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Acompanhamento em aulas: Resistência dos Materiais II Prof: Marcelo Robert

Cisalhamento transversal

Referência: R.C. Hibbeler- Resistência dos materiais 5° e 7°edição, cap.7,

Objetivos:

Desenvolver um método para encontrar a tensão de cisalhamento em vigas com seção


transversal prismática, feitas de material homogêneo que se comporta de maneira linear-
elástica. O método limita-se a alguns casos especiais de geometria. O conceito de fluxo de
cisalhamento, bem como o de tensão de cisalhamento, será discutido para vigas e elementos
de parede fina.

Cisalhamento em elementos retos

Foi mostrado em Resistência 1 e até agora em Resistência 2 que as vigas suportam em geral,
tanto as cargas de cisalhamento como as de momento fletor. O cisalhamento V é o resultado
de uma distribuição de tensão de cisalhamento transversal que atua sobre a seção transversal
da viga. Observe que, devido à propriedade complementar do cisalhamento, tensões de
cisalhamento longitudinais associadas, também, atuam ao longo dos planos longitudinais da
viga. Por exemplo: um elemento típico retirado do interior da seção transversal está sujeito
tanto a tensões de cisalhamento transversais como longitudinais.

Será mais fácil ilustrar fisicamente porque a tensão de cisalhamento se desenvolve nos planos
longitudinais da viga se considerarmos que esta é composta por três tábuas. Se as superfícies
superior e inferior de cada tábua forem lisas e as tábuas não estiverem coladas, quando
aplicada à carga P haverá o deslizamento de uma tábua em relação à outra e, deste modo, a
viga se comportará como mostrado.

Por outro lado, se as tábuas estiverem acopladas, as tensões de cisalhamento longitudinais


entre elas impedirão o deslizamento relativo e, assim, a viga atuará como uma peça única.
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Resultado da tensão de cisalhamento

Como resultado da tensão de cisalhamento, desenvolvem-se deformações de cisalhamento, e


estas tendem a distorcer a seção transversal de maneira bem complexa. Para mostrar essa
condição, consideremos uma barra feita de material altamente deformável e marcada com
uma grade de linhas horizontais e verticais.

Quando aplicada, a força de cisalhamento V tende a deformar as linhas conforme o padrão


mostrado.

Essa distribuição não uniforme da tensão de cisalhamento sobre a seção provoca distorção da
seção, que não permanece plana.

Observação:

Lembre-se de que, ao desenvolver a fórmula da flexão, temos como certo que as seções
transversais permanecem planas e perpendiculares ao eixo longitudinal da viga após a
deformação. Apesar dessa condição ser violada quando a viga está submentida a flexão e
cisalhamento, podemos supor, em geral, que a distorção da seção transversal descrita
anteriormente é tão pequena que pode ser desprezada. Essa hipótese é particularmente
verdadeira no caso, bastante comum, da viga esbelta, ou seja, aquela que possui largura
pequena em reação ao comprimento.

No caso de cisalhamento transversal, no entanto, a distribuição da deformação por


cisalhamento não pode ser facilmente expressa em termos matemáticos para toda a largura
da viga. Por exemplo: ela não é uniforme ou linear para seções transversais retangulares como
as já vista. Portanto, a análise da tensão de cisalhamento será desenvolvida de maneira
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diferente da usada para estudar os carregamentos anteriores. Na verdade, desenvolveremos


uma fórmula para a tensão de cisalhamento indiretamente, isto é, usando a fórmula da flexão
e a relação entre momento fletor e a força de cisalhamento (V=dM/dx).

Fórmula do cisalhamento

O desenvolvimento de uma relação entre a distribuição da tensão de cisalhamento que atua


sobre a seção transversal de uma viga e a força cortante (ou de cisalhamento) resultante na
seção baseia-se no estudo da tensão de cisalhamento longitudinal.

Para exemplificar como essa relação é estabelecida, consideremos o equilíbrio de uma força
horizontal de uma parte do elemento tirado da viga.

Um diagrama de corpo livre do elemento que mostra somente a distribuição da tensão normal
que atua sobre a peça é apresentado.

Essa distribuição é provocada pelos momentos fletores M e M+dM. Excluímos do diagrama de


corpo livre os efeitos de V, V+dV, uma vez que essas cargas são verticais e, portanto, não serão
incluídas no somatório da força horizontal.

1° análise:

O elemento da figura acima na verdade, satisfaz ΣFx=0 visto que, a distribuição de tensão em
cada lado forma apenas um conjugado e, portanto, uma força resultante nula.

2°análise:

Consideremos agora o segmento superior do elemento, secionado a uma distância y’ do eixo


neutro NA e que aparece sombreado na figura.
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Esse seguimento tem largura t na seção, e cada lado de sua seção transversal tem área A’.

Como os momentos resultantes de cada lado do elemento diferem por dM, pode-se ver na
figura abaixo que ΣFx=0 não será satisfeita, a menos que a tensão de cisalhamento longitudinal
τ atue sobre a face inferior do seguimento.

3°análise:

Na análise a seguir, vamos supor que essa tensão de cisalhamento seja constante em toda a
largura t da face inferior e atue sobre a área tdx. Aplicando a equação de equilíbrio das forças
horizontais e usando a fórmula da flexão, temos:

Resolvendo em τ

4° análise:

Essa equação pode ser simplificada, pois V=dM/dx. Além disso, a integral representa o
momento de primeira ordem da área A’ em torno do eixo neutro.
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1  dM  1
τ=   ∫ ydA = V ∫ ydA
It  dx  A It A

5°análise:

dA
Como a localização do centroide da área A’ é determinada por y' = ∫ y , podemos
A' A'
escrever que:

Q = ∫ ydA = y ' A'


A'

Desta forma a fórmula do cisalhamento é:

1  dM  1 VQ
τ=   ∫ ydA = V ∫ ydA =
It  dx  A It A It

Onde:

τ= tensão de cisalhamento no ponto localizado a uma distância y’ do eixo neutro do elemento,


supõe-se que essa tensão seja constante ao longo da largura t do membro.
V= força cortante resultante interna, determinada pelo método das seções e pelas equações
de equilíbrio.
I= momento de inércia de toda a área da seção transversal, calculado em torno do eixo neutro.
t=largura da área da seção transversal do elemento medida no ponto em que τ deve ser
determinado.
Q= Q = ∫ ydA = y ' A' , onde A’ é a parte superior (ou inferior) da área da seção transversal do
A'

elemento, definida pela seção onde t é medido, e y ' é à distância até o centroide de A’,
medida a partir do eixo neutro.

Análise final:

Apesar de termos considerado na demonstração apenas as tensões de cisalhamento que


atuam no plano longitudinal da viga, a fórmula aplica-se igualmente para determinar a tensão
de cisalhamento transversal na área da seção transversal. Isso ocorre porque as tensões de
cisalhamento transversal e longitudinal são complementares e numericamente iguais.

Tensão de cisalhamento em vigas

A fim de explicar como se aplica a fórmula do cisalhamento e também discutir algumas de suas
limitações, estudaremos a seguir as distribuições da tensão de cisalhamento em alguns tipos
comuns de seções transversais de vigas. Aplicações numéricas da fórmula do cisalhamento
serão mostradas nos exemplos.

Forma retangular

Consideremos que a viga tenha uma seção transversal retangular de largura b e altura h.
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A distribuição de tensão de cisalhamento ao longo de toda a seção transversal é determinada


calculando-se a tensão de cisalhamento a uma altura arbitrária y do eixo neutro. Neste caso, a
área sombreada escura A’ será usada para calcular τ.

Então:

Aplicando a fórmula do cisalhamento, temos:

O resultado indica que a distribuição da tensão de cisalhamento sobre a seção transversal é


parabólica. Como mostrado, a intensidade varia de zero nas partes superior e inferior,
y=±(h/2), ao valor máximo no eixo neutro, y=0. Especificamente, como a área da seção
transversal é A=bh, em y=0 temos, de acordo com a equação:
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Esse mesmo valor de τmáx pode ser obtido diretamente pela fórmula do cisalhamento,
τ=VQ/It, pois τmáx ocorre onde Q tem o maior valor, uma vez que V, I e t são constantes. Por
inspeção, Q será máximo quando se considerar a área acima ( ou abaixo) do eixo neutro; isto
é, A’=bh/2 e y’=h/4

Por comparação, τmáx é 50% maior que a tensão de cisalhamento média determinada pela
τmed=V/A.

É importante lembrar que para cada τ que atua sobre a área da seção transversal na figura
abaixo, há um τ correspondente atuando no sentido longitudinal ao longo da viga.

Se a viga for cortada por um plano longitudinal através de seu eixo neutro, por exemplo,
então, como observado anteriormente, a tensão de cisalhamento máxima atuará nesse plano
como na figura abaixo.
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É essa tensão que provoca a falha de uma de uma viga de madeira como mostrado na figura.

Neste caso, a rachadura horizontal começa a ocorrer através do eixo neutro nas extremidades,
uma vez que nesses pontos as reações verticais submetem a viga a uma grande tensão de
cisalhamento e a madeira tem baixa resistência ao cisalhamento ao longo de suas fibras
(grãos), orientados na direção longitudinal.

Por isso, é importante mostrar que, quando a distribuição da tensão de cisalhamento é


integrada no domínio da seção transversal, produz o cisalhamento resultante V. Para isso é
escolhida uma tira infinitesimal de área dA=bdy e, como τ atua uniformemente em toda a tira,
temos:

Viga de Abas Largas

Uma viga de abas largas consiste de duas abas e uma alma. Por meio de uma análise
semelhante à anterior podemos determinar a distribuição da tensão de cisalhamento que atua
sobre a seção transversal de uma viga em I. Como ocorre na seção retangular, a tensão de
cisalhamento varia parabolicamente ao longo da altura da viga, visto que a seção transversal
pode ser tratada como a seção retangular, inicialmente com a largura da aba superior, b,
depois com a espessura da alma, t , e por fim com a largura da aba inferior, b. Observe que a
tensão de cisalhamento varia apenas levemente ao longo da alma e, alem disso, que a tensão
de cisalhamento salta na junção da aba-alma, visto que a espessura da seção transversal muda
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nesse ponto ou, em outras palavras, t muda na fórmula do cisalhamento. Por comparação, a
alma suporta significativamente maior força cortante que as abas.
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Exercícios:

1) A viga é feita de madeira e está sujeita a uma força de cisalhamento vertical interna
resultante V = 3 kN. (a) Determine a tensão de cisalhamento na viga no ponto P e (b) calcule a
tensão de cisalhamento máxima na viga.

2) Uma viga de abas largas tem as dimensões mostradas na figura. Supondo que ela seja
submetida a uma força cortante V=80kN, (a) Traçar o gráfico da distribuição de tensão de
cisalhamento que atua sobre a área de sua seção transversal e (b) determinar a força cortante
que alma resiste.

3) Se a viga T for submetida a um cisalhamento vertical V=12kip, qual será a tensão de


cisalhamento máxima nela desenvolvida? Calcular também o salto da tensão de cisalhamento na
junção aba-alma AB. Desenhar a variação de intensidade da tensão de cisalhamento em toda a
seção transversal.
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Fluxo de cisalhamento em estruturas compostas por vários elementos

Na prática de engenharia, às vezes se constroem estruturas com vários elementos, a fim de obter
maior resistência a cargas.

Se as cargas provocarem flexão na estrutura, podem ser necessários elementos de fixação como
pregos, parafusos, material de ou cola. Esses elementos de fixação são capazes de evitar
deslizamento relativo.

Para projetar os elementos de fixação, é necessário conhecer a força de cisalhamento à qual eles
devem resistir ao longo do comprimento da estrutura.

VQ
q=
I
q = fluxo de cisalhamento

V = força de cisalhamento interna resultante

I = momento de inércia de toda a área da seção transversal

Esse carregamento, quando medido como força por unidade de comprimento, é denominado
fluxo de cisalhamento q
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Exercícios:

1) Uma viga caixão deve ser construída com quatro tábuas pregadas. Supondo que cada prego
suporte uma força cortante de 1350N, determinar o espaço s máximo entre os pregos em B e C
de modo que a viga resista a uma força vertical de 3600N.

2) A viga é composta por quatro tábuas coladas. Se for submetida a um cisalhamento V = 850
kN, determine o fluxo de cisalhamento em B e C ao qual a cola deve resistir.

3) A viga-caixão de paredes finas está sujeita a um cisalhamento de 10 kN. Determine a


variação do fluxo de cisalhamento em toda a seção transversal.
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