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regulatório do
saneamento
básico
Políticas Públicas
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Conteudista/s
Daniel Antonio Narzetti (Conteudista, 2021).
Enap, 2021
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
MÓDULO 1: Visão geral sobre saneamento básico e o novo marco legal.......... 4
1. Aspectos gerais sobre saneamento básico................................................................ 5
1.1 Contextualizando o saneamento básico.................................................................. 5
1.2 Desafios para promoção do acesso universal......................................................... 8
2. Histórico de saneamento básico............................................................................... 13
2.1 Contexto histórico..................................................................................................... 13
2.2 Contexto mundial de direito humano à água........................................................ 17
Referências Bibliográficas..................................................................................... 62
Visão geral sobre
saneamento básico e o
novo marco legal
1
Módulo
Políticas Públicas
Módulo
Água
Recurso hídrico, captação de água, tratamento de água; emissário; reservatórios;
distribuição; e consumo,
Esgoto
Descarte; rede coletora; estação elevatória; emissário; tratamento; e devolução ao
meio ambiente.
Drenagem
Coletores; redes; armazenamento; devolução ao meio ambiente.
Uma vez que esses problemas requerem soluções que envolvem diferentes campos de
conhecimento (social, econômico, técnico, contratual), e os avanços muitas vezes são
feitos de forma não cooperativa, resultando em assimetrias de informações e outras
distorções que tendem a limitar o acesso aos serviços de saneamento básico. Reitera-
se a importância da articulação dos diferentes agentes, a luz da regulação, para prover
a governança do setor e otimizar a reprodução dos fatores escassos na promoção de
equidade de acesso aos serviços públicos. A articulação dos atores requer capacidades
regulatórias que contemplam o diagnóstico das questões jurídicas e fundiárias, as
obrigações de serviço público e das políticas de desenvolvimento, a organização do
setor, a infraestrutura, a qualidade do serviço e a viabilidade econômico-financeira.
Para garantir o acesso aos serviços de saneamento básico, para as famílias mais
pobres e vulneráveis podem requerer alguma forma de subsídio, que pode ser (i)
governamental ou filantrópico, (ii) subsídio cruzado entre outros clientes ou (iii)
subsídio cruzado entre outros setores ou formas.
Esses subsídios ainda podem ser alocados do lado da demanda ou da oferta, tendo
diferentes funções e, em alguns casos, o subsídio para esses serviços pode ser
intergeracional, de forma que uma geração pague pelos investimentos que beneficiarão
Por fim, o subsídio pode ser direto, quando a receita pode ser observada para critérios
de destinação, ou indireto, nas situações em que determinadas variáveis podem ser
consideradas (localização geográfica, qualidade da moradia, entre outras). A Figura 3
relaciona os diferentes modelos de subsídios e as possíveis articulações de políticas
públicas voltadas para a universalização do acesso aos serviços de saneamento básico.
A Figura 4 abaixo apresenta as principais alterações legais deste setor. De modo geral
altera: i) a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, para conferir à Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico (ANA) competência para editar normas de referência no
A partir dos anos 1940, iniciou-se a comercialização dos serviços de saneamento básico.
Surgem, então, as autarquias e mecanismos de financiamento para o abastecimento
de água, com influência do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), hoje denominada
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Em 1971, foi instituído o Plano Nacional de
Saneamento (PLANASA) e, com ele, passou-se a investir em saneamento básico de
maneira inédita, em especial na expansão do acesso à água potável.
Dessa forma, outro grande obstáculo que existiu nessa época foi a disputa entre
Governos Federal, Estadual e Municipal sobre quem deveria gerenciar essas diretrizes.
Para minimizar os problemas que surgiam ao longo dos anos, criaram-se diretrizes
de implementação, medidas e infraestruturas para o saneamento básico no Brasil.
ttps://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/saneamento/snis/produtos-do-snis/
h
diagnosticos
A figura abaixo apresenta os valores médios dos índices de atendimento com água e
esgotos e dos índices de tratamento dos esgotos, distribuídos segundo as macrorregiões
geográficas e a média do Brasil.
Nesse sentido, o sistema de Drenagem de Águas Pluviais requer uma série de melhoras
para atingir o patamar de serviço. Essa afirmação está fundada, visto que o este
serviço dificilmente conta com cobrança por sua disponibilidade ou operação. Assim,
dentre os quatro serviços, este necessita maior estruturação.
Foi somente em 1972 que teve início o debate internacional capitaneado pela
Organização das Nações Unidas - ONU durante a 1ª Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente, em Estocolmo. Em 1977, durante a Conferência das Nações
Unidas sobre a Água em Mar del Plata, os representantes dos países firmaram a
primeira declaração tratando a água como direito humano, definindo que “Todos os
povos, seja qual for o seu estágio de desenvolvimento e as suas condições sociais e
econômicas, têm direito a ter acesso a água potável em quantidade e qualidade igual
às suas necessidades básicas”.
No ano de 2015, a ONU construiu com seus países membros uma nova agenda de
desenvolvimento sustentável para os próximos 15 anos, a Agenda 2030, composta
pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS, sucedendo a agenda
composta pelos 8 ODM. Dentre os 17 ODS’s, água potável, saneamento e higiene
constituem uma parte central da meta de água limpa e saneamento, estando definida
no ODS nº 6, de forma que guarda estrita relação com o ODS 03 por seu papel na
redução dos riscos à saúde como parte da meta de boa saúde e bem-estar (Hutton
e Varughese, 2016).
VÍDEO
Visão geral sobre os serviços de saneamento básico: Aspectos legais,
econômicos e sociais:
https://cdn.evg.gov.br/cursos/492_EVG/videos/videos_modulo01_
video01.mp4
Legenda: https://cdn.evg.gov.br/cursos/492_EVG/legendas/videos_
modulo01_video01.vtt
2
Módulo
Políticas Públicas
Módulo
2
Ações necessárias para
universalizar o acesso aos
serviços de saneamento básico
Unidade 1. Evolução do setor de saneamento básico :
atualização do marco legal
Objetivo de aprendizagem: Identificar os aspectos históricos e elementos
da política de saneamento básico.
VÍDEO
Ações necessárias para universalizar os
serviços de saneamento básico:
https://cdn.evg.gov.br/cursos/492_EVG/videos/videos_modulo02_
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Legenda: https://cdn.evg.gov.br/cursos/492_EVG/legendas/videos_
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Para esse fim, o artigo 3º, inciso IX define que “contratos regulares são aqueles
que atendem aos dispositivos legais pertinentes à prestação de serviços públicos
de saneamento básico”. De modo que no artigo 10-B. se apresenta a necessidade
dos contratos celebrados entre instituições públicas, ou seja, sem processo de
licitação, estão condicionados à comprovação da capacidade econômico-financeira
da contratada, por recursos próprios ou por contratação de dívida, com vistas a
viabilizar a universalização dos serviços na área licitada até 31 de dezembro de 2033,
nos termos do § 2º do art. 11-B da Lei.
Dessa forma, o artigo 11-B, define que “os contratos de prestação dos serviços públicos
de saneamento básico deverão definir metas de universalização que garantam o
atendimento de 99% da população com água potável e de 90% da população com
coleta e tratamento de esgotos até 31 de dezembro de 2033, assim como metas
quantitativas de não intermitência do abastecimento, de redução de perdas e de
melhoria dos processos de tratamento. Imputando mais uma restrição já em seu
primeiro parágrafo, onde os contratos em vigor que não possuírem as metas terão
até 31/03/2022 para viabilizar essa inclusão.
Para isso, cabe ao CISB priorizar planos, programas e projetos que visem à implantação
e à ampliação da oferta dos serviços e das ações de saneamento básico nas áreas
ocupadas por populações de baixa renda, incluídos os núcleos urbanos informais
consolidados, quando não se encontrarem em situação de risco e simplificar e
uniformizar os procedimentos para candidatura e acesso aos recursos federais,
observados os princípios da eficiência e da transparência no uso de recursos públicos,
de forma a aperfeiçoar os critérios de elegibilidade e priorização para o acesso a
recursos federais, em observância ao disposto no art. 50 da Lei nº 11.445, de 2007.
A União prestará apoio técnico e financeiro para a adaptação dos serviços públicos de
saneamento básico às disposições da Lei nº 14.026, de 2020, nos termos do disposto
do art. 13 da referida Lei, para a realização de uma ou mais das seguintes atividades,
no que couber, condicionado à existência de disponibilidade orçamentária e financeira.
Por fim, o Decreto nº 10.710, de 31 de maio de 2021, regulamenta o art. 10-B da Lei nº
11.445, de 5 de janeiro de 2007, para estabelecer a metodologia para comprovação
da capacidade econômico-financeira dos prestadores de serviços públicos de
abastecimento de água potável ou de esgotamento sanitário que detenham contratos
regulares em vigor, com vistas a viabilizar o cumprimento das metas de universalização
previstas no caput do art. 11-B da Lei nº 11.445, de 2007.
A verificação do atendimento aos índices de que trata o caput será feita por meio
da análise das demonstrações contábeis consolidadas do grupo econômico a que
pertence o prestador, elaboradas segundo as normas contábeis aplicáveis, referentes
aos últimos cinco exercícios financeiros já exigíveis e devidamente auditados.
Os índices de que trata o caput deverão ser obtidos a partir das medianas dos indicadores
dos últimos cinco exercícios financeiros já exigíveis e devidamente auditados.
A segunda etapa consiste na avaliação dos estudos de viabilidade e do respectivo
plano de captação para o cumprimento das metas de universalização, com foco
na viabilidade econômico-financeira do projeto. Os estudos devem apresentar os
investimentos necessários ao atingimento das metas de universalização para cada
contrato regular em vigor de abastecimento de água potável ou de esgotamento
sanitário do prestador. Por outro lado, o plano de captação deve conter os termos e
as condições para a realização desses investimentos.
As regras estabelecidas no Decreto visam evitar projetos inexequíveis, buscando impedir
a adoção de pressupostos e condições que muitas vezes não são realistas na prática.
Nesse sentido, é importante ficar atento ao disposto no § 3º do art. 7º do decreto³, que
estabelece as premissas que NÃO podem ser consideradas nesses estudos.
Os estudos de viabilidade apresentados pelos prestadores deverão conter os fluxos de caixa
de cada um dos contratos tidos como regulares, considerando atingir a universalização
até 2033 e sem alterar o prazo final do contrato vigente. Nos casos em que a vigência do
contrato se encerre antes de 2033, devem ser consideradas metas de universalização
proporcionais à vigência do contrato nos estudos de viabilidade e nas respectivas minutas
de termo aditivo. Os fluxos de caixas serão avaliados de maneira individual e, também,
de forma global. Dessa forma é possível somar todos os fluxos de caixas dos diversos
contratos para avaliação de VPL maior ou igual a zero. Reforçando que o prazo de cada
um dos contratos deverá ser respeitado, de forma que o fluxo de caixa global deve ser
construído considerando o vencimento individual de cada contrato.
OBSERVAÇÃO: O prestador que não apresentou seu requerimento de comprovação
econômico-financeira até 31/12/2021 não teve nova oportunidade para fazê-
lo. Nessa hipótese de não apresentação tempestiva do pedido, cabe à agência
reguladora notificar o prestador a propósito da irregularidade de seus contratos
de programa em vigor por ausência de comprovação econômico-financeira, assim
como notificar os titulares dos contratos irregulares a propósito dessa condição,
para adoção das medidas cabíveis.
De forma resumida, a Figura 7 apresenta as principais definições do novo marco legal
os Decretos que o regulamentam.
A estrutura das instituições em diversos níveis de governo pode ser considerada uma
solução mais próxima da realidade local e tal desagregação é tida como uma vantagem
para a melhor alocação dos recursos e fator fundamental para o desenvolvimento das
políticas estabelecidas. Todavia, esta governança multinível é complexa levando a falta
de alinhamento e sobreposição das instituições (e das políticas) e até a concorrência
entre elas, reduzindo a eficiência e a eficácia pretendida (Mumssen et al., 2018).
As entidades titulares dos serviços de saneamento básico são os municípios que podem
fazer a prestação direta do serviço ou indireta através de autarquias, continuando estes
a serem os prestadores. Podem ainda delegá-lo ao setor privado através de contratos
de concessão ou de Parceria Público Privada - PPP com entidades privadas ou através
Uma das principais iniciativas lançadas pelo governo brasileiro foi o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), instituído pelo Decreto nº. 6.025 em 22 de janeiro
de 2007, que ajudou a fazer investimentos públicos em infraestrutura no Brasil.
Baseado em um modelo de desenvolvimento econômico e social, o PAC proporcionou
um dos melhores momentos da recente trajetória econômica e institucional do
setor de saneamento básico com a reabertura do investimento público, que ampliou
consideravelmente os recursos disponíveis para investimentos no setor e possibilitou
uma melhoria na cobertura dos serviços de saneamento básico para atender às
necessidades sociais (Enap, 2015).
Apesar disso, por um lado, havia muitas críticas sobre a qualidade dos gastos com
Projetos do PAC e, por outro lado, por falta de capacidade institucional, muito dinheiro
disponibilizado pelo PAC não foi efetivamente utilizado (Sousa e Gomes, 2019). Ao
comparar os investimentos feitos na expansão e qualidade dos serviços de saneamento
básico em áreas urbanas, fica claro que as áreas rurais foram “deixadas para trás”
em todas as reformas (Heller et al., 2020).
No entanto, vale ressaltar que, nas últimas duas décadas, alguns passos importantes
foram dados para o cumprimento das políticas públicas de desenvolvimento rural no
Brasil. Nos serviços de saneamento básico não foi diferente, e o programa nacional para
a universalização do acesso e uso da água, “Água para Todos”, instituído pelo Decreto
nº. 7.535, de 26 de julho de 2011, teve como objetivo promover o acesso universal
à água nas áreas rurais para consumo humano e priorizar a população em situação
de extrema pobreza. Em 2019, resultou o Programa Nacional de Saneamento Rural
(PNSR), que identificou a necessidade de investimentos em serviços de saneamento
básico nas áreas rurais do Brasil (Ministério da Saúde, 2019).
Para expandir a cobertura dos serviços de saneamento básico, a Lei nº 14.026 (15
de julho de 2020) atualizou o quadro legal desses serviços (Lei nº 11.445 / 2007) e
outras disposições legais e deu à ANA a capacidade de editar os padrões de referência
regulamentares. O objetivo era uniformizar os padrões de regulação e melhorar
as condições estruturais dos serviços de saneamento básico no país, com a meta
de atingir 99% de cobertura para os serviços de água e 90% para os serviços de
saneamento até 2033.
Os bancos públicos nacionais, como o BNDES ou a Caixa, são responsáveis pela gestão
dos recursos públicos, destinando os recursos para o financiamento de projetos de
desenvolvimento e inclusão social. Outra forma de financiamento de infraestrutura
são as IFIs (bilaterais ou multilaterais), que administram uma carteira de fundos
internacionais, com a premissa de trazer recursos financeiros para melhorar as
condições de vida dos países em desenvolvimento (Alaerts, 2019).
Os municípios também podem formar consórcios por agregação entre vários municípios,
e a sua gestão pode ser direta, indireta ou delegada. Nas áreas metropolitanas -
e após uma longa discussão no Supremo Tribunal de Justiça - foi decidido que a
propriedade dos serviços de saneamento básico poderia ser compartilhada entre
estados e municípios (Sampaio & Sampaio, 2020).
No entanto, já havia serviços municipais nas principais cidades do país operados por
um provedor municipal ou por um provedor comunitário. Em meados da década de
1980 e no início da década de 1990, o setor privado começou a participar da provisão
dos serviços, registrando alguns exemplos de sucessos e fracassos. Atualmente, a
tendência de privatização voltou com mais força e apetite por uma política mais
consolidada, mais segurança jurídica e melhor mitigação de riscos, e motivada pela
necessidade de grandes investimentos para expandir e universalizar os serviços de
saneamento básico. Deve-se citar também instituições de relevância no meio rural,
como o Sistema Integrado de Água e Saneamento Rural (SISAR), criado para gerenciar
o saneamento básico nas áreas rurais dos estados do Ceará (1996) e Piauí (2003).
3
Módulo
Políticas Públicas
3
Processo de concessão e/
ou gestão de projetos de
saneamento básico
Unidade 1. Gerenciamento de saneamento básico
VÍDEO
O processo de concessão e a gestão no setor de saneamento básico
https://cdn.evg.gov.br/cursos/492_EVG/videos/videos_modulo03_
video01.mp4
Legenda: https://cdn.evg.gov.br/cursos/492_EVG/legendas/videos_
modulo03_video01.vtt
Em janeiro de 2017, foi lançado pelo Ministério das Cidades o documento “Plano
Municipal de Saneamento Básico: Instrumento da Política e da Gestão dos Serviços”,
o qual apresenta o panorama dos Planos Municipais de Saneamento Básico no
Brasil. Considerando as metas estipuladas no Plano Nacional de Saneamento Básico
– Plansab, o indicador “porcentagem de municípios brasileiros com Plano” projetava
32% em 2018, 51% em 2021 e 90% em 2033. O resultado apurado pelo Panorama em
outubro de 2016 considera que 30% dos municípios brasileiros declararam possuir
o Plano. Se considerar os municípios que declararam estar elaborando o plano, esse
patamar sobre para 68%. A Figura 10 e a Tabela 1 apresentam a sistematização dos
resultados obtidos no Panorama.
Legenda:
Possui PMSB Inconsistência
https://antigo.mdr.gov.br/images/stories/ArquivosSNSA/Arquivos_PDF/
panorama_planos_municipais_de_saneamento_basico.pdf
Sendo assim, compete ao titular dos serviços a definição da forma e metodologia para
o desenvolvimento do plano de saneamento básico, seja ele de caráter municipal,
regional ou estadual. Observa-se também, com base no § 5º, art. 19 da LNSB que
“será assegurada ampla divulgação das propostas dos planos de saneamento básico
e dos estudos que a fundamentem, inclusive com a realização de audiências ou
consultas públicas”. Portanto, a participação social, que pode ocorrer em diferentes
níveis, tem sido entendida como uma tendência positiva (exigência legal) ao tornar o
desenvolvimento urbano mais participativo. Além disso, a partir da Lei nº 11.445 e da
demanda para elaboração de planos municipais de saneamento básico, abre-se para
o potencial de vir a se constituir em importante meio de envolvimento da sociedade
na problemática do setor (Heller et al., 2007).
Quanto ao prazo para os gestores locais elaborarem o PMSB, este foi prorrogado
por meio do Decreto Federal 10.203/2020, com prazo limite fixado para a data de 31
de dezembro de 2022. Observa-se que, uma das condições de acesso dos titulares
dos serviços aos recursos de financiamentos geridos ou administrados por órgão
ou entidade da Administração Pública federal, quando destinados a serviços de
saneamento básico, é o PMSB concluído e aprovado pelo Poder Legislativo.
A LNSB também prevê no art. 19, § 4º, que os planos de saneamento básico serão
revistos periodicamente, em prazo não superior a 10 (dez) anos, anteriormente à
elaboração do Plano Plurianual, observa-se que esta é uma forma de assegurar os
recursos necessários à sustentabilidade econômica e financeira dos serviços.
Cabe destacar que estes são serviços públicos, muitas vezes com custos elevados se
torna obrigatória a cobrança pela prestação de cada uma dessas atividades. Inclusive
a cobrança é obrigatória por força de Lei, resultando em improbidade administrativa
caso não seja praticada.
De forma que a cobrança por serviços de Resíduos Sólidos Urbanos deverá ser
instituída pelo titular do serviço até julho de 2021 conforme definido no §2º,
art. 35 da Lei nº 14.026/2020. Ou seja, no prazo de 12 meses de vigência da Lei,
ou configurará renúncia de receita.
• Abastecimento de água;
• Esgotamento sanitário;
• Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos; e
• Drenagem e manejo de águas pluviais.
A descrição do sistema financeiro contidos nos PMSB, deve incluir a política tarifária
adotada e estruturas tarifárias vigentes com base nas séries históricas dos últimos
anos, objetivando verificar as receitas operacionais diretas (taxas e tarifas) e indiretas
(venda de serviços, multas, etc.), as receitas não operacionais (aplicações financeiras,
venda de ativos, etc.), as despesas de exploração (pessoal, energia elétrica, produtos
químicos, materiais, serviços de terceiros, serviços gerais e fiscais), os serviço da
dívida (amortizações, despesas financeiras com respectivos financiadores, etc.), o
orçamento anual de custos e os investimentos previstos e realizados nos sistemas;
iii) avaliação da capacidade de endividamento e a disponibilidade de linhas de crédito
que contemplem o município e seus projetos e ações; e iv) análise da necessidade de
destinação de recursos orçamentários, do prestador ou do município, para viabilizar
a adequada prestação e manutenção dos serviços, conforme as metas e programas
estipulados no PMSB.
Cabe ressaltar que para ofertar este serviço com eficiência e todos estes critérios, para
além dos custos, são necessários investimentos, que também devem ser assegurados
pela tarifa, o que muitas vezes pode causar desequilíbrio econômico-financeiro para
prestação do serviço.
Não é difícil encontrar situações nas quais a tarifa de equilíbrio praticada possibilita
apenas recuperar os custos e despesas incorridos na prestação dos serviços,
comprometendo assim ampliação para a universalização do acesso para aqueles
que não são atendidos bem como a qualidade do serviço ofertado, pois, nestes casos,
os investimentos não estão assegurados pela tarifa de equilíbrio. Essa prática pode
inviabilizar os investimentos projetados no PMSB para a ampliação e a manutenção
do serviço prestado sendo, no longo prazo, um problema que afeta a todos.
Essa definição caracteriza o Fluxo de Caixa Livre (FCL), que indica o valor disponível
para a empresa no saldo de caixa, após considerados os investimentos. O referido
modelo fundamenta sua projeção em três grupos de variantes: (a) receitas; (b) custos
operacionais e impostos; e (c) investimentos. A análise do modelo econômico-financeiro
adotado observa as seguintes expressões algébricas:
RTn = CTn + Tn + In
FCLn = RTn – CTn – Tn - In
O Valor Presente Líquido (VPL) do projeto é a soma dos valores presentes de cada
um dos fluxos de caixas da vida do projeto: tanto os positivos quanto os negativos
(Damodaran, 2004), ou seja, é a equação matemático-financeira capaz de determinar
o valor presente de pagamentos futuros descontados a uma taxa de juros (ou taxa
de remuneração) apropriada, menos o custo do investimento inicial.
Essa situação requer do regulador especial atenção sobre o cumprimento das metas
estabelecidas no PMSB, pois o descumprimento de qualquer uma das metas projetadas
influencia diretamente na tarifa de equilíbrio.
O PMSB é estabelecido por Lei municipal e, uma vez que suas metas estejam
incluídas na composição da tarifa de equilíbrio, o cumprimento das ações
planejadas no PMSB deve ser realizado.
Em alguns casos no setor de saneamento, o PMSB é utilizado como base para o contrato
de concessão, onde a projeção de receita, custo, despesa, tributo e investimento para
cada ano do plano é incorporado ao fluxo de caixa da concessão, que será regulado
pela agência ano após ano.
Desde 2010, a OCDE tem apresentado evidência empírica sobre as principais falhas
de governança que dificultam a formulação e a implementação de políticas da água,
e sugeriu um conjunto de respostas e boas práticas para superá-las.
Lidar com os desafios atuais e futuros requer políticas públicas mais robustas, visando
objetivos mensuráveis de acordo com calendários pré-determinados e à escala
adequada, baseadas numa clara atribuição de competências a todas as autoridades
responsáveis e sujeitas a monitorização e avaliação periódicas.
Figura 13. Visão geral dos Princípios da OCDE para a Governança da Água.
Fonte: OCDE.
O Banco Mundial desde 1994 vem discutindo com alguma profundidade essas
abordagens e as variações sobre elas. Ele identifica os contratos de serviço e o
gerenciamento com o setor privado como precursores potencialmente úteis para
concessões e PPPs mais abrangentes. Porter (1996) fornece análises detalhadas de
todas essas abordagens com especial referência à experiência internacional nos
setores de água e saneamento caracterizando, de maneira detalhada, os contratos de
serviço, contratos de gestão, contratos de locação, tipos de contratos BOT, contratos
de concessão e; tipos de contratos BOO, para o setor.
O setor público
Tradicionalmente, o único fornecedor de serviços urbanos, este setor está dando um
"recuo" da prestação de serviços para funções indiretas críticas, como orientação política
e regulação para garantir que os serviços urbanos beneficiem todos. Os principais
intervenientes incluem ministérios, reguladores, empresas (prestadores) e órgãos
O setor privado
O espectro inclui operadores internacionais de pequeno, médio e grande porte, que
se esforçam para prestar um serviço eficiente para assegurar um retorno adequado
sobre o capital. Os fornecedores independentes de pequena escala operam com a
mesma razão de lucro que as empresas multinacionais e têm sido altamente flexíveis
no uso de tecnologias e em preços, o que contribui, para atender áreas pobres.
A comunidade
Este grupo inclui Organizações baseadas na comunidade - CBO’s e organizações não
governamentais - NGO’s, que são inovadores, criativos e flexíveis na consecução de
seus objetivos sociais na prestação de serviços e ajudam a promover os problemas
para o governo e o público através de grupos de defesa. Outros parceiros, como
a mídia, os grupos de lobby da sociedade civil, as ONG globais e a comunidade
acadêmica, também devem se juntar a essas parcerias para manter a pressão para
mudanças e sustentabilidade.
Desta forma, os termos de parceria entre o setor público e o privado, devem ser
delineados em um documento que sistematiza as relações, os procedimentos e as
ações entre as partes durante a execução do contrato.
Sendo assim, as atividades internas incluem governança por contrato, análise e coleta
de informações, administração de contratos e avaliações periódicas, já as atividades
externas incluem gerenciamento e solução de conflitos e problemas, gerenciamento
de informações, gerenciamento de conhecimento, monitoramento de desempenho,
planejamento de contingência e gerenciamento de mudanças, segundo Marques
(2017). Essa abordagem é apresentada na Figura 17.
O Governo Nacional pode contribuir com incentivos, de diversas formas, por ser um
agente muito diversificado, incluindo o aumento das receitas fiscais para gastá-las
de forma equitativa e econômica, bem como coordenar e canalizar financiamento de
Castro, J. E. (2015). The Integrated Rural Sanitation System (SISAR) in Brazil, WATERLAT-
GOBACIT Network Working Papers. Newcastle, United Kingdom.
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London, UK. https://doi.org/10.4324/9781849773751
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doi.org/10.1016/j.jup.2017.04.003
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Narzetti, D. A. & Marques, R.C. (2020). Models of subsidies for water and sanitation
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