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José Célio Orlando Bila

Evolução dos sistemas de abastecimento de água em Moçambique

Licenciatura em Engenharia Civil

Universidade Save
Maxixe
2023
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José Célio Orlando Bila

Evolução dos sistemas de abastecimento de água em Moçambique

Trabalho da cadeira de Planeamento e Ordenamento


Territorial a ser apresentado a Faculdade de Engenharia e
Tecnologias , curso de licenciatura em Engenharia Civil,
como requisito para avaliação, para a obtenção do grau de
licenciatura em Engenharia Civil.

Docente: Eng. Edson Comar

Universidade Save
Maxixe
2023
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Índice
1. Introdução ..................................................................................................................... 4
1.1. Objectivos .................................................................................................................. 4
1.1.1.Objectivo Geral........................................................................................................ 4
1.1.2. Objectivos Específicos ........................................................................................... 4
2. Evolução dos sistemas de abastecimento de água ........................................................ 5
2.1. Cobertura em abastecimento de água ........................................................................ 6
2.2. Componentes e tecnologias de abastecimento de água ............................................. 8
2.2.1. Captação ................................................................................................................. 8
2.2.3. Adutoras ............................................................................................................... 11
2.2.3.1. Classificação das adutoras ................................................................................. 12
2.2.4. Tratamento de água .............................................................................................. 12
2.2.5. Rede de distribuição de água ................................................................................ 13
3. Situação da água, saneamento e higiene em Moçambique ......................................... 16
3.1. Factores que afectam o processo de saneamento básico do meio no mundo e em
moçambique ................................................................................................................... 18
3.2.Problemas relacionados com o fraco saneamento básico do meio nas comunidades20
3.3. Doenças relacionadas com o fraco acesso a água.................................................... 21
4.Conclusão .................................................................................................................... 22
5.Referências Bibliográficas ........................................................................................... 23
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1. Introdução
Os serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais urbanas, a par
do fornecimento de eletricidade e da recolha e tratamento de resíduos, são indicadores
civilizacionais das nações e fontes de bem-estar e salubridade nas sociedades modernas.

Em Moçambique, os serviços públicos de abastecimento de água e de saneamento de


águas residuais têm a sua génese em questões de saúde pública. Também do ponto de
vista histórico, até à instituição da democracia e à posterior conquista da autonomia
financeira por parte das autarquias, às quais estavam atribuídas, exclusivamente, as
competências da gestão deste tipo de infraestruturas e serviços, o País caracterizava-se
por uma falta de qualidade generalizada e grandes carências de cobertura,
designadamente no acesso a redes de drenagem de águas residuais, que era
generalizadamente inexistente.

1.1. Objectivos

1.1.1.Objectivo Geral
 O objectivo geral deste presente trabalho é compreender a evolucao dos sistemas
de abasecimento de agua em Mocambique

1.1.2. Objectivos Específicos


 Identificar as principais caracteristicas da evolucao dos sistemas de abastecimento
de agua;

 Caracterizar os factores que influenciam no saneaento do meio;

 Avaliar o impacto da falta de saneamento devido a falta de agua;


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2. Evolução dos sistemas de abastecimento de água


Os serviços de abastecimento de água, em conjunto com o saneamento, drenagem de
águas residuais e águas pluviais, e o maneio de Resíduos Sólidos urbanos (recolha e
tratamento) constituem o que, em termos gerais, se designa por Saneamento Básico. Estes
serviços são básicos pois, para além de contribuírem para a melhoria da qualidade de vida
das populações, contribuem também para a prevenção e/ou redução da incidência de
doenças de transmissão hídrica, o que produz efeitos positivos na sociedade tanto em
termos económicos como sociais e de saúde pública, sobretudo no que diz respeito à saúde
infantil e à redução da mortalidade infantil. Em Moçambique, desde a Independência
Nacional, o Governo e os seus parceiros têm vindo a implementar medidas visando a
melhoria das condições de abastecimento de água e saneamento das cidades e vilas
moçambicanas. Para além de investimentos na infraestruturação, reformas institucionais
têm vindo a ser introduzidas visando a melhoria da qualidade e eficiência de prestação de
serviços de Água e Saneamento, entre as quais se destacam a aprovação em 1995 da
Política Nacional de Águas (posteriormente revista em 2007) e do Quadro da Gestão
Delegada-QGD em 1998. Foi no âmbito da implementação do QGD que foram criados o
Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água-FIPAG e o CRA -
Conselho de Regulação de Água e, muito recentemente (2009), a Administração de
Infraestruturas de Abastecimento de Água e Saneamento-AIAS. Esta última, tem como
funções desenvolver infra-estruturas secundárias de abastecimento de água, mobilizar
recursos financeiros e assegurar a gestão delegada dos sistemas de abastecimento de água
de cidades secundárias e do saneamento (drenagem de águas residuais e pluviais) em
todas cidades do País.
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Quadro 1: População (em meio urbano e meio rural) que recorre a diferentes tecnologias
de obtenção de água. Valores em percentagem (adaptado de OMS, 2010)

Moçambique (2008)
URBANO RURAL (%)
(%)
Agua da torneira 60 5
Ligação domestica 23 0
Dentro da habitação 6 0
Fora da habitação 17 0
Fontanário 20 4
Na habitação vizinha 18 1
Agua subterrânea 36 72
Poço ou furo 36 72
Nascentes 0 0
Agua da chuva 0 0
Agua de garrafa 0 0
Agua de superfície 3 22
Origens não adequadas 0 0

2.1. Cobertura em abastecimento de água


O quadro resume o grau de cobertura de abastecimento de água nos PALOP, nos anos
1990 e 2008. A informação está discriminada por população residente em meio rural e
meio urbano, e segundo o tipo de serviço fornecido, ou seja, consoante se refira a um
abastecimento de água adequado ou não adequado. A distinção na classificação do serviço
diz respeito à qualidade e ao acesso à água. Relativamente ao abastecimento de água
adequado, especifica-se ainda a percentagem da população servida por água canalizada.
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Quadro 2: Cobertura em abastecimento de água da população total, rural e urbana, para


1990 e 2008, segundo as seguintes categorias: “Não adequado”, “Adequado” e “Água
canalizada”. Valores em percentagem (adaptado de WHO e UNICEF, 2010)

Observa-se que Angola, Guiné-Bissau e Moçambique são os países que actualmente


apresentam os menores níveis de cobertura total de abastecimento de água. Relativamente
à população rural, Moçambique apresenta o menor nível de cobertura. No meio urbano,
é em Angola que o fornecimento deste serviço é mais crítico, o que é justificado pelo
grande afluxo populacional para áreas peri-urbanas e pela insuficiência de produção de
energia (Governo de Angola, 2003). É importante referir também a disparidade existente
entre o meio rural e o meio urbano, principalmente em Moçambique. No que diz respeito
à água canalizada, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe destacam-se por apresentarem
maior cobertura e menor diferença entre os meios rural e urbano. De notar, porém, que
estes números escondem assimetrias nacionais. Em Cabo Verde, por exemplo, em apenas
6 dos 22 concelhos, mais de metade dos agregados familiares está ligada à rede pública
de abastecimento de água (Direcção Geral do Planeamento, 2008). Por outro lado, um
abastecimento de água canalizada não garante, necessariamente, uma boa qualidade da
água. Em São Tomé e Príncipe, em 2004, menos de 20% da população com acesso a água
canalizada recebia água potável (Gibbs, 2005).
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Quadro 3: População (em meio urbano e meio rural) que recorre a diferentes tecnologias de
obtenção de água. Valores em percentagem (adaptado de OMS, 2010)

Verifica-se que em meio urbano nos PALOP, é frequente obter-se água da torneira,
excepção feita à Guiné-Bissau, onde se recorre maioritariamente a água subterrânea. Em
meio rural, uma percentagem significativa da água consumida tem também origem
subterrânea. Relativamente à água obtida através de uma torneira, a ligação doméstica é
a opção mais comum nas zonas urbanas, e os fontanários, nas zonas rurais. A ligação
doméstica localiza-se frequentemente fora da habitação. Quanto ao recurso subterrâneo,
é mais vulgar o aproveitamento de água através de poços ou furos, do que a partir de
nascentes. Porém, em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, a realidade é contrária. Neste
último país, o número reduzido de poços pode ser um reflexo da natureza vulcânica da
ilha ou da contaminação que se tem identificado nas origens de água (Gibbs, 2005).
Relativamente às outras formas de obtenção de água, Cabo Verde é o único país que
recorre a água da chuva e de garrafa, em quantidades mensuráveis. A água de superfície
é também uma opção, nomeadamente em Angola e Moçambique. Por fim, são
identificadas outras origens não adequadas como os camiões-tanque, principalmente
utilizadas em meios urbanos de Angola.

2.2. Componentes e tecnologias de abastecimento de água

2.2.1. Captação
Ao seleccionar a solução a adoptar para a captação de água, é necessário ter em conta a
quantidade e qualidade das diferentes origens de água disponíveis, ao longo do tempo,
bem como a facilidade de acesso. Nos PALOP, a diminuição da quantidade de água
disponível para consumo humano constitui um problema crítico, sendo Angola o país
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menos susceptível à escassez de recursos hídricos (Pereira, 2008). Na Guiné-Bissau, a


disponibilidade de recursos hídricos é afectada pela grande variabilidade da precipitação
anual (IRC, 1995) e em São Tomé e Príncipe é especialmente preocupante a desigual
distribuição espacial dos recursos hídricos, encontrando-se a maioria da água disponível
em regiões montanhosas de difícil acesso (DRNE, 2008). Em Moçambique, 60% da água
superficial tem origem em rios internacionais, o que prova a forte dependência em relação
a outros países (PNUD, 2005). Simultaneamente, tem-se observado uma diminuição geral
da qualidade da água nos PALOP, nomeadamente nas zonas litorais de Cabo Verde, São
Tomé e Príncipe e Moçambique, como consequência da intrusão salina (MAAP, 2004;
Gibbs, 2005 e DNA, 2008a). Em particular, os aquíferos são bastante afectados,
principalmente os que se localizam em zonas de grande densidade populacional, como
acontece em Moçambique (DNA, 2008a). Nas águas de consumo, na Guiné-Bissau, são
frequentemente identificados altas concentrações de ferro, que afectam o sabor da água
(IRC, 1995). Por fim, em São Tomé e Príncipe, as condições geológicas (rápida
infiltração), a fraca auto-depuração do solo, a aplicação de fertilizantes da actividade
agrícola e a falta de um adequado saneamento, constituem riscos de contaminação da
água (DRNEE, 2008).

As formas mais comuns de captação de água nos PALOP são a captação superficial de
água de precipitação (“rain harvesting”), as captações em poços e furos. Apresentam-se
a seguir imagens das referidas opções de captação de água.
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Figura1: Imagens de opções de captação de água (fotografias tiradas em Maio de 2010, em


Moçambique). a) e b) Captações de água de precipitação, c) Poço e d) Furo

A unidade de captação é o conjunto de estruturas e dispositivos construídos ou montados


junto a um manancial, para a retirada de água destinada ao sistema de abastecimento.

Heller e Casseb (1995) recomendam que sejam avaliados os seguintes factores na


selecção do ponto de captação:

a) Possíveis custos de desapropriação;

b) Distância da captação à estação de tratamento de água;

c) Necessidade de estações elevatórias;

d) Disponibilidade de energia elétrica;

e) Facilidade de acesso.

Segundo Pereira etal. (1987), a captação das águas superficiais é geralmente constituída
das seguintes partes:

1) Barragens para manutenção do nível ou regularização de vazão – São obrais


executadas em um curso de água, ocupando toda sua largura, para manter o nível da
água em cota pré-estabelecida de modo a permitir o bom funcionamento do sistema
de captação.

2) Órgãos de tomada de água com dispositivos para impedir a entrada de materiais


flutuantes ou em suspensão na água. Para este fim são utilizados grades, crivos, telas
e outros. Estes dispositivos têm a finalidade de remover sólidos decantáveis (areia),
materiais flutuantes e em suspensão (folhas, galhos, plantas aquáticas), além de
peixes, répteis, moluscos e qualquer outro material que possa impedir o bom
funcionamento das unidades a jusante;

3) Dispositivos utilizados para controlar ou impedir a entrada de água no sistema,


possibilitando a operação e a realização de manutenções no sistema. Normalmente,
para este fim são utilizadas comportas, válvulas, registros e adufas;
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4) Canais e tubulações – condutos utilizados para interligação entre as unidades do


sistema;

5) Poços de tomada – poço destinado para instalação das tubulações de sucção das
bombas.

Figura: Grade utilizada para retenção dos sólidos grosseiros (a), Sistema de
bombeamento de água bruta do rio (b).

Na captação de águas de chuvas devem ser utilizados reservatórios para acumulação do


volume captado nos telhados das edificações. Contudo, a sua utilização segura depende
do condicionamento adequado, já que a água de chuva captada pode ser
poluída/contaminada por impurezas dos telhados, como dejectos de pássaros, folhas,
partículas etc. Para captação de água subterrânea de aquíferos livres ou confinados são
construídos poços, bem como são utilizadas caixas de tomada para captação de água de
fonte de encosta ou de fonte de fundo de vale.

2.2.3. Adutoras
As adutoras são grandes tubulações ou canais utilizados no transporte de água entre as
unidades do sistema de abastecimento de água, como da captação para as estações de
tratamento e destas para os reservatórios. Em alguns casos, são instaladas ramificações
na linha de adução, as quais são denominadas de subadutoras. É importante observar que
não deve ocorrer distribuição de água directamente das adutoras aos consumidores, pois
isso reduz a vazão transportada e desequilibra hidraulicamente o sistema de
abastecimento de água.
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2.2.3.1. Classificação das adutoras


1. De acordo com a natureza da água transportada, as adutoras são classificadas em:

a) Adutora de água bruta ou de água tratada;

2. Quanto a energia utilizada para movimentação da água:

a) Existindo adutoras com escoamento por gravidade, por recalque ou misto.

O escoamento da água na adutora por gravidade é tipo conduto livre, com a água sujeita
a pressão atmosférica no deslocamento de ponto mais alto para ponto mais baixo. Na
adutora por recalque ocorre transporte da água em conduto forçado, que é caracterizado
pela água apresentar pressão maior que a da atmosfera e ocupar totalmente a secção de
escoamento. Isso ocorre em sistemas que utilizam equipamentos para impulsionar a água.
A adutora é considerada mista quando apresenta trechos por gravidade e por recalque.
Normalmente, a interrupção do funcionamento da adutora compromete o abastecimento
de água na cidade, em proporções que podem variar com a vazão de água transportada e
com o tempo de interrupção. No projecto da adutora devem ser consideradas a vida útil,
a vazão de água e o tempo de funcionamento diário. A vida útil da adutora é relacionada
com a evolução da demanda de água, com o custo da obra e com a flexibilidade da
operação. O tempo de funcionamento da adutora é relacionado com a variação diária da
demanda de água na comunidade, com o custo de energia eléctrica e com a existência de
reservatório no sistema de abastecimento de água. É oportuno observar que a acumulação
de água em reservatório reduz o tempo de funcionamento da adutora e da estação
elevatório (bombeamento).

Por sua vez, a vazão de adução deve ser estabelecida com base na população abastecida
e no valor do consumo médio per capita de água, observando, ainda, o coeficiente de
segurança para as variações de demanda e o valor da perda de carga (de energia) na
adutora. A perda de energia é relacionada com a redução da pressão da água e ocorre ao
longo e em pontos localizados da adutora, como mudanças de direcção, mudanças de
diâmetro, órgãos acessórios, registros, válvulas, conexões etc.

2.2.4. Tratamento de água


A escolha da tecnologia de tratamento da água depende das características da água bruta
e da qualidade desejada para a água final. No entanto, factores como os custos de
implantação, exigências operacionais, área disponível, entre outros, devem ser
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considerados quando existe a possibilidade de aplicação de mais de uma tecnologia de


tratamento.

A potabilização de qualquer tipo de água é possível tecnicamente, no entanto, os riscos


sanitários e os custos envolvidos no tratamento de águas contaminadas podem ser muito
elevados, exigindo o emprego de tecnologias cada vez mais caras e sofisticadas

Segundo Pádua (2006), o tratamento da água tem as seguintes finalidades:

 Remover da água os organismos patogénicos e as substâncias químicas orgânicas e


inorgânicas que podem causar danos à saúde humana;

 Deixar a água esteticamente agradável;

 Produzir água quimicamente estável, para que não provoque incrustações ou corrosão
excessiva nas tubulações de distribuição.

Os principais tipos de estação de tratamento de água para abastecimento público são


convencional, filtração directa e de desferrização.

2.2.5. Rede de distribuição de água


A rede de distribuição é o conjunto de tubulações, conexões, registros e peças especiais,
destinados a disponibilizar a água potável nos pontos de consumo do sistema (residências,
prédios públicos, indústrias, etc.), o que precisa ocorrer com continuidade e segurança,
para que a água seja distribuída na quantidade e na qualidade requerida pelos
consumidores. As redes são formadas por condutos principais e condutos secundários. Os
condutos principais são os de maior diâmetro e têm a finalidade de abastecer os condutos
secundários que estão mais próximos do ponto de consumo e apresentam diâmetro menor.

A disposição dos condutos principais e secundários depende de vários factores, como:


características físicas, topografia, traçado do arruamento e da forma de ocupação da
cidade. Quanto a disposição dos condutos principal e secundário e ao sentido do
escoamento, as redes podem ser classificadas em ramificada, malhada com anel e
malhada sem anel. Na rede ramificada ocorre distribuição da vazão do conduto principal
(tronco) para derivações que distribuem as vazões aos colectores secundários. Logo, o
sentido do escoamento é direccionado do ponto de abastecimento (normalmente da
unidade de reservação) até a ponta da rede (extremidades mortas ou pontas secas).

Os pontos de ramificação e de mudanças de diâmetro recebem a denominação de nós,


sendo o conduto entre dois nós denominado de trecho de rede.
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As redes malhadas com anel são constituídas por condutos troncos que formam anéis ou
malhas. Essa configuração em anel possibilita a reversibilidade no sentido das vazões em
função da demanda. Nessa disposição é possível abastecer qualquer ponto do sistema por
mais de um caminho, o que resulta em grande flexibilidade no abastecimento e na
manutenção da rede, porém essa configuração é mais dispendiosa devido às conexões e
acessórios requeridos.

Quadro 4: Cobertura em saneamento da população total, rural e urbana, para 1990 e 2008,
segundo as seguintes categorias: “Adequado”, “Ar livre”, “Não adequado” e
“Comunitário”. Valore em percentagem (adaptado de WHO e UNICEF, 2010)

O grau de cobertura de saneamento adequado é claramente mais preocupante em meio


rural. Ainda assim, em meio urbano, só em Angola e Cabo Verde é que a população
servida por um serviço adequado é superior a 50%, sendo São Tomé e Príncipe o país
com menor nível de cobertura. Nas áreas urbanas deste país não existem sistemas de
saneamento de águas residuais, mas apenas algumas fossas sépticas e latrinas secas
(Gibbs, 2005). A proporção da população que recorre a defecção ao ar livre é considerável
em qualquer dos países, e mais gravosa em meio rural. O saneamento não adequado, à
excepção de Cabo Verde, é igualmente muito crítico. De facto, na Guiné-Bissau, por
exemplo, é frequente a utilização de latrinas e fossas mal concebidas, que representam
um perigo elevado para saúde pública (DENARP, 2005). O modo comunitário é o tipo de
saneamento menos comum, sendo mais vulgar em áreas urbanas da Guiné-Bissau,
Moçambique e São Tomé e Príncipe. Neste último país, os balneários municipais
apresentam um funcionamento satisfatório, provavelmente por se cobrar entrada aos
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utilizadores (Gibbs, 2005). Adicionalmente, tal como referido no caso do abastecimento


de água, há que ter em atenção a divergência de valores de cobertura de serviço
correspondentes a diferentes fontes de informação, ainda que originárias de documentos
oficiais. Esta situação resulta, nalguns casos, das definições adoptadas. É o caso da latrina,
que muitas vezes se refere a um simples buraco no solo sem qualquer cobertura, e que é
considerada, por vezes, como método de saneamento adequado de deposição de
“excreta”, apesar de internacionalmente não ser classificado como tal (PNUD, 2005).
Veja-se, por exemplo, que em 2007, a cobertura total de população com acesso ao serviço
de saneamento em Moçambique foi de cerca de 42% (República de Moçambique, 2008b),
valor superior ao apresentado pelo JMP (17%, em 2008). Por fim, é importante referir
que existem questões relativas ao saneamento que não são usualmente tratadas
estatisticamente, mas que contribuem para o agravamento de riscos para a saúde pública
e para o meio ambiente. É o caso, na Guiné-Bissau, da ausência de sistemas organizados
de manutenção da rede de águas residuais (OMS, 2008), ou em Cabo Verde, das
inadequadas práticas de higiene praticadas pela população (Direcção Geral do
Planeamento, 2008).
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3. Situação da água, saneamento e higiene em Moçambique


Apesar do progresso considerável registado ao longo dos anos, apenas metade dos
moçambicanos tem acesso ao abastecimento de água melhorado e menos de um quarto
(um em cinco) usa saneamento melhorado. De uma maneira geral, persistem
desigualdades flagrantes nos serviços de abastecimento de água e saneamento entre as
pessoas que vivem nas zonas rurais e as que vivem nas zonas urbanas.

A nível nacional, embora a proporção de pessoas sem acesso a fontes de água melhoradas
tenha reduzido de 65 por cento em 1990 para 49 por cento em 2015, as disparidades entre
as pessoas com cobertura nas zonas rurais e nas urbanas são acentuadas, sendo o número
estimado em 64 por cento e 17 por cento, respectivamente. Além disso, nas zonas rurais,
uma em cada cinco pessoas usa água de superfície como sua fonte primária de água para
beber. Situada em 36 por cento, Moçambique possui uma taxa de fecalismo a céu aberto
entre as mais elevadas da África Subsaariana e 76 por cento da população não tem ou não
usa saneamento melhorado: 88 por cento nas zonas rurais e 53 por cento nas zonas
urbanas e peri-urbanas.

Embora as zonas rurais sejam mais afectadas pela falta de serviços básicos de Água,
Saneamento e Higiene, até mesmo os indicadores urbanos moderadamente positivos de
Água, Saneamento e Higiene ocultam as graves lacunas de serviços prestados aos pobres
nas cidades e vilas em rápido crescimento, onde a falta de manutenção sistemática, o fraco
investimento e mandatos institucionais não claros têm prejudicado a prestação de
serviços.

Existem igualmente disparidades geográficas, com os serviços a apresentarem-se mais


inadequados de uma maneira geral nas províncias do norte. A título de exemplo, na
província de Maputo, no sul, cerca de 87,1 por cento da população tem acesso à água
potável e 70,1 por cento tem acesso e usa o saneamento melhorado, comparativamente à
província central da Zambézia, uma das províncias mais populosas do país, onde apenas
30,6 por cento da população tem acesso à água potável e 13,0 por cento tem acesso ao
saneamento melhorado. A situação da Água, Saneamento e Higiene nas escolas e
unidades sanitárias continua desconhecida. Também constitui um grande desafio a
ocorrência frequente de desastres naturais, que estão a ser exacerbados pelas alterações
climáticas. Continuam a ter um impacto devastador em milhões de moçambicanos. As
alterações climáticas também ameaçam a disponibilidade e a qualidade dos recursos
hídricos do país, tanto a água de superfície como subterrânea. As crianças pequenas estão
mais em risco devido às más condições de Água, Saneamento e Higiene. Embora
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Moçambique tenha registado progressos na redução da mortalidade em menores de cinco


anos, as doenças diarreicas continuam a ser uma das principais causas de morte de
crianças. Além disso, evidências concludentes indicam que a Água, Saneamento e
Higiene é uma intervenção essencial para reduzir a desnutrição; este é um aspecto
particularmente pertinente em Moçambique, onde 43 por cento das crianças menores de
5 anos sofrem de desnutrição crónica grave ou moderada.

As mulheres e raparigas são particularmente afectadas pelo acesso inadequado à água e


saneamento. Além de ter um impacto prejudicial na sua saúde, o acesso inadequado à
Água, Saneamento e Higiene pelas raparigas ameaça a sua segurança, bem-estar,
educação, contribui para a perda de dignidade e para a ameaça de agressão sexual devido
à inexistência de casas de banho, tanto em períodos de emergência como de estabilidade.
Também as crianças com deficiência não têm acesso ao ensino nas escolas quando não
existem condições de Água, Saneamento e Higiene acessíveis ou se forem inadequadas.

Além disso, o crescimento da população e a rápida urbanização colocarão em breve uma


pressão ainda maior nos serviços de Água, Saneamento e Higiene. A população urbana
de Moçambique pode atingir os 50 por cento até 2025. As cidades e as suas zonas peri-
urbanas com serviços inadequados atraem migrantes provenientes das zonas rurais.
Também as vilas rurais em crescimento com até 50.000 habitantes representam mais ou
menos 15 por cento do total da população urbana e necessitarão de mais investimentos.
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3.1. Factores que afectam o processo de saneamento básico do meio no mundo e em


moçambique
Para LEITMANN & MOSER (1996) citado por NHACOLO (1999), os factores que
afectam o processo de saneamento básico do meio ao nível mundial, incluindo
Moçambique, dividem-se em dois grandes aspectos, fortemente inter-relacionados que
são: factores globais e factores locaise que mesmo estes ocorrem nos mesmos locais de
diferentes maneiras. a) Os factores globais, referem-se àqueles que afectam o
saneamento do meio de todas zonas urbanas e rurais dum país em geral. E este factor
subdivide-se em aumento da população desproporcional à capacidade dos serviços de
saneamento do meio ai existentes (água potável, colecta e disposição do lixo,
esgotamento sanitário e drenagem e maneio de águas pluviais) e a distância das
instalações (idem).

a) Aumento da população

A pressão demográfica sobre as infra-estruturas de saneamento e deficiente serviço de


manutenção das mesmas influenciam negativamente no saneamento adequado e na
deterioração do sistema de abastecimento de água potável existente. O tamanho da
população e a sua taxa de crescimento alta, contribuem para a concentração espacial de
pessoas e afectam o comércio, transportes, consumo de electricidade, consumo de água,
saneamento e aumenta a geração dos detritos. Este facto, combinado com a composição
do agregado familiar, carga de dependência económica de uns membros do agregado
sobre outros, habitação precária e permanente, construções não autorizadas, mostra
várias formas de ameaças à saúde comunitária e do bem-estar em geral (LEITMANN &
MOSER, 1996 citado por NHACOLO, 1999).

b) Distância das instalações

Tomando como base a localização da residência rural, para PRONASAR (2008) as


distâncias consideradas para construção de algumas instalações em Moçambique devem
ser de: da residência para fonte de Água deve ser de no mínimo 20m; para o local de
criação de animais deve ser de 30m; para uma latrina deve ser de 30m e para o local de
deposição, queima ou enterrar o lixo deve ser de 20m. São consideradas as mesmas
distâncias quando toma-se como basea localização duma fonte de água.

c) Factores locais: compreende factores locais e específicos duma determinada


população tais como lençol freático alto, concentração da população por área e de
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construções e percepção ou o nível de educação da comunidade (LEITMANN &


MOSER, 1996 citado por NHACOLO,1999).
d) O lençol freático alto

Afecta os locais onde são frequentes pântanos e as condições habitacionais são


extremamente precárias devido a existência de terrenos húmidos, sujeitos a um elevado
nível freático (LEITMANN & MOSER, 1996 citado por NHACOLO, 1999).

e) Concentração da população por área e de construções

Esta, mostra o grau de concentração de uma população num determinado espaço e


momento. É um índice rural que relaciona uma população com a área do seu local de
residência, isto é, o número de casas por área. Estes factores, ligados à falta de
planificação da ocupação do espaço, dificultam o saneamento de várias maneiras, como:
a canalização de água, construção da vala de drenagem, falta de vias de acesso para
recolha de lixo, aproximação das latrinas com as residências porque não tem espaço
suficiente para implantação (LEITMANN & MOSER, 1996 citado por NHACOLO,
1999).

f) Nível de educação da comunidade

A percepção de uma pessoa ou duma comunidade, depende de vários factores que


envolvem a formação académica, contexto cultural e a situação económica, numa
complexa inter-relação. Segundo LISTORTI (1990), indica que a maioria das pessoas
com os níveis entre a primeira classe até a sétima classe (1ª a 7ª classe), consideram as
fezes de crianças não perigosas e, consequentemente pouco cuidado higiénico é dado,
inclusive nos contactos durante a preparação de alimentos. Esta atitude é fortemente
influenciada pelo factor cultural, e que contribui para a prevalência da propagação de
doenças pela transferência feco-oral.

PANGAYA et al. (1997), mostra a importância da escolaridade, particularmente das


mulheres, em questões de saneamentobásicodo meioda seguinte forma: a gestão do
saneamento básico é uma actividade que na sua maioria é realizada por mulheres, sendo
elas, universalmente reconhecidas como gestoras dos lares, em termos da limpeza local
(da casa, das crianças, alimentos, serviços domésticos).
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3.2.Problemas relacionados com o fraco saneamento básico do meio nas


comunidades

Os problemas que afectam as comunidades, destacam-se na maioria das vezes a partir


da inacessibilidade do saneamento básico do meio, como é o caso da intensa poluição
dos recursos hídricos (água), em particular de mananciais de abastecimento de água das
comunidades; a deficiência no sistema de drenagem que contribui para a ocorrência de
enchentes (cheias); as precárias condições para acolecta e destinação do lixo; a poluição
do ar(LOPES, 2004).

Os parasitas em geral possuem duas fases de vida: uma dentro do hospedeiro e outra no
meio ambiente. Enquanto estão no corpo do hospedeiro, eles possuem condições ideais
para seu desenvolvimento, como temperatura e humidade adequadas, além de dispor de
alimento em abundância. Quando estão no meio ambiente, ao contrário, estão
ameaçados e morrem com facilidade, devido à luminosidade excessiva, à presença de
oxigénio, de calor, e à falta de alimentos. O tempo que esses microrganismos passam
fora do hospedeiro deve ser suficiente apenas para que alcancem novos organismos,
continuando seu ciclo de vida (RIBEIRO & ROOKE, 2010).

Normalmente os parasitas são eliminados pelo portador junto com suas excretas, isto é,
fezes, urina e catarros, e então se misturam com os microrganismos que vivem
livremente no solo, na água e no ar. Assim, uma pessoa ainda sadia poderá ficar doente
se ingerir água ou alimentos contaminados e também se andar descalça ou mexer
directamente na terra que contenha excretas de pessoas enfermas ou contaminadas
(RIBEIRO & ROOKE, 2010). É comum os parasitas serem disseminados por insectos
(moscas, mosquitos, pulgas e baratas), ratos e outros animais que, por essa razão, são
chamados de vectores. Muitas vezes, a transmissão de doenças ocorre quando estes
animais picam uma pessoa enferma e em seguida uma pessoa sadia. A maior parte das
doenças transmitidas para o homem é causada por microrganismos, organismos de
pequenas dimensões que não podem ser observados a olho nu (Idem).

Os principais grupos de microrganismos veiculados pelo fraco saneamento básico do


meio e que podem provocar doenças no homem são: os vírus, as bactérias, os
protozoários e os helmintos. Neste contexto, aos profissionais da área de saúde e os
ambientalistas, interessa conhecer as formas de transmissão e as medidas de prevenção
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das doenças relacionadas com a água, com as fezes, com o lixo e com as condições de
habitação (RIBEIRO&ROOKE, 2010).

3.3. Doenças relacionadas com o fraco acesso a água


Segundo a OMS (2007), grande parte das doenças que se alastram nos países em
desenvolvimento são provenientes da água de má qualidade. De várias maneiras a água
pode afectar a saúde do homem: através da ingestão directa, na preparação de alimentos;
na higiene pessoal, na agricultura, na higiene do ambiente, nos processos industriais ou
nas actividades de lazer.Há vários tipos de doenças que podem ser causadas pela água
(vide, tabela 2).

São assim denominadas quando causadas por organismos ou outros contaminantes


disseminados directamente por meio da água. Em locais com saneamento básico
deficiente (falta de água tratada e/ou de rede de esgoto ou de alternativas adequadas
para a deposição dos dejectos humanos), as doenças podem ocorrer devido à
contaminação da água por esses dejectos ou pelo contacto com esgoto despejado nas
ruas e rios e/ou mares. A falta de água também pode causar doenças, pois, sua escassez
impede uma higiene adequada. Inclui ‐ se também na lista de doenças de transmissão
hídrica, aquelas causadas por insectos que se desenvolvem na água (OMS, 2007).
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4.Conclusão
Aos factores que afectam o processo de saneamento básico do meio está o aumento
populacional que este não é acompanhado com o aumento de infra-estruturas de
saneamento, no caso concreto, as infra-estruturas de abastecimento de água, são
insuficientes para o número da população, e isto faz com que haja pressão das fontes
existentes e deterioração dos mesmos; o outro factor é a distância das instalações em
relação às residências, em que as populações não verificam distâncias recomendadas
fazendo com que haja muita proliferação de vectores; em seguida é a falta de
ordenamento territorial nos bairros.
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5.Referências Bibliográficas
 DNA (2004). Manual Técnico para a Implementação de Projectos de Abastecimento
de Água e Saneamento Rural. República de Moçambique. Ministério das Obras
Públicas e Habitação. Direcção Nacional de Águas.
 DNA (2006). Directrizes Técnicos para o Saneamento Rural. República de
Moçambique, Ministério das Obras Públicas e Habitação. Direcção Nacional de
Águas. Programa Nacional de Desenvolvimento do sector de águas;
 PLANO ESTRATÉGICO DO DESENVOLVIMENTO DO DISTRITO DE
INHASSORO (PEDDI). (2005).Administração do distrito de Inhassoro. S/ed., Junho,
Moçambique.
 Programa Nacional de Abastecimento de Água e Saneamento Rural (PRONASAR).
(Fevereiro de2008). Manual de capacitação, S/ed., Moçambique, 77p.
 RIBEIRO Júlia W. e ROOKE Juliana M. (2010). Saneamento básico e sua relação
com o meio ambiente e a saúde pública.S/ed, juiz de fora, Brasil, 36p.
 RICHARDSON, Robert. (1999). Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo:
Editora Atlas, 3ª edição, Brasil.
 SERRA, António M. A. (2000): Os anos que abalaram Moçambique: Estudos de
saneamento e Desenvolvimento; CESA, ISEG/UTL, Lisboa.

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