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Comportamento Conjunto dos Materiais

A aderência entre o concreto e o aço representa a condição essencial para a


existência do concreto armado. Se não existisse essa aderência, os dois materiais
teriam funcionamentos independentes em termos de tensões e deformações, e o
desempenho da peça não seria o mesmo.
Para o total aproveitamento das propriedades do aço no concreto armado, as
barras da armadura precisam estar ancoradas no concreto. As condições físicas e
geométricas necessárias para o funcionamento do conjunto concreto-aço, requerem
prescrições relativas à ancoragem das barras no concreto, que garantam a transmissão
das tensões do aço ao concreto, sem que ocorram tensões excessivas em pontos
localizados.
Em peças longas ou cujo comportamento total da armadura ultrapasse o
comprimento máximo das barras de aço, são necessárias emendas das barras, cuja
finalidade é a de transferir o esforço de uma barra à outra, ou indiretas, através do
concreto que envolve essas armaduras.

Fundamentos básicos sobre aderência

A aderência entre o concreto e o aço é quem garante a igualdade das


deformações específicas entre os dois materiais. Do contrário, nas regiões tracionadas
da peça, nas quais o concreto possui resistência muito baixa, haveria formação de
fissuras no concreto sem a mobilização da resistência das barras de aço, o que levaria
a peça ao colapso.

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A aderência existente entre o concreto e o aço depende das seguintes
características:
Diâmetro das barras
Conformação superficial do aço
Posição da barra de aço em relação à massa de concreto
Qualidade do concreto

Tipos de Aderência:
A solidariedade da armadura ao concreto, caracterizada através do conceito de
aderência, é decorrente de fenômenos que representam diferentes parcelas de
aderência.
Aderência por adesão

Aderência por atrito

Aderência mecânica

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Essa resistência é o tipo de ligação mais importante no estudo da ancoragem,
imprescindível para que sejam aproveitadas as resistências mais elevadas do aço.
Nas barras lisas, a ancoragem acontece por meio de aderência com mecanismos
semelhantes, principalmente por atrito, havendo uma aderência mecânica bem menor,
devido à ausência de nervuras transversais, mas ainda existente pela rugosidade das
barras.

Tensão de Aderência de Cálculo:

F = área de aderência x tensão de aderência


fbd = tensão de aderência
fbd = η1⋅η2⋅η3⋅ fctd

- 1,0 para barras lisas


η1 - 1,4 para barras entalhadas
- 2,25 para barras nervuradas

Na tabela abaixo pode ser visualizada a relação entre η1 e ηb

- 1,0 para situações de boa aderência


η2
- 0,7 para situações de má aderência

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O valor de η2 é determinado pela posição relativa das barras de aço durante a
concretagem, bem como da altura dessas em relação ao fundo da forma.
A qualidade da aderência pode ser prejudicada pela segregação do concreto
fresco durante e logo após a concretagem, o que pode provocar o acúmulo da água
que é posteriormente absorvida pelo concreto sob as armaduras, deixando porosa esta
região.

Segundo a NBR 6118:2003 são consideradas situadas em zonas de boa


aderência as barras:
Com inclinação maior que 45º sobre a horizontal

Horizontal

Com inclinação menor que 45º sobre a horizontal, desde que obedecidas as
seguintes condições:
a) para elementos estruturais com h < 60cm, localizados no máximo 30cm acima da
face inferior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima.

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b) para elementos estruturais com h ≥ 60cm, localizados no mínimo 30cm abaixo da
face superior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima.

Obs.: Os trechos das barras em outras posições e quando forem usadas formas
deslizantes devem ser considerados como zonas de má aderência.

η3 é função do diâmetro (φ) da barra de aço:


- 1,0 para φ ≤ 32mm
η3
- [(132-φ)/100] para φ > 32mm

fbd = η1⋅η2⋅η3⋅ fctd

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Ancoragem das armaduras
As ancoragens podem ser garantidas por:
Aderência
Dispositivos mecânicos
Combinação da aderência e de dispositivos mecânicos

Ancoragem por dispositivo mecânico: Dispositivos acoplados à barra


Hipóteses básicas:
A eficiência do conjunto, eventualmente comprovada por ensaios;
A prevenção aos efeitos localizados pelos dispositivos;
A disposição de armaduras capazes de resistir aos esforços e manter a
fissuração em níveis aceitáveis.

Limites do escorregamento entre a barra e o concreto na interface com o dispositivo de


ancoragem:
0,1mm quando a carga aplicada for 70% da carga última;
0,5mm quando a carga aplicada for 95% da carga última.

Ancoragem por aderência


A ancoragem por aderência pode ser garantida através de:
Barras transversas
soldadas

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Comprimento reto (ou com
grande raio de curvatura),
seguido ou não de gancho.

- Comprimento de ancoragem básico “lb”

- Comprimento de ancoragem necessário

- Ancoragem com gancho

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Obs.: Quando não se tratar de apoio direto, para a adoção do valor 0,7 para α1 é
necessário que:
O cobrimento no plano normal ao gancho seja ≥ 3φ;
Sejam observadas as condições de confinamento da armadura.

Na tabela abaixo pode ser visualizado o diâmetro dos pinos de dobramento


segundo a norma NBR 6118:2003:

Ângulo de dobramento e comprimento da ponta reta dos ganchos:


a) semicirculares, com ponta reta de comprimento não inferior a 2φ;
b) em ângulo de 45º (interno), com ponta reta de comprimento não inferior a 4φ;
c) em ângulo reto, com ponta reta de comprimento não inferior a 8φ.

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Disposições normativas relacionadas aos ganchos:
• barras lisas devem ser, obrigatoriamente, ancoradas com ganchos
semicirculares;
• a adoção de ganchos não é recomendada para barras de φ > 32mm ou para
feixes de barras;
• não é permitida a ancoragem com ganchos para barras exclusivamente
comprimidas.

Emendas das barras


Em virtude da limitação dos comprimentos das barras de aço fornecidas pelos
fabricantes e, dependendo do comprimento das peças de concreto, torna-se necessário
emendar as barras das armaduras. Assim como no caso das ancoragens, deve ser
garantida a transferência dos esforços de tração ou de compressão de uma barra para
outra, através de emendas entre as barras das armaduras, que podem ser:
• Diretas, sem a participação do concreto na transmissão dos esforços, como nas
emendas rosqueadas ou soldadas;

• Indiretas, quando é necessário que o concreto participe, como nas emendas por
traspasse.

TRAÇÂO

COMPRESSÃO

Emendas por luvas rosqueadas


Resistência da luva rosqueada > resistência das barras emendadas

Emendas por solda


• De topo, por caldeamento, para bitola não menor que 10mm;

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• De topo, com eletrodo, para bitola não menor que 20mm;

• Por traspasse com pelo menos dois cordões de solda longitudinal

Emendas por traspasse


Não são permitidas emendas por traspasse para:
• Barras isoladas com φ > 32mm;
• Tirantes ou pendurais;
• Feixes de barras com φn > 45mm.

Para determinação do comprimento de traspasse deve-se observar:


• A natureza da solicitação – tração ou compressão;
• A proporção de barras emendadas na mesma seção;
• A distância livre entre as barras emendadas.

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- Emendas supostas na mesma seção transversal

- Proporção máxima de barras emendadas por traspasse

As barras permanentemente comprimidas e as armaduras de distribuição podem


ser todas emendadas numa mesma seção transversal.

- Comprimento de traspasse de barras tracionadas, isoladas


O comprimento de traspasse de barras tracionadas e isoladas é dado por:
lot = αot ⋅ lb,nec ≥ lot,min lot = (αot ⋅ lb,nec) + a
quando a distância livre entre barras quando a distância livre entre barras
emendadas for ≤ 4φ emendadas for > 4φ
Onde:
• αot é o coeficiente função porcentagem de barras emendadas na mesma seção,
conforme tabela abaixo;
• lot,min ≥ 0,3 ⋅ αot ⋅ lb ; 15φ ; 20cm
lot → barras tracionadas
loc → barras comprimidas
a → distância entre barras emendadas

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Deve ser respeitado o espaçamento mínimo entre as faces das barras longitudinais,
preconizado no item 18.3.2.2 da NBR 6118:2003 inclusive nas regiões de emendas por
traspasse:
a) no sentido horizontal (ah):
- 2cm;
- diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
- 1,2 vezes o diâmetro máximo do agregado
b) no sentido vertical (av):
- 2cm;
- diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
- 0,5 vezes o diâmetro máximo do agregado

- Comprimento de traspasse de barras comprimidas, isoladas


loc = lb,nec ≥ loc,min
Onde:
• loc,min ≥ 0,6 ⋅ lb ; 15φ ; 20cm

- Emenda de feixes de barras

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Quando barras emendadas estiverem dispostas em feixes, deverão ser observadas as
seguintes prescrições da NBR 6118:2003:
• O diâmetro equivalente φn fora da região da emenda, deverá ser inferior a 45mm;
• As barras devem ser emendadas uma de cada vez, sem que qualquer seção do
feixe emendado resulte mais do que quatro barras;
• As emendas das barras dos feixe devem ser separadas entre si em 1,3 vezes o
comprimento de emenda individual de cada uma.

- Armadura transversal nas emendas por traspasse


Para combater os esforços de tração decorrentes do mecanismo de aderência entre o
concreto e o aço, devem ser dispostas armaduras transversais ao longo dos trechos de
emenda por traspasse.

Em relação às barras tracionadas, a NBR 6118:2003 prevê as seguintes condições:


• Quando φ < 16mm e a proporção de barras emendadas na mesma seção for < 25%,
a armadura transversal deverá ser a mesma adotada para as ancoragens.
• Quando φ ≥ 16mm ou quando a proporção de barras emendadas na mesma seção
for ≥ 25%, a armadura transversal deve:
- ser capaz de resistir a uma força igual à de uma barra emendada;
- ser constituída por barras fechadas se a distância entre as duas barras mais
próximas de duas emendas na mesma seção for < 10φ;
- concentrar-se nos terços extremos da emenda.

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