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Os efeitos das grandes barragens no desenvolvimento

socioeconómico local

João Miguel Nunes Baptista Cima de Velosa

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em:

Engenharia Civil

Júri

Presidente: Prof. João Hipólito

Orientador: Prof. Maria do Rosário Partidário

Vogal: Prof. Jorge Matos

Outubro de 2009
Resumo

A construção de barragens é uma arte antiga, inicialmente visando o armazenamento de água e


irrigação, sendo recentemente introduzida a possibilidade de produção de energia eléctrica. Um
projecto destas características altera o meio onde se integra, em diversos campos. O presente
trabalho aborda os impactes socioeconómicos provocados por uma barragem na sua área de
implantação e a forma como estes impactes são frequentemente sobrestimados pelos promotores
deste tipo de projecto. São seleccionadas três grandes barragens nacionais como casos de estudo,
para avaliar a sua evolução socioeconómica desde a sua construção, através da recolha de um
determinado número de indicadores. A informação recolhida mostra uma redução da população nos
concelhos situados na área de influência das barragens analisadas. A situação de envelhecimento
evoluiu para grave em 2001, com forte repulsão da população potencialmente activa, em simultâneo
com o aumento do desemprego em grande parte dos municípios, devido à redução das actividades do
sector primário em prol do terciário, que exige maior qualificação. A forte diminuição observada nas
actividades agrícolas e o baixo aumento no sector secundário indicam que uma maior electrificação
das áreas de intervenção, e uma maior disponibilidade de água para irrigação, não se materializaram
nestes dois sectores. Estes resultados são comparados com os impactes previstos nos Estudos de
Impacte Ambiental mais recentes, postos em causa pelos poucos fundamentos sólidos que
apresentam e pelos resultados obtidos no presente trabalho. Assim, a informação recolhida neste
trabalho indica que uma grande barragem não proporciona desenvolvimento socioeconómico local na
região onde é implementada.

Palavras-chave: desenvolvimento socioeconómico local, grande barragem, impacte ambiental

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Abstract

The construction of dams is an ancient art, that firstly aimed to storing water and irrigation. Recently
the possibility of production of electricity was introduced. The advantages of a project of this kind
change the surrounding area, in different fields.
This work discusses the socioeconomic impacts caused by a dam in its area of influence, and how
these impacts are often overrated by promoters of this type of project. Three national large dams are
selected as case studies, to assess their socioeconomic evolution since their construction, through the
research of some indicators. The obtained information shows a loss of population in the counties
located in the area of influence of each analysed dam. The aging of population became serious in
2001, because of strong repulsion of potentially active population: unemployment increased in most of
the counties, due to the transition of activities from the primary sector to the tertiary one, which
demands more skills. The decrease observed in agricultural activities and the low increase of the
secondary sector show that a broader electrification and availability of water for irrigation did not
materialize in these sectors. These results are then compared with the impacts predicted in
Environmental Impact Studies conducted in the present days, and set in doubt by the few solid
justifications offered.
Hence, the gathered information indicates that a large dam does not cause local socioeconomic
development in the region where it is built.

Keywords: local socioeconomic development, large dam, environmental impact

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Sigla de Entidades

AIA Avaliação de Impactes Ambientais

AIS Avaliação de Impactes Sociais

EDP Electricidade de Portugal

EIA Estudo de Impacto Ambiental

ICOLD International Commission of Large Dams

PNBEPH Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico

WCD World Commission of Dams

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Agradecimentos

À Prof. Maria do Rosário Partidário, pela oportunidade que me proporcionou ao permitir a realização
deste trabalho, assim como pelo pragmatismo e partilha do seu vasto conhecimento na área da
Avaliação de Impacte Ambiental.

Ao professor Raul Caixinhas, pela sua disponibilidade, simpatia e apoio no esclarecimento de dúvidas.

À minha família, cujo apoio foi fundamental para a realização deste trabalho.

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viii
Índice

1. Objectivos e Metodologia ..................................................................................................................... 1

1.1 Objectivos ....................................................................................................................................... 1

1.2 Metodologia..................................................................................................................................... 2

2.Enquadramento Conceptual .................................................................................................................. 3

2.1 Conceitos ........................................................................................................................................ 3

2.1.1 Avaliação de Impacte Ambiental .............................................................................................. 3

2.1.2 Avaliação de Impacte Ambiental em Portugal ......................................................................... 4

2.1.3 Impactes Socioeconómicos ..................................................................................................... 4

2.2 Aspectos Gerais de Barragens ....................................................................................................... 5

2.2.1 Impactes Socioeconómicos de Barragens ............................................................................... 5

2.3 Efeitos das Grandes Barragens no Mundo ..................................................................................... 8

2.3.1 Case-studies da World Commission on Dams ........................................................................ 8

2.4 Outros estudos .............................................................................................................................. 15

2.5 Casos estudados - Considerações ............................................................................................... 16

3. Barragens em Portugal ....................................................................................................................... 18

3.1 Evolução Histórica ........................................................................................................................ 18

3.1.1 Final do século XIX a 1930 .................................................................................................... 18

3.1.2 As décadas de 30 e 40........................................................................................................... 19

3.1.3 A década de 50 ...................................................................................................................... 20

3.1.4 A década de 60 ...................................................................................................................... 21

3.1.5 As décadas de 70 e 80........................................................................................................... 21

3.1.6 O presente .............................................................................................................................. 23

3.2 Distribuição no Território Nacional ................................................................................................ 24

4. Análise de Três Casos de Estudo ...................................................................................................... 26

4.1 Avaliação do Desenvolvimento Socioeconómico nos Casos de Estudo ...................................... 26

ix
4.2 Selecção dos Casos de Estudo .................................................................................................... 29

4.3 Castelo de Bode ........................................................................................................................... 29

4.3.1 Considerações ....................................................................................................................... 39

4.4 Alto do Rabagão ........................................................................................................................... 41

4.4.1 Considerações ....................................................................................................................... 49

4.5 Alto do Lindoso ............................................................................................................................. 50

4.5.1 Considerações ....................................................................................................................... 58

5. Discussão de Resultados ................................................................................................................... 59

5.1 Casos Estudados de Barragens ................................................................................................... 59

5.2 PNEBPH ....................................................................................................................................... 63

5.2.1 Estudo de Impacte Ambiental do Aproveitamento Hidroeléctrico de Foz Tua ...................... 65

5.3 Outros EIA de Barragens .............................................................................................................. 66

5.3.1 Aproveitamento Hidroeléctrico de Palhais ............................................................................. 66

5.3.2 Aproveitamento Hidroeléctrico do Alqueva ............................................................................ 67

5.4 Considerações .............................................................................................................................. 67

6. Conclusões e Desenvolvimentos Futuros .......................................................................................... 69

6.1 Conclusões ....................................................................................................................................... 69

6.2 Desenvolvimentos Futuros ........................................................................................................... 70

7. Referências Bibliográficas .................................................................................................................. 71

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Índice de Tabelas

Tabela 1 - Exemplos de factores socio-económicos e a sua potencial mudança resultante da


implementação da barragem (Adaptado de Canter, 1996) ...................................................................... 7

Tabela 2 – Número de Centrais Entre as Décadas de 30 e 90 (Madureira, 2003) ................................ 22

Tabela 3 – Barragens com maiores albufeiras em Portugal (Madureira, 2003) .................................... 24

Tabela 4 – Indicadores a utilizar............................................................................................................. 27

Tabela 5 - Variação da população por concelho e décadas .................................................................. 32

Tabela 6 – Evolução do Índice de Envelhecimento nos Concelhos ...................................................... 35

Tabela 7 – Evolução do Peso das Actividades Económicas ................................................................. 37

Tabela 8 – Evolução da População Residente por Concelho ................................................................ 43

Tabela 9 – Índices de Envelhecimento por Concelho ............................................................................ 45

Tabela 10 – Divisão de Sectores em todos os concelhos nos anos em análise ................................... 47

Tabela 11 - Evolução da População Residente por Município .............................................................. 52

Tabela 12 – Índice de Envelhecimento por Município............................................................................ 54

Tabela 13 – Divisão sectorial por concelho e anos de análise .............................................................. 56

Tabela 14 – Variação da População nos Diferentes Períodos de Construção dos Casos de Estudo .. 60

Tabela 15 – Variação da Taxa de Desemprego desde a Construção dos Casos de Estudo. ............... 62

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Índice de Figuras

Figura 1 – Impactes de projectos hidroeléctricos (adaptado de Akkaya, 1999) ...................................... 8

Figura 2 – Vista de satélite da Barragem e Cidade de Kariba (Google Earth, 2009) ............................ 13

Figura 3 – Central do Lindoso (Fonte: CNPGB, 2002)........................................................................... 19

Figura 4 – Salamonde (Fonte: CNPGB, 1992) ....................................................................................... 21

Figura 5 – Distribuição de Barragens no Território Nacional ................................................................. 25

Figura 6 – Mapa dos Municípios Envolventes à Barragem .................................................................... 31

Figura 7 - Variação da População por Décadas .................................................................................... 33

Figura 8 – Pirâmide Etária do concelho de Abrantes em 1940, 1970 e 2001 ....................................... 33

Figura 9 – Pirâmide Etária do concelho de Sertã em 1940, 1970 e 2001 ............................................. 34

Figura 10 – Pirâmides Etárias do Concelho de Tomar em 1940, 1970 e 2001 ..................................... 34

Figura 11 – Evolução da Taxa de Actividade ......................................................................................... 36

Figura 12 – Evolução da Taxa de Desemprego ..................................................................................... 37

Figura 13 – Evolução do Nível de Instrução por Décadas em 1950, 1981 e 2001 ................................ 39

Figura 14 – Barragem do Alto do Rabagão (Fonte: INAG) .................................................................... 41

Figura 15 - Mapa dos Munícipios Envolventes à Barragem .................................................................. 42

Figura 16 – Evolução da População por Concelho ................................................................................ 44

Figura 17 – Pirâmide Etária do Concelho de Boticas nos anos de 1950 e 1981 ................................... 44

Figura 18 – Pirâmide Etária do Concelho de Montalegre no Censo de 1950 e 2001 ............................ 45

Figura 19 – Evolução da Taxa de Actividade por Concelho .................................................................. 46

Figura 20 – Evolução da Taxa de Desemprego por Concelho .............................................................. 47

Figura 21 – Evolução do Nível de Instrução no Concelho de Montalegre ............................................. 48

Figura 22 – Evolução do Nível de Instrução no Concelho de Boticas ................................................... 48

Figura 23 – Vista Aérea da Barragem do Alto do Lindoso (IM, 2009) ................................................... 50

Figura 24 – Mapa dos Municípios Envolventes ...................................................................................... 51

Figura 25 – Variação da População por Décadas.................................................................................. 53

Figura 26 – Pirâmide Etária do Concelho de Arcos de Valdevez em 1981, 1991 e 2001 ..................... 53

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Figura 27 – Pirâmide Etária do Município de Lobios nos anos de 1991 e 2001 .................................... 54

Figura 28 – Taxas de Actividade por Município ..................................................................................... 55

Figura 29 – Taxas de Desemprego por Município ................................................................................. 56

Figura 30 - Nível de Instrução por Município (1991) .............................................................................. 56

Figura 31 – Nível de Instrução por Município (2001) ............................................................................. 57

Figura 32 – Localização dos Aproveitamentos, por Rios e Concelhos (PNBEPH, 2007) ..................... 64

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1. Objectivos e Metodologia

1.1 Objectivos

A água é um recurso natural cuja abundância ou carência tem repercussões profundas na evolução
das populações humanas. Para fazer face a estas oscilações originadas pelas inconstâncias
climáticas, o Homem tem desenvolvido varias técnicas de armazenamento de água, sendo uma
barragem um dos claros exemplos modernos dessas técnicas. Uma barragem pode ser construída
com vários fins, desde armazenamento de água, irrigação, reserva para incêndios, prevenção de
cheias até à produção de energia eléctrica, provocando alterações na região onde é implementada,
em vários campos.

Um dos principais argumentos defendidos pelos promotores de uma barragem, para a sua construção
é a socioeconomia, sobretudo quando essa barragem está localizada em zonas com menor qualidade
de vida, sendo apresentadas razões como o aumento do emprego e o estímulo à economia, que
funcionariam como atracção de novas populações. Muitas vezes estas afirmações são realizadas sem
qualquer fundamento e, como se mostrará, encontram-se poucos estudos na literatura que as possam
corroborar.

É nestes argumentos que este trabalho foca o seu principal objectivo, relacionado com os impactos
socioeconómicos locais provocados por este elemento estrutural, para responder a questão central
desta dissertação: Será que a implantação de grandes barragens contribuiu para o desenvolvimento
socioeconómico dos municípios na sub-região da sua área de intervenção?

Deste modo, o trabalho inicia-se com uma revisão do “estado-de-arte” da literatura, no que concerne a
esta área, seguido por uma evolução histórica das barragens em Portugal. Posteriormente é descrita
a metodologia utilizada na avaliação do desenvolvimento socioeconómico, bem como a sua aplicação
a três casos de estudo. A análise destes casos de estudo é depois confrontada com as previsões de
impactes socioeconómicos realizadas no âmbito dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) mais
recentes, uma vez que se pretende discutir a fiabilidade das suas previsões.

Neste sentido, o trabalho em apreço pretendeu fornecer um contributo para um assunto até agora
pouco aprofundado e como eventual ponto de partida para futuras investigações.

1
1.2 Metodologia

Para atingir o objectivo deste trabalho, a metodologia adoptada abrangeu essencialmente as


seguintes técnicas:

- Revisão de literatura e de estudos de casos internacionais sobre a contribuição das barragens, para
o desenvolvimento socioeconómico de uma região ou local de implantação, para assim tentar extrair
um conjunto de indicadores que estabeleceram a estrutura de análise dos casos de estudo;

- Análise e avaliação comparativa de três casos de estudo nacionais, recorrendo a dados estatísticos
municipais de determinados indicadores, para demonstrar o contributo das barragens para o
desenvolvimento socioeconómico local;

- Análise conclusiva da comparação dos casos analisados, em relação à hipótese de investigação:


Será que a implantação de grandes barragens contribuiu para o desenvolvimento socioeconómico dos
municípios na sub-região da sua área de intervenção?

- Confrontação desta análise conclusiva com as previsões de impactes socioeconómicos realizadas


no âmbito dos EIA realizados recentemente.

2
2.Enquadramento Conceptual

Este capítulo pretende introduzir as definições e conceitos que serão os vectores condutores em toda
a dissertação, a ser utilizados ao longo dos capítulos posteriores, assim como proporcionar uma visão
da situação actual no mundo, relacionada com o objectivo do trabalho. Surge então a necessidade de
esclarecer as bases fundamentais deste trabalho, tais como o conceito de Avaliação de Impacte
Ambiental – AIA (e a sua situação em Portugal), impactes socioeconómicos na generalidade e os
advindos da implementação de projectos hidroeléctricos.

2.1 Conceitos

2.1.1 Avaliação de Impacte Ambiental

A definição utilizada mais correntemente é a dada pela International Association for Impact
Assessment (IAIA, 1999), que liga a AIA com o objectivo de desenvolvimento sustentável, definindo-a
como: ”o processo de identificação, previsão, avaliação e mitigação dos efeitos biofísicos, sociais e
outros efeitos relevantes de propostas de desenvolvimento antes de decisões fundamentais serem
tomadas e de compromissos assumidos.”

Outra definição relacionada é a de Avaliação de Impactes Sociais (AIS), também fornecida pela IAIA
(2003): “AIS inclui os processos de analisar, monitorizar e gerir as consequências sociais tanto
positivas como negativas de intervenções planeadas (políticas, programas, planos, projectos) e
qualquer mudança social causada por essas intervenções. O seu princípio base trata de proporcionar
um ambiente biofísico e humano mais sustentável.”

O presente trabalho foca-se no seguimento da AIA follow-up, também referida na literatura como
monitorização e auditoria da AIA. Durante ou depois da implementação da actividade (um projecto ou
um plano), os efeitos reais da actividade são medidos. Os resultados são comparados com os
impactos previstos pelo Estudo de Impacto Ambiental (se disponíveis), ou é feita uma análise
longitudinal tendo em conta a variação de indicadores ao longo do tempo. Apresenta por isso uma
natureza de retrospectiva, uma vez que revê actividades e situações correntes ou passadas, que se
seguiram a uma determinada decisão (Saunders, 2004).

Nos estudos onde os métodos de AIA follow-up são utilizados, o tema central trata da avaliação de
políticas, planos, programas ou projectos com a questão principal a prender-se com “Em que medida
foi o projecto bem sucedido no alcance dos seus objectivos?”, bem como a sua relação com os
impactos previstos e eficácia das medidas de mitigação propostas.

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Para tal, as mudanças na sociedade ou no ambiente devem ser medidas e o interesse foca-se nos
impactes causados pelo projecto, que não são mais do que as consequências das mudanças naturais,
físicas e sociais resultantes directa ou indirectamente de um projecto (Saunders, 2004), e que podem
ser medidos ao longo do tempo.

2.1.2 Avaliação de Impacte Ambiental em Portugal

Os primeiros Estudos de Impacto Ambiental elaborados em Portugal remontam a 1981, criando assim
um conhecimento de experiência técnica no tema já na década de 80. No entanto, embora a Lei de
Bases do Ambiente (Lei n.º 11/87, de 7 de Abril) tenha denominado a AIA como um vector central da
política de ambiente e ordenamento do território, surge, no início da década de 90, para dar
cumprimento à Directiva 85/337/CE, de 25 de Junho, o Decreto de Lei nº 186/90, que viria a sofrer
uma completa revisão no ano 2000, com o Decreto de Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio.

Durante este período, têm sido várias as Avaliações de Impacte Ambiental realizadas, em todos os
projectos que o exijam, desde projectos icónicos como a Ponte Vasco da Gama ao TroiaResort, até
construções de menor dimensão.

Estes EIA têm vindo a ganhar cada vez mais relevância na área dos empreendimentos hidroeléctricos,
tendo sido iniciados com a elaboração do EIA do Alto do Lindoso e pela primeira fase de estudos do
Alqueva nos anos oitenta, embora ainda sem Avaliação de Impactes Sociais. Esta área é introduzida
nos Estudos de Impactes Ambientais em meados dos anos noventa, sendo presentemente uma
prática corrente em todos os Estudos.

No entanto, uma vez que o Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do


Desenvolvimento Regional não possui qualquer departamento de socioeconomia, a Avaliação de
Impactes Sociais não é muito aprofundada, sendo deixada para um plano mais secundário.

2.1.3 Impactes Socioeconómicos

Os factores que descrevem o ambiente socioeconómico representam um conjunto de numerosos


parâmetros, que se podem relacionar ou não entre si (Canter, 1995). Por um lado, esta categoria
representa um único grupo, uma vez que inclui factores que não estão associados ao ambiente físico-
químico, biológico e cultural. Por outro lado, esta categoria é a mais abrangente dos relacionamentos
e interacções humanos.

Assim, os impactes socioeconómicos podem ser considerados como os efeitos directos ou indirectos,
decorrentes de impactes biogeofísicos, que se geram como consequência da realização de
determinadas acções (projectos, programas, planos e políticas), sobre as estruturas e/ou sobre as
condições sociais e económicas em geral, de uma ou várias comunidades, ou populações de uma
4
determinada região (Marqués, 1984). Trata-se então de efeitos sobre características das populações,
bem como em estruturas económicas dinâmicas, normalmente ilustradas pelos denominados
“indicadores de qualidade de vida”, que irão ser discutidos posteriormente.

2.2 Aspectos Gerais de Barragens

A água é um recurso natural, cuja abundância ou carência tem repercussões profundas na evolução
das populações humanas. É um elemento imprescindível à vida e a sua qualidade e quantidade são
factores determinantes no desenvolvimento económico.

Um rio em regime natural é um fenómeno cada vez mais raro, numa época de intenso aproveitamento
de recursos hídricos, sendo o espelho do vale ao longo do qual ele tem o seu leito (Fernandes, 1989).

Uma barragem é uma estrutura destinada a reter água de um curso de água para a armazenar ou
para a derivar. A água acumulada constitui a albufeira ou lago artificial (Fernandes 1989).

Pode-se construir barragens para abastecimento de cidades, irrigação, produção de energia eléctrica,
navegação fluvial, defesa contra cheias ou para servir, simultaneamente, vários fins (denominada fins
múltiplos), ou mesmo como reserva estratégica para combate a incêndios.

A construção de barragens é uma arte antiga, sendo que, a título de exemplo, a barragem de
Parakrama, no Sri Lanka, se encontra no mesmo local há 1600 anos. Em Espanha, sob a égide do
Império Romano, assistiu-se à edificação das suas três maiores barragens conhecidas – Prosérpina,
Cornalvo e Alcantarilla, das quais as duas primeiras se encontram ainda em funcionamento (Quintela,
1985).

Trata-se então de uma forma encontrada pelo engenho humano, para poder satisfazer a sua
necessidade primária de água, acompanhada ao mesmo tempo pelos benefícios enunciados e
melhorados ao longo dos anos.

2.2.1 Impactes Socioeconómicos de Barragens

Um projecto da dimensão de uma barragem provoca mudanças significativas em várias vertentes do


ambiente socioeconómico, tanto a nível positivo como a nível negativo. Estas mudanças podem ser
encaradas como consequência das suas duas fases: o período de construção e o período de
funcionamento.

Durante o período de construção, o projecto de uma barragem requer um elevado número de mão-de-
obra indiferenciada, e um número menor de mão-de-obra qualificada, conduzindo à criação de
empregos durante aquela fase. A parte da população activa que trabalha no sector agrícola, ao
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encontrar emprego na construção civil, muda de actividade e, em geral, não regressa à actividade
tradicional, após a conclusão das obras, preferindo emigrar (Henriques, 1994).

Os impactes podem ainda prender-se com a criação de vias de comunicação, serviços sociais e
outras infra-estruturas instaladas (sobretudo nos Países em Vias de Desenvolvimento, com graves
carências em infra-estruturas, embora seja também observável em Países Desenvolvidos) durante o
período de construção, providenciam acesso a áreas previamente inacessíveis, permitindo a
instalação e ligação das economias locais ao mercado nacional.

A disponibilidade de água potável e energia eléctrica em áreas anteriormente carentes é também um


impacte fundamental na construção de uma barragem uma vez que se tratam de necessidades
básicas do ser humano e significa uma elevada melhoria na qualidade de vida da população servida.

O elevado afluxo de pessoas associados ao período de construção da barragem e a sua fixação em


zonas adjacentes à barragem estimula temporariamente a economia da região devido à solicitação de
uma série de serviços (alojamento, restauração, entre outros), um impacte positivo embora de
carácter temporário.

Uma das finalidades na construção de uma barragem é a irrigação de solos de grande potencial
agrícola. A construção de uma rede de irrigação pode levar ao crescimento dos valores das colheitas,
e consequentemente melhorar a nutrição das populações locais, ao mesmo tempo que proporciona
postos de empregos, rejuvenesce o sector agrícola e permite a produção de alimento para os
habitantes locais.

O sector agrícola é, porventura, o sector mais susceptível a alterações do seu sistema económico,
uma vez que a implementação da barragem pode levar, e.g., à introdução de novas tecnologias
agrárias e culturas, por vezes mais agressivas para o solo, resultando na sua erosão e perda de
nutrientes.

No entanto, estes efeitos associados ao sector agrícola são residuais, comparando com os postos de
trabalho criados pela produção hidroeléctrica e outros serviços providenciados pela albufeira. Estes
serviços podem ser a criação de indústrias de pesca desportiva e comercial, turismo e navegação.
Repare-se por exemplo, no caso do Canal do Panamá, constituído por duas grandes barragens que
emprega 8000 pessoas directamente nas operações do Canal e cria empregos nas indústrias de
navegação locais.

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É também importante ter em conta os impactes sociais provocados pelo realojamento de populações
inseridas na área a inundar pelo projecto hidroeléctrico bem como a perda de propriedade associada,
embora estes impactes se encontrem fora do âmbito deste trabalho.

De facto, são várias as vertentes afectadas por estes projectos, sendo que a tabela 1 inclui exemplos
dos factores socioeconómicos com maior importância para a população: demográficos, económicos,
entre outros:

Tabela 1 - Exemplos de factores socio-económicos e a sua potencial mudança resultante da implementação da


barragem (Adaptado de Canter, 1995)

Características gerais e tendências na Aumento ou diminuição da população


população da região

Fluxos migracionais na área em estudo Aumento ou diminuição dos fluxos


migracionais

Características da população na área em Aumento ou diminuição nas várias


estudo, incluindo idade, sexo, nível de distribuições da população
educação

História económica da região Aumento ou diminuição das actividades e


padrões económicos

História de emprego e desemprego na Aumento ou diminuição nos níveis de


região emprego

Padrões de uso do solo na região Aumento ou diminuição no uso do solo

Valor do solo na área em estudo Aumento ou diminuição do valor do solo

Instituições públicas ou privadas de Aumento ou diminuição nos níveis de literacia


educação na área em estudo (jardins de da população
infância, escolas, universidades) na região

Turismo na área em estudo Aumento ou diminuição do potencial turístico

Sistema de transportes ferroviário, Aumento ou diminuição na procura de


rodoviário, aéreo e aquático na área em sistemas de transportes
estudo

Numa perspectiva de desenvolvimento sustentável, a qual compreende as vertentes social,


económica e ambiental, é possível sintetizar os impactes decorrentes da construção e exploração de
barragens, oferecendo assim uma perspectiva global, tal como se pode observar na figura 1:

7
.

 Abastecimento de água  Turismo  Retorno económico


 Saúde da população  Emprego  Efeito multiplicador da
 Benefícios da  Melhoria na electricidade na economia
electrificação: conforto, produção de  Crescimento e exportação
literacia comida das colheitas

Desenvolvimento Económico
Social
Sustentável

 Irrigação
 Controlo de inundações
 Diminuição do período de seca

Ambiental

Figura 1 – Impactes de projectos hidroeléctricos (adaptado de Akkaya, 1999)

2.3 Efeitos das Grandes Barragens no Mundo

Neste sub-capítulo, pretende-se ilustrar o status quo no que concerne aos impactos socioeconómicos
observados no mundo, resultantes de grandes barragens. Refira-se que uma “grande barragem”,
segundo a designação do ICOLD (International Commission of Large Dams), é um projecto
hidroeléctrico com altura superior a 15 metros, medida desde a sua fundação até à sua crista.

Na actualidade existem, de acordo com o ICOLD, cerca de 47000 grandes barragens no mundo
inteiro, sendo que outras 1700 estão em construção. No entanto, são poucos os estudos (Batia et. al.,
2007; Verocai, 2000) presentes na literatura que avaliem os benefícios socioeconómicos a longo
prazo de barragens. Entre os estudos existentes, destacam-se os case-studies solicitados pela WCD
(World Commission on Dams) a investigadores mundiais, em 7 barragens, e outros realizados pelo
ICOLD.

2.3.1 Case-studies da World Commission on Dams

Nos estudos realizados pela WCD, este organismo propôs uma série de questões, deixando ao
critério dos investigadores a metodologia utilizada para as responder, observando-se assim diferentes
formas de abordar os impactes, das quais, relacionadas com a socioeconomia, se salientam:

- Quais foram os benefícios, custos e impactes actuais versus projectados?

8
- Quais foram os benefícios, custos e impactes inesperados?

- Qual foi a distribuição dos benefícios, custos e impactes actuais e projectados? Quem ganhou e
perdeu?

As barragens estudadas localizam-se em países completamente distintos, no que concerne ao seu


nível de industrialização e desenvolvimento humano, pelo que se optou por dividi-los em função
destes parâmetros, para uma mais clara apresentação nesta dissertação:

- Países Desenvolvidos

a) Barragem Grand Coulee, Estados Unidos da América

Esta barragem surgiu no contexto da política de dinamização da economia (New Deal) criada pelo
Presidente Roosevelt na década de 1930 e viu a sua construção terminada em 1951, tendo tido
diversos aumentos da capacidade de geração de energia até aos dias de hoje, e que a tornaram na
barragem de maior produção de energia dos Estados Unidos e na terceira maior do mundo,
verificando-se impactos significativos a todos os níveis.

Para responder às questões colocadas pela WCD, relacionadas com a socioeconomia, não foi
adoptada qualquer metodologia particular, sendo apenas realizada uma descrição dos impactos
observados. Uma vez que este projecto envolveu a construção de uma vasta rede de irrigação, o
sector agrícola na região foi o que verificou um maior desenvolvimento, que se materializa num
aumento do emprego de entre 140 a 250% neste sector, e por sua vez, de 540% na indústria
alimentar. No entanto, os agricultores da região, ao beneficiarem destas condições, puderam praticar
preços mais baixos nos seus produtos, o que levou ao abandono dessas culturas por parte da
população agrícola de outras regiões. A rede de irrigação proporcionou também um aumento
substancial no valor do solo e, consequentemente, um incremento nos valores das receitas
municipais, usados posteriormente no financiamento de serviços locais, e.g., escolas e hospitais.

Por outro lado, a oferta de energia eléctrica a um baixo preço atraiu indústrias pesadas na região,
como a metalúrgica, aeroespacial, da defesa, mineira, entre outras, o que provocou um aumento do
emprego exponencial assim como um fomento económico de toda a região em torno da barragem.

Outros impactos surgiram também da criação de uma albufeira, aparecendo assim uma próspera
indústria de turismo e empregos neste sector, bem como um habitat natural para o desenvolvimento
de uma indústria pesqueira. Não obstante, a implementação da barragem criou um obstáculo natural a

9
bastantes espécies de peixes, nomeadamente o salmão, que ocupava grande parte da economia
piscícola da região, levando à emigração dos trabalhadores envolvidos naquele recurso.

No entanto, em termos de empregos relacionados directamente com a barragem, verificou-se que a


prosperidade associada ao período de construção foi curta, uma vez que a maior parte dos
trabalhadores envolvidos não permaneceu na região: apenas 10% continuaram as suas vidas na área.

Os autores do relatório deste caso de estudo são peremptórios na contribuição da barragem como
factor chave do desenvolvimento que se deu na região, pelos impactes que teve nos sectores acima
mencionados, melhorando assim as condições da população local.

b) Barragem da Bacia do Rio Glomma e Lagen, Noruega

Esta barragem surgiu no programa de electrificação nacional da Noruega e localiza-se numa zona de
topografia bastante irregular, apresentando por isso uma baixa densidade populacional.

Neste caso, uma vez que a Noruega apresenta um clima marcado por elevados níveis de
pluviosidade, não foi construída qualquer rede de irrigação, e dado que as populações da região já
possuíam energia eléctrica na altura da construção, a barragem não teve um impacto socioeconómico
directo significativo na região. No entanto, devido às políticas fiscais da Noruega, os municípios
existentes em redor da barragem obtiveram a maior parte das receitas obtidas pela geração de
energia eléctrica (em Portugal encontra-se centralizada na EDP, pelo que tal não acontece), e a
criação de empregos permanentes por parte deste sector constituem os únicos impactos
socioeconómicos registados.

- Países em Vias de Desenvolvimento

a) Complexo Hidroeléctrico do Tucuruí, Brasil

Neste relatório, é referida a existência de uma política de distribuição de “royalties” por cada município
afectado pela barragem que têm uma forte influência no desenvolvimento da região. A título de
exemplo, neste caso estão divididas por: 10% para o Governo Federal, 45% para os Estados onde o
projecto se encontra localizado e 45% divididos pelos municípios afectados pela barragem, em função
da sua área submersa.

O sector turístico foi também pouco apoiado pelo Governo, que apenas criou algumas actividades
específicas, como um torneio de pesca desportiva, com acesso limitado. Esta restrição de acesso
levou a um fenómeno interessante: a constante alteração dos proprietários do solo levou a uma

10
grande dinâmica em termos das operações de compra e venda dos terrenos, o que inflacionou os
preços do solo ao mesmo tempo que aumentou a sua procura, tratando-se apenas de especulação.

De facto, é referida a presença de desenvolvimento socioeconómico da região sem, no entanto, ser


demonstrado por números ou indicadores, sendo apenas mencionado que as taxas de crescimento de
população da área afectada foram elevadas. Por sua vez, este desenvolvimento é explicado apenas
pelos impostos municipais gerados pela comercialização da energia eléctrica produzida pela
barragem, impacto esse indirecto e dependente das políticas autárquicas praticadas por cada país,
pelo que sem eles, não haveria uma melhoria das condições socioeconómicas da região.

b) Barragem Tarbela e Bacia do Rio Indo, Paquistão

Por se tratar de um país em vias de desenvolvimento, este estudo revela uma melhoria em certas
lacunas que já se encontram superadas nos países desenvolvidos. Assim, destaca-se o impacto na
literacia e educação da população afectada pelo projecto, com um aumento exponencial da literacia,
principalmente na população feminina, e no número de pessoas no ensino superior, devido à
construção de escolas na região, como medida de compensação.

Este aumento proporcionou às comunidades empregos em profissões especializadas e


consequentemente, com maiores rendimentos. A existência de energia eléctrica veio, no entanto,
mecanizar todo o sector agrícola, deixando os trabalhadores nele envolvidos sem emprego.

O balanço global neste caso é positivo, sendo que a região em redor sofreu uma significativa melhoria
das condições de vida materializadas no desenvolvimento das vias de comunicação, educação,
aumento (não quantificado) do volume de pescas e subida do valor do solo, atribuído pelos autores à
implementação da barragem.

c) Barragem Pak Mun e Bacia do Rio Mekong, Tailândia

No final da década de 1980, a Tailândia era uma das economias de crescimento mais rápido do
mundo. Para acompanhar este desenvolvimento e as necessidades energéticas que vêm com ele,
surge o projecto da Barragem Pak Mun.

O tema “impactes socioeconómicos” é pouco debatido neste relatório, uma vez que são praticamente
inexistentes, dos quais se destacam o decréscimo do turismo devido ao aparecimento do fenómeno
de sedimentação no rio, diminuindo ou eliminando os rápidos que atraíam pessoas de fora, levando a
perdas económicas (não quantificadas) das pessoas envolvidas nesta área.

11
Em termos de variação do nível de emprego é fornecida pouca informação, sendo que o aspecto
socioeconómico mais relevante é o aumento do salário médio diário na região de 55%, e um
incremento do rendimento médio familiar na área do projecto de cerca de 20% entre 1992 e 1996. No
entanto, estas variações não podem ser atribuídas exclusivamente à construção da barragem, uma
vez que nesse período a Tailândia experimentava um “boom” económico.

d) Barragem Aslanta e Bacia do Rio Ceyhan, Turquia

Este projecto hidroeléctrico iniciou a sua construção em meados da década de 1960, tendo terminado
no ano de 1985. Os principais objectivos consistiam na irrigação de 97000 hectares de solo na Bacia
do Rio Ceyhan, gerar energia eléctrica e controlar possíveis cheias.

Deste modo, a comercialização de energia eléctrica a baixo custo possibilitada pela barragem e o
acesso a novas tecnologias agrícolas levaram à gradual substituição de mão-de-obra humana por
maquinaria automática e consequente diminuição da população activa da região neste sector.

Por outro lado, esta automatização dos processos agrícolas possibilitou um grande aumento das
colheitas e por sua vez proporcionou a criação de uma indústria alimentar e de maquinaria pesada: o
número de trabalhadores envolvidos na região nestas indústrias passou de 13000 em 1963, para
85000 em 1998.

No entanto, assistiu-se a uma diminuição da população rural, uma vez que a população rural passou
de 35% em 1985, para 23% em 1997, contrastando com os dados de 1970 que indicavam que 80%
da população era rural. Este fenómeno pode ser explicado pela localização das indústrias emergentes
na periferia destes centros urbanos, levando ao êxodo da mão-de-obra das aldeias até estes locais. A
taxa de natalidade, um indicador muitas vezes associado a subdesenvolvimento, devido à falta de
acesso a métodos contraceptivos e à “força de trabalho”, que por vezes é associada aos filhos, viu o
seu valor diminuir, com cada família a ter um número menor de filhos.

A nova localização desta população rural nos centros urbanos possibilitou o seu acesso a outros
níveis de educação: a iliteracia foi praticamente erradicada e o número de pessoas com um curso
superior aumentou rapidamente, o que a longo prazo as poderá levar a melhores condições de vida.
Refira-se que este impacte não estará necessariamente ligado à barragem.

Alguns inquéritos e entrevistas foram também realizados à população afectada pelo projecto, dos
quais se destaca a de um agricultor, que sintetiza em poucas linhas a melhoria, em alguns aspectos,
das suas condições de vida:

12
“Os telhados das nossas casas costumavam ser feitos de relva. Tínhamos que os mudar a cada dois
anos. Depois da barragem, a Câmara mudou-os para placas de zinco, e mais tarde para betão. Antes
da barragem não havia casas de banho. Agora estão a ser construídas nas casas, a custo zero.
Anteriormente, apenas havia uma fonte na aldeia, obrigando as pessoas a transportá-la até às suas
casas. Agora cada casa tem o seu próprio sistema de canalização sem qualquer custo. As crianças
costumavam ir à aldeia mais próxima para ir à escola. Agora há uma escola na aldeia. No passado, as
pessoas tinham 4 ou 5 filhos. Apesar de o seu rendimento ter aumentado, ficam satisfeitas com 2
filhos.”

Reflectem-se neste testemunho os principais impactos socioeconómicos na região, não sendo


discutidos em maior profundidade no relatório deste caso de estudo.

- Países do Terceiro Mundo

b) Barragem de Kariba, Zâmbia e Zimbabwe

A barragem de Kariba foi construída na década de 1950 e implementou o maior lago do mundo feito
pelo Homem na altura. Localizado na fronteira entre a Zâmbia e o Zimbabwe (Figura 2), dois países
com economias muito precárias, este projecto era visto como um dinamizador da economia da região
dos dois países, devido às mudanças que originaria nos vários sectores.

Figura 2 – Vista de satélite da Barragem e Cidade de Kariba (Google Earth, 2009)

13
Uma das maiores consequências associadas a este projecto deve-se à perda de uma elevada área de
solo arável: em 1961 tinha-se perdido 57,41% deste tipo de solo, com graves consequências na
agricultura da região, com algum impacte na biodiversidade, embora não seja feita referência à sua
relação com o turismo.

Por outro lado, seria de esperar que a população residente na região tirasse proveito do emprego e
novos rendimentos surgidos com a construção da barragem. No entanto, estes postos de trabalho
envolvidos na construção da barragem foram apenas temporários e beneficiaram uma baixa
percentagem da população (não quantificada), uma vez que foi dada prioridade a mão-de-obra barata
de outros países.

Contudo, o relatório deste caso de estudo foca-se, na sua maior parte, na indústria de turismo criada
pela implementação da albufeira e impulsionada pela criação de uma pista de aterragem, durante a
construção da barragem, e por uma vasta rede de estradas de acesso à cidade. Por sua vez, as
receitas criadas por esta indústria de turismo permaneceram no Governo Central, em vez de serem
distribuídas pelas Autoridades Locais: nalgumas populações os benefícios desta indústria resumem-
se apenas à elevada procura de artesanato local por parte dos turistas.

A Cidade de Kariba terá sido a que terá recolhido mais benefícios do turismo, uma vez que soube
responder imediatamente à procura causada por este, a nível de hotéis, restauração, entretenimento,
transporte, imobiliária, aplicando taxas mais elevadas neste último, transmitindo-se em receitas para
as Autoridades Locais. Todas estas oportunidades, assim como a construção e actualização de
aeroportos, estradas, redes de electricidade, saneamento, entre outros, proporcionaram emprego
directa e indirectamente a um número elevado de pessoas, sendo que este valor era de 200000 no
ano 2000.

No entanto, a maior parte destes empregos foram absorvidos por população fora da região, uma vez
que os habitantes locais não possuíam o capital ou o conhecimento necessário para fazer parte
destas oportunidades: apenas alguns conseguiram singrar nestas indústrias.

Assim, os benefícios proporcionados pela barragem polarizaram-se na Cidade de Kariba, que viu as
suas condições de vida melhorarem significativamente, em grande parte devido ao aparecimento da
indústria do turismo, ao passo que o resto da população da região estagnou ou até mesmo piorou,
devido ao desaparecimento do seu sustento: o solo arável.

14
2.4 Outros estudos

Outros estudos na literatura, nomeadamente no contexto de conferências organizadas pela ICOLD,


são referidos ainda por apresentarem informação que não está presente nos casos de estudo da
WCD.

Repare-se, a título de exemplo, no caso de estudo da Barragem Gosho, no Japão, onde a


diminuição dos riscos de inundação e a melhoria substancial na disponibilidade de água canalizada
levaram ao aumento da população da Cidade de Morioka, de 229114 habitantes em 1980, para
286478 em 1995, desencadeando um processo de desenvolvimento da região: foram construídos
acessos a auto-estradas e caminhos-de-ferro (criados pelo Plano de Desenvolvimento da Barragem
Gosho) Estes acessos levaram à quintuplicação do valor monetário das trocas comerciais desta
cidade e possibilitaram o acesso a um número cada vez maior de turistas às termas da região:
registou-se uma evolução de 244921 visitantes em 1980, para 746028 em 1995 (Yokutsuki, 1999).
São de facto efeitos positivos na população urbana, mas não é feita qualquer referência aos impactes
na população local.

As alterações que uma barragem determina em territórios adjacentes são abordadas no caso de
estudo da Barragem Dchar El Oued, localizada em Marrocos. Os projectos hidroeléctricos afectam
a dinâmica em termos da posse do solo nas áreas irrigadas, protegendo assim a propriedade agrícola
e a construção de caminhos e estradas como parte do projecto. Deste modo, permitem a abertura de
comunidades agrícolas previamente “esquecidas” e a facilidade de circulação de produtos, assim
como o acesso a novos serviços, aspectos estes desenvolvidos neste artigo (Badraoui, 1999).

Deste modo, é feita uma análise da melhoria das acessibilidades das aldeias da região a estradas
regionais ou de hierarquia superior, em consequência da construção da barragem. Estas melhorias
são descritas pelo aumento da dimensão da rede viária (expresso em termos da sua quilometragem) e
pela distância média de uma aldeia a uma estrada, parâmetro onde a zona irrigada se encontra mais
bem servida (3 km contra 7 km).

Por outro lado, outro parâmetro analisado é a disponibilidade de água potável às aldeias, que viu o
seu valor multiplicado por 5 entre os anos 1972 e 1996, apesar de a população ter triplicado, ao passo
que a percentagem de lares com água canalizada passou de 50% para 83%.

No entanto, o impacto mais interessante advém da criação de uma rede de irrigação de enormes
dimensões, que levou ao aparecimento de uma grande procura em termos de trabalhadores. Isto
porque um hectare situado numa zona irrigada requer cinco vezes mais mão-de-obra que um hectare
localizado numa área não irrigada, ao mesmo tempo que inflaciona o valor das colheitas, uma vez que

15
permite aos agricultores terem um regime estável para planearem as suas perspectivas de
produtividade e produção a longo prazo.

Neste caso particular, são necessários, anualmente, o equivalente a 1,65 milhões de postos de
trabalho, dos quais 250000 são permanentes. Todos estes factores manifestam-se num aumento do
rendimento dos agricultores (tratando-se da maioria da população) de entre cinco a oito vezes,
melhorando assim as condições socioeconómicas de grande parte dos habitantes afectados pelo
projecto.

2.5 Casos estudados - Considerações

Como primeiro ponto, é fundamental destacar a escassez de estudos sobre o desenvolvimento


socioeconómico local criado por barragens. Adicionalmente, nestes estudos são abordados
indicadores locais como a taxa de emprego, área de terra arável, valores de colheitas, entre outros,
sem, no entanto, ser efectuada uma análise comparativa entre eles, que permita concluir sobre a
presença de desenvolvimento socioeconómico.

Nestes estudos, é também notória a diferença relativa os benefícios socioeconómicos trazidos pelo
novo projecto hidroeléctrico entre os países seleccionados, em termos do seu nível de industrialização
e desenvolvimento humano, sendo que, numa primeira análise, as barragens parecem trazer maiores
benefícios aos países com menor nível de desenvolvimento económico. Uma possível razão para tal
será o facto de, nos países menos industrializados, as necessidades primárias não se encontrarem
ainda satisfeitas: a segurança na obtenção de alimentos, água e electrificação são prioridades para a
população, sendo na maior parte das situações obedecidas, como mostram os casos de estudo
analisados.

Pode-se encarar estas diferenças a nível de uma pirâmide de necessidades, da seguinte forma: nos
países menos desenvolvidos, a base (necessidades primárias: disponibilidade de água potável, de
alimentos, de electricidade, etc.) ainda não se encontra satisfeita, algo que a barragem pode
proporcionar à população local, verificado na Barragem Dchar El Oued (Marrocos) e na Barragem
Aslanta (Turquia).

Posteriormente, subindo em direcção ao topo da pirâmide, surgem as necessidades de educação e


emprego. Neste caso os efeitos observados são bastante díspares, uma vez que cada projecto é um
caso, devido à zona onde se insere e às suas dinâmicas com a região envolvente.

A nível de educação, existe apenas um caso de construção de escolas como medida de


compensação, ao passo que nos restantes, tal não foi concretizado.

16
A nível de emprego, apesar de por vezes o sector agrícola registar um aumento nos seus postos de
trabalho (devido à elevada disponibilidade de água proporcionada pela proximidade da barragem,
sobretudo nos Países do Terceiro Mundo), verifica-se também em alguns casos uma diminuição na
população empregada neste sector (uma vez que a disponibilidade de energia eléctrica mecaniza este
sector, reduzindo os empregos existentes).

Quanto à indústria do turismo, apenas se desenvolveu no caso de Kariba (no Zimbabwe) e ainda
assim de forma não positiva, uma vez que não beneficiou a população local.

Outro aspecto a considerar prende-se com as receitas fiscais retidas nos municípios locais,
beneficiando as autoridades locais, verificado na Barragem do Tucuruí (Brasil) e na Barragem do Rio
Glomma e Lagen (Noruega), devido à comercialização de energia eléctrica gerada pela barragem.

Assim, estas considerações sob a situação mundial possibilitam uma visão do que podem ser os
impactes de uma barragem na região onde é implementada, e donde ressalta a noção de que muitos
dos benefícios esperados não surgem na maior parte dos casos, após a construção da barragem.
Fica também a ideia de que o empenho do Governo (possivelmente associado ao grau de
desenvolvimento do país) e as suas políticas para a região, têm uma clara relação com o grau de
sucesso do projecto. O seguimento de directivas de minimização de impactes negativos e potenciação
dos positivos, assim como o seguimento de políticas fiscais que permitam dar rendimento à região
afectada, são aspectos fundamentais a ser seguidos pelo Governo.

17
3. Barragens em Portugal

A presença de recursos hídricos é relativamente abundante em Portugal. No entanto, a presença de


um clima mediterrânico leva a uma grande irregularidade na distribuição destes recursos no espaço e
no tempo e, consequentemente, a dificuldades no uso racional da água como um recurso natural.

Mais de metade dos recursos hídricos de Portugal têm a sua origem em Espanha. O facto de a água
fluir até Portugal através de sítios bem definidos ao longo da fronteira, reforça o seu valor económico
em relação aos recursos gerados, dispersamente, no território português. De facto, a rede hidrográfica
Portuguesa está profundamente ligada à Espanhola, e a manutenção cuidada desta rede tem sido
indispensável para uma gestão correcta dos recursos hídricos, e.g., manutenção dos ecossistemas
aquáticos e estudo de situações de seca e cheia.

A irregularidade da precipitação conduz à seca da maioria da rede hidrográfica durante longos


períodos e, consequentemente, a função de transporte e regeneração da qualidade das águas, não é
atingida nesses períodos. Torna-se então essencial a manutenção de um caudal mínimo permanente,
compatível com a sua função ambiental, de modo a preservar a qualidade de vida dos cidadãos
(CNPGB, 1992).

3.1 Evolução Histórica

3.1.1 Final do século XIX a 1930

A utilização das águas fluviais como força motriz para a produção de energia eléctrica
(hidroelectricidade) iniciou-se em Portugal em finais do século XIX.

A primeira realização deste tipo terá sido iniciada pela Companhia Eléctrica e Industrial de Vila Real,
fundada em 1892, sendo mais tarde, em 1926, substituído por uma barragem (Madureira, 2002). A
segunda realização terá pertencido à Sociedade de Electricidade do Norte de Portugal, para a qual
havia sido transferida a adjudicação, para a exploração do serviço de iluminação pública em Braga,
também no ano de 1892. É fundamental referir que é mencionada por esta altura, em finais do século
XIX, pela primeira vez a ideia de recorrer ao aproveitamento das águas do Guadiana.

Entretanto, devido à urgência de electrificação do país tendo em vista o desenvolvimento industrial e à


necessidade do Estado em fomentar e apoiar financeiramente a realização de aproveitamentos
hidroeléctricos e de uma rede eléctrica nacional, surgiu em 1926 a Lei dos Aproveitamentos
Hidráulicos. Esta lei regulava a produção, designadamente por via das centrais hidráulicas, o
transporte e a distribuição da energia eléctrica. Refira-se que nesta altura não eram tidas em conta
quaisquer preocupações ambientais.

18
Nesta época, as primeiras centrais destinavam-se essencialmente a abastecer consumos locais ou
vizinhos e alimentavam indústrias de moagens, tecelagem, entre outras, nomeadamente nas zonas do
Vale do Ave, da Covilhã e de Portalegre. Na Figura 3 é possível observar a Central do Lindoso.

Figura 3 – Central do Lindoso (Fonte: CNPGB, 2002)

3.1.2 As décadas de 30 e 40

Em 1930, o Governo começou a encarar a realização de grandes aproveitamentos hidroeléctricos,


visando o aumento da produção industrial e agrícola, pela irrigação dos campos. No entanto, o
potencial energético dos rios portugueses era ainda desconhecido, o que levou à realização de
estudos da viabilidade do seu aproveitamento para produção de electricidade e abastecimento de
água para rega, desenvolvidos, respectivamente, pelos Serviços Hidráulicos e pela Junta Autónoma
das Obras de Hidráulica Agrícola, que resultaram na elaboração de um primeiro inventário dos
recursos hidráulicos nacionais.

É nesta década que são publicados pelo Ministério das Obras Públicas e Comunicações alguns
Decretos-Lei com o objectivo de viabilizar as grandes realizações que o Governo perspectivava mas
que apenas se iniciariam depois do final da 2ª Guerra Mundial, em 1945. De facto, é em 1942 que o
Engenheiro Duarte Pacheco concede meios para a intensificação dos estudos em curso nos Serviços
Hidráulicos e promove a revisão do anteprojecto de Castelo de Bode (Ferreira, 2001)

Esta decisão de proceder a grandes empreendimentos hidroeléctricos é também justificada pelo facto
de a maioria das realizações feitas até então serem de pequenas dimensões, baixa potência gerada e
em fio de água (essencialmente no rio Douro), sem criação de albufeira. Ora, com a irregularidade na
precipitação que Portugal apresenta, tal conduzia a uma grande dependência da energia
termoeléctrica, bastante dispendiosa para o país (Mariano, 1993).
19
Assim, é publicada no final do ano de 1944 a Lei n.º 2002, da autoria do Engenheiro Ferreira Dias,
porventura um dos grandes responsáveis da electrificação do país, estabelecendo as bases da
produção, transporte e distribuição da energia eléctrica:

“A produção de energia eléctrica será principalmente de origem hidráulica. As centrais térmicas


desempenharão as funções de reserva e apoio, consumindo os combustíveis nacionais pobres na
proporção mais económica e conveniente.” (Lei n.º 2002, de 26 de Dezembro de 1944)

Esta lei define assim o fio condutor do que viria a ser a política energética para as próximas décadas,
assentando-a essencialmente no potencial hidráulico então reconhecido pelos especialistas da altura.

A produção de energia eléctrica, por volta de 1940, pode ser caracterizada por:

- Predomínio de três centrais – a central hidroeléctrica do Lindoso e as duas centrais termoeléctricas


do Tejo e de Santos que produziam, até 1940, mais que todas as outras de serviço público.

- Excessiva pulverização da potência – um total de 660 centrais hidroeléctricas espalhadas por todo o
país, para produção de energia, sendo 176 de serviço público, das quais apenas 10 de potência
superior a 5 MW.

- Elevado custo de produção – como consequência da pulverização da potência instalada, verificava-


se um excessivo custo do kW instalado e do kW produzido por tão grande número de unidades.

3.1.3 A década de 50

Esta década pode ser encarada como a mais profícua da hidroelectricidade, durante a qual se
desenvolveu principalmente o aproveitamento das bacias dos rios Cávado (Figura 4, Salamonde) e
Zêzere. De facto, a evolução da estrutura do parque produtor é materializada pelos seguintes valores:

- As centrais hidráulicas passam apenas de 113 para 117, mas a potência nelas instaladas sobe de
152,8 MW (44% do total) para 1085,2 MW (81% do total), com um acréscimo de 610%.

- O número das centrais térmicas passa de 519 para 301 (redução de 42%) e a potência nelas
instalada de 192,4 MW (56% do total) para 249,8 MW (19% do total), com um acréscimo de 30%.

- A energia produzida, passando de 941,8 GWh para 3263,5 GWh, regista um acréscimo de 246,5%
(a que corresponde uma taxa anual média de 13,2%), tendo a contribuição das centrais hidráulicas
subido de 46% para 95% e a das térmicas descido de 54% para 5%.

20
Todos estes aumentos a nível da potência instalada e energia produzida permitem assim uma
substancial subida dos consumos per capita: de 99,3 kWh/hab. para 338,9 kWh/hab.,

Figura 4 – Salamonde (Fonte: CNPGB, 1992)

3.1.4 A década de 60

Nesta década entra-se numa nova fase de evolução do sistema de produção de electricidade, i.e., o
aumento dos consumos justifica, para garantir a satisfação do consumidor a nível global, a introdução
de grupos térmicos de grande dimensão, levando a uma desaceleração na evolução do subsistema
hidráulico, onde apenas 3 novos grandes aproveitamentos entram em serviço: Bemposta e Alto-
Rabagão (1964) e Vilar-Tabuaço (1965).

3.1.5 As décadas de 70 e 80

As décadas de 70 e 80 são caracterizadas por elevadas taxas de crescimento dos consumos de


electricidade, essencialmente devido ao desenvolvimento económico do país.

Esta necessidade de energia é assegurada pela introdução de grupos térmicos de maior dimensão e,
paralelamente pela introdução de novos empreendimentos hidroeléctricos, dos quais se destaca no rio
Douro a barragem da Valeira (1976) e do Pocinho (1983), e no rio Mondego a barragem da Aguieira
(1981).

A Tabela 2 ilustra em números a evolução das potências instaladas, energia produzida e a relação
entre energia eléctrica e térmica entre as décadas de 30 e 90:

21
Tabela 2 – Número de Centrais Entre as Décadas de 30 e 90 (Madureira, 2003)

Ano 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990

Total

Nº Centrais 395 660 632 418 332 56 67

MW 150,4 280,8 345,2 1335,0 2186,3 3900 6624

GWh 260,0 460,0 941,8 3263,5 7294,2 14064 26467

Hidráulicas

Nº Centrais 75 109 113 117 115 50 60

MW<5 73 106 106 93 78 22 27

5<MW<10 2 3 7 7 7 4 4

10<MW<50 - - - 10 20 8 9

50<MW - - - 7 10 16 20

MW 36,6 83,5 152,8 1085,2 1556,3 2268 3069


(24%) (30%) (44%) (81%) (71%) (58%) (46%)

GWh 89,3 178,7 436,8 3104,8 5789,6 7847 9186


(34%) (39%) (46%) (95%) (79%) (57%) (35%)

Térmicas

Nº Centrais 320 551 519 301 217 6 7

MW<5 317 544 512 288 202 - -

5<MW<10 3 7 7 7 7 - -

10<MW<50 - - - 5 6 1 -

50<MW - - - 1 2 5 7

MW 113,8 197,3 192,4 249,8 630,0 1632 3555


(76%) (70%) (56%) (19%) (29%) (42%) (54%)

GWh 170,7 281,3 504,8 158,6 1504,6 6117 17281


(66%) (61%) (54%) (5%) (21%) (43%) (65%)

kWh/Hab. 35,3 54,0 99,3 338,9 690,6 1540 2510

Taxa anual - 4,3% 6,3% 13,1% 7,4% 8,4% 5%


média de
crescimento

22
É no ano de 1976, pelo Decreto-Lei nº502, e na sequência da nacionalização das várias empresas do
sector eléctrico realizada no ano anterior e da consequente reestruturação do sector, que é criada a
Electricidade de Portugal – Empresa Pública, abreviadamente EDP, cujas funções foram referidas
anteriormente.

Assim, é possível observar que nos dias de hoje a energia produzida distribui-se quase
equitativamente entre energia hídrica e energia térmica, ao mesmo tempo que o consumo de energia
por habitante aumentou cerca de 70 vezes desde 1930. A taxa anual média de crescimento tem-se
mantido estável entre os 4% e os 8%, apenas com um aumento pontualmente maior na década de 60
pela construção de todos os empreendimentos da década de 50 promovidos pelo Engenheiro Duarte
Pacheco.

3.1.6 O presente

Desde a década de 80 até ao presente tem-se assistido à continuação da construção de grandes


aproveitamentos, embora com um aumento exponencial do valor da opinião pública e da integração
legislativa dos Estudos de Impacto Ambiental. Repare-se, por exemplo, no caso da Barragem do
Alqueva, com implicações sociais elevadas, devido à relocalização de toda uma população (Aldeia da
Luz). Após numerosos estudos em várias áreas, este aproveitamento acabou por ser inaugurado no
ano de 2002.

Entre projectos aproveitados, já em construção e em estudo (Programa Nacional das Grandes


Barragens), o potencial energético dos rios portugueses encontra-se já perto da sua produtibilidade
máxima económica (REN, 2002).

23
3.2 Distribuição no Território Nacional

A distribuição de barragens em Portugal apresenta uma certa regularidade em toda a sua extensão.
Uma vez que o clima no Norte se apresenta mais temperado e por sua vez mais chuvoso, é natural
que existam mais cursos de água permanentes nessa região, do que em zonas mais austrais e,
consequentemente, seria de esperar uma maior concentração de projectos hidroeléctricos nessa zona
(Tabela 3). No entanto, essa mesma escassez de pluviosidade no Sul leva à necessidade de retenção
de água, pelo que esta zona também apresenta um número considerável de barragens, embora de
menores dimensões e destinadas essencialmente a irrigação (Figura 5).

Tabela 3 – Barragens com maiores albufeiras em Portugal (Madureira, 2003)

Nome Ano de Rio Finalidade Volume* Potência


6 3)
Conclusão (10 m e Instalada
Área* (MW)
3 2
(10 m ) da
Albufeira

Castelo de 1951 Zêzere Hidroelectricidade 1100 172.5


Bode
Abastecimento de 32910
água
Controlo de
cheias

Alto 1964 Rabagão Hidroelectricidade 569 90


Rabagão Abastecimento de
22000
água
Controlo de
cheias

Fratel 1973 Zêzere Hidroelectricidade 92,5 130


10000

Agueira 1981 Mondego Hidroelectricidade 450 300


20000

Alto do 1992 Lima Hidroelectricidade 379 630


Lindoso Abastecimento de
10500
água
Controlo de
cheias

Alqueva 2002 Guadiana Hidroelectricidade 4150 240


Abastecimento de 250000
água
*- O volume da albufeira refere-se à capacidade útil, e a área da albufeira trata-se da área inundada ao Nível
Pleno de Armazenamento (NPA)

24
Figura 5 – Distribuição de Barragens no Território Nacional (INAG)

25
4. Análise de Três Casos de Estudo

Pretendendo dar um contributo demonstrativo da problemática anteriormente referida, em relação ao


desenvolvimento socioeconómico local provocado por grandes barragens e dos conceitos centrais
deste trabalho, são desenvolvidos neste capítulo três casos de estudo, cada um associado a uma
grande barragem. Para tal, refere-se, em primeiro lugar, a forma como será efectuada a avaliação do
desenvolvimento socioeconómico de cada caso, bem como os critérios para a selecção dos casos de
estudo e a razão dos indicadores a utilizar, seguindo-se posteriormente a sua análise.

4.1 Avaliação do Desenvolvimento Socioeconómico nos Casos de Estudo

O desenvolvimento socioeconómico pode ser encarado como a melhoria das condições sociais e
económicas de um indivíduo ou população. No entanto trata-se de um conceito de difícil medição, que
envolve toda uma série de vertentes de uma pessoa: bem-estar psicológico, melhoria da situação
económica, social, lazer e até política no contexto da sua esfera pessoal.

Deste modo, para estimar o impacto socioeconómico nas regiões onde foram implementadas as
barragens analisadas nos casos de estudo e a sua evolução, irá ser utilizada uma análise before-after
design (Arts, 1998), onde as condições da população envolvida são medidas antes e depois do
projecto ser implementado. Para tal irá ser utilizada uma série temporal, em cada caso de estudo,
também denominada de pesquisa simples longitudinal, que envolve uma série de medições no antes
e pós projecto, na medida do possível, em termos da informação disponível.

Esta série temporal, para avaliar a presença de desenvolvimento socioeconómico e possíveis


fenómenos associados, envolve a utilização de indicadores de qualidade de vida, tendo em conta
determinadas áreas que este parâmetro compreende e considerando o conceito de Índice de
Desenvolvimento Humano (UN, 1990).

Quais são então estes indicadores? Trata-se de parâmetros numéricos sobre as mais variadas
vertentes - demografia, saúde, escolaridade, economia, entre outros - que permitem estudar ou obter
informações sobre uma determinada amostra ou população.

Neste caso das barragens, para obter uma perspectiva dos fenómenos associados ao período pré-
construção e funcionamento (before-after-design), e da mais-valia que o projecto possa ter atribuído à
região envolvente, este estudo irá focar-se principalmente nos temas:

- Demografia - Este campo permite obter informações sobre os fluxos repulsivos ou atractivos que
possam ter havido na região, reflectidos nos dados de evolução da população e a relação entre a

26
população jovem e mais idosa. Permitem obter um retrato geral do comportamento de uma população
no período de estudo. Seguem-se os indicadores definidos pelo Instituto Nacional de Estatística:

O Índice de Envelhecimento, será dado por:

𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 ≥ 65 𝑎𝑛𝑜𝑠
𝐼𝐸 = × 100
𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 < 15 𝑎𝑛𝑜𝑠

- Socioeconomia - Esta vertente compreende vários parâmetros relacionados com a amostra em


estudo, também definidos pelo Instituto Nacional de Estatística. Destaca-se a taxa de desemprego
(TD) e taxa de actividade:

𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝐷𝑒𝑠𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑔𝑎𝑑𝑎
𝑇𝐷 =
𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝐸𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑐𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐴𝑐𝑡𝑖𝑣𝑎

Taxa de Actividade (TA):

𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝐸𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑐𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐴𝑐𝑡𝑖𝑣𝑎


𝑇𝐴 =
𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙

Outros parâmetros fundamentais são o nível de escolaridade dos habitantes e a distribuição da


população empregada por tipos de indústrias e sectores, para avaliar a evolução da agricultura e
serviços na região a analisar.

A tabela 4 apresenta uma perspectiva geral dos indicadores utilizados:

Tabela 4 – Indicadores a utilizar

Áreas Indicadores

Demografia - População
- Índice de Envelhecimento

Socioeconomia - Taxa de Actividade


- Taxa de Desemprego
- Escolaridade
- Divisão Sectorial de Emprego

27
A utilização de outras áreas e indicadores não irá ser desenvolvida, uma vez que em determinadas
barragens se verificou a inexistência de informação (como por exemplo na área da Saúde), por serem
projectos já muito antigos.

Assim, os parâmetros utilizados foram todos obtidos dos Censos disponíveis no Instituto Nacional de
Estatística, nos períodos de análise associados a cada caso de estudo. Estes compreendem:

- Censos (1940-2001)

É importante destacar a dificuldade de uniformização dos dados recolhidos nos Censos, uma vez que
a definição de População Activa e a divisão dos Ensinos Básicos, Secundário e Superior nem sempre
foram as mesmas. No ano 1950, o conceito de População Activa é compreendido como todo o
conjunto de pessoas com mais de 12 anos, com uma profissão ou ocupação, ao passo que em 1981,
consiste no conjunto de pessoas disponível para trabalhar, também desde os 12 anos. Já em 2001,
este valor sobe para 15 anos. No que concerne à escolaridade, cada Censo apresenta uma realidade
diferente, devido à constante alteração das políticas de Ensino, com modificações na duração do
Ensino Primário, compreendendo o Ensino Básico Elementar e o Ensino Básico Preparatório em
1981, por exemplo. Ainda assim, foi possível a uniformização dos dados recolhidos.

Posteriormente, será feita uma interpretação da informação obtida, para responder à questão central
desta investigação, característica de uma avaliação follow-up: Como é que a barragem contribuiu para
o desenvolvimento socioeconómico da região? Que valor acrescentou o projecto na zona?

Já foi referido que em grande parte dos casos, os projectos hidroeléctricos são sobrestimados no seu
início, de modo a poder convencer o público da sua construção e obter a sua aceitação. No entanto
essa realidade tem vindo a mudar, com maior atenção na componente ambiental do projecto e nas
suas eventuais consequências negativas: o desenvolvimento da previsão de impactos e os estudos
realizados têm proporcionado outra visão dos benefícios que uma barragem pode proporcionar.

Ainda assim, trata-se sempre de análises a priori no campo da estimativa, sem se obter uma
verdadeira confirmação dos fenómenos sucedidos na operacionalidade do projecto; daí a relevância
deste estudo, que ainda assim é incipiente pelo número limitado de casos analisados. Para obter uma
maior qualidade de informação na interpretação dos indicadores, existe o conhecimento, à partida, da
possível influência de factores externos que não a implementação da barragem na zona, no
comportamento socioeconómico da amostra, porventura um dos factores mais importantes a ter em
conta na interpretação dos dados.

28
4.2 Selecção dos Casos de Estudo

Para seleccionar os casos de estudo, há que primeiro fundamentar os princípios da sua escolha,
porventura um dos pontos mais importantes do trabalho. A definição da amostra toma um papel fulcral
na validade dos resultados obtidos, pelo que um dos primeiros requisitos neste aspecto é a selecção
de barragens de fins múltiplos, de modo a, a priori, se esperar que estejam associadas a um maior
número de benefícios.

Analisaram-se então três casos de estudo, para se obter um mínimo de dados comparativos entre
eles, uma vez que a utilização de apenas dois não permitiria a obtenção de conclusões minimamente
aceitáveis acerca dos tópicos a abordar.

Um dos princípios da selecção passa pela dimensão da albufeira: foram escolhidas três das
barragens com maiores albufeiras em Portugal. Outro dos critérios para essa escolha foi a existência
de barragens com um horizonte temporal suficiente para obter uma perspectiva da evolução ao longo
do tempo do ambiente socioeconómico das populações. Apesar disso, foi seleccionada também a
barragem do Alto do Lindoso (inaugurada em 1992), de modo a se poder comparar duas realidades
distintas: a Portuguesa e a Espanhola, uma vez que este empreendimento se situa na fronteira dos
dois países.

4.3 Castelo de Bode

A barragem de Castelo de Bode trata-se de um dos mais importantes empreendimentos


hidroeléctricos do país. Como já foi referido, a sua construção surgiu no contexto do crescente
aumento da dependência de energia termoeléctrica do país e pelo potencial hidroeléctrico
proporcionado pela zona. Situa-se na bacia do rio Zêzere, tem como concelhos limites Santarém,
Tomar e Abrantes, e o seu período de construção durou de 1945 a 1951.

Trata-se de uma albufeira multifuncional, uma vez que as suas finalidades passam essencialmente
pelo abastecimento de água, produção de energia eléctrica, protecção contra fenómenos de cheia e
diversas actividades recreativas, como desportos radicais e pesca desportiva. A albufeira de Castelo
de Bode foi criada em 1951, com a implementação da barragem com o mesmo nome, localizada no
troço terminal do rio Zêzere, a montante da confluência deste com o rio Nabão.

A albufeira ocupa uma área com cerca de 3300 ha, uma extensão máxima de 60 km e tem uma
3
capacidade total de armazenamento de cerca de 1100 hm , onde se encontra localizada a maior
captação de água para consumo humano, servindo mais de 2 milhões de habitantes da área da
Grande Lisboa e dos municípios limítrofes, o que representa cerca de um quinto da população
nacional (Resolução do Conselho de Ministros n.º 69/2003 de 10 de Maio).

29
A definição da área de estudo prende-se com a extensão da influência da barragem na zona (Figura
6). Deste modo, adoptou-se a área de influência da região como os concelhos ribeirinhos da albufeira,
uma vez que se pressupõe que estes concelhos são os que mais directamente são afectados pelos
impactos da implementação do espelho de água, quer positivos, quer negativos, e são também os que
têm um poder de intervenção directa sobre a albufeira e as suas margens. Estes compreendem:

- Tomar

- Abrantes

- Ferreira do Zêzere

- Vila do Rei

- Sardoal

- Figueiró dos Vinhos

- Sertã

Dentro de cada concelho as freguesias adjacentes ao espelho de água são as mais afectadas. No
entanto, a escassez de informação disponível a nível de freguesia e o reconhecimento de que o poder
de intervenção local se exerce ao nível municipal, tornam inútil uma análise ao nível de freguesia.

É ainda importante definir o ano de início da série temporal a utilizar na análise follow-up. Uma vez
que a construção se iniciou em 1945 e os Censos na época apenas se registarem no início de cada
década (1920, 1930, 1940, etc.), optou-se por se iniciar a série com os registos do ano 1940, i.e., o
Censo imediatamente anterior ao começo da construção da barragem.

Esta decisão justifica-se pela necessidade de conhecer a realidade anterior à implementação do


projecto e poder assim obter informação sobre os impactos que a barragem possa ter provocado na
região.

- Demografia

Deste modo, é possível então proceder à análise dos dados estatísticos recolhidos. O primeiro
parâmetro a abordar é a evolução da população por concelho ao longo do período temporal descrito,
para obter possíveis fenómenos de atracção e repulsão (Tabela 5 e Figura 7).

30
Figura 6 – Mapa dos Municípios Envolventes à Barragem

31
Tabela 5 - Variação da população por concelho e décadas

Concelhos 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 Variação


1940-
2001 (%)

Tomar 44210 46071 44161 40750 45672 43139 42944 - 3%

Abrantes 45332 48925 51869 48675 48653 45697 42235 -7%

Ferreira do 16979 17559 15739 12255 11099 9954 9422 -45%


Zêzere

Sardoal 7163 7073 6854 5550 5022 4430 4104 -43%

Vila do Rei 8818 8407 7568 6150 4654 3687 3354 -62%

Sertã 27183 28623 27997 23050 21503 18199 16720 -38%

Figueiró 12031 12300 11545 8960 8754 8012 7352 -39%


dos Vinhos

Total 161716 168958 165733 145390 145357 133118 126131 -22%

Os concelhos envolventes da Albufeira – Tomar, Abrantes, Ferreira do Zêzere, Vila do Rei, Sardoal,
Figueiró dos Vinhos e Sertã – têm no seu conjunto uma população total de 126131 habitantes,
segundo o Recenseamento Geral da População em 2001.

Na Tabela 5, encontra-se representada a evolução da população por concelho. É possível observar


um comportamento semelhante de todos os concelhos, até 1970. A partir desta data, Tomar
apresenta uma recuperação significativa pontual, decrescendo novamente até ao último
Recenseamento, enquanto todos os outros concelhos decrescem significativamente no horizonte
temporal analisado. Existe contudo um pormenor interessante: quase todos os concelhos viram a sua
população aumentar de 1940 para 1950, porventura devido à enorme quantidade de mão-de-obra
necessária para a construção da barragem

As perdas de população destacam-se sobretudo nos concelhos com menor número de habitantes,
incluindo diminuições para cerca de metade (62% em Vila de Rei), possivelmente devido à
incapacidade de polarização destes centros populacionais e à natureza dos investimentos infra-
estruturais que são feitos como medidas compensatórias e que se dirigem sobretudo a zonas mais
populosas. No conjunto dos concelhos envolventes a perda de população entre 1940 e 2001 foi de
22%.

32
60000

50000

Abrantes
40000
Tomar
Ferreira do Zêzere
30000
Sardoal

20000 Vila de Rei


Sertã
10000 Figueiró dos Vinhos

0
1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001

Figura 7 - Variação da População por Décadas

A estrutura etária é outro indicador que avalia o grau de envelhecimento da população, e por
conseguinte o nível de abandono dos habitantes mais jovens da região. Na figura 8, 9 e 10 é possível
ver os dados referentes a três décadas diferentes de forma a se obter uma melhor leitura da evolução
da estrutura etária no horizonte temporal analisado.

>75
>75 >75
70.74
70.74 70.74
65.69
65.69 65.69
60.64
60.64 60.64
55.59
55.59 55.59
50.54 50.54 50.54
45.49 45.49 45.49
40.44 40.44 40.44
35.39 35.39 35.39
30.34 30.34 30.34
25.29 25.29 25.29
20.24 20.24 20.24
14.19 14.19 14.19
7.13 7.13 7.13
0-6 0-6 0-6

-4000 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 -4000 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Figura 8 – Pirâmide Etária do concelho de Abrantes em 1940, 1970 e 2001

33
>75 >75 >75
70.74 70.74 70.74
65.69 65.69
65.69
60.64 60.64
60.64
55.59 55.59
55.59
50.54 50.54
45.49 50.54
45.49 45.49
40.44
40.44 40.44
35.39
35.39 35.39
30.34
30.34 30.34
25.29
25.29
20.24 25.29
20.24 14.19 20.24
14.19 7.13 14.19
7.13 0-6 7.13
0-6 0-6
-2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000
-3000 -2000 -1000 0 1000 2000 -1000 -500 0 500 1000 1500

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Figura 9 – Pirâmide Etária do concelho de Sertã em 1940, 1970 e 2001

No Censo de 1940, as estruturas etárias dos 7 concelhos (Anexo I) são bastante semelhantes, pelo
que se apresenta apenas a de Abrantes, com uma forma claramente triangular, fruto das elevadas
taxas de natalidade registadas, mostrando uma população maioritariamente jovem. Regista-se então
uma forte evolução até ao Censo de 1970 (novamente bastante semelhante entre todos os
concelhos), com ainda uma grande percentagem de população jovem, embora com um aumento da
população de escalões superiores, porventura devido ao aumento da esperança média de vida. É
também possível observar uma contracção na faixa 25-40 anos em 1970 no concelho de Sertã, muito
provavelmente associada a fenómenos de emigração para países da União Europeia.

>75
70.74 >75 >75
65.69 70.74 70.74
60.64 65.69 65.69
60.64 60.64
55.59
55.59 55.59
50.54
50.54 50.54
45.49
45.49 45.49
40.44
40.44 40.44
35.39 35.39
35.39
30.34 30.34
30.34
25.29 25.29 25.29
20.24 20.24 20.24
14.19 14.19 14.19
7.13 7.13 7.13
0-6 0-6 0-6

-4000 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Figura 10 – Pirâmides Etárias do Concelho de Tomar em 1940, 1970 e 2001

Deste modo, em 2001, em todos os concelhos, podem-se observar duas situações diferentes, embora
dentro da mesma tendência de envelhecimento da população:

- Abrantes e Tomar apresentam uma estrutura etária com ligeira retracção dos grupos de 20 a 40
anos, mas com os restantes grupos mais ou menos equilibrados

- Os restantes concelhos apresentam estruturas mais envelhecidas, com maior representação dos
grupos mais idosos do que dos jovens e forte retracção dos grupos em idade activa (20 a 60 anos).

34
No Censo anterior à construção a população era maioritariamente jovem. No entanto, com o passar
dos anos a população foi envelhecendo consideravelmente. A situação de envelhecimento é
especialmente grave nos concelhos de Vila do Rei, Ferreira do Zêzere, Sardoal e Figueiró dos Vinhos,
como mostram os respectivos índices de envelhecimento (Tabela 6). Tomar é o único concelho que
apresenta um índice de envelhecimento de aproximadamente 100%.

Tabela 6 – Evolução do Índice de Envelhecimento nos Concelhos

Concelhos 1940 1981 2001

Tomar 0,188 0,356 1,053

Abrantes 0,179 0,367 1,277

Ferreira do Zêzere 0,229 0,495 1,385

Sardoal 0,226 0,333 1,416

Vila do Rei 0,224 0,525 3,429

Sertã 0,183 0,397 1,283

Figueiró dos Vinhos 0,213 0,463 1,341

- Socioeconomia

Embora se tenha observado uma diminuição da população jovem e um aumento da população idosa,
isto é, um envelhecimento dos habitantes da região, a população activa registou um aumento,
reflectido no indicador taxa de actividade.

Assim, todos os concelhos viram o valor deste indicador aumentar ao longo das décadas, com
excepção para o concelho de Vila de Rei, que sofreu uma particular redução de 10 pontos percentuais
de 1981 para 2001, passando de 43% para 33%.

Na Figura 11 é possível observar a evolução da taxa de actividade ao longo das décadas analisadas.
A elevada variação do concelho de Vila de Rei pode ser explicada por fluxos migratórios deste
concelho para outros, dado que se trata do único município a verificar este fenómeno de retracção da
população activa.

35
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40 1950
0,30
1981
0,20
2001
0,10
0,00
Tomar Abrantes Ferreira Sardoal Vila do Sertã Figueiró
do Rei dos
Zêzere Vinhos

Figura 11 – Evolução da Taxa de Actividade

Outro indicador fundamental para a caracterização do ambiente socioeconómico é a taxa de


desemprego (Figura 12). Este regista um comportamento bastante heterogéneo ao longo das
décadas, especialmente no concelho de Abrantes, com um aumento de quase 4 pontos percentuais
de 1981 para 2001.

Parece existir um padrão nos concelhos com maior número de habitantes (Tomar, Abrantes e Sertã):
apresentam maiores taxas de desemprego. Por outro lado, os concelhos de menor população não
registaram grandes variações entre 1981 e 2001, com excepção do concelho de Vila de Rei, com uma
forte redução de 3%.

Os baixos valores da taxa de desemprego no ano de 1950 são também interessantes, pois grande
parte da população encontra-se empregada no sector primário (como se verá adiante), onde existe
um elevado e diversificado número de ocupações, considerados como empregos pelos estatísticos
daquele ano.

36
0,10
0,09
0,08
0,07
0,06
0,05 1950
0,04
0,03 1981
0,02 2001
0,01
0,00
Tomar Abrantes Ferreira Sardoal Vila do Sertã Figueiró
do Rei dos
Zêzere Vinhos

Figura 12 – Evolução da Taxa de Desemprego

No que respeita à estrutura por sectores de actividade económica, é possível observar um


comportamento transversal a todos os concelhos: o peso do sector primário na população com
profissão diminui drasticamente entre 1950 com valores entre os 64% e os 80% para no Censo de
2001 se registarem valores na ordem entre os 4% e os 17%, verificado no concelho da Sertã, e
discriminados na Tabela 7.

No Censo de 2001, os poucos habitantes que têm o seu emprego no sector primário ocupam-se
essencialmente de actividades agrícolas, sendo que a pesca apresenta um peso insignificante, não
havendo qualquer dependência económica em relação à Albufeira (INE). Por outro lado, é notável a
evolução do peso do sector terciário nas actividades económicas desenvolvidas nos concelhos. No
Censo de 1950, os dados indicam que cerca de apenas 10% da população estava empregada neste
sector, ao passo que nos dados mais recentes, esse peso é de pelo menos 50%, sendo de 60% nos
concelhos de maior população, e com as localidades de maior população: Tomar e Abrantes.

Tabela 7 – Evolução do Peso das Actividades Económicas

Sector Primário Sector Secundário Sector Terciário


Concelho 1950 1981 2001 1950 1981 2001 1950 1981 2001
Tomar 0,67 0,12 0,04 0,31 0,43 0,31 0,02 0,45 0,66
Abrantes 0,63 0,24 0,06 0,24 0,45 0,34 0,12 0,38 0,61
Ferreira do Zêzere 0,77 0,46 0,11 0,11 0,34 0,38 0,12 0,20 0,51
Sardoal 0,66 0,18 0,05 0,24 0,50 0,39 0,10 0,32 0,56
Vila do Rei 0,79 0,61 0,08 0,11 0,19 0,40 0,10 0,20 0,52
Sertã 0,64 0,32 0,17 0,22 0,26 0,32 0,14 0,42 0,50
Figueiró dos Vinhos 0,77 0,25 0,11 0,11 0,36 0,38 0,12 0,40 0,51

37
Assim, em termos evolutivos, registou-se uma alteração significativa da divisão sectorial por
actividades económicas de todos os concelhos, entre 1950 e 2001, com redução do sector primário a
favor dos outros dois sectores. A diminuição da importância do sector primário é comum a todos os
concelhos, com particular incidência no concelho de Vila de Rei, passando de 61% de actividades
económicas relacionadas com o sector primário em 1981, para apenas 8% em 2001.

No que toca ao nível de instrução dos habitantes da região em estudo, o comportamento dos
concelhos é bastante semelhante. O primeiro aspecto a observar é a subida significativa entre 1950 e
1981 da população possuindo instrução primária, secundária e superior (não foram contabilizados
habitantes a frequentar os diversos graus de ensino), sendo que nos concelhos de Tomar e Abrantes
o número de pessoas com instrução secundária sofreu um aumento de 6 e 4 vezes respectivamente,
devido à actualização da escolaridade obrigatória.

Também ao nível de ensino superior a situação é semelhante. Nos concelhos previamente referidos o
aumento de habitantes com este nível de ensino é de cerca de 8 e 6 vezes, enquanto nos concelhos
de população mais reduzida, estas alterações não são tão evidentes, porventura devido ao facto de
serem mais rurais e por isso receptivos a este nível de ensino.

Entre 1981 e 2001, não se registam grandes alterações ao nível da instrução primária (Figura 13),
observando-se apenas uma ligeira diminuição, devido ao envelhecimento da população referido
anteriormente. Relativamente ao número de pessoas possuindo instrução secundária, este sofreu
novamente uma subida, devido à reactualização da escolaridade obrigatória para o 9º ano, passando
para o dobro no concelho de Ferreira do Zêzere; nos restantes concelhos registou-se um aumento
semelhante de cerca de 30%.

38
0,16
0,14
0,12
0,10
0,08 Ensino Superior
0,06
Ensino Secundário
0,04
Ensino Primário
0,02
0,00
Tomar Abrantes Ferreira Sardoal Vila do Sertã Figueiró
do Rei dos
Zêzere Vinhos

0,40
0,35
0,30
0,25
0,20 Ensino Superior
0,15
Ensino Secundário
0,10
0,05 Ensino Primário
0,00
Tomar Abrantes Ferreira Sardoal Vila do Sertã Figueiró
do Rei dos
Zêzere Vinhos

0,40
0,35
0,30
0,25
0,20 Ensino Superior
0,15
0,10 Ensino Secundário
0,05 Ensino Primário
0,00
Tomar Abrantes Ferreira Sardoal Vila do Sertã Figueiró
do Rei dos
Zêzere Vinhos

Figura 13 – Evolução do Nível de Instrução por Décadas em 1950, 1981 e 2001

4.3.1 Considerações

A primeira consideração que convém salientar incide no comportamento demográfico da população,


na sua evolução temporal no horizonte estudado. Verifica-se de facto uma perda acentuada dos seus
habitantes, sendo esta mais expressiva nos concelhos de menor população (63% em Vila de Rei), ao
39
passo que nos concelhos de Abrantes e Tomar (mais populosos) não se registam grandes alterações
(uma perda de 3% e 7%). No total dos concelhos a perda de população é de 22%.

A nível etário é notório um claro envelhecimento da população, com grande parte da população mais
jovem a abandonar os concelhos, em busca de novas oportunidades em localidades mais populosas,
reflectindo-se numa taxa de actividade baixa.

Quanto ao nível de instrução, regista-se um aumento do número de pessoas com um curso superior
em todos os concelhos, sendo que 35% (valor aproximadamente igual a todos os municípios) da
população em 2001 tem apenas a instrução primária. A percentagem de pessoas possuindo instrução
secundária aumenta, entre 1950 e 2001, para cerca de 5% da população (na generalidade dos
concelhos).

A situação na área do mercado de trabalho sofre um agravamento ao longo dos anos, com a taxa de
desemprego a situar-se acima da média nacional de 4,1% em 2001. Observa-se também uma
alteração na situação dos sectores de actividade económica, com o sector primário a perder
preponderância em todos os concelhos, para os sectores secundário e terciário, sendo apenas de 6%
no Censo de 2001.

Esta breve caracterização socioeconómica permite concluir que a faixa envolvente da Albufeira
constitui uma área rural, pouco desenvolvida do ponto de vista económico-social e da qualidade de
vida. Como todas as áreas rurais do país, as suas características são consequência do êxodo rural
dos últimos 50 anos, não se verificando o efeito de quaisquer factores de desenvolvimento
endógenos, nem mesmo o potencial aproveitamento de condições físicas ou económicas geradas
pela proximidade da Albufeira.

Não são, por isso, observáveis quaisquer benefícios locais decorrentes, por exemplo, da maior
disponibilidade de água para irrigação, ou da maior electrificação proporcionada pela proximidade de
produção de energia eléctrica, que teria beneficiado o sector primário e secundário. Contudo, a
redução do peso do sector primário e o baixo aumento do secundário mostram que a barragem não
foi suficiente para minimizar essa redução.

40
4.4 Alto do Rabagão

A barragem do Alto do Rabagão é uma das maiores do país e surge no abrandamento do ritmo de
construção de empreendimentos hidroeléctricos da década de 50. A sua construção teve início em
1958 e viria a terminar em 1964.

Este aproveitamento, também conhecido por Barragem dos Pisões, localiza-se no distrito de Vila Real,
na região de Alto Trás-os-Montes e tem como concelhos limítrofes Montalegre e Boticas, situados a
norte e sul, respectivamente (Figura 14).

Trata-se do primeiro aproveitamento hidroeléctrico do país com o objectivo principal de regularização


interanual, que consiste no armazenamento de água nos anos húmidos e sua utilização na produção
de energia, em anos secos, uma vez que a sua principal função é a geração de electricidade.

A sua albufeira, situada no curso superior do rio Rabagão, forma um rectângulo de 4km de largura por
quase 20km de comprimento (seguindo o critério de selecção das barragens com as albufeiras de
maiores dimensões).

Figura 14 – Barragem do Alto do Rabagão (Fonte: INAG)

Tal como no caso de estudo anterior, os concelhos seleccionados foram os ribeirinhos à albufeira.
Assim, os municípios alvo de análise são (Figura 15) apenas dois:

- Boticas

- Montalegre

41
42
Figura 15 - Mapa dos Municípios Envolventes à Barragem (linha a branco representa a fronteira espanhola)
Os Censos para a caracterização da evolução socioeconómica da região, desde a sua construção até
aos dias de hoje, correspondem aos anos de 1950, 1960, 1981 e 2001, excluindo-se o de 1970 devido
à sua elevada escassez em termos dos indicadores a utilizar.

- Demografia

O primeiro tópico a abordar é a evolução da população nos anos de duração do projecto. Dado que a
sua construção se iniciou em 1958, a série temporal terá o seu começo no Censo de 1950. Assim,
tem-se evolução da sua população ao longo dos anos (Tabela 8):

Tabela 8 – Evolução da População Residente por Concelho

Concelhos 1950 1960 1970 1981 1991 2001 Variação 1950-


2001
(%)

Boticas 13247 14481 10925 8773 7935 6417 -52%

Montalegre 29724 32728 22925 19403 15464 12762 -57%

Total 42971 47209 33850 28176 23399 19179 -55%

A primeira observação que se obtém da Tabela 8 é o aumento de população nos dois concelhos,
entre o ano de 1950 e 1960, que coincide com os anos de construção da barragem. No entanto, este
aumento é apenas pontual e trata-se de um valor máximo, uma vez que nas décadas posteriores a
população tem vindo a decrescer gradualmente, sendo que a maior perda de população sucede entre
o ano de 1960 e o de 1970, até valores inferiores aos registados no Censo de 1950. No total dos
concelhos, a perda de população entre 1950 e 2001 é de cerca de 55% (Figura 16).

43
35000

30000

25000

20000
Boticas
15000
Montalegre
10000

5000

0
1950 1960 1970 1981 1991 2001

Figura 16 – Evolução da População por Concelho

A região onde o projecto se localiza é pouco populosa, pelo que esta subida do número de habitantes
pode estar directamente relacionada com a construção da barragem, vista como um horizonte de
oportunidades para esses habitantes.

Posteriormente, há que analisar a estrutura etária de cada concelho, para observar em que faixas
etárias é que se deu o aumento de população: se na população activa, ou na população jovem e
idosa. É também essencial a sua evolução ao longo das décadas, para avaliar o envelhecimento dos
habitantes da área em estudo (Figura 17 e 18).

>75
>75
70.74
70.74
65.69
65.69
60.64
60.64
55.59 55.59
50.54 50.54
45.49 45.49
40.44 40.44
35.39 35.39
30.34 30.34
25.29 25.29
20.24 20.24
15.19 15.19
10.14 10.14
5.9 5.9
0-4 0-4

-1000 -800 -600 -400 -200 0 200 400 600 800 1000 -600 -400 -200 0 200 400 600

Mulheres Homens Mulheres Homens

Figura 17 – Pirâmide Etária do Concelho de Boticas nos anos de 1950 e 1981

44
>75 >75
70.74 70.74
65.69 65.69
60.64 60.64
55.59 55.59
50.54 50.54
45.49 45.49
40.44 40.44
35.39 35.39
30.34 30.34
25.29 25.29
20.24 20.24
15.19 15.19
10.14
10.14
5.9
5.9
0-4
0-4

-2500 -2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000


-1000 -500 0 500 1000

Mulheres Homens Mulheres Homens

Figura 18 – Pirâmide Etária do Concelho de Montalegre no Censo de 1950 e 2001

A evolução das pirâmides etárias de ambos os concelhos é semelhante pelo que se apresentam de
Montalegre e Boticas em diferentes anos. Por outro lado, o Censo de 1960 mostra que praticamente
não se altera a estrutura etária desde 1950. As principais alterações registam-se entre 1960 e 1981 e
entre 1981 e 2001. Em 1950 e 1960 a população é claramente jovem, com a pirâmide etária a
apresentar uma forma triangular regular, com uma distribuição equitativa entre o género masculino e
feminino.

Contudo, em 1981 notam-se já sinais de envelhecimento, com uma contracção dos escalões mais
jovens e dos escalões de meia-idade, provavelmente devido a movimentos de migração deste grupo
etário. Posteriormente, no último Censo, é claramente visível a convergência para uma forma
triangular invertida, característica de uma população envelhecida, sem quaisquer capacidades de
renovação dos seus habitantes, provada pelos índices demográficos analisados de seguida.

É então possível analisar o índice de envelhecimento da população, de modo a ter-se uma noção do
peso dos habitantes idosos na componente total (Tabela 9):

Tabela 9 – Índices de Envelhecimento por Concelho

Concelhos 1950 1960 1981 2001

Boticas 0,139 0,150 0,431 1,369

Montalegre 0,151 0,140 0,375 1,388

Observando os valores da tabela 9, obtém-se a tendência de envelhecimento de ambos os concelhos


ao longo dos anos. A meio do século XX, os valores de cerca de 0,15 pontos, são ainda baixos,
denotando uma população maioritariamente jovem. No ano de 1960, o cenário mantém-se, com

45
valores bastantes semelhantes. No entanto, entrando no final do século XX, a situação evolui para
valores na casa dos 0,4 pontos percentuais, aumentando drasticamente para aproximadamente 1,37
nos dois concelhos em 2001, demonstrando um panorama de envelhecimento especialmente grave.

- Socioeconomia

A relação entre a população disponível para trabalhar e a população total, sofreu uma drástica
redução, passando de cerca 70% em 1950 nos dois concelhos, para cerca de 30% no Censo de 2001
(Figura 19). A principal descida ocorre entre 1960 e 1981, em simultâneo com o aumento do índice de
envelhecimento e da parcela de população acima dos 65 anos.

0,80

0,60
1950
0,40 1960

0,20 1981
2001
0,00
Montalegre Boticas

Figura 19 – Evolução da Taxa de Actividade por Concelho

Também é possível observar novamente outro fenómeno interessante com a taxa de desemprego. O
número de pessoas com uma ocupação e profissão em 1940 é bastante alto tendo em conta, o que se
explica pelas taxas de actividade elevadas que se observam, fenómeno reflectido também nos valores
residuais (cerca de 0,1% no concelho de Boticas) das taxas de desemprego em 1950 (Figura 20).

Esta situação pode ser explicada pelo elevado número de ocupações proporcionados pelo sector
primário que como se verá adiante, emprega a maior parte da população em 1950, tal como sucede
em Castelo de Bode.

46
0,12

0,10

0,08
1950
0,06 1960

0,04 1981
2001
0,02

0,00
Boticas Montalegre

Figura 20 – Evolução da Taxa de Desemprego por Concelho

Nas décadas seguintes, o valor da taxa de desemprego aumenta da mesma forma nos dois
concelhos, sobretudo no período posterior à construção da barragem (terminada em 1964), para cerca
de 6% em 1981 e de seguida, para valores na ordem dos 10% em 2001, com a perda de população
agrícola e acima da média nacional de 4,1% (INE).

Há que realçar um aspecto no que toca à distribuição da população por actividades económicas
(Tabela 10). A população empregada na construção civil e obras públicas em Boticas praticamente
não se altera no período de construção da barragem, contrariamente ao que sucede no concelho de
Montalegre, onde o número de pessoas a trabalhar nesta área passa de 369 em 1950 para 1528 em
1960, mostrando claramente a empregabilidade temporária da barragem apenas nesse concelho.

Tabela 10 – Divisão de Sectores em todos os concelhos nos anos em análise

Sector Primário Sector Secundário Sector Terciário

Concelho 1950 1981 2001 1950 1981 2001 1950 1981 2001

Montalegre 0,73 0,74 0,27 0,14 0,13 0,27 0,14 0,14 0,46

Boticas 0,89 0,78 0,30 0,03 0,11 0,32 0,08 0,11 0,38

A população empregada no sector primário sofre uma diminuição drástica no concelho de Boticas,
que em 1960 oferecia postos de trabalho a 90% da população activa, ao passo que em 1960 se
tratava de 78%, para em 2001 apresentar valor semelhante a Montalegre: cerca de 30%. Já no
concelho de Montalegre a redução é menor, mas ainda assim significativa, mantendo-se estável nos
75% até 1981.

47
De facto, o concelho de Montalegre mantém a mesma divisão de sectores até 1981, e em 2001
apresenta uma distribuição por sectores muito semelhante a Boticas. Nesse ano, é possível observar
alguma evolução, com o sector terciário a empregar cerca de 50% da população e o sector primário a
empregar apenas 30%, valor ainda assim elevado para os dias de hoje e sem a presença de qualquer
actividade relacionada com a pesca (INE).

0,45
0,40
0,35
0,30
0,25 Ensino Superior
0,20 Ensino Secundário
0,15
Ensino Primário
0,10
0,05
0,00
1950 1960 1981 2001

Figura 21 – Evolução do Nível de Instrução no Concelho de Montalegre

0,50
0,45
0,40
0,35
0,30
Ensino Superior
0,25
0,20 Ensino Secundário

0,15 Ensino Primário


0,10
0,05
0,00
1950 1960 1981 2001

Figura 22 – Evolução do Nível de Instrução no Concelho de Boticas

No que concerne ao nível de instrução dos habitantes da região em estudo (Figura 21 e 22), a
evolução é bastante semelhante. A situação em termos de ensino primário melhora
consideravelmente, passando de 5% para 30% da população, valor ainda assim bastante baixo, ao
passo que a nível do ensino secundário existe também uma subida, sobretudo de 1981 para 2001. No
ano de 1950 é quase residual o número de pessoas possuindo um curso superior, valor que aumenta
ao longo das décadas, com a expansão deste nível de ensino a regiões mais interiores.

48
Em ambos os concelhos é notório uma melhoria da escolaridade associada aos seus habitantes, em
todos os níveis de ensino, embora no que concerne ao ensino superior, a situação seja ainda grave,
com apenas cerca de 1% da população possuindo um curso superior.

4.4.1 Considerações

Tal como no caso de estudo da barragem de Castelo de Bode, o primeiro aspecto que convém
salientar é o comportamento demográfico da população, na sua evolução temporal no horizonte
estudado. Assim, observa-se um aumento da população durante o período de construção da
barragem em Montalegre, registando-se em seguida uma perda acentuada dos habitantes da região
em estudo, para cerca de menos de metade do máximo atingido no ano de 1960. No total dos
concelhos, a perda de população é de cerca de 55% entre 1950 e 2001.

Novamente, a nível etário é notório um claro envelhecimento da população, com grande parte da
população mais jovem a abandonar os concelhos devido à sua interioridade, em busca de novas
oportunidades em localidades mais populosas, reflectindo-se este facto numa taxa de actividade baixa
e em índices de envelhecimento elevadíssimos no último Censo.

Quanto ao nível de instrução, regista-se uma melhoria da escolaridade dos habitantes, sobretudo ao
nível da instrução primária, porventura devido ao aumento da escolaridade obrigatória. Dá-se também
um aumento do número de pessoas em posse de um curso superior em todos os concelhos, sendo
que o ensino secundário abrange cerca de 15% da população em 2001.

A situação na área do mercado de trabalho sofre um agravamento ao longo dos anos, com a taxa de
desemprego a tomar valores na ordem do dobro da média nacional de 4,1% em 2001, embora se
observe um ligeiro melhoramento na situação dos sectores de actividade económica, com o sector
primário a perder alguma importância, para os sectores secundário e terciário, sendo ainda assim de
30%. Realce-se que as pescas não empregam qualquer habitante em Boticas e apenas 7 em
Montalegre no ano 2001 (INE).

Deste modo, observa-se mais uma vez a incapacidade de polarização da Albufeira da barragem do
Alto do Rabagão, insuficiente para fixar os habitantes da região ou atrair novos habitantes. Os efeitos
benéficos da barragem não são então materializados pelos indicadores analisados no presente
capítulo, mostrando uma região deprimida no que concerne à socioeconomia e qualidade de vida.

49
4.5 Alto do Lindoso

A Barragem do Alto do Lindoso localiza-se na bacia hidrográfica do rio Lima e insere-se totalmente na
área do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a poucas centenas da fronteira com Espanha.

O seu projecto iniciou-se em 1983, tendo-se concluído em 1992, com o principal objectivo de
produção energia eléctrica, sendo actualmente o mais potente centro hidroeléctrico de Portugal,
funcionando também como reguladora do caudal do caudal do rio Lima em conjunto com a Barragem
do Touvedo (Figura 23). Assim, a sua albufeira apresenta uma área inundável em nível de pleno
armazenamento de 1072 ha.

Figura 23 – Vista Aérea da Barragem do Alto do Lindoso (IM, 2009)

Antes de iniciar a sua análise, é fundamental destacar que neste caso de estudo se está na presença
de duas realidades municipais diferentes (portuguesa e espanhola), uma vez que a divisão
administrativa espanhola se encontra estruturada de outra forma, estando o conceito de município
castelhano situado entre o concelho e a freguesia portugueses. Deste modo, os municípios a analisar
(tal como referido anteriormente, ribeirinhos à albufeira), serão (Figura 24)

- Arcos de Valdevez (Portugal)

- Ponte da Barca (Portugal)

- Entrimo e Lobios (Espanha)

50
51
Figura 24 – Mapa dos Municípios Envolventes (linha a branco representa fronteira espanhola)
Assim, uma vez que a construção da barragem terminou em 1992, utilizar-se-ão os Censos de 1981,
1991 e 2001, na parte portuguesa, e apenas os dois últimos na parte espanhola devido ao facto de
todos os Censos em Espanha, realizados anteriormente a 1991, terem sido efectuados segundo uma
amostra de 25%, levando à inexistência de resultados para municípios de população inferior a 10000
habitantes.

- Demografia

O primeiro tópico a abordar é o comportamento demográfico nos anos de duração do projecto. A sua
evolução no Censo anterior ao projecto (parte portuguesa) e nos anos de funcionamento pode ser
observada na tabela 11:

Tabela 11 - Evolução da População Residente por Município

Municípios 1981 1991 2001 Variação


1981-2001
(%)

Arcos de 31156 26976 24761 -21


Valdevez

Ponte da 13999 13142 12909 -8%


Barca

Entrimo Sem 1667 1424 -15%


Informação

Lobios Sem 3266 2623 -20%


Informação

Total 45155 45051 41717

A primeira observação que se obtém da tabela 11 e Figura 25 é a diminuição da população comum a


todos os municípios analisados, sobretudo em Arcos de Valdevez e Lobios com perdas de 21% e
20%.

52
Figura 25 – Variação da População por Décadas

Esta perda de habitantes é particularmente grave nos municípios de Arcos de Valdevez (de 1981 até
2001) e Lobios (de 1991 até 2001), com uma perda de mais de 20%. Nos restantes municípios a
descida não é tão acentuada, com o concelho de Ponte da Barca a perder apenas 7% e o município
de Entrimo a perder 15% (de 1991 para 2001).

De seguida, há que analisar a estrutura etária de cada concelho, para ter uma noção da evolução dos
diferentes escalões etários e a forma das suas pirâmides, que atestam a situação demográfica de
uma população (Figura 26 e 27).

>75 >75 >75


70.74 70.74 70.74
65.69 65.69 65.69
60.64 60.64 60.64
55.59 55.59 55.59
50.54 50.54 50.54
45.49 45.49 45.49
40.44 40.44 40.44
35.39 35.39 35.39
30.34 30.34 30.34
25.29 25.29 25.29
20.24 20.24 20.24
15.19 15.19 15.19
10.14 10.14 10.14
5.9 5.9 5.9
0-4 0-4 0-4

-2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000 2500

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Figura 26 – Pirâmide Etária do Concelho de Arcos de Valdevez em 1981, 1991 e 2001

53
Como primeira observação, há que referir as semelhanças demográficas que todos os municípios
partilham (observáveis nas suas pirâmides etárias no Anexo I), talvez devido à sua proximidade
geográfica, verificando-se apenas pequenas diferenças pontuais num ou noutro escalão etário,
embora sempre com um panorama geral bastante semelhante. Assim, no Censo de 1981 verifica-se
uma população ainda jovem (tal como em Montalegre e Boticas, com contracção dos escalões de
meia idade), mas já com sinais de envelhecimento nos escalões superiores, não se alterando até ao
ano de 1991.

>75 >75
70.74 70.74
65.69 65.69
60.64 60.64
55.59 55.59
50.54 50.54
45.49 45.49
40.44 40.44
35.39 35.39
30.34 30.34
25.29 25.29
20.24 20.24
15.19 15.19
10.14 10.14
5.9 5.9
0-4 0-4

-200 -100 0 100 200 300 -200 -100 0 100 200 300

Mulheres Homens Mulheres Homens

Figura 27 – Pirâmide Etária do Município de Lobios nos anos de 1991 e 2001

No entanto, a principal diferença regista-se no grande contraste entre o número de homens e de


mulheres ao longo de todos os escalões das pirâmides, com o sexo feminino a sobrepor-se ao
masculino. A evolução manifesta-se sobretudo até ao ano de 2001, onde os municípios começam a
convergir para uma pirâmide triangular invertida, característica de populações envelhecidas e de forte
imigração. Estas pirâmides etárias fornecem também informação em termos do envelhecimento da
população, medido pelo índice de envelhecimento, cujos valores se encontram na Tabela 12:

Tabela 12 – Índice de Envelhecimento por Município

Municípios 1981 1991 2001

Arcos de Valdevez 0,436 0,795 1,374

Ponte da Barca 0,368 0,530 0,881

Entrimo - 1,614 3,736

Lobios - 1,283 2,657

54
Na Tabela 12 observa-se o envelhecimento gradual em todos os municípios. Os concelhos de Arcos
de Valdevez e Ponte da Barca, inicialmente com índices de envelhecimento bastante baixos, vêem a
sua situação piorar até 2001. Os municípios espanhóis apresentam uma situação bastante grave com
valores de mais de 300%. Apenas o concelho de Ponte da Barca apresenta um panorama menos
alarmante, com um valor inferior a 100%. Assim, a situação espanhola neste aspecto é mais grave
que a portuguesa.

- Socioeconomia

No que concerne à taxa de actividade, é observável uma diminuição comum a todos os municípios,
isto é, a população disponível para trabalhar viu o seu valor descer ao longo dos anos. Apenas o
concelho de Ponte da Barca manteve a mesma taxa de actividade de 1991 para 2001. A situação em
2001 em relação a todos os municípios é bastante semelhante, na ordem dos 35%, em consequência
do envelhecimento da população (Figura 28).

0,50

0,40

0,30 Arcos de Valdevez


Ponte da Barca
0,20
Entrimo
0,10 Lobios

0,00
1981 1991 2001

Figura 28 – Taxas de Actividade por Município

Contudo, o panorama torna-se mais grave avaliando a evolução da taxa de desemprego dos
municípios. No contexto nacional, Arco de Valdevez apresenta valores sempre inferiores às médias
nacionais, ao passo que Ponte da Barca vê a sua taxa de desemprego aumentar consecutivamente
até mais de 10% em 2001. No contexto castelhano, a situação é pior, com Entrimo a registar mais de
10%, embora diminuindo para 2001 e Lobios com um elevado valor de 20% (Figura 29).

55
0,25

0,20

0,15 Arcos de Valdevez


Ponte da Barca
0,10
Entrimo
Lobios
0,05

0,00
1981 1991 2001

Figura 29 – Taxas de Desemprego por Município

É então importante complementar a taxa de desemprego com a distribuição da população empregada


pelos diferentes sectores económicos (Tabela 13). Para tal, optou-se por seleccionar o concelho de
Ponte da Barca pelo facto de apresentar um comportamento semelhante aos restantes municípios.

Tabela 13 – Divisão sectorial por concelho e anos de análise

Sector Primário Sector Secundário Sector Terciário


Concelho 1981 1991 2001 1981 1991 2001 1981 1991 2001
Arcos de 0,70 0,51 0,17 0,15 0,19 0,34 0,15 0,30 0,46
Valdevez
Ponte da Barca 0,65 0,44 0,14 0,18 0,23 0,37 0,17 0,33 0,48
Entrimo 0,44 0,21 0,30 0,31 0,26 0,48
Lobios 0,54 0,15 0,21 0,29 0,24 0,56

A primeira observação a fazer dos gráficos é a drástica redução da população empregada no sector
primário, em favor dos outros dois sectores. Esta diminuição é comum a todos os concelhos,
passando de aproximadamente 70% em 1981 para 44% em 1991 e para apenas 15% em 2001.

Simultaneamente, o sector terciário vai ganhando preponderância ao sector primário e secundário, até
fazer parte de quase 50% da população em 2001. Destaque-se ainda que a o número de pessoas
empregadas na construção e obras públicas entre 1981 e 1991 praticamente não se altera.

56
0,60

0,50

0,40

0,30 Ensino Superior


Ensino Secundário
0,20
Ensino Primário
0,10

0,00
Arcos de Ponte da Entrimo Lobios
Valdevez Barca

1
Figura 30 - Nível de Instrução por Município (1991)

0,80
0,70
0,60
0,50
0,40 Ensino Superior
0,30 Ensino Secundário
0,20 Ensino Primário
0,10
0,00
Arcos de Ponte da Entrimo Lobios
Valdevez Barca

Figura 31 – Nível de Instrução por Município (2001)

Em termos do nível de instrução da população em estudo, regista-se uma estagnação entre o ano de
1981 e 1991, não havendo qualquer melhoria na escolaridade dos habitantes dos municípios
portugueses. A tendência mantém-se até 2001, com o número de pessoas com instrução primária
permanecendo praticamente constante em Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, É também notória
uma diferença entre a realidade portuguesa e espanhola, com Espanha a apresentar uma evolução
da escolaridade secundária francamente melhor que a realidade nacional. Por outro lado, observa-se
que o número de pessoas possuindo instrução primária em Espanha, baixa entre 1991 e 2001, facto
relacionado com o envelhecimento da população.

1
A realidade do ensino é semelhante em Portugal e Espanha, apenas com a diferença de que o ensino primário dura 5 anos na
realidade castelhana e 4 na portuguesa. Em termos de ensino secundário e superior a situação é igual.

57
4.5.1 Considerações

A primeira observação relativa a este caso de estudo é que este corresponde a um menor período
temporal analisado em relação aos outros dois casos. Tratando-se de uma barragem com cerca de 17
anos de funcionamento, os intervalos analisados são menores, sendo já observável uma clara
diminuição do número de habitantes na parte espanhola (20% em apenas 10 anos no município de
Lobios), maior do que na parte portuguesa.

Também em termos demográficos se regista uma grave situação de envelhecimento, com valores
superiores do índice de envelhecimento nos municípios espanhóis em 2001 de cerca de 300%,
embora não tão alarmante no contexto português (cerca de 60%). Este envelhecimento leva a que se
observe uma baixa taxa de actividade em todos os municípios.

Quanto ao nível de instrução, regista-se uma clara estagnação da escolaridade dos habitantes nos
concelhos portugueses; há apenas um ligeiro aumento do número de pessoas possuindo instrução
secundária e superior de 1991 para 2001, constituindo apenas 2% e 4% da população
respectivamente. Em Espanha a situação é diferente, com uma diminuição da percentagem de
população possuindo instrução primária em prol de instrução secundária. Nota-se também uma clara
diferença a nível do ensino secundário entre a realidade espanhola e portuguesa, seguramente devido
às diferentes políticas sociais e de educação praticadas em ambos os países.

Na área do mercado de trabalho, a taxa de desemprego aumenta gradualmente ao longo dos anos,
atingindo valores elevados (superiores a 10%) nos municípios espanhóis e Ponte da Barca, ao passo
que o panorama para Arcos de Valdevez não é tão grave, com o valor (4,7%) a situar-se perto da
média nacional de 4,1% em 2001. Já a distribuição da população empregada por sectores
económicos demonstra uma redução do sector primário em prol do sector secundário, sobretudo em
prol do terciário, passando em 2001, o sector primário a representar apenas 15% dos três sectores.

A situação é então semelhante aos outros casos de estudo, não se verificando qualquer melhoria nos
indicadores socioeconómicos que seriam eventualmente de esperar, devido à implementação da
barragem na região analisada.

58
5. Discussão de Resultados

Uma vez analisados os casos de estudo e realizada a análise follow-up, há que discutir os seus
resultados e enquadrá-los com os novos projectos que surgem no horizonte português, e com as
previsões realizadas nos seus planos ambientais. Pretende-se por isso avaliar a fiabilidade das
previsões efectuadas nos EIA mais recentes, uma vez que não correspondem à realidade observada
nos casos de estudo. Assim, neste capítulo, aborda-se principalmente o Plano Nacional de Barragens
com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH), bem como os EIA realizados para as barragens
construídas recentemente.

A selecção destes EIA a estudar assentou em critérios que se prendem sobretudo com a
profundidade de análise conferida ao factor socioeconomia, proporcionando informação mais
completa e potencialmente mais relevante para esta investigação. Adicionalmente, optou-se por
abordar um EIA de uma barragem seleccionada no PNBEPH – EIA de Foz Tua.

Refira-se, por outro lado, que embora a Barragem do Alto do Lindoso tenha sido utilizada como caso
de estudo, não se abordou o seu EIA, uma vez, que à altura da sua elaboração ainda não se
encontrava em vigor a legislação aplicável em matéria de AIA, pelo que o estudo se encontra bastante
superficial no que se refere à socioeconomia.

5.1 Casos Estudados de Barragens

Os casos estudados foram analisados ao nível socioeconómico recorrendo a uma série de


indicadores relativos a esta área. Foi registada a situação inicial, antes da implementação do projecto,
e a sua evolução até 2001.

No que respeita à demografia, observa-se um padrão transversal a todos os concelhos analisados: o


esvaziamento populacional na sequência da construção da barragem. Esta perda de população não é
homogénea, uma vez que os municípios com menor número de habitantes são os que registam um
maior esvaziamento, devido à sua incapacidade de polarização em relação aos maiores centros
populacionais. A diversificação das actividades económicas, com a diminuição do sector primário em
prol do sector terciário, mobiliza as pessoas até às sedes de Município, onde os serviços públicos ou
outros estão instalados.

Esta situação é particularmente evidente no caso de Castelo de Bode, com os concelhos de Tomar e
Abrantes (claramente os mais populosos na área de influência da barragem) a registarem perdas de
apenas 3% e 7%, respectivamente. Estes valores contrastam, por exemplo, com o concelho de Vila
do Rei, marcadamente rural, com uma expressiva perda de 62% entre 1940 e 2001. A mesma

59
situação é visível no caso do Alto do Lindoso, nos municípios espanhóis de Entrimo e Lobios, de
pequenas dimensões, com diminuições de 15% e 20% em apenas 10 anos (de 1991 a 2001).

Este despovoamento está também patente no caso do Alto do Rabagão, uma vez que esta região,
caracterizada pelo seu isolamento devido às fracas acessibilidades de que é servida, perdendo cerca
de metade dos seus habitantes entre 1950 e 2001. A fraca atractividade populacional oferecida leva
ao êxodo das camadas mais jovens, ou seja, da população potencialmente activa (Tabela 14).

Tabela 14 – Variação da População nos Diferentes Períodos de Construção dos Casos de Estudo

Caso de Estudo Município Perda de População desde


Construção de Cada
Projecto (%)

Castelo de Bode Abrantes -7%

Ferreira do Zêzere -45%

Figueiró dos Vinhos -39%

Sardoal -43%

Sertã -38%

Tomar -3%

Vila de Rei -62%

Alto do Rabagão Boticas -52%

Montalegre -57%

Alto do Lindoso Arcos de Valdevez -21%

Entrimo -15%

Lobios -20%

Ponte da Barca -8%

Nota: Nos municípios espanhóis a variação foi calculada a partir de 1991 e não de 1981, devido à inexistência de dados.

A degradação da estrutura etária é comum a todos os concelhos e transmite-se nos elevados índices
de envelhecimento registados. Com a perda da população mais jovem, é perdida a capacidade de
renovação das suas faixas etárias mais jovens e, consequentemente, a vitalidade demográfica dos
municípios vai-se gradualmente desvanecendo. Repare-se, a título de exemplo, que no concelho de
Vila do Rei, em 2001, existem 343 idosos para cada 100 jovens.

60
A manutenção da vitalidade demográfica poderia passar pela criação de novos empregos em novos
sectores aliciantes para os seus habitantes, algo que não foi criado e é comum às três barragens
analisadas. Embora as taxas de actividade tenham diminuído para o intervalo entre 30% e 40%, em
todos os municípios, no caso das barragens do Alto do Rabagão e Alto do Lindoso, essa diminuição
foi acompanhada por um aumento da taxa de desemprego até valores superiores a 10% (com
excepção de Ponte da Barca). Na barragem de Castelo de Bode, os valores não são tão elevados,
situando-se entre os 4% e 8% (Tabela 15).

O desemprego nas áreas de influência destas duas barragens é um indicador da fragilidade do seu
tecido produtivo e empresarial e mais um factor de repulsão dos activos para fora dela. Esta repulsão
manifesta-se na contracção dos escalões etários entre os 20 e 30 anos, visível nas pirâmides etárias
dos concelhos de Castelo de Bode, no ano de 1970, associado à possível emigração para os países
da União Europeia.

Nos anos iniciais do projecto de Castelo de Bode e Alto do Rabagão, a ocupação dos seus habitantes
assentava essencialmente no sector primário, fazendo parte de cerca de 60% a 80% das actividades
económicas. Este sector providenciava assim numerosos postos de trabalho a toda a população, uma
vez que não exigia mão-de-obra especializada a uma população com pouca escolaridade e baixo
nível de literacia.

Deste modo, a deslocação das actividades económicas ao longo do período em análise, do sector
primário para o sector terciário, acarretou consigo uma perda substancial de postos de trabalho, uma
vez que os novos postos associados ao sector de serviços públicos exigiam já de si alguma
qualificação que muitos dos habitantes não conseguiram acompanhar. A barragem não criou
compensação, isto é, condições de atractividade que minimizasse esta tendência, tendo
eventualmente contribuído para o seu agravamento.

Observe-se, por exemplo, o caso da barragem de Castelo de Bode. Sendo um dos principais
benefícios de uma barragem a possibilidade de irrigação a terrenos previamente inacessíveis e o
aumento da electrificação da região beneficiando, portanto, o sector agrícola, tal não é visível. De
facto a evolução do peso do sector primário diminuiu progressivamente desde 1950, até contribuir, em
6 dos 7 concelhos, para menos de 12% de todas as actividades económicas, em 2001.

É de salientar que, nos projectos mais antigos, a população encontrava-se empregada em elevada
maioria no sector primário, onde qualquer ocupação era considerada um emprego, daí as elevadas
variações da taxa de desemprego observadas nos casos de estudo mais antigos. Comparando os
dados à época com os dados mais recentes, a situação é de um aumento neste indicador, embora

61
esta variação deva ser vista à luz das alterações sociais que se verificam desde os anos 50 e 60, em
particular no sector agrícola.

Tabela 15 – Variação da Taxa de Desemprego desde a Construção dos Casos de Estudo.

Caso de Estudo Município Variação da Taxa de


Desemprego desde
Construção do Projecto (%)

Castelo de Bode Abrantes + 725%

Ferreira do Zêzere + 364%

Figueiró dos Vinhos + 373%

Sardoal + 424%

Sertã + 577%

Tomar + 654%

Vila de Rei + 348%

Alto do Rabagão Boticas + 322%

Montalegre + 277%

Alto do Lindoso Arcos de Valdevez + 55%

Entrimo - 10%

Lobios + 19%

Ponte da Barca + 129%

Adicionalmente, refira-se que a educação sofreu ligeiras melhorias em todos os concelhos, não
estando estas, no entanto, associadas à implementação da barragem, mas sim ao aumento da
escolaridade obrigatória, fruto da evolução das políticas de educação ao longo dos anos.

Deste modo, os benefícios socioeconómicos que seriam eventualmente expectáveis devido à


construção de um projecto desta abrangência não se traduzem nos indicadores socioeconómicos
analisados. Possíveis melhorias na qualidade de vida dos habitantes na área de influência poderão
estar camufladas pela evolução comum às regiões do interior do país, na segunda metade do século
XX.

62
5.2 PNEBPH

O Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico surge em 2007, no contexto
da intenção do Governo de minimizar a dependência energética em relação a outros países. Dado
que Portugal é um dos países da União Europeia com maior potencial hídrico por explorar, o Governo
propôs-se a aumentar em cerca de 40% a potência hidroeléctrica instalada para 7000 MW em 2020.

Este aumento envolve, assim, a construção de um número de empreendimentos hidroeléctricos de


diferentes características (Barragens) por todo o país, localizados essencialmente na região Centro e
Norte (Figura 32).

O PNBEPH aborda vários empreendimentos possíveis para atingir as metas de potência instalada.
Estes projectos são avaliados segundo opções estratégicas dos quais se destaca a componente
“Desenvolvimento Humano e Competitividade”. Neste capítulo do PNBEPH, é sistematizada uma
análise da situação actual das várias possíveis localizações dos empreendimentos, bem como uma
previsão dos seus impactes socioeconómicos.

Assim, é referido o status quo de todos os municípios, destacando-se uma situação generalizada de
estagnação a todos os níveis, caracterizada por duplo envelhecimento e perda acentuada da
população residente, bem como uma base económica muito dependente do sector primário e sem a
criação de novas oportunidades de emprego. A adicionar a estas fragilidades acrescenta-se o tecido
empresarial pouco diversificado e frágil.

Efectivamente esta é a situação que se verifica na grande parte dos municípios dos casos de estudo
de Castelo de Bode, Alto do Rabagão e Alto do Lindoso, sobretudo em termos demográficos e de
emprego.

Tendo em conta as fragilidades e condicionantes nas áreas de implementação dos novos


empreendimentos, é enunciado no PNBEPH talvez aquele que é o parágrafo mais relevante de todos
os seus documentos, para esta dissertação:

“O aparecimento do PNBEPH, explorando recursos locais/regionais em proveito da Economia


Nacional e criando oportunidades de negócio, de lançamento de novas actividades e de emprego,
reúne as expectativas suficientes para diversificar a economia e criar melhores condições de atracção
de populações e de investimento”. (Pág. 116, Anexo IV, 2007)

63
Figura 32 – Localização dos Aproveitamentos, por Rios e Concelhos (PNBEPH, 2007)

64
De facto, não estão em questão os benefícios que podem advir da implementação dos
aproveitamentos hidroeléctricos, tendo em vista uma maior utilização de recursos renováveis, a
redução das emissões de gases de estufa, menor dependência de recursos energéticos estrangeiros,
entre outros.

São feitas promessas e declarações, sem quaisquer fundamentos sólidos (será demonstrado
posteriormente com o EIA do aproveitamento hidroeléctrico de Foz Tua). Os resultados deste trabalho
mostram precisamente o contrário.

Por outro lado, a criação de oportunidades de emprego revela-se também de uma eventual falsa
expectativa, também analisada na realidade dos casos de estudo, com resultados não tão uniformes,
mas ainda assim convincentes.

5.2.1 Estudo de Impacte Ambiental do Aproveitamento Hidroeléctrico de Foz Tua

Como primeiro ponto deste EIA, destaque-se a ausência de qualquer referência à socioeconomia, na
descrição dos objectivos e necessidade do projecto. No entanto, analisando o capítulo correspondente
à previsão de impactes, encontram-se frases peremptórias como (Pág. 74, Anexo IV, 2008):

“É expectável uma revitalização significativa da actividade económica, particularmente na área de


influência directa do empreendimento. Adicionalmente, o estímulo do empreendimento deverá
estender-se a todos os concelhos, onde terão de ser efectuadas as empreitadas de reposição de
infra-estruturas.”

É de salientar o facto de que esta previsão é realizada sem qualquer fundamento ou quaisquer dados
que o sustentem. Posteriormente tem-se também (Pág. 90, Anexo IV, 2008):

“O emprego é, todavia, o sub-descritor mais beneficiado com a construção do empreendimento. O


impacte ao nível da criação de emprego, apesar de temporário, será muito significativo e irá
repercutir-se na economia regional”.

Novamente, não existe qualquer informação que suporte esta afirmação. Põe-se então a questão de
como a situação de emprego temporário durante a construção do projecto poderá ser muito
significativa, quando a grande maioria dos concelhos analisados nos casos de estudo mostra um
aumento da taxa de desemprego e uma clara terciarização da economia (por vezes providenciando
emprego a mais de 50% da população empregada) ao longo dos anos de funcionamento.

65
De facto, esta terciarização das actividades não se pode considerar como benéfica, uma vez que se
trata apenas de crescimento de serviços públicos, ou serviços a particulares nas sedes de concelho,
não melhorando as condições dos centros menos populosos e o desenvolvimento regional.

Assim, estes impactos socioeconómicos positivos referidos no EIA do Aproveitamento Hidroeléctrico


do Foz Tua são apenas um exemplo das expectativas criadas no capítulo do Desenvolvimento
Humano e Competividade, desenvolvido na Memória do PNBEPH, bem como as condições de
atracção da população.

5.3 Outros EIA de Barragens

5.3.1 Aproveitamento Hidroeléctrico de Palhais

Este aproveitamento hidroeléctrico localizar-se-á na bacia hidrográfica do rio Tejo, bastante próximo
da barragem de Castelo de Bode, e por isso de interesse para relacionar os impactos esperados no
EIA com os obtidos para o caso de estudo analisado neste trabalho. Assim, logo no capítulo
“Objectivos e Justificação do Projecto” do EIA encontra-se um parágrafo bastante explícito (Pág. 6,
Documento para Avaliação de Impacto Ambiental, 2008):

“O principal interesse do AHE de Palhais reside na possibilidade de aumentar a produção nacional de


energia eléctrica (…) gerando simultaneamente impactos socioeconómicos locais positivos.”

Estes impactos socioeconómicos são abordados posteriormente, sendo enunciados como:

- Compra dos terrenos necessários à sua implementação (beneficiando os seus proprietários)

- Utilização de um considerável volume de mão-de-obra e um intenso recurso ao comércio local,


durante a construção, traduzindo-se em impactes importantes na economia e no emprego da
população da área em estudo.

- Melhoria e abertura de novos acessos, permitindo o acesso rodoviário a áreas actualmente pouco
acessíveis

É então referido que tais impactes permitem concluir que a construção e exploração deste
aproveitamento hidroeléctrico gerará impactes positivos na socioeconomia local. Observa-se então
que tal conclusão será desajustada face ao observado nesta dissertação, uma vez que a fase de
construção é temporária e por isso os seus intervenientes ficarão sem emprego novamente, e a
compra de terrenos apenas beneficiará duas dezenas de proprietários.

66
5.3.2 Aproveitamento Hidroeléctrico do Alqueva

O Estudo de Impacte Ambiental da Barragem do Alqueva foi realizado no final de 1994 e início de
1995 e engloba já a Avaliação de Impactes Sociais. De facto, a socioeconomia é referida logo nos
objectivos principais do projecto, onde se destaca o combate contra a desertificação no Sul do País e
a criação de um número significativo de postos de trabalho (22000), combatendo o processo de
desertificação humana e a potenciação de um clima de expectativas empresariais no Alentejo.

A primeira questão que se põe é a sazonalidade da maior parte dos empregos criados, associados ao
período de construção, por se tratar de uma obra de enorme dimensão, sendo que os empregos
permanentes durante a fase de funcionamento constituem apenas uma pequena percentagem
daquele número. Estes empregos permanentes exigem um certo grau de qualificação, que não se
encontra facilmente naquela região. Refira-se ainda o facto de nos 22000 empregos estarem também
incluídos os esperados postos de trabalho criados indirectamente, dos quais se destaca o turismo e a
agricultura.

Por outro lado, a redução da desertificação é justificada pela manutenção do ritmo de crescimento
natural e a estagnação do ritmo de crescimento migratório, ao mesmo tempo que se observa uma
diminuição ligeira do número de jovens e o aumento da população potencialmente activa, que advirão
da criação dos empregos mencionados e da dinâmica empresarial esperada na região.

Põe--se em causa esta afirmação, pela observação das pirâmides etárias dos concelhos analisados
nos casos de estudo, sendo observado um padrão presente em praticamente todos aqueles
elementos, com uma forma triangular invertida, mostrando claramente um declínio generalizado do
ritmo de crescimento natural e uma redução progressiva do número de habitantes (apenas nos
concelhos mais populosos - Abrantes e Tomar – se verificam pirâmides etárias mais regulares
relativamente estacionárias, com todos os escalões etários a apresentarem percentagens
semelhantes). Tudo isto tendo em conta a região onde se insere o projecto, uma das mais
gravemente envelhecidas e com maior repulsão do país.

Deste modo, este EIA apresenta uma Avaliação de Impactes Sociais que se consideram exagerados,
tendo em conta a dificuldade que se apresenta em contrariar as dinâmicas demográficas e
económicas características daquela zona, aliada aos resultados observados nos casos de estudo.

5.4 Considerações

Este capítulo permitiu demonstrar que os estudos de impacto ambiental de barragens, como a
Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) do PNBEPH, criam falsas expectativas, uma vez que se
observa exactamente o oposto nos casos de estudo analisados. Para além disso foram também

67
debatidos outros EIA que também prevêem o desenvolvimento socioeconómico local devido à
implantação da barragem, previsões essas que se consideram hiperbolizadas tendo em vista os
pressupostos em que assentam.

68
6. Conclusões e Desenvolvimentos Futuros
6.1 Conclusões

Ao longo desta dissertação foi abordada a temática da evolução da socioeconomia regional


relacionada com os impactes resultantes da implementação de uma barragem. Para tal avaliou-se o
“estado de arte” que mostra uma temática ainda pouco desenvolvida na literatura. Posteriormente
foram analisados 3 casos de estudo envolvendo barragens (com localizações diversas), do ponto de
vista das condições socioeconómicas dos habitantes dos municípios situados na sua área de
intervenção (definida como os concelhos nas margens da sua albufeira), com resultados bastante
interessantes.

Como primeiro aspecto é importante notar a uniformidade dos resultados obtidos nos casos de
estudo. Na verdade, o fenómeno de repulsão da população residente é um padrão transversal a
praticamente todos os municípios analisados. Já a situação de emprego não é tão uniforme, mas
ainda assim registam-se aumentos da taxa de desemprego desde a construção de cada barragem,
até ao Censo de 2001. É um facto que os empregos criados durante a construção foram apenas
temporários, e os surgidos a posteriori focam-se essencialmente no sector terciário, relacionado com
a função pública e outros serviços. Os novos postos de trabalho neste sector não tiveram um impacto
positivo no desenvolvimento da região, uma vez que a população local não acompanhou a exigência
de qualificação que estes postos pressupunham.

Note-se que na Barragem do Alto do Lindoso não se verificaram diferenças entre a realidade
espanhola e portuguesa, facto esse que se poderia revelar interessante, devido às diferentes políticas
económicas exercidas nos dois países. Diferenças observadas em municípios adjacentes poderiam
mostrar a influência de algumas variáveis inerentes a cada país, como por exemplo os preços de
expropriação realizados em cada lado da fronteira. No entanto, tais diferenças não foram verificadas.
Quanto ao nível de instrução dos habitantes dos municípios dos três casos de estudo, as melhorias
registadas, sobretudo a nível do ensino primário, serão possivelmente devidas mais ao aumento da
escolaridade obrigatória, fruto da evolução das politicas de ensino praticadas, do que à presença da
barragem, atendendo aos outros indicadores demográficos.

A evolução demográfica dos concelhos estudados mostra claramente um fenómeno de


envelhecimento difícil de travar, com os municípios a caminharem para o seu esvaziamento, com a
não renovação dos seus habitantes e a diminuição da sua população activa. Esta situação é
constante em todos os casos estudados e caracteriza as zonas mais interiores do país, como é
conhecido, pelo que, como foi citado, a construção de um aproveitamento hidroeléctrico só pode ser
um motor acelerado para o problema de desertificação e não para a sua resolução, como é
invariavelmente argumentado.
69
De facto, a visão de uma barragem como portadora de profícuos benefícios socioeconómicos é
comum a grande parte dos EIA analisados, sendo frequentemente realizadas afirmações sem
fundamentos sólidos que as sustentem. Os resultados obtidos nesta dissertação, nos casos de
estudo, põem exactamente em causa estas afirmações. Todos estes benefícios são exagerados, com
promessas de dinamização da economia e de um grande número de postos de trabalho que mais
tarde não se materializam.

Deste modo, face aos resultados obtidos pode-se dizer que as barragens estudadas não contribuíram
para o desenvolvimento socioeconómico dos municípios localizados na sua área de intervenção.

No entanto, perante estes resultados realce-se que cada barragem é um caso, devido a todas as
circunstâncias em seu redor, desde o ambiente socioeconómico onde se integra até às políticas de
expropriação praticadas, podendo a interacção de todas as variáveis ter um peso importante na
evolução da qualidade de vida dos municípios situados na sua área de intervenção. Assim, só se
poderia retirar uma conclusão mais generalizada com uma avaliação mais sistemática das restantes
grandes barragens desenvolvidas no país.

6.2 Desenvolvimentos Futuros

Uma vez que a temática discutida nesta dissertação se encontra ainda pouco aprofundada na
literatura, este trabalho pode servir como antecâmara para investigações mais cuidadas no que
respeita ao desenvolvimento socioeconómico nas sub-regiões da área de influência de grandes
barragens. Possivelmente, será necessária a realização de inquéritos e a obtenção de informações
junto das câmaras municipais, com um maior número de casos de estudo.

Refira-se ainda que, por as Barragens de Castelo de Bode e Alto do Rapagão datarem de já algumas
décadas, não foi possível obter dados estatísticos de outras áreas nos Censos mais antigos, como a
saúde e o rendimento per capita do município, informação essa que seria relevante para a
caracterização da qualidade de vida dos seus habitantes. Este aspecto deverá ser tido em conta em
investigações futuras.

70
7. Referências Bibliográficas

- Adams W. (2000), Social Impacts of Large Dams Equity and Distributional Issues, WCD, Cape Town

- Agrin (2000), WCD Case Studies – Aslantas Dam and related aspects of Ceyhan River Basin in
Turkey, WCD, Cape Town

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72
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73
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74
Anexo I

- Caso de Estudo de Castelo de Bode

>75
>75 >75
70.74
70.74 70.74
65.69
65.69 65.69
60.64
60.64 60.64
55.59
55.59 55.59
50.54 50.54 50.54
45.49 45.49 45.49
40.44 40.44 40.44
35.39 35.39 35.39
30.34 30.34 30.34
25.29 25.29 25.29
20.24 20.24 20.24
14.19 14.19 14.19
7.13 7.13 7.13
0-6 0-6 0-6

-4000 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 -4000 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 1, 2 e 3 – Pirâmides etárias referentes ao Concelho de Abrantes, nos anos de 1940, 1970 e 2001,
respectivamente.

>75 >75 >75


70.74 70.74 70.74
65.69 65.69 65.69
60.64 60.64 60.64
55.59 55.59 55.59
50.54 50.54 50.54
45.49 45.49 45.49
40.44 40.44 40.44
35.39 35.39 35.39
30.34 30.34 30.34
25.29 25.29 25.29
20.24 20.24 20.24
14.19 14.19 14.19
7.13 7.13 7.13
0-6 0-6 0-6

-1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 -1000 -800 -600 -400 -200 0 200 400 600 800 -600 -400 -200 0 200 400 600 800 1000

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 4, 5 e 6 – Pirâmides Etárias referentes ao Concelho de Ferreira do Zêzere, nos anos de 1940, 1970 e
2001, respectivamente

>75 >75
>75
70.74 70.74
70.74
65.69 65.69
65.69
60.64 60.64
60.64
55.59 55.59
55.59
50.54
50.54 50.54
45.49
45.49 45.49
40.44
40.44 40.44 35.39
35.39 35.39 30.34
30.34 30.34 25.29
25.29 25.29 20.24
20.24 20.24 14.19
14.19 14.19 7.13
7.13 7.13 0-6
0-6 0-6
-400 -200 0 200 400 600
-1500 -1000 -500 0 500 1000 -800 -600 -400 -200 0 200 400 600 800

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 7, 8 e 9 - Pirâmides Etárias referentes ao Concelho de Figueiró dos Vinhos, nos anos de 1940, 1970 e 2001,
respectivamente

75
>75 >75 >75
70.74 70.74 70.74
65.69 65.69 65.69
60.64 60.64 60.64
55.59 55.59 55.59
50.54 50.54 50.54
45.49 45.49 45.49
40.44 40.44 40.44
35.39 35.39 35.39
30.34 30.34 30.34
25.29 25.29 25.29
20.24 20.24 20.24
14.19 14.19 14.19
7.13 7.13 7.13
0-6 0-6 0-6

-800 -600 -400 -200 0 200 400 600 -400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 10, 11 e 12 - Pirâmides Etárias referentes ao Concelho de Sardoal, nos anos de 1940, 1970 e 2001,
respectivamente

>75 >75 >75


70.74 70.74 70.74
65.69 65.69
65.69
60.64 60.64
60.64
55.59 55.59
55.59
50.54 50.54
45.49 50.54
45.49 45.49
40.44
40.44 40.44
35.39
35.39 35.39
30.34
30.34 30.34
25.29
25.29 25.29
20.24
20.24 14.19 20.24
14.19 7.13 14.19
7.13 0-6 7.13
0-6 0-6
-2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000
-3000 -2000 -1000 0 1000 2000 -1000 -500 0 500 1000 1500

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 13, 14 e 15 – Pirâmides Etárias referentes ao concelho de Sertã, nos anos de 1940, 1970 e 2001,
respectivamente

>75
70.74 >75 >75
65.69 70.74 70.74
60.64 65.69 65.69
60.64 60.64
55.59
55.59 55.59
50.54
50.54 50.54
45.49
45.49 45.49
40.44
40.44 40.44
35.39 35.39
35.39
30.34 30.34
30.34
25.29 25.29 25.29
20.24 20.24 20.24
14.19 14.19 14.19
7.13 7.13 7.13
0-6 0-6 0-6

-4000 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 16, 17 e 18 – Pirâmides Etárias referentes ao concelho de Tomar, nos anos de 1940, 1970 e 2001,
respectivamente

76
>75 >75
>75
70.74 70.74
70.74
65.69 65.69
65.69
60.64 60.64
60.64
55.59 55.59
55.59
50.54 50.54
50.54
45.49 45.49 45.49
40.44 40.44 40.44
35.39 35.39 35.39
30.34 30.34 30.34
25.29 25.29 25.29
20.24 20.24 20.24
14.19 14.19 14.19
7.13 7.13 7.13
0-6 0-6 0-6

-800 -600 -400 -200 0 200 400 600 800 -600 -400 -200 0 200 400 600 -300 -200 -100 0 100 200 300 400

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 19, 20 e 21 – Pirâmides Etárias referentes ao concelho de Vila do Rei, nos anos de 1940, 1970 e 2001,
respectivamente

- Caso de Estudo do Alto do Lindoso

>75 >75 >75


70.74 70.74 70.74
65.69 65.69 65.69
60.64 60.64 60.64
55.59 55.59 55.59
50.54 50.54 50.54
45.49 45.49 45.49
40.44 40.44 40.44
35.39 35.39 35.39
30.34 30.34 30.34
25.29 25.29 25.29
20.24 20.24 20.24
15.19 15.19 15.19
10.14 10.14 10.14
5.9 5.9 5.9
0-4 0-4 0-4

-2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000 2500

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 22, 23 e 24 – Pirâmides Etárias referentes ao concelho de Arcos de Valdevez, nos anos de 1981, 1991 e
2001, respectivamente

>75
>75
70.74
70.74
65.69
65.69
60.64
60.64
55.59
55.59
50.54
50.54
45.49 45.49
40.44 40.44
35.39 35.39
30.34 30.34
25.29 25.29
20.24 20.24
15.19 15.19
10.14 10.14
5.9 5.9
0-4 0-4

-100 -50 0 50 100 150 200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200 250

Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 25, 26 e 27 – Pirâmides Etárias referentes ao município de Entrimo, nos anos de 1991 e 2001,
respectivamente

77
>75 >75
70.74 70.74
65.69 65.69
60.64 60.64
55.59 55.59
50.54 50.54
45.49 45.49
40.44 40.44
35.39 35.39
30.34 30.34
25.29 25.29
20.24 20.24
15.19 15.19
10.14 10.14
5.9 5.9
0-4 0-4

-200 -100 0 100 200 300 -200 -100 0 100 200 300

Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 28 e 29 – Pirâmides Etárias referentes ao município de Lobios, nos anos de 1991 e 2001,
respectivamente

>75
>75 >75

70.74
70.74 70.74
65.69
65.69 65.69
60.64
60.64 60.64
55.59
55.59 55.59
50.54
50.54 50.54
45.49
45.49 45.49
40.44
40.44 40.44
35.39
35.39 35.39
30.34
30.34 30.34
25.29
25.29 25.29
20.24
20.24
20.24
15.19 15.19
15.19
10.14 10.14
10.14
5.9 5.9
5.9
0-4 0-4
0-4

-1000 -500 0 500 1000 -800 -600 -400 -200 0 200 400 600 800
-600 -400 -200 0 200 400 600 800

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 30, 31 e 32 – Pirâmides Etárias referentes ao concelho de Ponte da Barca, nos anos de 1981, 1991 e
2001, respectivamente

- Caso de Estudo do Alto do Rabagão

>75 >75
70.74 70.74
65.69 65.69
60.64 60.64
55.59 55.59
50.54 50.54
45.49 45.49
40.44 40.44
35.39 35.39
30.34 30.34
25.29 25.29
20.24 20.24
15.19 15.19
10.14 10.14
5.9 5.9
0-4 0-4

-1000 -800 -600 -400 -200 0 200 400 600 800 1000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500

Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 33 e 34 – Pirâmides Etárias referentes ao concelho de Boticas, nos anos de 1950 e 1960,
respectivamente

78
>75 75.79
70.74 70.74
65.69 65.69
60.64 60.64
55.59 55.59
50.54 50.54
45.49 45.49
40.44 40.44
35.39 35.39
30.34 30.34
25.29 25.29
20.24 20.24
15.19 15.19
10.14 10.14
5.9 5.9
0-4 0-4

-600 -400 -200 0 200 400 600 -400 -200 0 200 400 600

Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 35 e 36 – Pirâmides Etárias referentes ao concelho de Boticas, nos anos de 1981 e 2001,
respectivamente

>75 >75
70.74 70.74
65.69 65.69
60.64 60.64
55.59 55.59
50.54 50.54
45.49 45.49
40.44 40.44
35.39 35.39
30.34 30.34
25.29 25.29
20.24 20.24
15.19 15.19
10.14 10.14
5.9 5.9
0-4 0-4

-2500 -2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000

Mulheres Homens Homens Mulheres

Gráficos 37 e 38 – Pirâmides Etárias referentes ao concelho de Montalegre, nos anos de 1950 e 1960,
respectivamente

>75 >75
70.74 70.74
65.69 65.69
60.64 60.64
55.59 55.59
50.54 50.54
45.49 45.49
40.44 40.44
35.39 35.39
30.34 30.34
25.29 25.29
20.24 20.24
15.19 15.19
10.14 10.14
5.9 5.9
0-4 0-4

-1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 -1000 -500 0 500 1000

Mulheres Homens Mulheres Homens

Gráficos 39 e 40 – Pirâmides Etárias referentes ao concelho de Montalegre, nos anos de 1981 e 2001,
respectivamente

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