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Dimensionamento de Vigas

Vigas são peças estruturais de eixo reto, submetidas a cargas transversais e/ou
axiais, trabalham preponderantemente à flexão simples (momento fletor + esforço
cortante), e ainda podendo trabalhar à compressão, tração e torção ou nas
combinações destas solicitações.
 Pré-Dimensionamento:
vigas isostáticas vigas contínuas vigas em balanço
l l l l l
h a h a h
10 12 12 15 5
 Seção Transversal: a seção transversal das vigas não deve apresentar largura
menor que 12 cm, e nas vigas parede, menor que 15 cm. Estes limites podem ser
reduzidos, respeitando-se um mínimo absoluto de 10 cm em casos excepcionais, sendo
obrigatoriamente respeitadas as seguintes condições:
a) alojamento das armaduras, e suas interferências com as armaduras de outros
elementos estruturais, respeitando os espaçamentos e coberturas estabelecidos na
ABNT NBR 6118;
b) lançamento e vibração do concreto de acordo com a norma NBR 14931 (Execução
de estruturas de concreto - Procedimento).
 Carregamento: o carregamento das vigas é composto de cargas distribuídas e
concentradas.
Cargas concentradas: são resultados de vigas apoiadas sobre vigas ou de pilares que
apoiam em vigas.
Cargas distribuídas: são formadas basicamente por três tipos:
a) Peso Próprio da viga:
- Para cada metro de vão tem-se:
pp = conc  bw  h  1,0 = conc  bw  h
h
Ex.: viga  (1540 cm)

1m pp = 2500  0,15 0,40 = 150 kgf/m

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b) Reação das lajes:
- A carga das lajes passa para as vigas como carregamento suposto
uniformemente distribuído.
- O processo recomendado pela norma é baseado no método plástico de
cálculo, segundo o qual sob a ação das cargas de ruptura, as lajes dividem-se
em painéis rígidos, que giram em torno das linhas de ruptura.
- A laje é dividida em área de influência (trapézios e retângulos), por retas
partindo dos vértices, inclinadas de 45 para apoios de mesmo gênero, e de
60 a partir do engaste se o outro apoio for simples. No caso de bordo livre,
traça-se a reta com ângulo de 90 a partir do apoio quando a borda vizinha for
livre.

área1
área1

área3 área4 área3

área2 área2

c) Peso de paredes:
- Para cada metro de parede tem-se:
b palv = alv  b  halv  1,0 =  alv  b  h

halv

1m

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 VIGAS EM CONCRETO ARMADO COM SOLICITAÇÔES NORMAIS NO E.L.U
 Hipóteses: Uma seção de concreto armado, submetida à solicitações normais,
alcança o Estado Limite Último por esmagamento do concreto na zona comprimida ou
por deformação plástica excessiva do aço.
Solicitações normais: são esforços solicitantes que originam tensões normais sobre a
seção transversal, momento fletor e força normal.
O alongamento último da armadura é limitado em s = 10‰ para prevenir
deformação plástica excessiva.
O estudo de seções de concreto armado no Estado Limite Último de Resistência
é feito com base nas seguintes hipóteses:
 Manutenção da seção plana (hipótese de Bernoulli): as deformações normais
específicas são, em cada ponto da seção transversal, proporcionais à sua distância
à linha neutra.
 Solidariedade perfeita entre os materiais: a deformação da armadura é igual a do
concreto adjacente.
 A resistência do concreto à tração é desconsiderada.
 Relações Constitutivas:
a) CONCRETO: A distribuição de tensões no concreto tem uma forma não linear,
devido ao diagrama tensão-deformação do concreto, visualizado nas figuras a
seguir. Para finalidades práticas essa distribuição é substituída por um diagrama de
tensões constante, em uma altura menor.

Figura - Distribuição de tensões de compressão segundo os diagramas


parábola-retângulo e retangular simplificado (Santos, 2015).

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Obs.: Nota-se que o concreto pode sofrer deformações específicas até 3,5‰, sendo
que entre 2‰ e 3,5‰ a tensão cd = 0,85fcd já foi alcançada.

Figura - Diagrama tensão-deformação idealizado (fck ≤ 50 MPa).

b) AÇO - BARRAS: O diagrama indica que o máximo alongamento específico é de


10‰, e que a deformação mínima necessária para atingir a tensão f yd é de 2,07‰. É
importante, então, que o aço trabalhe com deformação entre esses dois valores.
0 < s < y  fy = Es s
y = yd  fy = fyd
yd = 2,07‰

O módulo de deformação longitudinal do aço é Es = 210GPa.

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 Dimensionamento à Flexão:
No concreto armado faz-se o dimensionamento para flexão na situação de
Estado Limite Último, onde procura-se utilizar os materiais em sua máxima capacidade,
com o emprego adequado de coeficientes de majoração de esforços e de minoração de
tensões. Nestas condições uma peça em concreto (laje ou viga), sujeita a um momento
fletor M, será dimensionada permitindo-se a ruptura do concreto à tração. Os esforços
de tração produzidos pelo momento serão absorvidos pela armação e os de
compressão absorvidos pelo concreto. Através de teoria apropriada determina-se o
momento resistente último, Mu. A segurança adequada existe quando é verificada a
condição: Md  Mu. Por razões de economia, faz-se Md = Mu.

 Tipos de Ruptura na Flexão: em geral, tem-se os seguintes tipos de ruptura:


 se As = 0, ou muito pequena  ruptura frágil (brusca) por tração no concreto;
 se As for muito grande (pequena deformação s)  ruptura frágil (brusca) por
esmagamento do concreto comprimido; e
 se As for “adequada”  ruptura dúctil (com aviso), com escoamento da armadura e
acompanhada de intensa fissuração da zona tracionada.

 Seção Retangular com Armadura Simples: uma seção retangular com armadura
simples é caracterizada da seguinte forma:
 A zona comprimida da seção sujeita a flexão tem forma retangular;
 As barras que constituem a armadura estão agrupadas junto à borda tracionada e
podem ser imaginadas concentradas no seu centro de gravidade.

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Figura - Distribuição de tensões e deformações em viga de seção
retangular com armadura simples.
Esforços Internos
A formulação dos esforços internos resistentes da seção éfeita com base nas
equações de equilíbrio das forças normais e dosmomentos fletores.
ƩN = 0 e ƩM = 0
Resultantes das Forças Normais: (=F/A  F =   A)
no concreto: FRc = 0,85fcdb0,8x = 0,68bxfcd (força de compressão no concreto)
na armadura: FRs = Assd (força de tração no aço)
Equações de equilíbrio:
de força: FRc = FRs ou 0,68bxfcd = Assd
de momento: Md = FRc(d - 0,4x) ou Md = FRs(d - 0,4x)
Substituindo o valor das resultantes de tensão, vem:
Md = 0,68bxfcd(d - 0,4x) ou Md = Assd(d - 0,4x)

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 Posição limite da linha neutra: Nas peças fletidas, admite-se que as seções
transversais permanecem planas, independente das deformações dos materiais. No
concreto armado, como há deformações diferentes no aço e no concreto, a seção
transversal plana faz com que a linha neutra possa ocupar qualquer posição dentro da
altura da viga:
 Se o concreto deformar pouco e o aço se alongar bastante, a linha neutra
está muito alta na peça.
 Se a deformação do aço é pequena, a posição da linha neutra fica mais
baixa.

c c c c
x
x L.N
L.N

s s s s

A linha neutra mais alta ou mais baixa depende do valor do momento M e das
dimensões da viga. Como o momento M produz a força de compressão Rc, quanto
maior for o momento maior será o Rc. Aumentando-se o valor de Rc o concreto
necessita de mais área para suportar essa força, e a linha neutra desce, aumentando o
valor de x. Quanto mais a linha neutra desce, menor é a deformação do aço, e menos
efetiva é a sua utilização. Com essas considerações, podemos estabelecer um limite
para o valor de x, que ainda mantenha o aço trabalhando em escoamento. Esse valor
limite deve levar à seguinte situação:
kx = x/d  x = kx  d
O valor limite, para o aço CA50, será:
kx = 0,45

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Qualquer valor de momento que exija uma área comprimida de profundidade
maior que 45% da altura útil levará o aço a trabalhar de maneira insuficiente (o concreto
estará muito solicitado e o aço pouco solicitado). Nessas condições é melhor aumentar
as dimensões da viga.
Na prática do concreto armado é comum o emprego de uma tabela (visto no
dimensionamento de lajes) que, partindo de dados conhecidos (M, b e h), fornece a
armadura As para suportar o momento M e indique também a posição da linha neutra.
Essa tabela nada mais é do que o resultado de um equacionamento deduzido de
condições de equilíbrio interno de forças Rc e Rt de tensões nos materiais.
Dimensionando sem utilizar tabela

Equações de equilíbrio:
de momento:
Substituindo o valor das resultantes de tensão, vem:
1ª Equação: Md = FRc(d - 0,4x)  Md = (0,68bwxfcd)(d - 0,4x)
X = 0,45d (limite)

2ª Equação: Md = FRs(d - 0,4x)  Md = Asfyd(d - 0,4x)


X = 0,45d (limite)

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 Armaduras Longitudinais:
- A armadura longitudinal das vigas pode ser constituída de:
a) Barras isoladas;
b) Feixes formados por 2, 3, ou 4 barras, não sendo permitido feixes de barras de
diâmetro superior a 25 mm.
As armaduras longitudinais mínimas nos casos de seção retangular e seção T,
pode-se considerar como valor dessa área mínima:
 0,15% de bw h, para os aços CA-50 e CA-60.
 Armadura de pele (lateral): Item 17.3.5.2.3 da norma NBR 6118/2014 (ABNT)
A armadura mínima deve ser 0,10% da área da seção transversal da alma, para
cada face lateral da viga, compostas de barras CA-50 ou CA-60, com espaçamento não
superior a 20 cm, não sendo necessária uma seção superior a 5 cm2/m por face.
 Em vigas com altura igual ou inferior a 60 cm, pode ser dispensada a armadura
de pele;
 As armaduras principais de tração e de compressão não podem ser computadas
na armadura de pele.
Ex.: Viga (20x65 cm) Barras de 5,0 mm
As(min.) = 0,10% Ac,alma 1,30/0,2 = 7 barras
As(min.) = 0,0010 x (20x65) S = 60/8 = 7,5 cm
As(min.) = 1,30 cm2 7 Ø 5,0 c/7,5
em cada face

 Domínios de deformação: O desenho a seguir mostra as possíveis configurações


últimas do diagrama de deformações específicas ao longo da seção transversal de uma
peça de concreto armado sujeita à Solicitações Normais. Define-se domínios de
deformação conforme a natureza da ruptura da seção.

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 Ruptura por alongamento plástico excessivo da armadura de tração:
Reta a: tração uniforme
Domínio 1: tração não uniforme, sem compressão. O estado limite último é
caracterizado pelo escoamento do aço (s = 10‰).
Domínio 2: flexão simples ou composta sem ruptura à compressão do concreto
(c  3,5‰). O estado limite último é caracterizado pelo escoamento do aço (s = 10‰).
A linha neutra corta a seção.
 Ruptura do concreto comprimido (sem grandes deformações):
Domínio 3: Flexão Simples ou Composta com ruptura à compressão do concreto
(c = 3,5‰) e com escoamento do aço (s  yd ). A linha neutra corta a seção.
Domínio 4: Flexão Simples ou Composta com ruptura à compressão do concreto
(c = 3,5‰) e sem escoamento do aço (s < yd ). A linha neutra corta a seção. A
ruptura da peça ocorre de forma frágil, sem aviso, pois o concreto rompe antes que a
armadura tracionada se deforme excessivamente.
Domínio 4a: Flexão Composta com armaduras comprimidas e ruptura à compressão do
concreto (c = 3,5‰). A linha neutra corta a seção na região de cobrimento da armadura
menos comprimida.
DOMÍNIO 5: Compressão não uniforme, sem tração. A linha neutra não corta a seção.
Neste domínio, a deformação última do concreto é variável, sendo igual a c = 2‰ na
compressão uniforme e c = 3,5‰ na flexo-compressão (linha neutra tangente à seção).

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Reta b: Compressão uniforme
Obs.: As peças projetadas no DOMÍNIO 3. São as que melhor aproveitam as
resistências dos materiais; portanto, são as mais econômicas.

Ex.1: Dimensionar e detalhara viga representada na figura abaixo, de acordo com os


seguintes dados:
fck = 30 MPa
Aço CA 50
bw = 15 cm
h = 40 cm
Adotar d = 36 cm
Classe de
Carga = Peso próprio + Laje = 11,50 kN/m = 1150 kgf/m
agressividade
ambiental II
Brita 1
Øt = 5,0mm

O valor de k3 na tabela é igual a 0,348

3 Ø12,5 mm = 3,75 cm2


2 Ø16,0 mm = 4,0 cm2
Para o caso de 3Ø12,5 mm:
2 cm
bw = 2C+2Øt+3ØL+2ah
ah ≥ 1Ø
2ah = bw – (2C+2Øt+3ØL)
1,2 dagregado
2ah = 15 – (5+1+3,75)
ah = (15 – 9,75)/2 2 cm

ah = 2,62 cm OK! av ≥ 1Ø

ah ≥ 2,28 cm 0,5 dagregado

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Ex.2: Dimensionar e detalhara viga representada na figura abaixo, de acordo com os
dados:
fck = 30 MPa
Aço CA 50
bw = 15 cm
h = 40 cm
Adotar d = 36 cm
Classe de agressividade
Carga = Peso próprio + Laje = 21,50 kN/m = 2150 kgf/m
ambiental II PILAR VIGA PILAR PILAR

Brita 1
5,0 4,0
0,20 0,20 0,20

Øt = 5,0mm 56,33

+
+ 19,41

41,10

Para M = 41,10 kN.m

O valor de k3 na tabela é 2 Ø16,0 mm = 4,0 cm2


igual a 0,353. 4 Ø12,5 mm = 5,0 cm2
Para M = 56,33 kN.m

O valor de k3 na tabela é 2 Ø20,0 mm = 6,3 cm2


igual a 0,369. 3 Ø16,0 mm = 6,0 cm2

Para M = 19,41 kN.m

O valor de k3 na tabela é 3 Ø10,0 mm = 2,4 cm2


igual a 0,335. 2 Ø12,5 mm = 2,5 cm2

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Ex.3: Dimensionar e detalhar a viga representada na figura abaixo, com armadura
simples. O dimensionamento deve garantir o comportamento dúctil adequado, conforme
a norma NBR 6118/2014, com limite de profundidade da linha neutra x/d ≤ 0,45.
fck = 30 MPa
Aço CA 50
bw = 15 cm
h = 40 cm
Adotar d = 36 cm
Classe de agressividade
Carga = Peso próprio + Laje = 31,50 kN/m = 3150 kgf/m
ambiental II
Brita 1 ; Øt = 5,0mm
Para M = 82,54 kN.m

O valor de kx na tabela é
0,51 e ultrapassou 0,45.
Aumentar h para 45 cm e
adotar d = 41cm

O valor de kx na tabela é
0,37 e k3 é igual a 0,378.

4 Ø16,0 mm = 8,0 cm2


3 Ø20,0 mm = 9,45 cm2

Para M = 61,72 kN.m

O valor de k3 na tabela é 2 Ø20,0 mm = 6,3 cm2


igual a 0,360. 3 Ø16,0 mm = 6,0 cm2

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Para M = 28,64 kN.m

O valor de k3 na tabela é 3 Ø10,0 mm = 2,4 cm2


igual a 0,337. 2 Ø12,5 mm = 2,5 cm2

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