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ESTABILIDADE
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UNIDADE 4
DIMENSIONAMENTO
ESTRUTURAL BÁSICO
AULA 11 - Dimensionamento de Vigas
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Dimensionamento de Vigas

Uma viga é um elemento de barra e tem por função vencer vãos, trabalhando
predominantemente aos esforços de flexão e cisalhamento. Ela estará solicitada à flexão
normal simples, quando atuar sobre a mesma somente esforço de flexão, cujo plano de
ação contenha um dos eixos principais de inércia da seção transversal.

1. Concepção de Vigas

Na primeira parte desta aula serão revisitados alguns conceitos já apresentados e


inseridos e alguns outros novos para que se possa atingir os seguintes objetivos no
dimensionamento básico das vigas, exceto armaduras, que são:

 Fazer a verificação da estabilidade de um elemento estrutural;


 Identificar quais são as tensões que ocorrem em uma viga quando submetida a
cargas;

Vale salientar que, analogamente aos estudos das lajes, o aprofundamento no assunto se
dará em esfera básica devido as relações envolvidas neste estudo transcendem as
concepções matemáticas abordadas no 2º grau e, portanto, não utilizadas neste curso.
Pode-se dizer que esta aula é um complemento das 7 primeiras aulas onde foram dados os
pré-requisitos para que se chegasse a este nível de entendimento por parte do aluno e
agora, naturalmente, serão sequenciados de maneira a se tentar evidenciar “na prática” os
conceitos nesta apostila demonstrados ao longo das aulas. O cálculo de armaduras para
vigas não será abordado pela complexidade conceitual não demandada de técnicos.

1.1. Definição

Como sabido, Viga é uma Estrutura linear que trabalha, geralmente, em posição
horizontal (ou inclinada), assentada em um ou mais apoios e que tem a função de suportar
os carregamentos normais à sua direção. As vigas podem ser de Madeira, Concreto, Aço
ou mistas.
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1.2. Tensão em Elementos Estruturais

Resposta dos elementos estruturais (lajes, vigas, pilares, fundações), aos esforços internos
aplicados - força normal (N) que dá origem à tração ou à compressão, momento fletor
(M) que dá origem à flexão, momento torçor (Mt – não abordado neste curso) que dá
origem à torção e força cortante (V) que dá origem ao cisalhamento.

A fórmula geral para qualquer que seja a tensão (Normal, flexão, torção ou cisalhamento)
é a já conhecida e batida σ = F/A, que, já se sabe, significa:

Tensão

Estas grandezas podem ser resumidas no seguinte quadro:

1.3. Tensão de Flexão em Vigas

Em vigas, quando submetidas a esforços externos (carregamentos transversais com


relação ao seu eixo longitudinal), ocorrem deformações de flexão devido ao esforço de
momento fletor, surgindo desta forma as tensões de flexão.

As fibras superiores tendem a se aproximar (tensões de compressão) e as fibras inferiores


tendem a se afastar (tensões de tração), quando ocorre o momento fletor positivo e o
contrário, quando ocorre o momento fletor negativo, conforme ilustrado nas figuras (a) e
(b), respectivamente.
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1.4. Diagrama de Tensões Resultantes

Resumidamente, ao analisarmos a figura (a), observamos que a tensão máxima de


compressão ocorre na fibra superior e a tensão máxima de tração ocorre na fibra inferior
da viga:

Colocando-se os esforços de compressão nas fibras superiores, tração nas fibras inferiores
e ainda nenhum esforço na fibra central, pode-se obter o diagrama de tensões, conforme
ilustrado na figura (lembrando que a viga está submetida a esforço de momento fletor
positivo).

A linha apontada na imagem acima será estudada nesta aula. O ponto de transição entre a
compressão e a tração é chamado Ponto Neutro, e sua definição será dado adiante.

1.5. Hipótese Fundamental da Teoria da Flexão – Lei de Navier

As seções planas de uma viga, tomadas normalmente a seu eixo, permanecem planas após
a viga ser submetida à flexão. Essa conclusão é válida para vigas de qualquer material,
seja ele elástico ou inelástico, linear ou não-linear. As propriedades dos materiais, assim
como as dimensões, devem ser simétricas em relação ao plano de flexão.

As linhas longitudinais na parte inferior da viga são alongadas (tracionadas), enquanto


aquelas na parte superior são diminuídas (comprimidas).
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1.6. Superfície Neutra

É uma superfície em algum lugar entre o topo e a base da viga em que as linhas
longitudinais não mudam de comprimento.

Linha Neutra – é a interseção da superfície neutra com qualquer plano de seção


transversal. Na LN, não há esforço, nem de tração, nem de compressão.

Para materiais homogêneos (aço, madeira, concreto simples), a LN passa no centro de


gravidade (CG) da seção transversal, como mostra a figura:

Façamos agora a análise das distâncias entre as seções transversais e consequentemente


dos esforços nas fibras superiores, inferiores e na LN em alguns pontos da viga ilustrada
na figura:

2. Tensões na Flexão

Esta tensão é a resposta da viga decorrente da flexão. A flexão aparece em uma viga
devido ao esforço interno aplicado - momento fletor (M).
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Convenções:

a) Tensão de flexão/compressão: positiva;

b) Tensão de flexão/tração: negativa.

A fórmula geral se dá por:

Onde:

σf: tensão de flexão (σfc ou σft);

M : Momento fletor na seção considerada;

y: distância da LN à fibra considerada;

ILN; momento de Inércia em relação à Linha Neutra.

Exemplo: Determinar as tensões de flexão nas fibras 1e 2, superior e inferior dos pontos
D e B da viga abaixo:
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Resolução:

1º Passo: com as dimensões da seção da viga conhecidas, calcula-se o momento de


inércia para o primeiro ponto, que será D. Como a seção é retangular, o momento de
Inércia será (fórmula já estipulada em aula anterior) e as Tensões no ponto:

Acima da linha Neutra (LN):

Fibra 1:

σf1 = M .y/ILN → σf1 = (30 .12,5 .100) / 104167 → σf1 = 0,36 kN/cm²

Fibra Superior:

σfs = M .y / ILN → σfs = (30 .25 .100) / 104167 → σfs = 0,72 kN/cm²

Note que o valor 100 na fórmula acima serve para transformar o momento fletor de kNm
para kNcm. O resultado foi positivo, logo a tensão de flexão na fibra superior no ponto D
(meio do vão) é de compressão.

Fibras abaixo da Linha Neutra:

O resultado foi negativo, logo a tensão de flexão na fibra inferior no ponto D (meio do
vão) é de tração. Diagrama das tensões de flexão no ponto D:
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2º Passo: Mesmos cálculos de tensões para o ponto B:

Fibras acima da Linha Neutra:

O resultado foi negativo, logo a tensão de flexão na fibra superior no ponto B (apoio) é de
tração.

Fibras abaixo da L.N.:

σf2 = M .y / ILN → σf2 = (− 20 .− 12,5 .100) / 104167 → σf2 = 0,24 kN/cm²

σfi = M .y / ILN → σfi = (− 20 .− 25 .100) / 104167 → σfi = 0,48 kN/cm²

O resultado foi positivo, logo a tensão de flexão na fibra inferior no ponto B (apoio) é de
compressão.

2.1. Verificação da Estabilidade

Para não haver rompimento, ou para que haja estabilidade, é necessário que as tensões
aplicadas a uma viga obviamente sejam menores que ela suporta. A seguinte função é
destacada para essa verificação:

Tensão Admissível ≥ Tensão Máxima . Coeficiente de Segurança

Portanto, para que se verifique a estabilidade à flexão de uma viga, as inequações abaixo
devem ser obedecidas, tanto para a seção de Momento Fletor máximo positivo como para
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a seção de Momento Fletor máximo negativo. Não veremos neste curso o


dimensionamento de armaduras de Vigas, porém, seu dimensionamento, que é complexo
a nível técnico, devem ser dimensionadas de tal modo que satisfaçam as inequações.

Onde 1,4 é o coeficiente que indica que a tensão admissível ou de cálculo deve ser 40%
superior à que realmente suporta. A barra acima dos símbolos de tensão de flexão indica
que esta tensão é uma tensão admissível.

Na verificação da estabilidade à flexão, o que interessa são as tensões máximas de flexão


(tração ou compressão). Portanto, as tensões máximas de flexão ocorrem nas seções de
momento fletor máximo positivo e negativo nas fibras superior e inferior da seção
transversal de uma determinada viga.

As tensões máximas de flexão ocorrem nas seções de momento fletor máximo positivo e
negativo nas fibras superior e inferior da seção transversal de uma determinada viga.

As fibras superiores e inferiores são definidas a partir da LN (ysup e yinf), que passa
pelo centro de gravidade da seção transversal, conforme ilustrado na figura.
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Exemplo: Seja o Diagrama de momentos fletores de uma viga onde 𝜎𝑓𝑐 = 2,00 𝑘𝑁/𝑐𝑚2
e 𝜎𝑓t = 1,75 𝑘𝑁/𝑐𝑚², verificar se a viga as exigências de estabilidade.

3º Passo: Verificação

Utiliza-se os valores das tensões em módulo, pois não teria sentido comparar uma tensão
máxima com valor negativo com uma tensão admissível que é sempre positiva.

Compressão:
σfc ≥ σfc máx. .1,4 → σfc = 2,0 kN/m²
2 ≥ 1,2 . 1,4
2 ≥ 1,68 (Ok, verifica)
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Tração:

Como as inequações relativas à flexão se verificaram, chega-se à conclusão de que a viga


é estável considerando-se a flexão.

3. Tensão de Cisalhamento

Esta tensão é a resposta da viga decorrente do cisalhamento. O cisalhamento aparece em


uma viga devido ao esforço interno aplicado - força cortante (chamaremos de V pois
utilizaremos Q – que representava o cortante nas outras aulas - para Momento Estático).
A tensão de cisalhamento é paralela ao plano da seção transversal, ao contrário da tensão
de flexão que é normal ao plano da seção transversal, conforme ilustrado na Figura:

A tensão de cisalhamento é determinada segundo a equação dada abaixo:

τ: Tensão de cisalhamento;

V: Força cortante na seção considerada;

Q: Momento Estático da área, definida pela fibra considerada, em relação à linha neutra;

bw : Largura da seção transversal na fibra considerada;

ILN: Momento de inércia em relação à Linha Neutra.


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Como visto na Aula 8, o Momento Estático de Área é o produto entre área (A) e distância
(d) = A x d. Para a nossa análise, tem-se:

A - Área compreendida entre a fibra analisada e a fibra superior;

d – distância compreendida entre o centro de gravidade e a linha neutra.

Para uma seção retangular, o comportamento das equações se dão conforme figura:

Exemplo: Determinar as tensões cisalhantes nas fibras 1 e 2 e na fibra da LN na seção A


da viga abaixo:
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τLN = (VA .QLN) / (bw .ILN) → τLN = 25 .3125 / 10 .104167 → τLN = 0,075 kN/cm²
τ2 = (VA . Q2) / (bw .ILN) → τ2 = 25 .2343,75 / 10 .104167 → τ2 = 0,056 kN/cm²
4º Passo: Diagrama

Obs.: nas fibras superior e inferior a tensão de cisalhamento é nula.


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3.1. Verificação da Estabilidade

Analogamente às Tensões na Flexão, para não haver rompimento, ou para que haja
estabilidade, é necessário que a seguinte inequação seja verificada:

Tensão Admissível ≥ Tensão Máxima . Coeficiente de Segurança

Onde 1,4 é o coeficiente que indica que a tensão admissível ou de cálculo deve ser 40%
superior à que realmente suporta. Portanto, para que se verifique a estabilidade ao
cisalhamento de uma viga, a inequação abaixo deve ser obedecida, para a seção de Força
Cortante Máxima.

Na verificação da estabilidade ao cisalhamento, o que interessa é a tensão máxima de


cisalhamento.

Exemplo: Verificar a estabilidade da viga quanto a tensão de cisalhamento, conhecendo-


se o diagrama do esforço cortante e dimensões da seção transversal:

Resolução:

1º Passo: Características geométricas da seção transversal:

bw = 10 cm;

ILN = (bh³)/12 → ILN = (10 . 50³)/12 → ILN = 104167 𝑐𝑚

QLN = (b . h/2) . d → QLN = (10 . 25) . 12,5 → QLN = 3125 N


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2º Passo: Tensão no Cortante Máximo

Como a inequação relativa ao cisalhamento não se verificou, chega-se à conclusão de que


a viga não é estável considerando-se o cisalhamento.

Para que uma viga seja estável, tanto as inequações relativas à flexão quanto à inequação
relativa ao cisalhamento devem ser verificadas. Portanto se uma das inequações não for
verificada, a viga "rompe".

Baseado e adaptado de Edilberto Vitorino de Borja.


Edições sem prejuízo de conteúdo.

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