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LEGISLAÇÃO CIVIL

APLICADA II

Martha Luciana
Scholze
Revisão técnica:

Gustavo da Silva Santanna


Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional
e em Direito Público
Mestre em Direito
Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito

Miguel do Nascimento Costa


Bacharel em Ciências Sociais
Especialista em Processo Civil
Mestre em Direito Público

L514 Legislação civil aplicada II / Fabiana Hundertmarck Leal... [et


al.] ; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna,
Miguel do Nascimento Costa]. – Porto Alegre: SAGAH,
2018.
380 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-428-1

1. Direito civil. I. Leal, Fabiana Hundertmarck.

CDU 347

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB -10/2147


Registro de imóveis:
princípios e efeitos
do registro
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Demonstrar a importância do registro de imóveis.


 Explicar os princípios regentes do registro de imóveis.
 Analisar os efeitos jurídicos do registro de imóveis.

Introdução
O registro de imóveis é um ato de caráter público que visa dar publicidade
sobre a alteração da propriedade e a instituição de ônus reais sobre
imóveis. É a garantia real do direito do comprador sobre o bem adquirido
e a sua principal função, portanto, é ser o repositório fiel da propriedade
imóvel e dos negócios jurídicos a ela referentes. É no cartório de registro
de imóveis que a escritura se torna pública.
Neste capítulo, estudaremos sobre a importância do processo de
registro de imóveis, bem como conheceremos os seus princípios regentes
e efeitos jurídicos.

Importância do registro de imóveis


A Lei nº. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, comumente conhecida como Lei
dos Registros Públicos, dispõe sobre todos os registros públicos do nosso País,
assegurando a autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos relativos
a eles, como o registro civil de pessoas naturais ou jurídicas, o registro de
títulos e documentos e, ainda, o registro de imóveis. Os demais registros são
regidos por legislação própria.
338 Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro

Segundo Resende (2001), com o passar do tempo e o crescimento da po-


pulação, as melhores terras se tornaram fundamentais para o suprimento das
necessidades de alimentação das pessoas e também dos seus animais. Assim,
iniciou-se a estabilização do homem nas ditas terras boas, que ainda precisavam
ser aradas e fertilizadas para que produzissem continuamente. Nesse contexto,
as pessoas que possuíam mais recursos se convertiam em donos das áreas com
maior extensão e executavam benfeitorias para retirar o próprio sustento delas.
No Brasil, historicamente o surgimento do registro de imóveis ocorreu
no período colonial por intermédio da Igreja, que respondia pelos registros
públicos realizados no País, em especial os referentes a batismos, casamentos,
óbitos e imóveis. É importante ressaltarmos que na época a Igreja desfrutava de
importância vital para o bom funcionamento do Brasil Colônia. Com base em
relatos históricos, verificamos que somente com a Proclamação da República,
em 1889, deu-se a separação efetiva entre Igreja e Estado. Até então, todos os
registros civis eram realizados pelos vigários nas paróquias e apenas depois de
1889 surgiram documentos informando que o Estado criara registros públicos
exclusivos para a prática de atos civis.
No nosso País, o marco dos registros públicos se originou da necessidade de
estabelecer registros para os imóveis, dada a demanda de fixação das delimita-
ções da extensão de cada terreno particular e a existência de uma ocupação
geral de terras desordenada, feita sem planejamento durante a colonização.
O art. 5º, XXII, da Constituição Federal de 1988 garante a todos os brasilei-
ros e estrangeiros residentes no Brasil o direito de propriedade. Esse direito
concede ao proprietário do bem a faculdade de usá-lo e de retirar dele todo
o proveito que possa oferecer, empregando-o em seu próprio proveito ou de
terceiro autorizado pelo proprietário. Para isso, o proprietário pode aliená-lo por
renda ou doação ou, ainda, gravá-lo de ônus, como o que acontece quando se
oferece o bem como forma de garantia de uma dívida. Dessa forma, o sistema
registral brasileiro é de natureza mista, ou seja, ele pode ser:

Constitutivo: cria um direito e assim gera conhecimento para o Brasil e para o


mundo. É constitutivo em relação aos atos de oneração e às transmissões inter vivos.

Declarativo: limita-se a declarar a existência de um direito preexistente. É


um ato declaratório quando operado nas aquisições originárias e causa mortis,
bem como nos títulos de divisão judiciais ou extrajudiciais.

Portanto, podemos afirmar que os sistemas de registros servem para criar, mo-
dificar, declarar e extinguir direitos no plano da normalidade da vida em sociedade.
Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro 339

Cartório de registro de imóveis


Podemos definir cartório, serventia ou serviço público de registro de imóveis
como um estabelecimento público que presta um serviço igualmente público
ao elaborar o registro de bens imóveis (terrenos, casas, apartamentos, vagas de
garagens, lojas, etc.). Nesses locais, as pessoas acessam informações seguras sobre
a situação jurídica real desses bens. Conforme as lições de Ceneviva (2010), que
nos apresenta a Lei dos Registros Públicos (Lei nº. 6.015/1973) comentada, expõe
que o cartório judicial é administrado por um oficial de registro de imóveis,
que, de acordo com o art. 236 da Constituição, não é um funcionário público,
embora tenha ingressado na atividade mediante concurso público. Fundamentado
nessa lei, ele é considerado titular de uma função pública delegada pelo Estado,
ou seja, um particular em colaboração com a Administração Pública. Logo, o
seu trabalho é um serviço público não privativo.
Por ser uma serventia registral pública, o registro de imóveis lida com todas
as informações registrais referentes aos imóveis situados no território brasileiro
como públicas. Desse modo, elas estão ao alcance de qualquer cidadão sob a
exigência do pagamento de taxas e ganhos pertinentes.
É por meio dessas serventias registrais que os direitos reais sobre os imó-
veis se constituem, alteram ou extinguem. O registro de imóveis, por sua vez,
configura-se como depósito de todas as informações da propriedade dos imóveis
que fazem parte da sua zona de atuação com caráter de autenticidade e eficácia.
Assim, dependendo do tamanho das cidades, podem existir um ou mais serviços
de registros de imóveis no seu território. Geralmente, em cidades maiores, como
as capitais dos estados, observamos a existência de mais desses serviços. Para
regulá-los, as leis de organização judiciária dividem o território em circunscrições,
de maneira que cada serventia de registro de imóveis possui um limite territorial
determinado legalmente. Nesse sentido, o registro imobiliário é realizado sempre
no cartório do lugar onde o imóvel se localiza, sob pena de nulidade em hipótese
da não observação da lei.
A justificativa para a existência do registro de imóveis é a segurança da
aquisição da propriedade imobiliária por intermédio de atos oriundos de acordos
de vontade entre as partes. Ou seja, determinado imóvel pertencerá a certa zona
registral e isso será permanente, não sendo possível simplesmente “mudar” ou
“escolher” um registro de imóvel para a realização dos atos registrais.
Quando o objeto do registro é um bem móvel, a sua posse se adquire com
a mera entrega do bem ao seu adquirente, ato denominado tradição. Todavia,
na hipótese de bem imóvel, ele só pode ser adquirido com o registro de um
contrato pertinente no devido registro de imóveis. Por exemplo, se nos referi-
340 Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro

mos à compra e venda de um imóvel e o contrato ainda não está registrado, o


adquirente tampouco é o proprietário real do imóvel. Para isso, o título deve ser
encaminhado para registro e, então, o registrador iniciará o ato de qualificação
do título, de forma a constituir, modificar ou extinguir os direitos reais sobre
os imóveis. Ademais, também é função do oficial registrador examinar os
títulos e os documentos apresentados, além de verificar a sua registrabilidade,
evidenciando se são válidos estão de acordo com as disposições legais. Portanto,
ele verifica pontualmente a legalidade e a validade do título, procedendo ou
não ao seu registro. Para esses atos a sua competência é ampla.
Após o exame do título, o oficial registrador emite um julgamento: admite o
título como perfeito e apto a gerar o direito real pretendido e, assim, determina
o registro ou devolve o título ao apresentante para que ele seja complementado
com as exigências apontadas. O ato de devolução do título para o apresentante é
chamado de nota de impugnação, nota de exigência, nota devolutiva ou, ainda,
nota explicativa de exigência. Vale observarmos que o oficial é soberano e inde-
pendente em relação ao registro do título, com a consequente aceitação dele nas
condições apresentadas, ou à sua negação e posterior impugnação.
O ato de registrar ou transcrever em livro especial de instituição, órgão
ou cartório autentica e proporciona publicidade a atos, resguardando direitos
contra terceiros. Para Diniz (2004), o domínio da propriedade é o direito que a
pessoa física ou jurídica possui, dentro dos limites normativos, de usar, gozar e
dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem
injustamente o detenha. Assim, a lei concede ao ato jurídico a matrícula, que
compreende o registro ou a transcrição, ou seja, a sua publicidade. No caso de um
bem imóvel, fica constituído o direito real erga ommes, oponível contra todos.
Para o adquirente assegurar o direito à aquisição, ele deve registrar o imóvel no
cartório de registro de imóveis e, logo, dar publicidade à troca de proprietário.

Na Constituição Federal, no Código Civil e em legislações específicas, sempre en-


contraremos sustentação para garantir o direito à aquisição de um imóvel. Com
o desenvolvimento das cidades e as modificações no modo de vida das pessoas,
surgiram novos modelos de moradia, novas formas de aquisição e particularidades
relativas ao domínio sobre o bem, que pode ser individual ou coletivo. Ele é individual
quando pertence integralmente ao seu titular, sem nenhum condicionamento a outros
proprietários. Por outro lado, é coletivo caso, embora seja único, tenha vários titulares
possuidores do seu domínio ou dos seus direitos, seja em caráter transitório ou definitivo.
Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro 341

Princípios regentes do registro de imóveis


A Lei nº. 6.015/1973, que rege os registros públicos, apresenta-nos nos seus
artigos diversos princípios norteadores do serviço de registro público. Vejamos
quais são esses princípios.
Segundo o princípio da publicidade, determinado pelo art. 16 da lei
referida, os oficiais e os encarregados das repartições em que se façam os
registros são obrigados a lavrar certidão do que lhes for requerido e a forne-
cer às partes as informações solicitadas. No registro de imóveis, é por meio
da publicidade que o imóvel, as suas características, os direitos reais que
nele incidem, bem como o nome do proprietário se tornam de conhecimento
comum, pois qualquer pessoa pode requerer uma certidão sem informar ao
oficial ou ao funcionário o motivo do pedido. Esse princípio visa a proteção
dos interesses de terceiros, assegurando-lhes que as informações presente
nos registros públicos correspondem à realidade tanto em relação às pessoas
interessadas como a respeito do bem a que se referem.
O princípio da legalidade objetiva impedir que títulos inválidos, ineficazes
ou imperfeitos sejam registrados. Quando um título é apresentado para o seu
registro, ele é examinado para se verificar se está de acordo com a legislação
vigente ou da época da sua firmação. O art. 198 da Lei nº. 6.015/1973 prevê
que, havendo alguma exigência a ser cumprida, o oficial as indicará por escrito.
Assim, a validade do registro de um título fica condicionada à validade do
negócio jurídico causal. Se o negócio for nulo, o registro será igualmente nulo.
Logo, se o negócio for anulado, o registro também o será.
O princípio da especialidade consiste em assegurar a individualidade do
registro cujo imóvel é objeto. Os arts. 225 e 176, § 1º, II, 3, da Lei nº. 6.015/1973
discorrem sobre a individualização de cada imóvel para torná-lo inconfundível
a qualquer outro, exigindo a sua plena e perfeita identificação nos títulos apre-
sentados. Dessa forma, deve haver correspondência exata entre o imóvel objeto
do título e o imóvel do álbum imobiliário para que o registro seja levado a efeito.
O princípio da continuidade está previsto nos arts. 195, 222 e 237 da men-
cionada lei. Esses dispositivos determinam que o encadeamento entre assentos
pertinentes a um dado imóvel e as pessoas nele presentes é imprescindível,
formando uma continuidade ininterrupta de titularidades jurídicas de um imóvel.
O registro de título é viável apenas se contiver informações perfeitamente coin-
cidentes com as que constam na respectiva matrícula. Caso haja alguma sentença
transitada em julgado que anula um negócio jurídico, para que seja respeitado
o princípio da continuidade o registro é cancelado e, consequentemente, são
cancelados também todos os posteriores que se apoiem nele.
342 Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro

O princípio da prioridade precisa que o título está prenotado lançado no


livro protocolo e esta pré-notação, que é o número de ordem, determina a prio-
ridade do registro do título. Essa prioridade, por sua vez, define a preferência
dos direitos reais, beneficiando, assim, a pessoa que primeiro apresentar o seu
título, pois a prioridade é garantida pela ordem cronológica da apresentação
dos títulos, de forma a garantir a prioridade de exame e registro e a preferên-
cia do direito real, oponível perante terceiros. Quando um imóvel é vendido
pela mesma pessoa duas vezes, por exemplo, temos um caso de direito real
contraditório incompatível, sendo registrado o título que primeiro ingressar
no protocolo e devolvido o outro com os motivos da recusa, pois os títulos são
contraditórios no seu conteúdo, colidentes entre si. Podem suceder situações de
direitos reais contraditórios compatíveis, atribuídos pelo mesmo transmitente
a titulares diversos ou não, incidentes sobre o mesmo imóvel, como a hipoteca,
cujos direitos não se anulam reciprocamente, apenas se graduam.
Qualquer pessoa pode apresentar um título para registro, independente-
mente de qualquer formalidade. Eis que nos deparamos com o princípio da
instância, uma vez que o oficial precisa ser incitado por alguém para exercer
a sua função, não podendo agir ex officio, salvo exceções.
A Lei nº. 6.015/1973 elenca quais atos exigem registro, contudo não impõe
sanções ou penalidades diretas a quem não registrar algum dos títulos, uma
vez que o prejuízo pela indiligência é sofrido pelo próprio titular que não pro-
moveu o registro do seu título. Assim, temos o princípio da obrigatoriedade,
que serve para evitar que títulos não sejam registrados, visto que quem não
observar esse dever arca com o ônus da sua omissão.
Já o princípio da tipicidade propõe o registro dos títulos legalmente previstos,
conforme o art. 172 da Lei nº. 6.015/1973, estando ditos títulos relacionados no
art. 167 da mesma lei, que não apresentou, porém, todos os atos e títulos que
necessitam de registro. Como exemplo de título atípico, podemos citar a escritura
pública de cessão de direitos hereditários, que não é título hábil para o registro,
mas sim para a habilitação no processo de inventário. Dele resulta o formal de
partilha, que consiste no título típico para o registro da transmissão da propriedade.
A fé pública inerente ao registro e a presunção de domínio se relacionam
diretamente à validade do negócio jurídico. Como já comentamos, o título só é
registrado se atender aos requisitos legais, presumindo-se que é perfeitamente
válido o negócio jurídico que originou o título registrado, de modo a conferir
ao seu titular presunção e fé públicas. Dessa forma, compõe-se o princípio da
presunção e fé pública.
A propriedade e os seus direitos são transmissíveis apenas com o registro do
título e para que ele seja registrado é necessário que os direitos constantes dele
Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro 343

estejam disponíveis em nome do transmitente. Nesse sentido, o transmitente


não pode vender área maior que aquela que constar no registro, tampouco pode
vender um imóvel gravado com cláusula de inalienabilidade. Esse é o princípio
da disponibilidade.
Com a Lei nº. 6.015/1973, criou-se a matrícula de imóveis, acarretando o
princípio da inscrição. O art. 176 e os parágrafos seguintes desse diploma legal
explicitam os requisitos legais e obrigatórios a serem observados e satisfeitos
para a efetivação da matrícula, que tem por intuito cadastrar todos os imóveis
do território nacional, cujo controle e exatidão das informações disponibili-
zarão ao sistema registral brasileiro mais autenticidade, segurança e eficácia.
Finalmente, o princípio da territorialidade é definido no art. 169 dessa mesma
lei. Ele escreve que o registro do imóvel deve ser feito no ofício imobiliário da
circunscrição territorial a que pertencer o imóvel, estabelecendo exceções a isso
nos seus incisos I e II. Com isso, qualquer interessado pode tomar conhecimento
da situação física e jurídica de qualquer imóvel, uma vez que basta saber a qual
circunscrição pertence o imóvel para, então, dirigir-se ao ofício imobiliário com-
petente e solicitar uma certidão para conferir as informações que interessam.

A matrícula-mãe engloba um empreendimento no seu todo, incluindo a matrícula


originária do terreno antes da incorporação de condomínios ou loteamentos. Ela é
chamada assim porque apresenta a situação geral do imóvel, ou seja, antes da abertura
das matrículas das frações ideais destinadas às unidades futuras ou aos respectivos lotes.

Efeitos jurídicos do registro de imóveis


Nos cartórios de registros de imóveis, executam-se dois grandes atos: o registro
e a averbação, além da matrícula, que é o seu substrato, ou seja, o veículo ou
o elemento físico e formal que serve de base para a realização dos referidos
atos públicos e formais de registros e averbações.
A matrícula é um documento físico e público que consiste em uma ficha
de individualização ou especialização com a descrição perfeita do imóvel. É
a base física dos assentamentos registrais e contém a descrição do imóvel e a
enunciação da sua titularidade. Na matrícula do imóvel são lançados, registra-
dos, adicionados e escritos os registros e averbações, demonstrando a situação
jurídica real do imóvel. Cada matrícula conta com um número exclusivo de
344 Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro

ordem para pronta identificação e é por meio dela que identificamos todo o
rol de proprietários que o imóvel já possuiu. Portanto, os atos de averbação e
registros devem ser lançados na matrícula do imóvel.
A averbação é o ato que escritura alterações, acréscimos e extinções do
ato de registro referentes ao imóvel ou às pessoas que constam na matrícula do
imóvel. O ato de averbar ocorre na necessidade de fazer constar na matrícula
do imóvel ou registro a ocorrência de atos que modifiquem o imóvel. Essas
inclusões alteraram o registro e a própria matrícula. A averbação ainda pode
ser feita em casos como inclusão de habite-se, mudanças ou ajustes de nome,
modificações de estado civil decorrentes de casamento ou divórcio, alterações
viárias, dentre outras. Ela também informa situações formais sobre eventuais
cancelamentos de hipoteca, penhoras, arresto, etc.
O registro tem por finalidade escriturar os atos translativos ou declarató-
rios. Trata-se de um ato cartorial realizado na matrícula do imóvel que declara
quem é o proprietário formal e legal do imóvel e informa se a propriedade
desse bem está sendo transmitida de uma pessoa a outra.
Com base no art. 167, I, da Lei nº. 6.015/1973, além das matrículas dos
imóveis podem ser efetuados os seguintes registros no registro de imóveis:

 instituição de bem de família;


 hipotecas legais, judiciais e convencionais;
 contratos de locação de prédios, nos quais tenha sido consignada cláusula
de vigência no caso de alienação da coisa locada;
 penhor de máquinas e de aparelhos utilizados na indústria, instalados
e em funcionamento, com os respectivos pertences ou sem eles;
 penhoras, arrestos e sequestros de imóveis;
 servidões em geral;
 usufruto e uso sobre imóveis e habitação quando não resultarem do
Direito de Família;
 rendas constituídas sobre imóveis ou a eles vinculadas por disposição
de última vontade;
 contratos de compromisso de compra e venda, de cessão deles e de pro-
messa de cessão, com ou sem cláusula de arrependimento, que tenham
por objeto imóveis não loteados e cujo preço tenha sido pago no ato da
sua celebração ou deva sê-lo a prazo, de uma só vez ou em prestações;
 enfiteuse;
 anticrese;
Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro 345

 convenções antenupciais;
 cédulas de crédito rural e industrial;
 contratos de penhor rural;
 empréstimos por obrigações ao portador ou debêntures, inclusive as
conversíveis em ações;
 incorporações, instituições e convenções de condomínio;
 contratos de promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de
unidades autônomas condominiais a que alude a Lei nº. 4.591, de 16 de
dezembro de 1964, quando a incorporação ou a instituição de condo-
mínio se formalizar na vigência desta Lei;
 loteamentos urbanos e rurais;
 contratos de promessa de compra e venda de terrenos loteados em
conformidade com o Decreto-lei nº. 58, de 10 de dezembro de 1937,
e respectiva cessão e promessa de cessão, quando o loteamento se
formalizar na vigência desta Lei;
 citações de ações reais ou pessoais reipersecutórias relativas a imóveis;
 sentenças de desquite e de nulidade ou anulação de casamento quando, nas
respectivas partilhas, existirem imóveis ou direitos reais sujeitos a registro;
 julgados e atos jurídicos entre vivos que dividirem imóveis ou os de-
marcarem, inclusive nos casos de incorporação que resultarem em
constituição de condomínio e atribuírem uma ou mais unidades aos
incorporadores;
 sentenças que nos inventários, arrolamentos e partilhas adjudicarem
bens de raiz em pagamento das dívidas da herança;
 atos de entrega de legados de imóveis, dos formais de partilha e das
sentenças de adjudicação em inventário ou arrolamento quando não
houver partilha;
 arrematação e adjudicação em hasta pública;
 dote;
 sentenças declaratórias de usucapião;
 compra e venda pura e condicional;
 permuta;
 doação em pagamento;
 transferência de imóvel a sociedade quando integrar quota social;
 doação entre vivos;
 desapropriação amigável e sentenças que, em processo de desapropria-
ção, fixarem o valor da indenização.
346 Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro

O registro de imóveis visa garantir autenticidade, segurança e eficácia


aos atos jurídicos sujeitos ao regime da lei, o que se deve não só ao valor
elevado dos contratos imobiliários, mas também à intensa repercussão social
que eles motivam. Dessa forma, o art. 1º da Lei nº. 6.015/1973 determina
que “Os serviços concernentes aos Registros Públicos, estabelecidos pela
legislação civil para autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos,
ficam sujeitos ao regime estabelecido nesta Lei” (BRASIL, 1973, documento
on-line).
Por essas questões, é importante que o profissional que trabalha com a
venda de imóveis conserve um relacionamento saudável com os cartórios e
registros de imóveis. Nesses termos, Almeida (2016) afirma que corretores
precisam dos serviços fornecidos pelos cartórios e a qualidade deles também
impacta no serviço prestado aos seus clientes, uma vez que os cartórios são
fontes de informações e soluções no decorrer do negócio imobiliário. Nesse
sentido, os registros públicos são uma forma de garantir aos contratantes
apoio estatal para que exerçam as suas atividades com segurança, uma vez
que são respaldados em lei e, com a formação probatória, poderão requerer
o exercício dos seus direitos em juízo, caso seja necessário.

Especialidade objetiva
a) descrição simplificada
b) descrição técnica

Especialidade subjetiva
(titulares do domínio)

Especialidade do fato
A partir daqui:
jurídico (títulos
registros e averbações
registráveis)
(a vida do imóvel)

Figura 1. Características fundamentais da matrícula de imóveis.


Fontes: Adaptada de Reinaldo (2015, documento on-line).
Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro 347

Carlos vendeu um imóvel residencial a Pedro, que o pagou à vista, mas nunca procedeu
ao ato de registro da escritura pública de compra e venda junto ao cartório de registro
de imóveis competente. Quais são os riscos que Pedro está correndo?
Conforme o art. 1.245, § 1º, do Código Civil, enquanto o título não for registrado o alienante
(vendedor Carlos) continuará a ser considerado dono do imóvel. Assim, se não houver o
registro no nome do adquirente, a propriedade permanece no registro imobiliário no nome
do vendedor (Carlos), respondendo inclusive por dívidas dessa pessoa. Portanto, o imóvel
pode até mesmo ser penhorado ou arrematado judicialmente sem que o comprador saiba
da situação. Além disso, caso o vendedor Carlos use de má-fé sabendo que o comprador
Pedro ainda não registrou o imóvel no seu nome, ele pode, fraudulentamente, vender o
imóvel novamente a uma terceira pessoa (terceiro de boa-fé). Então, se o terceiro, com boa-fé,
registrar o título referente à compra e venda antes que Pedro, será legalmente considerado
o proprietário do imóvel, restando ao adquirente Pedro reclamar do transmitente trapaceiro
Carlos tão somente o direito de reaver perdas e danos.

1. Fundamentado nos termos da Lei d) Os imóveis só podem ter


nº. 6.015/1973 sobre registro de matrícula se preenchidos
imóveis, assinale a alternativa correta. requisitos como: ser loteamento
a) A matrícula é o documento legalizado, ter tamanho
pelo qual se cede a outrem os máximo previsto no Plano
direitos de um imóvel que lhe Diretor e ter sido realizada a
pertence, tornando possível quitação dos encargos sociais.
a transmissão entre vivos. e) As partes podem registrar
b) As certidões extrajudiciais no cartório de registro de
referentes a hipoteca e penhora, imóveis o contrato de gaveta,
que são emitidas pelos tabeliães, pois se tornam garantia
não possuem valor judicial de aquisição do bem.
porque são extrajudiciais. 2. Basta ao interessado saber a qual
c) A matrícula é o ato jurídico circunscrição o imóvel pertence para
mais importante que existe no solicitar certidão sobre a situação
Direito Imobiliário brasileiro, física e jurídica do imóvel. Essa
visto que é por intermédio afirmativa se refere ao princípio da:
dela que cada imóvel é a) instância.
perfeitamente caracterizado. b) disponibilidade.
348 Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro

c) presunção. 4. Qual é o princípio que visa impedir


d) obrigatoriedade. o registro de títulos inválidos,
e) territorialidade. ineficazes ou imperfeitos e
3. De acordo com a Lei de Registros examinar se estão de acordo
Públicos (Lei nº. 6.015/1973) e as com a legislação vigente ou da
suas alterações, no que diz respeito época da sua firmação?
aos títulos, somente se admitem a) Princípio da boa-fé.
registros de documentos, em b) Princípio da publicidade.
sua maioria públicos, taxativos e c) Princípio da legalidade.
estabelecidos no art. 221, que são: d) Princípio da disponibilidade.
a) escritos particulares, autorizados e) Princípio da obrigatoriedade.
em lei, assinados pelas partes 5. Conforme a prática das transações
e testemunhas, com as firmas imobiliárias, na venda de um
reconhecidas, dispensado o imóvel a transferência da
reconhecimento quando se propriedade do bem se dá:
tratar de atos praticados por a) pela assinatura do contrato
entidades vinculadas ao Sistema de financiamento.
Financeiro da Habitação (SFH). b) pela lavratura da escritura
b) as sentenças que deferirem pública, que é o documento
a legitimação adotiva. máximo no qual consta o
c) as sociedades civis que histórico integral do imóvel.
revestirem as formas c) por meio da assinatura do
estabelecidas nas leis contrato de compra e venda
comerciais, salvo as anônimas. celebrado entre as partes.
d) os atos constitutivos e os d) no ato da averbação do
estatutos dos partidos políticos. imóvel na matrícula.
e) o contrato de parceria e) no momento em que a prefeitura
agrícola ou pecuária. municipal confecciona o auto de
vistoria denominado habite-se.
Registro de imóveis: princípios e efeitos do registro 349

ALMEIDA, E. C. DNA do corretor de imóveis. Porto Alegre: Soares, 2016.


BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de
outubro de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituição.htm>. Acesso em: 16 maio 2018.
BRASIL. Lei nº. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 31 dez. 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras pro-
vidências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.
htm>. Acesso em: 16 maio 2018.
CENEVIVA, W. Lei dos Registros Públicos comentada. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: direito das coisas. 19. ed. São Paulo: Saraiva,
2004. v. 4.
REINALDO, J. O que é e como funciona o Registro de Imóveis? Blog Maspimentel Corretor
De Imóveis, 1 out. 2015. Disponível em: <http://blog.maspimentel.com.br/o-que-e-e-
-como-funciona-o-registro-de-imoveis/>. Acesso em: 16 maio 2018.
RESENDE, J. M. Operações imobiliárias — I. Goiânia: AB Editora, 2001.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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