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Comitê Científico:
Porto Alegre
2016
Diagramação e capa: Lucas Fontella Margoni
Fotografia de capa: Shinichi Maruyama
Revisão do autor
ISBN - 978-85-66923-98-8
CDD-107
Maurice Merleau-Ponty
para Raquel.
Daniel Pansarelli
18 Filosofia & Corporeidade
Maurice Merleau-Ponty
Introdução
Neste segundo momento do texto, parto das
produções relacionadas a Merleau-Ponty, os Ensaios em
corporeidade. De início, como o próprio título deste primeiro
texto nos admoesta, proponho uma compreensão da
fenomenologia. Base importante para as considerações
levantadas por nosso filósofo sobre o corpo. Para tal
empreitada, apresento duas aproximações à temática: a
primeira se relaciona com as origens do movimento
fenomenológico, principalmente as concepções de
Edmund Husserl; já na segunda, adentrarei o prefácio da
Fenomenologia da Percepção, buscando perceber em suas
palavras as intuições de Merleau-Ponty sobre a
fenomenologia.
Segunda aproximação:
a compreensão de Merleau-Ponty
33 MERLEAU-PONTY, 2006. p. 4.
34 MERLEAU-PONTY, 2006. p. 6.
35 MATTHEUS, 2010. p. 27.
36 CAPALBO, 2002. p. 22.
Daniel Santos Souza 35
37 MERLEAU-PONTY, 2006. p. 7.
38 MATTHEUS, 2010. p. 27
39 Cf. BUBER, Martin. Eu e Tu. 10ª ed. São Paulo: Centauro, 2006.
40 MATTHEUS, 2010. p. 27.
36 Filosofia & Corporeidade
41 MERLEAU-PONTY, 2006. p. 9.
42MERLEAU-PONTY, 2006. p. 10. Para compreender melhor a relação
existente entre a filosofia e a arte em Merleau-Ponty, Cf. MATTHEUS,
2010. p. 185-192.
43 MERLEAU-PONTY, 2006. p. 10.
44 MERLEAU-PONTY, 2006. p. 10.
Daniel Santos Souza 37
Maurice Merleau-Ponty
Para começar
A B
2005. p. 24-25.
139 MERLEAU-PONTY, 2006. p. 262.
72 Filosofia & Corporeidade
Para começar
Após as reflexões elaboradas a partir das intuições de
Merleau-Ponty a respeito da corporeidade, chega o
momento de levá-la(o), leitor(a), a uma outra parte deste
trabalho: os Ensaios em educação popular. De início, algo pode
causar estranheza: qual a relevância de se falar deste tema
em nossos dias? Qual a importância e o significado de uma
educação popular no contexto atual em que bases teóricas
e utópicas importantes de uma educação nestes caminhos
fragilizam-se, sinalizadas em uma reordenação
internacional, com o fim do “socialismo real” e as
transformações no capitalismo? Questões que não são
fáceis de serem respondidas. Com esta crise, volto a uma
indagação de Carlos Rodrigues Brandão: a permanência em
se falar de uma educação popular é “Lavrar no bolor?”.
Parece-me que o cheiro de armário envelhecido pode
permanecer no imaginário de quem com este trabalho se
relaciona.
O tempo é outro: aconteceu a derrocada da teoria da
dependência e o surgimento de uma nova lógica econômica,
o neoliberalismo. Uma desterritorialização e
transnacionalização de mercados simbólicos. Algo levantado
por Néstor Canclini. Para este antropólogo, não há mais uma
clareza binária entre opressores vs. oprimidos, colonizadores
vs. colonizados, imperialismo vs. culturas nacionais-
populares. As relações se constroem de maneiras mais
80 Filosofia & Corporeidade
Para começar
Chegamos à parte final deste trabalho. Uma proposta
de articulação e ampliação das palavras que foram
desenvolvidas até este momento a partir das intuições a
respeito dos modos de ser do corpo próprio nas reflexões
de Merleau-Ponty, e das anotações sobre a educação
popular propostas por Carlos Rodrigues Brandão. Para
realizar tal empreitada, aproximo-me do mundo da poética,
especialmente os caminhos literários de Murilo Mendes
(1901-1975), poeta mineiro de Juiz de Fora. O motivo:
encontro nele um método que orienta esta articulação final.
Talvez tenha apreendido esta aproximação entre poesia-
filosofia com o filósofo/teólogo brasileiro, Jaci Maraschin,
ou com o filósofo do além-mar: Martin Heidegger. Ou
ainda, este caminho seja algo distante destes outros
companheiros e seja apenas uma aproximação pessoal com
uma linguagem que é hermenêutica do mundo, da vida: a
poesia.
Explicações à parte, Murilo Mendes é um articulador
de contrários, busca ordenar o caos. Para isto, utiliza-se de
110 Filosofia & Corporeidade
Um corpo.
Outros corpos.
Vozes, 2014.
230 DOURADO, 2010. p. 133.
231BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido: e outras poéticas políticas. Rio de
Janeiro: Civilização brasileira. 2005. p. 19
A imagem desta folha é uma foto de uma performance da artista da
232
prática educativa era construída sem ser festa, sem ser uma
mística elaborada em uma grande ciranda, sem começo e
sem fim, em que todas as pessoas vivenciavam a dimensão
comunitária, a comunhão entre os corpos que se juntam e
se aproximam em prol de uma ruptura com modos de ser e
de educação hegemônicos.
Ao acontecer na dimensão da arte, da performance e
da ludicidade, a educação a partir dos corpos subalternos se
dá como poética. Para isto, permita-me recorrer a um
estudo sobre a poesia e as suas interpretações. Para
entender um pouco mais sobre esta vertente literária, me
aproximei dos textos de Octavio Paz, especialmente o seu
livro Signos em Rotação. Para ele, a poesia (o poema)
“apresenta-se como um círculo ou uma esfera: algo que se
fecha sobre si mesmo, universo auto-suficiente e no qual o
fim é também um princípio que volta, se repete e se recria”.
242
É a dança, o movimento, a reconstrução, a recriação. Ao
ser assim, a palavra que sintetiza o núcleo do poema é o
ritmo, que não está dissociado da frase, não é composto de
palavras soltas, nem só quantidade silábica, é a imagem e o
sentido. 243
Por essa razão, no poema, “o verso, a frase-ritmo,
evoca, ressuscita, desperta, recria”. 244 Assim, o poema é o
seu sentido, o círculo em movimento, ritmo carregado de
significado. Por isso um potencial de experiências, de
percepções na corporeidade. Aí, está além da palavra,
transpassando-a; sendo capaz de penetrar, estar, ou ser na
realidade. 245 A poesia não é conceito, não explica: ela é um
convite para recriar o percebido, para viver o que foi
sentido por meio de símbolos e imagens, numa profunda
242 PAZ, Octavio. Signos em rotação. São Paulo: Editora perspectiva, 1996.
p. 12-13.
243 PAZ, 1996. p. 13.
244 PAZ, 1996. p. 46.
245 PAZ, 1996. p. 50.
Daniel Santos Souza 133
Frantz Fanon
que não é, aquilo que faz falta, aquilo que acampa apenas a
saudosa memória ou a esperança... A partir da ausência,
cria-se, muda-se o contexto em que se vive. A partir do que
se deseja, o que se espera, há a transgressão da educação
presente. É a utopia (o que ainda não tem lugar) que traz
outras cores aos lugares (topos) e realidades que provocaram
o desejo.
É como se o “há de vir” vivesse nas entranhas de
quem se deixa interpelar e se transformar pelo desejo,
especialmente os corpos subalternos. Nasce, aí, um ‘novo’
corpo e um outro modo de viver/existir, transgressor da
realidade e educação dadas. O desejo reinventa, portanto,
um outro tempo: uma experiência que movimenta a existência.
Uma saudade-encontro que traz a paixão para a estrada, para
as práticas educativas que se vivenciam no cotidiano. Assim,
encerro este texto com um desejo que apresentei no início:
espero que as palavras destas folhas sejam acolhidas em sua
corporeidade, e se encarnem em suas vivências, em seu
mundo. Aí, o que foi escrito encontrará o seu horizonte, o
seu sentido, perdendo-se em quem o recebe, restando apenas
o significado e o compromisso em prol dos corpos
subalternos, “mergulhando este trabalho no grande rio da
conversação para que seja levado pela correnteza da realização
até o oceano do indizível”. 248
Sites consultados
http://www.reginajosegalindo.com/
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?secao=378
http://www.lumiarte.com/luardeoutono/oswald/manifant
ropof.html.