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2.1. INTRODUÇÃO
O efeito da torção em vigas decorre de ações excêntricas ao eixo da peça que provocam
momentos que tendem a girar a seção em torno de seu eixo longitudinal. Esse esforço
provoca tensões de cisalhamento, semelhantes às das forças cortantes.
Para o dimensionamento à torção considera-se também as mesmas condições de resistência
como na flexão e no cisalhamento por força cortante, ou seja, o concreto resiste às tensões
de compressão e as tensões de tração devem ser absorvidas pela armadura. Para o
dimensionamento assume-se, a partir de teorias comprovadas, um modelo resistente de
comportamento de forma a se obter a distribuição dos esforços.
A teoria que é mais amplamente aceita para a distribuição das tensões decorrentes da torção
é a da treliça espacial generalizada, na qual se baseiam as formulações das principais normas
internacionais. A filosofia desse método é a idealização da peça como uma treliça, cujas
tensões de compressão causadas pelo momento torçor serão resistidas por bielas
comprimidas (concreto), e as de tração, por diagonais tracionadas (armaduras).
A consideração do momento torçor não é fundamental em situações onde o impedimento à
deformação pode ser desprezado, torção de compatibilidade, devido à perda de rigidez à
torção GJt bem maior do que a queda na rigidez à flexão EI, por fissuração da peça, reduzindo
também o valor do momento atuante, assumindo-se que esta tenha capacidade de adaptação
plástica, como no caso grelhas. Entretanto, é preciso providenciar armaduras transversais e
longitudinais adequadamente dimensionadas e ancoradas, para controlar as aberturas de
fissuras em serviço, e possibilitar a redistribuição de esforços solicitantes na mudança de
rigidez da estrutura.
Na hipótese de que o equilíbrio da estrutura só será possível com a consideração do momento
de torção, torção de equilíbrio, esta será obrigatoriamente considerada, independentemente
de qual seja a sua rigidez, como no caso de vigas-balcão ou marquises com laje em balanço.
Figura
2.1:
Torção
de
Uma barra de seção circular sujeita a momento de torção, com empenamento permitido
(torção livre), apresenta um estado de tensões principais inclinadas de 45 o e 135o com o eixo
longitudinal da barra. Ao longo da barra as tensões principais de tração e compressão seguem
uma trajetória helicoidal, sendo as de tração na direção da rotação e as de compressão em
direção oposta.
A resistência das seções aos esforços de torção pode ser considerada, na torção circulatória
(ou torção de St. Venant, Barré), pelo equilíbrio do momento torçor por tensões tangenciais
que dão a volta na seção, seja maciça ou vazada fechada. Considerando que a maior
concentração das tensões tangenciais τ, devidas à torção, são concentradas na periferia da
seção, na solução plástica, pode-se desprezar a parte interna, a favor da segurança.
Figura 2.5: Forças cortantes nas paredes do tubo e equilíbrio das tensões tangenciais nos
planos longitudinais.
𝑉𝑡𝑖 = 𝜏𝑖 ℎ𝑒𝑖 𝑧𝑖
𝑇𝑑
𝜏𝑖 ℎ𝑒𝑖 = 2𝐴𝑒
– Fórmula de Bredt
A norma NBR 6118/14 no item 17.5 - Elementos lineares sujeitos à torção - Estado limite
último estabelece que: “As condições fixadas por esta Norma pressupõem um modelo
resistente constituído por treliça espacial, definida a partir de um elemento estrutural de
seção vazada equivalente ao elemento estrutural a dimensionar.
As diagonais de compressão dessa treliça, formada por elementos de concreto, têm
inclinação que pode ser arbitrada pelo projeto no intervalo 30 o ≤ θ ≤ 45o”
O modelo da treliça espacial generalizada que é adotado para os estudos de torção tem
origem na treliça clássica idealizada por Ritter e Mörsch para cisalhamento, e foi desenvolvido
por Thürlimann e Lampert. Essa treliça espacial é composta por quatro treliças planas na
periferia da peça (tubo de paredes finas da Teoria de Bredt), sendo as tensões de compressão
absorvidas por barras (bielas de compressão - escoras) que fazem um ângulo θ com o eixo da
peça, e as tensões de tração absorvidas por barras decompostas nas direções longitudinal
(armação longitudinal) e transversal (estribos a 90o). Pode-se observar que a concepção desse
modelo baseia-se na própria trajetória das tensões principais de peças submetidas à torção
(figura ...).
Figura 2.6 - Treliça espacial generalizada (hipótese de seção transversal quadrada). ( Libânio
M. Pinheiro. TORÇÃO – cap.18)
Esforço de compressão na escora:
Considerando o plano ABCD da figura, sabe-se que para o equilíbrio devemos ter igualdade
dos momentos atuantes e resistentes.
2 𝐶𝑑 𝑠𝑒𝑛 𝜃 ⋅ 𝑙 = 𝑇𝑑
𝑇𝑑
𝐶𝑑 = - força de compressão na escora
2 𝑙𝑠𝑒𝑛 𝜃
Sendo σcd o valor de cálculo da tensão de compressão, e observando que a força Cd atua sobre
uma área dada por (y⋅ t) e t é a espessura considerada da parede, tem-se:
𝑇𝑑
𝐶𝑑 = 𝜎𝑐𝑑 𝑦𝑡 =
2 𝑙𝑠𝑒𝑛 𝜃
𝑇𝑑
𝜎𝑐𝑑 =
2𝑦𝑡 𝑙𝑠𝑒𝑛 𝜃
Como,
𝑦 = 𝑙𝑐𝑜𝑠 𝜃
𝐴𝑒 = 𝑙 2
Tem-se:
𝑇𝑑 𝑇𝑑 𝑇𝑑
𝜎𝑐𝑑 = = =
2𝑦𝑡 𝑙𝑠𝑒𝑛 𝜃 2𝑡𝑙𝑙𝑐𝑜𝑠 𝜃𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝐴𝑒 𝑡 𝑠𝑒𝑛 (2𝜃 )
A tensão de compressão não pode ultrapassar a limitação estabelecida na NBR 6118: 2014
que é 𝑓𝑐𝑑2 /1,2 . Logo, para a segurança do concreto deve-se ter:
𝑇𝑑 𝑓𝑐𝑑2
𝜎𝑐𝑑 = ≤
𝐴𝑒 𝑡 𝑠𝑒𝑛 (2𝜃 ) 1,2
𝑓𝑐𝑘
𝑓𝑐𝑑2 = 0,60 ∝𝑣2 𝑓𝑐𝑑 = 0,60 (1– )𝑓
250 𝑐𝑑
𝑇𝑑 𝑓𝑐𝑘
𝜎𝑐𝑑 = ≤ 0,50 (1– )𝑓
𝐴𝑒 𝑡 𝑠𝑒𝑛 (2𝜃 ) 250 𝑐𝑑
𝑇𝑆𝑑 ≤ 𝑇𝑅𝑑,2
𝑇𝑆𝑑 ≤ 𝑇𝑅𝑑,3
𝑇𝑆𝑑 ≤ 𝑇𝑅𝑑,4
Onde:
TRd,2 representa o limite dado pela resistência das diagonais comprimidas de concreto;
TRd,3 representa o limite definido pela parcela resistida pelos estribos normais ao eixo do
elemento estrutural;
TRd,4 representa o limite definido pela parcela resistida pelas barras longitudinais, paralelas ao
eixo do elemento estrutural.
Onde:
∝𝑣2 = (1 − 𝑓𝑐𝑘 / 250), com fck em megapascal.
Onde:
Para o equilíbrio das forças na direção longitudinal (x) da treliça espacial (nó A) tem-se:
4 𝑅𝑙𝑑 = 4 𝐶𝑑 𝑐𝑜𝑠 𝜃
Como:
𝑅 𝑙𝑑 = 𝐴𝑠0 𝑓𝑦𝑤𝑑
Onde:
Aso é a área de uma das barras longitudinais;
fywd é a tensão de escoamento do aço, com seus valores de cálculo, e,
𝐴𝑠𝑙 = 4𝐴𝑠0
𝑇𝑑 2𝑇𝑑 2𝑇𝑑
𝐶𝑑 = => 4 𝑅𝑙𝑑 = 4 𝐶𝑑 𝑐𝑜𝑠 𝜃 => 𝐴𝑠𝑙 𝑓𝑦𝑤𝑑 = 𝑐𝑜𝑠 𝜃 = 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝜃
2 𝑙𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝑙𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝑙
𝐴𝑒 = 𝑙 2
𝐴𝑠𝑙 𝑇𝑑
( ) 𝑓𝑦𝑤𝑑 = 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝜃
𝑢 2 𝐴𝑒
𝐴𝑠𝑙 𝑇𝑑
( ) = 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝜃
𝑢 2 𝐴𝑒 𝑓𝑦𝑤𝑑
E,
𝐴𝑠𝑙
𝑇𝑅𝑑,4 = ( ) 2 𝐴𝑒 𝑓𝑦𝑤𝑑 tg 𝜃 ≥ 𝑇𝑑 = 𝑇𝑆𝑑
𝑢
Para o equilíbrio das forças na direção longitudinal (z) da treliça espacial (nó A) tem-se:
𝑅𝑤𝑑 = 𝐶𝑑 𝑠𝑒𝑛 𝜃
𝑙𝑐𝑜𝑡𝑎𝑔𝜃
O número de estribo contidos entre dois nós da treliça com espaçamento s é ( ), assim
𝑠
a força resistente correspondente é:
𝑙𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃
𝑅𝑤𝑑 = ( ) 𝐴90 𝑓𝑦𝑤𝑑 = 𝐶𝑑 𝑠𝑒𝑛 𝜃
𝑠
𝑙𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃 𝑇𝑑
( ) 𝐴90 𝑓𝑦𝑤𝑑 = 𝑠𝑒𝑛 𝜃
𝑠 2 𝑙𝑠𝑒𝑛 𝜃
𝐴90 𝑇𝑑 𝑇𝑑
= 𝑡𝑔𝜃 = 𝑡𝑔𝜃
𝑠 2 𝑙𝑙𝑓𝑦𝑤𝑑 2 𝐴𝑒 𝑓𝑦𝑤𝑑
E,
𝐴90
𝑇𝑅𝑑,3 = ( ) 2 𝐴𝑒 𝑓𝑦𝑤𝑑 cotg 𝜃 ≥ 𝑇𝑑 = 𝑇𝑆𝑑
𝑠
De acordo com item 17.5.1.2 da NBR 6118: 2014 “Sempre que a torção for necessária ao
equilíbrio do elemento estrutural, deve existir armadura destinada a resistir aos esforços de
tração oriundos da torção. Essa armadura deve ser constituída por estribos verticais
periféricos normais ao eixo do elemento estrutural e barras longitudinais distribuídas ao longo
do perímetro da seção resistente, calculada de acordo com as prescrições desta seção e com
taxa geométrica mínima dada pela expressão:
𝐴𝑠𝑙 𝑓𝑐𝑡𝑚
𝜌𝑠𝑙 = ≥ 0,2
ℎ𝑒 𝑢𝑒 𝑓𝑦𝑤𝑘
𝐴𝑠𝑤 𝑓𝑐𝑡𝑚
𝜌𝑠𝑤 = ≥ 0,2
𝑏𝑤 𝑠 𝑓𝑦𝑤𝑘
𝑓𝑦𝑤𝑘 ≤ 500𝑀𝑃𝑎
2.5. Torção de compatibilidade
Sendo:
𝐴
ℎ𝑒 ≤
𝑢
he
ℎ𝑒 ≥ 2 𝑐1
c1
Figura 2.7 – Seção vazada equivalente.
Onde:
Essa tensão principal deve ser calculada como em um estado plano de tensões, a partir da
tensão normal média que age no banzo comprimido de flexão e da tensão tangencial de
torção calculada por:
𝜏 𝑇𝑑 = 𝑇𝑑 / 2 𝐴𝑒 ℎ𝑒
2.8. Torção e força cortante
Na combinação de torção com força cortante, o projeto deve prever ângulos de inclinação
das bielas de concreto θ coincidentes para os dois esforços.
Quando for utilizado o modelo I, da NBR6118 -2014, para a força cortante, que subentende
θ= 45°, esse deve ser o valor considerado também para a torção.
A resistência à compressão diagonal do concreto deve ser satisfeita atendendo à expressão:
𝑉𝑆𝑑 𝑇𝑆𝑑
+ ≤1
𝑉𝑅𝑑,2 𝑇𝑅𝑑,2
Onde:
A armadura transversal pode ser calculada pela soma das armaduras calculadas
separadamente para VSd e TSd.
No caso de estribos formados por telas soldadas, o diâmetro mínimo pode ser reduzido para
4,2 mm, desde que sejam tomadas precauções contra a corrosão dessa armadura.
Juliana S. Lima, Mônica C.C. da Guarda, Libânio M. Pinheiro. TORÇÃO – cap.18. 25 novembro
2003. SET.EESC.USP.
BUCHAIM, R. ESTADO LIMITE ÚLTIMO – Torção Simples e Torção Combinada. 15 de março
de 2008. DE.UEL.
Bittencourt T.N, Assis, W.S, Neto J.P. Análise de Vigas Submetidas a Momento de Torção.
Lmc.Ep.USP. 2003.
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