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Universidade de Caxias do Sul

Integridade Estrutural – Prof. Vagner Grison

1. Esforços mecânicos

Materiais sólidos tendem a deformar (ou eventualmente romper) quando submetidos


a solicitações mecânicas. A Resistência dos Materiais é um ramo da Engenharia que tem
como objetivo o estudo do comportamento de elementos construtivos sujeitos a esforços, de
forma que eles possam ser adequadamente dimensionados para suportá-los nas condições
previstas de utilização.
A Figura 1 ilustra formas gráficas simplificadas dos tipos de esforços mais comuns a
que são submetidos os elementos construtivos.

Figura 1 – Esquema gráfico simplificado dos principais esforços mecânicos.

(a) Tração: a força atuante tende a provocar um alongamento do elemento na direção da


mesma.

(b) Compressão: a força atuante tende a produzir uma redução de tamanho do elemento na
direção da mesma.

(c) Flexão: a força atuante provoca uma deformação do eixo perpendicular à mesma.

d) Torção: as forças atuam em um plano perpendicular ao eixo de tal forma que cada seção
transversal do objeto sob ação do esforço tende a girar em relação às outras.

(e) Flambagem: é um esforço de compressão em uma barra de seção transversal pequena


em relação ao comprimento, que tende a produzir uma curvatura na barra.

(f) Cisalhamento: forças atuantes tendem a produzir um efeito de corte, isto é, um


deslocamento linear entre seções transversais.

Em muitas situações práticas ocorre uma combinação de dois ou mais tipos de


esforços. Em alguns casos há um tipo predominante e os demais podem ser desprezados, mas
há outros casos em que eles precisam ser considerados conjuntamente.

2. Componentes de tensões

Na prática, a maior parte das peças de estruturas e componentes de máquinas se


encontra sob ação de carregamentos mais complexos. As componentes de tensões são
representadas sobre as faces de um cubo elementar (elemento de tensões) e utilizadas para
representar o estado de tensões de determinadas regiões de membros carregados
mecanicamente. Assim, analisando um corpo sob ação de várias forças pode-se estudar as

1
condições de tensões de um certo ponto Q no interior do corpo, como apresentado na figura
2, o qual também deve satisfazer às equações 1 e 2.

ΣFx = 0 ΣFy = 0 ΣFz = 0 (1)

ΣMx = 0 ΣMy = 0 ΣMz = 0 (2)

y
y
yx
yz
xy
x zy x
xz
zx
z
z

Figura 2 – Elemento de tensões e componentes de tensões.

Quando as tensões atuantes são uniaxiais ou biaxiais, o elemento de tensões pode ser
representado de forma simplificada, por um quadrado plano de lados unitários.

3. Coeficiente de Segurança

Dentro das aplicações de engenharia, a determinação de tensões não é o objetivo


final, mas um passo necessário na análise e projeto estrutural. Para isso, é necessário ter o
conhecimento de como o material a ser utilizado se comporta sob ação de carregamentos
conhecidos. Estas informações podem ser obtidas de maneira experimental através da
aplicação de cargas controladas em amostras do material de interesse.
Um componente estrutural deve ser projetado de tal forma que o carregamento
máximo por ele suportado seja consideravelmente maior que o carregamento, sob o qual
este componente estará sujeito em condições normais de utilização. Este carregamento
menor é chamado de carregamento admissível ou carga de projeto. A relação entre o
carregamento último e o carregamento admissível é chamada de coeficiente de segurança e
pode ser expresso pela equação 3.

CS = carregamento último / carregamento admissível (3)

Em muitos casos existe uma corresondência linear entre a carga aplicada e a tensão
provocada pela carga. Assim o coeficiente de segurança também pode ser expresso conforme
a equação 4.

CS = tensão última / tensão admissível (4)

Na maioria das aplicações, os coeficientes de segurança são definidos por


especificações de projeto e normas escritas por comitês de normalização de nível
internacional. Além disso, a escolha do coeficiente de segurança adequado para as

2
diferentes aplicações práticas requer uma análise cuidadosa, que leve em consideração
muitos fatores, como, por exemplo:

- Modificações que ocorrem nas propriedades mecânicas do material.


- Frequência com que a carga é aplicada ao longo da vida do componente.
- Possíveis alterações futuras no tipo de carregamento aplicado.
- Modo de ruptura que pode ocorrer.
- Precisão dos métodos utilizados e análises realizadas.
- Deterioração futura devido à falta de manutenção.
- A importância do componente para a integridade da estrutura.

4. Deformação

Além da tensão, outro importante aspecto da análise e projeto de estruturas se


relaciona com as deformações causadas pela aplicação das cargas a uma estrutura. É
importante evitar que as deformações se tornem tão grandes a ponto de impedir que a
estrutura venha a cumprir os fins aos quais estava destinada. Através da análise das
deformações pode-se também determinar as tensões.

4.1 Deformação Específica

Considerando uma barra de comprimento L e seção transversal uniforme, e


chamando-se de  sua deformação sob uma carga axial P, como ilustrado na figura 3, pode-
se definir a deforamação específica normal  da barra como sendo a deformação por unidade
de comprimento, como expresso pela equação 5.


= (5)
Lo

Lo
L

P
Figura 3 – Deformação normal de uma barra sob carregamento axial.

3
4.2 Diagrama de Tensão-Deformação

O diagrama que representa as relações entre tensões e deformações específicas de


um certo material é uma característica importante deste material. Para a obtenção do
diagrama tensão-deformação de certo material, normalmente se faz um ensaio de tração em
uma amostra do material. Nesse ensaio se usa um corpo de prova padrão, cujas
extremidades são ligadas à máquina que realiza o ensaio. A área da seção transversal da
parte cilíndrica central do corpo de prova é medida cuidadosamente e duas marcas são
desenhadas a uma distância Lo. O corpo de prova é, então instalado na máquina de teste que
aplica uma carga de tração P crescente à amostra. À medida que aumenta o valor de P, a
distância L entre as duas marcas também aumenta. Assim, são registradas as alterações dos
valores de L, P e em alguns casos o diâmetro da seção transversal do corpo de prova. Para
cada par de valores lidos de P e  = L – Lo, calcula-se a tensão dividindo-se a força aplicada
pela área da seção transversal inicial Ao do corpo de prova. Calcula-se também a deformação
específica  dividindo-se o alongameto  pelo comprimento inicial Lo entre as duas marcas.
Os diagramas gerados a partir deste procedimento estão ilustrados na Figura 4.
Materiais dúcteis, que compreendem o aço estrutural e outros metais, se
caracterizam por apresentarem escoamento a temperaturas normais. O corpo de prova é
submetido a um carregamento crescente, e seu comprimento aumenta, de início,
lentamente, sempre proporcional ao carregamento. Desse modo, a parte inicial do diagrama
tensão-deformação é uma linha reta com grande coeficiente angular. Entretanto, quando é
atingido um valor crítico de tensão Sy, o corpo de prova sofre uma longa deformação, com
pouco aumento da carga aplicada. Essa deformação é causada por deslizamento relativo de
camadas do material de superfícies oblíquas.
Quando o carregamento atinge um certo valor máximo, o diâmetro do corpo começa
a diminuir, devido à perda de resistência local. Esse fenômeno é conhecido como estricção.
Após ter começado a estricção, um carregamento mais baixo é suficiente para manter o
corpo de prova se deformando até que ocorra a sua ruptura. Assim, a tensão Su
correspondente à máxima carga aplicada ao material é conhecida como tensão última e a
tensão Sr correspondente ao ponto de ruptura é chamada tensão de ruptura.
Materiais frágeis, como ferro fundido e vidro são caracterizados por uma ruptura que
ocorre sem nenhuma mudança sensível no modo de deformação do material. Assim, nestes
casos não existe diferença entre tensão última e tensão de ruptura. Sua deformação até a
ruptura é muito menor do que a dos materiais dúcteis, além de não apresentar o fenômeno
de estricção antes do rompimento. Materiais frágeis também não apresentam caracterizado
o trecho horizontal que definiria a sua tensão de escoamento.

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Materiais que não apresentam um patamar bem definido de tensão de escoamento
tem este valor definido a partir de um procedimento padrão para determinar uma tensão de
escoamento convencional. Ela é obtida tomando-se no eixo das abscissas a deformação
específica  = 0,2% (ou 0,002), e por esse ponto, traçando-se uma reta paralela ao trecho
linear inicial do diagrama. Assim, a tensão de escoamento corresponde ao ponto de
intersecção dessa reta com a curva do diagrama.

420 MPa 1500 MPa Ruptura


Su Sr=Su
Ruptura

250 MPa
Sy

Sr
Escoamento Recuperação Estricção

0,0012 0,02 0,2 0,25


 0,07 
(a) Aço com baixo teor de carbono (dúctil) (b) Aço temperado (frágil)

Figura 4 – Diagramas tensão-deformação.

4.3 Lei de Hooke, Módulo de Elasticidade e Energia de Deformação

As estruturas correntes são projetadas de modo a sofrerem apenas pequenas


deformações, que não ultrapassem os valores do diagrama tensão-deformação
correspondentes ao trecho reto inicial. Neste trecho a tensão é diretamente proporcional a
deformação específica, como está expresso pela equação 6:

=E. (6)

Esta relação é conhecida como Lei de Hooke e se deve ao matemático inglês Robert
Hooke (1635-1703). O coeficiente E é chamado de módulo de elasticidade ou módulo de
Young (cientista inglês, 1773-1829). Como a deformação específica é uma grandeza
adimensional, o módulo E é expresso na mesma unidade de , Pascal no Sistema
Internacional ou psi no Sistema Inglês de unidades.

Algumas propriedades físicas dos materiais estruturais, como resistência,


ductibilidade, resistência à corrosão, entre outros, podem ser modificadas por tratamentos
térmicos, pela presença de ligas metálicas ou pelo próprio processo utilizado na sua

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manufatura. Isto não ocorre para o Módulo de Elasticidade. Uma característica importante
dos materiais diz respeito à invariabilidade do seu Módulo de Elasticidade. A figura 5
apresenta o diagrama tensão-deformação do ferro puro e de outros três tipos de aço, os
quais diferem em suas tensões de escoamento, tensões máximas e deformação específica
máxima, porém, na região elástica possuem a mesma taxa de deformação em função da
tensão.
 Aço temperado

Aço com alto


teor de carbono

Aço com baixo


teor de carbono

Ferro puro

Figura 5 – Diagrama tensão-deformação para aços com diferentes tratamentos térmicos

A medida que um material é deformado por uma carga externa, tende a armazenar
energia internamente ao longo de todo o seu volume. Por relacionar-se com a deformação do
material, é chamada de energia de deformação. Usando um elemento de tensão sob tração,
como o ilustrado na figura 6, pode-se observar que ele sofre uma tensão  = F/A. Assim,
pode-se dizer que a tensão desenvolve uma força F = .x.y, e que o elemento sofre um
deslocamento .z. Por definição, trabalho é determinado pelo produto da força por um
deslocamento. Considerando que a força F varia uniformemente de zero até seu valor
máximo, então o valor médio aplicado fica F/2. Sendo assim, o trabalho realizado equivale
ao trabalho absorvido (desconsiderando perdas por geração de calor) e a energia de
deformação fica U = (0,5F)..z = (0,5..x.y)..z. Sabendo que o volume do elemento
de tensão é definido por V = x.y.z, logo U = 0,5..V. Às vezes é conveniente
expressar a energia de deformação por unidade de volume, o que é chamado de densidade
de energia de deformação.

U 1
u=− = . . (7)
V 2

Figura 6 – Elemento de tensão sob tração

6
Quando a tensão atinge o limite de proporcionalidade (escoamento), a densidade de
energia de deformação como calculado pela equação 7 define o módulo de resiliência do
material. Graficamente esta propriedade é ilustrada pela figura 7.

Figura 7 – Módulo de resiliência de um material

Outra propriedade importante de um material é seu módulo de tenacidade. Essa


grandeza representa toda a área sob o diagrama tensão-deformação do material
imediatamente antes da ruptura. Graficamente esta propriedade é ilustrada pela figura 8.

Figura 8 – Módulo de tenacidade de um material

4.4 Comportamento Elástico e Comportamento Plástico dos Materiais

Um material tem comportamento elástico quando as deformações causadas por um


carregamento desaparecem com a retirada do carregamento. O maior valor de tensão para o
qual o material ainda apresenta comportamento elástico é chamado de limite de
elasticidade e coincide com o valor da tensão de escoamento e.
Se o material atingir ou ultrapassar o escoamento e se deformar, quando a carga é
retirada as tensões e deformações decrescem de maneira linear, ao longo de uma linha reta
paralela à reta da curva de carregamento. O fato de  não retornar ao ponto zero indica que
o material sofreu uma deformação permanente ou plástica. Para a maioria dos materiais a
deformação plástica depende da tensão máxima aplicada (deformação lenta) e do tempo de
carregamento (fluência). A figura 9 ilustra o efeito da deformação permanente.

7


Figura 9 – Deformação permanente e carregamento posterior.

4.5 Fluência (Creep)

Os gráficos de tensão-deformação anteriormente descritos foram obtidos de testes de


tração envolvendo carregamento estático e descarregamento dos corpos de prova, e a
passagem do tempo não foi levada em consideração. Entretanto, quando carregado por
longos períodos de tempo, alguns materiais desenvolvem deformações adicionais e dizemos
que eles fluem.

Este fenômeno pode se manifestar de diversas formas. Uma barra que é lentamente
tracionada por uma força P produzirá um alongamento o. Porém, devido à fluência, a barra
pode aumentar seu comprimento gradualmente mesmo que a carga não modifique.

Como outra manifestação de fluência, considere um fio que é esticado entre dois
suportes imóveis de foram que tenha uma tensão de tração inicial o. Com o passar do tempo
a tensão no cabo diminui gradativamente, por fim atingindo um valor constante, embora os
suportes nas extremidades do cabo não tenham se mexido. Esse processo é chamado de
relaxação do material.

A fluência é usualmente mais importante em altas temperaturas onde seus efeitos


são mais relevantes, portanto deve ser considerada em projetos de motores, caldeiras,
turbinas a jato e outras estruturas que operam em temperaturas elevadas por longos
períodos de tempo. Entretanto, materiais como o aço, concreto e madeira fluem
ligeiramente mesmo em temperaturas atmosféricas.

4.6 Coeficiente de Poisson

Uma barra sob ação de um carregamento axial, como apresentado na figura 10, sofre
uma deformação ao longo do seu eixo axial. Nesta mesma condição pode-se observar que nas
faces perpendiculares aos eixos y e z temos y = z = 0. Este fato pode nos levar a imaginar

8
que as deformações específicas y e z são também iguais a zero. Isto, entretanto não ocorre.
Em todos os materiais, o alongamento produzido por uma força na direção desta força é
acompanhado por uma contração em qualquer direção transversal.
y=0

y
z P
x=P/A
x
z=0

Figura 10 – Barra sob tração e componentes de tensão.

Assumindo que o material em estudo é homogêneo e isotrópico define-se que a sua


deformação específica deve ser a mesma para qualquer direção transversal, assim y = z.
Este valor é chamado de deformação específica transversal. O valor absoluto da relação
entre a deformação específica transversal e a deformação específica longitudinal é chamado
de Coeficiente de Poisson ().

y 
 =− =− z (8)
x x

Com isso, substituindo a equação 8 na equação 6 obtemos as relações que descrevem


totalmente as condições de deformações específicas sob carga axial paralela ao eixo x.

x −   x
x = y = z = (9)
E E

4.7 Estados Múltiplos de Carregamento – Generalização da Lei de Hooke

Ao considerar elementos estruturais sujeitos à ação de carregamentos que atuam nas


direções dos três eixos coordenados será possível verificar tensões x, y e z, todas
diferentes de zero, o que caracteriza o estado múltiplo de carregamento ou carregamento
multiaxial. O cubo, originalmente com lados unitários, torna-se um paralelepípedo
retangular com lados iguais a 1+x, 1+y e 1+z.
y

+z
1

y x
z 1 +y z
x
1 +x
Figura 11 – Elemento sob carregamento multiaxial e deformações.

9
Para escrever as expressões das componentes de deformação em função das
componentes de tensão deve-se considerar separadamente o efeito provocado por cada
componente de tensão e superpor os resultados. Este método é conhecido como princípio da
superposição, que afirma que o efeito provocado em uma estrutura por determinado
carregamento combinado pode ser obtido determinando-se separadamente os efeitos dos
vários carregamentos e combinando-se os resultados obtidos. Duas condições devem ser
respeitadas na aplicação deste princípio:

1- Cada efeito é diretamente proporcional à carga que o produziu.

2- Deformação causada é pequena e não afeta as condições de aplicação das demais.

Com base nas equações 9 e utilizando o princípio da superposição para cada


carregamento obtêm-se as expressões 10 que exprimem a generalização da Lei de Hooke
para carregamentos multiaxiais.

x  y  z
x = + − −
E E E

 x y  z
y = − + − (10)
E E E

  x   y z
z = − − +
E E E

4.8 Deformação de Cisalhamento

As equações 10 foram deduzidas assumindo-se que não havia tensões de cisalhamento


envolvidas. De qualquer forma, as tensões de cisalhamento não têm nenhum efeito direto
nas deformações específicas, e enquanto as deformações permanecerem pequenas, não vão
influenciar a dedução nem a validade das equações 10. As tensões de cisalhamento tenderão
a deformar o cubo elementar em um paralelepípedo oblíquo.
Considera-se inicialmente um cubo elementar de lado unitário, sujeito apenas às
tensões de cisalhamento xy e yx. O elemento se deforma assumindo a forma de um
rombóide de lado unitário. Dois dos ângulos formados pelas quatro faces do cubo que estão

10
sob tensão se reduzem do valor de /2 para /2 – xy, enquanto os outros dois aumentam
para o valor de /2 + xy, como ilustrado na Figura 12.

1 yx
+xy
y
z 1 xy
x
−xy
1
Figura 12 – Elemento sob ação de tensões de cisalhamento.

O pequeno ângulo xy (expresso em radianos) define a distorção do cubo e é chamado


de deformação de cisalhamento correspondente às direções x e y.
Marcando em um gráfico os valores xy e os valores correspondentes de xy, obtém-se
o diagrama tensão-deformação de cisalhamento do material em questão. Isso pode ser
conseguido realizando um teste de torção. Todavia, valores tais como tensão de escoamento
e tensão máxima de um certo material, dão em torno da metade dos valores obtidos em
ensaios de tração do mesmo material. Como no caso das tensões e deformações específicas
normais, a parte inicial do diagrama tensão-deformação no cisalhamento é uma linha reta.
Para os valores de tensão que não excedem o limite de proporcionalidade no cisalhamento
pode-se escrever a seguinte relação.

xy = G . xy (11)

Essa relação é a Lei de Hooke para tensões e deformações de cisalhamento e a


constante G é chamada de módulo de elasticidade transversal do material. O módulo de
elasticidade transversal, que é expresso em Pascal, é menor que a metade, mas maior que
um terço do módulo de elasticidade E deste material.
Considerando, agora, o cubo elementar sob ação das tensões de cisalhamento yz e
zx, as deformações de cisalhamento correspondentes yz e zx são obtidas da mesma
maneira, assim as equações 10 podem ser complementadas pelas equações 12.

xy = xy / G yz = yz / G zx = zx / G (12)

4.9 Relações entre E,  e G

É possível que se obtenha a expressão que representa a relação entre as


propriedades: módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson e módulo de elasticidade
transversal através de algumas deduções matemáticas baseadas no caso do cubo elementar
sob ação de carregamento axial conforme apresentado na figura 13.

11
1

1 1 −x
 
1 1 +x
Figura 13 – Deformação de um elemento sob ação de carregamento axial.

Com base na figura 13, após carregado, pode-se definir que  = /4 – m/2, e sua
tangente pode ser representada, após algumas manipulações matemáticas, pela equação 13.

m
1−
tan  = 2 (13)
m
1+
2

Além disso, da figura 13 pode-se determinar a equação 14.

1 −  x
tan  = (14)
1 + x

Igualando as equações 13 e 14, considerando que x << 1 se obtém a equação 15.

m = (1 + ) . x (15)

Esta é a relação entre a deformação de cisalhamento máxima m e a deformação


específica axial x.
Para obter uma relação entre as constantes E,  e G, temos que, segundo a Lei de
Hooke, m = m / G e x = x / E, e assim, pode-se reescrever a equação 15.

m/G = (1 + ) . x/E (16)

Assim, resolvendo para G e considerando que x = P/A e que m = P/2A, temos, então
que m = 2.m, e podemos escrever a equação 17 que exprime o módulo de elasticidade
transversal G em função do módulo de elasticidade E e do coeficiente de Poisson .

E
G= (17)
2  (1 +  )

12
4.10 Princípio de Saint-Venant

Quando é aplicado um carregamento uniformemente distribuído em uma barra de


seção transversal uniforme obtém-se uma tensão e uma deformação também uniformes de
acordo com a relação  = E.. Quando há a aplicação de um carregamento concentrado, bem
no centro da seção transversal de uma barra, por exemplo, ocorrem grandes valores de
tensões e deformações nas vizinhanças do ponto de aplicação da força e quase nenhum nas
bordas da extremidade da barra. À medida que são analisados elementos mais afastados das
extremidades da barra percebe-se uma equalização das deformações, conduzindo a uma
distribuição mais uniforme de tensões e deformações específicas ao longo da seção
transversal. Nestas regiões mais afastadas das extremidades da barra pode-se assumir, então
que a tensão média é definida por  = P/A. Em outras palavras, com exceção dos pontos na
vizinhança do ponto de aplicação da força, a distribuição de tensões pode ser adotada
independentemente do modo como se aplica o carregamento. A figura 14 ilustra tal efeito
aplicado à uma barra de seção retangular. Este resultado, que não se aplica somente a
carregamento axial, mas a qualquer tipo de carregamento, é conhecido como princípio de
Saint-Venant.
O princípio de Saint-Venant torna possível substituir um certo carregamento por
outro mais simples, por ocasião de calcular as tensões em uma determinada peça. Dois
pontos importantes, entretanto devem ser obedecidos na sua aplicação:

1- O carregamento real e o carregamento usado na determinação das tensões devem


ser estaticamente equivalentes;

2- A determinação das tensões nas proximidades dos pontos de aplicação das forças
deve ser realizada por meio de métodos matemáticos avançados ou métodos experimentais.

Figura 14 – Distribuição de tensões através de várias seções de uma placa retangular.

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5. Concentração de Tensões

Como já foi visto, o valor das tensões nas proximidades dos pontos de aplicação de
cargas concentradas é muito maior que a tensão média ao longo da peça. Quando a peça
estrutural contém descontinuidades, tais como furos ou variação brusca de seção, podem
ocorrer altos valores de tensões nesses pontos de descontinuidade.
As figuras 15 e 16 se referem a dois desses casos citados, mostrando a distribuição de
tensões em seções críticas.

Figura 15 – Distribuição de tensões próximas a um furo circular em placa sujeita a tração.

Figura 16 – Distribuição de tensões próximas aos filetes em barra chata sujeita tração.

Tais resultados foram obtidos de forma experimental por Peterson (1951) através de
estudos de fotoelasticidade de tiras bidimensionais. O engenheiro que tiver de projetar ou
estudar peças desse tipo não precisará repetir os ensaios pois os resultados obtidos são
independentes das dimensões das peças e do material utilizado; eles dependem unicamente
das relações entre os parâmetros geométricos envolvidos. Além disso, em projetos
calculados analiticamente, sem auxílio de softwares, interessa ao projetista o valor máximo
da tensão em certa seção, sendo a distribuição real de tensões um dado de menor
importância. Isso porque o dimensionamento é conduzido buscando-se evitar que o valor
máximo da tensão ultrapasse os valores admissíveis para o material. Com base nisto, se
define a relação 18:
 m áx  m áx
Kt = ou K ts = (18)
 m éd  m éd
Essa relação é chamada de coeficiente de concentração de tensões para a
descontinuidade em estudo e os resultados que foram obtidos experimentalmente estão
disponíveis na forma de tabelas ou gráficos.
A aplicação dos fatores K são especialmente importantes em carregamento estático
para os materiais frágeis ou materiais dúcteis suscetíveis a fratura frágil. Se tratando de um
material dúctil sob carregamentos que induziriam tensões máximas nas descontinuidades
geométricas a níveis superiores ao escoamento, observa-se há um aumento local de Sy devido
ao efeito de encruamento. As demais áreas do componente estarão à um nível de tensão um
pouco abaixo do Sy, suportando a carga numa condição muito próxima do escoamento
generalizado. Por esta razão, um material dúctil carregado estaticamente dentro do regime
elástico pode ter o cálculo de tensões sem a necessidade de adotar qualquer fator de
concentração de tensões.

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6. Carregamentos Combinados

Inicialmente aprendemos a determinar as tensões causadas por uma carga axial


centrada. Após, analisamos a distribuição de tensões em barras cilíndricas sujeitas a
conjugados de torção, tensões causadas por conjugados de flexão e, por fim as tensões
provocadas por carregamento transversal. Como veremos, é possível combinar o
conhecimento adquirido para a determinação das tensões em barras delgadas de estruturas
ou componentes de máquinas sob condições bem gerais de carregamento.

Consideremos, por exemplo, a barra de eixo curvado e seção transversal circular


ABDE, que está submetida à ação de várias forças, apresentada na figura 17.

F5 E

B
F4
F1
K

A F2
F3 D

Figura 17 – Barra curva sob ação de carregamentos distintos.

Para determinar as tensões produzidas em um certo ponto K pelas forças aplicadas,


deve-se seccionar a barra neste ponto e determinar o sistema de forças e momentos no
centróide da seção C, necessário para manter o equilíbrio da porção ABK. Esse sistema
representa os esforços internos na seção. Em geral, ele consiste de três componentes de
forças e de três vetores que representam conjugados, os quais se adota como sendo dirigidos
como indica a figura 18.
B My
Vy
F1 Mz
K
y P
C
F2 Vz T
A
z
x

Figura 18 – Sistema de esforços internos na seção C.

Neste caso, a força P é uma força axial, que produz tensões normais na seção. Os
conjugados My e Mz provocam flexão na barra e também produzem tensões normais na seção.
Assim, a tensão normal x no ponto K é a soma das tensões produzidas pela força e
conjugados indicados na figura 19a. Por outro lado, o conjugado de torção T e as forças
cortantes Vy e Vz provocam tensões de cisalhamento na seção e, portanto, as componentes
xy e xz da tensão de cisalhamento em K podem ser calculadas somado as componentes de
tensão que correspondem a cada um dos esforços indicados na figura 19b.

My
Vy
xy
(a) K K (b)
x xz
P
P C
C
Mz Vz T

Figura 19 – Componentes de tensão normal e de cisalhamento.

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Os resultados obtidos são válidos dentro das condições de aplicabilidade do Princípio
da Superposição e do Princípio de Saint-Venant. Isto significa que as tensões encontradas não
podem exceder o limite de proporcionalidade do material, que a deformação provocada por
um certo carregamento não deve afetar a determinação das tensões devidas a outro
carregamento, e que a seção em estudo não deve estar muito próxima de um ponto de
aplicação de cargas. Pela primeira das restrições expostas, fica claro que o método
apresentado não pode ser aplicado em casos de deformação plástica.

7. Estado Plano de Tensões

Nesta seção serão discutidas as transformações de tensões para casos de tensões


planas, isto é, para situações em que duas das faces do cubo elementar se encontram isentas
de tensões. Adotando-se o eixo z perpendicular a estas faces, ocorre que z = zx = zy = 0, e
as únicas componentes de tensão que permanecem são x, y e xy, como apresentado na
figura 20. Esta situação ocorre, por exemplo, em uma placa fina submetida a forças atuando
no plano médio da sua espessura. Também ocorre na superfície livre de um elemento
estrutural qualquer, ou seja, em qualquer ponto da superfície deste elemento ou
componente, que não está sujeito a aplicação de uma força externa.

y yx
xy

x

Figura 20 – Elemento de tensão no estado plano de tensões.

Considerando o elemento ilustrado na figura 20, no estado plano de tensões, sob


ação das tensões normais e de cisalhamento x, y e xy, deseja-se determinar as
componentes de tensão x’, y’ e x’y’, referentes ao cubo elementar que foi rodado de um
ângulo  em torno do eixo z, expressando essas componentes em função de x, y, xy e .

Para se determinar a tensão normal x’, e a tensão de cisalhamento x’y’, que atuam
na face perpendicular ao eixo x’, deve-se considerar o prisma elementar de faces
perpendiculares aos eixos x, y e x’ conforme ilustrado na figura 21a. Chamando de A a área
da face inclinada, calculam-se as áreas das faces horizontal e vertical por A.cos e
A.sen, respectivamente. Com isso, as forças elementares que atuam nessas faces são
aquelas ilustradas na figura 21b. Por tratar-se de um estado plano de tensões não existem
forças atuando nas faces triangulares do prisma elementar. Assim, calculando as
componentes dessas forças em relação aos eixos x’ e y’ temos as seguintes equações de
equilíbrio.
Fx’ = 0
x’ A −x( A cos )cos −xy( A cos )sen −y( A sen )sen − xy( A sen )cos = 

Fy’ = 0
x’y’ A +x( A cos )sen −xy( A cos )cos −y( A sen )cos + xy( A sen )sen = 

16
y' y
y' y

x'
x'
x’y’A x’A
Acos
 x
 x

x(A cos )
A
z xy(A cos )
(b)
(a)
Asen xy(A sen )
y(A sen )
Figura 21 – Prisma elementar e tensões correspondentes às faces.

Isolando a variável x’ da primeira equação e a variável x’y’ da segunda chega-se as


expressões 19 e 20, respectivamente.

x’ = x cos2 +y sen2 + 2xy sen cos (19)

x’y’ = −(x − y) cos sen + xy (cos2 − sen2 ) (20)

Utilizando as relações trigonométricas abaixo.

sen2 = 2 sen cos cos2 = cos2 – sen2 (21)

cos2 = (1 + cos2 )/2 sen2 = (1 − cos2 )/2 (22)

É possível reescrever a equação 19 como apresentado na equação 23.

1 + cos 2 1 − cos 2
 x' =  x + y +  xy sin 2
2 2

x + y x − y
 x' = + cos 2 +  xy sin 2 (23)
2 2

Da mesma forma, é possível reescrever a equação 20 conforme a equação 24.

x − y
 x' y' = sin 2 +  xy cos 2 (24)
2

Para determinar a expressão da componente y, deve-se substituir na equação 23 o


ângulo  por  + 90°, que é o ângulo formado pelos eixos y’ e x’ e obter-se a equação 25.

x + y x − y
 y' = − cos 2 −  xy sin 2 (25)
2 2

Assim, somando membro a membro as equações 23 e 25 verifica-se o seguinte.

 x' +  y' =  x +  y (26)

17
Uma vez que z = z’ = 0, verifica-se que a soma das tensões normais em um
elemento submetido a um estado plano de tensões independe da orientação desse elemento.

7.1 Tensões Principais e Tensão de Cisalhamento Máxima


As equações 23 e 24 obtidas anteriormente são as equações paramétricas de uma
circunferência. Isso quer dizer que se for adotado um sistema de eixos coordenados e for
marcado um ponto M de abscissa x, e ordenada x’y’ para qualquer valor do parâmetro ,
vamos sempre obter um ponto que se encontra em uma circunferência. Esta propriedade
pode ser demonstrada eliminando  entre as equações 23 e 24. Para isso, é transportado o
primeiro membro da equação 23, elevando ao quadrado os dois membros da equação. Em
seguida, é elevado ao quadrado os dois membros da equação 24, somando membro a
membro as duas expressões obtidas. Dessa forma chega-se à equação 27.

 +y  −  y
2 2
   (27)
 x ' − x  +  x2' y ' =  x  +  xy2
 2   2 

Com isso é possível determinar que:

 x + y  x −  y 
2

 médio = R=   +  xy2 (28)


2  2 

Desta forma é possível reescrever a identidade de acordo com a equação 29.

( x' −  médio )2 +  x2' y ' = R2 (29)

A equação 29 é a equação de uma circunferência de raio R com centro no ponto C de


abscissa média e ordenada zero como ilustrado na figura 22a. Como a circunferência é
simétrica em relação ao eixo horizontal fica claro que o mesmo resultado seria obtido se o
ponto marcado fosse N de abscissa x’ e ordenada −x’y’, como ilustrado na figura 22b.

x’
D
mínimo
máximo

M
R
2 −x’y’ x’
C C
O B A x’ O 2 x’y’
R
médio médio N

E
x’y’ x’y’ x’
máximo
(a) (b)
Figura 22 – Circunferência característica do estado plano de tensões.

18
Da figura 22 é possível observar que máximo = médio + R e que mínimo = médio - R. Com
os valores de médio e R dados pela equação 28 é possível escrever a expressão 30.

x + y  x −  y
2

 max,min =    +  xy2 (30)
2  2 

Os pontos A e B em que a circunferência intercepta o eixo horizontal tem um


interesse especial, já que correspondem ao máximo e mínimo valor da tensão normal x,
respectivamente. Ao mesmo tempo, os dois pontos correspondem a um valor nulo da tensão
de cisalhamento x’y’. Desse modo, o valor p do parâmetro  que corresponde aos pontos A e
B pode ser obtido da equação 24, fazendo x’y’ = 0, tendo como resultado a equação 31.

2   xy
tan 2 p = (31)
x − y

Essa equação define dois valores para 2p com diferença de 180° ou dois valores de
p com diferença de 90°. Qualquer desses valores pode ser usado na determinação da
orientação do cubo elementar correspondente, conforme ilustrado na figura 23. As faces do
cubo elementar obtido dessa maneira definem os planos chamados de planos principais no
ponto Q. Da mesma forma, as tensões normais máximo e mínimo que agem nesses planos são
chamadas de tensões principais no ponto Q.
y
y'
x’

mínimo máximo
p
p
Q x

máximo
mínimo

Figura 23 – Faces do cubo elementar alinhadas com os planos principais.

De maneira análoga verifica-se que os pontos D e E localizados no diâmetro vertical


do círculo correspondem ao maior valor da tensão de cisalhamento x’y’ e tem a mesma
abscissa médio = (x + y)/2, e os valores c do parâmetro  que correspondem a esses pontos
podem ser obtidos fazendo x’ = (x + y)/2 na equação 23 e, assim obtendo a expressão 32.

x − y
tan 2 c = − (32)
2   xy

Essa equação define dois valores de 2c com diferença de 180°, (ou dois valores de c
com diferença de 90°). Estes valores podem ser utilizados para a deteminação da orientação

19
do elemento que corresponde à tensão de cisalhamento máxima conforme ilustrado na figura
24.
y
y'

médio médio

máximo
Q x
máximo c
c
médio x’
médio

Figura 24 – Faces do cubo elementar alinhadas com os planos que correspondem à máximo.

Comparando as equações 31 e 32, percebe-se que a tan2c é o inverso negativo da


tan2p. Isto quer dizer que os ângulos 2c e 2p tem diferença de 90° e, portanto, os ângulos
c e p estão separados de 45°. Logo os planos de máxima tensão de cisalhamento formam
ângulos de 45° com os planos principais.

7.2 Círculo de Mohr

A circunferência gerada anteriormente, a qual foi utilizada para a dedução de


algumas relações básicas para a transformação de tensões, foi apresentada pela primeira vez
pelo engenheiro alemão Otto Mohr (1835 – 1918), sendo conhecida como círculo de Mohr
para o estado plano de tensões. Assim, o círculo de Mohr oferece um método alternativo
para a solução de problemas de transformação de tensões do estado plano de tensões
baseando-se em relações geométricas simples.

A construção do círculo de Mohr utiliza para as tensões normais a convenção usual de


sinais, em que a tensão de tração é positiva, ficando posicionada à direita do eixo das
ordenadas, e a tensão de compressão é negativa ficando à esquerda. As tensões de
cisalhamento devem ser analisadas considerando separadamente cada face do elemento
usado na definição dos componentes de tensão. Assim, quando a tensão de cisalhamento em
uma certa face tende a girar o elemento no sentido horário, o ponto que corresponde a essa
face no círculo de Mohr fica acima do eixo das abscissas e vice-versa conforme a figura 25.

 
 
 
 

Sentido horário –  Negativo Sentido anti-horário –  Positivo

Figura 25 – Convenção de sinais para construção do círculo de Mohr.

20
8. Teorias de Falha para Carregamento Estático

Desde o princípio das construções mecânicas, os construtores, projetistas ou


engenheiros buscaram meios para prever a falha ou a resistência dos materiais na sua
aplicação. Segundo Shigley, as máquinas de ensaio surgiram nos anos 1700, sendo que corpos
de prova foram submetidos à toda sorte de carregamentos, resultando em dados de grande
utilidade para formar a ideia de deformação e, posteriormente, liga-la à tensão.

Infelizmente, não há uma teoria universal de falha para o caso geral de propriedades
de materiais e estados de tensão. Na verdade, várias práticas foram aventadas e testadas ao
longo dos anos, levando às práticas aceitas na atualidade.

O comportamento dos metais estruturais é classificado, tipicamente, como dúctil ou


frágil. Os materiais dúcteis são normalmente classificados por terem f > 0,05 e uma
resistência ao escoamento identificável Sy, a qual costuma ser sua referência de resistência.
Geralmente os metais dúcteis tem o limite de escoamento à tração Syt idêntico ao de
compressão Syc. Já os materiais frágeis tem f < 0,05 e não apresentam uma resistência ao
escoamento identificável, tendo então seu limite de resistência definido pela tensão última
Su. No caso dos materiais frágeis, há uma diferença observada entre os limites de tração e
compressão, sendo, normalmente Sut < |Suc|. As teorias geralmente aceitas para prever a
falha de metais estruturais sob carregamento estático são:

• Materiais Dúcteis (critérios de escoamento)

o Tensão máxima de cisalhamento (MSS)

o Energia de distorção (DE)

o Coulomb-Mohr dúctil (DCM)

• Materiais Frágeis (critérios de ruptura)

o Tensão normal máxima (MNS)

o Coulomb-Mohr frágil (BCM) e modificações

8.1 Critérios de Falha para Materiais Dúcteis

Elementos estruturais são projetados de modo que o material que os compõem,


sendo material dúctil, não venha a escoar pela ação dos carregamentos aplicados. Quando o
elemento está sob ação de estado uniaxial de tensão, o valor da tensão normal x que vai
provocar escoamento do material pode ser obtido diretamente de um ensaio de tração
executado em um corpo de prova do mesmo material, já que os dois estão sujeitos ao
mesmo estado de tensões. Assim, mesmo não levando em conta os mecanismos reais que
levam o material ao escoamento, é possível estabelecer que a peça estrutural está segura
enquanto x < Sy, sendo Sy a tensão de escoamento do material no teste de tração.

Por outro lado, quando o elemento estrutural está submetido ao estado plano de
tensões, é conveniente a utilização de um dos métodos apresentados anteriormente para a
determinação das tensões principais máxima a e mínima b em um certo ponto. Nestes
casos não é possível predizer diretamente do ensaio de tração se o material que compõe o
elemetno estrutural em estudo vai se romper ou não. É necessário, antes disso, estabelecer

21
algum critério que leve em conta o real mecanismo de ruptura do material, que permita
comparar os efeitos dos dois estados de tensões a que está sujeito o material.

8.1.1 Tensão Máxima de Cisalhamento (MSS)

Um dos critérios utilizados para materiais dúcteis é o critério da máxima tensão de


cisalhamento. Este critério se baseia no fato de que o escoamento dos materiais dúcteis é
causado por deslizamento do material ao longo de superfícies oblíquas, devido,
principalmente a tensões de cisalhamento. Por este critério, um elemento estrutural é
considerado seguro enquanto a tensão máxima de cisalhamento máximo não exceder a tensão
de cisalhamento corespondente a um corpo de prova do mesmo material, que escoa em
ensaio de tração. Como se pode observar pela análise do círculo de Mohr, em caso de carga
axial centrada, a tensão de cisalhamento é igual à metade do valor da tensão normal
correspondente. Sendo assim, a tensão de cisalhamento máxima em um corpo de prova em
ensaio de tração é Sy/2, no instante em que o material inicia o escoamento. Além disso, foi
observado anteriormente que para o estado plano de tensões, o valor da tensão de
cisalhamento máximo máximo é igual a |máximo – mínimo|/2. Desse modo, se as tensões
principais a e b tem o mesmo sinal, devem respeitar as equações 33.

a  Sy b  Sy (33)

Se as tensões principais a e b tem sinais contrários devem então respeitar a


equação 34, na qual s define o fator de segurança, e 1> 2> 3.

Sy
a −b  Sy ou 1 −  3 = (34)
s

Estas relações podem ser representadas graficamente como apresentado na figura


26. Qualquer estado de tensão é representado nesta figura por um ponto de coordenadas a
e b, que são as tensões principais desse estado de tensões. Assim, se o ponto ficar
localizado dentro da área indicada, o elemento estrutural está em condições de segurança,
caso contrário o elemento sofrerá escoamento. O hexágono que fica associado ao início do
escoamento no material é chamado hexágono de Tresca (Eng. Henri E. Tresca 1814-1885).
b
Sy

-Sy
a
O Sy

-Sy

Figura 26 – Hexágono de Tresca.

8.1.2 Tensão da Energia de Distorção (DE)

O critério da máxima energia de distorção, também conhecido como critério de


von Mises (especialista em matemática aplicada Richard von Mises 1883-1953) considera que
um componente estrutural estará em condições de segurança enquanto o maior valor de
energia de distorção por unidade de volume do material permanecer abaixo da energia de

22
distorção por unidade de volume necessária para provocar o escoamento no corpo de prova
de mesmo material submetido a ensaio de tração. Essa energia para um material isotrópico
em estado plano de tensões é definido segundo a equação 35.

ud =
1
6G
(
 a2 −  a b +  b2 ) (35)

Sendo a e b as tensões principais e G o módulo de elasticidade transversal. No caso


particular de um corpo de prova em ensaio de tração que esteja começando a escoar, temos
a = Sy e b = 0, ficando (ud)e = Sy2 / 6G. Assim, o critério da máxima energia de distorção
indica que o elemento estrutural está seguro enquanto ud < (ud)e, como definido pela
equação (36a). A equação (36b) aplica-se ao caso triaxial de tensões onde 1 > 2 > 3.

( 1 −  2 )2 + ( 2 −  3 )2 + ( 3 −  1 )2
 ' =  −  a b +   S y (36a)
2
a
2
b  '=  S y (36b)
2

Essa expressão define a elipse representada na figura 27, e o termo ’ conhecido


como tensão equivalente de von Mises. Da mesma forma que no método anterior, são
considerados seguros os pontos coordenados formados pelas tensões principais a e b que
ficam localizados dentro da área limitada pela elipse.

Utilizando as componentes xyz do tensor tridimensional de tensões, a tensão de von


Mises pode ser escrita conforme a equação 37.

 '=
( x
2 2
(
−  y ) + ( y −  z ) + ( z −  x ) + 6.  xy2 +  yz2 +  zx2
2
)S (37)
y
2

No caso do estado plano de tensões a equação 37 se resume à equação 38.

 ' =  x2 −  x y +  y2 + 3. xy2  S y (38)

Percebe-se que no caso de cisalhamento puro que x=y=0 resultando na equação 39.

 ' = 3. xy2  S y logo  xy = 0,577 S y (39)

b b
Sy Sy

-Sy -Sy
a a
O Sy O Sy

-Sy -Sy

Figura 27 – Elipse definida por meio do critério de von Mises.

23
8.1.3 Coulomb-Mohr para Materiais Dúcteis (DCM)

Nem todos os materiais apresentam resistências à compressão iguais às suas


correspondentes resistências à tração. A teoria de Mohr, que data de 1900, está baseada em
três ensaios: tração, compressão e cisalhamento até atingir o escoamento se o material em
questão for dúctil ou até a ruptura se for frágil. A hipótese de Mohr foi utilizar os resultados
de tais ensaios para gerar os círculos ilustrados na figura 28 e com isso definir o envelope de
falha, representado pela curva ABCDE acima do eixo .

Curva de falha de Mohr

Figura 28 – Círculos que representam a hipótese de falha de Mohr.

Uma variação da teoria de Mohr, conhecida como teoria de Coulomb-Mohr assume


que a linha divisória BCD da figura 28 é reta. Com tal hipótese somente as resistências à
tração e compressão são necessárias, dispensando o ensaio de cisalhamento. Considerando o
ordenamento convencional das tensões principais na forma 1> 2> 3, fazendo a relação de
semelhança de triângulos OBiCi da figura 29 e dividindo as resistências St e Sc pelo fator de
segurança s, é possível obter a equação 40.
Curva de falha de
Coulomb-Mohr

Figura 29 – Cículos que representam a hipótese de falha de Coulomb-Mohr

1 3 1
− = (40)
St Sc s

Para cisalhamento puro  = 1 = -3 e, assim a resistência torcional de escoamento


ocorre quando máx = Ssy, de modo que, considerando um fator de segurança s igual a unidade
na equação 40 resulta na equação 41.

S yt .S yc
S sy = (41)
S yt + S yc

A figura 30 ilustra o envelope que define o critério de falha de Coulomb-Mohr.

24
Figura 30 – Traçado da teoria de falha de Coulomb-Mohr para estado plano de tensões

Para ajudar a decidir com relação a hipóteses apropriadas e trabalháveis de falha de


material dúctil, Joseph Marin, que foi um dos pioneiros nos estudos de falhas de materiais,
coletou dados de muitas fontes. Alguns dos pontos de dados utilizados para selecionar
teorias de falha para materiais dúcteis são mostrados no gráfico da figura 31. Nela percebe-
se que tanto a teoria da tensão máxima de cisalhamento quanto a da energia de distorção
são aceitáveis para a falha dúctil.

Se o engenheiro pretende desenvolver um projeto, a teoria da máxima tensão de


cisalhamento pode ser uma opção, pois é conservadora e rápida de usar. Se o problema
consiste em saber porque uma peça falhou, ou se o engenheiro pretende ser menos
conservador, então a teoria da energia de distorção se destaca. Para materiais dúcteis que
tem resistências de escoamento desiguais, então a teoria de Coulomb-Mohr se mostra a mais
adequada.

Figura 31 – Dados experimentais sobrepostos a teorias de falha (Shigley).

25
8.2 Critérios de Falha para Materiais Frágeis

Materiais frágeis se caracterizam pelo fato de apresentarem uma ruptura brusca, sem
que o corrra escoamento anterior ao instante de ruptura. Assim como no caso anterior,
quando um elemento estrutural está sob um carregamento uniaxial de tensão, pode-se
definir como sendo sua tensão limite a mesma tensão de ruptura verificada para o mesmo
material em um ensaio de tração. Quando o elemento se encontra no estado plano de
tensões é necessário determinar as tensões principais a e b e aplicar um critério de ruptura
para materiais frágeis.

8.2.1 Tensão Normal Máxima para Materiais Frágeis (MNS)

A teoria da tensão normal máxima define que um componente estrutural irá falhar
quando a máxima tensão normal atuante supera o limite de resistência do material, obtida
por meio de ensaio de tração em um corpo de prova do mesmo material. Assim, o
componente estrutural se encontrará em situação de segurança enquanto os valores
absolutos das tensões principais 1, 2 e 3 forem menores em módulo que Sut e Suc como
definido nas equações 42.

 A =  1  Sut  B =  3  Suc (42)

Lembrando que Sut e Suc são as resistências últimas à tração e compressão


respectivamente, fornecidas como quantidades positivas. Ao mesmo tempo, é importante
salientar que diversos materiais frágeis apresentam limites de resistência diferentes quando
submetidos à tração e à compressão. Um exemplo clássico é o concreto que tem alta
resistência à compressão mas, por outro lado, baixa resistência à tração, comparativamente.

Para fins de projeto, pode-se incorporar fatores de segurança resultando nas


equações 43.

S ut Suc
A = B = (43)
s s

O critério da máxima tensão normal pode ser expresso graficamente como indica a
figura 32. Portanto, os pontos coordenados definidos pelas tensões principais a e b que
estiverem contidos na área definida estarão em situação de segurança.

b
Sut

-Suc a
O Sut

-Suc

Figura 32 – Área definida pelo critério da máxima tensão normal.

26
8.2.2 Modificações da teoria de Mohr para Materiais Frágeis

Serão apresentadas três modificações da teoria de Mohr para materiais frágeis, sendo
aplicadas a projetos restritos à tensões planas e com a incorporação do fator de segurança.

• Coulomb-Mohr Frágil (BCM): esta teoria é idêntica aquela aplicada aos


materiais dúcteis, porém com vista nos limites de resistência Sut e Suc.

S ut
A = A B  0 (44.a)
s

A B 1
− = A  0 B (44.b)
S ut S uc s

Suc
B = 0 A B (44.c)
s

• Teoria de Mohr Modificada I (M1M): o estudo do comportamento de materiais


frágeis na região do quarto quadrante levou à sua ampliação nesta região,
conforme ilustrado na figura 33.

S ut B
A = A B  0 ou A  0 B e 1 (45.a)
s A

(Suc − S ut ) A −  B =
1
A  0 B e
B
1 (45.b)
S uc .S ut S uc s A

Suc
B = 0 A B (45.c)
s

Figura 33 – Dados de fratura biaxial de FoFo cinzento comparado com critérios de falha.

27
• Teoria de Mohr Modificada II (M2M): tendo em vista que alguns dados ainda se
encontravam fora da região segura definida pela modificação M1M, a teoria
de Mohr modificada II estendeu ainda mais a região do quarto quadrante
utilizando uma relação parabólica. A parábola acha-se na forma de a.B2+
b.B2 +c.A2 = 1, ajustada para ser tangente à vertical em A = -B = Sut.

S ut B
A = A B  0 ou A  0 B e 1 (46.a)
s A

2
s. A  s. B + S ut  B
+  = 1 A  0 B e 1 (46.b)
S ut  S ut − S uc  A

Suc
B = 0 A B (46.c)
s

A figura 34 mostra como a teoria M2M corresponde a alguns dos dados disponíveis no
quarto quadrante.

Eq. 46.b

Figura 34 – Dados de A e B para o quarto quadrante de FoFo grau 40.

28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEER, Ferdinand Pierre. Resistência dos materiais. 3ª edição. São Paulo: Makron Books, 1995.

CALLISTER Jr., W. D. “Ciência e Engenharia de Materiais”. 5ª edição. LTC. 2002.

HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 3ª edição. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

HIGDON, Archie. Mecânica dos materiais. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1981.

POPOV, E. P. Introdução à mecânica dos sólidos. São Paulo: Edgard Blucher, 1998.

SHIGLEY, J. E., MISCHKE, C. R., BUDYNAS, R. G. Projeto de engenharia mecânica. 7ª edição.


Porto Alegre: Bookman, 2005.

TIMOSHENKO, Stephen P. GERE, James M. Mecânica dos materiais. 7ª edição. São Paulo:
Cengage Learning, 2010.

29
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA REGIÃO DOS VINHEDOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

INTEGRIDADE ESTRUTURAL

Vagner Grison, Me. Eng. Mec.


2015

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