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ENSAIO DE TRAÇÃO E TORÇÃO EM MATERIAIS METÁLICOS

ENSAIO DE TRAÇÃO
O ensaio de tração de materiais metálicos é normalizado pela Métodos de ensaio
padrão para ASTM E8/E8M: Ensaio de tração de materiais metálicos, onde um
corpo de prova padrão, feito do material que se deseja ensaiar, representado no
esquema da Figura 1 é deformado por uma carga de tração que aumenta
progressivamente, em geral até que ocorra a sua fratura.

Figura 1 - Um corpo de prova de tração padrão com seção transversal circular.

Fonte: CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Fundamentos da Ciência e Engenharia de


Materiais (2020)

Esta carga de tração é aplicada uniaxialmente sobre o maior eixo do


corpo de prova através de um aparelho esquematizado na Figura 2.
Figura 2 - Representação esquemática do dispositivo empregado para realizar ensaios tensão
deformação por tração

Fonte: CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Fundamentos da Ciência e Engenharia de


Materiais (2020)
Os aparelhos são projetados para, durante a execução do ensaio, alongar o
corpo de prova continuamente e ao mesmo tempo registrar o par de valores
carga instantânea aplicada – alongamento do extensômetro.
Após a obtenção de diversos pares de valores até o momento de fratura, é
possível elaborar o gráfico de 𝜎 × 𝜀, onde
𝐹
𝜎=
𝐴
e
𝐿 −𝐿 𝛥𝐿
𝜀= =
𝐿 𝐿

ENSAIO DE TORÇÃO
O ensaio de torção é possível de se realizar tanto com o corpo de
prova feito do material desejado ou até com uma peça acabada, como brocas,
eixos e hastes, desde que o aparato de ensaio tenha suporte para as
dimensões ensaiadas. Dessa forma, diferente do ensaio de tração, no ensaio
de torção não há um corpo de prova padrão para todo o ensaio.
Um exemplo de equipamento utilizado para o ensaio de torção em um
corpo de prova cilíndrico pode ser visto na Figura 3.
Figura 3 – Aparato para ensaio mecânico de torção.

Fonte: GARCIA, A.; SPIM, J. A.; SANTOS, C. A. Ensaios dos Materiais (2017).

O equipamento deve ter a capacidade de aferir grandezas como a


força imediatamente aplicada e o ângulo de torção, para assim, dependendo do
formato do corpo de prova, aplicar os dados obtidos e estabelecer o gráfico
tensão x deformação.
FENÔMENO DE ESTRICÇÃO
De acordo com Callister e Rethwisch (2020), ao submeter um material a
um ensaio de tração, ocorre a deformação elástica até atingir o limite de
escoamento; na sequência uma deformação plástica distribuída no corpo de
prova até atingir seu limite de resistência a tração (ponto máximo da curva 𝜎 × 𝜀
); e a partir desse ponto surge uma deformação concentrada numa região do
corpo de prova onde formando um “pescoço” por conta da tensão exercida. A
formação desse “pescoço” é denominada de estricção.
Figura 4 – Comportamento de corpo de prova num ensaio de tração

Fonte: CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Fundamentos da Ciência e


Engenharia de Materiais (2020)

Para Beer et al (2013), o fenômeno de estricção ocorre devido ao


deslizamento do material ao longo de superfícies cristalinas oblíquas, causado
pelas tensões de cisalhamento resultantes do ensaio. Isso é coerente devido ao
ângulo de 45º que a ruptura forma com a superfície original do corpo de prova,
mostrando que o cisalhamento é o responsável pela falha do material.
Figura 5 - Corpo de prova ensaiado de um material dúctil.

Fonte: BEER, F. P. et al. Estática e mecânica dos materiais (2013)


A estricção, cita Askeland e Wright (2019), resulta numa significativa diminuição
da área da seção transversal de onde ocorre, necessitando de uma carga axial
menor para continuar a deformação, como consequência disso, a tensão de
engenharia calculada em relação a área original também diminui.
Figura 6 – Redução da seção transversal devido a estricção.

Fonte: ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais (2019)


DUCTIBILIDADE EM FUNÇÃO DO DIAGRAMA 𝝈 × 𝜺
A ductibilidade é a medida do grau de deformação plástica que um material sofre
até seu ponto de fratura, dessa maneira, um material que pratica grandes
deformações antes de se romper é chamado de material dúctil, de outra forma,
quando um material sofre uma deformação plástica muito pequena ou nenhuma,
este é denominado de material frágil. (CALLISTER, 2020)
De acordo com Higdon et al (1981), a ductibilidade é mensurada pelo
alongamento percentual até a ruptura e pela redução da seção transversal na
seção de ruptura, ambos expressos em porcentagem, resultando nas
expressões

Dessa maneira, analisando a primeira expressão, fica claro que um diagrama


𝜎 × 𝜀 que apresenta grandes deformações na ruptura representa materiais
dúcteis, sendo o contrário verdadeiro para materiais frágeis, como se observa
nos diagramas da Figura 7.
Figura 7 – Comparação de diagrama 𝜎 × 𝜀 de material dúctil e frágil

Fonte: CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Fundamentos da Ciência e Engenharia de


Materiais (2020)
MÓDULO TANGENTE E MÓDULO SECANTE
Para Higdon et al (1981), o módulo tangente e o módulo secante são medidas
utilizadas para mensurar a rigidez de um material.

O módulo tangente (Et) é definido como a inclinação da curva tensão x


deformação em algum ponto de tensão particular, podendo esse estar dentro ou
fora do limite elástico do material, sendo que quando está dentro deste limite, o
módulo tangente se iguala ao módulo de Young do material.

Matematicamente, o módulo tangente é definido por

𝑑𝜎
𝐸 =
𝑑𝜀

O módulo secante (Es) é a proporção da tensão para a deformação em qualquer


ponto do diagrama, definido matematicamente por
𝜎
𝐸 =
𝜀
Figura 8 – Representação esquemática dos módulos tangente e secante

Fonte: CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Fundamentos da Ciência e Engenharia de


Materiais (2020)
EFEITO BAUSCHINGER
Conforme afirmado por Yan (1998), quando os materiais são submetidos
a uma carga axial em uma direção específica (como tração) e entram no estágio
plástico, seguidos de uma descarga e, posteriormente, uma recarga na direção
oposta (por exemplo, compressão), é possível observar que, durante a fase de
recarga, ocorre uma redução no nível de tensão em relação ao carregamento
inicial na direção original
Já Beer et al (2013) propõe uma segunda abordagem complementar
para entendendimento do efeito Bauschinger, criando a seguinte situação.
Seja um material ensaiado com a aplicação de carga de tração
monotônica que se deforma plasticamente até atingir o ponto C do diagrama da
Figura 9; na sequência esse é descarregado (ponto D) e carregado à
compressão até atingir o ponto H da curva, onde a tensão exercida é
−𝜎 .
É notável que o intervalo DH da curva não apresenta um ponto de
escoamento definido, diferente do trecho AB, onde B é o ponto de escoamento.

Fonte: Adaptado de: BEER, F. P. et al. Estática e mecânica dos materiais (2013)

Analisando as duas abordagens, conclui-se que o efeito Bauschinger é


a diminuição da tensão necessária para uma deformação -ε (compressão) após
ser exercido uma tensão deformante até ε no sentido contrário (tração)
juntamente com a indeterminação do ponto de escoamento no instante de
recarga sobre o material.
ENCRUAMENTO POR DEFORMAÇÃO PLÁSTICA
Higdon et al (1981) verifica que para a maioria dos materiais a linha de
descarregamento após uma deformação plástica é aproximadamente paralela
a do carregamento inicial. Dessa forma, quando um material é novamente
carregado, a deformação elástica ocorre seguindo sentido contrário da linha de
descarregamento, até atingir um novo limite de escoamento maior que o limite
de escoamento inicia, esse fenômeno é denominado de encruamento. O
diagrama desse fenômeno é visto na Figura 10.
Figura 10 – Descarga seguido de recarga demonstrando fenômeno de encruamento

Fonte: Adaptado de: HIGDON, A.; et al. Mecânica dos materiais (1981).

Askeland e Wright (2019) comentam que a cada vez que o processo de


encruamento é repetido, o limite de escoamento aumenta, entretanto a
ductibilidade diminui, uma vez que o limite de escoamento se aproxima do
ponto de fratura.
Citam também que o motivo do aumento da resistência do material
ocorre divido a interação e multiplicação de linhas discordâncias das estruturas
cristalinas do material.
DIFERENÇA DE FLUÊNCIA E DEFORMAÇÃO PERMANENTE
Para Higdon et al (1981) quando um material excede o limite de
proporcionalidade, percebe-se que há uma deformação que permanece após a
carga ser removida. Essa deformação que continua após a retirada de qualquer
carregamento externo e independe do tempo em que foi aplicada a carga é
denominada de deformação permanente.
Já a fluência, define Callister e Rethwisch (2020), é a deformação
permanente que depende do tempo dos materiais quando esses são
submetidos a uma carga ou tensão constante, por exemplo em materiais que
são solicitados a temperaturas elevadas e expostos a tensões mecânicas
estáticas, como turbinas ou linhas de vapor de alta pressão. A fluência é, em
geral, algo indesejável e comumente utilizada para definir a vida útil de uma
peça.
Em síntese, a diferença entre deformação permanente e fluência é que
a primeira independe do tempo de carregamento e a segunda depende do
tempo de atuação dos esforços solicitantes.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed.


Rio de Janeiro: Cengage Learning Edições Ltda., 2019. E-book. ISBN
9788522128129. Disponível em:
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522128129/. Acesso em: 29
set. 2023.

American Society for Testing and Materials. ASTM E8/E8M: Standard Test
Methods for Tension Testing of Metallic Materials, 2007.

BEER, F. P. et al. Estática e mecânica dos materiais. 1. ed. Porto Alegre:


AMGH Editora Ltda, 2013. E-book. ISBN 9788580551655. Disponível em:
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580551655/. Acesso em: 29
set. 2023.

CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Fundamentos da Ciência e


Engenharia de Materiais: Uma abordagem integrada. 5. ed. Rio de Janeiro:
LCT, 2020. E-book. ISBN 9788521636991. Disponível em:
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521636991/. Acesso em: 29
set. 2023.

GARCIA, A.; SPIM, J. A.; SANTOS, C. A. Ensaios dos Materiais. 2. ed. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda, 2017. E-book. ISBN 978-85-
216-2114-0. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-
85-216-2114-0/. Acesso em: 29 set. 2023.

HIGDON, A. et al. Mecânica dos materiais. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Dois S.A., 1981.

YAN, J. Study of Bauschinger Effect in various spring steels. Dissertação


de Mestrado (Mestrado em ciências aplicadas) - Universidade de Toronto,
Toronto, 1998.

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