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CENTRO UNIVERSITÁRIO FEI

MRP250 – Propriedades Mecânicas do Materiais

ANÁLISE DA CURVA TENSÃO-DEFORMAÇÃO


VERDADEIRA DO COBRE PURO E DO AÇO INOXIDÁVEL
AISI 304 SOB ENSAIO DE TRAÇÃO

Nome R.A.
Artur Nagao Gil 11.119.565-7
Carlos Vinicius Nogueira Ribeiro 11.119.085-6
João Vitor Cato Pansiera 11.119.061-7
Leandro Vieira de Moraes Agapito 11.117.178-1

Turma 615
Grupo G

São Bernardo do Campo

2º semestre de 2020

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INTRODUÇÃO TEÓRICA

Este estudo tem como principal objetivo analisar o ensaio de tração, mais especificamente a curva-tensão
deformação verdadeira, de dois corpos de prova de materiais diferentes: cobre puro e aço inox AISI 304. Antes de
ser feita a análise dos resultados obtidos, é necessário entender primeiro alguns conceitos importantes sobre este
assunto:

1. Sobre o ensaio de tração

Quando um material é submetido a uma determinada força uniforme de forma lenta e durante um longo
período de tempo, é comum que essa amostra sofra alguma deformação. Este comportamento pode ser analisado
por intermédio de uma curva tensão-deformação. Os três principais métodos utilizados para obtenção desta curva
são: cisalhamento, compressão e tração, sendo o último o foco deste estudo.

Durante um ensaio de tração, um corpo de prova é colocado sob ação de uma força uniaxial perpendicular
à sua secção transversal, geralmente até a fratura, que aumenta ao decorrer do tempo provocando deformação no
corpo de prova, como mostra a Figura 1. Após ter suas extremidades fixadas, a amostra é lentamente ensaiada pela
máquina universal de ensaio, esse aparelho também registra a carga aplicada, por meio de uma célula de carga, e
os alongamentos, por meio de um extensômetro, ilustrados na Figura 2. Vale acrescentar que este tipo de ensaio é
destrutivo, ou seja, o corpo de prova será ensaiado até sua fratura completa e, portanto, não poderá ser reutilizado
para outros ensaios nestas condições.

Figura 1: Esquema da deformação que ocorre no corpo de prova durante ensaio de tração

Fonte: CALLISTER JUNIOR, William D.; RETHWISCH, David D. Ciência e


Engenharia de Materiais: Uma Introdução, 8º edição, p. 130.

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Figura 2: Esquema dos equipamentos envolvidos em um ensaio de tração

Fonte: CALLISTER JUNIOR, William D.; RETHWISCH, David D. Ciência e


Engenharia de Materiais: Uma Introdução, 8º edição, p. 131.

Os resultados do ensaio são registrados por um computador, através de um software específico, na forma
de um gráfico com valores de tensão no eixo das ordenadas e com valores de deformação no eixo das abcissas. A
curva gerada diretamente pelo software é conhecida com curva tensão-deformação de engenharia, sendo que a
tensão de engenharia (σ) é dada pela seguinte fórmula, onde F é a carga aplicada e A 0 é a área inicial da seção
transversal,

𝐹
𝜎 = 𝐴 (1)
0

enquanto a deformação de engenharia (ε) segue a relação abaixo, onde 𝑙𝑜 representa o comprimento inicial, 𝑙 é o
comprimento instantâneo e ∆𝑙 é a variação de comprimento.

𝑙−𝑙0 ∆𝑙
𝜀= = (2)
𝑙0 𝑙0

Desta curva tensão-deformação de engenharia podem ser extraídas diversas propriedades mecânicas do
material ensaiado, como por exemplo: módulo de elasticidade, limite de escoamento, limite de resistência,
tenacidade, resiliência, ductilidade entre outros. Um ensaio de tração que produza uma curva tensão-deformação
de engenharia pode ser aplicado para a maioria dos tipos de materiais existentes e geralmente apresenta um formato
semelhante ao da Figura 3. Nesta mesma figura é possível fazer uma separação visual entre duas regiões
importantes sob a curva: a região de deformação elástica, caracterizada por seu aspecto linear logo no início da
curva e que representa a região onde as tensões exercidas não são suficientes para causar deformação permanente
no corpo de prova, ou seja, quando a tração é retirada o material ainda é capaz de retornar ao seu estado inicial; e
a região de deformação plástica, que inicia logo após o fim da região elástica e se estende até a fratura do corpo
de prova e que representa as tensões nas quais os material seria deformado permanentemente.

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Figura 3: Curva tensão-deformação característica de um ensaio de tração, com
esquemas do comportamento comum de um corpo de prova durante o ensaio

Fonte: CALLISTER JUNIOR, William D.; RETHWISCH, David D.


Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução, 8º edição, p. 141.

2. Sobre tensão e deformação verdadeira

Apesar de ser amplamente utilizada para muitos estudos e projetos industriais, a curva tensão-deformação
de engenharia apresenta algumas inconsistências que decorrem principalmente de sua modelagem matemática
voltada para os parâmetros iniciais do corpo de prova. A primeira inconsistência pode ser observada na região de
empescoçamento do corpo de prova na curva tensão-deformação de engenharia, ou seja, logo após o limite de
resistência (ponto mais alto da curva). Nota-se que a tensão aplicada diminui a partir deste ponto, indicando que o
material estaria se tornando menos resistente, entretanto a curva deveria indicar o contrário pelo fato que a
diminuição da seção da transversal implica diretamente no aumento da tensão registrada, ou seja, o material deveria
estar se tornando mais resistente (CALLISTER; 2015). Outro problema da tensão e deformação de engenharia
pode ser evidenciado através de um simples exemplo: imaginando uma tração que dobra o comprimento inicial de
∆𝑙 2𝑙0−𝑙0 𝑙0−𝑙𝑓
um corpo de prova, ou seja, 𝜀 = = = 1 e considerando que |𝜀𝑡𝑟𝑎çã𝑜 | = |𝜀𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 |, teríamos 1 =
𝑙0 𝑙0 𝑙0
para um cenário de compressão, logo: ∴ 𝑙𝑓 = 0, o que não é fisicamente possível.

Para tentar solucionar este e outros problemas, foi criado o conceito de tensão e deformação verdadeiras
que procuram levar em conta a situação do corpo de prova em um dado instante de tempo. A tensão verdadeira
(t) em si pode ser definida através da seguinte relação, em que F é a carga aplicada sobre o corpo de prova e A i é
a área da seção transversal em um determinado instante de tempo:
𝐹
𝜎𝑡 = (3)
𝐴𝑖

Já a deformação verdadeira pode ser descrita matematicamente através a integral de Ludwig, que quando
resolvida nos fornece a equação própria da deformação verdadeira (t) , em que ℓ é o comprimento do corpo de
prova em um certo instante de tempo e ℓ0 é o comprimento inicial do mesmo corpo de prova:

𝑑ℓ ℓ
𝜀𝑡 = ∫ = ln (4)
ℓ0 ℓ ℓ0

Tensão e deformação verdadeiras também podem estar relacionadas à tensão e deformação de engenharia
através das seguintes equações:

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𝜎𝑡 = 𝜎(𝜀 + 1) (5) 𝜀𝑡 = ln(𝜀 + 1) (6)

Com estas equações poderemos fazer a análise dos resultados obtidos no ensaio de tração do cobre puro
e do AISI 304, e então plotar a curva tensão-deformação verdadeira destes dois materiais. É importante acrescentar
que as equações (5) e (6) acima só são válidas para uma região de deformação plástica linear da curva tensão-
deformação verdadeira, ou seja, somente os pontos entre o limite de escoamento e o limite de resistência do
material. Será nesta região se concentrará a maioria das análises propostas neste trabalho.

3. Sobre os modelos matemáticos da região de deformação plástica linear

Como citado acima, a região mais importante da curva tensão-deformação verdadeira é a de deformação
plástica linear, pois somente a partir dela podemos extrair as propriedades mecânicas mais importante de um
material. Ao longo dos anos, foram propostas diversas equações que conseguissem descrever esta região de
deformação plástica linear com precisão para fins de previsões e estudos à respeito de um determinado material.
A tabela abaixo traz quatro destes modelos de equações, os quais são bastante utilizados em pesquisas científicas
e na indústria, e que também serão utilizadas para analisar o ensaio de tração do cobre puro e do AISI 304:

Tabela 1: Modelos matemáticos para a região de deformação plástica linear

Modelo Equação
Hollomon (1945) 𝜎𝑡 = 𝐾𝜀𝑡 𝑛
Ludwigson (1971) 𝜎𝑡 = 𝐾1 𝜀𝑡 𝑛1 + exp (𝐾2 + 𝑛2 𝜀𝑡 )
Zhou (1992) 𝜎𝑡 = 𝜎𝑦 + 𝐾𝜀𝑡 𝑛
Tian e Zhang (1992) 𝜎𝑡 = 𝐾𝜀𝑡 𝑛1 +𝑛2 ln (𝜀𝑡)
Fonte: Notas de Aula 4; disciplina de Propriedades Mecânicas dos Materiais; Prof. Júlio César
Dutra; Centro Universitário FEI, 2020

No caso do modelo de Hollomon, os coeficientes K e n são conhecidos, respectivamente, como


coeficiente de resistência e coeficiente de encruamento. Para serem utilizados em análises experimentais, estes
modelos precisam passar por um processo de linearização ou anamorfose, o qual permitirá relacionar tensão e
deformação sem a necessidade de definir previamente os coeficientes pertencentes a cada equação. Este
procedimento será melhor explicado em seções seguintes.

MATERIAIS E MÉTODOS

Em decorrência da pandemia do COVID-19, o experimento não foi realizado em sala de aula pelos alunos.
O ensaio de tração tanto do cobre puro quanto do aço inox AISI 304 nos foi disponibilizado através de um vídeo
produzido pelo professor Júlio César Dutra nas dependências do laboratório de ensaios mecânicos do Centro
Universitário FEI. Os dados coletados pela máquina universal de ensaios foram disponibilizados aos alunos através
da plataforma Moodle da disciplina de Propriedades Mecânicas dos Materiais (MRP250) em formato de arquivo
Excel. O método de análise esteve totalmente baseado nas instruções fornecidas pelo professor durante a Aula 4,
com exceção do modelo de Ludwigson que necessitou de uma análise um pouco mais complexa, mas ainda assim
semelhante com a análise feita com os outros modelos propostos para a região de deformação plástica linear da
curva tensão-deformação verdadeira.
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Para realização do ensaio de tração do cobre puro e do aço inoxidável AISI 304, o corpo de prova destes
materiais do passou por todos os tratamentos exigidos e seguiu as dimensões estabelecidas por norma. A
velocidade do ensaio foi aumentada para 15 mm/min para fins didáticos. O esquema abaixo traz as características
normalizadas do corpo de prova:

Figura 4 Esquema de um corpo de prova normalizado para ensaio de tração

Fonte: CALLISTER JUNIOR, William D.; RETHWISCH, David D. Ciência e Engenharia de


Materiais: Uma Introdução, 8º edição, p. 131.

Primeiramente, com os dados de carga e extensão do material ensaiado disponibilizados no arquivo Excel
foram calculados os valores de tensão e deformação de engenharia utilizando as equações (1) e (2). Aplicando as
equações (5) e (6) nos valores anteriormente calculados, os pontos que relacionam tensão e deformação de
engenharia foram transformados em tensão e deformação verdadeira e então transportados para um gráfico de
linhas suaves que, enfim, nos permite enxergar a curva tensão-deformação verdadeira. Como foi citado na seção
anterior, para a análise da curva tensão-deformação verdadeira deveremos focar na região de deformação plástica
linear do material. O próximo passo foi o de isolar os dados que correspondessem a esta região, ou seja, a região
entre o limite de escoamento e de resistência de cada material. Foram obtidos 378 pontos de dados, para o cobre
puro e 454 para o AISI 304.

Em seguida, deve-se fazer uma aproximação de região plástica uniforme utilizando os modelos
matemáticos presentes na Tabela 1, mas antes é necessário um procedimento de linearização, ou seja, transformar
uma equação não-linear em uma equação de reta (𝑦 = 𝑎𝑥 + 𝑏) ou de parábola (𝑦 = 𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐). A linearização
que foi feita abaixo para o modelo de Tian e Zhang (1992) serve de exemplo do procedimento adotado para a
linearização de todos os outros modelos propostos na Tabela 1:

𝑛 +𝑛2 ln 𝜀𝑡
𝜎𝑡 = 𝐾 𝜀𝑡 1
𝑛 +𝑛2 ln 𝜀𝑡
ln 𝜎𝑡 = ln 𝐾 + ln 𝜀𝑡 1

ln 𝜎𝑡 = ln 𝐾 + 𝑛1 ln 𝜀𝑡 + 𝑛2 (ln 𝜀𝑡 )2 = 𝑐 + 𝑏𝑥 + 𝑎𝑥 2

A Tabela 2 traz as equações linearizadas de todos os modelos que descrevem a região de deformação
plástica uniforme:

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Tabela 2: Equações linearizadas que descrevem a região de deformação plástica uniforme

Modelo Equação linearizada Coeficientes Equação geral


Hollomon (1945) ln 𝜎𝑡 = ln 𝐾 + 𝑛 ln 𝜀𝑡 K, n 𝑦 = 𝑏 + 𝑎𝑥
𝑛
Ludwigson (1971) ln(𝜎𝑡 − 𝐾1 𝜀𝑡 1 ) = 𝐾2 + 𝑛2 𝜀𝑡 K1, n1, K2, n2 𝑦 = 𝑏 + 𝑎𝑥
Zhou (1992) ln(𝜎𝑡 − 𝜎𝑦 ) = ln 𝐾 + 𝑛 ln 𝜀𝑡 K, n 𝑦 = 𝑏 + 𝑎𝑥
Tian e Zhang (1992) ln 𝜎𝑡 = ln 𝐾 + 𝑛1 ln 𝜀𝑡 + 𝑛2 (ln 𝜀𝑡 ) 2 K, n1, n2 𝑦 = 𝑐 + 𝑏𝑥 + 𝑎𝑥 2
Fonte: Autores

Com esta tabela em mãos foi possível construir os gráficos, seguindo as equações de reta ou parábola,
para avaliar qual dos modelos teóricos mais se aproxima das condições experimentais e extrair o valor dos
coeficientes de cada equação. Os resultados obtidos serão apresentados na próxima seção.

Tratando do modelo de Ludwigson especificamente, como a equação linearizada possui muitos


coeficientes desconhecidos, foi necessário o uso da ferramenta Solver do Excel, que é bem útil para determinar
matematicamente valores ótimos a partir de condições pré-estabelecidas. Somente com estes coeficientes já
determinados é possível traçar o gráfico da região de deformação plástica uniforme utilizando este modelo.

RESULTADOS OBTIDOS

1. Resultados gerais

A partir dos dados de extensão e carga aplicada nos materiais: cobre puro e aço inox AISI 304, foi possível
calcular os valores de deformação (𝜀) e de tensão (𝜎) de ambos, utilizando as técnicas expostas na seção anterior
e as equações (1) e (2). O Gráfico 1 é o resultado da comparação entre a curva tensão-deformação de engenharia
do cobre puro e do AISI 304:

Gráfico 1: Comparação da curva tensão-deformação de engenharia entre o cobre e o aço inox AISI 304

Deste gráfico podemos extrair os valores de limite de escoamento: aproximadamente 55 MPa para o cobre
puro e 300 MPa para o aço inox AISI 304; e também os valores de limite de resistência: 217,99 MPa para o cobre
puro e 582,77 MPa para o AISI 304.
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2. Resultados do ensaio de tração do cobre puro

Aplicando as equações (5) e (6) para os dados de tensão e deformação de engenharia do cobre puro pode-
-se obter sua curva tensão-deformação verdadeira. O Gráfico 2, abaixo, compara a curva de engenharia e
verdadeira, na qual podemos ver suas semelhanças na região elástica e diferenças na região plástica, podemos
ainda notar a região plástica linear na curva verdadeira, que será melhor explorada adiante:

Gráfico 2: Comparação da curva tensão-deformação de engenharia e verdadeira do cobre puro

Deste gráfico vemos que o limite de escoamento permanece igual a 55 MPa nas duas curvas, porém os
limites de resistência são diferentes: 218 MPa na curva de engenharia, e 384 MPa na curva verdadeira. Do mesmo
modo vemos que as deformações máximas também são diferentes: aproximadamente 0,9 m/m na curva de
engenharia, e aproximadamente 0,64 m/m na curva verdadeira.

Isolando os pontos da região plástica linear do cobre obtêm-se o Gráfico 3 abaixo:

Gráfico 3: Região de deformação plástica linear do cobre

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No cálculo da tensão e deformação verdadeiras, através da tensão e deformação de engenharia, é possível
encontrar as diferenças entre os valores teóricos e os práticos na região plástica linear. Os modelos matemáticos
de Hollomon (1945), Tian e Zhang (1992), Zhou (1992) e Ludwigson (1971) podem ser aplicados nos dados
obtidos no ensaio de tração do cobre puro para realizar esta comparação, exposta nos gráficos abaixo:

Gráfico 4: Região de deformação plástica linear do cobre Gráfico 5: Região de deformação plástica linear do cobre
no modelo de Hollomon no modelo de Zhou

Gráfico 6: Região de deformação plástica linear do cobre Gráfico 7: Região de deformação plástica linear do cobre no
no modelo de Tian e Zhang modelo de Ludwigson

Das equações das linhas de tendência dos gráficos acima é possível extrair os valores dos coeficientes das
equações linearizadas apresentadas na Tabela 2, que também completam os modelos matemáticos da Tabela 1,
assim descrevendo a região plástica linear do cobre puro. A Tabela 3 apresenta as equações obtidas:

Tabela 3: Equações da Tabela 1 obtidas através dos valores encontrados nos gráficos de deformação plástica
linear do cobre puro

Modelo Equação obtida


Hollomon (1945) 𝜎𝑡 = 515,48𝜀𝑡0,5418
Ludwigson (1971) 𝜎𝑡 = 411,8478𝜀𝑡0,6022 + exp (3,5780 + 1,9943𝜀𝑡 )
Zhou (1992) 𝜎𝑡 = 55 + 579,75𝜀𝑡0,8402
Tian e Zhang (1992) 0,7228+0,0458𝑙𝑛𝜀𝑡
𝜎𝑡 = 594,61𝜀𝑡

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3. Resultados do ensaio de tração do aço inoxidável AISI 304

A curva tensão-deformação verdadeira do aço inox AISI 304 pode ser obtida ao usarmos as equações (5)
e (6) com os dados de tensão e deformação de engenharia para calcular tensão e deformação verdadeira, da mesma
forma como foi feito para o cobre anteriormente. O Gráfico 8 abaixo traz a comparação entre duas curvas obtidas
no ensaio deste material:

Gráfico 8: Comparação da curva tensão-deformação de engenharia e verdadeira do AISI 304

Podemos extrair o limite de escoamento igual a 300 MPa em ambas as curvas. Para o limite de resistência
temos: 583 MPa na curva de engenharia, e 1050 MPa na curva verdadeira. A deformação máxima está em torno
de 0,9 m/m na curva de engenharia, e 0,64 m/m na curva verdadeira.

Isolando a região de deformação plástica uniforme do cobre obtivemos o Gráfico 9 abaixo:

Gráfico 9: Região de deformação plástica linear do aço inox AISI 304

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Utilizando as equações linearizadas da Tabela 2, podemos construir gráficos que permitem estudar a
proximidade, ou não, dos valores experimentais do ensaio do AISI 304 em relação aos modelos teóricos que
procuram descrever a região plástica linear dos materiais, presentes na Tabela 1. Estas comparações podem ser
vistas nos gráficos de cada modelo teórico abaixo:

Gráfico 10: Região de deformação plástica linear do AISI Gráfico 11: Região de deformação plástica linear do AISI
304 no modelo de Hollomon 304 no modelo de Zhou

Hollomon

Gráfico 12: Região de deformação plástica linear do AISI Gráfico 13: Região de deformação plástica linear do AISI
304 no modelo de Tian e Zhang 304 no modelo de Ludwigson

Das equações das linhas de tendência dos gráficos acima podemos extrair os coeficientes que
completam as equações da Tabela 1 para o aço inox AISI 304. Estas equações estão, finalmente, escritas na
Tabela 4 abaixo:

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Tabela 4: Equações da Tabela 1 obtidas através dos valores encontrados nos gráficos de deformação plástica
linear do AISI 304

Modelo Equação obtida


Hollomon (1945) 𝜎𝑡 = 1258,41𝜀𝑡0,4399
Ludwigson (1971) 𝜎𝑡 = 937,7825𝜀𝑡0,8179 + exp (5,7082 + 0,6634𝜀𝑡 )
Zhou (1992) 𝜎𝑡 = 300 + 1162,12𝜀𝑡0,8445
Tian e Zhang (1992) 0,7087+0,0873𝑙𝑛𝜀𝑡
𝜎𝑡 = 1489,36𝜀𝑡

DISCUSSÕES

Ao relacionarmos os dois materiais que passaram pelo ensaio de tração analisado neste trabalho,
notaremos que ambos possuem ductilidade semelhante, com alongamento próximo à 90%. Entretanto, através do
Gráfico 1, podemos ainda notar que o aço inoxidável AISI 304 apresenta-se bem mais versátil que o cobre puro,
mesmo que ambos possuam ductilidade semelhante. Enquanto o cobre puro possui limite de resistência (ponto
mais alto da curva tensão-deformação de engenharia) em torno de 220 MPa, o aço AISI 304 chega a valores
próximos a 580 MPa para esta mesma propriedade mecânica, do mesmo modo ao analisarmos a área sob a curva
tensão-deformação de engenharia (propriedade conhecida como tenacidade) é perceptível que o AISI 304
apresenta uma região maior que a do cobre puro, ou seja, o primeiro é mais tenaz que o segundo. Tem-se então
que ao mesmo tempo em que pode ser deformado até quase o dobro de seu comprimento inicial, o AISI 304
também suporta elevadas tensões e acumula boa quantidade de energia antes da fratura, o que o torna mais versátil
que o cobre, sob esta análise. Esta característica do aço inoxidável AISI 304 é visível também no dia-a-dia, onde
encontram-se facilmente produtos como copos, bandejas, talheres, cabos, peças de veículos entre outros, feitos
deste material, que são utilizados de forma persistente por longos períodos de tempo sem sofrer oxidação e danos
de uso.

Tratando especificamente das curvas tensão-deformação de engenharia e tensão-deformação verdadeira


de apenas um dos materiais ensaiados, já eram esperadas, matematicamente, algumas semelhanças e diferenças
entre elas. A partir dos dados coletados no ensaio de tração e da análise através dos gráficos, vê-se que tanto no
cobre puro quanto no AISI 304, mas também para qualquer outro material ensaiado, a tensão de engenharia tende
a ser subestimada em relação à tensão verdadeira, enquanto a deformação de engenharia é superestimada em
relação à verdadeira. Isto é efeito dos próprios conceitos e modelos matemáticos da tensão e deformação
verdadeira, os quais definem as propriedades do material em um instante específico e não mais nas condições
iniciais do corpo de prova. Tomando o aço inoxidável AISI 304 como exemplo, os dados indicam que, quando
considerando a curva tensão-deformação de engenharia, seu limite de resistência é próximo de 590 MPa e sua
deformação máxima chega a 0,90 m/m, porém quando consideramos a curva tensão-deformação verdadeira o valor
do limite de resistência sobe para aproximadamente 1050 MPa e sua deformação diminui para em torno de 0,65
m/m. Esta diferença de valores tanto em tensão quanto em deformação pode ser usada como um método de
segurança natural para o uso de um material, já que permite localizar facilmente e com relativa precisão a região
limite de deformação plástica em que este material pode atuar. Neste trabalho, o foco esteve em salientar as
semelhanças e diferenças entre as propriedades de engenharia e verdadeira e também como analisá-las, porém no

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caso de um projeto industrial, por exemplo, cabe a equipe de engenheiros decidir qual das propriedades melhor se
adequa às condições desejadas.

Por fim, é importante denotar a qualidade, ou não, dos modelos matemáticos propostos para descrever a
região de deformação plástica linear de curva tensão-deformação verdadeira. A Tabela 5 traz um resumo dos
coeficientes de correlação (R²) obtidos através das linhas de tendência dos gráficos das equações linearizadas de
Hollomon (1945), Ludwigson (1971), Zhou (1992) e Tian e Zhang (1992), nos permitindo comparar a proximidade
entre valores teóricos e experimentais:

Tabela 5: Coeficiente de correlação (R²) dos modelos apresentados

Modelo R² - Cobre R² - AISI 304


Hollomon (1945) 0,9929 0,9813
Ludwigson (1971) 0,9530 0,9992
Zhou (1992) 0,9961 0,9995
Tian e Zhang (1992) 0,9990 0,9998

Mesmo que se aproximem bastante da curva obtida experimentalmente (𝑅2 ≅ 1), os modelos
matemáticos não são capazes de prever os erros mínimos e não controlados que estão presentes em todo e qualquer
ensaio em laboratório, mas, de qualquer forma, ainda permitem um estudo muito preciso das propriedades do
corpo de prova. O modelo de Hollomon (1945), o mais simples e antigo de todos, se demonstra coerente e preciso
em relação aos dados empíricos atuais mesmo após 75 anos de sua dedução, apresentando coeficientes de
correlação (R²) de 0,9929 para o cobre puro e de 0,9813 para o AISI 304, por este motivo ainda é o modelo mais
utilizado para estudos gerais em materiais usados na indústria. O modelo de Ludwigson (1975) apesar de ser o
mais complexo matematicamente, não aparentou ser o mais preciso e viável de todos os métodos utilizados neste
ensaio, com valores de R² iguais a 0,953 para o cobre puro e 0,9992 para o AISI 304 (no caso deste último, a
qualidade do modelo pode ser considerada excelente), ainda assim pode ser usado como bom comparativo entre
os diversos modelos para a região de deformação plástica linear. Já os modelos de Zhou (1992) e de Tian e Zhang
(1992) foram os que apresentaram as melhores qualidades de resultados, com R² muito próximos de 1 em ambos
os materiais ensaiados. Estes dois últimos modelos poderão ser também muito úteis para estudos aprofundados
sobre determinados materiais e projetos mecânicos, já que suas modelagens, além de precisas, são também rápidas
e simples, não dependendo de potentes ferramentas de software. No geral, podemos considerar que o experimento
foi bem sucedido e que os resultados obtidos através dos modelos matemáticos que descrevem a região plástica
uniforme possuem elevada qualidade e precisão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALLISTER JUNIOR, William D.; RETHWISCH, David D.. Ciência e Engenharia de Materiais: uma
introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2015. 817 p. Tradução de: Sergio Murilo Stamile Soares. Cap.6: itens 6.2,
6.3, 6.6 e 6.7.

DUTRA, Júlio César. Notas de Aula 4: Curva Tensão-Deformação Verdadeira. MOODLE Centro Universitário
FEI, 2020. Disponível em:
https://moodle.fei.edu.br/pluginfile.php/623151/mod_resource/content/2/MRP250%20-
%20Aula%2004.pdf?redirect=1. Acesso em: 12 set. 2020.

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DIÁRIO DE BORDO

Inicialmente, o grupo resolveu começar o relatório a partir do dia 03/09/2020, no qual decidimos que
todos nós faríamos os estudos dos dados e montagem gráficos para compararmos os dados obtidos através do
Excel, além de certificarmos que todos os integrantes entendessem a matéria. Os procedimentos tiveram total apoio
na aula 4 e tutorial disponibilizado por nosso professor da disciplina, Júlio César Dutra. No dia seguinte dividimos
as partes do trabalho de forma igualitária entre os integrantes. Em decorrência do período de quarentena da
COVID-19, o grupo não conseguiu se reunir fisicamente para tratar do trabalho, também não foi possível
encontrarmos um horário comum para a realização de uma reunião online. Todas as decisões e assuntos deste
relatório foram tratadas através do Whatsapp com bastante profissionalismo e dedicação por parte de todos os
integrantes do grupo. As partes do relatório responsáveis a cada integrante foram entregues no dia 10/09, a partir
do qual foi iniciada a montagem formatação final do relatório. O arquivo foi totalmente finalizado no dia
12/09/2020. A seguir está uma tabela que indica a função de cada integrante no grupo durante a realização do
trabalho:

Integrantes do grupo Participação no relatório


O integrante do grupo realizou a introdução
teórica, elaboração do diário de bordo, além de
Artur Nagao Gil realizar a montagem dos gráficos obtidos no
Excel.
O integrante ficou responsável pela parte de
materiais e métodos, referências bibliográficas,
Carlos Vinicius Nogueira Ribeiro além de realizar a montagem dos gráficos no
Excel.
O integrante realizou a conclusão, formatação
e revisão final do relatório e entrega do arquivo,
João Vitor Cato Pansiera além de também montar os gráficos no Excel,
especialmente o modelo de Ludwigson.
O integrante ficou responsável pela parte dos
resultados obtidos e análise dos mesmos, além
Leandro Vieira de Moraes Agapito de realizar a montagem dos gráficos obtidos no
Excel.

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