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Douglas Andrini
Edmundo
Flambagem e
dimensionamento de
peças comprimidas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Se uma coluna começa a se deformar lateralmente, o deslocamento
pode ser grande o suficiente para conduzir a um colapso catastrófico.
Essa situação é denominada de flambagem — uma grande deformação
repentina de uma estrutura devido a um leve incremento de uma carga
existente de compressão. O fenômeno da flambagem não é limitado a
colunas, podendo ocorrer em vários tipos de estruturas e tomar mui-
tas formas. Por ser uma das maiores causas de falhas em estruturas,
estudar a flambagem é muito importante, principalmente na etapa de
dimensionamento.
Neste capítulo, você vai estudar o conceito e o comportamento de
colunas e ver como determinar o comprimento de flambagem em função
do tipo de apoio, além de aprender como aplicar o estudo de cargas
excêntricas.
2 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas
Comportamento de colunas
Em suas formas mais simples, as colunas são barras longas, retas e prismá-
ticas submetidas a cargas axiais de compressão. Nas colunas, a condição de
estabilidade está relacionada à carga axial máxima que elas podem suportar,
de modo que fiquem na iminência de sofrer flambagem. Dessa forma, a flam-
bagem é denominada carga crítica, e depende das propriedades geométricas
da estrutura e do material que a constitui.
Entretanto, de acordo com Riley, Sturges e Morris (2003), a flambagem
de uma coluna não é causada pela deterioração estrutural do material do qual
a coluna é feita, mas sim pela degeneração de um equilíbrio estável para um
equilíbrio instável.
em qualquer nova posição para o qual for deslocada, não tendendo a retornar
nem a se mover adiante de sua posição original. Na Figura 1c, a esfera está
em uma posição de equilíbrio instável no topo de uma elevação; se ela sofrer
alguma perturbação, a gravidade fará com que ela se mova para longe de sua
posição original, até que encontre uma posição de equilíbrio no fundo de
outra cavidade.
Le = KL
crítica (Pcr), a coluna permanecerá reta e terá seu comprimento reduzido sob
tensão axial uniforme (compressiva), conforme a Figura 2a. Na configuração
retilínea, P < Pcr, a coluna está em equilíbrio estável. Porém, se uma carga P =
Pcr for aplicada à coluna, a configuração retilínea passa a uma configuração de
equilíbrio neutro e configurações vizinhas, conforme indicado na Figura 2b.
P < Pcr x
P = Pcr
B
B
L
v(x)
x
A A
y, v(x)
P
x
By
B
v(x)
P
L*
A x
Ay A
y, v(x)
Ax P
d) Diagrama de corpo e) Diagrama de corpo
livre de toda a coluna livre de parte da coluna
2EI
Pcr =
(L)2
Onde:
E = módulo de elasticidade longitudinal do material em pascal.
I = menor dos momentos de inércia da secção em m4.
L= comprimento de flambagem da peça em metros.
Para determinar se uma peça irá sofrer flambagem ou compressão, temos
que calcular o seu índice de esbeltez e compara-lo ao índice de esbeltez crítico.
Esse índice de esbeltez é padronizado para todos os materiais. Se o índice de
esbeltez crítico for maior que o índice de esbeltez padronizado do material, a
peça sofre flambagem; se for menor, a peça sofre compressão.
Confira no link a seguir um vídeo que mostra a flambagem em colunas por meio da
resolução de um problema.
https://goo.gl/H1hNM8
de inércia I da seção transversal, da mesma forma que uma viga pode ser feita
mais rígida aumentando o momento de inércia.
O momento de inércia é aumentado quando o material é distribuído mais
distante do centroide da seção transversal. Dessa forma, um membro tubular
vazado é geralmente mais econômico para ser usado como uma coluna do que
um membro sólido tendo a mesma área de seção transversal.
Riley, Sturges e Morris (2003) apresentam um exemplo prático usando o
método de Euler. Imagine que uma coluna de aço estrutural (E = 29.000 ksi),
com 10 ft de comprimento, deve suportar uma carga axial de compressão P,
conforme ilustrado na Figura 3. A coluna tem seção transversal de 1 × 2 in.
A extremidade esquerda da coluna está engastada; o dispositivo de pino e
suporte na extremidade direita permite a rotação em torno do pino, mas evita
a rotação em torno do eixo vertical. Como determinar a carga máxima em
serviço para a coluna, se for especificado um fator de segurança igual a 2 em
relação à flambagem?
10ft
y B
z
Figura 3. Ilustração da coluna do exemplo.
Fonte: Beer et al. (2015, p. 662).
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 7
Pu
FS =
Padm
2EI
Pcr =
(L´)2
2EI
Padm =
(L´)2 (FS)
L′ = 0,7 L
0,7 (10) (12) = 84 in
I = 1/12 (bh3)
1/12 (1) (2)3 = 0,6667 in4
2EI
Padm = =
(L´)2 (FS)
L′ = 0,5 L
0,5 (10) (12) = 60 in
I = 1/12 hb3
1/12 (2) (1)3 = 0,16667 in4
2EI
Padm = =
(L´)2 (FS)
Para uma coluna com essa seção transversal e essas condições de extremi-
dade, a flambagem ocorrerá no plano xz e a carga em serviço a ser aplicada
é: Padm = 6.626 lb, ou aproximadamente 6,63 kip.
P P
A A
B B
Le = 2L
(a) (b)
A’
P’
Figura 4. Curvas de deflexão mostrando o comprimento efetivo
Le para uma coluna engastada na base e livre no topo.
Fonte: Beer et al. (2015, p. 666).
10 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas
2EI
Pcr =
(Lft)2
2E
αcr = L
r( )
ft 2
P
P
M
A A
L/2 P
M
L C L C A
L/4
D
L/4
B B C
M’ M
P’ P’
Figura 5. Exemplo de coluna, onde: (a) coluna com extremidades engastadas; (b) diagrama
de corpo livre da coluna flambada de extremidades engastadas; (c) diagrama de corpo livre
da metade superior da coluna de extremidades engastadas.
Fonte: Beer et al. (2015, p. 666).
Dessa forma, a parte AC, de acordo com Beer et al. (2015), deve ser si-
métrica em relação ao seu ponto médio D, e esse ponto deve ser um ponto
de inflexão, em que o momento fletor é zero. De forma semelhante, você
percebe que o momento fletor no ponto médio E da metade inferior da coluna
também deve ser zero (conforme indicado na Figura 6a). Como o momento
fletor nas extremidades de uma coluna biarticulada é zero, conclui-se que a
parte DE da coluna indicada na Figura 6a deve comportar-se como uma coluna
biarticulada (Figura 6b).
12 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas
P
P
A
D D
1
L C 2
L Lfl = 12 L
E E
B
(a) (b)
Figura 6. Comprimento de flambagem de uma coluna de extremidade
engastada, de comprimento L, equivalente a uma coluna biarticulada
de comprimento L/2.
Fonte: Beer et al. (2015, p. 666).
Logo, você pode concluir que o comprimento de flambagem de uma coluna com
duas extremidades engastadas é Lft = L/2.
A
P
P
P
L
A
A
B Lfl = 2L A
Lfl = 0,7L
Lfl = L
Lfl = 0,5L
B B B
Le = L Le = 2L Le = 0,5L Le = 0,699L
P P P
MA = Pe
e MA = Pe
A A A
L ymáx
B B B
MB = Pe MB = Pe
P’ P’ P’
(Σ M)A = 0
M(x) = −P[e + v(x)]
Onde:
v = deflexão da coluna (positiva quando na direção positiva do eixo x).
As deflexões da coluna são negativas quando a excentricidade do carre-
gamento é positiva. A equação diferencial da curva de deflexão é dada por:
Elvʺ = M
Pe – Pv ou vʺ + k2v = k2e
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 15
Onde:
k2 = P/EI.
yh = C1 sen kx + C2 cos kx
Solução particular:
yp = −e
y = 0 em x = 0 → C2 = e
y = 0 em x = l → C1 = e tg (kl/2)
Gere (2003) menciona que, para uma coluna com carregamentos P conhe-
cidos e excentricidade e conhecida, pode-se usar essa equação para calcular
a deflexão em qualquer ponto ao longo do eixo x. O comportamento de uma
coluna com um carregamento excêntrico é bem diferente daquele de uma coluna
carregada no centroide. Cada valor do carregamento excêntrico P produz um
valor definido da deflexão, da mesma forma que cada valor de carregamento
em uma viga produz uma deflexão definida. Em contraste, as equações de
deflexão para colunas carregadas no centroide fornecem a forma do modo de
flambagem (quando P = Pcr), mas com a amplitude indefinida.
Quando a coluna possui extremidades apoiadas por pinos, seu carregamento
crítico (quando carregada no centroide) é:
16 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas
2EI
Pcr =
L2
Para calcular a deflexão máxima de uma coluna, você utiliza esta equação:
(
ymáx = e sec
2
P –1
Pcr )
Se limitarmos a tensão máxima ao valor da tensão de escoamento (no
caso de uma peça de aço, por exemplo), isto é, fazendo (σmax = σe), que ocorre
quando P = Pe, obtemos, então:
P σmáx
=
A
1+
ec
r2
sec
1
2 ( P Lfl
EA r )
Essa expressão pode ser utilizada para determinar a máxima carga Pe que
uma barra sujeita à compressão pode suportar.
Beer et al. (2015) apresenta um exemplo, como forma de facilitar o enten-
dimento. Imagine que uma coluna uniforme AB tenha 2,4 m de comprimento
e consiste em um tubo estrutural com a seção transversal conforme indicado
na Figura 8.
P
A P
e = 19mm
A
2,4 m y
A = 2284 mm2
B I = 3,3 × 106 mm4
B
100 mm c x r = 38 mm
c = 50 mm
100 mm
2EI
Pcr =
L2fl
Análise:
Pcr 282,7 kN
Padm = = Padm = 141,36 kN
C.S. 2
e
Padm 141,36 kN
σ= = σ = 61,9 MPa
A 2284 mm
18 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas
Padm = 141,36 kN
e = 19 mm
π P π
ym = e sec 1 = (19 mm) sec 1
2 Pcr 2√2
= (19 mm)(2,252 – 1) ym = 23,79 mm
σm =
P
A
ec
1 + 2 sec
r
2 ( P
Pcr ) =
141,36 kN
2.284 mm2
1+
(19 mm) (50mm)
(38 mm)2
sec
2√2
=
( )
(61,9 Mpa) [1 + 0,658(2,252)]
σm = 153,6 Mpa
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 19
a) P = 993,12 kN; tensão crítica: 347 MPa; tensão máxima: 486 MPa.
b) P = 1.233 kN; tensão crítica: 245 MPa; tensão máxima: 360 MPa.
c) P = 903,12 kN; tensão crítica: 337 MPa; tensão máxima: 417 MPa.
d) P = 893,13 kN; tensão crítica: 437 MPa; tensão máxima: 387 MPa.
e) P = 763,12 kN; tensão crítica: 337 MPa; tensão máxima: 587 MPa.
4. Uma coluna de madeira de seção transversal quadrada está apoiada por
pinos na base e no topo. A carga prevista que será aplicada nessa coluna será
de 325 kN. O comprimento da coluna é de 4,20 m. Determine a dimensão
da seção transversal com aproximação de 10 mm. Considere E = 12 GPa.
a) a = 210 mm.
b) a = 170 mm.
c) a = 200 mm.
d) a = 150 mm.
e) a = 160 mm.
5. Uma coluna de madeira engastada na base e no topo tem comprimento
de 3,60 m e seção transversal de 38 × 88 mm. Determine a carga excêntrica
máxima P que pode ser aplicada no topo sem provocar flambagem
ou escoamento da coluna. Considere E = 12 GPa e fy = 56 MPa.
a) P = 22,10 kN.
b) P = 14,62 kN.
c) P = 15,87 kN
d) P = 4,32 kN.
e) P = 24,64 kN.
BEER, F. P. et al. Mecânica dos materiais. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.
GERE, J. M. Mecânica dos materiais. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
GRAIG JUNIOR, R. R. Mecânica dos materiais. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.
HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
RILEY, W. F.; STURGES, L. D.; MORRIS, D. H. Mecânica dos materiais. 5. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2003.
Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas 21
Leituras recomendadas
LIMA, N. W. B. Ferramenta numérica para o estudo da flambagem de colunas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciência e Tecnologia) - Departamento de Ciências
Ambientais e Tecnológicas, Universidade Federal Rural do Semiárido, Mossoró, 2013.
YUNES, R, C. RIBEIRO, V. H. F. Análise de esforços estruturais e vibracionais em torre de suporte
para um sistema híbrido de turbina eólico e de corrente marítima. Trabalho de Conclusão
de Curso (Bacharelado em Engenharia Mecânica) - Centro Federal de Educação Tec-
nológica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro, 2014.
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