis a nós e as várias circunstâncias, pelas quais,
entramos em contato. Esta colocação nos remete à outra questão: como ensinar
a Filosofia? De que meios, instrumentos ou materiais dispomos para isso?
Já que a reflexão crítica não é espontânea, e sim, provocada
por contato com a Filosofia; e, se o nosso objetivo último é chegar Nosso filosofar se
em níveis mais ou menos elaborados, então, nosso filosofar se tornará possível
tornará possível a partir de uma interação direta com os textos mais a partir de uma
interação direta
significativos da tradição filosófica. Nesta concepção o instrumento
com os textos mais
fundamental deve ser, ao menos de início, a leitura e interpretação dos
significativos da
textos mais relevantes para o interesse do estudante.
tradição filosófica.
A escolha dos textos deve ser feita em função de sua capacidade
de cumprir o papel de introduzir no processo, tanto por seu caráter
representativo da reflexão filosófica, quanto por sua afinidade com os interesses
do leitor. O desenvolvimento da reflexão de cada um se fará pela maneira, mais ou
menos criativa, mais ou menos aprofundada, levando em conta as possibilidades
e as necessidades, pelas quais cada um se apropria do pensamento filosófico.
Os métodos de leitura e interpretação de textos podem ser variáveis, o
importante é que sejam escolhidos em função do papel que podem exercer e que
venham a transformar-se em instrumentos de desenvolvimento da reflexão de
cada um, seja o texto estrutural, hermenêutico, histórico ou analítico.

A leitura reconstrói o argumento que interroga o próprio texto, identifica suas


questões básicas, revela como tece seus argumentos e o avalia quanto à sua
59
Metodologia do Ensino de Filosofia

capacidade de nos convencer ou não. Mesmo nos níveis mais introdutórios, a


leitura de textos é indispensável.

No texto “Crítica do Juízo” Kant (1993), define o pensamento crítico de acordo


com os seguintes princípios fundamentais:
• Pensar por si mesmo; a garantia da autonomia do pensamento.
• Pensar do ponto de vista do outro; significando o pensamento alargado, capaz
de ultrapassar os limites do estritamente subjetivo.
• Pensar de forma consistente; o princípio, segundo o autor, da própria razão,
resultando da combinação dos dois primeiros.

A capacidade de reflexão, de autoexame, de consciência de limites e


possibilidade de pensar alternativas, é o que caracteriza o pensamento crítico,
evitando o dogmatismo e a crença de que em algum momento podemos ter a
palavra final sobre qualquer questão.

A Filosofia grega nos revela características fundamentais do filosofar: o


debate, a discussão, a polêmica, a argumentação. Presenciamos um momento
desde a modernidade, um período de valorização do pensamento autoral,
principalmente na produção de textos, garantindo o exercício da criatividade e
criação do pensamento próprio. Além disso, isso permite que este seja visto como
provisório, permaneça sempre em aberto para se autoformular. Para isso, os
caminhos da instância do diálogo, do debate e da crítica são indispensáveis.

Concluímos que a Filosofia não se encerra em si mesma, mas é levada a se


autorreformular com base nos questionamentos que sofre. Portanto, um aspecto
essencial do ensino da Filosofia consiste na interação, no debate filosófico, no
questionamento do pensamento e na necessidade de defendê-lo, o que leva
inevitavelmente à sua reformulação.

A partir desta ideia garantimos a não cristalização dos pensamentos, pois


esta movimentação da atitude filosófica, leitura e discussão dos textos filosóficos
garante que os filósofos convivam conosco e os torna vivos entre e para nós.

Atividade de Estudos:

1) Diferencie o método tradicionalista de ensino de Filosofia e o


método reflexivo de ensino.
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Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

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2) Qual é o papel do professor de Filosofia?


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3) Como fazer para despertar a motivação dos estudantes iniciantes


para a Filosofia?
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4) Como seria uma educação reflexiva, no contexto do ensino de


Filosofia?
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61
Metodologia do Ensino de Filosofia

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5) Explique e relacione com o ensino de Filosofia a afirmação “A


Filosofia é a busca do saber”.
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A seguir, apresentamos uma reportagem do Jornal Corujinha


sobre uma das experiências de ensino de Filosofia com música.
Acompanhe!!!

PRÁTICAS FILOSÓFICAS EXTRA-ACADÊMICAS: MÚSICA E


FILOSOFIA

Ao realizar um trabalho em parceira com o Centro de Filosofia
Educação para o Pensar, a Professora Mestre em Educação Musical
pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Vanilda Lídia
Ferreira de Macedo Godoy, em entrevista ao Jornal Corujinha, faz
um link entre Música e Filosofia.
Segundo esta educadora a música é estudada por áreas como
a Filosofia, a psicologia e a antropologia, entre outras que, além de
estudarem a música em si, estudam também a sua influência sobre
o ser humano e a sociedade, o que nos faz perceber a sua ampla
importância.

62
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

A música pode estar presente transversalmente nas diversas


disciplinas, auxiliando na aprendizagem de conceitos, ilustrando
ideias, dinamizando as aulas, divertindo, ampliando o contato com a
arte – estando qualquer pessoa habilitada para isso. O importante é
que a atividade musical não fique limitada a uma única função. Quando
a música é ensinada como disciplina autônoma – já que possui suas
especificidades teóricas e práticas – a sugestão é que atue um
profissional com formação específica (licenciatura em música).
O Centro de Filosofia Educar para o Para o Pensar, dentro de
sua proposta de Sistema de Ensino Reflexivo considera a música
como algo amplo. A música é entendida aqui como algo inerente ao
ser humano, é uma disciplina possuidora de conhecimentos próprios
capaz de sensibilizar e humanizar outras atividades dentro e fora da
sala de aula.
Dentro da proposta de inserir a música no ensino de Filosofia,
o Centro de Filosofia Educar para o Para o Pensar produziu material
pedagógico específico, denominado Song book “Cantar é filosofar”,
organizado a partir de um concurso que envolveu professores e
alunos em situações de sala de aula.
A professora Vanilda faz o seu relato: “como educadora musical,
acredito que todos são capazes de vivenciar a música nas suas
diversas dimensões (ouvir, tocar, compor...) e que é necessário dar
a oportunidade às pessoas para tal vivência. A escola é, assim,
um local privilegiado para a socialização do acesso à música. A
experiência proporcionada pelo Centro de Filosofia Educação para o
Pensar foi muito importante para a valorização da música, tendo em
vista que ainda há muito que se fazer para a presença consistente da
música nas escolas”.

Fonte: Extraído do Jornal Corujinha, Entrevista, n. 62,


Terceiro Trimestre, Florianópolis, 2008. p. 11.

Atividade de Estudos:

1) Segundo a Profª Ms. Vanilda, que interesse a música desperta em


áreas como a Filosofia, Psicologia, Antropologia, etc.?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

2) É necessário ser habilitado em música para poder trabalhar com


seus temas e conceitos?
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3) Como o Centro de Filosofia Educação para o Pensar compreende


a música?
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4) Qual a finalidade do Centro de Filosofia estar abordando a música


em sua prática filosófico-pedagógica?
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5) Quem pode fazer música conforme o pensamento da professora


entrevistada?
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Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

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Alguns Sites com Conteúdos


Filosóficos
Um dos grandes aliados dos professores de Filosofia, tanto do Ensino
Fundamental quanto do Ensino Médio, é a internet, pois é através dela que
conseguimos obter informações para as aulas e para a formação pessoal e
profissional. Em seguida, apresentamos alguns sites que servem de apoio e
pesquisa na área da Filosofia.
• Centro de Filosofia Educação para o Pensar
www.portalser.net
Este portal tem o objetivo de reunir e compartilhar conteúdo digital referente
à Filosofia, notícias e informações, eventos, projetos e sites relacionados.
• A Associação de Professores de Filosofia (APF)
www.filonet.pro.br
É uma associação de professores ligados ao ensino da Filosofia, sediada em
Coimbra e de âmbito nacional, com personalidade jurídica e sem fins lucrativos.
Fundada em Dezembro de 1987, promove iniciativas de caráter diverso,
prestando apoio aos seus sócios através de Encontros de caráter científico, Ações
de Formação e outras realizações.
• Filosofia e Ideias
www.geocities.com/Athens/4539/
Site bastante acessível ao público leigo. Comenta alguns autores pontuais
da História da Filosofia, prestando-lhes justa homenagem.
• Arte de Pensar
www.didacticaeditora.pt/arte_de_pensar/index.html
Revista portuguesa dedicada ao ensino de Filosofia. Com dezenas de
textos, resenhas e artigos temáticos em Filosofia; é boa fonte para iniciantes e
professores. Apresenta na seção Filósofos de Hoje um belo quadro, praticamente

65
Metodologia do Ensino de Filosofia

todo composto, pelos maiores pensadores analíticos da Filosofia Contemporânea.


Com responsável quadro de editores da Sociedade Portuguesa de Filosofia é um
local seguro para se encontrar textos filosóficos.

• Sobre Sites
www.sobresites.com/filosofia/revistas.htm
Este site apresenta uma gama bastante completa de informações sobre
vários assuntos e temas de pesquisa na área da Filosofia, tais como: Filósofos,
História da Filosofia, Lógica, Ética, Estética, Epistemologia, Filosofia Política,
Filosofia da Religião, Filosofia da História, Revistas e Jornais.

• Centro Brasileiro de Filosofia para crianças


www.cbfc.org.br/
O Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças (CBFC) é uma instituição
sem fins lucrativo, de caráter científico e cultual. O CBFC apresenta um novo
paradigma educacional centrado no diálogo em Comunidade de Investigação e
na autonomia.

• Crítica na Rede
www.criticanarede.com/ensino.html
Esta secção não inclui materiais introdutórios, mas antes materiais sobre
o ensino da Filosofia e sobre o ensino em geral. Estes materiais dirigem-se a
professores.

• D.E.F Dicionário escolar de Filosofia


www.defnarede.com/
Esta é a versão online e gratuita do Dicionário Escolar de Filosofia, publicado
em Lisboa em 2003 na Plátano Editora. Este é um dicionário escolar por ter,
sobretudo em conta, os estudantes do ensino secundário português (alunos entre
15 e 16 anos). Não apenas pela linguagem acessível e direta, mas também,
pela seleção de conteúdos, este dicionário serve aos adolescentes que estudam
Filosofia pela primeira vez.

• Fundação Sidónio Muralha e Instituto de Filosofia e Educação para o Pensar


www.philosletera.org.br/praticas.htm
O Instituto de Filosofia (IFEP) e a Fundação Sidónio Muralha são instituições
parceiras que atuam na formação continuada de educadores para trabalhar
com Filosofia e Literatura na Educação, especialmente na Educação Infantil e
Ensino Fundamental.

Avaliação: como Avaliar em Filosofia?


Avaliar o educando, justa e corretamente, é para o professor uma das tarefas
mais delicadas de sua profissão. Fazer uma avaliação objetiva parece na maioria
das vezes ser impossível, sem que esbarremos em elementos subjetivos.
66
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

A avaliação objetiva depende de alguns critérios:


• Saber que métodos e conteúdos foram escolhidos pelo professor nas suas
aulas.
• Saber o que quer realmente ensinar.
• Saber como está querendo fazer isso – avaliar a avaliação.
Caso sua avaliação leve em consideração a repetição de fórmulas, frases,
datas, fatos, então sua avaliação é automática, porém distante de ser objetiva.
Isto pode ocorrer em qualquer disciplina e o descuido metodológico pode deixar o
estudante fadado à não aprendizagem.
A subjetividade da avaliação pode iniciar a partir da escolha dos
conteúdos, das competências e habilidades a serem trabalhadas ou A subjetividade
na importância que lhes é atribuída na prática. da avaliação pode
iniciar a partir
Exemplificando, o professor de Química até pode pedir ao da escolha dos
estudante que saiba as fórmulas da tabela periódica, caso o objetivo conteúdos, das
treinar a memória como competência relevante a desenvolver. competências e
habilidades a serem
trabalhadas ou na
a) Avaliar o Quê? importância que lhes
é atribuída
Antes mesmo de estabelecer quaisquer critérios, escolher as na prática.
atividades e os instrumentos de avaliação a utilizar, o professor deve
perguntar - O que deve ser avaliado em Filosofia?
Com esta pergunta, partimos do princípio de que há conteúdos que não
compete ao professor de Filosofia avaliar. Cada disciplina possui conteúdos
próprios, o que compete ao Professor de matemática não é o mesmo que compete
ao professor de Filosofia ou ao professor de português. Portanto, os conteúdos
próprios visam a objetivos diferentes e supõem competências e habilidades
diferentes. Cada disciplina contribui com seus aspectos para a formação integral
do ser humano, o que leva a compreender e justificar a presença de cada uma
das disciplinas presentes na grade curricular.
Justifica-se que os estudantes aprendam filosofia na medida em que haja
objetivos, conteúdos, competências e habilidades que não sejam alcançadas em
qualquer outra disciplina.
A resposta para a pergunta inicial sobre o que deve ser avaliado em Filosofia,
deve estar baseada nas habilidades e competências básicas. Neste princípio
é necessário distinguir e separar as habilidades e competências filosóficas das
não filosóficas e iniciar pelas mais relevantes. Identificado tais habilidades e
competências, será possível selecionar as atividades e instrumentos de avaliação.
Como destacar o que é mais relevante? Podemos iniciar por conceitos do tipo ‘o que
é a Filosofia?’ mesmo sabendo que as respostas não são nem um pouco unânimes.
A Filosofia é uma atividade antes de qualquer coisa crítica e racional, que busca por
apoio da intersubjetividade, por isso a exigência de rigor, clareza e inteligibilidade
para resolver problemas que buscam por respostas apoiadas por argumentos.

67
Metodologia do Ensino de Filosofia

Conclui-se que as competências e as habilidades filosóficas


As competências relevantes são as críticas, criteriosas, radicais e de conjunto que visam
e as habilidades determinados conteúdos: os problemas, as teorias e os argumentos
filosóficas filosóficos.
relevantes são as
críticas, criteriosas,
radicais e de
conjunto que visam
determinados Atividade de Estudos:
conteúdos: os
problemas, as 1) O que caracteriza a avaliação objetiva?
teorias e os
argumentos ____________________________________________________
filosóficos. ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
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2) O que caracteriza uma avaliação automática?


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3) o que significa perguntar: O que deve ser avaliado em Filosofia?


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4) O que leva a compreender e justificar a presença de cada uma das


disciplinas presentes na grade curricular?
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Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

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5) O que justifica que os estudantes aprendam Filosofia?


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6) Como é possível selecionar as atividades e instrumentos de


avaliação?
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7) Como destacar o que é mais relevante?


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Metodologia do Ensino de Filosofia

Competências Filosóficas Básicas


O professor de Filosofia deve conduzir seu trabalho, a fim de que possa
despertar nos estudantes algumas habilidades e competências. Faremos um
relato de algumas competências filosóficas básicas (os problemas, as teorias
filosóficas e os argumentos filosóficos), destacando também, alguns exemplos de
respostas possíveis que se espera de um estudante. A partir deste instrumento,
será possível que o professor construa também, seus instrumentos de avaliação.

a) Problemas Filosóficos
Problemas filosóficos são aquelas perguntas e temas em que não há uma
única resposta e que podem gerar opiniões dúbias. Levando em consideração os
problemas, o professor avaliará se o aluno apresenta condições de:

Percebendo o cunho do problema, por exemplo: ‘o


• Saber identificar problemas problema do sentido da vida, o problema da indução, o
filosóficos, assim como as disciplinas problema do ceticismo’, iremos ao encontro da área da
filosóficas que deles se ocupam. Filosofia que pertencem tais problemas, neste caso a
metafísica, a epistemologia, a Filosofia da Linguagem...

Por que é importante sabermos sobre o


• Ser capaz de mostrar por que razão problema do sentido da vida? Justificar...
esses problemas são importantes. A importância desta justificação nos traz
maior garantia para nossas convicções.

• Saber distinguir problemas filosóficos Há problemas que pertencem a outras áreas de


de problemas não filosóficos conhecimento, como por exemplo, o problema da função
e de pseudoproblemas. social da arte, que pertence ao campo sociológico.

O problema do sentido da vida consiste em saber...


• Saber formular problemas filosóficos. O problema do mal consiste em
responder tais questões...

b) Teorias Filosóficas
Em relação às teorias filosóficas, o professor avaliará se o estudante
propõe condições de:
• Saber qual problema que a A teoria platônica procura
teoria procura resolver. resolver o problema da...
A teoria que está se referindo
• Saber identificar a teoria.
o filme Matrix é platônica.
A teoria é boa ou má? Por quê? Quais são
• Avaliar a teoria, mostrar se resolve o problema seus pontos fortes? E seus pontos fracos? A partir
exposto a ela e se levanta novos problemas. de que esta teoria pode ser considerada boa?
Confrontá-la com problemas propostos Qual a consistência da teoria? Ela apresenta
e compará-la com teorias contrárias. novos problemas? Qual o grau de dificuldade
c) Argumentos Filosóficos de solução destes novos problemas?

70
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

Trabalhando com argumentos filosóficos, o professor avaliará se o


estudante se dispõe a:

A partir da fala do professor, são


• Saber identificar argumentos.
expressos os seguintes argumentos...

• Saber avaliar os argumentos: Tal argumento é inválido


Sólido? Forte? Válido? Inválido? por apresentar tais falácias...

• Fazer comparações do argumento Existe uma versão mais forte


com outros argumentos sobre o mesmo neste argumento que encontra-se no
problema e se pertencem à tradição filosófica. pensamento da escola de Frankfurt...

Outra forma de defender esta


• Exigir criatividade, que os estudantes
teoria seria: um argumento que não
proponham novos argumentos.
é habitualmente empregue é...

Competências e Habilidades nos


PCNs
De acordo com os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais, fixados pela
Resolução nº 3/98 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação, algumas competências e habilidades são indispensáveis para o nível
de Ensino Médio.

Segundo os mesmos parâmetros as ausências destas competências e


habilidades implicam limites à ação do indivíduo, impedindo-o de prosseguir em
seus estudos na área e de se preparar para a vida em sociedade. Estes aspectos
possuem certa importância por apoiarem as escolas e professores na montagem
de seus currículos e proposição de atividades, projetos e programas de estudo ou
disciplinas, através dos quais serão desenvolvidas pelos estudantes.

É necessário tomarmos certos cuidados em aplicarmos algumas competências


e habilidades para não cairmos no erro da escola tradicional, tecnicista, positivista
de preparar o educando para o mercado de trabalho e esquecermos
As competências
de prepará-los para serem pessoas autônomas.
permitem que o
As competências não eliminam os conteúdos segundo o estudante seja
documento dos PCNs, pois é impossível desenvolver tais habilidades capaz de transpor
no vazio. Tais habilidades dão um norte como objetivo final para tais o conhecimento
estudado para
conteúdos, servindo como costumamos chamar de fio condutor. O
novas situações
importante não é a quantidade de informações e sim, a capacidade
caracterizando que
de lidar com elas. A capacidade de lidar permite que o estudante seja houve então
capaz de transpor o conhecimento estudado para novas situações a aprendizagem.
caracterizando que houve então a aprendizagem.

71
Metodologia do Ensino de Filosofia

Uma característica forte do aprendizado é a capacidade de fazer


analogias com o conteúdo estudado.

A área de Ciências Humanas e suas Tecnologias estão presentes no Ensino


Médio com o objetivo de constituir competências que permitem ao educando
(BRASIL, 2000, p. 96-97):

• Compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais e


culturais que constituem a identidade própria e a dos outros.
• Compreender a sociedade, sua gênese e transformação,
e os múltiplos fatores que nela intervêm como produtos
de ação humana; a si mesmo como agente social; e aos
processos sociais como orientadores da dinâmica dos
diferentes grupos de indivíduos.
• Compreender o desenvolvimento da sociedade como
processo de ocupação de espaços físicos e as relações da
vida humana com a paisagem, em seus desdobramentos
político-sociais, culturais, econômicos e humanos.
• Compreender a produção e o papel histórico das
instituições sociais, políticas e econômicas, associando-
as as práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos
princípios que regulam a convivência em sociedade, aos
direitos e deveres da cidadania, à justiça e à distribuição
dos benefícios econômicos.
• Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade,
a economia, as práticas sócias e culturais em condutas
de indagação, análise, problematização e protagonismo
diante de situações novas, problemas ou questões da vida
pessoal, social, política, econômica e cultural.
• Entender os princípios das tecnologias associadas ao
conhecimento do indivíduo, da sociedade e da cultura,
entre as quais a de planejamento, organização, gestão e
trabalho de equipe, e associa-los aos problemas que se
propõem resolver.
• Entender o impacto das tecnologias associadas às
Ciências Humanas sobre a sua vida pessoal, os processos
de produção, o desenvolvimento do conhecimento e a
vida social.
• Entender a importância das tecnologias contemporâneas
de comunicação e informação para planejamento, gestão,
organização e fortalecimento do trabalho de equipe.
• Aplicar as tecnologias das ciências humanas e sociais na
escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
a sua vida.

72
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

Todas estas competências e habilidades apresentadas devem nortear as


atividades dos professores em seus programas e atividades a serem desenvolvidos
com seus alunos no Ensino Médio.

Atividade de Estudos:

1) Segundo os PCNs, o que implica a ausência das habilidades e


competências filosóficas?
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2) Por que tais habilidades e competências são importantes na


formação do educando?
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3) Por que se deve tomar cuidado na escolha das habilidades e


competências a serem desenvolvida na disciplina de Filosofia?
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4) Qual a relação entre habilidades/competências e os conteúdos?


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Metodologia do Ensino de Filosofia

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5) destaque três objetivos da área de Ciências Humanas e suas


Tecnologias:
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Habilidades de Raciocínio Dentro do


Programa de Filosofia para Criança
Lipman discordava da teoria de Piaget, quando este se referia que
as crianças em idade mais tenra não possuem capacidade de abstração e
compreendem somente as atualidades concretas e sensoriais cujos conceitos,
por serem abstratos, pertencem a outro mundo que não o delas. Para ele, a teoria
piagetiana é uma forma de privar o homem em seu desenvolvimento,
subestimando a sua capacidade de perceber o mundo e construir uma
Na teoria de
Lipman o ser compreensão do que acontece à sua volta.
humano é capaz Na teoria de Lipman o ser humano é capaz de desenvolver o
de desenvolver o raciocínio crítico desde a mais tenra idade, tornando-se complexo
raciocínio crítico
com o passar do tempo e as exigências que vão sendo tomadas
desde a mais tenra
dentro da comunidade de investigação (CI). Ao contrário da teoria de
idade, tornando-se
complexo com o Piaget, o raciocínio crítico não surge inatamente, é um processo que
passar do tempo. se desenvolve socialmente. O pensar, o conhecimento e o significado
são construções sociais que se articulam e tornam-se complexos.

74
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

Conclui-se então que a abstração não é atividade restrita aos adultos, apesar
de apresentar uma graduação diferenciada. Por isso, a criança deve estar em
contato com as elaborações mentais mais complexas, para que estas não lhes
causem estranhamento quando tiverem que lidar com as mesmas mais adiante
de suas vidas.
Para isso é necessário que se apresente o problema e se acompanhe o seu
desenvolvimento. O mais importante não é a solução do problema, até porque
não se pode exigir de uma criança de seis ou sete anos a solução de problemas
complexos. Para orientá-los nesta caminhada é necessário acompanhamento
dos pais e da escola, agora, ignorar que as crianças não capazes de identificar
diante de uma situação as implicações, os motivos ou as alternativas, é como se
dissesse a elas que elas não pensam.
O diálogo é importante e fundamental neste programa educativo,
por ser provocativo, o que nos obriga a ver o problema a partir do O diálogo nos
outro, o que não significa que se tenha que abdicar de suas ideias, obriga a ver o
pois conhecer o que outros pensam alargam nossos horizontes. A problema a partir
partir do diálogo se constrói novos valores, ele resgata boas razões do outro.
ou mesmo a evidência da sua fragilidade, já que neste método não
se avalia somente os argumentos apresentados, mas também, sobre a forma
de sua sustentabilidade e validade. Por meio do diálogo é possível criar novos
valores, sem abdicar-se dos valores individuais. Para Lipman o fundamental não
é o consenso ou a concordância em um diálogo, mas a consciência da existência
de outras razões para explicar a realidade.
Outra característica dentro deste método é a construção do
significado narrativo, este tem por objetivo ajudar a esclarecer A criança possui
situações que envolvem pensamentos, crenças e valores. Assim a necessidade
como outros programas baseados no construtivismo, percebe-se aqui de construir
e identificar o
também que a criança possui a necessidade de construir e identificar
significado que
o significado que socialmente é configurado, o sentido particular e o
socialmente é
significado e papel da narrativa.
configurado.
A capacidade simbólica da linguagem e suas abstrações,
partilhadas e mediadas na comunidade de investigação geram uma
história. O mecanismo utilizado permite à criança a compreensão do processo,
ajudando-a compreender a experiência vivenciada no grupo e a sua própria
experiência individual.
As situações que se encontram nas histórias deste programa, têm por objetivo
evidenciar circunstâncias dos personagens aproximando-os do leitor. O diálogo
em torno do que foi lido na história na comunidade de investigação, ocasiona
a busca de significados e a desconstrução, obriga os estudantes a usarem os
procedimentos da razão, chamado aqui, de programa de disposições mentais
e habilidades de raciocínio, para identificar as evidências, construir hipóteses,
verificar compatibilidades. Estas ferramentas são utilizadas para submeter o
mundo a reflexão e a compreensão. Esta atitude ajuda o estudante escapar da
forma dogmática e autoritária que a sociedade impõe, e que por muitas vezes, a
escola reproduz.

75
Metodologia do Ensino de Filosofia

O programa quer que o estudante torne-se investigador e que os professores


estejam preocupados que seus educandos aprendam o movimento do pensamento
inerente em suas disciplinas, a dinâmica interna e a produção das mesmas. O
objetivo é transcender a pura mecânica do aprendizado de conteúdos, o que se
quer é que além de aprender o resultante do processo investigativo, se domine o
seu procedimento.

Para alcançar esta atitude de investigador, são necessárias algumas


características básicas:

A discussão filosófica é cumulativa, supera o tratamento superficial e


linear. Trabalha com a articulação entre os conhecimentos adquiridos, rompe a
sobreposição de informações.

É participativa: ouvir, falar, refletir, reconsiderar, são elementos fundamentais


para valorizar o que se aprende e aferir o já sabido.

Não é autoritária e não é doutrinária, pois sua característica se funda no


diálogo.

Cultiva os valores do raciocínio e investigação e dá significado maior ao ritual


da apreensão sensível.

Ocasiona que os participantes aprendam uns com os outros, fortalecendo a


ideia de que todo aprendizado é construção coletiva.

Promove o raciocínio ao invés de meras opiniões, conferindo maior solidez


ao pensamento.

Para concretizar os passos destacados, Lipman afirma ser necessário o


professor assegurar em suas aulas o desenvolvimento das seguintes habilidades:

• Concentrar-se numa questão


• Identificar contradições
• Elaborar e responder
• Lidar com ambiguidades
perguntas e desafios
• Buscar consistência e validade
• Analisar argumentos
• Trabalhar com analogias
• Dar razões
• Compreender as conexões
• Ponderar sobre a credibilidade
entre parte-todo e todo-parte
as fontes de informações
• Trabalhar com analogias
• Observar
• Construir hipóteses
• Deduzir
• Estabelecer relações de causa e efeito
• Induzir
• Contextualizar
• Emitir juízo de valor
• Hierarquizar
• Definir
• Classificar
• Identificar pressuposições
• Gerar ideias correlatas
• Decidir por uma ação
• Prever consequências
• Interagir com outros
• Identificar razões expressas
• Concluir
e não expressas
• Usar a lógica relacional

76
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

Atividade de Estudos:

1) Em que Lipman discordava de Piaget sobre a teoria da


aprendizagem na infância?
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2) Como Lipman conceitua: o pensar, o conhecimento e o significado?


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3) Por que o diálogo se faz importante no programa de Lipman?


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77
Metodologia do Ensino de Filosofia

4) O que espera do educando e do educador no Programa de


Filosofia para Criança de Mattew Lipman?
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5) Cite cinco habilidades de raciocínio presentes no programa de Lipman:


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Habilidades de Raciocínio Dentro do


Programa do Centro de Filosofia
Educação para o Pensar
Este programa Filosófico-pedagógico busca uma educação emancipatória, e
através da Filosofia, torna-se mais fácil compreender as implicações e o significado
de tal educação. Uma educação reflexiva exige um ensino de Filosofia que assuma
sua tarefa crítica perante a sociedade e a realidade na qual está inserida.
78
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

O Centro de Filosofia Educação para o Pensar junto com a Editora Sophos


formam o S.E.R. – Sistema de Ensino Reflexivo. Esta comunidade tem como
preocupação essencial a formação continuada de todos os educadores da
escola, afinal, Educar para o Pensar é dever de todos. Porém, o profissional
que coordenará as atividades e reflexões dentro deste Programa deverá ter um
entendimento mais apurado de toda a metodologia, do fio condutor dos conteúdos
do referencial teórico (desde a educação infantil até o ensino médio).

A preocupação fundamental do Centro, no tocante à formação dos


educadores desde o seu início, traduz-se numa constante expectativa de abrir
espaços dentro da escola. Sabendo que a Filosofia nunca saiu da escola, ela deve
ocupar seu lugar, destacar-se e, assim, contribuir para uma elevação na reflexão,
análise da realidade e inserção das pessoas em um projeto de uma sociedade
mais justa, livre e fraterna. A busca deste objetivo começa já nos primeiros anos
de escolaridade.

Com base no programa de Filosofia para crianças do professor Matew


Lipman, o Centro de Filosofia Educação para o Pensar, também admite o
conhecimento a partir da comunidade, acrescentou à sigla o conceito de
aprendizagem, o que o diferencia do primeiro programa. Enquanto Lipman se
refere à Comunidade de Investigação, O Centro de Filosofia considera como:
Comunidade de Aprendizagem Investigativa (CAI). A partir desta comunidade
pode ser desempenhado um trabalho da seguinte forma:

• leitura do episódio da novela filosófica;

• levantamento das ideias relevantes (através de perguntas ou outra


modalidade);

• o diálogo filosófico (discussão);

• registro dos pontos principais da aula (atividades para maior entendimento e


ampliação das ideias discutidas);

• avaliação da aula com os alunos e registros. A Filosofia da


emancipação que se
O Centro de Filosofia Educação para o Pensar, defende um busca com crianças,
ensino filosófico, em que educadores e educandos levem em adolescentes e
jovens é produzida
consideração a realidade na qual estão inseridos. Por isto, a Filosofia por pensadores
da emancipação que se busca com crianças, adolescentes e jovens é e educadores
produzida por pensadores e educadores que nutrem os mais elevados que nutrem os
senti¬mentos e parâmetros éticos para a condição humana. Observe, mais elevados
senti¬mentos e
a seguir, uma representação do S.E.R. e o Centro de Filosofia
parâmetros éticos
Educação para o Pensar. para a condição
humana.

79
Metodologia do Ensino de Filosofia

Figura 1 – O “guarda-chuva” do S.E.R.

Fonte: Disponível em: <https://sites.google.com/a/portalser.net/portalser-net/


In%C3%ADcio/Sobre-o-SER/guarda_chuva.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2009.

Dentro deste Sistema de Ensino Reflexivo, este Programa Filosófico-


pedagógico, defende que o papel da Filosofia nos dias atuais, a partir da realidade
que vivemos, é o de produzir cidadania, consciência histórica, responsabilidade
moral, elevação ética, participação política e sensibilização estética nas gerações
atual e futura, bem como nos educadores e familiares.

No que diz respeito às habilidades de raciocínio o Sistema de Ensino


Reflexivo S.E.R. destaca:

• Desenvolver a capacidade de integração, socialização e interação.

• Conhecer a si mesmo.

• Desenvolver a capacidade de raciocínio.

• Desenvolver a curiosidade e a criatividade.

• Desenvolver a capacidade de investigação e compreensão: aprender a


perceber, reconhecer, definir, distinguir, constatar, enfatizar, explicar.

• Desenvolver a capacidade de comunicação e representação.

• Crescimento pessoal e interpessoal.

• Desenvolver a compreensão ética e política da sua vivência no mundo.

• Desenvolver a capacidade de encontrar sentido na(s) experiência(s).

80
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

• Descobrir alternativas.

• Descobrir a imparcialidade.

• Descobrir a coerência.

• Descobrir a capacidade de oferecer razões para as crenças.

• Descobrir a globalidade.

• Descobrir situações.

• Descobrir as relações parte-todo.

• Desenvolver a pesquisa, a investigação.

• Desenvolver a observação.

• Respeitar o outro.

• Respeitar as regras estabelecidas.

• Formar com os colegas a Comunidade de Aprendizagem Investigativa.

Para obter mais informações sobre este programa de Filosofia


acesse o site:
http://www.portalser.net/

a) Atividade e Instrumentos de Avaliação

• É necessária a escolha dos meios que melhor avaliam a aquisição das


competências e habilidades destacadas anteriormente. Para a escolha das
melhores atividades e instrumentos avaliativos, deve-se levar em consideração
alguns aspectos de caráter prático:

• A importância maior deve ser dada as atividades que, de uma forma mais
completa e rigorosa, permita avaliar as habilidades e competências
consideradas pelo educador mais importantes.

• Uma única atividade pode ao mesmo tempo avaliar várias competências e


habilidades. Os critérios de avaliação do desempenho dos estudantes nas
atividades solicitadas devem demonstrar a importância relativa de cada
competência avaliada.

• Pode ser atribuído o mesmo teste em momentos separados para avaliar


habilidades e competências distintas, caso estas tenham diferentes pesos,
como atividades idênticas podem apresentar diferentes pesos na avaliação
final do estudante.

81
Metodologia do Ensino de Filosofia

• A avaliação é o reflexo da prática pedagógica adotada. Portanto, a linguagem


escrita da avaliação deve ser a mesma utilizada durante as aulas pelo professor.
• Na avaliação somativa deve ser levado em consideração que existem
habilidades e competências que só podem ser adquiridas ao final da unidade,
levando em consideração o processo.
• A proposta enquanto condição é a melhor forma para a avaliação, pois a
pressão impede os estudantes de raciocinarem cuidadosamente, que é
o que importa em Filosofia. Portanto, as avaliações não devem ser longas
e cansativas, permitindo aos estudantes cumprirem com êxito todas as
atividades propostas.

b) Testes Escritos
De acordo com as competências e habilidades filosóficas escolhidas
pelo professor a serem avaliadas, pode ser montada a avaliação, em uma
linguagem clara e mais direta possível. As atividades avaliativas devem levar em
consideração os problemas, as teorias e os argumentos filosóficos destacados
na tabela de competências filosóficas básicas. As perguntas devem estar
contextualizadas a realidade do estudante, não deve aparecer de forma estranha
a eles. Como já foi dito, o estudante deve ter tempo suficiente para completar a
atividade, o importante não é a rapidez no raciocínio e sim, a sua qualidade. O
tempo não está relacionado ao número de perguntas feitas e sim, a forma das
perguntas e as competências e habilidades que elas avaliam. Uma avaliação com
perguntas vagas pode levar muito mais tempo para ser completada a um teste
com perguntas diretas e claras.
Para averiguar se o teste está de bom tamanho, o professor pode realizá-lo
antes de aplicar com os estudantes, tendo por base que deve atribuir ao aluno o
dobro do tempo que utilizou para realizar a avaliação.

c) Ensaios Filosóficos
O que é um ensaio filosófico? É um texto argumentativo no qual se defende
uma posição sobre um determinado problema filosófico. Dentro do ensaio o autor
deve demonstrar que sabe articular clara e corretamente os problemas, teorias e
argumentos em causa. Sempre aparece em forma de resposta a uma pergunta,
que pode ser respondida com um sim ou com um não. O estudante, ou mesmo
o professor deve avaliar criticamente os principais argumentos em confronto na
discussão e tomar partido por uma posição e defendê-la. Não significa que basta o
autor dar a sua própria opinião. Em um ensaio deve-se avançar nos argumentos e,
ao contra-argumentar apresentar resposta aos argumentos contrários a sua tese
de defesa. Caso não tome partido a nenhuma das partes, deverá se manifestar
com argumentos o porquê.
Para principiantes na autoria de ensaios, o fundamental é que seus escritos não
sejam muito longos, permitindo uma maior concentração no que deve ser essencial.
82
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

Como foi dito, sobre os títulos dos ensaios, estes devem aparecer em forma
de perguntas como:

• Será que as plantas possuem direitos?

• Será que nossas ações são boas ou más apenas em função das suas
consequências práticas?

• Será que todas as músicas expressam sentimentos?

• Os títulos podem ser: ‘Os direitos das plantas’, ‘A música e a expressão


de sentimentos’.

• Não obrigam aos estudantes tomarem posição ou a ser críticos e


argumentativos, pelo fato de não haver a provocação filosófica na forma
apresentada no título. O professor de Filosofia ao avaliar um ensaio deve
prestar atenção a alguns aspectos:

• Se os estudantes formulam corretamente o problema em causa.

• Se os argumentos utilizados são bons, fortes e consistentes, se não cometem


falácias e se respondem as principais objeções que costumam ser colocadas
à teoria defendida pelo estudante.

Para orientar o estudante na construção de seu texto, o professor deve


passar outros textos, como conjunto de leitura, bibliografia central, que tratem
sobre o tema.

Atividade de Estudos:

1) Cite 3 objetivos do Centro de Filosofia Educação para o Pensar:


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2) Cite cinco habilidades de raciocínio desenvolvidas a partir desta


metodologia:
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83
Metodologia do Ensino de Filosofia

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3) Como escolher os critérios avaliativos?


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4) Como devem aparecer as perguntas nas avaliações?


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5) O que é um ensaio filosófico?


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6) O que o autor deve deixar evidente em seu ensaio?


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7) Como distinguir um ensaio de outro tipo de texto?


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84
Capítulo 2 Variações na Metodologia
de Ensino de Filosofia

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8) Como desenvolver o assunto em um ensaio?


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9) Que aspectos o professor deve focar ao avaliar um ensaio?


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Algumas Considerações
A Filosofia possui extrema importância não somente na grade curricular
escolar, assim como é uma proposta de vida em que oportuniza nova postura
reflexiva. A Filosofia ainda é vista como ferramenta, instrumento facilitador em
nossas reflexões, ao oferecer questões como “o quê?”, “como?”, “Pra quem?”,
“por quê?”, e “para quê?”.
85
Metodologia do Ensino de Filosofia

Percebemos que buscar por um ensino filosófico é buscar uma coletividade


humana, pensando o porquê da existência. Esta abertura, além de capacitar o
indivíduo a desenvolver uma determinada habilidade, sensibiliza-o para um estilo
de reflexão, ampliando-a e efetivando-a, despertando um modo de pensar, uma
maneira de ser e fazer a subjetividade de cada um.

O indivíduo que ao buscar sua emancipação utiliza o conhecimento poderá


alcançar uma visão crítica e ética da realidade, pois a reflexão histórica estará
ligada ao mundo do indivíduo coletivo, histórico e social. Portanto, a Filosofia é
considerada paideia, a que forma o indivíduo para a coletividade humana.

Encerramos afirmando que é pela reflexão e pelo conhecimento que o


homem pode sonhar e chegar aos caminhos de sua libertação, estando apto para
a intervenção de sua história e realidade, com o objetivo de garantir respeito e
dignidade. Por este e outros motivos que o conhecimento deve ser competente,
criativo, crítico e criterioso, demonstrando-se um conhecimento alinhavado dentro
de uma reflexão filosófica.

Referências
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000. Disponível em: <http://portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2008.

______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes


e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/l9394.htm>. Acesso em: 15 set. 2009.

DIÓGENES, Laércio. Vida e doutrina de filósofos ilustres. Trad. Mário da


Gama Cury. Brasília: UnB,1988.

HOUAISS. Dicionário eletrônico Houlaiss da língua portuguesa. São Paulo:


Objetiva Ltda, 2009. CD-ROM.

Kant, I. Crítica da faculdade do juízo. Trad. Valério Rohden e Antônio Marques.


Rio de Janeiro: Forense, 1993.

KOHAN, Walter O. (org). Filosofia caminhos para o seu ensino. Rio de


Janeiro: DP&A, 2004.

MARINOFF, Lou. Pergunte a Platão. 6 ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.

SANTOS, Nilson. Filosofia para crianças: investigação e democracia na escola.


São Paulo: Nova Alexandria, 2002.
86
C APÍTULO 3
Caminhos e Metodologia de Ensino
de Filosofia

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Conhecer Matthew Lipman enquanto filósofo e educador do Programa


Filosofia para crianças.

33 Compreender a Infância, adolescência e juventude como objeto filosófico.

33 Conhecer a história, os objetivos e a metodologia do Centro de Filosofia


Educação para o Pensar.

33 Compreender a Filosofia como parâmetro que auxilia no entendimento da


realidade pessoal e social constituída.
Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

Contextualização
Apresenta-se como desafio social e institucional para a Filosofia e a Educação
a construção de novos significados e referências desde a infância até a juventude.

É necessário envolver a reflexão e a pesquisa levando em consideração a


condição da criança, do adolescente e jovem na tradição política progressista e no
pensamento pedagógico vanguardista. A Filosofia é um agente de transformação
educacional.

Nos últimos anos, notamos avanços na metodologia de ensino de Filosofia


nas escolas brasileiras (pública e particular). Uma destas metodologias é o
Sistema de Ensino Reflexivo que tem sido uma referência na educação para
o pensar, no Brasil, nos últimos anos. Essa metodologia tem como base o
pensamento do filósofo Matthew Lipman. Então, vamos conhecer um pouco da
vida deste pensador.

Quem é Matthew Lipman?


De origem modesta e de ascendência judeu-russa, Matthew Lipman nasceu
em 24 de agosto de 1922, na cidade de Vineland, New Jersey - EUA. Filósofo e
educador norte-americano participou da 2ª Guerra Mundial servindo no batalhão
de infantaria na França, Áustria e Alemanha. Relatos de pessoas que lhe são
íntimas mostram que ele é uma pessoa humilde, inteligente, serena, vivaz,
espirituosa, com uma marcante preocupação social, especialmente no tocante à
situação da infância.

Em sua formação acadêmica, fez doutorado na Universidade de Columbia


(Nova lorque). Defendeu tese em 1950, com o tema “Problemas de investigação
Artística”. Publicada em 1967 sob o título: O que Acontece na Arte. Sua primeira
preocupação filosófica relacionada à estética e à metafísica.

Para Lipman a Arte é uma expressão da inteligência e do


Para Lipman a Arte
pensamento, portanto, cognitiva. Desta forma, seu interesse passava
é uma expressão
por analogia da Arte com a Filosofia. Seus estudos foram sobre da inteligência e
Estética, Filosofia (norte-americana) e John Dewey, com quem do pensamento,
manteve contato e por quem nutria admiração. portanto, cognitiva.

Esteve na Universidade de Sorbonne, França, realizando


estudos de pós-graduação e conheceu melhor a ideia de Maurice Merleau-Ponty,
Gaston Bachelard e de outros fenomenólogos e existencialistas. Durante esta
fase, nas suas obras e no decorrer de sua vida, podemos ver o filósofo Lipman
interessado em aprofundar seus estudos em estética, metafísica, pragmatismo,
fenomenologia, existencialismo e filosofia da linguagem.
89
Metodologia do Ensino de Filosofia

Fenomenologia: trata sobre a intencionalidade da consciência


humana, trata de descrever, compreender e interpretar os fenômenos
que se apresentam à percepção.
Existencialismo: corrente filosófica e literária que destaca
a liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser
humano. O existencialismo considera cada homem como um ser
único que é mestre dos seus atos e do seu destino.

Como professor de Filosofia na Universidade de Columbia, da cadeira


de Lógica, e com filhos em idade escolar, começou a realizar as primeiras
experiências de traduzir, para o entendimento infantil os conteúdos filosóficos
acadêmicos. Com ênfase nos primeiros procedimentos de uma investigação lógica
e da ideia de que, ao entender os passos do processo de investigação científica,
as crianças aprenderiam a pensar melhor os conteúdos das outras disciplinas
escolares. Portanto, visava ao desenvolvimento da investigação filosófica com o
objetivo de ampliar a aprendizagem e o entendimento dos demais saberes.
Deste início com crianças, Lipman, em 1972, foi para o Departamento de
Filosofia do Montclair State College, em New Jersey. Lecionou Filosofia para os
acadêmicos e lá aplicou o Programa de Filosofia para Crianças, criando o IAPC
(Institute for the Advancement of Philosophy for Children). Fundado oficialmente
em 1974, com o objetivo de organizar e ampliar a preparação, difusão e
desenvolvimento do Programa de Filosofia para Crianças nos EUA; e também,
junto à pessoas e instituições de outros países.
Lipman acreditava que a escola não estava desenvolvendo adequadamente as
habilidades cognitivas das crianças. O caminho seguido por ele foi via Lógica e Filosofia,
favorecer o desenvolvimento das habilidades de raciocínio, do bom e do bem pensar.
Quando deparado com críticos de seu programa que o acusam de
As crianças ser uma vulgarização da Filosofia e, que é impossível ensinar Filosofia
podem ler, discutir, às crianças, Lipman costuma responder:
raciocinar. Podem
falar das coisas Estão cometendo um erro. Não estamos tentando fazer com
sobre as quais que memorizem Aristóteles. Não estamos querendo que
falam os filósofos, aprendam Filosofia, mas que façam Filosofia. Isto envolve
deliberação, diálogo, raciocínio. As crianças podem ler,
sobre a verdade, a
discutir, raciocinar. Podem falar das coisas sobre as quais
justiça, etc. falam os filósofos, sobre a verdade, a justiça, etc. Podem dizer
que as crianças não são capazes de fazer isso, mas o fato é que
elas o fazem. (FOLHA DE S. PAULO, 1994, p. 6.5).

Se você quiser saber mais sobre o pensamento de Lipman leia a


entrevista concedida a Bernardo de Carvalho e publicada pelo Jornal
Folha de S. Paulo no dia 1 de maio 1994, p. 6.5. Esta entrevista está
disponível no site:
www.almanaque.folha.uol.com.br/entrevista_filosofia_matthew_
lipman.htm

90
Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

Há críticas contra Lipman, quanto a sua afirmação de que os jovens do final


dos anos 60 tinham o desejo de mudanças (referindo-se ao movimento estudantil
de 1968) e que, a partir de tal posição política, cometiam irracionalidades. É
necessário entender aqui, a constatação feita, primeiramente, junto aos seus
filhos e aos seus alunos universitários; a juventude estava em uma escola que
não prezava pela investigação de nenhuma espécie. Imperava um despreparo
em analisar, julgar, agir diante das ideias colocadas e, pouco hábito de discuti-las,
perceber as ideologias, deixar-se conduzir. Caberia à Filosofia, desde os primeiros
anos escolares, em comunidade de investigação auxiliada por professores com
condutas “racionais”, ajudar os alunos a serem críticos, criativos e criteriosos,
para que suas ações pudessem ser duradouras, dentro da racionalidade.
As motivações de Lipman são políticas e contêm o desejo de que a
aprendizagem passe a ser significativa participativa e transformadora.
Assim, como qualquer mudança sócial exige tais elementos e uma boa dose de
racionalidade; aqui, não se pode querer ver nenhum papel conservador atribuído
à prática da Filosofia na escola. Ao contrário, esta proposta de ação mostra a
racionalidade que o programa busca junto às crianças e aos professores: é um
apelo filosófico racional, como deve ser qualquer reflexão filosófica.
Com a organização IAPC, Lipman e seus colaboradores começam a produzir
textos, material didático e livros que foram traduzidos para diversas línguas. Aqui
no Brasil são comercializados por um curso nacional de inglês junto ao CBFC
(Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças). A aplicação e a expansão organizada
pelo IAPC culminaram com sua internacionalização a partir de 1985, quando criou-
se o Conselho Internacional para Investigação Filosófica com Crianças – ICPIC
(InternationaL Council for Philosophical Inquiry with Children), conta com participantes
de várias partes do mundo e, é responsável pelo debate e pelas resoluções dos
principais problemas que envolvem o aplicar do programa nos diferentes países.
O próprio Lipman diz que quando percebeu o seu interesse pelo bem
pensar das crianças por intermédio da Filosofia, sabia muito pouco de Educação,
e complementa argumentando que seus estudos são de Filosofia e não de
Pedagogia. Sobre Lipman, vale destacar que:

Ele via que nos Estados Unidos, dedica-se


muito tempo à escrita, à leitura e à matemática, A criança ou o jovem
mas o resultado muito escasso. Por quê? As não sabem pensar,
escolas são meras repetidoras de informações. não sabem detectar
Se, pelo contrário, se colocasse ênfase não as articulações
no ato de os alunos memorizarem, mas no de
buscarem as respostas para suas interrogações internas das coisas
através do diálogo, da leitura compreensiva e do ou da linguagem
questionamento, os resultados seriam bem mais escrita, significa que
significativos, tanto em curto como em longo a escola não
prazo. Em outras palavras se a criança ou o lhes ensinou
jovem não sabem pensar, não sabem detectar as
articulações internas das coisas ou da linguagem a pensar.
escrita, significa que a escola não lhes ensinou a
pensar. (SOUZA, 2001, p. 38).

Pertence a ele a afirmação de que a demora em se utilizar a Filosofia


em todos os momentos da vida escolar deve-se, principalmente aos próprios

91
Metodologia do Ensino de Filosofia

filósofos, pois encaram o ato de filosofar como privilégio de alguns, e entendem


que a apreensão filosófica do mundo, do outro e de si mesmo está muito longe
do alcance dos simples mortais, das crianças ou daqueles que estão no caminho
da reflexão.

Atividade de Estudos:

1) Quando Mattew Lipman manifesta seu primeiro interesse por estética?


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2) O que é a Arte para Lipman?


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3) O que Lipman tomou por base para iniciar seu Programa de


Filosofia para Crianças?
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4) Por que e o que motiva o Prof. Dr. Lipman a desenvolver o


Programa Filosofia para Crianças?
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Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

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5) Qual deve ser a atitude do educador em seu programa?


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A Filosofia em Escolas a Partir da


Década de 80
A responsabilidade pela chegada e início da proposta Filosofia para crianças,
do Dr. Lipman, no Brasil, foi de Catherine Young Silva, em 1984. Grande entusiasta
e incentivadora, não mediu esforços para ver crianças de escolas públicas e
particulares beneficiarem-se do filosofar. Veio a falecer em 1993, mas conseguiu
vislumbrar parte de seus esforços para introduzir e ampliar o trabalho filosófico
nas escolas brasileiras.
Em 1984 a Profª. Catherine promovia reuniões com um grupo de colegas
para divulgar o material e a metodologia que ela conhecera. Com este grupo
foi realizada a tradução da novela escrita por Lipman para o trabalho com
adolescentes da 6º e 7º anos - A Descoberta de Ari dos Telles.
Em 1985 o programa efetivamente começou a ser aplicado em algumas
escolas da cidade de São Paulo. Contava com um grupo de reflexão, uma
divulgação, o material impresso, a infraestrutura de uma escola de inglês e os
cursos de capacitação para professores.
Para que um maior número de professores conhecesse e aplicasse o
programa e, um maior número de crianças o utilizasse nas escolas, foi necessário
organizar uma estrutura que respondesse pelo programa Filosofia para Crianças
no Brasil. A entidade responderia juridicamente pela marca, pelos produtos
93
Metodologia do Ensino de Filosofia

(material didático), pela capacitação de professores, estabeleceria


CBFC – Centro convênios com instituições públicas e privadas, responsabilizar-se-ia
Brasileiro de pelos trabalhos e pelos projetos.
Filosofia para
Crianças – que foi Surgiu então a instituição CBFC – Centro Brasileiro de Filosofia
oficializado em 30 para Crianças – que foi oficializado em 30 de janeiro de 1985. Por
de janeiro de 1985, seu estatuto, constituiu-se uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de
constituiu-se uma caráter científico e cultural.
sociedade civil, sem
fins lucrativos, de Em discussões com pessoas interessadas (professores envolvidos
caráter científico com o programa), a partir de sua estruturação legal, foi percebida a
e cultural. necessidade de estratégias diferentes de organização dos trabalhos
para as diferentes regiões do País. E, devido ao fato de o Centro
Brasileiro querer estruturar ‘franquias’ da marca (Filosofia para
Crianças), que representava com exclusividade no Brasil e, assim,
poder atrelar iniciativas a uma organização centralizada, surgiram os Centros
Regionais de Filosofia para Crianças.
Tal forma de representação conferia certa organização ao trabalho de
Filosofia nas diversas regiões; porém, tolhia iniciativas regionais, delimitando os
trabalhos a um território; impedia assim, que Centros Regionais mais atuantes
ampliassem suas ações. Ao tornarem-se representantes regionais, os Centros
estavam submetidos a uma série de itens contratuados: fidelidade à condição
pedagógica e as diretrizes da estrutura representante da Filosofia para Crianças
(financeira, pedagógica, mercadológica). Assumiam a utilização exclusiva do
material didático traduzido do Prof. Lipman, cuja venda exclusiva era feita
pela escola de inglês Yázigi às escolas treinadas e aos Centros Regionais
estabelecidos. Respeito ao controle rígido da comercialização dos livros e do
seu uso, somente podendo utilizá-los as pessoas que passassem por cursos de
treinamento dentro da metodologia e entendimento parcial da proposta teórica.

Se você quiser aprofunda seus estudos sobre o ensino da


Filosofia nas escolas brasileiras, sugerimos que você leia o artigo
“Notas para uma história do movimento filosofia para crianças no
Brasil” de Ana Míriam Wuensch. Este artigo está disponível no site:
http://vsites.unb.br/fe/tef/filoesco/histbrasil.html

Atividade de Estudo

1) De quem foi a responsabilidade pela chegada e início da proposta


Filosofia para Crianças no Brasil?
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Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

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2) Em 1985 Catherine organizou uma estrutura de Centro de


Filosofia, com que intuito?
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3) Quando foi oficializada a estrutura do CBFC?


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4) Qual seria a função desta entidade?


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O Filosofar e as Crianças,
Adolescentes e Jovens
Analisar a infância como um objeto da Filosofia é dizer que não se trata
apenas de uma possibilidade, mas sim, de uma urgência em colocar o problema
antropológico no centro das reflexões filosóficas. Porém, histórica e culturalmente,

95
Metodologia do Ensino de Filosofia

é difícil vencer as razões que sustentam a pretensa crença na superioridade do


pensamento adulto sobre o infantil.
Na Grécia Antiga, a criança devia permanecer no espaço privado ou
doméstico pois, era considerada incapaz racionalmente. Esta concepção filosófica
que define a natureza e a posição social da criança, considerando-a incapaz de
fazer uso público de sua razão (argumentar, discursar, sustentar logicamente seus
pensamentos), não a aceita como cidadã. Era considerado cidadão tão somente,
aquele que exercia sua racionalidade (pensar, discursar) na Ágora, o espaço
público, a praça central, lugar de exercício da cidadania.
Temos na Idade Média, uma maneira muito próxima de existir das crianças
e dos adultos. O modo de ser, de vestir-se, de representar e de educar adultos e
crianças eram semelhantes. Neste período, tinha-se a mesma concepção filosófico-
pedagógica a respeito da infância e do adulto. O modelo perfeito de ser humano
era o adulto, o qual a criança deveria imitar. A criança era uma cópia do adulto.
Na Idade Moderna, o entendimento a respeito da infância já é outro, e referia-
se àqueles que eram capazes de falar em seu próprio nome. Por isso, a criança
precisava ser educada tendo-se em vista as atividades, as atribuições e as
responsabilidades dos adultos. Portanto, a infância era a preparação para a vida
adulta. A necessidade de se aprender a pensar de modo lógico sequencial fez
surgir a educação escolar. Para Descartes a infância era o lugar do erro filosófico,
da ação e da força enganadora da tradição sobre a consciência. Só será filósofo
aquele que deixar de ser criança, nunca poderá ser concomitante. O cogito é uma
possibilidade do homem adulto, capaz de fazer pleno uso da razão.
Somente com Locke, Rousseau e outros pensadores modernos
Dewey, na é que o tema da infância se transformou num problema filosófico.
perspectiva do Para Rousseau, a infância é o período em que a criança é entendida
pragmatismo como criança e não como adulto em miniatura. Passou esta etapa a
educacional, ser pensada como um período específico da vida, em que os sentidos
aponta três pontos precisam ser desenvolvidos antes da razão. Por isso, dizia-se ser um
importantes erro pedagógico irreparável, considerar a criança como um ser capaz de
que devem ser pensar racional- mente. Esta visão romântica sobre a criança carrega
considerados: a um equívoco pedagógico, pois, querendo protegê-la, devido à sua
‘desadultização’ inocência e pureza, pretendia-se produzir um novo homem, uma nova
da infância; a sociedade. Assim, querer uma educação filosófica junto às crianças é
ligação entre vida um absurdo pedagógico na visão de Rousseau.
e educação e a
educação para a Na Filosofia contemporânea, voltou à tona a preocupação do
democracia. pensar a Filosofia e a infância. Ao colocar o tema em debate, o filósofo
norte-americano Dewey, na perspectiva do pragmatismo educacional,
aponta três pontos importantes que devem ser considerados:

a) a ‘desadultização’ da infância: os interesses da criança estão enraizados no


presente, não no futuro, como ocorre com o adulto;

b) a ligação entre vida (experiência) e educação, entre teoria e prática, entre


homem e natureza, entre pensar e agir, entendendo que o aprendizado só
se dá quando há uma ação correspondente e, na experiência encontra-se a
possibilidade educativa. Portanto, a educação das crianças deve oportunizar

96
Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

teoria e prática, um processo socializante, gerando a co-responsabilidade


pelo destino político da sociedade;

c) a educação para a democracia, porque todo o ser humano é racional,


incluindo-se as crianças. Por isso, a importância do exercício da racionalidade
discursiva e deliberativa, elemento decisivo na educação e na participação
política. As crianças ao poderem pensar corretamente, e ao emitirem
enunciados ou juízos racionais, serão também, capazes de fazer julgamentos
éticos, tornando-se agentes morais, porque só assim, demonstrarão a
capacidade de agir visando ao bem comum, à justiça e à liberdade.

A discussão atual sobre a relação adulto/criança guarda fortes ecos


pedagógicos da tradição. Ainda permanece latente o domínio, muitas vezes
autoritário, do adulto sobre a criança. Por outro lado, há um grupo de educadores,
filósofos e outros profissionais que estão trabalhando no sentido de mostrar que
não é suficiente explicar as formas de pensar das crianças e as formas de viver
nas diferentes sociedades, mas se deve, urgentemente, introduzir uma Filosofia
da infância; uma Filosofia que investigue as representações inerentes à condição
e ao lugar da infância, hoje. É necessária a investigação dos pressupostos
metodológicos, dos valores, dos conceitos, das pesquisas científicas sobre a
infância, bem como, da condição sócio-econômica.

Como Filosofar com Crianças,


Adolescentes E Jovens?
O Filosofar pode ser visto como uma forma de entender, de
apresentar modos alternativos no fazer, no expressar e no agir. A Filosofia é uma
O filosofar é comparado à ação de um artista que, analisando as forma de arte;
comportamento
diferentes maneiras de se expressar, de fazer e de agir, busca dar
filosófico é, portanto,
significado àquele que se aproxima de sua obra, suas ideias. Sobre
comportamento
Filosofia e criatividade. Lipman (1988, p. 73) afirma que:
artístico, e o
comportamento
A Filosofia é uma forma de arte; comportamento
filosófico é, portanto, comportamento artístico,
artístico produz
e o comportamento artístico produz obras obras de arte que
de arte que revelam criatividade; as crianças revelam criatividade.
podem comportar-se filosoficamente e, quando
assim o fazem, segue-se que o produto de tal
comportamento revelará criatividade.

Ao defender e propor um caminho para que as crianças filosofem, Lipman


formulou uma crítica aos pressupostos teóricos da tradição filosófico-pedagógica
ocidental. Sua crítica contém três aspectos importantes:

• coloca-se contra o modelo de (ir)racionalidade filosófica adulta;

• questiona as concepções filosóficas instrumentalistas da infância; e


97
Metodologia do Ensino de Filosofia

• consegue colocar sua objeção às pedagogias tradicionais.


O caminho que Lipman propõe é o de reconhecer o estatuto filosófico do
pensamento infantil por parte da Filosofia. Portanto, ao pensar com e contra a
tradição filosófica, apresenta o seu forte imperativo desse empreendimento crítico,
pois não há Filosofia sem negação de ideias, sem contraposições e rupturas
com o estabelecido. A atitude filosófica manifesta-se sempre como resistência,
questionamento e oposição ao estabelecido.
Tendo trabalhado longos anos com Filosofia para crianças, Lipman constata
que elas são capazes de manifestar os comportamentos cognitivos que são
reconhecidos como filosóficos que são: fazer pressuposições, classificar conceitos,
elaborar argumentos; fazer implicações, definir, solicitar razões, dar razões, avaliá-
las; procurar determinar a validade das inferências, classificar, formular hipóteses.
Temos então, crianças vivenciando e praticando essa capacidade inerente ao
ser humano, que é a de filosofar. Para Lipman (1994, p. 87) crianças e filósofos
apresentam muitos aspectos em comum:

É um engano supor que a razão pudesse ser datada, que


pudéssemos identificar o instante exato do nascimento do
pensamento racional no ser humano. A criança começa a pensar
filosoficamente desde quando é capaz de falar e perguntar.

Sim! Crianças e filósofos têm muito em comum. Tanto quanto a criança que
está no início de sua vida, livre de preconceitos; os filósofos também desejam
estar nessa condição, libertando-se das falsas crenças, das falsas ideias e das
ilusões. Tais e quais os filósofos que estão sempre indagando e questionando, as
crianças possuem uma curiosidade que lhes é inerente.

Se você quiser aprofundar seus estudos sobre o Ensino de


Filosofia leia a tese de doutorado de Silvio Wonsovicz que tem como
título: O Ensino de Filosofia na escola fundamental: O projeto de
educação para o Pensar em Santa Catarina (1989-2003) – A proposta, a
crítica, contradições e perspectivas. Campinas, 2004. Tese (doutorado).

Atividade de Estudo

1) O que significa analisar a criança a partir da Filosofia?


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2) Como a criança é concebida histórica e culturalmente pelo


pensamento adulto?

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Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

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3) Quem era reconhecido como cidadão na antiga Grécia?


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4) E como era considerada a figura da criança na Antiga Grécia?


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5) Como o filósofo Dewey aborda a infância no período


contemporâneo da Filosofia?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

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6) Como é visto o filosofar por Lipman?


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7) Destaque as críticas que Lipman discorre sobre a educação:


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8) Qual é o caminho proposto por Lipman para a educação?


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9) O que o prof. Dr. Lipman constata a partir de seus trabalhos com


crianças?
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Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

10) Qual a afinidade que as crianças possuem com os filósofos?


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Apresentamos até então algumas ideias de Lipman sobre a Filosofia


na escola. Não podemos deixar de considerar que este pensamento
sofre um conjunto de críticas e avaliações. A seguir apresentamos
algumas reflexões e orientações para o filosofar vivo na sala de aula.

Diretrizes Filosófico-Metodológicas
Filosofia não é pura abstração, pelo contrário, ela pensa profundamente
a realidade e tudo o que acontece concretamente. O filósofo é visto como um
curioso, um pesquisador, um indagador, um admirado-admirador que questiona
constantemente o mundo e a si mesmo. Nesta mesma perspectiva da tradição
filosófica, a Filosofia não consistia somente em formular teorias, mas também,
era uma postura prática, uma ação em favor da transformação da realidade. A
Filosofia sempre se preocupou com a política, com a justiça, com as leis e com a
felicidade humana.
Filosofar, para Marx, não consistia somente em pensar a realidade, mas
também em transformá-la. Até então, a Filosofia tinha pensado apenas a realidade,
e a partir daí, passou-se a dar grande importância à sua ação transformadora.
Filosofar é pensar profunda e sistematicamente a realidade, é partir do
pressuposto de que não se pode agir sem se compreender, como não se pode
compreender sem agir. Por isso, filosofar é captar a realidade e agir a partir dela,
trabalhar e transformá-la de tal forma que a torne habitável.
Filosofar exige também, o estudo da história da Filosofia, a produção
sistemática de trabalhos com viés acadêmico, a análise e a interpretação de textos
filosóficos, tudo isso deve ocorrer, respeitando-se as faixas etárias e os momentos
propícios. Deve-se ter presente a ideia de processo filosófico, ao qual, cada
101
Metodologia do Ensino de Filosofia

indivíduo está sendo submetido, considerando-se a idade e a realidade de cada


um. Filosofar começa por uma opção ética, tomada consciente ou inconsciente,
diante da realidade em que se vive.
O filosofar começa com crianças, adolescentes e jovens que são concretos, de
carne e osso, com suas capacidades e limitações psicológicas de entendimentos,
relacionamentos, maturidade. Eles vivem uma determinada circunstância
existencial e filosofarão conforme a opção ética já feita, por exemplo, em favor
do capitalismo ou do socialismo. Tais escolhas influenciarão o filosofar, a temática
escolhida, as leituras, os enfoques, as defesas, os desejos e sonhos.
A metodologia filosófica distingue-se de um manual de técnicas pedagógicas
válidas para esta ou aquela situação escolar. Portanto, o método deve suprir uma
necessidade interna, e não um simples capricho vindo de fora. Seria inútil querer
que os alunos dominassem técnicas, sem que compreendessem a razão de ser
que é implícita no modo de pensar filosófico. Porque assim, a metodologia filosófica
não tem existência em si, nem autonomia em relação à disciplina. Ao manifestar
esta preocupação metodológica, superamos a ambição utilitarista e pragmática,
pois o movimento pelo qual, a reflexão espontânea ocorre, num primeiro momento,
precisa ser transformada considerando-se o processo dentro de um pensamento
filosófico. Alunos que têm oportunidades de refletirem sobre suas experiências,
suas vidas, desde os primeiros anos escolares; que fazem exercícios filosóficos,
que compartilham suas reflexões na Comunidade de Aprendizagem Investigativa;
que estão em contado com professores atentos e preparados para coordenarem o
trabalho, estarão impregnando-se de Filosofia e de um melhor filosofar.
Ao defender que os alunos podem e devem filosofar, justifica-se um programa
filosófico-pedagógico para a realidade escolar. Afirmamos que o filosofar começa
quando a criança é capaz de formular perguntas do tipo: Como é isso? Porquê?
ou quando a criança faz questionamentos existenciais, colocando problemas a
partir de sua experiência. Uma estrutura escolar que não valoriza nem prioriza a
pergunta, a investigação, o tempo de maturação das ideias faz com que os alunos
deixem de lado as dúvidas e os questionamentos.
Buscar um ensino filosófico impõe suas dificuldades específicas, que
podem, muitas vezes, levar ao desânimo ou à ilusão; mas pode também, oferecer
agradáveis surpresas tanto aos estudantes, quanto aos professores, pois à
medida que começa a haver uma formação filosófica, mesmo sendo a Filosofia,
uma disciplina que exige abstração, vão se respondendo às interrogações e aos
interesses existenciais, envolvendo convicções e valores pessoais.
Aprender a filosofar Porém, a Filosofia, desde sua origem, apresentou-se como uma
é conseguir, atividade do espírito que exige que nos abstraiamos das opiniões
progressivamente imediatas, que nos afastemos das discussões espontâneas, pois elas,
apoderar-se da arte muitas vezes, são a expressão de nossos preconceitos e de nossas
de desenvolver crenças irrefletidas.
aptidões de nosso
Tanto numa educação filosófica reflexiva, esta que buscamos
próprio espírito, a
por meio da Filosofia com crianças, adolescentes e jovens como
julgar e a raciocinar
na aprendizagem das ciências teóricas ou aplicadas é essencial
em geral, ou seja,
adotarem-se métodos que não sejam confundidos com meras técnicas
aprender a pensar
pragmáticas, aplicáveis a todos os problemas; mas, que conduzam
por si mesmo.
ao pensar ao raciocinar e ao refletir melhor sobre as questões da

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Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

vida. Aprender a filosofar não é apoderar-se e servir-se de um instrumento


para aumentar seu poder sobre as coisas ou sobre o outrem, mas é conseguir,
progressivamente apoderar-se da arte de desenvolver aptidões de nosso próprio
espírito, a julgar e a raciocinar em geral, ou seja, aprender a pensar por si mesmo.
Todo este processo deve ocorrer dentro de uma sala de aula transformada em
uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa.

Atividade de Estudo

1) A Filosofia não é pura abstração, pelo contrário, ela pensa


profundamente a realidade e tudo o que acontece concretamente.
Como é vista a figura do filósofo por esta concepção?
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2) Nesta mesma perspectiva da tradição filosófica em que consiste a


Filosofia?
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3) Qual o significado do filosofar para Marx?


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4) Dentro da concepção Educar para o Pensar, em que consiste o


filosofar?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

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5) Como Inicia o filosofar?


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Pré-Requisitos para um Filosofar Vivo


Fazer com que alunos, junto com professores, transpirem a cultura do pensar
em sala de aula na escola, exige uma nova visão diante do conhecimento e uma
postura socializante. Assim, busca-se:

• a igualdade de possibilidades diante do conhecimento (entre professores e


alunos), ainda que dispostos em sala de aula. Pois, só assim se constrói a
Comunidade de Aprendizagem Investigativa;

• a interiorização da prática do buscar as razões para aquilo que se afirma;

• a priorização do raciocínio;

• a descoberta das relações (causa/efeito, meio/fim, parte/todo, etc.) após cada


tema investigado, assim como o tecelão procura os pontos por trás do tecido.
Pensar é estabelecer relações;

• a apreciação das considerações dos outros e a criação de um ambiente em


que não se veja o outro como adversário, mas sim, como colaborador do
processo de enriquecimento do seu raciocínio. Deve-se ter a clareza de que
as certezas também podem ser frutos da investigação em comunidade;

• o conhecimento básico da Filosofia naquilo que ela pode colaborar com o bom
raciocínio e o bem agir, dentro de uma proposta emancipatória.
104
Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

Tanto os alunos, quanto o(s) professor(es), por meio do diálogo


promovido pela reflexão filosófica em comunidade, percebem a Por meio do diálogo
importância do outro, no conhecimento de si próprio e do mundo. Por promovido pela
isso, transformar a sala de aula em uma Comunidade de Aprendizagem reflexão filosófica
Investigativa tem consequências para todos os participantes: em comunidade,
percebem a
• ganham confiança em sua habilidade de pensar por conta própria, importância
por participarem de discussões ponderadas e reflexivas; do outro, no
conhecimento de si
• dá-se uma consideração mais cuidadosa àquilo que dizem os próprio e do mundo.
outros, assim como as suas próprias;

• progridem rapidamente na construção de um pensamento filosófico. À medida


que se dá o progresso, esses procedimentos são reforçados;

• atingem um padrão de desenvolvimento que lhes permite pensar por si


mesmos, auxiliados uns pelos outros.

Atividade de Estudo

1) O que se busca para Fazer com que alunos, junto com seus
professores, transpirem a cultura do pensar em sala de aula e na escola?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

2) Em que consiste tornar a sala de aula e a escola em Comunidade


de Aprendizagem investigativa?
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3) Qual a conseqüência desta transformação de sala de aula em


Comunidade de Aprendizagem Investigativa?
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Um Fio Condutor na Metodologia de


Ensino de Filosofia
A Filosofia que defendemos junto aos educadores e educandos considera a
realidade na qual estamos inseridos. A Filosofia da emancipação que buscamos
com nossos alunos é produzida por pensadores, educadores e cidadãos que
nutrem os mais elevados sentimentos e têm alto padrão ético. Defendemos que
o papel da Filosofia é produzir cidadania, consciência histórica, responsabilidade
moral, elevação ética, participação política e sensibilização estética na geração
atual e futura, bem como junto aos educadores das escolas.

a) Estratégias Utilizadas

• Valorizar, no educador e no educando, a atitude primeira do filósofo diante

106
Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

do mundo e de si mesmo, que é a de maravilhamento, de admiração, de


questionamento, de intriga e espanto.

• Levar o educador e o educando a diferenciar os termos sinônimos como forma


de fazer Filosofia elementar.

• Levar o educador e o educando a conhecer os grandes conteúdos filosóficos:


Teoria do Conhecimento, Lógica, Ética, Política e Estética.

• Levar ao educador e ao educando o conhecimento das habilidades de


raciocínio para que se aprimorem no seu uso.

• Valorizar a atitude criativa, levando educador e educando a buscarem


alternativas – “se não fosse assim, como seria?”, e a recombinar os dados
visando a novas possibilidades – “como eu poderia fazer diferente?”.

• Desencadear nos educadores e educandos uma postura crítica, desenvolvendo


a fluência na expressão, o entendimento da leitura filosófica, a audácia diante
do real, a luta pelas novas possibilidades e o rever e modificar atitudes.

b) Considerações na Hora de Planejar Aulas

• Esteja atento às datas comemorativas de grande relevância educativa e


proponha atividades especiais.

• Observar aulas para trabalhar os momentos de avaliação.

• Organizar no início do ano, na metade ou no final um grande evento em sua


classe ou na escola (sugestão: aproveite o dia da Filosofia [3ª quinta-feira de
novembro] para realizar esse evento).

• Usar materiais didáticos diversos como jogos, brincadeiras, histórias infantis,


sucatas, músicas, vídeos, teatro, fantoches, dinâmicas, entre outros.

• O material pedagógico é um pretexto e um pré-texto, portanto, A criatividade é


fundamental como caminho a ser percorrido e para que dele outras fundamental para a
criações possam surgir. elaboração dos seus
planos de aulas,
• Trabalhar com os alunos dando ênfase ao PROCESSO e não portanto dê asas
buscando um PRODUTO. Portanto, precisamos respeitar o ritmo para suas criações
de cada um e saber que há um momento de maturação. e ideias observando
no mundo a sua
• Lembre-se que a criatividade é fundamental para a elaboração volta, não apenas
dos seus planos de aulas, portanto dê asas para suas criações e dentro da sala
ideias observando no mundo a sua volta, não apenas dentro da de aula, mas em
sala de aula, mas em todos os lugares e momentos, novas formas todos os lugares
de tornar prazerosa a aprendizagem. Aproveite para fazer, junto e momentos,
com uma reflexão séria, um espaço de inovações. Comunique e novas formas de
partilhe suas descobertas e acertos. tornar prazerosa a
aprendizagem.
• Aprenda a ouvir sempre (em todos os momentos) os seus alunos.

107
Metodologia do Ensino de Filosofia

• Exerça a plasticidade nas discussões e investigações, dentro e fora de sala


de aula.

• Seja pedagogicamente enérgico e filosoficamente maleável (pensando no


Ensino Fundamental – 1º ao 7º ano).

• Seja filosoficamente enérgico e pedagogicamente maleável (pensando no


Ensino Fundamental – 8º / 9º ano e Ensino Médio).

• O texto filosófico a ser discutido são pretextos e um pré-texto. Portanto, são


fundamentais como caminho para ser percorrido e, deste caminho outras
criações e entendimentos possam surgir.

• Usar os livros como instrumentos de registro das investigações, reflexões,


buscas e criações.

• O ensino do filosofar quer contribuir com uma educação para a autonomia


e para o autoconhecimento, portanto é necessário estar atento para a
interdisciplinaridade, evitando a fragmentação e o reducionismo disciplinar.

• Procure fazer um registro ao final de suas aulas relatando situações que


lhe desafiaram, ideias relevantes de seus alunos, enfim, comentários de
experiências que poderão ser compartilhadas e, que certamente, contribuirão
para o enriquecimento dos trabalhos e que poderão ser acrescentados nos
planejamentos dos anos subsequentes.

Atividade de Estudo

1) Qual o papel defendido pelo programa filosófico Educar para o


Pensar?
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2) Destaque três ideias que você considera essencial na hora de


planejar as aulas de Filosofia.
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108
Capítulo 3 Caminhos e Metodologia
de Ensino de Filosofia

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Algumas Considerações
Ao longo deste caderno de estudos procuramos apresentar a nossa
experiência de ensino de Filosofia baseada no ‘Educar para o Pensar: Filosofia
com Crianças, adolescentes e Jovens’.
Nossa proposta foi de capacitá-los para o debate, o confronto de ideias; para
a dúvida, para o não-conformismo diante dos fatos, portanto, para a negação;
buscar uma participação no processo de criação do indivíduo, de uma nova relação
entre as pessoas, das instituições e os seus porquês. Desenvolver o ensino de
Filosofia nessa perspectiva é ir ao encontro de uma Filosofia viva, cativante, de
um ensino filosófico que questione as certezas, o instituído; que capacite para a
reflexão e para as mais diversas leituras e posicionamentos tomados diante dos
fatos – tudo isso vindo a despertar para uma instrumentalização da crítica, da
ampliação do universo experiencial e visão de mundo (WONSOVICZ, 2004).
Atualmente, presenciamos o ‘ressurgir’ do ensino da Filosofia nas escolas
públicas e particulares. Muitos caminhos teóricos e práticos precisam ser
trilhados; mas, a paideia é o grande ideal de formação filosófico-pedagógico. Por
fim, a “Filosofia precisa perguntar à educação como ela deve ser para atingir a
reflexão das crianças. Por isso, sem Filosofia não há Educação, como também,
sem Educação não há Filosofia.” (WONSOVICZ, 2004, p. 244).

Referências
FOLHA DE S. PAULO. Entrevista de Lipman concedida a Bernardo de Carvalho.
1º de maio de 1994, p.6.5.

LIPMAN, Mathew et al. A filosofia na sala-de-aula. São Paulo: Nova Alexandria,


1994.

LIPMAN, Mathew. A filosofia vai à escola. São Paulo: Summus, 1988.

SOUZA, Nivaldo A.de. A Criança como pessoa: na visão de Tomás de Aquino e


de Matthew Lipman. Florianópolis: Sophos, 2001.

WONSOVICZ, Silvio. O Ensino de Filosofia na escola fundamental: O projeto


de educação para o Pensar em Santa Catarina (1989-2003) – A proposta,
a crítica, contradições e perspectivas. 313 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Educação, Departamento de Filosofia e História da Educação, Unicamp,
Campinas, 2004.
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