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2. Torção

Introdução:
Este capítulo vai estudar peças submetidas a efeito de Torção. Especificamente,
estudaremos as tensões e deformações produzidas em peças de seção transversal circular,
sujeitas à ação de conjugados que tendem a torcer essas peças. Tais conjugados são chamados
de momentos de torção, momentos torcionais ou torque, T e T’ (figura). Esses conjugados têm
a mesma intensidade T e sentidos opostos. São então grandezas vetoriais e podem ser
representadas de duas maneiras:
Fig. a → setas curvas ou Fig. b → vetores binários

O torque atuante na peça representada na figura é definido através do produto entre a


intensidade da carga aplicada e a distância entre o ponto de aplicação da carga e o centro da
seção transversal.
Peças submetidas a torção são encontradas em muitas aplicações na prática de
engenharia. O caso mais comum de aplicação é o de eixos de transmissão ou eixos motrizes
utilizados em veículos e máquinas para transmitir potência de um ponto a outro.
- Máquina para teste de torção:

2.1. Deformações nos Eixos Circulares:


Um eixo circular está fixado a um suporte
indeslocável, por uma de suas pontas (fig. a). Aplicando-se à
extremidade livre o momento de torção T, o eixo gira, e a
seção transversal de extremidade apresenta uma rotação
representada pelo ângulo φ, chamado ângulo de torção (fig.
b).
A faixa de variação do momento torsor T, o ângulo
de torção é proporcional a T. Pode se afirmar também que φ é
proporcional ao comprimento L do eixo. Isto quer dizer que
para um eixo de mesma seção transversal e mesmo material,
mas com o dobro de comprimento, o ângulo de torção será
duas vezes maior, para o mesmo momento T.
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Neste ponto devemos, mostrar uma propriedade


importante dos eixos circulares: quando um eixo circular
fica submetido à torção, todas as seções transversais se
mantêm planas e conservam sua forma. A fig. a, mostra a
deformação de um modelo de borracha submetido à torção.
Essa propriedade é característica de eixos circulares,
maciços ou vazados; ela não se apresenta em peças que têm
seção transversal diferente da circular. Como por exemplo,
quando uma barra de seção quadrada é submetida a
momento de torção, suas várias seções transversais não se
mantém, perdendo a forma inicial (fig. b).

Tomando agora um eixo circular de comprimento


L e raio c, que foi torcido em um ângulo de torção φ,
passamos à determinação da distribuição de tensões de
cisalhamento na seção transversal (fig. a). Retiramos do
interior do eixo um cilindro de raio ρ, marcando na
superfície deste um elemento de área formado por dois
círculos adjacentes e duas geratrizes muito próximas.
Antes da atuação de qualquer esforço de torção, o
elemento se apresenta como mostrado (fig. b). Após a
aplicação de um momento de torção, o elemento se
transforma em um losango (fig. c). Sabemos que a
deformação de cisalhamento γ em um certo elemento é
medida pela variação do ângulo formado pelos lados do
elemento. No problema que analisamos aqui, dois lados do
elemento são formados por círculos, que permanecem
inalterado. Assim, a deformação de cisalhamento γ deve
ser igual ao ângulo formado pelas linhas AB e A’B.

γ= ρ.φ onde: γ = deformação de cisalhamento (radianos)


L ρ = raio qualquer (m)
φ = ângulo de torção (radianos)
L = comprimento (m)

Essa equação mostra que deformação de cisalhamento γ em um certo ponto do eixo


sujeito à torção é proporcional ao ângulo de giro φ. Ela mostra também que γ é proporcional à
distância ρ do centro do eixo circular ao ponto considerado. Dessas observações concluímos
que a deformação de cisalhamento em uma barra varia linearmente com a distância ao
eixo da barra.
Segue-se então da equação, que deformação de cisalhamento é máxima na superfície
da barra circular, onde ρ = c. Temos:
onde: γmáx = deformação de cisalhamento máxima (radianos)
γmax = c . φ c = raio (m)
L φ = ângulo de torção (radianos)
L = comprimento (m)
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2.2. Tensões no Regime Elástico:

Nesta discussão sobre torção de eixos circulares, não adotamos até agora nenhuma
relação particular entre tensões e deformações. Vamos considerar agora o caso em que o
momento de torção T tem um valor tal que as tensões no material se mantém abaixo da tensão
de cisalhamento de escoamento τe. Como visto anteriormente que nesse caso, as tensões no
material permanecem abaixo do limite de proporcionalidade e do limite de elasticidade.
Podemos aplicar a Lei de Hooke e sabemos que não haverá deformação permanente.
Aplicando a Lei de Hooke para tensões e deformações de cisalhamento, temos:

τ=G.γ onde: τ = tensão de cisalhamento (Pa)


G = módulo de elasticidade transversal do material (Pa)
γ = deformação de cisalhamento (radianos)

A tensão de cisalhamento na barra circular varia linearmente


com a distância ρ do eixo da barra. A tensão aumenta à medida que o
ponto estudado afasta-se do centro e aproxima-se da periferia. A
tensão máxima na seção ocorrerá na distância máxima entre o centro e
a periferia, ou seja, quando ρ = c.
A fig. a mostra a distribuição de tensões de cisalhamento na
seção transversal de um eixo circular maciço. Na fig. b é mostrada a
distribuição de tensões de cisalhamento em um eixo circular vazado,
de raio interno c1, e raio externo c2.

τmín = c1 τmax onde: τmín = tensão de cisalhamento mínima (Pa)


c2 τmáx = tensão de cisalhamento máxima (Pa)
c1 = raio interno (m)
c2 = raio externo (m)

τmín = T . c1 onde: T = momento torsor (N.m)


J J = momento de inércia polar (m4)

τmax = T . c2
J

A relação da tensão de cisalhamento a uma distância ρ do eixo da barra circular é:

τ=T.ρ onde: τ = tensão de cisalhamento (Pa)


J T = momento torsor (N.m)
ρ = raio qualquer (m)
J = momento de inércia polar (m4)

⇒ Momento de Inércia Polar (J):


- Eixo maciço de raio c:
J = π . c4
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- Eixo circular de seção vazada, com raio interno c1 e raio externo c2:
J = π (c24 - c14)
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2.3. Ângulo de Torção no Regime Elástico:

Nesta seção desenvolveremos uma relação entre o ângulo de


torção φ de um eixo circular e o momento torçor T que se aplica ao eixo.
Vamos admitir que qualquer porção do eixo vai permanecer elástica.
Consideremos inicialmente o caso de um eixo circular de comprimento
L que tem seção uniforme de raio c. O eixo está sujeito à ação do
momento torçor T em uma das suas extremidades, sendo a outra
extremidade fixa. Sabemos que o ângulo de torção φ e a deformação de
cisalhamento máxima γmax estão relacionados pela expressão: γmax = c . φ
L
Como em regime elástico a tensão de escoamento não é excedida em nenhum ponto do
eixo, podemos aplicar a Lei de Hooke, escrevendo:
γmax = τmax τmax = T . c
G J
Igualando as equações e resolvendo para φ, escrevemos:

φ=T.L onde: φ = ângulo de torção (radianos)


J.G T = momento torsor (N.m)
L = comprimento (m)
J = momento de inércia polar (m4)
G = módulo de elasticidade transversal do material (Pa)
A relação obtida mostra que, dentro do regime elástico, o ângulo de torção φ é
proporcional ao momento de torção T aplicado ao eixo circular.

2.4. Projeto de Eixos de Transmissão:

As principais especificações a serem consideradas no projeto de eixos de transmissão


são a potência a ser transmitida e a velocidade de rotação do eixo. O projetista deverá escolher
materiais e dimensões adequadas, de modo que a máxima tensão de cisalhamento admissível
não seja excedida quando o eixo transmitir a potência requerida na velocidade especificada.
Para determinar o torque no eixo de transmissão, recordamos da dinâmica elementar
que a potência P associada à rotação de um corpo rígido sujeito a um torque T é:
P= T.ω onde: ω = velocidade angular do corpo, expressa em radianos
por segundo
Mas ω = 2.π.f, onde f é a freqüência do movimento de rotação, isto é, o número de
revoluções por segundo. A unidade de freqüência é 1s-1, chamada hertz (Hz). Substituindo na
Eq. 1, temos:
P = 2.π.f.T onde: P = potência (N.m/s = watts) (w)
T = torque (N.m)
T= P J = momento de inércia polar (m4)
2.π.f c = raio externo (m)
τmáx = tensão máxima de cisalhamento (Pa)
τmax = T . c
J Obs.: 1 rpm = 1 s-1 = 1 Hz
60 60
1 hp (horse power) ≅ 746 w
1 cv (cavalo vapor) ≅ 736 w
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2.5. Torção em Eixos de Seção Não-Circular:

Vimos no item 3.1. que quando um eixo circular fica submetido à torção, todas as
seções transversais se mantêm planas e conservam sua forma. E quando uma barra de seção
quadrada é submetida à torção, suas várias seções transversais não se mantém, perdendo a
forma inicial, podendo apresentar empenamentos ou saliências.
Entretanto, utilizando-se uma análise matemática baseada na teoria da elasticidade, é
possível determinar a distribuição das tensões cisalhantes sobre um eixo de seção transversal
quadrada.
Os resultados da análise de uma seção transversal quadrada, juntamente com outros
resultados da teoria da elasticidade, para eixos com seções transversais triangulares e elípticas
são mostrados na Tabela 1. Em todos esses casos, a tensão cisalhante máxima ocorre no ponto
da periferia da seção transversal que esteja mais próximo à linha de centro do eixo. Na Tabela
1 esses pontos são indicados com destaque sobre a seção transversal. São também fornecidas
as fórmulas para o ângulo de torção para cada tipo de seção transversal do eixo.

- Barras de eixo reto com seção retangular:


Tomando a barra da figura, com comprimento L e lados a e b (respectivamente o lado
maior e o lado menor), que está submetida ao torque T, vemos que as maiores tensões de
cisalhamento ocorrem ao longo da linha central da face mais larga da barra, e o seu valor é
dado por:
τmáx = T
c1ab2

O ângulo de torção, por sua vez, pode ser expresso por:

φ= TL
c2ab3G

Os coeficientes c1 e c2, dados na Tabela 2, dependem somente da relação a/b.

Tabela 1 Tabela 2 – Coeficientes para a


Torção de barras retangulares

a/b c1 c2
1,0 0,208 0,1406
1,2 0,219 0,1661
1,5 0,231 0,1958
2,0 0,246 0,229
2,5 0,258 0,249
3,0 0,267 0,263
4,0 0,282 0,281
5,0 0,291 0,291
10,0 0,312 0,312
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LISTA DE EXERCÍCIOS - TORÇÃO

TENSÕES NO REGIME ELÁSTICO

1. Uma árvore de aço possui diâmetro igual a 30 mm e está submetida a um momento de


torção de 270 N.m. Calcular a tensão máxima de cisalhamento.

2. Um eixo circular de 10 cm de diâmetro está submetido a T = 28.500 N.m. Qual o valor da


tensão máxima de cisalhamento?

3. Um momento de torção T = 4,60 KN.m é


aplicado ao cilindro maciço de bronze indicado.
Determinar a máxima tensão de cisalhamento:

4. Um eixo circular vazado de aço tem comprimento L = 1,5 m e diâmetros interno e externo
respectivamente de 40 e 60 mm.
a) Qual é o maior momento de torção que pode ser aplicado ao eixo, para que as tensões
de cisalhamento não excedam 120 MPa?
b) Qual é o valor mínimo da tensão de cisalhamento para esse caso?

5. Considere-se um eixo, de seção circular vazada, com 75 mm de diâmetro interno e 125 cm


de diâmetro externo. Experimentalmente, determinou-se a tensão de cisalhamento τ = 56
MPa, na face interna. Qual a tensão nas fibras externas?

6. O projeto preliminar de um eixo de transmissão levou à


escolha de uma barra de seção vazada, com diâmetro
interno de 100 mm e diâmetro externo de 150 mm.
Pede-se determinar o máximo torque que poderá ser
transmitido, sendo a tensão admissível do material 83
MPa, nas seguintes situações:
a) do projeto preliminar;
b) supondo um eixo sólido maciço de mesmo peso
daquele do anteprojeto.

ÂNGULO DE TORÇÃO NO REGIME ELÁSTICO

1. O eixo-árvore representado na figura, possui diâmetro


igual a 40 mm e comprimento L = 0,9 m, movido por
um torque de 200 N.m. Calcular a tensão máxima
atuante e o ângulo de torção. O valor de G é 80 GPa.

2. Uma eixo circular, de 31,25 mm de diâmetro, está submetido a T = 312,5 N.m. Sabendo-
se que para L = 1,5 m tem-se φ = 3,12°, qual o valor de G?
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3. Que valor de momento de torção deve ser aplicado à


extremidade do eixo circular, de modo que o ângulo de
torção produzido seja 2º? Adotar para o módulo de
elasticidade G o valor 80 GPa, para o aço.

4. Um eixo oco, de aço, tem 3 m de comprimento e transmite o momento de torção T =


25.000 N.m. O valor de φ, correspondente ao comprimento total do eixo, não deve exceder
2,5°. A tensão admissível ao cisalhamento é τ = 84 MPa. Sendo G = 84 GPa, quais os
diâmetros, externo e interno?

5. Uma barra de aço de seção circular, maciça, tem 4 m de comprimento, e vai ser torcida até
que o ângulo de torção perfaça uma volta completa. Determinar o maior valor de diâmetro
para a barra, de modo que a tensão não exceda 100 MPa. Adotar G = 80 GPa.

6. Pede-se determinar:
a) o torque que causa um ângulo de torção de 3° no eixo
cilíndrico vazado de aço (G = 77 GPa);
b) o ângulo de torção causado pelo mesmo torque, num
eixo cilíndrico maciço de mesma área de seção
transversal.

PROJETO DE EIXOS DE TRANSMISSÃO

1. Que diâmetro deve ser usado para o eixo do rotor de uma máquina de 5 hp, operando a
3600 rpm, se a tensão de cisalhamento não pode exceder 59 MPa.

2. Dimensionar uma árvore maciça de aço, para que transmita com segurança uma potência
de 10 CV, girando com uma rotação de 800 rpm. Sabe-se que a tensão admissível do aço a
cisalhamento na torção é de 50 MPa.

3. Um eixo é constituído por um tubo de aço de 50 mm de diâmetro externo, e deve transmitir


100 KW de potência a um freqüência de 20 Hz. Determinar a espessura do tubo para que a
tensão máxima de cisalhamento não exceda a 60 MPa.

4. A tensão máxima de cisalhamento que atua em um eixo árvore de uma transmissão é 40


MPa, o seu diâmetro é 48 mm, e a sua frequência é de 2 Hz. Determinar a potência
transmitida.

5. Uma vez que o eixo vazado de aço mostrado gira a


180 rpm, uma luz estroboscópica para medições
indica que o ângulo de torção do eixo é 3º. Sabendo-
se que G = 77 GPa, determinar:
a) a potência que está sendo transmitida;
b) a máxima tensão de cisalhamento no eixo.
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6. Um motor transmite 500 hp ao eixo de aço AB, que é


tubular e tem um diâmetro externo de 50,8 mm.
Considerando que ele gire a 1910 rpm, determine seu
diâmetro interno se a tensão cisalhante admissível para o
material é 172,37 MPa.

7. Dimensionar o eixo árvore vazado que será utilizado na


transmissão para o diferencial de um caminhão. A potência é de
320 CV e a rotação 1600 rpm (para ser atingido o torque
máximo). A tensão admissível de cisalhamento é 50 MPa e a
relação entre os diâmetros externo e interno é 1,25. (D = 1,25 d)

TORÇÃO EM EIXOS DE SEÇÃO NÃO-CIRCULAR

1. Se a = 25 mm e b = 15 mm, determine a tensão cisalhante máxima nos eixos circular e


elíptico quando sujeitos ao torque T = 80 N.m.
a) b)

2. Cada uma das duas barras de alumínio mostradas está


sujeita a um torque de intensidade 1800 N.m.
Sabendo-se que G = 26 GPa, determinar para cada
barra a máxima tensão de cisalhamento e o ângulo de
torção em B.

3. Determinar o maior torque que pode ser aplicado a


cada uma das duas barras de alumínio mostradas, e o
correspondente ângulo de torção em B, sabendo-se
que τadm = 50 MPa e G = 26 GPa.

4. A extremidade B da barra de aço inoxidável


indicada gira de 2° pela ação do torque T. Sabendo-
se que G = 80 GPa, determinar a máxima tensão de
cisalhamento da barra.
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5. Uma barra de aço tem seção transversal de 9,5 x 19 mm, e a tensão de cisalhamento na
barra não pode exceder 100 MPa, quando o ângulo de torção é de 15°. Determinar o
menor comprimento admissível para a barra, sendo G = 79,3 GPa.

6. Cada uma das três barras de aço mostradas está sujeita a um torque de intensidade 275
N.m. Sabendo-se que a tensão de cisalhamento admissível é 50 MPa, determinar a
dimensão b necessária para cada barra.

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