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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

FLAMBAGEM

EDDIE MANCINI

DIGITAÇÃO DO TEXTO:
Rui Roberto Casale

ELABORAÇÃO DOS DESENHOS:


Sylvia Helena Morette Villani

1121-c 1
020 I
. ;\ C J(; ....:E .
I 1

SÃO CARLOS, SETEMBRO DE 1996


FLAMBAGEM

1. CONCEITO

Dentre as várias possibilidades em que uma estrutura atinge o colapso


estão: esgotamento da capacidade resistente da estrutura por ruptura de uma
parte da mesma; inutilização da mesma por deformação excessiva de seus
membros e, finalmente, colapso da estrutura pela condição de instabilidade do
equilíbrio de parte da mesma ou de seu todo. Nesta última condição se inclue o
fenômeno da flambagem.
Vamos, a seguir, para conceitar o fenômeno utilizar o excelente texto do
Prof. ZAGOTTIS (1) o qual trata o assunto de maneira clara, didática e precisa.
Consideremos uma barra vertical carregada por uma força axial P
conforme Fig. 1.

b) c)

I a- I máx.

p pl
cr

Fig. 1 - Barra axialmente carregada


2

Aumentando gradativamente a força P desde zero, a barra, inicialmente


reta, quando P atinge um determinado valor, assume a forma curva fletida da
Fig. 1b. Antes deste encurvamento as seções transversais estão solicitadas
apenas por força normal, resultando a tensão de compressão uniforme

p
cr = - (1 )
A

onde A indica a área da seção transversaL

Quando a força P atinge o seu valor crítico Pcr a barra, fletindo.


propiciará na seção mais central o aparecimento de um momento fletor de
segunda ordem, de modo, que a fibra mais solicitada à compressão, nesta seção,
apresentará, em regime elástico, a tensão

p P.f
cr=-+- (2)
A W

onde W é o módulo de resistência à flexão da seção.

É possível mostrar que para Pcr ~ P ~ 1,06 Pcr a flecha f pode ser

calculada por

f = 0,900 f~: cr
-
1 (3)

e portanto, no caso de seção retangular de dimensões b (largura da seção) x


h (altura da seção).

lcrl max =p- + - 09f! ~l


6PI --1j (4)
bh bh 2 _ ' Per
3

As tensões agora, crescem mais rapidamente do que a força axial,


conforme está mostrado no gráfico da Fig. 1c. A curva aí desenhada apresenta
tangente vertical para p = p cr·
No caso estudado por ZAGOTTIS (1) a tensão normal correspondente a
P =Per= 829,05 kN vale

Per 829,05
Icrmax I =A= 120
=6,909kN/ em 2

sendo b = 20cm e h= 6cm e e= 300cm.

Sendo o limite de proporcionalidade do material cr P = 22,50kN/ cm 2 este

valor é atingido para o valor da força axial P1 = 829,1 O kN, obtido, igualando, na

expressão (4), a tensão máxima à tensão crp.

P1 6P1 P1
+ X 0,9 X 300 ,0S - 1 = 22,50
120 720 829

Logo, para um acréscimo de 50 N na força axial, ou seja, um acréscimo de ape-


2
nas 0,007% no valor de Per, a tensão máxima passa de 6,909 kN/cm para 22,50
2
kN/cm . Para um pequeno acréscimo adicional em P1 a estrutura atinge o
colapso por esgotamento da capacidade resistente do material. Para efeitos
práticos o valor Pcr sinaliza o colapso da capacidade portante da estrutura.
A natureza do fenômeno em questão será esclarecida com as
considerações a seguir a respeito da estabilidade do equilíbrio.
Dizemos que uma estrutura está em equilíbrio estável em uma dada
configuração se, sujeita a pequenas perturbações na posição do sistema, e, por
imposição de pequenas velocidades·, esta tender para a sua configuração inicial
de equilíbrio. Em caso contrário, dizemos que a estrutura encontra-se em
eguil íbrio instável.
4

Se a estrutura permanecer em equilíbrio na posição perturbada o equilíbrio


é considerado indiferente.
Os sistemas ilustrados nas Figs. 2a, 2b, 2c encontram-se respectivamente
em equilíbrio estável, instável e indiferente.

a) c)

/ ; ; ; 7 ) J .0)' J J); ;

estável instável indiferente

Fig. 2 - Configuração de equilíbrio

Outro exemplo é dado pelo semi-cilindro de um material homogêneo


colocado sobre uma superfície plana. Quando o plano ab está na horizontal, o
mesmo encontra-se em equilíbrio estável. De fato, se perturbamos o equilíbrio,
deslocando o cilindro de um ângulo a, o peso Q fará com que o mesmo retome
à sua posição inicial.

Fig. 3 - Equilíbrio estável

Caso apliquemos na extremi€lade do braço rígido de comprimento d1 (ver


Fig. 4), normal ao plano ab, e inclinarmos o sólido de um ângulo a, sendo g a
distância do centro de gravidade G ao plano diametral ab, três situações podem
ocorrer:
5

Fig. 4 - Natureza do equilíbrio

4r
a) se o momento estabilizador Qd sena. (onde d = 1t sendo r o raio do semi-
3

círculo) for maior que o momento desestabilizador Pd 1sena. o sólido volta à


sua posição de equilíbrio inicial e o equilíbrio é estável.

b) se Qd sena. < Pd 1 sena. o momento estabilizador é menor que o deses-


tabilizador e o sólido não volta à sua posição inicial e nem permanece na
posição deslocada e, portanto, temos equilíbrio instável.

c) se Qd sena. = Pd1 sena. , os dois momentos, estabilizador e desestabilizador,

se igualam e o sólido permanece na posição deslocada. É o caso de equilíbrio


indiferente.

A Fig. 5 mostra uma barra rígida de eixo vertical articulada na base e


vinculada também neste ponto por mola rotacional elástica de constante K (isto é,
quando a mola sofre uma deformação dada pelo ângulo e, esta reage sobre a
barra com um momento Mi = Ke em relação à articulação). A barra é
considerada sem peso e o esforço na mola é nulo para e= O.
6

a) b) c) ~P d)

Fig. 5 - Barra rígida articulada

Na Fig. 5 mostramos o sistema sujeito ao carregamento vertical P,


segundo o eixo da barra. Na posição e = O. o sistema encontra-se em equilíbrio.
para qualquer valor de P
Para estudar a natureza do equilíbrio impomos uma perturbação e, na
posição do sistema. Nesta nova configuração. o momento desestabilizador da
força externa será dado por

Me = Pf = PPsen e (5)

A mola reagirá com o momento estabilizador. que quer levar a barra à


posição inicial e =O, cujo valor é

Mi= Ke (6)

Os diagramas de Me e Mi estão indicados na Fig. 6 em função de e:


7

M·l

I
/

e e
TI/2 TI o

Fig. 6 - Momentos desestabílizador e estabilizador

Para estudar a natureza do equilíbrio em e =O devemos comparar


Me e Mi. Para isto calculamos o coeficiente angular da tangente ao diagrama de

Me na origem.

(7)

Para o momento Mi, temos o coeficiente angular

dM-\
mi = ( --1 1 =K (8)
de J e=o

e podemos ter três possibilidades, conforme tivermos mi >me, mi =me ou


8

Estas três situações estão representadas na Fig. 7.


Me,M\.

lT e

-rr e

M·L

lT e
Fig. 7- Superposição dos diagramas Me e Mi
9

No primeiro caso, com me< mi para um valor qualquer e :t:. O, temos

Mi > Me isto é a barra tende a voltar à posição de equilíbrio e= O e portanto


temos equilíbrio estável. Esta condição é expressa por

(9-a)

ou seja

K
Pé'< K ou P <- (9-b)
P

No caso de me= mi também temos Mi >Me, para qualquer valor e:~; O. e


a barra tenderá também a retomar à posição de equilíbrio, significando que o
equilíbrio é estável. Neste caso vale

( 1O-a)

ou

K
Pf =K ou P =-
p (1 0-b)

Na última situação, para valores de e :~; O e e < eo temos Mi < Me, o que
levará a barra a se afastar da posição e= O e portanto o equilíbrio é instável.
Isto ocorre na condição:

( 11-a)

ou

K
P > K.e ou P >-p (11-b)
10

Em resumo, a posição de equilíbrio e =O é estável quando

K
P$- (12-a)
e

e instável quando

(12-b)

K , ,
Para o valor Pcr =- ha uma mudança na natureza do equiltbrio e
e
passamos a denominar este valor eonio carregamento crítico.

Repetindo a Fig. ?c, vemos, que no caso de P > K, além da posição de


f

equilíbrio e = O, existe outra configuração e= e 0, para a qual Me = Mi, isto é,


trata-se de uma segunda posição de equilíbrio.

1T e

Fig. 8 - Natureza do equilíbrio


11

O valor de eo pode ser obtido fazendo Me =Mi isto é:

(13)

ou, seja eo é dado por

e0
----
PP P
(14)
sen e0 - K - Pcr

Quanto ao tipo de equilíbrio correspondente à posição e= e 0, observamos

na Fig. 8, que para um valor e2 < e0, resulta Me > Mi, o que mostra que, neste
caso, a barra deverá voltar à sua posição de equilíbrio. o mesmo ocorrendo para
e1 > eo quando teremos. pelo gráfico, Mi > Me. Logo trata-se de uma posição de
equilíbrio estável.
Fazendo aumentar gradativamente o valor de P, desde zero, a barra
permanecerá na posição reta (e = O) estável, até que seja atingido o valor do
K
carregamento crítico Per = -
p Ultrapassado este valor, a barra passa a

apresentar duas posições de equilíbrio possíveis: a primeira delas e = O,


instável, e outra configuração, agora estável, para e= e 0. Nesta última situação,

se na posição reta vertical e= O, houver qualquer perturbação externa que


provoque qualquer excentricidade do carregamento, a barra tenderá a passar
para a outra configuração possível de equilíbrio, agora estável. Esta passagem
de uma para outra configuração é denominada flambagem e dizemos que a barra
flambou.
O encurvamento da barra elástica bi-articulada da Fig. 1 dá-se por efeito
do mesmo fenômeno anteriormente explicado para a barra rígida.
A representação gráfica do comportamento do modelo de barra com carga

axial está mostrada na Fig. 9. Notamos aí que para P ~ ~ temos uma situação
12

K
de equilíbrio estável com a barra indeslocada (e = O). Para P>-
P
são

possíveis: a configuração reta indeslocada (9 = 0). instáveL e duas configura-


ções deslocadas simétricas (9 :;z: 0), estáveis.

flombogem

e
-180° o
Fig. 9- Ponto de bifurcação de equilíbrio

No ponto 8 da Fig. 9, correspondente ao carregamento crítico, há três


caminhos para a configuração de equilíbrio do sistema: a posição indeslocada
vertical, instável e duas posições simétricas deslocadas, estáveis. Por isto, o
ponto 8 é chamado ponto de bifurcação, e o fenômeno de flambagem é também
denominado perda de instabilidade por ponto de bifurcação do equilíbrio. O valor
de 90 de equação (14) pode ser facilmente obtido com a Tab. 1 em que também

é calculada o valor da flecha f, através da coluna f/f.


Lembramos oportunamente que f é dado por

f= esenSo (15)
13

Tabela 1

90 (rad) 9o(graus) P/Pcr fie

0,0000 0°00' 1,00000 0,0000


0,0500 2°52' 1,00042 0,04998
O, 1000 5°44' 1,00167 0,09983
O, 1500 8°36' 1,00376 O, 14944
0,2000 11°28' 1,00670 0,19867
0,2500 14°19' 1,01050 0,24740
0,3000 17°11, 1,01516 0,29552
0,3500 20°03' 1,02071 0,34290
0,4000 22°55' 1,02717 0,38942
0,4500 25°47' 1,03456 0,43497
0,5000 28°39' 1,04291 0,47943
0,6000 34°23' 1,06262 0,56464
0,8000 45°837' 1,11521 0,71735
1,0000 57°296' 1,18840 0,84147
1,2000 68°755' 1,28750 0,93204
1,4000 80°214' 1,42067 0,98545
1,5708 90°00' 1,57080 1,00000
1,6000 91°673' 1,60068 0,99957
1,8000 103°132' 1,84834 0,97385
2,0000 114°591' 2,19950 0,90930
2,4000 137°510' 3,5531 o 0,67546
2,8000 160°428' 8,35835 0,33499
3,0000 171°887' 21,25746 0,14113

A partir da Tab. 1, podemos construir o gráfico da Fig. 1O. Neste gráfico,

podemos observar que no ponto :Cr = 1 , a tangente à curva é uma reta vertical
e que pequenos acréscimos em :Cr provocam grandes acréscimos em 9 e, 0

portanto, na flecha no topo, f. Notamos também que para 9 0 > n/2 = 1,5708 a

flecha passa a decrescer com o crescimento de P.


14

tP::l,l15 Per

tft

1,0
eo:: 2,40rad

+P:: 3,55 Per

estável instável
1,000 1,5708

Fig. 1O - Flecha na extremidade da barra

Quanto às tensões na barra rígida com mola na base, no caso de seção


retangular (b = 20cm, h= 6cm, P = 300cm) e K tal que Per= 829,05 kN os valores
máximos das mesmas. na seção junto à base, dados pela fórmula:

P 6Pf
cr---l-- (16)
- bh ' bh 2

estão mostrados na tabela abaixo

Tabela 2

I
P(kN) o 414,52 829,05 829.40 I 830,43 832,17
I I
lI
I '
cr(kN/cm )
2 o 3,45 6,91 10.54 214,17 'I 317.74
I
I i .l 1
15

O esgotamento da capacidade portante da peça, supondo a tensão de


2
escoamento do material cre = 21 kN/cm . acontece para um valor de

Per < P < 1,00042Per e daí. consideramos que, praticamente para P = Per. a

peça atinge o colapso por esgotamento da resistência do material. Isto se dá,


porque a partir do valor Per· os deslocamentos da peça são muito grandes
resultando daí esforços, também, cada vez mais elevados.
Se o material possuísse resistência infinita, o colapso também estaria
atingido por deslocamentos excessivos da peça.

2. INSTABILIDADE PELO APARECIMENTO DE UM PONTO LIMITE

Além da instabilidade pelo aparecimento de um ponto de bifurcação.


existem outros tipos de problema de instabilidade. Neste sentido consideremos a
estrutura da Fig. 11, onde temos duas barras rígidas, articuladas entre si em C,
sendo a primeira delas vinculada por um apoio fixo em A, e a outra ligada a um
apoio móvel em B.

y =b c os e

x = 2b sene

Fig. 11 - Estrutura analisada


16

Na linha dos apoios. as barras são ligadas nas suas extremidades


inferiores. por uma mola elástica linear de constante k. Na Fig. 11 a. a estrutura
encontra-se em repouso não estando sujeita a nenhum carregamento externo e.
na Fig. 11 b. a mola é solicitada pela força F em virtude da aplicação da força
vertical P. no nó superior C
Na posição deslocada. temos a força na mola

F= k(x- x 0 ) = bk(2sene -1) ( 17)

sendo possível mostrar que

1
P = 2bk(2cose- - ) ( 18)
tg8

expressão esta, que fornece para cada força P aplicada, o valor do ângulo e,
definindo portanto a posição deslocada da estrutura.
Na Fig. 12 encontramos em gráfico a expressão ( 18)

L- indiferente
P::0,9bk

Fig. 12- Instabilidade por ponto limite


17

Utilizando considerações de energia poderíamos mostrar que se e < eo =

52° 53° a estrutura encontra-se em equilíbrio estável; se e > eo o equilíbrio é

instável e para e:;: eo:;: 52.53° o equilíbrio torna-se indiferente.


Para comprovarmos as afirmações anteriores deveríamos escrever a
expressão da energia potencial total do sistema em função da coordenada-
posição e e estudar os sinais de sua segunda derivada. como também calcular o

valor eo onde esta se anula. sendo no caso em questão eo = 52,53°


Na situação em estudo não temos bifurcação do equilíbrio. pois só existe
uma única solução de e em que é respeitado o equilíbrio. No ponto L temos um
valor máximo para a carga aplicada P sendo que neste ponto, correspondente à
nulidade da segunda denvada da energia potencial total em relação a 8 o
equilíbrio é indiferente. Há também. no ponto L uma transição de equilíbno
estável, no ramo ascendente da curva. para equilíbrio instável, no ramo
descendente. Como a força P. que a estrutura suporta, não pode ultrapassar o
valor máximo (neste caso) P = 0.9 bk, correspondente ao ponto L (o qual, além
disso define uma configuração de equilíbrio indiferente). nós o denominamos
ponto limite e este tipo de instabilidade: problema do ponto limite.

3. AVALIAÇÃO DO CARREGAMENTO CRÍTICO Per

Consideremos a barra elástica bi-articulada da Fig. 13, submetida a uma


força axial P, segundo o seu eixo. Nesta figura, mostramos a barra na sua

posição fletida, correspondente a uma configuração estável para P > Pcr·


Seja El o produto de rigidez à flexão da barra e indicamos por v o
deslocamento de flexão da mesma. Então. temos a curvatura aproximada

(19)
18

r ~ ~
1

X,
I v
tt2

!12

t
Fig. 13 - Flambagem da barra bi-articulada

onde o momento fletor, na posição genérica x, produzido pela força P, na posição


deslocada, vale:

M(x) = Pv (20)

Utilizando as equações (19) e (20), chegamos na equação diferencial de


segunda ordem:

(21)
19

Fazendo

(22)

a solução geral da (21) é

v = C1 sen kx + Cz cos kx (23)

sobre a qual, imporemos as condições de contorno:

v(O) =O (24-a)

v(R) =O (24-b)

de onde, resulta, respectivamente,

(25-a)

c1 sen ki! =o (25-b)

Da segunda das equações (25) temos duas soluções:

a) a posição reta correspondente a C 1 =O


b) a posição fletida que é obtida fazendo nesta equação:

ki! = in (i= 1, 2, 3 ....... , n, ........ ) (26)

Para cada valor de 1 temos um valor para k e portanto um valor para P


e uma elástica particular.
20

Tabela 3

I k P =Elk2 v
n 2 EI 7tX
1 n/!! -- v1 = c1 sen-
f
ç2

2nx
2 2nl P. 4n 2 EI v2 = C 1 sen-
f
ç2

9n 2 EI 3nx
3 3nlf v3 = c1 sen-p-
f2

Para cada caso, temos uma elástica com forma definida, mas com
ordenadas indeterminadas, (pois não podemos calcular o valor de C 1 ), conforme
vemos na Fig. 14.

Fig. 14 - Modos de flambagem


21

As linhas elásticas v2 e v3 resolvem os casos em que, nos pontos de


deslocamento nulo, podemos ter apoios móveis, vinculando lateralmente a barra.
O fato dos deslocamentos laterais ficarem indeterminados, pois não
podemos calcular a constante C1 , é devido termos utilizado uma expressão

1
aproximada para a curvatura -, cujo valor exato é
r

d2 v
1 dx 2 (27)
-

[1+(~jT2
r

Se utilizássemos a expressão exata, teríamos obtido a linha elástica na


posição fletida estável. Com as simplificações adotadas, encontramos uma
posrçao fletida indeterminada, a qual é associada à natureza do equilíbrio
indiferente. Na Fig. 15 mostramos a representação gráfica das situações exata e
aproximada, no diagrama P x f onde f é a flecha no centro do vão.

-
~solução aproximado

Fig. 15 - Flecha no ponto médio do vão


22

Para a carga crítica de flambagem, na barra bi-articulada sujeita a


carregamento axial, tomamos então o menor dos valores da Tab. 3, desde que
não haja vínculos intermediários no vão vertical da mesma:

(28)

Este resultado é conhecido como carga crítica de EULER, dado que a


solução anterior é devida a este pensador.
Caso a barra possua outros tipos da vinculação a carga crítica assume
outros valores. Como ilustração. calcularemos a carga de flambagem da barra
vertical articulada-engastada da Fig. 16.

v
+ ""'1111-cllll----
H

'

--4
Fig. 16 - Flambagem da barra articulada-engastada
23

O momento fletor na abcissa genérica vale agora

M(x) =Pv- Hx (29)

e levando esta expressão na equação da elástica ( 19) obtemos

d2 v M Pv Hx
-------+- (30)
dx2 - El - El El

e daí escrevemos a equação diferencial:

d 2 v Pv Hx
-+--- (31)
dx2 El - El

cuja solução é:

(32)

onde, novamente:

k=~ (33)

Impondo a condição de contorno relativa a deslocamento nulo no apoio


superior, isto é, v( o)= O, concluímos, da expressão (32), que C2 =O.
A condição de engaste na base é imposta anulando a derivada do
dv
deslocamento neste ponto, ou seja, dx (f) = O, de onde segue:

(-dd~ f. p
H= O
= kC 1 cos kf +- (34)
24

ou

H
-p = -kC 1 cos kP (35)

A expressão da elástica fica portanto

V= C1[senkx- (kcoskP)x] (36)

A última condição de deslocamento nulo na base impõe que

v(f.) = c1 (sen kf- kf cos kf) = o (37)

ou seja

tgkf = kf (38)

equação cuja menor raiz vale

kP = 4,493 (39)

e portanto

4,493 2
Per = 2 El (40)
f!

Por comodidade de cálculo, usamos sempre a mesma fórmula

(41)
25

onde, o comprimento de flambagem fte é dado abaixo, para diversos tipos de


vinculação.

~~
~

~
1.0
o
.
N ~ 11 '
11
~
11
~
~ .....
~- ~ ~
I
I

-t- pon os da
inflexão

jpcr/9 ~ 2
1 1/4 1 2 4

Fig. 17 - Comprimento de flambagem

n 2 EI
Em termos de tensão crítica de flambagem <Jfr a fórmula Pf[ =- 2
- pode
fu

ser reescrita, chamando

Pu
cru=- (42)
A

e, portanto:

(43)
26

onde i= ff (raio de giração) (44)

(45)

Esta última grandeza, adimensional, é importantíssima no estudo da


flambagem, governando o fenômeno e sendo denominada índice de esbeltez.
O valor deste índice aumenta com o comprimento da peça e com a diminuição do
raio de giração da seção relacionado ao plano em que estamos considerando o
perigo de flambagem.
A fórmula

(46)

vale no regime elástico linear, portanto até que a tensão no material atinja a
tensão de proporcionalidade crp. Esta expressão tem por representação gráfica
no plano cr fP x À uma hipérbole conhecida como hipérbole de EULER, a qual

está desenhada na Fig. 18.


cYft
\
\
\
\
\
(jp ------

Fig. 18 - Hipérbole de EULER


27

Quando a tensão no material é maior que a tensão de proporcionalidade


crp mas ainda menor que a tensão limite à compressão cr ceim entramos em uma

outra ordem de idéias que são tratadas no próximo item.

4. FLAMBAGEM PLÁSTICA

Como vimos, nas considerações efetuadas supusemos o material


trabalhando no regime elástico linear, ou seja, sob tensões inferiores ao limite de
proporcionalidade crp.

Conforme ENGESSER para o material com a curva tensão-deformação da


Fig. 19, que apresenta um trecho plástico não linear, adotamos a mesma
expressão obtida anteriormente, utilizando entretanto, o módulo de elasticidade
tangente Et, variável de ponto para ponto, de modo a obtermos a expressão da
página seguinte.

1~descarregamento
1
I
I

Fig. 19 - Trecho plástico não linear


28

(47)

onde

E _ (dcr ~ (48)
t - de) cr=cru

Entretanto, JASINKY observou de maneira muito correta que tal procedi-


mento errava por desconsiderar a reversibilidade plástica do diagrama tensão-
deformação. De fato, com o encurvamento da barra, por efeito da flexão, uma das
fibras extremas terá a sua tensão de compressão aumentada enquanto, na outra
extremidade da seção, as tensões de tração, produzidas pela flexão, deverão
aliviar a tensão de compressão causada pela força axial somente.
Logo, na fibra extrema mais comprimida, o material segue o diagrama
tensão deformação no trecho curvo para cr > cr P , enquanto na outra fibra

extrema estará havendo um alívio de tensões conforme a reta paralela ao


diagrama na sua parte linear, e que corresponde ao "descarregamento" do
material. Por isto, não podemos utilizar o mesmo módulo de elasticidade Et para

toda seção e sim módulos diferentes: Et para onde houver acréscimo de


compressão e E para a parte com tensões de compressão aliviadas pela flexão.
Isto leva a corrigir a solução considerando a possibilidade de um "duplo-módulo".
Podemos demonstrar entretanto que tal correção é equivalente à conside-
ração de um único módulo definido em função dos anteriores, o qual chamamos
módulo reduzido, que deverá ser deduzido para cada forma da seção transversal.
Para a seção retangular o módulo reduzido é dado por

E _ 4EEt
(49)
R- (JE +JE;)2

que deve ser introduzido na expressão da página seguinte.


29

(50)

5. FÓRMULAS PRÁTICAS

No nosso país, as normas recentes dos diversos tipos de estruturas


(concreto, aço, madeira) apresentam fórmulas práticas e sofisticadas, com as
quais o fenômeno de instabilidade é considerado. A norma americana de
estruturas de aço do AISC (American lnstitute of Steel Construction) utiliza bem
de perto a formulação apresentada.
Esta norma preconiza a seguinte expressão para o valor admissível da
tensão de flambagem cr ft :

Para À > À0 , onde

(51)

e cre é a tensão de escoamento, vale

(52)

e se À< À 0

I À2 l
11--- icr
L 2À~ J e
cr - (53)
fe - 5 3 À À3
-·+-···-- ---
3 8 À0 8À~
30

A curva tensão de flambagem versus índice de esbeltez apresenta a forma


indicada na Fig. 20.

hipérbole de EULER

"-o

Fig. 20 - Curva de flambagem

Observamos que na Fig. 20 não está incluído o fator de segurança, que no


caso é variável com o índice de esbeltez À.

Para elementos estruturais comprimidos. calculadas as tensões atuantes


em função dos esforços, estas deverão ser comparadas com o valor da tensão
admissível de flambagem, obtida em função do índice de esbeltez e da tensão de
escoamento cre.
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(1) DECIO L ZAGOTTIS - Introdução à Teoria das Estruturas: Cap. 1O -


Estabilidade e Instabilidade do Equilíbrio das Estruturas - EPUSP - São
Paulo/SP - 1980
(2) SCHIEL - Introdução à Resistência dos Materiais - Harper e
Row do Brasil. São Paulo/SP - 1984
(3) - Cienc1a de la Construcion Vol IV. Aguilar. S.A de
Madrid. (Espanha). 1967
(4) D e DAGOBERTO D MORI - Instabilidade - Conceitos -
\
1ca1:;ao na Flambagem por Flexão- EESC-USP- São Carlos SP 1989

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