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MECÂNICA DOS

MATERIAIS

Douglas Andrini
Edmundo
Flambagem e
dimensionamento de
peças comprimidas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar o comportamento das colunas por meio da teoria de Euler


e o conceito de coluna ideal com apoio de pinos.
„„ Determinar o comprimento de flambagem em função dos vários
tipos de apoio.
„„ Analisar o comportamento das colunas, de forma realista, com a apli-
cação do estudo de cargas excêntricas.

Introdução
Se uma coluna começa a se deformar lateralmente, o deslocamento
pode ser grande o suficiente para conduzir a um colapso catastrófico.
Essa situação é denominada de flambagem — uma grande deformação
repentina de uma estrutura devido a um leve incremento de uma carga
existente de compressão. O fenômeno da flambagem não é limitado a
colunas, podendo ocorrer em vários tipos de estruturas e tomar mui-
tas formas. Por ser uma das maiores causas de falhas em estruturas,
estudar a flambagem é muito importante, principalmente na etapa de
dimensionamento.
Neste capítulo, você vai estudar o conceito e o comportamento de
colunas e ver como determinar o comprimento de flambagem em função
do tipo de apoio, além de aprender como aplicar o estudo de cargas
excêntricas.
2 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

Comportamento de colunas
Em suas formas mais simples, as colunas são barras longas, retas e prismá-
ticas submetidas a cargas axiais de compressão. Nas colunas, a condição de
estabilidade está relacionada à carga axial máxima que elas podem suportar,
de modo que fiquem na iminência de sofrer flambagem. Dessa forma, a flam-
bagem é denominada carga crítica, e depende das propriedades geométricas
da estrutura e do material que a constitui.
Entretanto, de acordo com Riley, Sturges e Morris (2003), a flambagem
de uma coluna não é causada pela deterioração estrutural do material do qual
a coluna é feita, mas sim pela degeneração de um equilíbrio estável para um
equilíbrio instável.

Colunas são os elementos estruturais submetidos a carregamentos, principalmente


axiais, de compressão (HIBBELER, 2010). O exemplo clássico dessas estruturas usadas
na construção civil são os pilares estruturais, presentes em quase todas as obras. Eles
têm a característica de receber grandes cargas normais e, em conjunto, de receber a
ação combinada de flexão oblíqua e esforços tangenciais, como o momento torsor
e o esforço cortante.

A flambagem de colunas é um fenômeno caracterizado por uma deflexão


lateral da estrutura, que geralmente ocorre em torno do eixo principal da
seção transversal, que tem menor momento de inércia e está relacionado ao
carregamento compressivo ao qual a estrutura está submetida. A flambagem
é considerada um fenômeno grave nas estruturas esbeltas e deve ser evitada a
todo custo, pois pode conduzir ao colapso dessas estruturas antes que a tensão
de escoamento do material que as constituem seja atingida.
Graig Junior (2003) e Riley, Sturges e Morris (2003) mencionam que os
estados de equilíbrio podem ser ilustrados com uma esfera em repouso sobre
uma superfície, conforme você pode ver na Figura 1. Na Figura 1a, a esfera
está em uma posição de equilíbrio estável no fundo da depressão do terreno,
porque a força da gravidade fará com que ela retorne à sua posição de equilíbrio
no caso de sofrer alguma perturbação. Já na Figura 1b, a esfera está em uma
posição de equilíbrio indiferente sobre o plano horizontal, porque permanecerá
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 3

em qualquer nova posição para o qual for deslocada, não tendendo a retornar
nem a se mover adiante de sua posição original. Na Figura 1c, a esfera está
em uma posição de equilíbrio instável no topo de uma elevação; se ela sofrer
alguma perturbação, a gravidade fará com que ela se mova para longe de sua
posição original, até que encontre uma posição de equilíbrio no fundo de
outra cavidade.

(a) (b) (c)


Figura 1. Estabilidade do equilíbrio: (a) equilíbrio estável; (b) equilíbrio neutro; (c) equilíbrio
instável.
Fonte: Riley, Sturges e Morris (2003, p. 465).

A carga na qual ocorre a transição do equilíbrio estável para o equilíbrio


instável é chamada de carga crítica (Pcr). Como essa perda de estabilidade
do equilíbrio é chamada de flambagem, também chamamos a Pcr de carga de
flambagem (GRAIG JUNIOR, 2003).

Determinação de carga crítica com o método de Euler


A equação de Euler para a determinação da carga crítica foi desenvolvida
para uma coluna ideal biarticulada, ou seja, suportada por pinos em ambas as
extremidades. Para incrementar esse conceito à equação de Euler, criou-se um
coeficiente denominado fator de comprimento efetivo, K, que faz uma corre-
ção da distância ao ser multiplicado por L. Assim, temos a seguinte fórmula:

Le = KL

A Figura 2 apresenta o comprimento efetivo característico de alguns ar-


ranjos de vínculos estruturais, que podem constituir a forma como algumas
colunas se encontram apoiadas. Se a carga axial P for menor que a carga
4 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

crítica (Pcr), a coluna permanecerá reta e terá seu comprimento reduzido sob
tensão axial uniforme (compressiva), conforme a Figura 2a. Na configuração
retilínea, P < Pcr, a coluna está em equilíbrio estável. Porém, se uma carga P =
Pcr for aplicada à coluna, a configuração retilínea passa a uma configuração de
equilíbrio neutro e configurações vizinhas, conforme indicado na Figura 2b.

P < Pcr x
P = Pcr

B
B

L
v(x)

x
A A
y, v(x)

a) Coluna ideal b) Configuração flambada

P
x
By
B
v(x)
P
L*

A x
Ay A
y, v(x)
Ax P
d) Diagrama de corpo e) Diagrama de corpo
livre de toda a coluna livre de parte da coluna

Figura 2. Comprimento de flambagem de coluna para várias condições de extremidade.


Fonte: Adaptada de Graig Junior (2003, p. 420).

É de grande importância compreender a flambagem de Euler. O carre-


gamento crítico para a coluna elástica ideal é, com frequência, chamado de
carregamento de Euler. O famoso matemático Leonhard Euler (1707-1783),
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 5

foi a primeira pessoa a investigar a flambagem de uma coluna esbelta e deter-


minar seu carregamento crítico (GERE, 2003). Quando a flambagem ocorre
na fase elástica do material, a carga crítica (Pcr) é dada pela fórmula de Euler:

2EI
Pcr =
(L)2

Onde:
E = módulo de elasticidade longitudinal do material em pascal.
I = menor dos momentos de inércia da secção em m4.
L= comprimento de flambagem da peça em metros.
Para determinar se uma peça irá sofrer flambagem ou compressão, temos
que calcular o seu índice de esbeltez e compara-lo ao índice de esbeltez crítico.
Esse índice de esbeltez é padronizado para todos os materiais. Se o índice de
esbeltez crítico for maior que o índice de esbeltez padronizado do material, a
peça sofre flambagem; se for menor, a peça sofre compressão.

Confira no link a seguir um vídeo que mostra a flambagem em colunas por meio da
resolução de um problema.

https://goo.gl/H1hNM8

Com a fórmula de Euler, você percebe que o carregamento crítico de uma


coluna é proporcional à rigidez de flexão EI e inversamente proporcional ao
quadrado do comprimento. Note que a resistência do material, representada
por uma quantidade como a tensão limite de proporcionalidade ou a tensão
de escoamento, não aparece na equação para o carregamento crítico. Por
isso, aumentar uma propriedade de resistência não aumenta o carregamento
crítico de uma coluna esbelta. Ele pode ser aumentado apenas aumentando
a rigidez de flexão, reduzindo o comprimento ou fornecendo apoio lateral
adicional (GERE,2003).
O mesmo autor ressalta ainda que a rigidez de flexão pode ser aumentada
usando um material “mais rígido”, ou seja, um material com maior módulo de
elasticidade (E), ou distribuindo o material de modo a aumentar o momento
6 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

de inércia I da seção transversal, da mesma forma que uma viga pode ser feita
mais rígida aumentando o momento de inércia.
O momento de inércia é aumentado quando o material é distribuído mais
distante do centroide da seção transversal. Dessa forma, um membro tubular
vazado é geralmente mais econômico para ser usado como uma coluna do que
um membro sólido tendo a mesma área de seção transversal.
Riley, Sturges e Morris (2003) apresentam um exemplo prático usando o
método de Euler. Imagine que uma coluna de aço estrutural (E = 29.000 ksi),
com 10 ft de comprimento, deve suportar uma carga axial de compressão P,
conforme ilustrado na Figura 3. A coluna tem seção transversal de 1 × 2 in.
A extremidade esquerda da coluna está engastada; o dispositivo de pino e
suporte na extremidade direita permite a rotação em torno do pino, mas evita
a rotação em torno do eixo vertical. Como determinar a carga máxima em
serviço para a coluna, se for especificado um fator de segurança igual a 2 em
relação à flambagem?

10ft

y B

z
Figura 3. Ilustração da coluna do exemplo.
Fonte: Beer et al. (2015, p. 662).
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 7

A relação entre o fator de segurança e as cargas é dada pela equação (A):

Pu
FS =
Padm

Para que ocorra flambagem, a carga última (limite) Pu é a carga de Euler


Pcr, apresentada pela equação (B):

2EI
Pcr =
(L´)2

Substituindo a equação (B) na equação (A) e escrevendo essa equação de


outra forma, obtemos o seguinte:

2EI
Padm =
(L´)2 (FS)

O momento de inércia I e o comprimento efetivo L′ dependem do plano no


qual a coluna tenderá a sofrer flambagem: o plano xy ou o plano xz.
Se a flambagem ocorre no plano xy, a extremidade esquerda da coluna está
engastada e a extremidade direita está rotulada. Dessa forma, o comprimento
efetivo L′ é:

L′ = 0,7 L
0,7 (10) (12) = 84 in

E o momento de inércia I da seção transversal é:

I = 1/12 (bh3)
1/12 (1) (2)3 = 0,6667 in4

Portanto, para a flambagem no plano xy, temos:

2EI
Padm = =
(L´)2 (FS)

2 (29) (106) (0,6667)


Padm = 842(2) = 13.522 lb
8 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

Para a flambagem no plano xz, tanto a extremidade esquerda da coluna


como sua extremidade direita estão fixas (engastadas). Dessa forma, o com-
primento efetivo L′ é:

L′ = 0,5 L
0,5 (10) (12) = 60 in

E o momento de inércia I da seção transversal é:

I = 1/12 hb3
1/12 (2) (1)3 = 0,16667 in4

Portanto, para a flambagem do plano xz, temos:

2EI
Padm = =
(L´)2 (FS)

2 (29) (106) (0,6667)


Padm = (60)2(2) = 6.626 lb

Para uma coluna com essa seção transversal e essas condições de extremi-
dade, a flambagem ocorrerá no plano xz e a carga em serviço a ser aplicada
é: Padm = 6.626 lb, ou aproximadamente 6,63 kip.

Comprimento de flambagem em função


dos vários tipos de apoio
Antes de falarmos sobre comprimento de flambagem em função dos tipos de
apoio, é necessário entender alguns conceitos relacionados à flambagem. Tam-
bém conhecido pelo termo de encurvadura, esse é um fenômeno que ocorre
em peças esbeltas (peças em que a área de secção transversal é pequena em
relação ao seu comprimento), quando submetidas a um esforço de compressão
axial. A flambagem acontece quando a peça sofre flexão transversalmente
devido à compressão axial (GRAIG JUNIOR, 2003).
O mesmo autor menciona que os sistemas mecânicos e estruturas em geral
quando estão submetidos a carregamentos, podem falhar de várias formas. A
falha depende do material usado, do tipo de estrutura, das condições de apoio,
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 9

entre outras considerações. Quando se projeta um elemento, é necessário que


ele satisfaça requisitos específicos de tensão, deflexão e estabilidade.
Você viu a fórmula de Euler para uma coluna articulada em ambas as extre-
midades. Agora, você vai ver a força crítica (Pcr) para colunas com diferentes
condições de extremidade.
Os carregamentos críticos para colunas com várias condições de apoio,
segundo Gere (2003), podem ser relacionados com o carregamento crítico de
uma coluna apoiada por pinos com um conceito chamado de comprimento
efetivo. Para demostrar essa ideia, considere a forma defletida de uma coluna
engastada na base e livre no topo (Figura 4a). Essa coluna flamba em uma
curva, que é um quarto de uma onda senoidal completa. Caso se estenda a curva
de deflexão (Figura 4b), ela se torna metade de uma onda senoidal completa,
que é a curva de deflexão para uma coluna apoiada por pinos.

P P

A A

B B
Le = 2L

(a) (b)

A’

P’
Figura 4. Curvas de deflexão mostrando o comprimento efetivo
Le para uma coluna engastada na base e livre no topo.
Fonte: Beer et al. (2015, p. 666).
10 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

O comprimento efetivo (Le) para qualquer coluna é o comprimento da coluna apoiada


por pinos equivalentes, ou seja, é o comprimento de uma coluna apoiada por pinos
tendo uma curva de deflexão que coincide exatamente com toda ou parte da curva
de deflexão da coluna original (GERE, 2003).

Beer et al. (2015) mencionam que o comprimento de flambagem Lft da co-


luna da Figura 5 é igual a 2L. Assim, substituímos Lft = 2L na fórmula de Euler.

2EI
Pcr =
(Lft)2

O comprimento efetivo é expresso com frequência em termos de um fator


de comprimento K, onde Le = KL, e L é o comprimento real da coluna. O fator
K é igual a 2 para uma coluna engastada na base e livre no topo, e igual a 1
para uma coluna apoiada por pinos (GERE, 2003).
A tensão crítica é:

 2E
αcr = L
r( )
ft 2

A relação Lft/r é conhecida como índice de esbeltez da coluna, sendo esta


igual a 2L/r. Vamos supor que uma coluna, com duas extremidades engastadas,
A e B, suporta uma força P, conforme indicado na Figura 5a. De acordo com
Beer et al. (2015), a simetria dos vínculos e do carregamento em relação a um
eixo horizontal que passa pelo ponto médio C requer que a força cortante em
C e os componentes horizontais das reações em A e B sejam zero, conforme
indicado na Figura 5b. Logo, você pode concluir que as restrições impostas
na metade superior AC da coluna, com engastamento em A, e pela metade
inferior CB são idênticas (Figura 5c).
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 11

P
P
M
A A
L/2 P
M
L C L C A
L/4
D
L/4
B B C
M’ M
P’ P’

Figura 5. Exemplo de coluna, onde: (a) coluna com extremidades engastadas; (b) diagrama
de corpo livre da coluna flambada de extremidades engastadas; (c) diagrama de corpo livre
da metade superior da coluna de extremidades engastadas.
Fonte: Beer et al. (2015, p. 666).

Dessa forma, a parte AC, de acordo com Beer et al. (2015), deve ser si-
métrica em relação ao seu ponto médio D, e esse ponto deve ser um ponto
de inflexão, em que o momento fletor é zero. De forma semelhante, você
percebe que o momento fletor no ponto médio E da metade inferior da coluna
também deve ser zero (conforme indicado na Figura 6a). Como o momento
fletor nas extremidades de uma coluna biarticulada é zero, conclui-se que a
parte DE da coluna indicada na Figura 6a deve comportar-se como uma coluna
biarticulada (Figura 6b).
12 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

P
P

A
D D
1
L C 2
L Lfl = 12 L

E E
B

(a) (b)
Figura 6. Comprimento de flambagem de uma coluna de extremidade
engastada, de comprimento L, equivalente a uma coluna biarticulada
de comprimento L/2.
Fonte: Beer et al. (2015, p. 666).

Logo, você pode concluir que o comprimento de flambagem de uma coluna com
duas extremidades engastadas é Lft = L/2.

A mesma coluna, quando apoiada de maneiras diferentes, responde de


diferentes formas em relação às cargas de compressão, podendo favorecer ou
desfavorecer o dimensionamento da coluna. Os menores carregamentos críticos
e comprimentos efetivos correspondentes para as quatro colunas principais
são remidos no Quadro 1.
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 13

Quadro 1. Carregamentos críticos, comprimentos efetivos e fatores de comprimento efe-


tivos para colunas ideais

(a) Coluna (b) Coluna (c) Coluna (d) Coluna


apoiada por engastada livre engastada engastada-
pinos em ambas em ambas as apoiada por
as extremidades extremidades pinos

2EI 2EI 42EI 2.0462EI


Pcr = Pcr = Pcr = Pcr =
L
2
4L 2
L2
Lft2

A
P
P
P
L
A
A
B Lfl = 2L A

Lfl = 0,7L
Lfl = L
Lfl = 0,5L

B B B

Le = L Le = 2L Le = 0,5L Le = 0,699L

K=1 K=2 K = 0,5 K = 0,699

Fonte: Adaptado de Gere (2003, p. 563), e Beer et al. (2015, p. 668).

Comportamento de colunas com


aplicação de cargas excêntricas
Muitas colunas reais não se comportam como o previsto pela fórmula de
Euler, devido a imperfeições no alinhamento das cargas (RILEY; STURGES;
MORRIS, 2003). Suponha que uma coluna é comprimida por carregamentos
P, que são aplicados com uma pequena excentricidade (e), medida a partir
do eixo da coluna. Cada carregamento axial excêntrico é equivalente a um
carregamento excêntrico P e um binário de momento Mo = Pe . Esse momento
existe a partir do instante em que o carregamento é primeiramente aplicado,
14 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

e, por isso, a coluna começa a defletir na aplicação do carregamento (Figura


7). A deflexão então se torna permanentemente grande, à medida que o car-
regamento aumenta (GERE, 2003).

P P P
MA = Pe
e MA = Pe
A A A

L ymáx

B B B
MB = Pe MB = Pe

P’ P’ P’

Figura 7. Coluna com carregamentos axiais excêntricos.


Fonte: Beer et al. (2015, p. 676-677).

Quando a excentricidade, e, é zero, você tem a coluna de Euler. Mas quando


e = 0, você utiliza o diagrama do corpo livre para obter o seguinte:

(Σ M)A = 0
M(x) = −P[e + v(x)]

Onde:
v = deflexão da coluna (positiva quando na direção positiva do eixo x).
As deflexões da coluna são negativas quando a excentricidade do carre-
gamento é positiva. A equação diferencial da curva de deflexão é dada por:

Elvʺ = M
Pe – Pv ou vʺ + k2v = k2e
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 15

Onde:

k2 = P/EI.

A solução da homogênea e a solução particular para essa equação diferencial


são dadas da seguinte maneira:
Solução homogênea:

yh = C1 sen kx + C2 cos kx

Solução particular:

yp = −e

A solução completa dessa equação fica assim:

y(x) = C1 sen kx + C2 cos kx − e

A partir das condições de contorno para o caso de barras birrotuladas,


temos:

y = 0 em x = 0 → C2 = e
y = 0 em x = l → C1 = e tg (kl/2)

A equação da linha elástica fica assim:

y(x) = e ((tg kl/2) sen kx + cos kx – 1)

Gere (2003) menciona que, para uma coluna com carregamentos P conhe-
cidos e excentricidade e conhecida, pode-se usar essa equação para calcular
a deflexão em qualquer ponto ao longo do eixo x. O comportamento de uma
coluna com um carregamento excêntrico é bem diferente daquele de uma coluna
carregada no centroide. Cada valor do carregamento excêntrico P produz um
valor definido da deflexão, da mesma forma que cada valor de carregamento
em uma viga produz uma deflexão definida. Em contraste, as equações de
deflexão para colunas carregadas no centroide fornecem a forma do modo de
flambagem (quando P = Pcr), mas com a amplitude indefinida.
Quando a coluna possui extremidades apoiadas por pinos, seu carregamento
crítico (quando carregada no centroide) é:
16 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

2EI
Pcr =
L2

Para calcular a deflexão máxima de uma coluna, você utiliza esta equação:

(
ymáx = e sec 
2
P –1
Pcr )
Se limitarmos a tensão máxima ao valor da tensão de escoamento (no
caso de uma peça de aço, por exemplo), isto é, fazendo (σmax = σe), que ocorre
quando P = Pe, obtemos, então:

P σmáx
=
A
1+
ec
r2
sec
1
2 ( P Lfl
EA r )
Essa expressão pode ser utilizada para determinar a máxima carga Pe que
uma barra sujeita à compressão pode suportar.
Beer et al. (2015) apresenta um exemplo, como forma de facilitar o enten-
dimento. Imagine que uma coluna uniforme AB tenha 2,4 m de comprimento
e consiste em um tubo estrutural com a seção transversal conforme indicado
na Figura 8.

P
A P
e = 19mm
A

2,4 m y
A = 2284 mm2
B I = 3,3 × 106 mm4
B
100 mm c x r = 38 mm
c = 50 mm

100 mm

Figura 8. Exemplo de coluna com 2,4 m de comprimento.


Fonte: Beer et al. (2015, p. 681).
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 17

São dois os pontos que você quer saber:

1. A força centrada admissível para a coluna e a tensão normal corres-


pondente, usando a fórmula de Euler, com um coeficiente de segurança
igual a 2.
2. Considerando que a força admissível, encontrada na parte (a), é apli-
cada conforme mostra a Figura 8 em um ponto distante 19 mm do
eixo geométrico da coluna, é preciso determinar a deflexão horizontal
do topo da coluna e a tensão normal máxima na coluna. (OBS: será
adotado E = 200 GPa).

Comprimento de flambagem: como a coluna tem uma extremidade


engastada e outra livre, seu comprimento de flambagem é:

Le = 2(2,4 m) = 4,8 m = 4.800 mm

Forca crítica: usando a fórmula de Euler, tem-se:

2EI
Pcr =
L2fl

2 (200 kN/mm2) (3,3 ∙ 106 mm4)


Pcr = (4.800 mm)2
Pcr = 282,7

Análise:

1. Força e tensão admissíveis: para um coeficiente de segurança igual


a 2, tem-se:

Pcr 282,7 kN
Padm = = Padm = 141,36 kN
C.S. 2
e
Padm 141,36 kN
σ= = σ = 61,9 MPa
A 2284 mm
18 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

2. Força excêntrica: é possível perceber que a coluna AB e seu carrega-


mento são idênticos à metade superior da coluna. Porém, cabe ressaltar
que Padm /Pcr = ½, logo, é possível utilizar a equação que você vê na
Figura 9 para calcular a deflexão horizontal no ponto A.

Padm = 141,36 kN
e = 19 mm

Carga admissível aplicada sobre


a excentricidade assumida.

π P π
ym = e sec 1 = (19 mm) sec 1
2 Pcr 2√2
= (19 mm)(2,252 – 1) ym = 23,79 mm

Figura 9. Cálculo da deflexão horizontal no ponto A.


Fonte: Beer et al. (2015, p. 682).

A tensão normal máxima é obtida com esta equação:

σm =
P
A
ec
1 + 2 sec
r

2 ( P
Pcr ) =

141,36 kN
2.284 mm2
1+
(19 mm) (50mm)
(38 mm)2
sec

2√2
=
( )
(61,9 Mpa) [1 + 0,658(2,252)]

σm = 153,6 Mpa
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 19

1. Uma coluna foi construída utilizando um perfil W250 × 67 em aço ASTM


A-572, com comprimento de 5 m. Ela está submetida a uma carga axial de 579
kN. Considerando a base da coluna engastada e o topo da coluna apoiado
por pinos, determine o fator de segurança em relação à flambagem.
a) FS 4,23.
b) FS 3,20.
c) FS 1,32.
d) FS 2,24.
e) FS 1,19.
2. Uma coluna foi construída utilizando um perfil W250 × 67 em aço ASTM
A-572, com comprimento de 5 m. Ela está submetida a uma carga axial
de 579 kN. Determine o fator de segurança em relação à flambagem
primeiro considerando a coluna engastada em ambas as extremidades
e depois considerando a coluna engastada na base e livre no topo.
a) Coluna biengastada: FS 10,12. Coluna engastada na base e livre no topo:
FS 1,75.
b) Coluna biengastada: FS 10,12. Coluna engastada na base e livre no topo:
FS 1,75.
c) Coluna biengastada: FS 12,10. Coluna engastada na base e livre no topo:
FS 0,75.
d) Coluna biengastada: FS 0,75. Coluna engastada na base e livre no topo:
FS 12,10.
e) Coluna biengastada: FS 10. Coluna engastada na base e livre no topo: FS 4,22.
3. Calcule a carga P necessária para provocar a falha por flambagem ou por
escoamento da coluna W 200 × 22 composta de aço ASTM A-572, engastada
na base e apoiada no topo. O ponto de aplicação da carga P está 25 mm
excêntrico em relação ao centro da seção transversal na direção do eixo y-y.
E = 200 GPa
A-572: fy=350 MPa e fu=450 MPa
20 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas

a) P = 993,12 kN; tensão crítica: 347 MPa; tensão máxima: 486 MPa.
b) P = 1.233 kN; tensão crítica: 245 MPa; tensão máxima: 360 MPa.
c) P = 903,12 kN; tensão crítica: 337 MPa; tensão máxima: 417 MPa.
d) P = 893,13 kN; tensão crítica: 437 MPa; tensão máxima: 387 MPa.
e) P = 763,12 kN; tensão crítica: 337 MPa; tensão máxima: 587 MPa.
4. Uma coluna de madeira de seção transversal quadrada está apoiada por
pinos na base e no topo. A carga prevista que será aplicada nessa coluna será
de 325 kN. O comprimento da coluna é de 4,20 m. Determine a dimensão
da seção transversal com aproximação de 10 mm. Considere E = 12 GPa.
a) a = 210 mm.
b) a = 170 mm.
c) a = 200 mm.
d) a = 150 mm.
e) a = 160 mm.
5. Uma coluna de madeira engastada na base e no topo tem comprimento
de 3,60 m e seção transversal de 38 × 88 mm. Determine a carga excêntrica
máxima P que pode ser aplicada no topo sem provocar flambagem
ou escoamento da coluna. Considere E = 12 GPa e fy = 56 MPa.
a) P = 22,10 kN.
b) P = 14,62 kN.
c) P = 15,87 kN
d) P = 4,32 kN.
e) P = 24,64 kN.

BEER, F. P. et al. Mecânica dos materiais. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.
GERE, J. M. Mecânica dos materiais. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
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HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
RILEY, W. F.; STURGES, L. D.; MORRIS, D. H. Mecânica dos materiais. 5. ed. Rio de Janeiro:
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Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 21

Leituras recomendadas
LIMA, N. W. B. Ferramenta numérica para o estudo da flambagem de colunas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciência e Tecnologia) - Departamento de Ciências
Ambientais e Tecnológicas, Universidade Federal Rural do Semiárido, Mossoró, 2013.
YUNES, R, C. RIBEIRO, V. H. F. Análise de esforços estruturais e vibracionais em torre de suporte
para um sistema híbrido de turbina eólico e de corrente marítima. Trabalho de Conclusão
de Curso (Bacharelado em Engenharia Mecânica) - Centro Federal de Educação Tec-
nológica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro, 2014.
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