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Notas: (1) retração do concreto é a diminuição do seu volume, geralmente motivada pela eliminação da água
contida em seu interior (exsudação). Outros motivos também podem provocar essa retração, como fatores
químicos, climáticos, relativos ao volume do concreto ou mesmo pela maneira como foi traçado; (2) A fluência é
1 paz e bem
um fenômeno que ocorre devido à movimentação de água no interior do concreto e é afetada por vários fatores
que agem simultaneamente. Dentre estes fatores estão às condições do ambiente (umidade relativa do ar e
temperatura) ao qual o elemento, ou corpo de prova, está submetido.
Figura 1.61 – Comportamento de viga de Concreto Armado e de Concreto Protendido com protensão
completa e parcial
O cálculo das tensões elásticas atuantes no concreto mostra se ocorrem tensões de tração na peça submetida à
protensão e aos carregamentos de serviço, que podem ou não causar fissuras no concreto, bem como se as
tensões de compressão são excessivas e podem trazer perdas de protensão significativas por encurtamento do
concreto. Se a seção se encontra fissurada, a análise para a determinação das propriedades da seção deve ser
feita sobre a seção fissurada, como será mostrado adiante nos cálculos.
Uma viga não fissurada, simplesmente apoiada e submetida a uma força de protensão axial P, como
mostrada na Figura 1.62a, tem tensões normais uniformes de compressão (com sinal negativo), de valor:
𝑃
𝜎=− 𝐸𝑞 1.1
𝐴𝑐
onde Ac é a área da seção transversal de concreto.
2 paz e bem
Se um carregamento externo uniformemente distribuído for aplicado sobre a viga (Figura 1.62b), causará um
momento fletor máximo positivo no meio do vão (M), as tensões normais no concreto, em uma fibra distante
y do CG da seção transversal é:
𝑃 𝑀𝑦
𝜎=− ∓ 𝐸𝑞. 1.2
𝐴𝑐 𝐼𝑐
𝑃 𝑀. 𝑦
𝜎𝑠𝑢𝑝 = − − 𝐸𝑞. 1.3
𝐴𝑐 𝐼𝑐
𝑃 𝑀. 𝑦
𝜎𝑖𝑛𝑓 = − + 𝐸𝑞. 1.4
𝐴𝑐 𝐼𝑐
A tensão de compressão da protensão na fibra inferior (– P/Ac) reduz a tensão de tração proveniente da
flexão (My/Ic), eliminando-a completamente ou permitindo uma tensão de tração que atenda à tensão limite
(máxima) estabelecida pelo projetista.
Para evitar essa limitação e aumentar a capacidade de carga da viga, a armadura de protensão pode ser
colocada fora do centro de gravidade (CG) da seção transversal, mais próxima da fibra mais tracionada da
seção (Figura 1.62c). A força de protensão excêntrica origina um momento fletor (P.ep), que causa tensão de
tração na fibra superior, diminuindo a tensão de compressão, podendo até mesmo resultar em tensão de tração.
As tensões nas fibras inferior e superior ao longo da viga tornam-se:
𝑃 𝑃. 𝑒𝑝 . 𝑦
𝜎𝑠𝑢𝑝 = − + 𝐸𝑞. 1.5
𝐴𝑐 𝐼𝑐
𝑃 𝑃. 𝑒𝑝 . 𝑦
𝜎𝑖𝑛𝑓 = − − 𝐸𝑞. 1.6
𝐴𝑐 𝐼𝑐
onde a excentricidade ep é a distância do centro de gravidade (CG) da seção transversal ao centro de gravidade da
armadura de protensão (Ap).
3 paz e bem
Pepy
Ic
Figura 1.62 – Diagramas de tensões elásticas em viga retangular com armadura de protensão reta:
a) armadura posicionada no CG da seção, sem carregamento externo;
b) seção do meio do vão, com armadura posicionada no CG da seção e com carregamento externo;
c) armadura excêntrica, sem carregamento externo;
d) seção do meio do vão, com armadura excêntrica e com carregamento externo.
Com o carregamento externo aplicado sobre a viga, as tensões no meio do vão tornam-se (Figura 1.62d):
𝑃 𝑃. 𝑒𝑝 . 𝑦 𝑀. 𝑦
𝜎𝑠𝑢𝑝 = − + − 𝐸𝑞. 1.7
𝐴𝑐 𝐼𝑐 𝐼𝑐
𝑃 𝑃. 𝑒𝑝 . 𝑦 𝑀. 𝑦
𝜎𝑖𝑛𝑓 = − − + 𝐸𝑞. 1.8
𝐴𝑐 𝐼𝑐 𝐼𝑐
4 paz e bem
Trabalhando com os módulos de resistência ‘W’, à flexão relativos às fibras superior e inferior da seção
𝐼𝑐
𝑊𝑠𝑢𝑝 = 𝐸𝑞. 1.9
𝑦𝑠
𝐼𝑐
𝑊𝑖𝑛𝑓 = 𝐸𝑞. 1.10
𝑦𝑖
𝑃 𝑃. 𝑒𝑝 𝑀
𝜎𝑠𝑢𝑝 = − + − 𝐸𝑞. 1.11
𝐴𝑐 𝑊𝑠𝑢𝑝 𝑊𝑠𝑢𝑝
𝑃 𝑃. 𝑒𝑝 𝑀
𝜎𝑖𝑛𝑓 = − − + 𝐸𝑞. 1.12
𝐴𝑐 𝑊𝑖𝑛𝑓 𝑊𝑖𝑛𝑓
Na determinação das tensões elásticas, a influência das armaduras longitudinais (ativa e passiva) nas
propriedades da seção (Ac, Ic, W.) deve ser considerada quando a quantidade de armaduras for grande e
significativa em relação à seção transversal (homogeneização da seção). A armadura não sendo grande, pode
ser desprezada, resultando erros pequenos e desprezíveis.
5 paz e bem
1.6.1 Exemplo – Tensões Elásticas em Laje
Estudar as tensões devido ao momento fletor máximo nos bordos superior e inferior da seção transversal, em
uma laje simplesmente apoiada, com os seguintes dados:
• Altura h = 30 cm, altura útil da armadura passiva ds = 27 cm;
• Concreto C50 (fck = 50 MPa);
• Tensão efetiva máxima permitida na armadura de protensão: fp,ef = 1.400 MPa;
• Aço da armadura passiva CA-50 (fyd = 435 MPa);
• Tensão de compressão máxima permitida no concreto fc,máx = - 25 MPa;
• Vão L = 10 m;
• Peso específico do concreto γconcr = 25 kN/m3;
• Carga variável sobre a laje de 8,5 kN/m2.
A laje será calculada tomando-se uma faixa igual à altura (b = 100 cm – ver Figura 1.63), de modo que as
quantidades de armadura que serão calculadas são relativas à largura de 100 cm.
27d = 27
=
h = 30
s
Vão 10,0 m
b = 100 cm
𝑔. 𝐿2 7,5(10,02 )
𝑀𝑔 = = = 93,75𝑘𝑁𝑚 = 9375,0 𝑘𝑁𝑐𝑚
8 8
Tensões normais nas fibras superior e inferior da seção (não fissurada), sem coeficiente de segurança
(ponderação):
ℎ
𝑀𝑔 . 𝑦 𝑀𝑔 .
𝜎𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑓 =∓ =∓ 2 = ∓ 6. 𝑀𝑔 = 6(9375,0) = 0,625 𝑘𝑁⁄
𝐼𝑐 𝑏. ℎ 3 𝑏. ℎ2 100(302 ) 𝑐𝑚2 = ∓6,25 𝑀𝑃𝑎
12
6 paz e bem
Devido a carga acidental
Carga variável e momento fletor (Mq) na faixa b = 100 cm:
Tensões normais nas fibras superior e inferior da seção (não fissurada), sem coeficiente de segurança
(ponderação):
ℎ
𝑀𝑞 . 𝑦 𝑀𝑞 . 2 6. 𝑀𝑞 6(10625,0)
𝜎𝑠𝑢𝑝,𝑖𝑛𝑓 =∓ =∓ 3 =∓ = = 0,708 𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 = ∓7,08 𝑀𝑃𝑎
𝐼𝑐 𝑏. ℎ 𝑏. ℎ2 100(302 )
12
0,0 13,3
6,25 7,08
0
- - -
+ + =
𝑒𝑝 P
-
+ + +
4,28-13,33 6,25 7,08 4,28
7 paz e bem
1) Laje não armada
As tensões normais nas fibras extremas (superior e inferior) da laje estão mostradas na Figura 1.64, devidas
ao peso próprio e à carga variável. A tensão final máxima de compressão na borda superior (- 13,3 MPa) é
menor que a tensão máxima de compressão permitida (fc,máx = - 25 MPa), porém, a de tração na borda inferior
(+ 13,3 MPa) é maior que a resistência à tração na flexão máxima (*) do concreto (módulo de ruptura), o que
faz a laje fissurar e romper.
6,25 7,08 13,3
- - -
=
+
+ + +
6,25 7,08 13,3
Figura 1.64 – Tensões normais (MPa) nas bordas da laje sem armaduras (Concreto Simples), devidas ao peso
próprio e carga variável.
(*) A resistência à tração na flexão do concreto(𝑓𝑐𝑡𝑓) pode ser avaliada pela equação αfct , item 17.3 da NBR
6118 (transcrito abaixo)- valor da resistência do concreto a ser considerado no cálculo do momento fletor de
fissuração.
3 3
𝑓𝑐𝑡𝑓 = α. 0,7. 𝑓𝑐𝑡𝑚 = α. 0,7.0,3. √𝑓𝑐𝑘 2 = 1,5(0,7)(0,3) √502 = 4,28 𝑀𝑃𝑎 ≪≪ 13,3𝑀𝑃𝑎
onde 𝑓𝑐𝑡, 𝑚 𝑒 𝑓𝑐𝑘 são expressos em mega pascal (MPa). sendo 𝑓𝑐𝑘𝑗 ≥ 7 𝑀𝑃𝑎, estas expressões podem
também ser usadas para idades diferentes de 28 dias.
Considerando a laje em Concreto Armado (Figura 1.70), considerando os coeficientes de segurança (ponderação):
ações; concreto e aço – respectivamente: γf = γc = 1,4 e γs = 1,15, a armadura longitudinal de flexão resulta:
9 paz e bem
𝑀𝑑 = 𝛾𝑓 (𝑀𝑔 + 𝑀𝑞) = 1,4 (9375,0 + 10625,0) = 28420,0 𝑘𝑁. 𝑐𝑚
𝑓𝑐𝑘
𝑀𝑑 = (0,8)(𝑥)(0,85𝑓𝑐𝑑 )𝑏𝑤 (𝑑 − 0,4𝑥) ⇒ 28420,0 = 0,68(𝑥) ( ) 100,0(27,0 − 0,4𝑥)
1,4
𝑠𝑒𝑛𝑑𝑜 𝑓𝑐𝑘 = 50 𝑀𝑃𝑎 = 5,0 𝑘𝑁⁄ 2
𝑐𝑚
5,0
28420,0 = (0,68𝑥) ( ) 100,0(27,0 − 0,4𝑥) ⟹ 28420,0 = 6557,14𝑥 − 97,14𝑥 2
1,4
97,14𝑥 2 − 6557,14𝑥 + 28420,0 = 0
𝑥1 = 62,8 𝑐𝑚 𝑁ã𝑜 𝑡𝑒𝑚 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑑𝑜
𝐱𝟐 = 𝟒,7 𝐜𝐦
Lembrar: 𝑥 < 0,259𝑑 ⟹ 4,7 < 0,259(27) = 7,0 𝑐𝑚 → 𝑑𝑜𝑚 2
𝑀𝑑
𝑀𝑑 = 𝑅𝑆𝑡𝑍 ⟹ 𝑀𝑑 = 𝐴𝑠(𝑓𝑦𝑑)(𝑑 − 0,4𝑥) ⟺ 𝐴𝑠 =
𝑓𝑦𝑑 (𝑑 − 0,4𝑥)
10 paz e bem
3) Laje em Concreto Protendido: protensão aplicada no CG da seção transversal
3.1) Condição que nenhuma tensão de tração exista.
Para resultar tensão final nula na face inferior da laje (fibra inferior) é necessário impor uma tensão de
compressão, dada pela força de protensão axial, de tal modo que (Figura 1.71):
𝜎𝑝,𝑖𝑛𝑓 = 𝜎𝑀𝑔,𝑖𝑛𝑓 + 𝜎𝑀𝑞 ,𝑖𝑛𝑓 ⇒ 6,25 + 7,08 = 13,3 𝑀𝑃𝑎 = 1,33 𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2
𝑃 𝑃 3990,0 [𝑘𝑁] 2
𝑓𝑝,𝑒𝑓 = ⟺ 𝐴𝑝 = ⟺ 𝐴𝑝 = = 28,5 𝑐𝑚 ⁄𝑚
𝐴𝑝 𝑓𝑝,𝑒𝑓 140,0 [𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 ]
𝑓𝑝,𝑒𝑓 = Tensão efetiva máxima permitida na armadura de protensão: fp,ef = 1.400 MPa
13,3 6,25 7,08 26,6
- - -
P =
- +
+ +
13,3 6,25 7,08
- - -
P =
- +
+ + +
11,67 6,25 7,08 0,83
Surge uma tensão de tração na borda inferior abaixo do limite:
11 paz e bem
3 3
𝑓𝑐𝑡𝑓 = α. 0,7. 𝑓𝑐𝑡𝑚 = α. 0,7.0,3. √𝑓𝑐𝑘 2 = 1,5(0,7)(0,3) √502 = 4,28 𝑀𝑃𝑎 > 0,83𝑀𝑃𝑎
𝑃 𝑃 3501,0 [𝑘𝑁] 2
𝑓𝑝,𝑒𝑓 = ⟺ 𝐴𝑝 = ⟺ 𝐴𝑝 = = 25,1 𝑐𝑚 ⁄𝑚
𝐴𝑝 𝑓𝑝,𝑒𝑓 140,0 [𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 ]
• Conceito de núcleo central de inércia (NCI) – o esforço normal, quando solicita a seção transversal no
NCI, a seção, é solicitada somente por esforços axiais.
NCI para seções retangulares:
ℎ⁄
6
ℎ⁄
6
1,25
𝑏⁄ 𝑏⁄6
6
0,0 6,25 7,08 13,3
- - -
=
ℎ 30 +
= = 6 𝑐𝑚 P
6 5 -
+ +
13,33 6,25 7,08
Figura 1.72 – Tensões normais (MPa) na laje com protensão excêntrica, com P posicionada no limite
inferior do núcleo central de inércia.
1 A força de protensão posicionada h/6 abaixo do CG da seção transversal leva à tensão normal zero na borda superior da laje.
2 Neste caso, a força de protensão é igual à área do triângulo representativo das tensões normais, considerada também a largura b da laje, ou seja,
é igual ao volume da cunha representativa das tensões normais de protensão.
12 paz e bem
A força de protensão, portanto, deve ser:
|𝜎𝑝,𝑖𝑛𝑓 |𝐴𝑐 1,33((100,0)(30,0))
𝑃= = = 1995,0 𝑘𝑁
2 2
𝑃 𝑃 1995,0 [𝑘𝑁] 2
𝑓𝑝,𝑒𝑓 = ⟺ 𝐴𝑝 = ⟺ 𝐴𝑝 = = 14,25 𝑐𝑚 ⁄𝑚
𝐴𝑝 𝑓𝑝,𝑒𝑓 140,0 [𝑘𝑁⁄𝑐𝑚2 ]
A armadura de protensão (14,25 cm2) é metade da armadura do caso anterior 3.1. O resultado mostra a grande
importância da posição de aplicação da força de protensão. A força de protensão excêntrica também diminuiu
a tensão final na borda superior para – 13,3 MPa, menor que fc,máx (- 25 MPa) e metade daquela da protensão
axial no caso 3.1.
A Tabela 1.1 apresenta um resumo dos resultados numéricos obtidos para os casos analisados.
Unidades: tensões 𝜎 (MPa), força de protensão P (kN); áreas das armaduras A (𝑐𝑚2 )
Situações 𝜎𝑐,𝑚𝑎𝑥 𝜎𝑐,𝑚𝑎𝑥 P AS e Ap
1) Não armada (*) laje rompeu 13,3 13,3 X x
2) CA Concreto armado X X X 26,1
3.1) CP protensão no CG (tração nula) 26,6 0,0 3990,0 28,1
3.2) CP protensão no CG (limite de compressão) 25,0 0,83 3501,0 25,1
4) CP protensão no limite do NCI 13,3 0,0 1995,0 14,25
13 paz e bem