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JURISPRUDENCIA

AGRAVO DE PETIÇÃO N.o 37.622 - RJ


Relator: O Sr. Ministro José Néri da Silveira
Agravante: Velia Boschi Cardona
Agravada: União Federal
EMENTA
Títulos cambiais.
Circulação em condições proibidas pela Lei n. o
4.728, de 14-7-1968, art. 17.
Multa prevista no § 4. o do art. 17 da Lei n. o 4.728.
Títulos emitidos pela Companhia Siderúrgica
Mannesmann, a 18-9-1963, na vigência da Lei n. o
4.242, de 17-7-1963, art. 78 e seu § 1.0, não registrados
de acordo com o Decx:eto-Lei n. o 286, de 28-2-1967,
art. 1?, nem na forma da Resolução n? 24, de 31-5-
1966, item I, do Conselho Monetário Nacional.
Portadora que pretendeu cobrá-los, em ação or-
dinária, contra a emitente.
Incidência do disposto no art. 4. o do Decreto-Lei
n. o 697, de 23-7-1969.
Multa devida.
Executivo fiscal procedente.
Agravo da ré desprovido.
Recurso de ofício conhecido, como se interposto
fora, e provido, em ordem a aplicar o disposto no
art. 1.0, do Decreto-Lel n.o 1.025, de 21-10-1969.
ACORDA0 tório e notas taquigráficas preceden-
tes. que ficam fazendo parte inte-
Vistos, relatados e discutidos estes grante do presente julgado.
autos, em que são partes as acima
indicadas: Custas como de lei.
Decide a Terceira Turma do Tri-
bunal Federal de Recursos, por una- Brasília, 22 de setembro de 1975
nimidade, negar provimento ao (Data do julgamento). - Ministro
agravo e conhecer do recurso de ofí- Armando Rollemberg, Presidente -
cio como se interposto fora, dando- Ministro José Néri da Silveira, Rela-
se-lhe provimento, na forma do rela- tor.
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RELATORIO expressa disposição da Lei n?


4.242/63.
O Sr. Ministro José Néri da
Silveira: O ilustre Dr. Juiz F'ederal, No que tange à isenção fiscal
às fls. 24-25, resumiu a espécie dos pretendida nos embargos, esclare-
autos, nestes termos: ce que a executada não cumpriu as
determinaçôes legais que exigiam
«A Faz~nda Nacional propôs exe- o registro dos títulos no Banco Cen-
·cutivo fiscal contra Velia Boschi tral, de forma que assumiu, assim,
Cardona, para cobrança de multa a embargante, inteira responsabili-
imposta na forma estabelecida no dade.
art. 17, § 4?, da Lei n? 4.728/65,
combinado com o art. I? do Após o atendimento do despacho
Decreto-Lei n? 286/67, art. 4? do de fls. 23, de regularizar o instru-
Decreto-Lei n? 697/69; e art. I? da mento de fls. 15, os autos vieram
Lei n? 5.421/68, a que se refere o conclusos.»
processo administrativo n? A sentença, às fls. 25-28, deu pela
36.502/72, oriundo de Notificação improcedência do executivo fiscal e
feita pela Gerência do Mercado de insubsistência da penhora, pelos se-
Capitais do Banco Central do Bra- guintes fundamentos:
sil. «É indiscutível que à data da
emissão dos títulos mencionados
A executada foi regularmente ci- nos embargos e na impugnação, já
tada e, não pâgando incontinenti, vigorava a Lei n? 4.242/63, mas,
foi lavrado o auto de penhora que menos certo não é que a legiSlação
está às fls. 8. Embargando (fls. 10- baixada posteriormente procurou
14), que não cometeu qualquer in- dar solução ao assunto que teve,
fração e que, se o tivesse feito, de como se sabe, grande repercussão
há muito estaria prescrito o direito no mercado de capitais.
da exeqüente pretender cobrar-lhe. o art. 17, da Lei n? 4.728/65, de
Além do mais, recentemente a pe- fato, determinou que:
nalidade teria sido anistiada.
As Empresas que, na data da pu-
Após sustentar a nulidade da de- blicação desta Lei, tiverem em cir-
cisão administrativa, porque a pe- culação títulos cambiais com a sua
nalidade foi in.posta sumariamen- responsabilidade em condiçôes
te, esclarece que o investimento proibidas por esta Lei, poderão ser
que fez no Mercado de Capitais, de autorizadas pelo Banco Central a
cambiais da Cia. Siderúrgica Man- continuar a colocação com a redu-
nesmann, há cerca de dez anos, ção gradativa do total dos papéiS
custou-lhe prejuízo total, hoje esti- em circulação desde que, dentro de
mado em Cr$ 8.000,00, de sorte' que' 6G dias o requeiram, com a indica-
não é possível a Fazenda pretender ção do valor total dos títulos em
receber, ainda, a multa objeto do circulação e a apresentação da
presente executivo. proposta de sua liquidação no pra-
.zo de até 12 (doze) meses, prorro-
A Fazenda NaCional impugnou gável, pelo Banco Central, no caso
os embargos (fls. 17-22), sustentan- de comprovada necessidade, nc
do que a emissão dos títulos subs- máximo, por mais 6 (seis) meses.»
critos pela embargante foi efetua- Ora, é o investidor de boa fé que
da fraudulentamente, contrariando o Banco Central do Brasil procurou
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proteger, baixando a Resolução n? que antes, satisfizesse o pagamen-


24, que deferia aos portadores dos to da multa.
títulos mencionados oportunidades É, assim, a, única penalidade que
de solicitarem o registro, no prazo a Lei impôs à executada. Não po-
de sessenta dias: derá negociar, transferir, cobrar
ou alienar os títulos, porque não os
«1 - Quando as Empresas res- registrou na época própria. Se o
ponsáveis por títulos cambiais em fizer agora, estará sujeita, aí sim,
circulação em condições proibidas às penas de multa, correção mone-
pela Lei n? 4.728, de 14-7-65, não te- tária, etc.
nham, por qualquer motivo, se uti-
lizado da faculdade prevista no § 2? Em que pese o brilhantismo da
do art. 17 do referido diploma le- defesa produzida pelo ilustre re-
gal, poderão os portadores de títu- presentante da Fazenda Nacional,
los para efeito do que dispõe a os embargos convenceram.
alínea VI, do Artigo 3? da Lei n~
4.728, solicitar diretamente o regis- A própria exeqüente forneceu, na
tro ao Banco Central dentro do impugnação de fls. 17/22, os melho-
prazo de 60 dias a contar desta da- res elementos de convicção do Juiz
ta (31-5-66).» para concluir pela total improce-
dência do executivo.
Como se sabe, o investidor não
poderia apresentar proposta de li- Ante o exposto e considerando o
quidação, sem que tivesse promo- mais dos autos, julgo procedentes
vido, isto sim, a sua inscrição no os embargos . .Improcedente o Exe-
Banco Central. cutivo e insubsistente a penhora,
condenando a exeqüente nas custas
Além do mais, o art. 4? do e em honorários de advogado que
Decreto-Lei n? 697/69, determina arbitro em 5% sobre o valor dado à
que: causa.»
«Art. 4? - Os títulos não registra- A par do recurso de ofício, agravou
dos na forma do Decreto-Lei n? a União Federal, às fls. 30-32: (lê).
286/67, não poderão ser objeto de
transação ou cobrança judicial
sem o prévio pagamento da multa Contraminuta da ré, de fls. 35-39:
prevista no § 4? do art. 17 da Lei n? (lê) .
4.728/65, acrescida da correção
monetária, segundo os índices fixa- O Dr. Juiz Federal a quo, no des-
dos para a cobrança da dívida ati- pacho de fls. 50-51, modificou os ter-
va da Fazenda Nacional, calculada mos e conclusões da sentença, para
a partir do vencimento do prazo fa- dar pela procedência do executivo
cultado para o registro pelo art. 1? fiscal, com a condenação da ré no
do Decreto-Lei n? 286, de 28-2- pedido, custas e honorários de advo-
1967.» gado de 5% sobre o valor da causa.

Ora, se a legislação mais moder- Pediu, na forma da lei processual,


na tratou da matéria e deu-lhe no- a ré a subida dos autos ao TFR (fls.
va orientação, não hâ que se falar 53).
em penalidade imposta anterior-
mente porque, como se viu, ficou a A douta Subprocuradoria-Geral da
executada impossibilitada de co- República, às fls. 57/61, requer o co-
brar o valor dos seus títulos sem nhecimento e provimento do recurso
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de ofício, para aplicar-se o disposto nal desse prazo, à multa C(,"-~~illada


no art. I?, dp Decreto-Lei n? 1.025, de no § 4? do mesmo art!~o que será
1969. Quanto ao mérito, a confirma- aplicada pelo Banco Central da Re-
ção da decisão de fls. 50-51. pÚblica do Brasil e cobrada pela
E o relatório. Fazenda Nacional»,
nem na forma da Resolução n? 24, de
VOTO 31 de maio de 1966, do Conselho Mo-
netário Nacional, cujo item I, esta-
O Sr. Ministro José Néri da beleceu, verbis:
Silveira (Relator): Trata-se de exe-
cutivo fjscal movido pela Fazenda «l - Quando as Empresas res-
Nacional contra portador de títulos ponsáveis por títulos cambiais em
emitidos pela Companhia Siderúrgi- circulação em condições proibidas
ca Mannesmann, a 18.9.1963, na vi- pela Lei n? 4.728, de 14.7.65, não te-
gência, assim, da Lei n? 4.242, de nham, por qualquer motivo, se uti-
17.7.1963, cujos art. 78 e seu § I? re- lizado da faculdade prevista no § 2?
zam, verbis: do art. 17 do referido diploma le-
gal, poderão os portadores de títu-
«Art. 78. - E vedada às pessoas los para efeito do que dispõe a
jurídicas a prática habitual de co- alínea VI, do art. 3? da Lei n? 4.728,
locação ou negociação, junto ao pú- solicitar diretamente o registro ao
blico, de letras de cãmbio ou notas Banco Central dentro do prazo de
promissórias que não tenham a 60 dias a contar desta data
coobrigação de instituições finan- (31.5.1966) .»
ceiras autorizadas a funcionar no A sua vez, o Decreto-Lei n?
País. 286/1967, em seu art. 2?, estabeleceu:
§ I? - A infração do disposto «Art. 2? - Não se aplicará a san-
neste artigo sujeitará os coobriga- ção prevista no § 4? do art. 17 da
dos a tomarem a multa igual ao Lei n? 4.728, de 14 de julho de 1965:
valor do título, independentemente
de outras sanções legais».
Insurgindo-se contra a cobrança IH - Nos casos de títulos cam-
da multa, nos embargos, a ré não biários já registrados no Banco
sustenta o fato de estarem registra- Central da República do Brasil,
dos os títulos, de que portadora& nos por iniciativa dos portadores, nos
termos do ar~. I? do Decreto-Lei n? termos da Resolução n? 24, de 31
286, de 28.2.1967, que dispôs: de maio de 1966, do Conselho Mo-
netário Nacional.»
«Art. I? - As empresas que te-
nham em circulação títulos cambiá- Sucede, de outra parte, que a ré,
rios de sua responsabilidade em conquanto sem registro os títulos de
condições proibidas pelo art. 17 da que portadora, emitidos com infra-
Lei n? 4.728, de 14 de julho de 1965, ção ao art. 78 e seu § I?, da Lei n?
na data da publicação deste 4.242, de 17.7.1963, pretendeu cobrá-
Decreto-Lei, fica assegurado o pra- los em ação ordinária, proposta con-
zo improrrogável de 30 (trinta) tra a Cia. Siderúrgica Mannesmann,
dias para atenderem ao que pre- no foro de Belo Horizonte, M.G. (fls.
ceitua o § 2? do mencionado art. 17, 43/45), cabendo, assim, em favor da
sob pena de ficarem sujeitas, ao fi- autora, a invocação doDecreto-Lein?
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697, de 23.7.1969, cUjo art. 4? precei- de modo a assegurar opção aos to-
tua: madores para converter seus cré-
«Art. 4? - Os títulos não regis- ditos em ações ou cotas de capital
trados na forma do Decreto-Lei n? da .empresa devedora, opção váli-
286, de 28.2.1967, não poderão ser da até a data do vencimento dos
objeto de transação ou cobrança respectivos títulos.»
judicial sem o prévio pagamento E o que se lê, às fls. 20:
da multa prevista no § 4? do art. 17 «Em face da faculdade concedi-
da Lei n? 4.728, acrescida de corre- da pelo Decreto-Lei n? 286, a Com-
ção monetária, segundo os índices panhia Siderúrgica Mannesmann
fixados para a cobrança da dívida apresentou uma proposta de liqui-
ativa da Fazenda Nacional, calcu- dação dos títulos, que foi aprovada
lada a partir do vencimento do pelo Banco Central, o qual, para is-
prazo facultado para ~ registrope- so autorizou uma emissão específi-
lo art. I? do Decreto-Lei n? 286, de ca de debêntures a serem utiliza-
28.2.67.» das no resgate das promissórias,
Releva observar, de outra parte, desde que os títulos estivessem re-
no caso concreto da Cia. Siderúrgica gistrados naquele Banco de acordo
Mannesmann, haver esta, no povo com a aludida Resolução n? 24, de
prazo do art. I?, do Decreto-Lei n? 12.6.1966.
286, de 28.2.1967, aludido ao disposto Desse modo, a Companhia Side-
no art. 17, § 2?, da Lei n? 4.728, de rúrgica Mannesmann ficou isenta
14.7.1965, verbis: do pagamento de multas, desde a
«As empresas que, na data da data da aprovação de sua proposta
pUblicação desta lei, tiverem em pelo Banco Central.
circulação títulos cambiais com Também ficaram isentos de mul-
sua responsabilidade em condições ta os portadores que se haviam uti-
proibidas por esta Lei, poderão ser lizado da faculdade de registro de
autorizadas pelo Banco Central a títulos concedida pela Resolução n?
continuar a colocação com a redu- 24 e ratificada pelo Decreto-Lei
ção gradativa do total dos papéis 286/67.»
em circulação, desde que dentro de Dessa sorte, in hoc casu, a multa
60 (sessenta) dias o requeiram, prevista no art. 17, § 4? da Lei n?
com a indicação do valor total dos 4.728, de 14.7.1965, verbls:
títulos em circulação e apresenta-
ção da proposta de sua liquidação «§ 4? - A infração ao disposto
no prazo de até doze (12) meses, neste artigo sujeitará os emiten-
prorrogável, pelo Banco Central, tes, cóobrigados e tomadores de
no caso de comprovada necessida- títulos de créditos a multa de até
de, no máximo, por mais 6 (seis) 50% (cinquenta por cento) do valor
meses,» do título,
sendo admitida a proceder consoante foi cobrada regularmente pelo Banco
o § 3? do mesmo artigo, que reza: Central do Brasil, ao ensejo em que
«§ 3? - As empresas que utiliza- a ré pretendeu ainda cobrar os titu~
rem a faculdade indicada no pará- los, pois, a tanto, autorizada a exi-
grafo anterior poderão realizar as- gência, a teor do suso transcrito art.
sembléia geral ou alterar seus con- 4? do Decreto-Lei n? 697, de 23.7.1969,
tratos sociais, no prazo de 60 (ses- dado que a ré 'não provou estivessem
senta) dias da vigência desta Lei, os mesmos registrados para ser dela
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dispensada, na forma do art. 2?, IlI, «Em face da faculdade co:;::.:.edi-


do Decreto-Lei n? 286, de 28.2.1967, da pelo Decreto-Lei n? 286. a Com-
que dispôs sobre a regularização de panhia Siderúrgica Mannesmarm
emissões ilegais de títulos, dando ou- apresentou uma proposta de liqui-
tras providências. dação dos títulos, que foi aprovada
Destacou, ademais, a douta Sub- pelO Banco Central, o que para is-
procuradoria-Geral da República, às so, autorizou uma emissão es-
fls. 57/60: pecífica de debêntures, a serem
utilizadas no resgate das promissó-
rias. Desse modo, a Companhia Si-
«lI. A matéria já mereceu apre- derúrgica Mannesmann ficou isen-
ciação do E. Tribunal, ao julgar o ta do pagamento de multas, desde
agravo de petição n? 35.692, em 18 a data de aprovação de sua propos-
de fevereiro de 1974, quando sus- ta pelo Banco Central. Também fi-
tentou o ilustre Ministro Jorge La- caram isentos de multa os portado-
fayette Guimarães: res que se haviam utilizado da fa-
culdade de registro de títulos con-
«A fundamentação da sentença, cedida pela Resolução 24 e ratifica-
desenvolvida em torno à existência da pelo Decreto-Lei n? 286/67.»
de registro dos títulos efetuados
pela empresa emitente, na forma A aludida dispensa da multa, po-
do Decreto-Lei 286, de 1967 e art. rém, está sempre subordinada à
17, § 2?, da Lei n? 4.728, de 1965, existência de registro dos títulos
não pode prevalecer porque, na não obstante a redação pouco clara
verdade, não há prova alguma des- da mencionada peça.
se registro, que não é de presumir.
Mas, se assim não fosse, jamais
o trechoda impugnação aos em- poderia o Procurador da República
bargos, onde teria o Dr. Procura- confessar, salvo quando autorizado
dor da República reconhecido sua pelo Procurador-Geral (art. 23, da
existência, não tem essa significa- Lei 1.341, de 1951).
ção, como acentua o parecer da Por outro lado, não há nos autos
Subprocuradoria-Geral da Repúbli- a menor prova, ainda indiciária,
ca. do registro dos títulos aos quais se
refere a multa em cobrança.
Assim, depois de afirmar a im- «É de ressaltar, outrossim, que
pugnação aos embargos bem rejeitou a sentença a argüída
retroatividade da multa, pois a
«Ocorreu que, várias Empresas proibição da colocação habitual de
inclusive a Companhia Siderúrgica títulos, no mercado, sem interven-
Mannesmann, não se utilizaram da ção de instituições financeiras,
faculdade prevista no § 2? do men- provém da Lei n? 4.242, de 1963
cionado artigo 17, ficando portanto (art. 78, punida a infração com
passíveis da cobrança da multa es- multa de valor igual ao título (§
tipulada no § 4? do mesmo artigo» e 1?), proibição repetida no art. 17,
de mencionar as normas posterio- da Lei n? 4.728, de 1965, que
res à Lei n? 4.728, de 1965, que per- reduziu-a, porém, a 50'%, não pro-
mitiram aos portadores dos títulos vando, também, o agravado qual a
registrá-los, quando a empresa não data da emissão dos títulos, ônus
o houvesse feito, com menção espe- que é seu, pOis lhe cabe ilidir a pre-
cial ao Decreto-Lei 286, de 1967, sunção de liquidez e certeza decor-
acrescentou (fls. 28): rente da inscrição da dívida.
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Assim sendo, dou provimento aos to jurídico as alegações da embar-


recursos para reformar a sentença gante, «eis que é portadora de títu-
e julgar procedente o executivo, los cambiais, emitidos com infra-
nos termos do pedido.» ção da legislação respectiva e que
IH. Igualmente o MM. Juiz foi foram apensados nos autos da ação
preciso, quando reexaminando a ordinária, proposta contra a Cia.
hipótese, decidiu: Siderúrgica Mannesmann no foro
de Belo Horizonte (MG).»
«De fato, conforme salientou o
nobre Dr. Procurador da Repúbli- As alegações da embargante,
ca, «dúvida não há, com efeito, portanto, não convencem, por falta
que o assunto deve ser considerado de amparo legal. Isto posto e consi-
à luz do § 1? do art. 78 da Lei n? derando o que mais dos autos cons-
4.242/63, com o abrandamento ope- ta, julgo procedente o executivo e
rado pela Resolução n? 24/65, do subsistente a penhora, rejeitados
Banco Central, expedida em conso- os embargos, condenando a execu-
nância com as Leis 4.728/65 e tada no pedido, custas e honorários
4.595», fls. 31. «Foram cumpridas de advogado que fixo em 5% sobre
todas as formalidades pertinentes, o valor da causa.»
originando a penalidade adminis- Nego, pois, provimento ao agravo
trativa em causa o fato de haver a da ré.
executada proposto no foro de Belo Conheço do recurso de ofício como
Horizonte uma ação ordinária ins- se interposto fora para provê-Io, em
truída com títulos não registrados ordem a aplicar o disposto no
no mencionado Banco Central. A Decreto-Lei n? 1.025, art. 1?, conde-
certidão de dívida de fls. 3 se refe- nando a ré a pagar a percentagem
re expressamente à infringência do de 20% sobre o valor do débito, fican-
art. 4? do Decreto-Lei n? 697, de mo- do, outrossim, nessa quantia, in-
do que não poderia a sentença, co- cluída a condenação a 5% de honorá-
mo o fez, julgar improcedente a rios advocatícios prevista na senten-
ação no pressuposto da inexistên- ça, conforme, em casos tais, tem a
cia da infraçâo capitulada no dis- Turma decidido.
positivo em apreço. Os documentos
agora apresentados, em homena-
gem ao Juízo, provam, como quer EXTRATO DA ATA
que seja, a infraçâo do art. 4? do
DL 697/69 nos próprios termos li- A.P. n? 37.622 - RJ - Rel.: Sr.
mitados da sentença, fls. 41/42». Min. José Néri da Silveira. Agte.:
A jurisprudência do Egrégio Tri- Velia Boschi Cardona. Agda.: União
bunal Federal de Recursos é Federal.
pacífica e torrencial:
Decisão: Por unanimidade, negou-
Ementa: «o débito fiscal prevale- se provimento ao agravo e conheceu-
ce, se o executado deixa de apre- se do recurso de ofício como se inter-
sentar prova capaz de elidí-lo» posto fora, dando-se-Ihe provimento,
(Diário da Justiça, 8.10.73). nos termos do voto do Sr. Ministro
Ementa: «Executivo Fiscal. So- Relator. (Em 22.9.75 - 3:' Turma).
mente prova inequívoca é capaz de
ilidir a presunção de liquidez e cer- Os Srs. Ministros Aldir G. Passari-
teza de que se reveste a dívida re- nho e Otto Rocha votaram de acordo
gularmente inscrita.» (DJ de com o Relator. Presidiu o julgamen-
8.10.73). Os documentos de fls. 43 a to o Exmo. Sr. Ministro Armando
46 evidenciam que não têm fomen- Rolemberg.
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AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 39.761- SC


Relator: O Sr. Ministro Justino Ribeiro.
Agravante: Instituto de Colonização e Reforma Agrária
Agravados: Comércio e Indústria Saulle Pagnocelli SI A, e outro.

EMENTA

rrocessual. Competência. Terras situadas na


faixa de fronteira.
Compete à Justiça Federal o julgamento das
ações de anulação de títulos ou reivindicatórias alu-
sivas a essas terras.

ACORDÃO que as questões do tipo geram pro-


blemas de interesse de segurança
Vistos, relatados e discutidos estes nacional (fls. 27).
autos, em que são partes as acima
indicadas: Indeferido esse pedido, interpôs o
presente agravo, em que disserta
Decide a Segunda Turma do Tribu- longamente sobre os mesmos temas,
nal Federal de Recursos, por unani- terminando por invocar decisão pro-
midade, dar provimento, na forma ferida por este E. Tribunal no C.C.
do relatório e notas taquigráficas 1.785-PR, in verbis:
precedentes que ficam fazendo par-
te integrante do presente julgado. «Compete ao Juiz Federal julgar
Brasília, 7 de novembro de 1979. ações reinvidicatórias promovidas
(Data do julgamento) - Ministro por particulares contra particula-
Moacir Catunda, Presidente - Mi- res a respeito de terras situadas ná
nistro Justino Ribeiro, Relator. faixa de fronteiras de propriedade
da União Federal - Interesse des-
ta e do INCRA». (Minuta de fls.
2/16).
RELATORIO Os agravados contraminutaram a
fls. 18 e 20. Os autos foram ao Egré-
O Sr. Ministro Justino Ribeiro: Em gio Tribunal de Justiça de Santa Ca-
ação de nulidade de escritura cumu- tarina, cuja 2~ Câmara Cível se deu
lada com reinvidicatória de terras por incompetente e os mandou para
situadas na faixa de fronteira, em aqui (fls. 108).
Xanxerê-SC, o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária ON- A douta Subprocuradoria-Geral da
CRA) requereu inicialmente seu in- República se reportou à petição do
gresso no feito como assistente da INCRA e opinou pelO provimento (fls.
autora (fls. 27v). Depois, entrou com 118).
exceção de incompetência absoluta É o relatório.
do Dr. Juiz Estadual, pretendendo o
deslocamento do feito para a Justiça VOTO
Federal, sob alegação de pertence-
rem ao domínio da União as terras O Sr. Ministro Justino Ribeiro (Re-
devolutas existentes na área e de lator): Sabido que o domínio da
TFR - 71 35

União compreende, na faiXa de fron- «Não obstante o ilustrado pare-


teiras, apenas as terras devolutas, e cer da Procuradoria da República,
que ao INCRA compete, antes de na primeira instância (fls.
mais nada, promover as ações dis- 322/331), que não encontrou apoio,
criminatórias dessas terras, a econo- aliás, da douta 1~ Subprocuradoria-
mia processual e o desafogo da Jus- Geral da República, nas duas opor-
tiça Federal tornariam recomendá- tunidades em que se manifestou,
vel que, em princípio, só as ditas não tenho a menor dúvida de que
ações discriminatórias e casos espo- as terras em litígio se encontram
rádicos em que a própria União Fe- integralmente dentro da faixa de
deral dispusesse de dados para in- fronteira, a curta distância,
gressar çomo opoente nessas conten- ressalte-se, da fronteira do Brasil
das particulares, tivessem tramita- com o Paraguai.
ção na referida Justiça. Até porque,
ausente a União e o INCRA dessas
contendas, em nada lhes afetariam o interesse da União, proclama-
as decisões nelas proferidas. A ,qual- do, com veemência, pela digna
quer tempo, provando tratar-se de Subprocuradoria-Geral da Repúbli-
terras devolutas, poderiam promo- ca em seu ilustrado parecer, que
ver a anulação dos títulos e registros adoto e passa a fazer parte inte-
delas resultantes. grante deste voto, é manifesto.
Também há interesse do INCRA,
autarquia federal, conforme de-
Todavia, o entendimento deste E. monstrado nos autos e sali.entado
Tribunal tem sido no sentido do aco- no referido parecer.
lhimento da tese do INCRA. Além do
acórdão citado na petição de agravo,
cumpre lembrar a recente decisão Por essas razões, julgo improce-
proferida no C.C. 3.351, com a seguin- dente o presente Conflito e dedlaro
te ementa: competente o MM. Juiz FedemI da
Seção Judiciária do Mato Grosso».
«Processo Civil - Competência Nestas condições, dou provimento
- Terras - Faixa de Fronteira. para cassar a decisão agravada, de-
clarando competente a Justiça Fede-
É competente a Justiça Federal ral.
para o julgamento das ações cone-
xas de reinvidicação e de anulação EXTRATO DA ATA
de escritura referente a terras si-
tuadas dentro da faixa de frontei- Ag 39.761-SC - Rei.: Sr. Min. Jus-
ra, a curta distância, aliás da fron- tino Ribeiro. Agte.: INCRA. Agdas.:
teira do Brasil com o Paraguai, Comércio e Indústrias Saulle Pagno-
tendo em vista o interesse manifes- celli SI A e Outra.
tado nos autos pelo INCRA e pela
União Federal. Decisão: Deu-se provimento, unani-
memente (em 7 de novembro de 1979
Improcedência do conflito». -2~ Turma).

Vale transcrever o significativo Os Srs. Ministros William Patter-


voto do eminente Ministro son e Moacir Catunda votaram com
Washington BoUvar de Brito (Rela- o Relator. Presidiu o julgamento o
tor) unanimemente acolhido. Sr. Ministro Moacir Catunda
36 TFR - 71

APELAÇAO ClVEL N? 25.919-RJ


Relator: Ministro Moacir Catunda.
Revisor: Ministro Jorge Lafayette Guimarães.
Recorrente de Ofício: Juiz Federal Substituto da 1~ Vara.
Apelante: União Federal.
Apelada: Fábrica de Rendas Arp SI A
EMENTA
Imposto de Renda. Lançamentos suplementares
sobre importância paga a "procuradores". - Prova
- Sendo certo que os «procuradores» não manti-
nham relaçâo de emprego com a Autora, nâo tem
aplicaçâo ao caso a regra do inciso a do § 2?, do arti-
go 43, do Decreto 47.373, de 1953, consoante a qual as
percentagens dos empregados, nos lucros da empre-
sa, serâo excluídas do lucro real para efeito de tribu-
tação. Tratando-se de remuneração paga em percen-
tual certo, ajustado nos contrados, no interesse da
continuidade dos negócios, assistia à autora o direito
de deduzir as respectivas importâncias como despe-
sas operacionais, de acordo com o mandamento da
alínea a do art. 37, combinado com o artigo 43 do- ci-
tado Decreto 47.373, com vistas à apuração do lucro
real.
ACORDA0 Rua Buenos Aires, n? 291, nesta ca-
pital, propôs a presente ação ordi-
Vistos, relatados e discutidos estes nária contra a União Federal, para
autos, acordam os Ministros que anulação de lançamentos fiscais.
compõem a 1~ Turma do Tribunal Fe- A Delegacia Regional do Imposto
deral de Recursos, na conformidade de Renda na Guanabara, conforme
da ata do julgamento e das notas ta- o processo SC 237.417/66, prüITI oyeu
quigráficas retro, por unanimidade, os referidos lançamentos contra a
em negar provimento à apelação. Autora, que dos mesmos foi inti-
Custas como de lei. mada pelas notificações de prefixo
32, nOs 402.002, 402.003, 402.004 e
Brasília, 11 de novembro de 1977 402.016, todas datadas de 28 de ju-
(Data do julgamento, Ministro nho de 1967.
Márcio Ribeiro, Presidente - Minis- Tendo depositado na Delegacia
tro Moacir Catunda, Relator. Regional de Arrecadação na Gua-
nabara, para garantia de recurso
na esfera administrativa, o valor
RELATORIO integral dos lançamentos em
litígio, e querendo valer-se dele pa-
O Senhor Ministro Moacir Catunda: ra os fins do art. 430 do vigente Re-
Dr. Juiz a quo expôs e solucionou a gulamento do Imposto de Renda
matéria aos autos nos seguintes ter- (Decreto 58.400, de 1966), como lhe
mos: faculta o § 1? daquele dispositivo
«Fábrica de Rendas ARP SI A, regulamentar, requereu, prelimi-
sociedade comercial com sede à narmente, que não se converta em
TFR - 71 37

renda ordinária o depósito da empregados, ou profissionais autô-


quantia em litígio, efetivado no nomos se fez, em todos os casos
processo SC. 231.417/66, ficando à também, por ato exclusivo da Di-
disposição e ordem deste Juízo. retoria, sem intervenção da As-
Alega a autora que, pelo volume sembléia-Geral.
de suas atividades, foi levada a Observa a autora que a adoção
contratar os serviços de numero- do sistema de remuneração acima
sas pessoas físicas, sob diferentes descrito, no tocante aos profissio-
regimes de trabalho e de remune- nais liberais, foi a solução encon-
ração, concedendo a algumas o be- trada, não só porque não podia
nefício da participação nos lucros, prescindir ela da colaboração de
e estabelecendo, 'por isso mesmo, todos esses empregados, antes tra-
as seguintes modalidades contra- balhando para a firma ARP & Cia,
tuais: da qual se desmembrou, como foi
a) profiSSionais com relação de evitado o problema trabalhista que
emprego, tendo a remuneração re- resultaria da redução da remune-
presentada por um salário mensal ração dos empregados daquela fir-
fixo e uma partipação percentual ma, em resultado de os lucros de
nos lucros líquidos anuais, apura- parte do seu antigo parque indus-
dos em cada balanço financeiro; trial passarem a competir à nova
empresa.
b) profiSSionais autônomos, per-
cebendo honorários por serviço Entende (e jamais teve dúvidas,
prestado, acrescidos ou não de par- desde a sua fundação) que o preço
ticipação percentual nos lucros so- dos serviços a ela prestados por
Ciais; e. tais colaboradores, sendo dispêndio
c) profissionais autônomos, cuja necessário à prOdução dos lucros
remuneração corresponde a uma sociais e correspondendo a uma
partiCipação percentual fixa sobre obrigação contratual a que ela se
os lucros líquidos anuais. vincularia formalmente, constituía
despesa dedutível, para efeito de
Resumindo: os empregados vin- apuração do lucro tributável pelo
culados a esse regime recebem, imposto de renda, tanto que sem-
além da partiCipação nos lucros, pre o considerou em suas declara-
um salário mensal; os profissionais ções de rendimentos apresentadas
autônomos, honorários e participa- em sucessivos exercícios, estando
ção nos lucros, ou apenas a percen- escudada por outro lado, na legis-
tagem sobre os resultados sociais lação específica. que, a seu ver, au-
líquidos. toriza tal entendimento, verbi
Em todos os casos - esclarece gratia, os dispositivos regulamen-
- foram firmados contratos for- tares, declarando constituir lucro
mais de prestação de serviço, sob real a diferença entre o lucro e as
relação de emprego ou não. despesas relacionadas com a ati.vi-
Como, por outro lado, os serviços dade explorada, realizadas no de-
eram de natureza vária, e algumas curso do ano social e necessárias à
das pessoas contratadas necessita- percepção do lucro bruto e à ma-
vam ter na empresa, para o nutenção da fonte produtora.
exercício de suas atribuições, po- Arrima-se, ainda, em várias res-
deres de representação, foi-lhes ou- postas das repartições mesmas do
torgadO mandato, dando-se-Ihes a Imposto de Renda, as quais, con-
denominação de procuradores", sultadas sobre a hipótese, esclare-
sendo exato que a contração dos cem que:
38 TFR - 71

«as percentagens, honorários ou fração, abrangendO os exercI CIOS


outra atribuição que se lhe queira de 1959 a 1963, anos-base de 1958 a
dar, e que representem remunera- 1962, sob o fundamento de que os
ção aos não empregados na fonte profissionais autônomos, que pres-
pagadora, estarão sujeitas à inci- tavam serviços à empresa, seriam
dência do imposto à razão de "diretores de fato da sociedade",
10% ... ». pelo que devia ser levado à tributa-
«As gratificações ou remunera- ção o valor das remunerações pa-
ções a serem pagas a esses procu- gas aos mesmos, quandO ultrapas-
radores), embora representadas sassem os limites fixados no art.
por uma percentagem sobre os lu- 50, §§ 3? e 4? do Regulamento então
cros, não estão compreendidas na vigente. (Decreto 51.900/63).
restrição feita pelo referido art. 45, Efetivado o lançamento do im-
§ 3? da Lei 4.506 de 1964». posto e indeferida a reclamação
«0 empregado-procurador, além que dirigiu ao delegadO regional do
da remuneração normal, com- Imposto de Renda na Guanabara,
preendendo salários e 13? salário, recorreu a autora para a Primeira
tem uma percentagem como pro- Câmara do 1? Conselho de Contri-
curador, o que também consta de buintes, que negou provimento ao
seu contrato de trabalho (art. 245 a apelo, em aresto com a seguinte
e § úniCO). ementa:
Neste caso, não é o empregado- «Percentagem sobre lucros pa-
procurador eqilliparado a adminis- gos a pessoas que exercem fun-
trador, mesmo porque a procura- çôes de direção, com vínculo de
ção que lhe outorgou a consulente emprego na forma da legislação
tem poderes limitados, pois somen- trabalhista situam;-se nas limita-
te em conjunto com um diretor po- ções contidas no art. 43 § 1? alínea
derá representá-la e mesmo assim c do regulamento aprovado pelo
com restrições quanto aos atos e Decreto 51.900/1963. Inconforma-
ao prazo.». da, pediu a autora reconsideração
Estava, assim, a autora certa de desse julgado, que o 1? Conselho de
que os salários e honorários pagos Contribuintes manteve, pelo acór-
a seus empregados e aos profissio- dão n? 60.172/1967, com a seguinte
nais autônomos, que lhe prestam ementa:
serviços sej am os mesmos fixos ou
perc'entuais sobre os lucros, como
despesas reais que são, necessá- «EqUiparam-se a diretores os
rias à sua atividade industrial, procuradores nomeados para o
c6nstituiam custo operacional nos desempenho de atos de adminis-
termos da lei, do tributo, como, tração inerentes à diretoria da
também, de que os honoráriqs pa- empresa.»
gos aos referidos profissionais au- Esgotadas as instâncias adminis-
tônomos continuavam sujeitos à trativas, vem a autora bater às
retenção do imposto de renda na portas do Poder Judiciário através
fonte, à taxa de 10% e nessa con- da ação ora examinada.
formidade vinha se comportandO. Devidamente citada, ofereceu a
Entretanto, em setembro de União Federal sua contestação -
1963. recebeu a visita da fiscaliza- fls. 62/65, pedindO a improcedêp.cia
ção do imposto de renda, da qual da ação. Réplica à fls. 73/75. Sanea-
resultou a lavratura de Auto de In- dor irrecorrido na fls. 76.
TFR - 71 39

Audiência de instrução e julga- trabalho. (Boletim do Ministério do


mento realizada a 13 de fevereiro Trabalho, col. 33. Págs. 100 e 109).
próximo passado. De fato, apesar de possuírem ca-
Tudovisto e'examinado. racterísticas inconfundíveis, a pos-
Resolveu o 1? Conselho de Contri- sibilidade de coexistência dos dois
buintes, no acórdão a que se refere contratos, vinculados simultanea-
a ementa acima transcrita, apre- mente à mesma pessoa, dificulta,
ciar a figura jurídica do mandato não raro, a identificação da rela-
que, advertiu, ajudaria a tirar ila- ção jurídica no seu aspecto predo-
ções aplicáveis à espécie sob seu minante, adverte Orlando Gomes
julgamento. (Introdução ao Direito do Traba-
lho), pág. 156.
Lembrando que, no mandato, há
delegação de poderes, de tal pre- E como é possível o exercício
missa, foi logo à conclusão de que: cumulado do mandato e do contra-
to de trabalho?
«Com efeito, os diretores,
quando dirigem a sociedade, pra- Respondeu-o, em acórdão, a ex-
ticam atos de administração, tinta Câmara de Justiça do Traba-
mas se deferem por força de lho:
mandato. o desempenho desses
atos a terceiros estes. em verda- «Mais do que possível, é comum,
de, estão representando os dire- 'em certas organizações: Se o man-
tores nos atos que estroutos pra- datário eleito, ou nomeado, pratica
ticariam, caso não tivesse ocorri- atos indistintos de mandatário e de
do delegação de poderes.» empregados, é evidente a duplicida-
«Daí justificar-se a equipara- de de exercício. Assim, é fora de
ção feita pela repartição de ori- duvida que o contrato de trabalho
gem, invelando os procuradores pode subsistir cumulado com o
da Fábrica de Renda ARP SI A a mandado não sendo preciso grande
diretores desta». esforço de indagação no terreno da
doutrina, para chegarmos a essa
Oliveira Viana, estudando os conclusão, porquanto temos, na
contratos de trabalho, de empreita- prática, exemplos vivos dessa cu-
da e de mandato, mostrou que o mulação, na situação de emprega-
primeiro freqüentemente se con- dos, às vezes modestos emprega-
funde com o segundo ou com o ter- dos, com mais freqüência de firmas
ceiro; que vezes há mesmo em que individuais, que recebem do empre-
um e outro se reúnem numa mes- gador mandato mercantil para ser-
ma pessoa e num mesmo cargo, vir o negócio em sua ausência ou
acentuando, textualmente, «mas, a impedimentos, com poderes, até,
verdade é que o contrato de traba- de demitir a admitI' empregados,
lho tem uma caracterização jurídi- substituindo o empregador em to-
ca específica que o distingue, em dos os atos comercais, sem, contu-
tese, nitidamente, das duas outras do, perderem a qualidade de em-
espécies, com as quais ele anda as- pregado, uma vez que, presente o
sociado». E, acrescentou, «sabe- empregador, o verdadeiro chefe da
mos também que a condição do empresa, restringe-se a função do
mandatário não é incompatível preposto, voltando ele ao exercício
com a condição de empregado e do contrato de trabalho, apenas,
pOdem perfeitamente coexistir sem que tivesse deixado de
num mesmo ajuste comercial os exercitá-lo, cumulado com o man-
dois contratos: o de mandato e o de dato.
40 TFR - 71

Ora, no caso aqui examinado, pre estiveram mais prOXlmos de


confesa a outra queúpor exigência assemehação aos empregados pro-
de suas atividades industriais, da priamente ditos, pois que emprega-
comercialização de seus produtos e dos eles o são, à sua maneira, do
de sua própria organização empre- que aos diretores empresariais,
sarial» contratou os serviços de nu- aos quais estão subordinados.
merosas pessoas físicas, sob os re- Isto posto:
gimes diferentes de trabalho e re-
muneração descritos a fls. 3, sendo Considerando que os honorários
que, para exercíco de suas funções pagos àqueles prOfissionais - não
na empresa, a algumas delas foi importa a sua modalidade - cons-
outorgado mandato. tituem parcela dedutível do lucro
real pra o efeito de tributação, con-
o exame de tais contratos, por forme o disposto no art. 43, § 2?, le-
sinal, deixa muito mais destacada tra a, do Regulamento então vigen-
a subordinação dessas pessoas do te (Decreto 47.373/59):
que mesmo a representação, justa- Considerando, em conseqüênCia,
mente as duas principais carac- que não se justifica, na hipótese,
terísticas à identificação de um e aplicar-se o disposto no art. 43, §
de outro tipo de contrato. I?, letra c, daquele diploma legal,
Tal prevalência é corroborada, pois que não se trata de remunera-
por sinal, com a observação feita ção de diretores;
nos documentos de fls. 41, o de n? Considerando, pelos elementos
23 quanto à procuração outorgada, constantes dos autos e princípios
onde os poderes de representação aplicáveis, que acertada estava a
são evidentemente limitados e mes- autora no seu procedimento, não se
mo as&j.m com restrições quanto pOdendo admitir a conclusão do
aos atos e no prazo» Laudo de Exame de Escrita tran~­
Conclui-se, portanto, sem maior crito à fls. 9:
dificultade. que a autora fez, antes, Julgo procedente a presente
com as pessoas aludidas, um con- ação para o fim de condenar como
trato de trabalho e, só depois, lhes ora condeno a ré, nos exatos termos
outorgou as procurações, de pode- do pedido inicial. Recorro de
res limitados, o que denuncia a ofício.»
existência de um ajuste anterior,
predominante, e a ser concomitan- Inconformada com a respeitável
temente executado. sentença, a impetrada interpôs re-
Sabido, assim que a representa- curso de apelação.
ção, na hipótese não era de molde A impetrante apresentou suas
a equiparar os procuradores aos contra-razões às fls. 97. subindo os
Diretores da autora, como admitiu autos a este Egrégio Tribunal Fede-
o Acórdão do l.Conselho, de Contri- ral de Recursos.
buintes, e sendo verdadeiro, por Nesta Superior Instãncia, a douta
outro lado, que a participação sala- Subprocuradoria-Geral da República
rial nada mais é do qlle uma forma opinou pela reforma da decisão re-
de remuneração integrant'e elo Con- corrida.
trato de trabalho e perfeitamente E o relatório
compatível com estes, como acen-
tua Nélio Reis in Participação Sa- VOTO
larial nos lucros da Empresa; pág.
50, não há como fugir à conclusão O Sr. Ministro Moacir Catunda:
de que aqueles trabalhadores sem- Nego provimento, aos recursos, con-
TFR - 71 41

firmando a sentença que julgou pro- a) as despesas relacionadas com


cedente a ação ajuizada com o fim a atividade explorada, realizadas
de anular lançamentos suplementa- no decurso do ano social e necessá-
res do Imposto de Renda dos rias à percepção do lucro bruto e à
exercícios de 1960 a 1963, sobre im- manutenção da fonte produtora».
portãncias pagas a procuradores da (Decretos n? 24.239, de 22-12-1947;
autora, remunerados mediante parti- n? 36.773, de 13-1-1955: n? 40.702, de
cipação nos lucros em percentuais 31-12-1956; n? 47.373, de 7-12-59 e n?
estabelecidos em contratos formal- 51.900, de 10-4-1963).»
mente válidos. Pelos referidos con- Relativamente à aplicação do dis-
tratos os procuradores não são em- posto no § 6?, do item UI, do art. 5?
pregafIos e sim trabalhadores autô- do citado Regulamento, que discipli-
nomos, contratados para atender a na o tratamento fiscal da remunera-
serviços os mais diversos, como os ção de diretores efetivos, às percen-
de contador, de médico, de engenhei- tagens pagas aos «procuradores»,
ro e outros serviços de natureza pu- não é possível chancelar a tese do
ramente administrativa, percebendo Fisco, porque os últimos têm pode-
remuneração em percentuais sobre res limitados, funcionando somente
os lucros da empresa. Sendo certo em conjunto com um Diretor e mes-
que referidos procuradores não man- mo assim com restrições quanto aos
tém relação de emprego com a auto- atos e ao prazo: como se verifica do
ra, inaplica-se ao caso a regra do In- documentário do processo, não sendo
ciso a, do § 2? do art. 43, do Decreto legítimo equipará-los a diretores, vis-
47.373, de 1953, Regulamento do Im- to que a norma invocada abrange so-
posto de Renda, de então, consoante mente a hipótese que especifica, a di-
e qual as percentagens dps emprega- zer, remuneração de diretores.
dos nos lucros da empresa, serão ex-
cluidas do lucro real· para os efeitos Sucede. por outro lado, que a dedu-
da tributação. Tratando-se de remu- ção das importâncias pagas aos pro-
neração paga em percentual certo, curadores, como despesa vinculada
ajustado nos contratos, no interesse à atividade desenvolvida pela em-
da continuidade dos negócios, assis- presa, harmonizava-se com a orien-
tia à autora o direito de deduzir as tação estabelecida pelo Fisco, quan-
respectivas importâncias, como des- do tomando conhecimento de recla-
pesas operácionais, de acordo com o mação de autora contra lançamento
mandamento da alínea a do art. 37, suplementar do ~Imposto de Renda
combinado com o art. 43 do citado sobre importâncias pagas a tal títu-
Decreto 47.373, com vistas a apura- lo màndou cancelá-lo, como se lê no
ção do lucro real, verbis: d~cumento de n? 18 - fls. 33. O anti-
go Departamento do Imposto de
«Art. 43 - A base do Imposto se- Renda, de outra parte, ao responder
rá dada pelo lucro real ou presumi- consultas da mesma autora, nos
do correspondente ao ano social ou exercícios segUintes, sobre matéria
civil anterior ao exercício financei- idêntica, ou afim, esclareceu, em or-
ro em que o Imposto for devido, dem a não deixar dúvidas, que
ressalvado o disposto no parágrafo
único do art. 32 (Decreto-Lei n? «... as percentagens, honorários
5.847 art. 43 e Lei n? 2.354, art. ou outra atribuição que se lhe quei-
15) .» ra dar, e que representem remune-
ração aos não empregados na fonte
«Art. 37 - Constitui lucro real a pagadora, estarão sujeitas à inci-
diferença entre o lucro bruto e as dência do Imposto à razão de
seguintes deduções: 10%, ... »;
42 TFR - 71

«as gratificações ou remunerações res», na base de percentual fixado so-


a serem pagas (a esses procurado- bre os lucros, conforme os documen-
res), embora. representadas por tos de fl. 21132, admissível é a sua de-
uma percentagem sobre os lucros, dução, como despesa operacional, na
não estão compreendidas na restri- forma do diposto pelo art. 43, do De-
ção feita pelo referido art. 45, § 3?, creto n? 47.373, de 1954, c/c o art. 37,
da Lei n? 4.506/64»; a, do mesmo diploma, onde se dispõe:
«o empregado-procurador, além da «Art. 43 - A base do imposto se-
remuneração normal, compreen- rá dada pelo lucro real ou presumi-
dendo saláriOs e 13? salário, tem do correspondente ao ano social ou
uma percentagem como procura- civil anterior ao exercício financei-
dor o que também consta de seu ro em que o imposto for devido,
contrato de trabalho (art. 245, a e ressalvado o disposto no parágrafo
parágrafo único). único do art. 32 (Decreto-Lei n?
Neste caso, não é o empregado- 5.847 art. 43 e Lei n? 2.354, art.
procurador équiparado a adminis- 15).»
trador, mesmo porque a procura-
ção que lhe outorgou a consulente «Art. 37 - Constitui lucro real a
tem poderes limitados, pois somen- diferença entre o lucro bruto e as
te em conjunto com um Diretor po- seguintes deduções:
derá representá-la, e mesmo assim
com restrições quanto aos atos e a) as despesas relacionadas com
ao prazo». a atividade explorada, realizadas
no decurso do ano social e necessá-
Por ai se verifica que a orientação rias à percepção do lucro bruto e à
seguida pela autora era legítima e manutenção da fonte produtora».
conforme aos critérios estabelecidos (Decretos n?s 24.239, de 22-12-1947;
pelo Fisco, de maneira que a senten- n? 36.773, de 13-1-1955; n? 40.702, de
ça bem decidiu, de acordo com a lei 31-12-1956; n? 47.373, de 7-12-59 e n?
e a prova, quando julgou a ação pro- 51.900, de 10-4-1963).»
cedente. Não se trata de gratificação conce-
No tocante aos honorários de advo- dida livremente sobre os lucros, mas
gado, fixados em 20%, sobre o valor de remuneração contratualmente
da causa, de Cr$ 14.000,00, também ajustada, apenas sob forma de per-
desmerecem qualquer reparo, consi- centagem sobre os mesmos.
derado o tempo em que a ação foi Inaplicável, em conseqüência, a
proposta e importâncias das teses norma do § 2?, letra a, do mesmo
jurídicas discutidas na mesma. art. 43, que permite excluir do lucro
Por estes motivos, confirmo a sen- real, para efeitos de tributação, as
tença. percentagens pagas a empregados,
sobre os lucros da empresa, desde
qu.e não se cogita, na espécie, ao
VOTO contrário do nele previsto, de sim-
ples pagamento de participações no
O Sr. Ministro Jorge Lafayette lucro, que em relação aos emprega-
Guimarães (Revisor): Confirmo a dos não são tributadas como lucro da
sentença, estando de acordo com a empresa, ainda que tenham caráter
sua fundamentação .. espontâneo ou sejam'voluntariamen-
Estando em causa remuneração te concedidas.
ajustada pela sociedade óra apelada, Como remuneração contratual,
com prestadores de serviços autôno- constituem aqueles pagamentos, efe-
mos, na qualidade de «procurado- tuados pela autora-apelada despe-
TFR - 71 43

sas operacionais, como tal de- quele diploma legal, pois que não
dutíveis do lucro bruto, para apura· se trata de remuneração de direto-
ção do lucro real tributável, de acor- res;» (fls. 91)
do com o preceito, já lido, do arL 37, Quanto aos honorários de advoga-
do Decreto n? 47.373, de 1959. do, fixados em 20%, não são excessi-
Por outro lado, inadmissível é a vos, sobretudo incidindo sobre o va-
equiparação dos referidos «procura- lor da causa - Cr$ 14.000,00 - e se
dores», às pessoas referidas, no art. atendermos à circunstância de
5?, §§ 2? a 6?, do Regulamento citado, prolongar-se o feito por mais de 10
para incidência das normas que li- anos.
mitam a dedução das quantias àque- Nessas condições, nego provimen-
las pagas .a título de remuneração, to à apelação, e ao recurso de ofício,
não havendo como ampliar o aludido para confirmar a sentença.
preceito, para alcançar outras situa-
ções. EXTRATO DA ATA
Bem decidiu, pois, a sentença ape- AC n? 25.919-RJ - Rel.: Sr. Min.
lada, quando afirmou que Moacir Catunda. Rev.: Sr. Min. Jor-
«Os honorários pagos àqueles ge Lafayette Guimarães. Recte. Ex
profissionais - não importa a sua Officio: Juiz Federal Substituto da 1~
modalidade - constituem parcela Vara. Apte.: União Federal. Apda.:
dedutível do lucro real para o efei- Fábrica de Rendas ARP SI A.
to de tributação, conforme o dis- Decisão: A unanimidade, negou-se
posto no art. 43, § 2?, letra a, do provimento à apelação. (Em 11-11-77
Regulamento então vigente (De- -1~ Turma).
creto n? 47.373/59);» (fls. 91)
Os Srs. Mins. Jorge Lafayette Gui-
e ainda, que marães e Oscar Corrêa Pina vota-
«em conseqüência, que não se jus- ram de acordo com o Relator. Presi-
tifica, na hipótese, aplicar-se o dis- diu o julgamento o Exmo. Sr. Min.
posto no art. 43, § 1?, letra c, da- Márcio Ribeiro.

EMBARGOS NA APELAÇAO ClVEL N.o 29.236 - MG


Relator: O Sr. Ministro Armando Rolemberg
Revisor: O Sr. Ministro Márcio Ribeiro
Embargante: Instituto Nacional de Previnência Social
Embargado: Demósthenes Pereira de Almeida
EMENTA
«Previdência Social.
Ao segurado que, antes da unificação dos IAPs,
pelo Dec.-Lei 72, de 1966, vinha contribuindo para
iIÍstitutos diferentes, na condição de empregado e de
autônomo, ficou assegurado, ex vi do art. 39 do mes-
mo diploma legal, o direito a continuar recolhendo
contribuições pelas duas atividades, fazendo jus aos
respectivos beneficios à medida que' fossem preen-
chidos os requisitos para auferi-Ios, como se não ti-
vesse havido a unificação, Embargos infringentes
rejeitados.»
44 TFR - 71

ACORDÃO VOTO
Vistos e relQ.tados os autos em que O Sr. Ministro Armando
são partes as acima indicadas: Rolemberg (Relator): A Lei 3.807, de
Decide o Tribunal Federal de Re- 1960, no seu art. 5?, diSpôs que se-
cursos, em Sessão Plena, por maio- riam obrigatoriamente segurados da
ria, rejeitar os embargos, na forma previdência social os que trabalhas-
do relatório e notas taquigráficas sem, como empregados, no território
constantes dos autos que ficam fa- nacional (inciso I) e os trabalhado-
zendo parte integrafite do presente res autônomos (inciso IV), acrescen-
julgado. tando no art. 6? que o ingresso em
emprego ou exercício de atividade
Custas como, de lei. compreendida no seu regime obriga-
Brasília, 2 de agosto de 1979. (Data va a filiação à previdência.
do julgamento). - Ministro José Né- Atendendo a tal norma, o embar-
ri da Silveira, Presidente - Ministro gado, que desde 1958 era filiado, co-
Armando Rolemberg, Relator mo empregado, ao IAPI; em 1960
filiou-se ao IAPC na condição de au-
RELATORIO tônomo, contribuindo ao mesmo tem-
O Sr. Ministro Armando Rolem- po para as duas instituições.
berg: Demóstherres Ferreira de Al- Nessa situação veio encontrá-lo o
meida; engenheiro de minas e civil, Dec.-Lei 72, de 1966, que unificou os
que desde 1958 recolhia contribui- diversos institutos, o qual, no seu
ções, como empregado, para o IAPI, art. 39, estabeleceu.
a partir de 1960 Passou a fazê-lo para «A unificação de que trata este
o IAPC. Em 1967"'foi aposentado por decreto-lei não alterará a situação
velhice, como empregado, conti- dos atuais segurados que sejam fi-
nuando, entretanto, até 1968, a reco- liados a mais de um Instituto de
lher contribuições como autônomo, Aposentadoria e Pensões, quanto
condição em que no último ano refe- ao regime de contribuições e às
rido pleiteou nova aposentadoria, no prestações a que ora tenha direi-
que não logrou êxito, e daí propor to».
ação contra o INPS, julgada impro-
cedente na primeira instância por Dissentiram no julgamento embar-
sentença reformada, por maioria, gado os Srs. Ministros componentes
pela Terceira Turma desta Corte, da Turma quanto ao alcance da res-
em julgamento no qual predominou salva feita na dispOSição lida. Enten-
o voto seguinte do Sr. Ministro José deram os Srs. Ministros José Néri da
Néri da Silveira, ao qual emprestou Silveira e Sebastião Reis que o segu-
adesão o Sr. Ministro Sebastião Reis: rado que viesse recolhendo contri-
(lê fls. 118-121). buições para mais de uma institui-
Ficou vencido o Sr. Ministro Aldir ção, continuaria a poder contribuir
G. Passarinho que assim se mani- pelas duas atividades e teria assegu-
festou: (lê fls. 122-123). rados os direitos e benefícios, como
se não tivesse havido unificação, à
Para fazer prevalecer o voto que medida em que fossem completando
acabo de ler, o INPS opôs embargos os requisitos para auferi-los, enquan-
infringentes que, admitidos, não fo- to o Sr. Ministro Aldir Passarinho
ram contrariados, e em favor dos sustentou ser a garantia ali prevista
quais se manifestou, como assisten- à situação na data do Dec.-Lei 72/66,
te, a União. isto é, que os segurados por mais de
E o relatório. um Instituto fariam jus aos direitos
TFR - 71 45

para os quais já houvessem comple- VOTO VENCIDO


tado, na data aludida, as condições
que os asseguravam. O Sr. Ministro Aldir G. Passarinho:
Sr. Presidente, o meu voto, na Tur-
Respeitáveis embora ambas as in- ma, foi lido pelo eminente Ministro
terpretações, tenho que o entendi- Armando Rolemberg no seu relató-
mento que melhor se ajusta à finali- rio, pelo que me parece desnecessá-
dade da lei é o adotado nos votos rio repetir os argumentos então ex-
vencedores, pois se em razão de re- pendidos.
gra legal imperativa o cidadão reco-
lhia contribuição para mais de um Na oportunidade, não vejo, data
Instituto, fazendo jus à percepção, venia, razão para modificar o enten-
por cada um deles, dos benefícios dimento que então manifestei.
em geral, unificados ditos institutos
o resguardo do direito de cada um Pelo exposto, recebo os embargos
somente seria completo, continuando para que prevaleça a r. sentença de
a pOder contribuir duplamente, como I? grau.
antes, e perceber o benefício relativo
a cada contribuição no momento em
que preenchesse as condições para E o meu voto.
obtê-lo.

A orientação contrária, se não EXTRATO DA ATA


ofendia de forma direta a garantia
do direito adquirido, poderia fazê-lo, EAC n? 29.236 - MG - ReI.: Sr.
entretanto, do ponto de vista real, Ministro Armando Rolemberg. Rev.:
pois, o caso dos autos é. um exemplo, Sr. Min. Márcio Ribeiro. Embgte.:
poderia ensejar a frustração da re-
tribuição pelas contribuições, por di- Instituto Nacional de Previdência
ferença mínima de tempo. Realmen- Social. Embgdo.: Demósthenes Pe-
te, dos processos que estão em apen- reira de Almeida.
so, constata-se ter o autor, ora em-
bargado, nascido em 20.6-1902, com o Decisão: O Tribunal, por maioria,
que, na data do Dec.-Lei 72, 21-11-66, vencido o Sr. Min. Aldir Guimarães
contava mais de 64 anos de idade, Passarinho, rejeitou os embargos.
faltando-lhe tão-somente 7 meses pa- (Em 2-8-79 - Tribunal Pleno).
ra poder se aposentar por velhice pe-
lo IAPI e pelo IAPC, sendo razoável,
portanto, considerar-se que a finali- Os Srs. Mins. Márcio Ribeiro,
dade da lei foi garantir situações que Moacir Catunda, José Dantas, LaurQ
tais. Leitão, Evandro Gueiros Leite, Was-
hington Bolívar, Carlos Mário Vello-
Voto desprezando os embargos. so e Wilson Gonçalves votam com o
Relator. Impedindo o Sr. Min. Justi-
VOTO no Ribeiro (RI, art. 3?). Não partici-
pou do julgamento o Sr. Min. Peça-
nha Martins. Não compareceram,
O Sr. Ministro Márcio Ribeiro (Re- por motivo justificado, os Srs. Mins.
visor): Nos termos dos votos vence- Armarílio Benjamin, Jarbas Nobre,
dores da apelação (fls. 118, ler) - Carlos Madeira, Torreão Braz e OUo
rejeito os embargos - data venia da Rocha. Presidiu o julgamento o Ex-
brilhante opinião em contrário. mo. Sr. Min. José Néri da Silveira.
46 TFR - 71

APELAÇAO CtVEL N. o 32.039 - RJ


Relator: Ministro Moacir Catunda
Apelante: SI A Mineração da Trindade
Apelados: União Federal e Sunamam

EMENTA
Tributário - Taxa de Renovação da Marinha
Mercante - Repetição de indébito - Empresa mi-
neradora - Exportação - Código de Minas - art.
68 - Para fazer jus à limitação consignada no art.
68 do Código de Minas, então vigente, à autora cum-
pria provar que «eram de suas próprias jazidas ou
minas ou minérios exportados,» como resulta claro
do dispositvio retro copiado, posto que se refere ele
«ao valor da produção efetiva da jazida ou mina». E
porque nada provou, a ação não tinha condições de
prosperar.

ACORDA0 pagou a título de Taxa de Reno-


vação de Marinha Mercante, re-
Vistos e relatados os autos em que lativamente ao período com-
são partes as acima indicadas: preendido entre 24 de julho de
Decide a Segunda Turma do Tribu- 1963 até 12 de agosto de 1964 e
nal Federal de Recursos, por unani- concernentes a minério de ferro
midade, negâr provimento, na forma exportado, embarcados em di-
do relatório e notas taquigráficas versos navios de longo curso na-
constantes dos autos que ficam fa- quele período, tudo conforme
zendo parte integrante do presente guias anexas que, como é salien-
julgado. tado, identificam a embarcação,
a data de saída, a tonelagem ex-
Custas como de lei. portada, o frete líquido, o total
Brasília, 20 de junho de 1980 - Mi- pago, o recebimento e o recolhi-
nistro Moacir Catunda, Presidente e mento para crédito do Banco N a-
Relator. cionaI de Desenvolvimento Eco-
nômico - Conta Fundo da Mari-
RELATORIO nha Mercante. Argumenta a au-
tora que o pagamento da Taxa
o Sr. Ministro Moacir Catunda: Se- cabe ao exportador, sem qual-
nhor Presidente, a espécie dos autos quer transferência, pois é ele
foi assim exposta pelo Dr. Juiz a quem o suporta definitivamente,
quo: s~ndo armador o depositário da
«Vistos, etc. . ................ . táxa aludida, nos termos dos
SI A. Mineração Trindade move arts. 8? e 9? da Lei 3.381, de 24-4-
ação ordinária contra a União 1958, sendo depositário da impor-
Federal e a Comissão de Mari- tância recebida do exportador,
nha Mercante (atual Sunamam) segundo o § 7? do art. 8? da Lei
a fim de reaver importância que 3.381. Tal taxa, entretanto: acen-
TFR - 71 47

tua, não pode ser oposta ou exigi- cante, atual Superintendência


da ao minerador, tendo a cobran- Nacional de Marinha Mercante
ça que lhe foi feita infringidQ o (Sunamam) ofereceu tempestiva-
art. 68 do Decreto-Lei n~ 1985, de mente sua contestação, susten-
29 de janeiro de 1940, então em tando a legalidade da cobrança
plena vigência, s~ndo certo que a impugnada. Alicerça a Comissão
Lei 3.381, de 1958. não revogou di- a sua defesa, no entendimento
to artigo 68, nem regulou inteira- manifestado em bom e lançadas
mente a matéria de que cuida o considerações de que a 'l'axa de
Decreto-Lei 1.985/40. Deste mo- Marinha Mercante é, na verdade,
do, sustenta, a exigência da Taxa um adicional de frete e não como
de Renovação da Marinha Mer- pretende aquela ré, um imposto
cante de empresa mineradora, ou uma taxa e se constitui num
por exportação de minério de fer- fundo, sob a administração da
ro, é ilegal, impondo-se, portan- Comissão, e do qual participam
to, a restituição do que indevida- apenas os armadores cujos na-
mente foi pago. Esclarece a de- vios para ele contribuiram visan-
mandante que a tributação pre- do ao reaparelhamento, a recu-
vista no então vigente Código de peração e ampliação de suas fro-
Minas1 no limite total de 8% do va- tas, e menciona a respeito acór-
lor da produção efetiva de jazida dãos do Excelso Pretório, além
ou mina, foi por ela atendida, na de decisões de 1~ instãncia que
forma do art. 3~ e parágrafos do estariam em harmonia com tal
Decreto-Lei 5.247, de 12 de feve- ponto de vista. Salienta, outros-
reiro de 1943 e na conformidade sim, a ré que a autora, não fez a
do art. 68 do Código ficam acima necessária prova de que dispõe
do limite de 8%, excluídos quais- da autorização para pesquisa e
quer outros impostos ou taxas, lavra, &egqndo o previsto no
excetuando-se apenas o imposto Decreto-Lei 85, de 29.1.1940, além
de renda. Salienta, outrossim, de que não comprovou, também,
que a limitação tributária abran- que exporta seus minérios, condi-
ge e protege a jazida ou mina, o ção básica para que se enquadre
produto dela p.xtraído, o próprio no imposto único previsto na Lei
minerador e as operações que o 4.425, sendo certo aue o fato de
mesmo realizar com esse produ- ser a autora empresa ae minera-
to, e é incontestável que a expor- ção, não impede que se encarre-
tação do minério é operação que gue de também exportar miné-
o minerador realiza com o produ- rios não pertencentes a sua la-
to extraído da jazida ou mina. vra, não havendo nos autos eJé-
Menciona, a seguir, o suplicante, mentos que demonstram ser
decisões do Egrégio Supremo todas as partidas do minério em-
Tribunal Federal, que teriam si- barcado provenientes de sua pro-
do favoráveis à tese que defende, dução, podendo, portanto, ter
e faz notar que o fundamental funcionado apenas como interme-
para decidir sobre a restituição é diária. A União Federal, por sua
que não haja locupletamento do vez, embora tendo sido citada
contribuinte. com tal devolução e também como ré, limitou-se a
isto, no caso. não ocorre, pois pa- declarar nada ter que acrescen-
gou- a taxa sem transferi-la ou tar à contestação da então Co-
repercuti-la, pelo que não irá re- missão de Marinha Mercante.
ceber duas vezes o mesmo tribu- Em réplica, voltou a falar a su-
to. A Comissão de Marinha Mer- plicante, a insistir no não cabl-
48 TFR - 71

mento da taxa em causa. Pelo feito, não possui realmente leg; .. ;-


despacho cte fls. 56 foi facultada midade ad causam passiva. De
a produção de provas comple- fato. O armador recolhe a Üt;:9
mentares. Saneador a fls. 61, ir- em apreço ao Banco Nacional de
recorrido, no qual foi menciona- Desenvolvimento Econômico que
do que embora tivesse sido admi- a credita ao Fundo da Marinha
tida a produção de provas com- Mercante ou ao armador. A
plementares. não haviam sido in- União não recebe a taxa e nem
dicadas outras além das j á cons- mesmo figura ela nõ Orçamento
tantes dos autos. Audiência de Federal. Não pode ser demanda-
instrução e julgamento, confor- da para restituí-la quem não a
me termo de fls. 62. Pelo despa- detém, não a movimenta, fiscali-
cho de fls. 63, converti o julga- za ou cobre. É ela, portanto, de
mento em diligência a fim de que ser excluída da relação proces-
a autora fizesse prova da prove- sual na condição de ré, passando,
niência do minério por ela expor- assim, apenas a assistente. Na
tado, já que a primeira ré pusera ação, como ré, deve figurar, ape-
em dúvida a origem do mesmo. nas, em conseqüência, a Comis-
Entretanto, pela petição de fls. são de Marinha Mercante, ou
64/65 . declarou a demandante que melhor, a atual Superintendência
já provara sua qualidade de mi- Nacional de Marinha Mercante,
neradora, aliás, expressa na sua pois ·esta é que pode promover a
própria denominação, devida- restituição da importãncia pre-
mente autorizada para fins de tendida, dado que a ela é que ca-
mineração, sendo a exportação be a movimentação dos depósi-
do minério operação própria do tos. Acertado este ponto, é de
minerador, acrescentando que a passar-se adiante. Sustenta a ré
incidência do imposto, pelo que a taxa de Renovação da Ma-
princípio da unicidade adotado rinha Mercante é um adicional
dá-se uma só vez sobre uma das de frete, mas tal não ocorre, bas-
operações previstas: extração, tando notar que se assim fosse
circulação, distribuição, consu- caberia ela ao armador, já que
mo, exportação, não importando, deste é o frete. A confusão se ori-
no caso, a proveniência do miné- gina da referência a um « adicio-
rio, posto que as exportações se nal» ao frete líquido, segundo o
realizaram de 24.7.1963 até art. 8? da Ler n? 3.381, de 1958,
12.8.1964. E, finalizando, alega mas isto somente traduz a forma
não caber a invocação da Lei de eobrança da taxa, sem que a
4.425, de 8.10.1964, posterior às natureza desta - que é realmen-
exportações. É o relatório. Isto te a de um imposto com destina-
posto, passo a decidir. A ação foi ção especial, venha por aquela
movida contra a Comissão de circunstãncia a se alterar. A ta-
Marinha Mercante, atual Suna- xa, segundo o seu conceito dou-
mam e contra a União, visando à trinário e que veio encontrar
restituição da Taxa de Renova- agasalho no Decreto-Lei 2.416, de
ção da Marinha Mercante que in- 1940, art. I?, e, por último, no Có-
devidamente lhe teria sido exigi- digo Tributário Nacional, art. 77,
da. Não justificou a autora as ra- corresponde a uma remuneração
zões que a levaram a demandar de serviços públicos ao contri-
também contra a União e esta, buinte ou postos à sua disposição.
embora não se tenha insurgido A distinção entre as taxas e os
contra a sua pOSição de ré, no impostos se encontra bem carac-
TFR - 71 49

terizada no conceito de Rubens etc., tudo com vista àquele fim,


Gomes de Souza, segundo o Çlual na conformidade do disposto no
«O elemento de distinção está em art. 3? e seus incisos da lei men-
que as taxas se destinam a remu- cionada, podendo, ainda, servir
nerar serviços ou atividades pú- aos proprietários de embarca-
blicas divisíveis e mensuráveis, ções para que também ampliem
ao passo que os impostos, como ou reaparelhem suas frotas mer-
vimos (§ 44) remuneram os ser- cantes, com o resultado do art. 11
viços ou atividades pÚblicas indi- da lei já referida, sob o controle
visíveis e não mensuráveis.» da Comissão. Como é fácil con-
(Compêndio de Legislação Tribu- cluir, deste modo, a Taxa de Re-
tária, pág. 139). Aliomar Baleei- novação de Marinha Mercante é,
ro, ao comentar o art. 77 do Códi- na verdade, um imposto com
go Tributário Nacional, definindo destinação especial, posto que
o que seja taxa, ensina: «Taxa é não representa ela uma contra-
o tributo cobrado de alguém que se prestação de serviço, não se lhe
utiliza de serviço público especial apontando caráter remunerató-
e divisível, de caráter adminis- rio. Em harmonia com este en-
trativo ou jurisdicional, ou o tem tendimento são as mais recentes
à sua disposição e ainda quando decisões dos nossos Tribunais,
provoca em seu benefício, ou por cabendo mencionar, do E. Supre-
ato seu, despesa especial dos co- mo Tribunal Federal o acordo no
fres públicos.» Segundo Amilcar RE n? 50.624, publicado no D.J.
de Araújo Falcão «Taxa é o tri- de 16.12.1962, e no R.M.S. n?
buto auferido pelo poder público, 18.399-GB, em cuja ementa ficou
para custeio de certos e determi- assinalado que apesar da deno-
nados serviços ou atividades pú- minação legal, a Taxa de Reno-
blicas, e cujo surgimento se con- vação da Marinha Mercante é
diciona à utilização, dispOSição imposto com aplicação espeCial,
ou solicitação, por pessoas indivi- tendo a decisão sido mantida pe-
dualizadas, do funcionamento dos lo Tribunal Pleno, no julgamento
ditos serviços ou atividades.» dos embargos (R.T.J., voI. 51,
Ora, a Taxa de Marinha Mercan- pág. 722). Já no RE n? 61.095-GB,
te se inclui na constituição do o Pretório Excelso havia, man-
Fundo de Marinha Mercante, tendo decisão do E. Tribunal Fe-
conforme art. 2? da Lei n? 3.381 deral de Recursos, e reiterando
de 24 de abril de 1958, ou é depo- seu entendimento, já manifesta-
sitada no B.N.D.E., em conta es- do no RE 5.239 e RE 49.679, in
pecial, em nome do proprietáriO RTJ vol. 37, págs. 46 e 473, firma-
ou da embarcação cujo serviço do seu entendimento de que a Ta-
deu lugar à arrecadação, segun- xa de Renovação da Marinha
do o § 2?, do art. 10 da mesma Mercante é um tributo e não um
lei, destinando-se, precipuamen- adicional de frete. Assinale-se na
te, a investimentos ou financia- oportunidade que, como as im-
mentos, visando ao aumento ou portações do autor, e sobre as
conservação da frota, compra ou quaiS pagou a taxa aludida, não
construção de embarcações de anteriQ.res à Lei 4.425, de
empresas da União ou reapare- 8.10.1968, basta reconhecer-lhe, a
lhamento ou recuperação de em- natureza tributária e assim pou-
barcações de tais empresas, ou co importando que·lhe seja o gra-
para a construção ou reaparelha- vame um imposto ou taxa, para
mento de diques ou estaleiros, que se aplique o benefício previs-
50 TFR -- 71

to no art. 68 do Código de Minas, zia necessària. Assim, embora


aprovado pelo Decreto-Lei 1985, este Juízo acolha a tese exposta
de 1940, então em vigor que, se- nas espalmadas razões da fiem
gundo a redação imprimida pelo lançada inicial, como sempre ex-
Decreto-Lei 5.247, de 1943, assim celentemente fundamentada pelo
dispunha: «O minerador habilita- nobre patrono da suplicante, não
do por decreto de autorização de pode dar como procedente a ação
pesquisa ou lavra, ou garantido pela falta de prova da proveniên-
pelo § 4? do art. 143 da Constitui- cia do minério exportado, e que
ção, bem como o comprador ou entende necessário, a fim de que
beneficiador de minério obtido fosse atendido o disposto no art.
por faiscação ou garimpagem ou 68 da lei citada, não tendo sequer
pot trabalhos assemelhados,' so- sido demonstrado que a prOdução
mente estão sujeitos aos tributos referente aos embarques com-
lançados pela União, pelo Estado portava as exportações em exa-
ou pelo Município, num total de me. Houve demora na prOlação
8% do valor da produção efetiva desta sentença, menos pelO volu-
da jazida ou mina, incluindo-se me de serviço existente que para
nesse limite quaisquer outros im- bem ponderar a respeito da ar-
postos ou taxas, excetuando ape- gÜição da autora sobre desneces-
nas o de renda, que venham a re- sidade da prova requerida, jã que
cair sobre a jazida ou mina, so- acolhia eu a tese pela autoi'a de-
bre o próprio minerador ou sobre fendida sobre a natureza da Ta-
as operações que o mesmo reali- xa de" Renovação de Marinha
zar com esse produto». Entretan- Mercante. Não me convenci, con-
to -- e porque o caso não é de tudo, de que não era preciso pro-
faiscação ou garimpagem -- a var que a limitação do art. 8?,
empresa teria que provar, para não se referia, no caso de empre-
fazer jus à limitação constante sa de mineração, ao minério de
do art. 68 do Código de Minas en- suas próprias jazidas. Pelo ex-
tão vigente, que eram de suas posto, julgo improcedente a ação
próprias jazidas ou minas os mi- e condeno a autora nas custas e
nérios exportapos, como resulta em honorários de advogado, que
claro do dispositivo retro copia- fixo em 5% do valor da causa,
do, posto quê se refere ele «ao em face deste mesmo valor e da
valor da produção efetiva da ja- regra moderadora consubstan-
zida ou mina». Este Juízo facul- ciada no § 1? do art. 64 do C.P.C.
tou a produção de provas com- Publicada em audiência.
plementares (fls. 56) mas achou- Registre-se» .
as desnecessárias à autora. Pos-
teriormente, após a audiência, O MM. Juiz julgou improcedente a
converti o julgamento em dili- ação e condenou a autora nas custas
gência a fim de que fosse com- e em honorários de advogado.
provada a proveniência do miné- A promovente não conformada,
rio exportado, mas entendeu ain- apelou a fls. 80/6.
da a autora que não importava a çontra-razões da Sunamam a fls.
proveniência do minério, posto 88, e da União a fls. 91.
que as importações haviam sido
realizadas na vigência do art. 68 A douta Subprocuradoria-Geral da
do Decreto-Lei 1985, de 1940. En- República opina pela confirmação da
tretanto, pelas razões expendi- sentença.
das. entendo que tal prova se fa- É o relatório»
TFR - 71 51

VOTO bem como o comprador ou bene-


ficiador de minério obtido por
O Sr. Ministro Moacir Catunda: faiscação ou garimpageJ;Il ou por
Data venia das doutas razões da ape- trabalhos assemelhados, somente
lante, fico com as da ilustrada sen- estão sujeitos aos tributbs lança-
tença apelada, que bem julgou a es- dos pela União, pelo Estado, ou
pécie, de acordo com a lei, a prova, e pelo Município, num total de 8%
a jurisprudência vigorante na época do valor da produção efetiva da
sobre a matéria. jazida ou mina, incluindo-se nes-
se limite quaisquer outros impos-
Reporto-me, outrossim, às sucintas tos ou taxas, excetuando apenas
razões das apeladas, in verbis: o de renda, que venham a recair
« .............................. . sobre a jazida ou mina, sobre o
próprio minerador ou sobre as
A apelante se insurge contra a operações que o mesmo realizar
decisão de 1~ instância, com esse produto.»
esquecendo-se que o MM. Juiz a
quo lhe concedeu todas as oportu- Da leitura do dispositivo acima,
nidades (vide fls. 56 e fls. 63)-e infere-se com meridiana clareza
ela não as aproveitou - para com- que não basta à apelante ser em-
provar que exporta os seus miné- presa de mineração para gozar do
rios, condição básica a fim de que benefício do imposto único.
se enquadre no imposto único pre- Tornava-se necessário que ela
visto na Lei n? 4.425/68. - Com comprovasse que todos os embar-
efeito, dispõe o art. 68, do Código ques efetuados foram provenientes
de Minas, aprovado pelo Decreto- de sua produção. Essa prova, en-
Lei n? 1.985/40, então em vigor, se- tretanto, indispensável para que
gundo a redação do Decreto-Lei n? fosse atendido o art.68, do Código
5.247/43, que: de Minas, não foi feita pela apelan-
« O minerador habilitado por te que, aliás, não demonstrou se-
decreto de autorização de pesqui- quer que a prOdução referente aos
sa ou lavra, ou garantido pelo § embarque~ comportava as expor-
4? do art. 143 da Constituição, tações em exame.».

APELAÇAO C1VEL N? 35.213 - PR


Relator: Ministro Carlos Mário Velloso
Revisor: Ministro José Cândido de Carvalho
Recorrente de ofício: Juiz Federal da 2~ Vara
Apelantes: Instituto Nacional de Previdência Social e
Oacy de Souza Lima
Apelados: Os mesmos
EMENTA
Previdência Social - Aposentadoria por tempo
de serviço - Cálculo dos Proventos - Segurado
Empregador - LOPS, Lei 3.807/60, art. 23, § 2?, com
a redação do Decreto-Lei n? 66, de 21.11.66 - LOPS,
art. 76, 1.
52 TFR - 71

I - Salário-de-benefício: o cálculo embasa-se I}O


salário-de-contribuição, representado este pela remu-
neração efetivamente percebida pelo segurado-
empregador (LOPS, art. 76, I). Assim, a contribui-
ção, pelo máximo autorizado por lei, (LOPS art. 23, §
1?) tem como pressuposto a remuneração percebida,
in concreto.
U - O disposto no § 2? do art. 23, da LOPS, com a
redação do Decreto-Lei 66/1966, cuida de impedir a\l-
mentos de contribuição em época próxima de pedido
de. benefício, aumentos esses que têm por finalidade a
majoração do salário-de-benefício, acima do real
nível de vida do segurado. Todavia, se os reajusta-
mentos não decorrem de mera liberalidade do patrão
(segurado-empregado), ou se representam aumento
de responsabilidade do titular da empresa, ou se tra-
duzem crescimento desta, expansão dos seus negó-
cios, etc., devem ser considerados (segurado-
empregador), tendo em vista o comando teleológico
da norma (§ 2? do art. 23).
lU - No caso, não existe nenhuma justificativa
ou explicação para o fato do aumento das contribui-
ções, que se faziam sobre 1 (um) salário mínimo,
passarem a ser recolhidas sobre o teto vigente à épo-
ca, ou seja, 10 (dez) salários mínimos. Não há prova
de que o autor passou a perceber, efetivamente, re-
muneração igual ou superior a esse teto. As contri-
bUições, outrossim, foram recolhidas com atraso de 5
(cinco) anos.
IV - Recurso provido. Sentença reformada.
Ação improcedente.

ACORDÃO Armando Rollemberg, Presidente -


Ministro Carlos Mário Velloso, Reia-
Vistos, relatados e discutidos estes toro
autos, em que são partes as acima
indicadas: RELATORIO
Decide a Terceira Turma do Tri- O Sr. Ministro Carlos Mário
bunal Federal de Recursos, por Velloso: A r. sentença recorrida, às
maioria, dar provimento à apelação fls. 58/59, assim relata a espécie:
do INPS para reformar a sentença e «Trata-se de ação declaratória
julgar a ação improcedente, prejudi- proposta por Oacy de Souza Lima,
cado o recurso do autor, na forma do brasileiro, casado, comerciante
relatório e notas taquigráficas ane- aposentado, residente e domicilia-
xas que ficam fazendo parte inte- do nesta capital, por intermédio do
grante do presente julgado. seu procurador e advogado consti-
tuído nos autos, a fim de que este
Custas como de lei. Juízo declare o seu direito de ha-
IBrasíl[ii, 19 de fevereir:o de 1979 ver do Instituto Nacional de Previ-
(data do julgamento) - Ministro dência Social - INPS o valor men-
TFR - 71 53

Sêii1 da sua aposentadoria em ou- to do autor de obter a aposentadoria


tras bases, que não as que atual- mensal, baseada no seu salário de
mente percebe, em conseqüência contribuição, de conformidade com o
de erro de intelq)retação das leis art. 23, § 2? da.. LOPS, com a redação
que regem a fixação de tais valo- dos Decretos-Leis,n?s 66 e 795, inde-
res por parte daquela autarquia pendentemente, dos. tetos salariais,
previdenciária. para os fins da legislação do imposto
Alega o autor que, de acordo de renda das pessoas jurídicas. To-
com o art. 23 da Lei Orgãnica da davia, deixou claro a sentença, não
Previdência Social, combinado seria possível, numa ação meramen-
com o art. 76 do mesmo diploma te declaratória de direitos, condenar
legal, o cálculo -do valor mensal o INPS a pagar ao autor diferenças
dos benefícios, inclusive aposenta- entre valores de beneficios ~ decor-
doria, será feito tomando-se por rentes de execução de sent~ça con-
base o saIário-de-benefício, assim denatória, versando sobre a matéria
denominada a média mensal dos de fato, que ainda não foi, sequer,
salários-de-contribuição, e não con- proferida. A autarquia-ré foi conde-
soante pretende a autarquia-ré que nada ao pagamento de honorários de
limitou tais bases do cálculo aos te- advogado, arbitrados em 5% sobre o
tos de retiradas pro labore fixados valor dado à causa. Houve recurso
pela legislação sobre imposto de de ofício.
renda. Apelou o autor, porque pretende o
reconhecimento das diferenças exis-
Citado, o Instituto Nacional de tentes (fls. 61/62).
Previdência Social contestou a
ação, alegando que o autor aumen- Apelou também o INPS (fls.
tara desmesuradamente a sua con- 63/67). Diz que o autor vinha contri-
tribuição, que passara de Cr$ buindo sobre importância irrisória.
124,41 para Cr$ 1.200,00, com o pro- Nas proximidades de requerer a sua
pósito deliberado de majorar inde- aposentadoria, como titular que era
vidamente os proventos da sua apo- da empresa, elevou o valor de suas
sentadoria, numa flagrante burla contribuições para o teto máximo e
aos dispOSitivos legais que regem a recolheu essas contribuições com um
matéria, fato que será verificado atraso de cinco anos e de uma vez.
oportunamente, em revisão admi- As respostas estão às fls. 68/70 e
nistrativa, diante dessa constata- 73/75.
ção. Finalmente, alega a autarquia- O parecer da SubprocuradOria-'Ge-
ré que o autor não tem o direito a ral da República, às fls. 80/82, ê no
perceber o benefício da aposentado- sentido do provimento dos recursos
ria em outros valores que não os de ofício e do INPS, para o fim de
que já lhe foram fixados, de acordo ser julgada improcedente a ação.
com as leis e regulamentos que re-
gem a espécie. E o relatório.
Impugnando a contestação, o au-
tor reitera a sua argumentação, no VOTO
sentido de que o limite de remune-
ração, para fins de imposto de ren- O SI". Ministro Carlos Mário
da, não é o mesmo da legislação de Velloso (Relator): Dispunha a
Previdência Social consoante juris- LOPS, Lei n? 3.807, de 26.8.60; art.
prudênCia ,conhecida, que cita». 23, § 2?, co!D a redação que lhe deu
,A r. sentença julgou procedente a o Decreto-Lei n? 66, de 21.11.66.
ação, para o fim de declarar o direi- «Art. 23. . ..._.................. .
54 TFR - 71

§ 2? Não serão considerados pa- o autor não impugna a afirmativa


ra efeito de fixação do salário-de- do INPS, de que as contribuições fo-
benefício, os aumentos que exce- ram recolhidas com atraso. Afirma:
dam os limites legalmente permi- «O recolhimento em atraso de
tidos, bem como os voluntariamen- contribuições não altera o posi-
te concedidos nos 24 (vinte e qua- cionamento da questão. Sobre as
tro) meses imediatamente anterio- importâncias recolhidas fora do
res ao lmclO do benefício, salvo prazo, pagou o A. juros morató-
quanto aos empregados, se resul- rios)}. (fI. 48).
tantes de melhorias ou promoções
reg~adas por normas gerais da Assim posta a questão, 'torna-se fá-
empresa, permitidas pela legisla- cil o seu desate.
ção do trabalho)}. Abrindo o debate, deixo claro que
Posteriormente, o Decreto-Lei n? as restrições da legislação do impos-
795, de 27.8.69, art. 4?, deu ao' citado to de renda, que têm finalidade es-
§ 2? do art. 23, da LOPS, nova reda- pecífica, não seriam aplicáveis no
ção. Passou, ó referido parágrafo, a domínio da previdência social, vez
dispor da seguinte forma: que esta se informa de princípios ou-
tros. A ressalva da LOPS (§ 2? do
«Art. '23 - .................... . art. 23) - «limites legalmente admi-
§ 2? Não serão considerados pa- tidos)} - se relaciona com a política
ra efeito de fixação do salário-de- salarial do Governo (Russomano, <<A
benefício os aumentos que exce- Lei Orgânica da Previdência So-
dam os limites legalmente permiti- cial.)} 1/69).
dos, bem como os voluntariamen-
te concedidos nos 36 meses imedia- In casu, o cálculo do salário-de-
tamente anteriores ao início do be- benefício embasa-se no salário-de-
nefício, salvo quanto aos emprega- contribuição, representado este pela
dos, se resultantes de promoções remuneração efetivamente percebi-
reguladas por normas gerais da da pelo segurado-empregador
empresa, admitidas pela legisla- (LOPS, art. 76, 1). Assim, a contri-
ção do trabalho, de sentenças nor- buição, no grau máximo autorizado
mativas ou de reajustamentos sa- por lei, tem como pressuposto a re-
lariais obtidos pela categoria res- . muneração percebida, in concreto,
pectiva)}. igualou superior ao teto. Na espécie,
A aposentadoria do autor, no caso, dito teto seria igual a 10 (dez) vezes
ocorreu a partir de setembro de o maior salário mínimo vigente no
1968, requerida em julho de 1968. país (LOPS. art. 23, § 1?).
Diz o INPS que o autor recolheu In casu, relembre-se:
contribuições, com atraso, referen- a) o autor recolheu suas contri-
tes aos anos de 1964 a 1966 sobre o buições, de 1964 a 1966, sobre o sa-
salário mínimo regional do seu local lário mínimo regional, ou seja, so-
de trabalho. Após 1966, isto,é, a par- bre Cr$ 124,41;
tir de janeiro de 1967, «transformou b) a partir de janeiro de 1967,
sua contribuição de valor igual a Cr$ passou a recolher sobre Cr$
124,41 (cento e vinte e quatro cruzei- 1.200,00;
ros e quarenta e um centavos) para
Cr$ 1.200,00 (um mil e duzentos cru- c) em julho de 1967, requereu a
zeiros), ... )} 'Diz, mais, «que os reco- aposentadoria;
lhimentos feitos, o foram fora do d) os recolhimentos se fizeram
prazo, ou seja, com cinco anos de com cinco anos de atraso, vale di-
atraso e de uma só vez ... (fI. 32). zer, de uma só vez.
TFR - 71 55

Data venia, dou provimento ao Viessem as contribuições sendo


apelo. recolhidas regularmente, sem atra-
Na verdade, o disposto no § 2? do so, cientificado o INPS, na época
art. 23, da LOPS, com a redação do própria, de que passaria o autor a
Decreto-Lei 66/66 (no caso não há fa- contribuir sobre o teto legal, ou so-
lar no Decreto-Lei 795/69), cuida de bre o máximo permitido, e acolhen-
impedir que os cálculos do benefício do a instituição previdenciária a
se ponham acima dos limites estabe- cientifícação, assim passando a fa-
lecidos. Impede, outrossim, que haja zer os recolhimentos, normalmente,
o aumentos de contribuição, em épo- então a questão poderia assumir fei-
ca próxima do pedido de benefício, ção outra, pois, teria havido, em ra-
aumentos esses que" têm por finalida- zão do recebimento durante certo
de a majoração do salário-de- espaço de tempo, reconhecimento,
benefício, acima do real nível de vida de qualquer modo, que a remunera-
do segurado. ção efetivamente percebida pelo au-
for se colocava em situação igualou
Evidentemente que, se os reajusta- superior ao teto legal. No caso, to-
mentos não decorrem de mera libe- davia, as coisas não se passaram
ralidade do patrão, tratando-se de dessa forma.
empregado, ou se representam, no Destarte, é bem de ver, a questão
caso de segurado-empregador, au- não se resolve apenas com a afir-
mento de responsabilidade do titu- mativa de que não seria aplicável, in
lar, ou se traduzem crescimento da casu, a legislação do imposto de
empresa, expansão dos seus negó- renda.
cios, etc., devem ser considerados, Diante do exposto, dou provimen-
tendo em vista o comando teleológi- to ao recurso oficial e ao voluntário,
co da norma inscrita no § 2? do art. do INPS, para julgar improcedente a
23. ação, condenado o vencido nas cus-
tas e na verba honorária, arbitrada
No caso, isto não parece ocorrer. na mesma base em que ar. senten-
De fato. ça carregou ao ora apelante.
O autor contribuía sobre um salá- Fica prejudicado, em conseqüên-
rio mínimo. cia, o apelo do autor.
Assim fez durante três anos, de E; o meu voto.
1964 a 1966.
A partir de janeiro de 1967, passou VOTO
a contribuir sobre 10 (dez) salários
mínimos. O Sr. Ministro José Cândido (Revi-
sor): Dou provimento à apelação do
As contribuições foram feitas com autor, para reformar a sentença a
atraso de 5 (cinco) anos, vale dizer, quo «na parte que negou a condena-
de uma só vez. ção do INPS ao pagamento de dife-
Não explica ou justifica, o autor, o renças entre valores de benefícios,
dito atraso. Não explica ou justifica, decorrentes as diferenças do direito
o autor, o aumento. que tem à percepção da aposentado-
Nem há, nos autos, prova no senti- ria nos"" termos da legislação» previ-
do de que passara ele a perceber, denciária (fls. 62).
efetivamente, a partir de janeiro de Entendo que a decisão que julgou
1967, remuneração igualou superior procedente a inicial, pelos funda-
ao teto legal - 10 (dez) vezes o salá- mentos ali expendidos, não pode dei-
rio mínimo (LOPS, art. 76, I). xar de ser executada pelo simples
56 TFR - 71

argumento de que o autor pretende Como se verifica, houve contribui-


apenas a declaração do seu direito. ções consideradas exorbitantes pelo
A peça inaugural é, por demais, INPS, uma vez que ultrapassavam
clara e evidente, não só quando afir- aqueles limites fixados nas normas
mOU tratar-se também de uma ação próprias e que não se cingiam ape-
constitutiva de direito, como porque, nas ao limite do teto.
com mais objetivídade: pediu fossem Em virtude das disposições advin-
pagas as diferenças constatadas, o das do Decreto n? 66/66, ficou estipu-
que só pOderia ser feito através de lado o critério não apenas para as
execução. contribuições dos empregados, mas
Aceitar-se a recusa da sentença a sim também em relação aos empre-
quo, quanto à sua efetivação, é gadores, no que dizia respeito à ma-
.pretender-se firmar um academicis- joração em suas contribuições .
mo inteiramente contrário ao espíri- Pelo que se pode ver dos autos,
to da lei processual civil brasileira, realmente, as contribuições do em-
que pretende ser um diploma prático pregador foram muito além daque-
e objetivo. las permissíveis, de acordo com os
Ainda q~e fosse o caso de admitir- critérios estabelecidos a respeito.
se que a ação fosse apenas declara- Ainda mais, o recolhimento, de uma
tória, não poderia negar sua exe- só vez, de longo período de atrasados;
cução, na ~ forma do pedido inicial, impediu qualquer verificação por
tendo-se em vista o disposto no art. parte do órgão previdenciário, embo-
292, § 2?, do cpc. O parágrafo é por ra isto, a meu ver, seja irrelevante,
demais cláro: «Quando, para cada pois não tenho como de nenhuma
pedido, corresponder tipo diverso de forma vinculado o INPS a contribui-
procedimento, admitir-se-á a acumu- ções irregulares e que são recolhidas
lação, se o outro empregar o proce- diretamente aos bancos.
dimento ordinário». E o meu voto.
Reformo ainda a sentença para au-
mentar a fração relativa à condena- EXTRATO DA ATA
ção de honorários, que passa a ser
de 20%, e determinar que as custas AC. 35.213-PR - ReI.: Sr. Min.
do processo sejam devolvidas ao ou- Carlos Mário VeUoso. Rev.: Sr. Min.
tro pelo INPS, na forma do'" pedido José Cândido de Carvalho Filho.
inicial. Remte.: Juiz Federal da 2~ Vara.
Nego, conseqüentemente, provi- Aptes.: INPS e Oacy de Souza Lima.
mento às demais apelações. Apdos.: Os mesmos.
E o meu voto. Decisão: A Turma, por maioria,
vencido o Sr. Ministro-Revisor, deu
provimento à apelação do INPS para
VOTO reformar a sentença e julgar a ação
improcedente, prejudicado o recurso
O Sr. Ministro Aldir G do autor. (Em 19.2.79 - 3~ Turma).
Passarinho: Sr. Presidente, na hipó- O Sr. Min. Aldir Guimarães Passa-
tese, encontra-se afastada questão rinho votou de acordo com o Relator.
que já tem sido muito examinada O Sr. Min. José Cândido de Carvalho
neste Tribunal, qual seja a referente Filho, Juiz Federal convocado, com-
à aplicação das limitações previstas pareceu para julgàr processos a ele
na legislação do imposto de renda as vinculados. Presidiu o julgamento o
contribuições previdenciárias. Sr. Min. Armando Rolemberg.
TFR - 71 57

APELAÇAO ClVEL N? 35.411 - MG


Relator: O Sr. Ministro Evandro Gueiros Leite
Remetente: Juiz Federal da 3~ Vara
Apelados: Apolônio Victor da Silva s/mulher e outros
EMENTA
Desapropriaçao. DNER. Sentença proferida na
vigência do Código de Processo Civil anterior. Recur-
so de ofício interposto nos termos do art. 28, § I?, do
Decreto-Lei n? 3.365/41, com a redação da Lei n?
6.071/74, art. 10. Esse recurso tem por finalidade
precípua, entre outras, dar maior garantia a resguar-
do aos direitos e interesses da Fazenda Pública. Pa-
ra tanto, d~volve ao juízo ad quem o conhecimento in-
tegral da causa (CPC, art. 822, § Únic;b, UI), muito
embora só opere nos limites da sucumbência.
ACORDA0 da às margens da rodovia Rio/Ba-
hia. Dentro dela incluem-se benfeito-
Vistos, relatados e discutidos estes rias. O DNER ofereceu Cr$ 5.193,52,
autos, em que são partes as acima em 1971, e pediu a imissão provisó-
indicadas: ria na posse, alegando que não foi
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- possível fazer acordo devido às dúvi-
deral de Recursos, por unanimidade, das quanto ao domínio.
negar provimento ao recurso, na for-
ma do voto e notas taquigráficas O MM. Dr. Juiz mandou citar.
precedentes que ficam fazendo parte Acudiram à citação Apolônio Vitor
integrante do presente julgado. da Silva e sua niulher e contesta-
ram. Alegaram que Marinho de Sou-
Brasília, 9 de abril de 1980 (Data za Reis e a mulher, embora proprie-
do julgamento) - Ministro Evandro tários, abriam mão, por escritura
Gueiros Leite, Relator. pública, do direito à indenização em
favor deles. Também impugnaram o
valor da oferta. Contestaram, por úl-
RELATORIO timo, Antônio Evaristo dos Reis, o
Espólio de Maria Concessa dos Reis
O Senhor Ministro Evandro Guei- e Marinho de Souza Reis, limitando-
ros Leite (Relator): Trata-se de de- se ao pedido de perícia para avalia-
sapropriação de terras pertencentes ção das terras, por não concordarem
a vários co-réus, encabeçados pelo com a proposta do DNER. Às fls.
casal ApOlônio Victor da Silva. O ex- 107/109, porque perderam o prazo
propriante, que é o Departamento para contestar, ingressaram nos au-
Nacional de Estradas de Rodagem, tos, a título de habilitação, o Espólio
precisa fazer obras necessárias à de João Gomes de Campos e Ninfa
BR-1l6, no trecho Fervedouro/São Ferreira dos Santos. bs autos da
João ,do Manhuaçu. O imóvel situa- imissão somente foram juntos às fls.
se no município de Divino, mede 124/128. Realizou-se a prova pericial,
cl;lnto e noventa e cinco mil e noven- com laudos do perito e dos assisten-
ta metros quadrados e a sua proprie- tes técnicos indicados.
dade não está definida. E uma área
corrida em região rural, de forma ir- O processo foi ordenado às fls.
regular e topografia ondulada, situa- 153/156. O Dr. Carlos Mário da Silva
58 TFR - 71

Velloso rejeitou a preliminar do pri- VOTO


meiro contestante e o manteve nos O Senhor Ministro Evandro Gueiros
autos o caSal Marinho de Souza Reis, Leite (Relator): Os autos subiram ao
por achar que na desapropriação se Tribunal tão-só por força do recurso
cuida da fixação do preço da indeni- ex officio, previsto no Decreto-Lei n?
zação e só depois, quando se cogitar 3.365/41, art. 28, § I?, com a nova re-
do seu levantamento, é que serão dação que lhe deu a Lei n? 6.071/74,
examinados os títulos de proprieda- art. 10. O Juiz sujeitará a sentença,
de, em obediência ao art. 34, do necessariamente, ao duplo grau de
Decreto-Lei n? 3.365/41. Como havia jurisdição, se condenar a Fazenda
divergência entre os laudos sobre a Pública em quantia superior ao do-
dimensão da área exproprianda, o bro da oferecida. A Fazenda Pública
julgamento foi convertido em dili- aí envolve, também, os interesses
gência que se cumpriu pela preva- das autarquias, como é da jurispru-
lência da área indicada no laudo do dência assente.
perito do Juízo.
O recurso de ofício tem por finali-
A sentença confirmou os termos do dade precípua, entre outras, dar
saneador em relação à permanência maior garantia e resguardo aos di-
nos autos de todos os expropriados e nheiros públicos, evitando conluios e
não fez referência a qualquer dúvida suprindo, algumas vezes, a inércia
sobre o domínio das terras. Também do Ministério Público, quando há tu-
aceitou como verdadeira a área na tela de direitos e interesses indis-
extensão de 195.090,00 metros qua,- poníveis. Em princípio, tais recursos
drados. Cotejou os resultados das devolvem ao juízo ad quem o conhe-
três laudas e 'fixou-se no trabalho 'do cimento integral do litígio (CPC de
assistente do expropriante, por 1939, art. 822, parágrafo único, inciso
achar que refletia a média dos pre- lU), mas é lógico e jurídico que a
ços encontrados pelos três peritos, deVOlução só opera, quanto à Fazen-
tanto no tocante à terra nua como da Pública verbi gratia, nos limites
em relação às benfeitorias. A impor- ,da sucumbência.
tância total encontra,da foi de Cr$ Daí porque, arrimando-se a sen-
33.796,00, acrescida dos juros com- tença aos elementos de prova mais
pensatórios de 6% ao ano, sobre a di- favoráveis ao expropriante, não há
ferença entre a oferta e o valor da como falar-se em sucumbência do
indenização, a partir da imissão na DNER, tanto mais que não recorreu.
posse. Sobre a correção monetária, De fato, a sentença aprovisionou-se
deixou de inClUI-la desde logo na con- no laudo do perito do DNER. Os ju-
denação. E fixou os honorários advo- ros compensatórios foram fixados
catícios em 5% sobre a diferença en- em 6% ao ano e os honorários advo-
tre a oferta e a indenização. Arbi- catícios em 5% sobre a diminuta di-
trou em Cr$ 500,00 o salário do perito ferença entre a oferta e o valor da
oficial. indenização. Como o fulcro dos pro-
cessos expropr;iatórios reside no
Com o recurso de ofício subiram os quantum debeatur, a sua fixação ra-
autos ao Tribunal, onde a douta zoável não enseja sucumbência. E o
Subprocuradoria-Geral da RepÚblica recurso é Obrigatório ex vi legis. Veja-
pediu a confirmação da sentença. se, ademais, que a Subprocuradoria-
Geral da República pediu a confirma-
Pauta sem revisão por se tratar de ção da sentença.
recurso de ofício. Nego provimento ao recurso.
E o relatório. E o meu voto.
TFR - 71 59

APELAÇAO ClVEL N.o 36.309 - SP


Relator: O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz
Revisor: O Sr. Ministro Moacir Catunda
Remetente: Juiz Federal da 6~ Vara
Apelantes: Centrais Elétricas de São Paulo SI A - CESP, União Federal e
Agro-Pastoril Santo Antônio Administração Ltda. e outras.
Apelados: Os mesmos e Augusto de Oliveira Costa e outros

EMENTA
Desapropriação.
Só são de domínio públicü - Uniãü, Estadü üu
Município, confürme a titularidade do direitü sübre lO
rio üu lago navegável - lOS terrenüs reservados que
não pertencerém ao particular pIOr titulü legitimo de
aquisiçãü anteriür à vigência da Cünstituiçãü de
1934.
Admitir lO contráriü, generalizandü ou supündü
que lO Püder Públicü se haja arvüradü senhür de
bens já incürpüradüs aIO patrimôniü privadü, seria
consagrar übra manifestamente adver~a aIO nüssü
sistema jurídico, vistü que lOS Estatutos Pülíticos bra-
sileirüs, desde os primórdios, têm garantidü o respei-
to aIO direitü de prüpriedade em tüda a sua plenitude.
Levantamento do preçü cürrespündente a essas
áreas subordinadü à prova dü dümínio pIOr parte düs
expropriadüs, sübre cuja legitimidade decidirá lO
juizü da execução.
Estimativa dü peritü oficial que atende, cüm jus-
tiça, aos interesses em cünflitü, uma vez que toma .
pIOr base lO preço pIOr alqueire em transações efetua-
das à épüca na regiãü.
A verba hünürária é devida apenas aIO exprüpria-
dü que cüntratüu advügadü, püis se destina a ressar-
cir despesas a este titulü.
Recursü da exprüpriante prüvidü em parte.
ACORDA0 nistração Ltda. e outros e, dar
provimento, em parte, áo apelo da
Vistos, relatados e discutidos estes Centrais Elétricas de São Paulo SI A,
autos em que são partes as acima in- nos termos dü voto médiü dü Sr. Mi-
dicadas: nistro Paulü Távora, na forma do re-
Acordam os Ministros que com- latório e notas taquigráficas que pas-
põem a Segunda Turma do Tribunal sam a integrar o presente julgado.
Federal de Recursos, por unanimi- Custas como de lei.
dade, negar provimento à apelação
da União Federal, aIO recurso da Brasília, 16 de marçü de 1979 (Da-
Agro-Pastoril Santü Antônio Admi- ta dü jUlgamento) - Ministro
60 TFR - 71

Moacir Catunda, Presidente - Mi- zeiros) por alqueire, (fls. 542), en-
nistro Antônio Torreão Braz, Rela- contrado pelo perito' nomeado por
tor. este Juízo - Evaristo José Gar-
cia Ribeiro - em cujo laudo con-
RELATORIO clui, às fls. 543/544, que as áreas
de Zulmira de Sduza, Conrado
o Sr. Ministro Antônio Torreão Heitor de Queiros, Onuar Heitor
Braz: Centrais Elétricas de São Pau- Mendonça, Maria Nunes Soares e
lo S/A moveu ação expropriatória uma parte de 62 alqueires de
contra Augusto de Oliveira Costa e propriedade da expropriada Agro-
outros, alegando que, pelo Decreto Pastoril São Francisco Sociedade
Civil Ltda., não se encontram
Federal n? 63.037, de 25 de julho de dentro da discriminatória.
1968, foi declarada de utilidade públi- ...
ca, para a formação da bacia de Assim, consoante o laudo do sr.
acumulação de águas que irão ali- perito de confiança deste Juízo e
mentar a Usina Hidroelétrica de Ju- costumeiramente nomeado perito
piá, uma área de 1.011,47 hectares de judicial, condeno a expropriante
terras, constituída de glebas locali- a pagar aos expropriados:
zadas no Município \ de Pereira Bar- 1 - Augusto de Oliveira Costa,
reto, Estado de São Paulo. 4,055 alqs., Cr$ 16.260,00: 2 - Joa-
Pediu a imissão provisória na pos- quim Coca, 1.656 alqs., Cr$
se e ofereceu, a título de indeniza- 6.632,00: 3 - José Guimarães de
ção, a quantia de Cr.$ 26.298,22. Souza, 36,917 alqs., Cr$ 147.668,00;
4 - José Dourado, '; ...f-l3 alqs., Cr$
Requereu, por fim, a citação da 17.772,00; 5 - Jacintho Dourado,
União Federal, que estaria movendo 5,473 alqs., Cr$ 21.892,00; 6 ..:.:... Ni-
ação discriminatória, objetivando o colau Antônio da Silva, 7,045
domínio sobre terras da Fa:z;enda Mi- alqs., Cr$ 28.180,00; 7 - Moisés
litar de Itapura, abrangidas pelo de- Triburtino, 5,674 alqs., Cr$
creto de expropriação. 22.696,00; 8 - Agro-Pastoril Sto.
Contestaram a ação Maria Nunes Antônio e Administração Ltda. e
Soares (fls. 364/366), os sucessores outro, 157,000 alqs., Cr$ 628.000,00;
de Delfino de Carvalho (fls. 63/64 e 9 - Conrado H. de Queiroz e
323/324) e de Antônio Lunardelli (fls. Onuar H. de Mendonça, 86,82
330/332 e 336), deixando de fazê-lo os alqs., Cr$ 347.380,00; 10 - Zulmira
demais expropriados. de Souza, 76,114 alqs., Cr$
304,456,00; 11 - Maria Nunes Soa-
Manifestou-se a União Federal às res, 74,69 alqs., Cr$ 298.760,00, e,
fls. 414/418, aduzindo que a área re- julgo procedente a ação para in-
ferida na inicial estava sendo objeto corporar ao patrimônio da Cen-
de ação discriminatória, em tramita- trais Elétricas de São Paulo SI A
ção na 7~ Vara Federal da mesma - CESP, as áreas objeto da pre-
Seção Judiciária. sente ação, mediante o pagamen-
San~ador a fls. 433 e laudos peri- to das parcelas a que é condenada
ciais às fls. 196/301, 446/462, 493/501 e aos expropriados, com os acrésci-
526/540.
mos legais, sendo os juros mora-
tórios contados a partir da data
O Dr. Juiz julgou a ação proceden- da imissão de posse, sobre a dife-
te nestes termos (fls. 554/560): rença entre a oferta e a indeniza-
«Para a fixação do jU9to valor ção, honorários advocatícios cal-
das terras expropriadas, acolho o culados em 10% (dez por cento)
de Cr$ 4.000,00 (guatro'mil cru- sobre a diferença, entre a oferta e
TFR - 71 61

a condenação e custas, lncluinao a quem os autos foram inicial-


os honorários dos peritos, que ar- mente distribuídos (fls. 619).
bitro em Cr$ 3.000,00 (três mil É o relatório.
cruzeiros) e dos assistentes-
técnicos em Cr$ 1.500,00 (hum mil
e qÜinhentos cruzeiros) para cada VOTO
um. Por ora não é devida a corre-
ção monetária, uma vez que não O Sr. Ministro Antônio Torreão
decorreu mais de um ano de Braz (Relator): Senhor Presidente, o
perícia acolhida.» Dr. Juiz, pelO despacho de fls. 522,
usando da faculdade que lhe conferia
Apelaram Centrais Elétricas o art. 258 do Código de Processo Ci-
de São Paulo S/A (fls. 5621565), vil de 1939, determinou a realização
Agro-Pastoril Santo Antônio e de nova perícia e nomeou vistor o
Administração Ltda. e outras engenheiro civil Evaristo José Gar-
(fls. 567/570) e a União Federal cia Ribeiro.
(fls. 5721575).
A sentença apelada acolheu o seu
A expropriante postula se ex- laudo (fls. 526/536) no respeitante ao
clua da indenização a área reser- valor dado aos imóveis, e não vejo
vada, por pertencer à União, nos razão para dela discordar. A sua es-
termos da Súmula 479 do Supre- timativa inclui as benfeitorias e
mo Tribunal Federal e acórdãos apresenta razoável grau de credibili-
que menciona, bem como a redu- dade, uma vez que toma por base o
ção da verba honorária para 3%, preço por alqueire em transações
a ser paga apenas aos réus que efetuadas à época na região (fls.
contestaram a ação, e a preva- 463), fazendo menção, inclusive, a
lência dos valores fixados no lau- proposta da expropriante, em quan-
do do seu assistente técnico (sic). tia aproximada, a um proprietário
Os expropriados pedem que a das circunvizinhanças. O mesmo ex-
correção monetária seja calcula- perto colaciona avaliação levada a
da a partir da data da sentença, efeito em outra desapropriação pro-
sem a cláusula de ano a ano. movida pela autora perante a 7~ Va-
ra Federal de São Paulo, na qual o
A União Federal insiste na im- perito judicial atribuiu a cada al-
procedência da ação, por envol- queire, afora as benfeitorias, um ano
ver, em grande parte, a Colônia e cinco meses antes, o valor de Cr$
Militar de Itapura, cujo domínio 2.500,00 (dois mil e quinhentos cru-
lhe pertence. zeiros).
Sustenta a expropriante, em seu
A Sub procuradoria-Geral da apelo, que os terrenos reservados
República opinou pelo provimen- pertencem à União e, por isso, com
to do recurso da expropriante fulcro no laudo do primitivo perito
(fls. 610/611). oficial, pede a sua exclusão do cálcu-
lo da indenização.
Neste Tribunal, requereu Agro-
Pastoril Santo Antônio e Admi- Desacolho a pretensão.
nis1;rjição Ltda. (fls. 614) e con- Ressalte-se, de início, que o Rio
verção do julgamento em dili- Tietê não pertence à União Federal,
gêÍl6a, a fim de que fosse atuali- senão ao Estado, porque tem nascen-
zada a avaliação dos bens no te e foz no território paulista (Consti-
juízo de origem, pedido indeferi- tuição, art. 5~). Este ponto, entretan-
do pelo Ministro Esdras Gueiros, to, é secundário e não interfere no
62 TFR - 71

desate da questão, pois não adoto o As disposições, quer cor:.,;~i~ucio­


entendimento de que os terrenos re- nais, quer de lei ordinária, são muito
servados à margem dos rios navegá- claras e não abrem ensejo a discus-
veis sejam, ordinariamente, do são. Só são do domínio público (U-
domínio público. nião, Estado ou Município, conforme
Como se sabe, a matéria veio a ser a titularidade do direito sobre o rio
tratada pela primeira vez, em âmbi- ou lago navegável) os terrenos re-
to constitucional, na Carta de 1934 servados que não pertencem ao par-
(as Constituições de 1824 e 1891 fo- ticular. Ê um princípio secular, de
ram silentes), cujo art. 21 dispôs: profundas raízes históricas, como o
«Art. 21 - São do domínio dos demonstrou Afrânio de Mello Franco
Estados: em parecer, na Câmara dos Deputa-
I - omissis; dos, a projeto de Carneiro de Rezen-
de neste sentido, datado de 25 de
II - as margens dos rios e la- agosto de 1911 (Revista Forense, vol.
gos navegáveis, destinadas ao XVIII., pág. 371): Admitir-se o
uso público, se por algum título contrário, isto é, supor que tenha o
não forem do domínio federal, Poder Público se arvorado senhor de
municipal ou particular.» bens já incorporados ao patrimônio
A Constituição de 1937 repetiu o particular, seria consagrar obra ma-
preceito no seu art. 37, mas as Cons- nifestamente adversa ao nosso siste-
tituições de 1946 e 1967 se omitiram. ma jurídico, visto que os Estatutos
. No campo da legislação ordinária, Políticos brasileiros, desde os pri-
a disciplina do tema teve seqüência mórdios, têm garantido o respeito ao
com o Decreto n? 24.643, de 10-7-1934 direito de propriedade em toda a sua
(Código de Ãguas) . plenitude (Constituição de 1824, art.
179, inciso XXII; Constituição de
Prescrevem os seus arts. 11 e 31: 1891, art. 72, § 17; Constituição de
«Art. 11 - São públicos domini- 1934, art. 113, n? 17; Constituição de
cais, se não estiverem destinados 1937, art. 122, n? 14; Constituição de
ao uso comum, ou por algum 1946, art. 141, § 16; Constituição de
título legítimo não pertencerem 1967, art. 150, § 22). Veja-se a lição
ao domínio particular: de Pontes de Miranda (<<Tratado de
Direito Privado», Tomo II, pág. 167):
I? - omissis; «Quanto às margens dos rios, lagos e
2? - os terrenos reservados lagoas navegáveis, ou são bens pú-
nas margens das correntes públi- blicos de uso comum, ou são bens
cas de uso comum, bem como públicos dominicais, ou pertencem a
dos canais, lagos e lagoas da particulares. O critério para se veri-
mesma espécie. Salvo quanto às ficar se a margem é particular é o
correntes que, não sendo navegá- do exame do título. O que, na vigên-
veis nem flutuáveis, concorrem cia da Constituição de 1934, não era
apenas para formar outras sim- do domínio particular, continuava
plesmente flutuáveis, e não nave- bem público, sem se poder pensar
gáveis. em qualquer usucapião. Se era do
Art. 31 - Pertencem aos Esta- domínio particular, continuou de o
dos os terrenos reservados às ser, salvo se houve renúncia, ou
margens das correntes e lagos abandono (Código Civil, art. 589, II e
navegáveis, se, por algum título, III, e §§ I? e 2?), ou desapropriação
não forem do domínio federal, (art. 590), ou publicização da pro-
municipal ou particular.» priedade de particular (art. 66, III)>>.
TFR - 71 63

Ao que parece, tem-se feno confu- expropriados se estende até as mar-


são entre o domínio das faixas mar- gens do rio, conforme transcrições
ginais dos rios e lagos navegáveis e imobiliárias que discriminam.
a servidão administrativa a que es- Outrossim, con§.i...dero justa a verba
tão sujeitas. Esta finca raízes no art. honorária de 10%, tendo em vista o
39 da Lei n? 1.507, de 26 de setembro montante da indénização, que não é
de 1867, verbis: muito expressivo. Esta verba, po-
«Art. 39 - Fica reservada para rém, só é devida ao expropriado que
a servidão pública nas margens contratou advogado, vez que se des-
dos rios navegáveis e de que se tina, como é óbvio, a ressarcir des-
fazem os navegáveis, fora do al- pesas a este título.
cance das marés: salvas as con- Não agasalho, por outro lado, o re-
cessões legiti:rrías feitas até a da- cUrso da União Federal. Conforme
ta da publicação da presente lei, 'ressaltou o Dr. Juiz a quo, inexiste
a zona de sete braças contadas prova de que seja do seu domínio a
do ponto médio das enchentesor- área expropriada ou uma porção de-
dinárias para o interior, e o Go- la. A circunstãncia de tramitar ação
verno autorizado para concedê- discriminatória, envolvendo parte
las em lotes razoáveis na forma das terras, não lhe concede o direito
das disposições sobre os terrenos de impedir a desapropriação ou de
de marinha.» tolher a pretensão indenizatória doS
Essa servidão pública que grava nham expropriados que exibiram ou ve-
os terrenos marginais não implica, Ademais, a exibir títulos de domínio.
porém, subtração da propriedade se surgir dúvida a respei-
privada, como explica Hely Lopes to, deve o juiz proceder na conformi-
Meirelles: «Essa servidão, como as dade do Slrt. 34, parágrafo único, do
demais, não retira a propriedade do Decreto-Lei n? 3.365 de 1941.
particular, nem lhe tolhe a normal Não procede, por i.gual, o apelo dos
utilização das terras e dos produtos expropriados. A correção monetária,
do subsolo nas faixas marginais re- conforme jurisprudência assente, há
servadas; veda, apenas, as constru- de fluir a partir do laudo pericial
ções que possam impedir o trãnsito que fixou os valores, e isto resulta
das autoridades incumbidas da fisca- implicitamente do dispositivo da sen-
lização dos rios e lagos. Em caso de tença.
a Administração precisar desses ter- Diante do exposto, dou provimento
renos marginais, para obras ou ser- parCial à apelação da expropriante,
viços públicos que impeçam a sua a fim de limitar o pagamento da ver-
utilização pelos proprietários parti- ba honorária aos expropriados que
culares, impõe-se a sua desapropria- constituíram advogado, mantida no
ção, pois que a simples servidão ad- mais a sentença.
ministrativa de trãnsito não autoriza
o Poder Público ou seus delegados a
impedir totalmente o uso dessas ter- VOTO
ras ribeirinhas, que são do domínio
privado» (<<Direito Administrativo Apelação da «CESP»
Brasileiro», 2~ ed., pág. 516). O Sr. Ministro Moacir Catunda: No
Na espécie dos autos, não há falar- atinente à exclusão da indenização
se em domínio público, eis que os do- do valor da área reservada, a teor
cumentos de fls. 65, 69, 75 e 371, ex- do Decreto n? 24.643, de 10-7-34, art.
pedidos pelo cartório competente, 11, § 2? - Código de Águas e da Sú-
deixam claro que a propriedade dos mula 479, assiste razão à desapro-
64 TFR - 71

priante, visto que os terrenos se si- partir da avaliação, desmere~.:; :1ro-


tuam na confluência dos rios Tietê e vimento porque, interpretada com
Paraná. O primeiro é notoriamente certa largueza, de acordo COIr. a ju-
navegável, portanto rio público, só risprudência predominante chega-se
que do domínio do Estado de São à conclusão de que, decorrido tal
Paulo, em cujo território tem suas prazo, a mesma sentença ,considera
nascentes e sua foz, como se verifica o díreífo dos desapropriados incontes-
dos autos, e o diz a Constitução - te. Ora, tal obstáculo foi superado há
art. 5? O laudo do assistente-técnico vários anos. Certo o direito de cada
da desapropriante registra a existên- expropriado, de receber a quantia do
cia de área reservada. A mesma coi- interesse de cada um, em valores
sa diz o laudo do primeiro perito ofi- atualizados, a partir do laudo eleito
cial - fls. 201. O fato de o segundo pela sentença.
perito oficial haver negado valia à fi-
gura da área reservada, a considera- VOTO
ções tipicamente jurídicas fls. 532 -
não leva à inexistência da mesma, Apelação da União Federal
ainda na hipótese de terrenos ribeiri- O Sr. Ministro Moacir Catunda: A
nhos cobertos por escritura~ regis- ação de desapropriação das áreas
tradas no registro de imóveis, porque descritas na inicial foi ajuizada pela
se trata de terrenos públicos. O re- autora em 22-8-68, na conformidade
gistro, nesta parte, é ineficaz, como dos Decretos Federais n?s 59.851, de
demonstrou o Min. Laudo de Camar- 23-12-66, e 63.037, de 25-7-68, e julgado
go, ao ensejo do julgamento do R. E. por sentença de 29-6-73 - fls. 560. O
n? 10.042 de São Paulo, R.D.A. - decreto por último citado, que decla-
IV /73 - precisamente em desapro- ra de utilidade pública as áreas
priação incidente sobre terras situa- constantes dos planos do respectivo
das às margens do rio Tietê e que processo administrativo, não men-
conduziu à edição da Súmula 479. ciona a existência de terras do
De acordo com o laudo do I? perito domínio da União Federal, nos tre-
oficial, a área reservada, no caso, chos objeto dos levantamentos feitos
mede 105.450.00 m2, quantidade essa pelos órgãos competentes, com vis-
obtida mediante a multiplicação da tas à construção da bacia de acumu-
extensão linear, de 7,30 metros, ao lação da hidrelétrica de Jupiá.
longo do rio, com 15m de profundida- O próprio da União, que se alega
de. demorar na área objeto da desapro-
A desapropriante não tem obriga- priação, estará coberto pela conces-
ção de indenizar tal área pelo que o são outorgada à desapropriante, que
voto a exclui. é empresa de economia mista, de cu-
jo capital participa a União Federal.
~o atinente à verba honorária, de Não será demais, por outro lado,
10% sobre o valor da diferença, entre admitir-se a concessão do uso do
a 'oferta e a parcela de cada interes- próprio da União, indispensável à
sado, corrigida monetariamente, fico consecução do empreendimento em
de acordo com solução do eminente que figura como grande interes§ada.
relator. A fatia de terreno federal presumi-
No tocante à apelação de Agro- velmente estará coberta pelas águas
Pastoril Santo Antônio e Administra- da represa que a União ajudou a
ção Ltda e outros, contra a cláusula construir. A desapropriante estava
da sentença, que deixou de dar cor- seguramente legitimada, quando
reção monetária, por não haver, en- propôs a ação. Dá-se, por outro lado,
tão, decorrido um ano e um dia - a que a dita apelação encerra questão
TFR - 71 65

do domínio, de deslinde impraticá- fórmula do artigo 31 do Código de


vel, nos autos,nos termos do art. 20 Aguas que admite a propriedade pri-
da Lei das Desapropriações, de sorte vada sobre os terrenos reservados
que o recurso em exame não tem em caráter excepcional, se tiver ha-
sentido, nem objeto. vido aquisição por título legitimo. A
regra é o domínio público que, na di-
VOTO visão patrimonial entre as pessoas
da Federação,. cabe aos Estados-
O Sr. Ministro Paulo Távora: O membros, se as águas
proprietário é o sujeito passivo da circunscreverem-se a seu território,
ação expropriat9ria ex vi do artigo estendendo-se a mais de um mu-
16 do Decreto-Lei n? 3.365, de 1941. nicípio. Caso contrário, pertencerão
Presume-se pertencer o domino à Prefeitura, se o rio contiver-se nos
àquele em cujo nome figura o bem seus limites ou à União, se banhar
expropriado no Registro Imobiliário, mais de um Estado ou situar-se nas
diz o artigo 859 do Código Civil. A fronteiras nacionais.
presunção cobre toda área constante
do registro até prova em contrário. Pelas alternativas a que está sujei-
to o direito de propriedade sobre os
No caso, o Sr. Ministro-Relator in- terrenos reservados e atendendo ain-
forma que a transcrição estende a da à jurisprudência da Suprema Cor-
propriedade particular até o rio Tie- te compreendida na Súmula n? 479,
tê. Milita, pois em favor dos expro- dou provimento parcial ao recurso
priados a presunção de caber-lhes o da expropriante para:
direito real na extensão descrita,
salvo se demonstrar-se, nos termos a) a autora depositar a indeniza-
do artigo 31, do Código de Aguas que ção integral de toda área expropria-
a parte marginal pertence ao da coberta pelo registro imobiliário,
Estado-Membro, ao Município ou à em nome do proprietário;
União. b) o levantamento, pelos expro-
A presunção juris tantum de pro- priados, da parte do preço relativo
priedade privada resultante do regis- aos terrenos marginais que a perícia
tro imobiliário não exclui, porém, a fixou em 105.450 m2, dependerá de
hipótese de dúvida sobre a origem prova específica de legitima incorpo-
dominial, isto é, se a faixa de terra ração à propriedade particular nos
ao longo da corrente pÚblica termos. do artigo 31 do Código de
incorporou-se por título legitimo ao Aguas;
patrimônio do ribeirinho. Essa apre-
ciação faz-se, todavia, em execução c) o juizo de execução decidirá so-
conforme estabelece o artigo 34, pa- bre a legitimidade da prova de
rágrafo único, da lei expropriatória. dominio e adotará, em caso de dúvi-
Não afasta de logo a dúvida, a cir- da, a providência do artigo 34, pará-
cunstãncia de o artigo 39 da Lei grafo único, da lei expropriatória.
1.507, de 1867, falar em servidão pú-
blica sobre os terrenos marginais. O EXTRATO DA ATA
dispositivo ressalva também as con-
cessões anteriores e autoriza o Go- AC n? 36.309 - SP - ReI.: Sr. Min.
verno a dispor dessas áreas median- Antônio Torreão Braz. Rev.: Sr. Min.
te loteamento a terceiros. A norma Moacir Catunda. Remte.: Juiz Fede-
não de~carta, assim, o dominio do ral da 6~ Vara. Aptes.: Centrais Elé-
Estado, que se manifesta pélas con- tricas de São Paulo SI A - CESP,
cessões em termos semelhantes ao União Federal e Agro-Pastoril Santo
regime das faixas de' marinha. Daí a Antônio Administração Ltda. e ou-
66 TFR - 71

tras. Apdos.: Os mesmos e Augusto de da Agro-Pastoril Santo Antônio, Ad-


Oliveira Costa e outros. ministração Ltda. e outros, unanime-
Decisão: Negou-se provimento à mente. (Em 16-3-79 - 2~ Turma).
apelação da União Federal, unani- Quanto aos recursos da Unii:i.o e da
memente. Deu-se provimento, em Agro-Pastoril Santo Antônio, Admi-
parte, ao apelo da Centrais Elétricas nistração Ltda., os Srs. Mins. Moacir
de São Paulo SI A, nos termos do vo- Catunda e Paulo Távora votaram
to médio do Sr. Ministro Paulo Távo- com o Relator. Presidiu o julgamen-
ra. Negou-se provimento ao recurso to o Sr. Min. Moacir Catunda.

APELAÇAO ClVEL N~ 46.280 - RJ

Relator: O Sr. Ministro Carlos Mário Velloso


Revisor: O Sr. Ministro Armando Rolemberg
Apelante: Alcino Biancardi
Apelada: União Federal
EMENTA
Administrativo. Jornalista, Registro na D.R.T.
Servidor de Autarquia sob Regime da CLT. Decreto-
Lei n~ 972/69, arts. 2~, 3~ e 4~. Decreto n~ 65.912/69,
arts. 1~ e 5~, § único.
I. Exerce o autor, na autarquia federal, atribui-
ções coincidentes com as do artigo 2~ do Decreto-Lei
n? 972/69. De se lhe deferir o registro, pois, na
D.R.T., na forma do disposto no artigo 5?, § único, do
Decreto n~ 65.912/69 (Dec.-Lei 972, de 1969, artigo 4~
§ 3~).

H. Recurso provido.

ACORDA0 RELATORIO
A r. sentença recorrida, às fls.
Vistos, relatados e discutidos estes 36/38 lavrada pelo MM. Juiz Fran-
autos, em que são partes as acima ciSCO' Trindade, assim relata a espé-
indicadas. cie:
Decide a Terceira Turma do Tri- «Alcino Biancardi promove esta
bunal Federal de Recursos, por una- ação, de procedimento ordinário,
nimidade, dar provimento ao recur- com o objetivo de fazer com que a
so para reformar a sentença e julgar União o registre no Ministério do
a ação procedente, na forma do rela- Trabalho como Redator do Serviço
tório e notas taquigráficas preceden- Público, para que possa gozar das
tes que ficam fazendo parte inte- vantagens da Lei que dispõe sobre
grante do presente julgado. o exercício da profissão de jorna-
Custas, como de lei. lista.
Brasília, 24 de maio de 1978. - Mi- Alega que, nos termos do
nistro Armando Rollemberg, Presi- Decreto-Lei 972/69, requereu o re-
dente - Ministro Carlos MáriO gistro como Redator do Serviço
Velloso, Relator. Público, mas o seu pedido foi inde-
TFR - 71 67

ferido, não obstante junta-se decla- que pOdem ser registrados profis-
ração esclarecendo que exercia sionalmente. E o Autor não escon-
atividades equivalentes, sob a ale- de a sua condição de servidor, vin-
gação de que não se aplicava a le- culado à Consolidação das Leis do
gislação invocada aos servidores Trabalho, por uma relação de di-
regidos pela Consolidação das Leis reito privado, qual a resultante do
do Trabalho. contrato de emprego.» (Fls. 37).
A Ré contestou, alegando que o Apelou o vencido, às fls. 41/42. Diz
Regulamento baixado com o decre- que é redator no serviço púbLico. É
to 65.912/69 esclarece que o Minis- celetista. Deve se inscrever, não
tério do Trabalho registrará ape- tante, no órgão de classe, na forma
nas os funcionários públicos titula- do Dec.-Lei 972/69 e seu regulamento,
res de cargo cujas atribuições o Decreto n? 65.912/69. A Lei 6.183/74
coincidam com as definidas no art. estabeleceu o regime da CLT para
2? do Decreto-Lei 972/69, condição os redatores do serviço público. A
a que não atende o Autor, que é inscrição pretendida é Obrigatória e
empregado celetista do INCRA. há, apenas, imperfeição técnica no
O Autor replicou, juntando docu-
Dec.-Lei 972/69, quando se referiu a
mentos em que se acha o seu nome funcionário.
figurando como Redator do IN- Resposta à fI. 44.
CRA. Conferidas fotocópias, O parecer da douta Subprocurado-
vieram-me conclusos os autos, com ria-Geral da República, às fls. 49/50,
mais algumas centenas de outros, é no sentido do desprovimento do
para julgamento antecipado». (fls. apelo.
36/37). É o relatório.
A r. sentença julgou improcedente VOTO
a ação, condenado o Autor ao paga-
mento das custas e honorários advo- O Sr. Ministro Carlos Mário Venoso
catícios, arbitrados em 20% sobre o (Relator): O autor exerce, no IN-
valor da causa. CRA, contrato pelo regime da CLT,
Argumentou: funções equivalentes a redator (fls.
«O autor invoca o art. 3? do 10). Quer, então, registrar-se no Mi-
Decreto-Lei n? 972, de 17 de outu- nistério do Trabalho, como tal, na
bro de 1969 como fundamento do forma do Decreto-Lei n? 972, de 17-
seu direito. Mas o que estabelece o 10-69, artigos 2? e 3?, e Decreto n?
§ 2? do referido artigo não aprovei- 65.912, de 19-12-69, artigos 1? e 5?, §
ta à sua pretensão. único.
O Orgão da administração pú- Vejamos as disposições legais per-
blica direta ou autárquica que tinentes à espécie:
mantiver jornalista sob vínculo Dispõe o Decreto-Lei n? 972, de 17-
de direito público prestará, para 10-69, § 2? do art. 3?
fim de registro, a declaração de
exercício profissional ou de cum- Art.3? ........................ .
primento de estágio.» § 1? ........................... .
Em consequência, não poderia o § 2? - O orgão da administração
Regulamento dispor de modo dife- pública direta ou autárquica que
rente daquele porque o faz a lei, a mantiver jornalista sob vínculo de
que serve. Somente aqueles funcio- direito públiCO prestará, para fim
nários públicos, titulares de car- de registro, a deélaração de
gos, em virtude de relação estatu- exercício profissional ou de cum-
tária, de direito público, pois, é primento de estágio.». (fls. 37).
68 TFR - 71

o Decreto n? 65.912, de 19-12-69, re- deral, atribuições coincidentes com


gulamentador do Decreto-Lei 972/76 as do art. 2? do Decreto-Lei 972/69.
estatui, nos seus artigos 1? e 5?, § O que se discute é o fato de s-er ele
único: celetista e, como tal, não poder se
«Art. 1? - O exercício da profis- registrar na Delegacia Regional do
são de jornalista requer registro Trabalho, como jornalista, porque as
prévio nas delegacias Regionais do
Ministério do Trabalho e Previdên- normas citadas se referem a funcio-
cia Social.» nário, certo que os celetistas não
No particular, o dispositivo supra mantêm com os órgãos públicos pa-
transcrito repetiu a norma inscrita ra os quais trabalham, vínculo de di-
no artigo 4? do Decreto-Lei n? 972/69. reito público (D.L. 972/69, § 2? do
art. 3?).
«Art. 5?, § único, do Decreto Na verdade, interpretando-se lite-
65.912/69. ralmente os preceitos legais mencio-
(~Art. 5? - As Delegacias Regio- nados, a pretensão do autor de
naIS do Ministério do Trabalho e registrar-se no Ministério do T~aba­
Previdência Social registrarão em lho, não seria procedente.
l~vro próprio, o funcionário pú'blico
tltu!éir de cargo, cujas atribuições de Isto criaria, todavia, uma situação
lei coincidam com as definidas no anômala, que importaria, em última
art. 2? do Decreto-Lei n? 972, de 17- análise, em descumprimento da lei,
10-69.» o Decreto-Lei 912/69: O autor, embó-
Parágrafo único. O registro será ra exercendo atribUições próprias da
procedido, face à apresentação de profissão de jornalista (art. 2? do
a!o original de nomeação ou admis- Decreto-lei 972/69), que exigem, pa-
sa,o 'para cargo de Administração ra o seu exércicio, registro (art. 4?),
PublIca, com as atribuições referi- inclusive para aqueles que traba-
das neste artigo, ou cópia autentica- lham no serviço público (art. 3?, § 2?,
da ou ainda certidão do mesmo.» art. 4?, § 3?, b), ,não seria registrado,
Na verdade, dito preceito regula- porque o seu vmculo com o serviço
mentar, art. 5?, decorre, como bem púl ::0 é contratual e não de direito
escreve o Sr. Consultor Jurídico do público, ou, noutras palavras, por-
Ministério do Trabalho, Dr. Marcelo que não é funcionário. strictu sensu
Pimentel, à fI. 21, «do preceito con- mas seryidor público, gênero do quai
substanciado no § 3? do art. 4? do funcionário é espécie. Porque não se
Decreto-lei n? 972, de 17-10-69, o qual pode mudar a natureza das coisas
deferiu ao regulamento a disciplina- continuaria exercendo o autor a~
ção do registro especial do funcioná- atribUições de jornalista, sem regis-
rio. P~b~iCO titular de cargo cujas tro, o que a lei não permite (art. 4?).
atnbUlçoes legais coincidam com as E mais, estaria criada uma espécie
do a~t. 2? do mesmo diploma legal», esdrúxula dentre a classe dos que
por ISSO que dispõe o citado § 3? do exercem a profissão de jornalista: os
art. 4?, do Decreto-Lei 972/69: empregados, assim celetistas, das
empresas privadas, exercentes de
. §3? - O regulamento disporá quaisquer das atividades inscritas no
amda sobre o registro especial de: art. 2? do Decreto-Lei 972/69, devam
a) ............................................ se registrar; os funcionários públi-
cos, ~a mesma situação daqueles,
b) funcionário público titular de tambem, devem se registrar; (art. 3?
cargo cujas atribuições legais coin- § 2?, art. 4?, § 3?, b Decreto n?
cidam com as do artigo 2?» 65.912/69, art. 5? e seu § único); mas
No caso, não se questiona o fato de os celetistas da administração públi-
que exerce o autor. na autarquia fe- ca, assim servidores públicos, exer-
TFR - 71 69

centes de atividades idênticas a de VOTO


seus: colegas funcionários públicos,
ou de seus colegas celetistas de em- O Sr. Ministro Armando
presas particulares, não poderiam se Rolemberg (Revisor): O Decreto-Lei
registrar. 972/69, que dispôs sobre a profissão
Isto, evidentemente, não nos pare- de jornalista, no parágrafo 3? do art.
ce acertado, não é racional, é mes- 3?, estabeleceu que «o órgão da Ad-
mo um absurdo, porque ilógico. ministração Pública Direta ou Au-
tárqUica que mantiver jornalista sob
Então, porque as leis não costu- vínculo de direito público, prestará,
mam consagrar ilogicismos, deve o para fins de registro, a declaração
intérprete, sempre qi).e isso parece do exercício profissional ou de cum-
estar ocorrendo, procurar ajustá-la primento de estágio».
aos princípios lógicos, captando-lhe
a ratio, a sua finalidade, os seus ob- O reclamante, admitido inicial-
jetivos. mente, em 1966, pelo INDA, como
colaborador comercial, (fls. 5), pas-
E o que tentaremos fazer, aqui. sou, em 1968, a Técnico Especialista
O objetivo do Decreto-Lei 972/69, em Divulgação (fls. 7), e, em 1974, a
ao que nos parece, é regulamentar a Redator (fls. 30), função típica de
profissão de jornalista, dada a sua jornalista (art. 2?, letra a, do Decre-
importância social, impedindo o seu to Lei 972/69), e daí pretender a ado-
exercício aos que não satisfazem de- ção da providência prevista no art.
terminados requisitos, pelo que im- 3?, par. 3? do mesmo diploma legal
pôs a obrigatoriedade do registro antes lido.
desses profissionais no órgão gover- A respeitável sentença recorrida
namental trabalhista (art. 4?). As- teve como improcedente a reclama-
sim, não poderiam exercer ativida- ção ao fundamento de que a relação
des privativas da profissão, senão de trabalho regida pela CLT é sem-
aqueles que estivessem registrados. pre de natureza privada e que a pro-
No caso, o autor, o que não se vidência pretendida pelo reclamante
questiona, exerce tais atividades. somente é cabível quando existe re-
Não se lhe deferindo o registro, re- lação de direito público entre o em-
sulta, como conseqüência, o descum- pregado e a administração, isto é,
primento do objetivo da lei, a menos quando se tratar de funcionário pú-
que deixe ele de exercer as suas ati- blico stricto sensu.
vidades, o seu emprego. Esse entendimento, data venta,
Então, o que se deve entender é não merece prosperar.
que a lei, quando utilizou a palavra O fato de as relações de trabalho
funcionário, que é espécie do gênero de servidores públicos serem regidos
servidor, fê-lo por erro de técnica. pela CLT não torna o vínculo exis-
Ela, numa interpretação teleológica tente entre empregado e emprega-
e sistemática, quer abranger tam- dor de natureza privada, pois o em-
bém o gênero, pois, como vimos de pregador não se despe, em momento
ver, não teria sentido o registro uni- nenhum, de sua personalidade de di-
camente da espécie. reito público, de que resulta que a
execução da sentença proferida a
Diante do exposto, dou provimento respeito da relação de emprego men-
ao recurso, para julgar procedente a cionada não 'poderá seguir as regras
ação, condenáda a vencida ao paga- aplicáveis às empresas privadas,
mento da verba honorária, arbitrada pois os bens da União' são impenho-
na mesma base em que ar. sentença ráveis, executando-se a decisão por
carregou ao ora apelante. precatória. De- outro lado, responde
70 TFR - 71

a União, objetivamente, pelos atos alcançar os servidores públicos jor-


de seus empregados, o que diferen- nalistas em geral, e, conseqüente-
cia a relação existente no caso com mente, os regidos pela CLT.
aqueia em que é parte pessoa jurídi- Dou provimento ao recurso para
ca de direito privado, pois, então, a reformar a sentença, julgar a ação
responsa.bilidade somente as confi- procedente e condenar a União em
gura havendo ou emissão voluntária, honorários de 20% sobre o valor da
negligência ou imprudência de pre- causa.
posto violando direito de outrem ou
causando-lhe prejuízo (art. 159 do EXTRATO DA ATA
Código Civil c.c. os arts. 1522 e 1523
do mesmo CÓdigo). AC 46.280 - RJ - ReI.: Sr. Min.
Além disso, fosse intenção do le- Carlos Mário Velloso. Rev.: Sr. Min.
gislador do Decreto-Lei 972 restrin- Armando Rolemberg. Apte.: Alcino
gir aos funcionários estatutários a Biancardi. Apda.: União Federal.
regra do art. 3?, parágrafo 3?, e ex- Decisão: A Turma, por unanimida-
pressamente a eles teria aludido, o de, deu provimento ao recurso para
que não fez, referindo-se a todo e reformar a sentença e julgar a ação
qualquer jornalista mantido por ór- procedente. (Em 24-5-78 - 3~ Tur-
gão da Administração Direta ou au- ma).
tárquicq, sob vínculo de direito pú-
blico. Os Srs. Mins. Armando Rolemberg
O uso dessa expressão, de alcance e Aldir G. Passarinho votaram com
bem mais amplo do que se fosse fei- o Relator. Presidiu o julgamento o
ta referência a funcionário público, Exmo. Sr. Min. Armando
teve como Objetivo, ao que entendo, Rolemberg.

APELAÇAO C1VEL N? 47.631- RS

Relator: O Sr. Ministro Jarbas Nobre


Revisor: O Sr. Ministro Paulo Távora
Apelante: INPS
Apelada: Moura Empreendimentos e Representações Ltda.
EMENTA
Execução Fiscal. Contribuições previdenciárias.
Extinção do processo com fulcro no artigo 267, IV,
do CPC.
O exeqüente não providenciou a citação do réu
por mais de trinta dias (art. 267, II) nem supriu a
falta em 48 horas, apesar de intimado pessoalmente
(art. 267, § 1. 0).
pemais disso, o débito está prescrito, eis que,
ca.racterizada a contribuição previdenciária como
espécie do gênero tributo, sua exigibilidade se con-
tém dentro do periodo de cinco anos (prevalência
dos arts. 173 ou 174 do CTN sobre o art. 144 da
LOPS).
Sentença confirmada.
Recurso improvido.
TFR - 71 71

ACORDA0 VOTO
Vistos, relatados e discutidos estes O Sr. Ministro Jarbas Nobre: No
autos, em que são partes as acima conceito adotado pelo artigo 3?· do
indicadas: Código Tributário Nacional, «tribu-
Decide a Segunda Turma do Tribu- to» é «toda prestação pecuniária
nal Federal de Recursos, por unani- compulsória, em moeda ou cujo va-
midade de votos, negar provimento lor nela se possa exprimir, que não
à apelação, na forma do relatório e constitua sanção de ato ilícito, insti-
notas taquigráfiças procedentes que tuída em lei e cobrada mediante ati-
ficam fazendo parte integrante do vidade administrativa plenamente
presente julgado. vinculada» .
Custas como de lei. Mesmo Código indicava como es-
Brasília, 20 de abril de 1977 (data pécies do gênero tributo, o «impos-
do julgamento) - Décio Miranda, to», a «taxa» e a «contribuição de
Presidente - Jarbas Nobre, Relator. melhoria» .
Rubens Gomes de Souza sempre se
RELATORIO rebelou contra essa divisão. Assim é
que já em 1953, ao redigir, como re-
O Sr. Ministro Jarbas Nobre. O lator, anteprojeto que mais tarde vi-
INPS ajuizou executivo fiscal para ria a servir de base ao Código vigen-
haver quantias de que é credor. te, propunha que os tributos fossem
Porque o exeqüente não conseguiu impostos, taxas e contribuições, en-
fornecer o endereço do devedor, tendidas estas como aquelas que não
após diversos pedidos de suspensão fossem especificamente impostos ou
do feito, o Dr. Juiz proferiU o seguin- taxas.
te despacho (fls. 15): Apesar desta fundada repulsa ini-
«Vistos, etc. cialmente exposta pelo pranteado
tributarista em 1951 (RDA - 26/363,
Apesar de já ter recorrido e RF - 155/21), não foi ela acolhida,
mais de cinco anos desde o ajui- de pronto.
zamento da presente execução,
até a presente data o exeqüente Tal situação, entretanto, em 14-11-
não conseguiu sequer citar o exe- 66, com o advento do Decreto-Lei n?
cutado. 27, foi devidamente esclarecida, poiS
que ao acrescentar um novo artigo
Não tendo conseguido a citação 218 ao Código, confirmou a incidên-
até agora, por <terto, não o conse- cia e a exigibilidade daquelas contri-
guirá mais e,se o conseguir, o buições que já vigoravam à data da
executado irá alegar a prescri- sua edição.
ção.
Leio o dispOSitivo, para melhor
Assim sendo, compreensão:
Julgo extinto o presente pro- «As dispOSições desta Lei ...
cesso, com fulcro no art. 267, in- não excluem a incidência e a exi-
ciso IV, do CPC. Arquivem-se, gibilidade: I - da contribuição
dando-se baixa na distribuição. sindical ... II - das denominadas
P.R.I.» quotas de previdência de que tra-
Apela o Instituto. tam os artigos 71 e 74 da LOPS;
1I1 - de contribuição destinada a
A Sulaprocuradoria-Geral da Repú- constituir o "Fundo de Assistên-
blica pede a reforma do decisório. cia e Previdência do Trabalhador
É o relatório. Rural ... »; IV - da contribuição
72 TFR - 71

destinada ao FGTS; V - das con- e generaliza o que já constava da


tribuições enumeradas no § 2? do Constituição de 1967, art. 157, § 9?
artigo 34 da Lei n? 4.863, de 1945 (domínio econômico), artigo 158,
... e outras de fins sociais, cria- XVI (previdência social) e artigo
das por lei». 159, § I? (categorias profissio-
Assinala o citado Rubens num de nais), todos colocados no capítulo
seus últimos trabalhos (<<A Contri- 'Da ordem Econômica e Social'.
buição de Previdência Social e os De resto, estes últimos dispositi-
Municípios» - Prefeitura do Mu- vos continuam repetidos, já ago-
nicípio de São Paulo - 1973, página ra desnecessariamente, no mes-
50): mo capítulo da Emenda 1/69, ar-
«Ora, se o Decreto-Lei 27/66 fez tigo 163 § único, artigo 165, XVI e
tudo isso, foi obviamente porque, art. 166 § I?».
para que as exações que enume- Caracterizada a contribuição pre-
rava continuassem válidas em videnciária como espécie do gênero
face da Emenda Constitucional tributo, segue-se ainda com apoio
18/65, entendeu necessário em Rubens, que a ela.
qualificá-las juridicamente como «aplicam-se as normas consti-
contribuições e reconhecer-lhes tucIonais e de lei complementar
por essa qualificação, a naturez~ relativas aos tributos, inclusive
de tributos. Se assim não fosse quanto a estas últimas, prevale-
como nã'o há leis inúteis ou re~ cendo as de CTN sobre as da le-
dundantes, o Dec-Lei 27/66 nem gislação específica da previdên-
sequer teria sido expedido. cia social, em razão da maior
Por outro lado, qualificando co- hierarquia daquelas sobre estas,
mo 'contribuiçÕes' as exações especificamente, em matéria de
que enumero-u - ao lado da 'con- caducidade ou prescrição, preva-
tribuição de melhoria' já referida lecendo os artigos 173 ou 174 do
no artigo 19 da Emenda 18/65 e CTN sobre o artigo 144 da
nos artigos 81/82 do CTN - o LOPS". (ob. cito página 108).
Dec-Lei n? 27/66 invalidou a tese
doutrinária da contribuição- Ante tal opinião, a mais abalizada
espécie ... Em outras palavras, que se poderá exigir, não titubeio em
reconheceu expressamente a na- concluir que a exigibilidade da con-
tureza genérica da figura tributá- tribuição previdenciária prescreve
ria da contribuição, consignando- em cinco anos, como previsto pelo
lhe outras espécies, além da 'de Código Tributário N acionaI.
melhoria'. De resto, neste parti- Ante o exposto, e pelos fundamen-
cular o Dec. Lei 27/66 apenas se tos expostos, confirmo a Sentença.
antecipou à própria Constituição, Nego provimento ao recurso.
que viria depois atribuir compe-
tência à União para, além dos VOTO (REVISOR)
impostos, das taxas e da contri-
buição de melhoria, instituir ou- O Sr. Ministro Paulo Távora: Apli-
tras contribuições, «tendo em cadas, subsidiariamente, à execução
vista a intervenção no domínio as disposições que regem o processo
econômico e de interesse da pre- de conhecimento (art. 598), incumbe
vidência social ou de categorias ao autor promover o· chamamento do
profissionais (Emenda Constitu- réu nos dez dias seguintes à prolação
cional n? 1, de 1969, artigo 21, § do despacho (art. 219, § 3?). Ciente
2?, 1)). de achar-se o devedor em lugar in-
Esse texto está, ademais, no certo e não sabido, cumpre ao cre-
Capítulo 'Do Sistema Tributário' dor fornencer novo endereço ou re-
TFR - 71 73

querer citação edital. Abstendo-se dr VOTO


fazer uma ou outra coisa, incide ll(
art. 267, item IH, do Código de Pro- O Senhor Ministro Carlos Mário
çesso Civil. Como o processo se de· Velloso: Estou de acordo com os
senvolve sob o impulso oficial (art. Srs. Ministros Relator e Revisor,
262), assiste ao juiz de ofício assinar mas com ressalva de meu ponto-
prazo ao autor para diligenciar o ato de-vista pessoal no que tange à
faltante sob pena de extinção da ins- prescrição.
tância. Nesse sentido, é o comentá-
rio de Moniz de Aragão: EXTRATO DA ATA
«Em vista de o impulso subse-
qüente ao inicial independer de A.C. n? 47.631 - RS - ReI.: Sr.
manifestação da parte, o próprio Min. Jarbas Nobre. Rev.: Sr. Min.
juiz, porque verificou a paralisa- Paulo Távora. Apte: INPS. Apdo.:
ç'ão, ou esta lhe foi informada pOelo Moura Empreendimentos e Repre-
escrivão, tanto pOde ordenar, de sentações Ltda.
ofício, o prosseguimento da mar- Decisão: Por unanimidade,
cha processual, como determinar a negou-se provimento à apelação.
intimação das partes a que a pro- (Em 20-4-77 - 2~ Turma).
movam, declarando a extinção, se Os Srs. Ministros Paulo Távora e
neste último caso a inércia perdu- Carlos Mário Velloso votaram de
rar.» acordo com o Relator. Presidiu o
(Comentários ao Código de Pro- julgamento o Exmo. SI. Ministro
cesso Civil- VoI. H p. 421). Décio Miranda.
APELAÇAO CIVEL N? 48.324 - RJ
Relator: O Sr. Ministro Armando Rolemberg
Remetente Ex Off!cio: Juiz Federal da 6~ Vara
Apelantes: SERRANO - Indústria Brasileira de Alimentação SI A. e
União Federal
Apelados: Os mesmos.
EMENTA
Processo Civil
DepOis de transitada em julgado sentença que de-
clarou a extinção de execução fiscal em razão do pa-
gamento do débito pelo executado, não é possível, por
via de ação ordinária, a anulação do lançamento que
dera origem ao mesmo débito.
ACORDA0 constantes dos autos que ficam fa-
Vistos e relatados os autos em que zendo parte integrante do presente
são partes as acima indicadas~ julgado.
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- Custas como de lei.
deréÜ de R~cursos, por maioria, re- Brasília, 19 de maio de 1980 (Data
formar a sentença para julgar a au- do julgam'ento). - Ministro
tora careéedora de ação, na forma Armando ROlemberg, Presidente e
do relatório e notas taquigráficas Relator.
74 TFR - 71

RELATORIO la autora aos advogados que subs-


O Sr. Min.istro Armando creveram sua defesa não lhes teria
Rolemberg: A sentença assim expôs conferido pOderes especiais para
a matéria discutida nos autos: representá-la junto à Delegacia da
Receita Federal (fls. 36), bem como
«Serrano - Indústria Brasileira de o aditamento à defesa seria intem-
Alimentação S/A. sucessora de Fir- pestivo, pois que entrado após os 30
gorífico Serrano S/A, ajuizou a pre- dias concedidos para a apresentação
sente ação ordinária em que pleiteia de defesa (fls. 37).
a restituição (lo que pagou judicial-
~ente à União Federal, em executivo
O Delegado da Receita Federal,
fIscal que lhe foi movido pela Fazen- acatando o entendimento do funcio-
da Nacional na 7': Vara desta Seção nário, julgou procedente a ação fis-
cal e manteve a cobrança (fls.
Judiciária, num total de Cr$ 8.080,46 38/39).
(fls. 44), acrescendo-se a essa quan-
tia juros de mora, contados da data «A autora foi então, considerada
do efetivo pagamento, correção mo- notificada pois, mandada a notifica-
netária, custas e honorários advo- ção para endereço diverso do seu
catícios. expediu-se-Ihe edital no Diário
Oficial da União, quando deveria a
o mencionado executivo fiscal publicação ter sido feita no órgão es-
originou-se de autuação quê a autora tadual, nos termos do Decreto n?
sofreu em sua filial, então sediada 61.514/67, artigos 207, parágrafo 4?, e
na Rua Euclides da Cunha n? 230, 223, parágrafo 5?, que foram manti-
nesta cidade, no dia 2 de maio de dos pelo Decreto n? 70.162/72, e pelo
1969, por suposta infração aos arti- artigo 23 do Decreto n? 70.235, de 6-3-
-gos 24, item lI; letra a, 25 e seu pa- 72.
rágrafo I? e 36, item III', letra e do Por esses motivos, sustenta a auto-
então vigente Regulamento do Im- ra que a cobrança fiscal, além de
posto sobre Produtos Industrializa- ser indevida, foi promovida e exigi-
dos baixado pelo Decreto n? 61.514, da com cerceamento de sua defesa e
de 12-10-67, modificado pelo Decreto- com nulidade de sua intimação.
L~i n? 400, de 30-12-68. O instrumento de procuração im-
Em conseqüência dessa autuação, pugnado pelo agente fiscal seria per-
foi à autora aplicada uma multa de feitamente válido, ao contrário de
Cr$ 1.615,39, além da obrigação de sua intimação por edital, que seria
recolher o IPI no mesmo valor, tudo nula face ao art. 235 do antigo RIPI.
segundO a intimação de fls. 20. Por essa última circunstância te-
Dentro do prazo legal, a autora ria havido cerceamento do direito de
apresentou sua defesa na esfera ad- defesa da autora, que não pode inter-
ministrativa em 2-6-69 (fls. 22/31), por recurso para o Conselho de Con-
tendo sido a peça instruída com a tribuintes, sendo nulo o processo ad-
procuração outorgada a seus advo- mínistrativo fiscal a partir do julga-
gados. A essa defesa, foi feito o adi- mento de primeira instância.
tamento de fls. 34/35, segundO a au- Como à autora foi exigido o paga-
tora, ainda dentro do prazo, pois que mento do tributo através de executi-
apresentado em 20-6-69. vo fiscal, outra alternativa nâo lhe
No entanto, ao ser aberta vista a restou senão a de pagar a cobrança,
um dos agentes fiscais autuantes, em Juízo e pedir-lhe a restituição em
nos termos do art. 220 do Decreto n? açâo autônoma.
61.514/67, o mencionado funcionário A inicial foi instruída com os docu-
entendeu que a procuração dada pe- mentos de fls. 16/49 e, como não se·
TFR - 71 75

fizesse acompanhar das cópIas a que procedente acolhendo a alegação de


se refere'o art. 21, parágrafo único cerceamento de defesa feita pela au-
do Decreto-Lei n? 147, de 3-2-67, a tora.
União Federal, a fls. 54/55, pediu a Ambas as partes apelaram, a au-
decretação de sua inépcia ou, então, tora vindicando correção monetária
que atendida a exigência pela auto- não concedida no julgado do primei-
ra, fosse-lhe devolvido o prazo para ro grau e a União atacando-o no mé-
a contestação. Essa segunda alterna- rito.
tiva foi por mim escolhida, tendo a
União apresentado sua contestação a Nesta instância, a Subprocurado-
fls. 96/98, após a autora haver junta- ria opinou pela reforma da sentença
do aos autos cópia de toda a docu- porque inadmissível, na hipótese de
mentação que instruiu a inicial. pagamento em Juízo, a regra solve
et repete, pois, sustentou, a decreta-
Sustenta a União a improcedên~ia ção de extinção do processo no caso,
da ação, acolhendo o argumento de fizera coisa julgada intocável pela
que a procuração que a autora apre- via escolhida pela autora.
sentara com a defesa administrativa Opinou, depois, contra o provimen-
seria destituída de qualquer valor, to, de qualquer sorte, do recurso da
além do que, a autora teria reconhe- autora.
cido o débito ao efeturar, sem qual- É o relatório.
quer ressalva, o seu pagamento no
executivo fiscal que lhe foi movido na
7'! Vara. VOTO
Por outro lado, a autora pretende O Sr. Ministro Armando
receber da ré quantia superior à que RoleJ;llberg (Relator): Ao contestar a
efetivamente recolheu aos cofres pú- ação, ale~ou a União que o pagamen-
blicos, o que seria um absurdo. to da importância ali discutida quan-
Como a autora não provou, quer do ajuizado executivo fiscal, contra
no processo administrativo fiscal, a autora para cobrá-lo, importava
quer no executivo fiscal, que a co- em confissão, argumento que, viu-se
brança era indevida, não seria nesta no relatório, foi rejeitado pela sen-
ação que essa prova poderia ser pro- tença, afirmando o MM. Juiz que so-
duzida. mente se tivesse havido defesa e jul-
gamento existiria coisa julgada. O
A contestação foi instruída com fato, porém, foi novamente trazido à
parecer da Procuradoria da Fazenda apreCiação do Judiciário pelo pare-
Nacionai (fls. 99/1(11) e com os docu- cer da Subprocuradoria, onde foi ale-
mentos de fls. 102/111, entre os quais gado que a decretação da extinção
se encontra cópia da procuração que da execução do processo promovida
teria sido impugnada pelo agente fis- contra a autora em razão de esta ha-
cal (fls. 107). Há, também, outro pa- ver pago o débito que então lhe era
recer da P.F.N. a fls. 112/114.)} cobrado e agora pretende repetir, fi-
zera coisa julgada.
Em sua decisão o Dr. Juiz afastou
o argumento de que o pedido de resti- Essa alegação, feita embora na se-
tuição, no caso concreto era in- gunda instância, nao pode deixar de
cabível porque pago o débito em ser examinada, 'pois que apreciada e
Juízo para pôr fim à execução fiscal, rejeitada ,em sEmtença sujeita a .du-
ao fundamento de que à hipótese ti- pIo grau de jurisdição.
nha aplicação a regra do solve et . Examino-a, por isso, preliminar-
repete. e. no mérito julgou a ação mente, e a acolho.
76 TFR - 71

Eis a lição de José Frederico Mar- Meu voto é reformando a sentença


ques a propósito da decisão que jul- para julgHr a autora carecedora de
ga extinta a execução em razão do ação e condená-la em honorários de
pagamento do débito cobrado: advogado de 20% sobre o valor da
causa, pois são indevidas custas de
«Se o processo encerrar-se em acordo com a norma do art. 267, pa-
razão dos fundamentos indicados rágrafo 3~, in fine, do Código de Pro-
no art. 794, houve composição da cesso Civil, prejudicados ambos os
lide, ou Ji)orque a execução atin- recursos.
giu o seu,objetivo (art. 794, n~ !),
ou porque, existente negócio
jurídico processual (art. 794, n~s VOTO VENCIDO
II e lII). De qualquer modo, de-
saparece híc et nunc a responsa- O Sr. Ministro Carlos Mário
bilidade ~trimonial do devedor, Venoso: Senhor Presidente, ao que
porquanto pela prestação exigida ouvi e apreendi, não houve,. na exe-
já não mais responde este último. cução fiscal, uma sentença de méri-
to, mesmo porque, na execução fis-
cal, não foram apresentados embar-
Daí porque o art. 795 estatui gos do devedor. Ajuizada a execução
que «a extinção só produz efeito fiscal, o executado compareceu e pa-
quando declarada por sentença». gou o que lhe era cobrado. Em se-
É que se houve o cumprimento guida, houve a sentença que decla-
da obrigação pelo credor (art. rou extinta a execução (CPC, art.
794, n~ I), ou·. negócio jurídico 794).
processual (art. 794, n~s II e lI!), O Código Tributário Nacional, art.
a responsabilidade, in casu do 165, concede, com amplitude, a resti-
devedor, somente fica proces- tuição do que foi pago indevidamen-
sualmente extinta, com a decla- te, sem a restrIção do art. 965 do
ração por sentença. Código CiviL Vale dizer, o CTN, no
art. 165, não exige que o sujeito pas-
Daí porque a sentença a que se sivo prove que pagou voluntariamen-
refere· o art. 795, ao declarar ex- te, por erro. É ver o que, a respeito,
tinta a execução, torna também escreve Aliomar Baleeiro (<<Direito
extinto o vínculo obrigacional Tributário Brasileiro», Forense, 8~
que ligava a prestação exigiqa à ed., 1976, págs 508 e segs.).
responsabilidade patrimonial do O fato, portanto, do contribuinte
devedor. Trata-se, portanto, de ter pago tributo indevido, em Juizo,
sentença definitiva que incide so- numa execução fiscal não embarga-
bre relação jurídica material, e da, não lhe tira o direito de pedir a
cujos efeitos se tornam imutá- restituição.
veis, quando houver a coisa jul- Em verdade, é perfeitamente téc-
gada.» (Manual de Direito Pro- n~ca"sob o ponto de vista processual,
cessual Civil, ed. de 1976, voL IV; a tese defendida por V. Ex~, Senhor
pág.315). Presidente, no sentido de que o caso
A decisão que julgou extinta a exe- ora sob julgamento deveria ser solu-
cução fiscal ajuizada contra a auto- cionado mediante ação rescisória,
ra, assim, tendo pass:;ldo em julga- tendo em vista que a .execução foi
do, tornou impossível a anulação do jnl.gada extinta, na forma do art.
lançamento que dera origem ao dé- 794, Códi-g de Processo CiviL'
bito cobrado por via de ação ordiná- Todavia, ao que sustento, não de-
ria. vemos encarar radicalmente as re-
TFR - 71 77

gras processuais. Normas proces- mandemos o apelado buscar justiça


suais são instrumentos, tão-só, de nas agruras de uma ação rescisória.
busca da verdade e da realização da Acentue-se, outrossim, que também
justiça. O caráter instrumental do a União seria prejudicada, já que de-
processo, aliás, é ressaltado pelos verá pagar, no final, correção mone-
processualistas modernos. O tária. Também por isso, não vejo ra-
princípio da economia processual do- zão no sentido de procrastinar a efe-
mina todo o processo. Em nome des- tivação da prestação jurisdicional.
se princípio, se pOdemos resolver a Com essas breves considerações e
questão, agora, já que, conforme com a vênia devida a V. Ex~, confir-
apreendi, é mesmo indevido o tribu- mo a sentença e nego provimento ao
to, não há justificativa para que apelo.

APELAÇAO ClVEL N? 48.468 - SP


Relator: O Sr. Ministro José Dantas.
Remetente Ex Officio: Juiz de Direito da Comarca de Pederneiras
Apelantes: Pedro Gomes da Silva e INPS.
Apelados: Os mesmos.

EMENTA
Previdência Social.
Descabimento da remessa ex officio.
Auxílio-doença. Reajustes anuais cabíveis. Rea-
bílitação profissional insuscetível de cumprimento
sob forma de complementação salarial.

ACORDA0
Vistos, relatados e discutidos estes
autos em que são partes as acima in- O Sr. Ministro José Dantas. Trata-
dicadas: se de ação para assegurar a perma-
Acordam os Ministros que com- nência do Autor em auxílio-doença,
põem a Quarta Turma do Tribunal devidamente reajustado, desde a sua
Federal de Recursos, preliminar- incapacitação para a profissão de
mente, por unanimidade, não conhe- pedreiro, sob forma de diferença
cer da remessa e, no mérito, igual- desse auxílio e o parco salário de ge-
mente por unanimidade, negar provi- rente de hotel que passou a exercer,
mento às apelações, na forma do re- também como contribuinte da Previ-
latório e notas taquigráficas que pas- dência.
sam a integrar o presente julgado.
A sentença, apesar da períCia me-
dica afirmativa da total incapacida-
Custas como de lei. de laborativa para a primitiva pro-
BrasíiÍ.a, 29 de agosto de 1979. (Da- fissão do Autor, cingiu-se, porém, a
ta do Julgamento) .•- Ministro José mandar reajustar o auxílio-doença
Fernandes Dantas, Presidente e Re- no período de sua concessão, isto é,
lator. de 27.3.71 a 20.3.73 (fls. 81).
78 TFR 71

Daí os recursos de ambas as par- de voltar ao serviço de construtor


tes, além de remessa do Autor, na que desempenhava antes do aci-
perseguição da procedência total da dente» - fls. 57.
ação, e o do Réu, pela improcedên-
cia. Partindo-se dessa conclusão
O parecer da ilustrada méica, pareceria indubitável que
SUbprOc~radoria-Geral da República
a conclusão jurídica fosse a do
é de apolO à apelação da autarquia- art. 31, § 4?, da C.L.P .S., sobre as-
ré. segurar a continuidade do auxílio-
doença ao segurado insuscetível
Pauta, pa forma da Resolução de recuperação para a sua ativi-
TFR - 20/79. Relatei. dade habituai, sujeitando-se ao
processo de reabilitação profis-
VOTO sional para o exerçício de ativida-
de que lhe garante a subsistência.
O Sr. Ministro José Dantas (Rela- Acontece, porém, que esse não
tor): Começo por negar conhecimen· é o pedido do Autor. O que preten-
to à remessa, na forma da jurispru- de ele é uma inusitada comple-
dência. mentação salarial, procurada en-
tre os seus ganhos de gerente de
No mais, o Laudo do Perito do Juízo hotel, profissão na qual se dá por
descreve o seguinte quadro: reabilitação, e o· auxílio-doença a
que faria jus.
«Histórico: a) informa-se que o
examinando teria sofrido, em
março de 1971, escorregão, em Se bem que, de lege ferenda, essa
março de 1971, escorregão e que- pretensão tenha certa lógica, não
da com fraturas ósseas no ante- tem, contudo, amparo de lege lata. O
braço direito, quando trabalhava dever de reabilitação a ser cumprido
como «construtor» para a Firma pela Previdência, cingido à garantia
Camargo Corrêa SI A., Atendido da subsistência do associado,
pelo Dr. José através do INPS re- relevou-se por iniciativa do própriO
cebeu tratamento especializado, Autor, de forma insuscetível ao re-
com aplicação de aparelho gessa- paro salarial a que se prende o es-
do; retirado o gesso, verificou-se pecífico objeto do pedido.
ter havido desvio do eixo do ante-
braço. Ainda, pelo INPS, em
maio de 1971, foi operado pelo Dr. Correta a sentença nesse ponto,
Orestes, para correção do calo ós- também está no concernente ao rea-
seo. Em agosto de 1971, teria sido juste anual do auxílio-doença pelO
necessária outra operação, tam- tempo de gozo em que· esteve o Au-
bém pelo Dr. Orestes, tendo sido tor.
feita osteossíntese «(parafusos e
placas»). Em 1972, - (possivel-
mente no mês de outubro) -, ambos Tenho, pois, por improsperáveis
após eSforço, nova recidiva. ca- os recursos voluntários.
minhando para o INPS, em Jaú, É o meu voto.
foi atendido pelo Dr. Milton Cury,
que o submeteu a nova operação.
Após a alta clínica definitiva, EXTRATO DA ATA
constatou-se que o examinado fi-
cara com o «braço tordo», sem AC. 48.468-SP ,- ReI.; Sr. Min. José
resistência física, impossibilitado Dantas. Remte.: Juiz de Direito da
TFR - 71 79

Comarca de Pederneiras. Aptes.:Pe- provimento às apelações, em decisão


dro Gomes da Silva e INPS. Apdos.: unãnime (Em 29.8.79 - 4~ Turma).
Os mesmos. Os Srs. Ministros Carlos Madeira e
Decisão: A Turma, preliminar- Evandro Gueiros Leite. - votaram
mente, por unanimidade, não conhe- de acordo com o Relator. Presidiu o
ceu da remessa, e, no mérito, negou julgamento o Sr. Min. José Dantas.

REMESSA EX OFFICIO N~ 49.434 - PR


Relator: O Sr. Ministro William Patterson
Remetente: Ex Officio: Juiz Federal da 3~ Vara
Partes: Romão de Andrade e Souza - União Federal. .

EMENTA

Administrativo. Funcionário. Demissão.


Fatos que não justificam a gravidade da pena.
O policial que se socorre da ajuda de estranho à
carreira, para ajudá-lo a transportar a outro local
veículo apreendido em sua jurisdição, não comete in-
fração cUja graVidade conduza à sua demissão.
O desaparelhamento da repartição justifica a
providência do servidor, no intuito exclusivo de cum-
prir sua missão policial.
Reintegração que se impõe, mesmo porque, na
fase administrativa, quase todos que falaram no pro-
cesso opinam por sanções mais brandas.

ACORDA0 RELATORIO
Vistos, relatados e discutidos estes O Sr. Ministro William Patterson:
autos em que são partes as acima in- A parte expositiva da r. sentença de
dicadas: fls:123v., 131, dá notícia dos.fatos que
originaram a propositura desta ação,
verbis:
Decide a 2~ Turma do Tribunal Fe-
deral de Recursos, por unanimidade, «Romão Andrade e Souza brasi-
negar provimento, na forma do rela- leiro, casado, ex-funcionário públi-
tório e notas taquigráficas retro, que co federal, classe b, nível 18, do qua-
ficam fazendo parte integrante do dro do Departamento de Polícia Fe-
presente julgado. deral, residente e domiciliado em
Barracão/PR, propõe a presente
Ação de Reintegração ao Cargo Pú-
Custas como de lei. blico com base no art. 125 da CF,
combinado com os arts. 150 e 153 do
Brasília, 19 de setembro de 1979. Decreto 59.310, de 23.9.66, nos se-
(Data do Julgamento) - Ministro guintes termos:
Moacir Catunda - Presidente - Mi- Em decorrência do processo ad-
nistro Wllliam Patterson, Relator. ministrativo 1/74, o qual considerou
80 TFR - 71

o A. como incurso nas penas do art. qualquer fato, mesmo porque, à


364, VII, XI, XX e XXIV, foi instau- época, o posto era formado pelo A. e
rado o processo administrativo n? mais dois agentes, Hélio de Paula e
64.233/74 que concluiu pela ocorrên- Elleozel Pacheco, e os três elemen-
cia de infração capitulada no item tos eram encarregados de guarne-
XI acima, desprezados os demais. cer mais de 200· km de fronteira se-
Com surpresa, porém, para o pró- ca, com apenas 'um veículo.
prio DPF, foi o Requerente punido
com a pena de demissão por come- Não poderia, naquelas circuns-
ter a pessoa estranha à repartição, tâncias o A. desguarnecer a frontei-
fora dos casos previstos em lei, o de- ra ou fechá-la, ou ainda cometer a
sempenho de cargo que lhe compe- terceiro a titularidade do posto, ou
tia. quem sabe negligenciar na apresen-
tação dos presos por falta de pessoal
O ato do Exmo. Sr. Presidente da e condições.
República foi publicado em Decreto
de 17 de outubro de 1975. Fez, porém, o que mandava a ló-
Em data de 30 de novembro de gica. Deixou um agente na frontei-
1971 o A., então chefe do posto da ra, um no posto e pediu a Orlando -
Polícia Federal de Barracão - seu parente e de sua confiança -
Dionísio Cerqueira, após efetuar a para conduzir um dos carros
prisão em flagrante de 2 veículos apreendidos, solicitando de um sol-
com seus respectivos condutores, dado local, aliás, o único disponível,
em cumprimento ao dever e deter- que dirigisse o outro.
minações legais, conduziu-os a Flo- Houve verdadeiro estado de ne-
rianópolis, pois a apreensão se deu cessidade e o A. valeu-se da ajuda
em território catarinense. de seu sobrinho.
Três foram os veículos que se des-
locaram à capital do vizinho Esta- Com relação ao pedido de demis-
do; o veículo oficial, conduzido por são é bem reconhecer que não houve
Romão levando os dois presos, os tal formulação por qualquer autori-
processos e o que serviria para,o re- dade administrativa. Nem a Comis-
torno. Uma rural Willys,aprendi- são de inquérito, nem os consultores
da com a carga de farinha dest:ami- jurídicos ou o Ministro da Justiça
nhada, dirigida pelo soldado João, formalizaram o pedido ou conclusão
cedido pela políCia local; e um Aero pela demissão.
Willys também apreendido com Assim o Diretor-Geral do DPF
carga descaminhada, que era con- opinou pela repreensão: O Dr. Con-
duzido por Orlando, sobrinho de Ro- sultor do MJ, sugeriu a repreensão,
mão, o qual é motorista habilitado e opondo-se à demissão, como tam-
mecânico de profissão. bém foi de parecer o Dr. Hélio Fon-
O chefe Romão comunicou a par- seca, doMJ.
tida indicando os condutores e pos- Por fim o próprio Ministro Ar-
teriormente fez a entrega do mate- mando Falcão aprovou o parecer
rial e relatório de viagem. Nada pa- pela suspensão por 90 dias.
gou a Orlando e nada objetaram A permanência do A. em Barra-
seus superiores. cão, com dificuldades, trabalhos e
Três anos depois, com base em toda a sorte de obstáculos foi até
denúncia de um ex-funcionário, é digno de elogios, dedicando boa par-
que foi instaurada a sindicância, te de sua vida ao serviço policial,
não tendo o A. negado ou escondido sem manchas e com integridade.
TFR - 71 81

Não havia razão para a demissão Paula, que também substituía o


nem se a havia sugerido ou requeri- Chefe quando este se ausentava. E
do.» não há esforço, por isso, que me con-
vença - da gravidade do fato, de tal
Citada, contestou a União (fls. monta que justifique sua demissão
84/85), suscitando a preliminar de que do serviço público.» (Fls. 280, Proc.
seria o caso de indeferir-se a ação Adm.).»
initio litis, por não ter o Autor indica- Exclusivamente por força do duplo
do, expressamente, quem seria o Réu grau de jurisdição, foram os autos re-
da ação, bem como não ter pedido a
sua citação. No mérito, pede seja a metidos a esta ins,tãncia, onde a douta
ação julgada improcedente, visto que Subprocuradoria-Geral da República
o próprio Autor não impugn? ~ legali- emitiu parecer eIh que declara:
dade do procedimento administrati- « ...... espera a União Federal seja
vo, procurando, apenas, justificar a feita a costumeira justiça».
transgressão que lhe foi imputada. E o relatório.
O digno sentenciante, após repelir a
preliminar argüida pela União, faz
percuciente exame dos fatos para VOTO
concluir pela procedência da ação,
alicerçando essa decisão, entre outros O Sr. Ministro Wllliam Patterson:
fundamentos, em parecer do Sr. Con- Os fatos que ensejaram a demissão do
sultor Jurídico do Ministério da Justi- Autor não convenceram nem a pró-
ça em que se lê: pria Administração, eis que o Parecer
da douta Consultoria Jurídica do Mi-
«A transgressão disciplinar con- nistério da Justiça foi peremptQrio
siste em cometer a pessoa estranha em recoI}hecer a inexistência"de gra-
à repartição o desempenho de en- vidade que justificasse a demissão.
cargo que lhe competia ou aos seus Reforçando essa posição, assinale-se,
subordinados. Certo. Mas quem de- por oportuno, que não houve recurso
sempenhou pessolmente o encargo, voluntário da União, dando-se a subi-
na ocasião era o próprio chefe, que da do processo em razão, exclusiva-
conduzia a Florianópolis as viaturas mente do duplo grau de jurisdição. A
apreendidas com contrabando. Era douta Subprocuradoria-·Geral da Re-
ele o responsá·vel, o condutor. Não pública, em pronunciaIÍlento subscri-
cometera a nInguém o encargo que to pela Dra. Eliana Calmon Alves da
lhe competia. Levou o sobrinho co- Cunha, pede «seja feita a costumeira
mo motorista, como poderia ter con- justiça».
tratado qualquer motorista para a
missão, que não poderia desempe- Todos esses aspectos demonstram a
nhar sozinho. Note-se que tanto o do- inconsistência do ato demissório. Na
cumento oficial de fls. 128, como o fase do processo administrativo, as
PM. João Crisóstomo referem-se a autoridades se manifestaram por pe-
viaturas, no plural. Eram, assim, na mais branda, a de repreensão, co-
pelo menos dois carros, um dirigido mo aconteceu com o Diretor da Divi-
pelo sobrinho, o outro, certamente, são da Polícia Federal de Santa Cata-
pelo próprio Romão, dado que ape- rina, a própria Comissão de Inquérito
nas os três tomaram parte na via- e Assessoria Jurídica.
gem. Ora, notoriamente - esse, A sanha de perseguição está eviden-
sim, era fato notório - Romão não ciada" nestes autos. Procurou-se colo-
contava com pessoal suficiente na car na rua da amargura um funcioná-
Delegacia. Não vi qualquer menção rio com vinte e três (23) anos de servi-
a outro motorista senão ao Hélio ços sem antecedentes desabonadores,
82 TFR - 71

e, muito pelo contrário, portador de ções de policial. A deficiência mate-


qualificações reconhecidas pelo Pre- rial de sua própria repartição
feito, pela Câmara Municipal de Sâo levaram-no a agir daquele modo. J;>ior
Miguel do Oeste e pelo Promotor (cfr. seria se ele, por falta de condições, re-
fls. 45). laxasse as prisões. Pune-se, assim, a
E verdade que todo. o seu passado quem demonstra, no interesse da Ad-
poderia ser peça irrelevante, se o fato ministração, ter iniciativa para solu-
punível fosse de tal gravidade a exigir ção dos problemas. E, verdadeira-
o seu afastamento. Isso, porém, nâo mente, inusitado o comportamento
aconteceu e nem convenceu a muitos administrativo, na espécie, punindo,
dos que falaram no processo adminis- de modo drástico, a quem pretendia e
trativo. pretendeu, tão-somente, executar as
suas funções. Faltou sensibilidade
O Decreto de demissâo está motiva- jUJ;"ídica na interpretação do texto dis-
do com a seguinte cláusula «por co- clinar.
meter a pessoa estranha à repartiçâo,
fora dos casos previstos em lei, o de- Face ao exposto, nego provimento
sempenho de encargo que lhe compe- ao recurso de ofício.
tia» (fls. 70).
O fato que ensejou o enquadramen- EXTRATO DA ATA
to punitivo em apreço foi aquele foca-
lizado no relatório da sentença, já REO. 49.434 - PR - ReI.: Sr. Min.
transcrita, ou seja, em resumo, ter o William Patterson. Remte.: Juiz Fe-
Autor permitido que um seu sobrinho deral da 3~ Vara. Partes: Romão de
o ajudasse a transportar veículos Andrade e Souza e União Federal.
apreendidos em sua jurisdição, para Decisão: Negou-se provimento,
Florianópolis, tendo em vista que não unanimemente. (Em 19.9.79 - 2~ Tur-
dispunha de servidores suficientes pa- ma)
ra a operação. Nada foi omitido, nem Os Srs. Mins. Moacir Catunda e
sonegada qualquer informação. Torreão Braz votaram com o Relator.
Qual o ilícito? Estava o Autor cum- Presidiu o julgamento o Sr. Min.
prindo, corretamente, as suas obriga- Moacir Catunda.

APELAÇÃO ClVEL N. o 50.862 - DF


Relator: O Sr. Ministro José Dantas
Apelante: Victor Nunes Leal
Apelado: Instituto Nacional de Previdência Social

EMENTA

Previdência Social. Inscrição. Tempo de serviço


a ser contado em favorecimento do servidor público
exonerado, na forma do Dec.-Lei 367/69. Procedência
da ação, desde a prova da inocorrência de contagem
simultânea para efeitos estatutários e
previdenciários.
TFR - 71 83

ACORDA0 cômputo de serviço públiCO simul-


tãneo com o de atividade privada,
Vistos, relatados e discutidos estes bem como tempo em dobro e em
autos em que são partes as acima in- outras condições especiais - § úni-
dicadas: co do mesmo artigo.
Acordam os Ministros que com- Considerando que tais situações
põem a Quarta Turma do Tribunal foram já aqui objeto da Lei n?
Federal de R.~cursos, por· unanimi- 6.226, de 14-7-75, que disciplina a
dade, dar provimento à apelãção, pa- matéria e estabelece proibições no
ra reformar a sentença e julgar pre- art. 4?, como: a acumulação, a con-
cedente a ação, na forma do relatório tagem em dobro e no item lU, do
e notas taquigráficas que passam a mesmo artigo verbis:
integrar o presente julE'>ldo. «IU - não será contado por um
sistema, o tempo de serviço que
Custas como de lei. já tenha servido de base para
concessão de aposentadoria pelo
Brasília, 28 de outubro de 1979 outro sistema».
(Data do julgamento) Ministro José
Fernandes Dantas, Presidente e Re- Considerando que o tempo de
lator. serviço prestado pelo A. ao Minis-
tério da Educação e Cultura fora
apresentado e averbado no Serviço
RELATORIO de Pessoal do Supremo Tribunal
Federal, no total de 7.681 dias docu-
o Sr. Ministro José Dantas: Ao ad- mento de fls. 9 computado no total
mitir o autor como contribuinte autõ- do seu tempo de serviço 29 anos, 10
nomo, o INPS negou-se, porém a va- meses e 29 dias;
loração, para os efeitos da lei, do Considerando que embora tenha
tempo de serviço prestado ao Servi- o ato da aposentadoria do autor,
ço Público no magistério, a serviço omitido, quanto à proporcionalida-
da Universidade Federal do Rio de de do tempo de serviço, mas
Janeiro. aposentando-o no cargo de Minis-
tro do Supremo Tribunal Federal,
Daí a ação, com vistas à valoração independente desse tempo de servi-
daquele tempo de serviço público, ço, como entendeu e declarou o
nos termos do Dec-Lei 367/68, a teor Serviço do Pessoal da Suprema
de cujo art. 1? os funcionários públi- Corte, doc. às fls. 49, interpreto
cos federais exonerados terão o res- que, mesmo assim, o ato de aver-
pectivo tempo de serviço computado bação e contagem desse tempo de
para fins de aposentadoria por tempo serviço, o vincula à aposentadoria
de serviço, regulada pela LOPS. do suplicante e .impede, já agora
Regularmente proc~sada a ação, por prOibição de lei - art. 4?, item
decidiu-a o Juiz Bolívar de Souza, lU da Lei n? 6.226/75 a sua conta-
nestes termos: - gem para concessão de aposenta-
«Considerando que a presente doria pelo Sistema da Previdência
ação se apóia essencialmente na Social consubstanciada na Lei n?
interpretação e aplicação do art. 3.807, de 26.8.60;
1?, do Decreto-Lei n? 367, de 19 de Considerando que esse entendi-
dezembro de 1968, que diz respeito mento tem sido esposado por este
à computação de tempo de serviço Juiz, como na Ação Ordinária,
de funcionários públicos e autár- Processo n? 2.267/73:
quicos, quando exonerados para «Estranhável porque lhe pare-
fins de aposentadoria; vedado o ça inadmissível, apesar da juris..,
84 TFR - 71

prudência trazida aos autos; de lo que o benefício não ficou na depen-


que uma mesma pessoa: fica dência de regulamentação (AMS.
prestando serviços de naturezã 75.595, Relator Ministro Amarílio
empregatícia a uma só e única Benjamim); c) seria equívoça a ob-
pessoa jurídica, possSl. constituir jeção da contagem do examinado
essa relação de emprego, dois tempo de serviço para efeito de apo-
vínculos diferentes, cbmo preten- sentadoria do autor como Ministro do
deu, ainda mais, que esse tempo STF, conforme a prova de que, dita
de serviço também prestado por aposentadoria esi;atutária, pelas pe-
uma pessoa física a uma pessoa culiaridades em que se deu, alcançou
jurídica seja contado e computa- proventos integrais, independente-
do para efeito de duas aposenta- mente do correspondente tempo de
do,rias diferentes». serviço público; d) ademais, mesmo
abstraída essa circunstância, resta-
Considerando que o autor ao re- ria ao autor, de um lado, o excesso do
querer a sua inscrição, como sócio tempo de magistério, não contado no
de firma, na qualidade de empre- STF, de sua posse no cargo de Minis-
gador, contava mais de 50 anos de tro até a exoneração da cátedra, em
idade, limite de inscrição, estabe- data posterior à aposentadoria; e de
lecido no RGPS, art. 6? inciso IH: outro, antes de empossado no STF, o
Ex positis autor esteve em acumulação lícita do
Julgo a presente ação improce- magistério com outras funções públi-
dente e ante o princípio da sucum- cas, no periódo de março de 1956 a 7
bência, condeno o autor, nas custas de dezembro de 1960.
e em honorários de advogado, que Finalmente, ad argumentandum,
arbitro de 10% (dez por cento) so- se mais não fosse pelo período intei-
bre o valor da causa». - fls. 57/58. ro do magistério, o tempo de serviço
Sem êxito dos declaratórios mani- oferecido caberia considerado para
festados (fls. 60), o autor interpôs efeito do Dec.-Lei 367/68, conforme
apelação, na sustentação, em sínte- apuração na execução - fls. 96.
se, dos seguintes pontos: a) a contro- Contra-arrazoada em louvores à
vérsia, como fixada na inicial, a sentença (fls. 106), a apelação se
mais não vai do que o debate da va- desmereceu ao parecer da ilustrada
loração daquele tempo de serviço, Subprocuradoria-Geral da República
impertinente, pois, a objeção da ida- - fls. 112.
de do autor ao tempo do requerimen- Pauta, na forma da Resolução
to da inscrição previdenciária, como TFR - 20/79.
também a argüição da sua qualidade
de empregador, tanto mais porque a Relatei.
inscrição foi deferida à conta do
status de profissional autônomo, VOTO
dando-se por vencido o reqUisito da
idade; b) frágil seria a alegação de O Sr. Ministro José Dantas (Rela-
carêncig da regulamentação do invo- tor): Reveja-se a norma legal em
cado Dec.-Lei 367/68, já porque a causa:
omissão do regulamento não pode «Art. 1? Os funcionários públi-
importar na ineficácia do comando cos civis da União e das Autar-
legal assim pendente indefinidamen- quias que, a partir da vigência
te (STF-RE. 72.507 - RTJ 66/488), já deste Decreto-Lei, se afastarem
porque, a propósito do texto em cau- dos seus cargos por motivo de
sa, disse a 2~ Turma deste Tribunal exoneração, terão os respectivos
que o dispositivo se oferece claro, pe- tempos de serviço computados
TFR - 71 85

para fins de aposentadoria por contagem do tempo de serviço de


tempo de serviço, regulada pela lLlagistério, porque tenha servi.do de
Lei n? 3.807, de '26 de agosto de base para a concessão da aposenta-
1960 e legislação subseqüente. doria pelo sistema estatutário. A
Parágrafo único. Para os fins aposentadoria compulsória do autor"
do disposto neste artigo, é veda- no Cargo de Ministrq, do Suprem'ó
do o cômputo de serviço público Tribunal Federla, viu-se, aconteceu
simultâneo como de atividade sem qualquer vinculação com o re-
privada, bem como tempo em do- quisito «tempo de serviço».
bro e em outras condições espe-
ciais». - art. 1? e.§ único do Dec.- D.m.v., a clareza da norma impe-
lei 367/68. ditiva do duplo favorecimento de um
mesmo tempo de servi.ço - art. 4?
Confira-se a prova do tempo de lU; da Lei 6.226/75 - não deixa mar-
serviço de magistério, exibida pelo gem a que o intérprete possa cons-
autor: truir, como o fez o juiz a quo, que o
A - Documento de fls. 9 - STF impediment.o esteja na simples aver-
«Certidão do Ministério da bação na folha funcional do servi-
Educação e Cultura no período dor, e nãó no efeito legal da conta-
de 27-11-39 a 31-1-60 7.371 dias. gem averbada, repercutidO em favo-
recimento da aposentadoria estatu-
tária. A clareza do texto, diga-se,re-
Certidão do Ministério da Edu- cusa interpretação restritiva, até
cação e Cultura para fins de con- mesmo à força do princípio -
tagem (01-2-60 a 6-12-60) Interpretatio cessat in claris .
............... 310 dias.
B - Documento de fls. 13 - DOU Assim, afastado o primeiro funda-
"- mento Ida sentença,· ao segundo -
«Conceder exoneração, a partir
de 9 de maio de 1969, nos termos posto na estranheza de que a presta-
do art. 76, item I, da Lei n? 1.711, ção empregatícia a uma única pes-
de 28 de outubro de 1952, a Victor soa jurídica possa constituir dois
Nunes Leal, do cargo de Profes- vínculos diferentes - responderia a
sor Titular, EC-501, da" Parte própria Constituição, na ressalva
Permanente do Quadro Único de das acumulações de cargos (art. 99,
Pessoal da U.F.R.J. aprovado 1), se maior equívoco não estivesse
pelo Decreto 60.455, de 13 de em conceituar-se como única pessoa
março de 1967». jurídica a União e sua autarquia,
Universidade Federal Rural do Rio
C - Documento de fls. 49 - STF de Janeiro.
«Declaro, a pedido de parte in-
teressada, que o Exmo. Sr. Mi- Por último, no dizer a sentença so-
nistro Victor Nunes Leal foi apo- bre a idade do autor como obstáculo
sentado com base no Ato Institu- à inscrição previdenciária, na quali-
cional n? 5, com vencimentos in- dade de empregador, descobre-se a
tegrais, independentemente de impertinência da dáusula; a uma,
tempo de serviço, conforme cons- porque se trata de üfscrição já con-
ta de sua Pasta de Assentamen- sumada, conforme o documento de
tos Individuais e do Processo de fls. 17; e a duas, porque,~consoante o
Aposentadoria n? 095/69». mencionado documento, o autor foi
C:onstituída sem refutação do réu, inscrito na categOria' de autônomo
e~sa prova responde, por si, à obje- com anotação de isenção do limite
çao sentencial de inviabilidade da de idade.
86 TFR - 71

De todas essas premissas, e mais dou provimento à apelação, para re-


considerando que o invocado Dec.-Lei formar a sentença e julgar proce-
367 se dispensou a regulamentação, dente a ação.
como acertadamente afirmado pelo E como voto.
saudoso Ministro Amarílio Benja-
mim, naquele precedente colaciona-
do, conclusão necessária é a de que o EXTRATO DA ATA
tempo de magistério discriminado no
documento de fls. 13, socorre ao direi- AC n~ 50.862 - DF - ReI.: Sr. Min.
to do autor, para a pretensão posta no José Dantas. Apte.: Victor Nunes
pedido inicial. E ler-se (fls. 6/7). Leal. Apdo.: INPS.
Decisão: A Turma, por unanimida-
de, deu provimento à apelação, para
Desse modo a salvo custas - cuja reformar a sentença e julgar proce-
condenação, pela isenção q~prote­ dente a ação, nos termos do voto do
ge o réu, se cinge ao reembolso do Relator. Sustentou pelo apelante o
que hou,,ver despendido o autor -, e Dr. J. Paulo Sepúlveda Pertence.
honorários que arbitro em 5% do to- (Em 28-10-79 - 4':' Turma).
tal das contribuições atrasadas a re- Os Srs. Mins. Carlos Madeira e
colher, conforme apuradas na execu- Evandro Gueiros Leite votaram com
ção - percentual atento às disposi- o Relator. Presidiu o julgamento o
ções do art. 20, § 4~, do C.P.C. -, Exmo. Sr. Min. José Dantas.
APELAÇAO C1VEL N? 51.859 - RJ
Relator: Senhor Ministro Washington Bolívar de Brito
Apelante: Instituto Nacional de Previdência Social
Apelada: Maria da Silva Piran

EMENTA
Previdenciário - Esposa Desquitada - Pensão
- Assistência Judiciária - Prova de Miserabílidade
e Presunção de Necessidade de Pensão Social - De-
pendência Econômica - Perda e Rec~.t>eração da
Qualidade de Dependente.
1) A perda da dependência econômica da esposa
desquitada, em conseqüênCia da dispensa dos ali-
mentos provisionais, que se deveu, no desquite, à
partilha do único bem do casal, há de ser entendida
em sua exata motivação e levando-se em considera-
ção a finalidade do instituto previdenciário, bem as-
sim a unidade do sistema jurídico.
2) A perda da qualidade de dependente, na hipó-
tese referida no art. 23, inciso lI, do Decreto n?
72.771/.73, não implica a impoSsibilidade de recupera-
ção daquela qualidade, consideFando-se a irrenun-
ciabilidade do direito a alimentos, prevista na lei ci-
vil, pois nada impede que, na omissão do regulamen-
to ou da própria lei regulamentada, tal venha a ocor-
rer, supervenientemente.
TFR - 71 87

3) O atestado de pobreza, para fins da assistên-


cia judiciária, também r.omprova a precária situa-
ção da autora. Em tais casos, é devida a pensão so-
cial, considerando-se a sua finalidade, quando não
estiver sendo paga a outro beneficiário, pois se con-
figura injusto e indevido que o órgão previdenciário
venha a locupletar-se das contribuições do casal, no
regime de comunhão de bens, durante a vida do
marido, tendo a esposa, assim, contribuído com parte
da sua economia para essa poupança forçada e de tal
forma que o seu nome figurava como dependente e
beneficiária, nos registros daquele órgão.
4) Apelação improvida.

ACORDÃO núncia aos alimentos, conforme


cláusula incluída na petição de
Vistos e relatados os autos em que desquite.
são partes as acima indicadas. Mas essa renúncia não é admi-
Decide a 1~. Turma do Tribunal tida pelo Supremo Tribunal Fe-
Federal de Recursos, por unanimi- deral, ex vi do disposto na Súmu-
dade, negar provimento à apelação, la, segundo a qual, no acordo de
na forma do relatório e notas taqui- desquite tal não é admissível em
graficas constantes dos autos. que fi- definitivo.
cam fazendo parte integrante do pre- Citando a Lei n? 3.807/60, pediu
sente julgado. a procedência, gozando dos be-
Custas como de lei. nefícios da gratuidade.
Brasília, 26 de novembro de 1979 A ação correu os trãmites, com
(data do julgamento) - Ministro a audiência de fls. 22, na qual o
Peçanha Martins, Presidente - Mi- réu apresentou defesa (fls. 21),
nistro Washington Bolivar de Brito, seguindo-se as providências de
Relator. fls. 24/31, inclusive a requisição
do processo administrativo (a-
RELATORIO pensado) e a conferência de foto-
cópias (fls. 31).
O Senhor Ministro Washington A União Federal, por sua Procu-
Bolívar de Brito: A espécie foi assim radoria, atuou como assistente do
relatada. pelo então MM. Juiz Fede- réu.
ral, Dr. Evandro Gueiros Leite, na
sentença de fls. 33/36: Sentenciando, julgou procedente a
«Maria da Silva Piran propõe ação e condenou o INPS ao pagamen-
esta ação de Rito Sumaríssimo to da pensão à autora, com atrasados
contra o Instituto Nacional de a partir do seu requerimento admi-
Previdência Social, visando ao nistrativo, mais juros de mora e ho-
recebimento de pensão social, norários advocatícios arbitrados em
deixada pelo seu falecido esposo, 10% (dez por cento) sobre o qtle se li-
de quem se desquitou em vida, quidar em sentença.»
amigavelmente. Apelou o INPS (fls. 38/39), argu-
A autora pleiteou o direito ad- mentando que o Decreto n? 72.771/73,
ministrativamente, mas o réu regulamento da Lei n?[3.807/60, em
negou-o, alegando que havia re- seu art. 23, inciso II est~belece:
88 TFR - 71

«Art. 23 - A perda da qualidade Essa renúncia se deveu, no des-


de dependente ocorrerá: quite, à divisão do único bem imó-
vel do casal (v. fls. 5 v. do anexo)
que foi partilhado igualmente, o
II - Para os cônjuges, pelo des- que por certo serviu de suporte às
quite, quando não haj a sido asse- necessidades do cônjuge - mu-
gurada a percepção de alimentos lher, enquanto durou.
ou pela anulação do casamento.»
Daí concluir-se que, ressentindo-
Ao final, postulou a reforma da se ela da falta de sustento, pleiteou
sentença a pensão social, por necessidade,
Contra-razôes da apelada, às fls. de tal modo que se valeu, em
41/42. Juízo, do benefício da gratuidade.
Nesta instância, a douta Subprocu- Acho que a pensâo social é devi-
radoria-Geral da República, às fls. da nestes casos, levando-se em
45/46, em parecer do Dr. Carlos da conta a finalidade da mesma,
Cunha Braga, aprovadO pelo Dr. Ge- quando não estiver sendo paga a
raldo Andrade Fonteles, opinou pelO outro beneficiário, sendo injusto
provimento do apelo, a fim de ser locupletar-se o órgão previdenciá-
julgada a ação improcedente. rio das contribuições do casal du-
É o relatório. rante a vida do marido, e sendo o
regime de comunhão.
VOTO A mulher legítima teria, assim,
contribuído com parte da sua eco-
O Senhor Ministro Washington nomia para essa poupança força-
BoUvar de Brito (Relator): Trata-se da, de tal forma que o seu nome fi-
de hipótese singular, que me parece gura como dependente e beneficiá-
bem decidida em primeiro grau, cu- ria nos registros do órgão.
ja sentença argumenta (fls. 34/36):
O Instituto alega não ter sido parte
«O Instituto sustentou, em face no desquite, o que é óbvio. E vai daí
do art. 23, lI, do Decreto n~ para argumentar no sentido de não
72.771/73, a perda da condição de estar sujeito ao princípio da irrenun-
dependente/da autora em face ao ciabilidade da pensão.
marido, dévido a nâo lhe ter sido Esse ponto de vista colhe, toda-
assegurada a percepção de alimen- via, contra ele, porque não estaria
tos (fls. 21 e 24/25) . obrigado pelo acordo (res inter
alias), Simples manifestação de
Na resposta, que lhe foi faculta- vontade entre particulares, que o
da, a autora reprisou os fundamen: JUÍzo homologou por sentença que
tos da inicial e aludiu ao processo não faz coisa julgada.
administrativo em apenso;, que re·
putou despiciendo ao deslindê da Dir-se-á que não será possível
controvérsia (fls. 27). decidir o Juiz apenas com a mão
nos fatos (humanos) e ao arrepio
O principal argumento do da lei, no caso o art. 23, inciso lI,
Instituto-réu - veiculado em toda do DecreL n~ 72.771/73.
a extensão da via administrativa
até a decisão da 1~ Junta de Recur- Mas não é assim.
sos - é o da perda da dependência O dispositivo citado fala na «per-
econômica da viúva desquitada, da da qualidade de, dependente",
em conseqüência da renúncia aos na hipótese indicada em seu inciso
alimentos provisionais. lI. Mas não impede, em qualquer
TFR - 71 89

outro texto, a possibilidade de re- Disse que a hipótese é singular, por-


cuperação daquela qualidade. Ora, que se trata de uma autêntica constru-
se isso é possível em face da lei ci- ção jurisprudencial, por sinal, nlUito
vil (geral), levando-se em conta a bem elaborada, a meu ver, para aten-
irrenunciabilidade do direito, nada der aos princípios do próprio direito
impede que, na omissão do regula- previdenciário.
mento (ou mesmo da lei regulamen- Por essas considerações, confirmo a
tada), tal venha a ocorrer, superve- r. sentença por seus própriOS e jurídi-
nientemente. cos fundamentos.
Faltou, é certo, à autora uma
melhor prova de sua precária si- Nego provimento à apelação.
tuação de vida, mas a mim satis- EXTRATO DA ATA
faz o atestado de fls. 9, e o reco- AO. n?51.859 - (Ação Sumaríssi-
nhecimento do seu estado de po- ma) -RJ -ReI.: Sr. Min. Washington
breza, pela outorga da assistência Bolívar. Apte.: INPS. Apdo.: Maria da
judiciária. Silva Piran.
Neste termos, julgo procedente a Decisão: à unanimidade, negou-se
ação e condeno o Instituto ao paga- provimento à apelação. (Em 26-11-79
mento da pensão à autora, com atra- -1~ Turma).
sados a partir do seu requerimento Os Srs: Ministros Otto Rocha e Wil-
administrativo, mais juros de mora Son Gonçalves votaram com o Reia-
e honorários advocatícios arbitra- toro
dos em 10% (dez por cento) sobre o Presidiu o julgamento o Sr. Min.
que se liquidar em execução.»Peçanha Martins.
APELAÇÃO ClVEL N~ 52.413 - MG
Relator: Ministro Moacir Catunda
Apelante: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER
Apelada: Mariana Nunes de Barros
EMENTA
Desapropriação.
Indenização estabelecida de acordo com os obje-
tivos, concretos e variados dados informativos cons-
tantes do laudo do vistor oficial, que se mantém, à
consideração de que concretiza a promessa de justa
indenização prevista na Constituição.
ACORDÃO RELATORIO
Vistos e relatados os autos em que O Sr. Ministro Moacir Catunda: O
são partes as acima indicadas: MM. Juiz Federal da l~ Vara da Se-
Resolve a 2~ Turma do Tribunal ção Judici~ria de Mina~ G:erais, I?r.
Federal de Recursos conhecer da re- Newton MIra?~a de OlIveIra, aSSIm
messa ex officio como se interposta relatou a especle: .
fora; de meritis, por unanimidade, «O Departamento NaCIOnal de
negar provimento, na forma do rei a- Estradas de Rodage~, no dese~-
tório e notas taquigráficas constan- penho ~e suas, funçoes_ especlfl-
tes dos autos que ficam fazendo par- ~as e VIsando a ~xecuçao do pro-
te integrante do presente julgado. Jeto de con~trul;aç, _me~oram~n-
. tos e pavlmentaçao, mcluslve
Cust:;t~ como d~ leI. . instauração da respectiva faixa
. BrasIl1a, 4 de Junho de 198~ - MI- de domínio, da rodovia BR/381,
mstro Moacir Catunda, PreSIdente e trecho Pouso Alegre a Divisa
Relator. MG/SP, no município de Pouso
90 TFR - 71

Alegre, neste Estado, e ao funda- artigo 27 do Decreto-Lei n~ 3.365/41,


mento do Dec.-Lei n~ 3.365/41, já referido, e específico para o ca-
ajuizou a presente ação expro- so do enfoque, e, dessa forma, fixo
priatória contra Mariana Nunes a indenização tal como nele se con-
de Barros, em torno de uma área tém (fls. 89), ficando assim expres-
de terras medindo 25.926,64 m2, sos: pela área de terrenos, de
localizada nos kms. 373 + 750,3 a 25.926,64 m2 multiplicada pelo va-
374 + 373,1, mediante oferta de lor encontrado de Cr$ 15,00 o metro
Cr$ 61.172,08. quadrado, totaliza Cr$ 388.899,60 -
Com a inicial foi produzida a , que arredondam ente fica fixado
documentação indispensável ao em Cr$ 389.000,00 (trezentos e oi-
exercício da ação - fls. 5/12. tenta e nove mil cruzeiros), impor-
Depósito da oferta - fls. 13v; a tância a que serão acrescidos juros
expropriada, antecipando-se à ci- compensatórios a partir da imissão
tação, contesta a ação - fls. na posse e se tornarão moratórios
25/31, impugnando a oferta e pro- a partir da data desta sentença.
testando por uma indenização Fica deferida correção monetá-
justa. ria - caso ocorra hipótese legal
ApresentadQs os quesitos pelo (art. 26, § 2~ da lei específica, cita-
expropriante - fls. 38, são os da) - a cargo do expropriante e a
"experts" notificados e compro- favor da expropriada.
missados - fls. 43/4, 45/6, 48/9;
imissão de posse e citação da ex- Fixa em Cr$ 5.000,00 (cinco mil
propriada, cumprida no douto cruzeiros) os honorários do Sr. Pe-
Juizo de Direito da Comarca de rito Oficial - dos· quais se descon-
Pouso Alegre - fls. 59/71. tará a importância recebida ante-
Comprovados os pressupostos cipadamente e que excedeu às des-
legais, é deferido o pedido de le- pesas efetuadas.
vantamento parcial dO depósito Deixo de fixar honorários ao
- fls. 79/80, vindo aos autos o perito-assistente do expropriante,
laudo do perito oficial (fls. 85/96) já que pertencente ele aos quadros
e do assistente-técnico do expro- funcionais do DNER.
priante - fls. 100/102. A cargo do expropriante e em ra·
Na A.I.J. - atermada às fls. zão da sucumbência, ficam os ho-
104/105 restou a controvérsia re- norários advocatícios do defensor
sumida· ao preço indenizatório, da expropriada, que fixo em 15%
pedindo o expropriante a fixação Xquinze por cento) incidente sobre
da indenização com base no lau- 'o valor da oferta e o resultante da
do de seu assistente-técnico e, a indenização final, conforme se li-
expropriada, reivindicando a in- quidar nos autos (art. 27, § 1~ - da
denização proposta pelo perito lei própria).»
oficial; ofertou a expropriada o Inconformado, apelou o DNER
memorial de fls. 106/107; regular com as razões de fls. 116/117, plei-
a intervenção do ilustrado Proeu- ,teando a redução dos valores da con-
rador da República em nome da denação, de acordo com o valor da
União Federal.» oferta atualizada ou com base no
Sentenciando, julgou procedente a laudo de seu assistente-técnico.
ação, e fixou a indenização da seguin- Contra-razões às fls. 120/121.
te forma: Nesta superior. instância, a douta
«Adotando, pois, o laudo oficial, Subprocuradoria-Geral da República
dado que o critério de avaliação do opinou pelo provimento da autarquia
Dr. Perito nomeado por este Juizo expropriante.
atende com perfeição o disposto no É o relatório.
TFR - 71 91

VOTO PRELIMINAR que o do assistente-técnico se limita,


O Sr. Ministro Moacir Catunda: ao cabo de contas, a atualizar, pelos
Tendo a sentença fixado a indeniza- índices próprios, o valor da oferta le-
ção de respons.abilidade da desapro- vantado no processo administrativo,
priante, que se compreende no con- o que é bastante a demonstrar a in-
ceito de Fazenda Pública,em quantia suficiência do mesmo, ao fim coli-
superior ao dobro da ofertada, está mado de indicar a justa indenização
sujeito ao duplo grau de jurisdição, prometida na Constituicão.
ex vi, do parágrafo I?, do art. 28, da A sentença bem decidiu quando
Lei n? 3.365, de 1961, na redação da optou pelo laudo do experto oficial.
Lei 6.071/74, pelo que conheço do No tocante aos honorários de advo-
mesmo, como se declarado tivesse gado entendo que a sentença os esta-
sido pela douta sentença. beleceu em percentual condigno a
VOTO bem remunerar o trabalho do digno
O Sr. Ministro Moacir Catunda: No profissional, porquanto a ação trami-
mérito, o recurso da expropriante se ta há vários anos e a importãncia
restringe ao valor da indenização, entre a oferta de Cr$ 62.172,00, e a
estabelecido com apoio no laudo do indenização - Cr$ 388.899,60, - pode
perito oficial, à razão de Cr$ 15,00 ser considerada modesta, ainda que
por metro quadrado, postulando o de a atualizada em seu valor.
Cr$ 5,00 por metro quadrado, .indica- Relativamente à conversão dos ju-
do no laudo de seu assistente-técnico ros em moratórios, após a sentença,
e, bem assim à verba profIssional, merece retificação, pois a jurispru-
no percentual de 15% sobre a diferen- dência do Tribunal é no sentido de
ça entre a oferta e a indenização. que em tema de desapropriação ca-
Não lhe dou razão porque o laudo do bem juros compensatórios.
perito oficial, após demonstrar a si- Por estes motivos, o meu voto é
tuação do terreno, na zona urbana e negando provimento à remessa ex
industriál da cidade, justifica o valor officio, e ao recurso voluntário, para
encontrado com apoio em múltiplos confirmar a ilustrada sentença re-
dados, objetivos, concretos, ao passo corrida.
APELAÇÃO C1VEL N? 53.561 - RJ
Relator: O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz
Revisor: O Sr. Ministro Justino Ribeiro
Apelantes: José Francisco Zeca Júnior e Outros
Apelada: L1nião Federal.
EMENTA
Administrativo.
Servidor aposentado antes da Instituição do Pla-
no de Classificação de Cargos (Lei n? 5.645, de 1970).
Faz jus à revisão dos proventos com base no va-
lor de vencimento fixado para o nível inicial da cor-
respondente categoria funcional (Decreto-Lei n?
1.325/74, art. 1?; Decreto-Lei n? 1.445/76, art. 27, §
2?).
Vigência e eficácia. Distinção.
A irradiação de efeitos do Decreto-Lei n?
1.256/73 ficou condicionada à publicação do decreto
de transformação de cargos mencionado no seu art.
10, § 3?
92 TFR - 71

ACORDA0 A sentença julgou improcedente a


ação e condenou os autores nas cus-
Vistos, relatado!> e discutidos estes tas e em honorários de advogado de
autos em que são partes as acima in- 3% sobre o valor dado à causa (fls.
dicadas: 153/165) .
Acordam os Ministros que com-
põem a Segunda Turma do Tribunal Apelaram os autores, com as ra-
F'ederal de Recursos, por maioria, zões de fls. 168/173.
vencido o Sr. Ministro Revisor que
lhe dava_ provimento parcial, ne- Contra-razões às fls. 180.
gar provimento à apelação, na for-
ma do relatório e notas taquigráficas Neste Tribunal, a Subprocurado-
que passam a integrar o presente ria-Geral da República opinou pelo
julgado. n ã o
E; o relatório.
Custas como de lei.
Brasília, 15 de junho de 1979 (Data
do julgamento) -, Ministro Antônio
Torreão Braz, Presidente e Relator VOTO

O Sr. Ministro Antônio Torreão


RELATORIO Braz: (Relator) - Senhor Presidente,
na hipótese sub judice, a in ativação
se deu por tempo de serviço, nos ter-
mos do art. 176, n? II, da Lei n?
o Sr. Ministro Antônio Torreão 1.711/52, com as vantagens do art.
Braz: - José Francisco Zeca Júnior 184, n?s I e II, do mesmo diploma.
e outros moveram ação ordinária
contra a União Federal, com o obje-
tivo de terem os seus proventos de Entendem os promoventes que, na
aposentadoria reajustados aos venci- vigência do Decreto-Lei n? 1.256/73,
mentos de seus colegas em ativida- já estavam aposentados e preen-
de, na forma do art. 10 do Decreto- chiam os requisitos exigidos para a
lei n? 1.256/73, a partir de 1-11-74, da- sua aplicação, de modo que não se
ta da implantação do Plano de Clas- pOde fazer incidir, em relação a eles,
sificação de Cargos, mantidas as o Decreto-lei n? 1.325, de 1974, pena
vantagens do art. 184, I e II, da Lei de desrespeito a direito adquirido.
n? 1.711/52 e condenada a ré ao pa-
gamento de atrasados, custas, corre- Ocorre que o Decreto-Lei n?
ção monetária e honorários advo- 1.256/73 não chegou a produzir efei-
catícios de 20%. to, porquanto o reajustamento nele
p,revisto ficou condicionado à publi-
cação do decreto de transposição de
Contestou a União, alegando que cargos para a respectiva categoria
procedeu à revisão dos proventos funcional, nos termos da regra ex-
dos autores em consonância com os pressa do seu art. 10, § 3?, e quando
Decretos-leis n?s 1.325/74 e 1.445/76 e tal condição se realizou já vigia o
Instrução Normativa n? 53 do DASP, Decreto-lei n? 1.325, de 26-4-74, que
com exceção de Angefo Quintino dos suprimiu o citado art. 10 e determi-
Santos e Samuel de Andrade Bastos, nou a revisão dos proventos com ba-
transferidos para o Ministério da Fa- se no valor do vencimento fixado pa-
zenda, no Rio de Janeiro (fls. ra o nível inicial da correspondente
116/122). categoria funcional (art. I?).
TFR - 71 93

Abstraído o problema relativo ao toria ou eficácia, que é a irradiação


regime estatutário do servidor públi- de efeitos.
co, caracterizado pela possibilidade Se não se cumpriu a condição na
de sua modificação ao talante do le- vigência do invocado Decreto-Lei n?
gislador, cumpre fazer aqui a distin- 1.256/73, é fora de dúvida que este
ção entre eficácia e vigência, a meu não se completou nem produziu efei-
ver o ponto nodal sobre que assenta tos, sendo de afastar-se a existência
o desate da controvérsia. A vigência de direito adquirido, imune a modifi-
apenas enuncia a existência da lei, cação legislativa posterior.
não lhe conferindo executoriedade,
que fica na dependência ora do de- Tenho, assim, que a revisão dos
curso da vacatio legis, ora do imple- proventos dos apelantes há de fazer-
mento de uma condição. se na conformidade do que dispõem
Os autores costumam dizer que a os Decretos-leis n?s 1.325/74 e
vigência é uma possibilidade de efi- 1.445/76, em cuja vigência se deu a
cácia. Pontes de Miranda escreve implantação do Plano no órgão a que
'«Tratado de Direito Privado», Tomo pertenceu antes de aposentar-se.
V, págs. 5/6): "desde que o suporte
fáctico se compõe, estão satisfeitos Por essas razões, nego provimento
os pressupostos para a incidência da à apelação.
lei. A irradiação de efeitos parte des-
se momento, avançando para o futu-
ro; ou sobre algum tempo do passa-
do, isto é, parte de outro momento, VOTO
antes da incidência. De muitas ma-
neiras tem-se expresso essa eficácia, O Sr. Ministro Justino Ribeiro (Re-
ora com exatidão (eficácia desde o visor): Dou provimento apenas em
dia anterior, ou anos anteriores), ora parte, de modo que, embora não re-
ambiguamente (eficácia retroativa),
ora em linguagem de ficção (o fato classificados
lantes tenham
como pedem, os Ape-
assegurado o direito à
jurídico estender-se-á datado de tal
dia anterior). As vezes, em lugar de atualização monetária de seus pro-
ventos. Para tanto, reitero os funda-
simples referência ao tempo, liga-se mentos do voto que proferi na AMS
a eficácia a alguma circunstância ou
i2'to de outrora, de modo que a cir- 84.108-RJ, do qual junto cópia que
cUIl0Dcia passada ou o fato passa- passo a ler.
do se faz elemento essencial do su-
porte fátiCo, ..~mbora se diga ser de-
pendente dele~~·.eficácia. VOTO VISTA
TransPlantand~');."lra a espécie a
terminologia do em1'h.mte juriscon-
sulto, pode-se dizer qu~ ~1)ublicação O Sr. Ministro Justino Ribeiro: Co-
do decreto de transPoslçao~ cargos mentando o primeiro preceito consti-
constituía elemento essencla~':: su- tucional que em nosso país. Cuid?u
porte fático, pressuposto nec~~l>-~iO da aposentadoria do funcl~náno,
da eficácia do Decreto-~e} l.,
João Barbalho, deixou esta liçao:
1.256/73. O ato de trans~osIçao d~', «A disposiçào funda-se num
cargos esteve para este dIploma as ' . .princípio de eqüidade, amparan-
sim como o ~ecr~to re~ula~ent~r 11 aos que no serviço público se
está para a leI cUJa apllcaçao seJ~ d~nutilizado. Seria ingratidão
dele dependente: operou como CO?dI- .d ~(\ o abandono de seus ser-
ção suspensiva da sua força obnga- VI ore~"Q. tais condições. E é
94 TFR - 71

por isso que em todos os povos menos conservar a poslçao que lo-
cultos o governo vai pela aposen- grou alcançar? Em outras palavras,
tadoria em auxílio dos funcioná- que sentido teria a estabilidade, com
rios que lhe deram o melhor de vencimentos proporcionais ao tempo
seu tempo, de sua atividade e de serviço em caso de extinção do
sacrificaram-lhe sua saúde, no cargo, ou a aposentadoria com pro-
momento em que eles se hão tor- ventos integrais, ou mesmo propor-
nado imprestáveis para a conti- cionais ao tempo de serviço, de que
nuação no serviço, nem mais po- tratam os arts. 100 e 102 da Consti-
dendo, fora dele, ganhar por ou- tuição, se não existisse a regra do §
tro modo a vida" (João Barba- 1~ do mesmo art. 102? Ou se a este
lho: «Comentátios à Constituição se pudesse dar interpretação tal que
Federal Brasileira», Rio, 1902, ao legislador ordinário (ou consti-
pág. 342. Apud José Cretella Ju- tuído), no seu poder soberano de
nior: «Direito Administrativo do criar, extinguir e reestruturar (ou
Brasil», 2~ Ed., Vol. lI, pág. 413). reclassificar) cargos, sem qualquer
E Carlos Maximiliano, outro hu- limite prévio quanto à qualidade e
manista do direito, disse que a apo- quantidade das atribuições dos mes-
sentadoria mos, não se opusessem um padrão,
um ponto de referência pelo qual o
«... é um instituto de previdên- servidor inativo pudesse aferir e fa-
cia social para evitar que a misé- zer respeitar seu direito?
ria surpreenda os velhos servido-
res do Estado, quando impossibi- Por certo não faço objeção a que o
litados de trabalhar.» Estado, no uso desse poder soberano
Apud autor, obra e local cita- de que acabo de falar, modifique e
dos). aperfeiçoe segundo os dados da ciên-
cia e da técnica, a estrutura dos ser-
Não há demagogia nesses concei- viços. E tenho na melhor conta e
tos, que destas coisas da má política respeito, como também adoto, o en-
não precisaram os dois autores cita- tendimento da Súmula n~ 38 da Ex-
dos para se tornarem venerandas fi- celsa Corte, segundo a qual não
guras de nossa história. Ao contrá- aproveita ao aposentado a reclassifi-
rio, o que vejo nos trechos citados é cação posterior do cargo.
uma serena e culta advertência, que .I.'
o legislador constituinte vem seguin-
do até nossos dias: a de dar ao servi-
Contudo, não posso aceita~-o:~~ ... e,
sem manifesto desrespeito ou pre-
dor público a necessária tranqüilida-posteração ao citado preceito consti-
de, para que não tema a miséria tucional, situações coro o as que são
quando surpreendido pela invalidez amparadas pela LeI n~ 1.050/50, ou
ou quando chegar à velhice que to- as pOSições rel;>ctvas dos funcioná-
dos esperam mas, sem o mínimo pa- rios perante ..eus quadros e carrei-
ra a cozinha e a farmácia, poucos ras ao se áposentarem, possam de
suportam. uma bl" a para outra reduzir-se a
uma .•.mica classe ou referência de
Com efeito, como poderia o Estado s~..tno, como qUis o Decreto-Lei nO
esperar de seus servidores dedica- -.j25, _de 26-4-74, agravado pela su~
ção, esforço de aperfeiçoamen~!:, p;-essao, determinada pelo art. 27, §
lealdade e tudo mais que faz 0Ym~ 6: '. do I?ecreto-Lei n~ 1.445/76, de gra-
veria fazer do serviço públic'aesse tIflcaçoes, parcelas de proventos
empresa diferente, se lhe 'h-ora de (art. 184 da Lei 1.711/52) e outras di-
a _gara~tia de, chegad~mpetir, ao f~renç~s de estipêndio indicativas de
nao maIS pOder lutar r sltuaçoes alcançadas em atividade.
TFR - 71 95

Tenho que o ponto de referência, te, se o funcionário da mesa tal teve


de que falei acima e pelo qual se há seu cargo e vencimentos alterados
de pautar a conduta do legislador, é mas continua a fazer a mesma coi-
a posição social alcançada em ativi- sa, então, a resposta está em se afe-
dade pelo servidor, relativamente a rir tudo pelo padrão monetário.
sua vida funcional, ou sua posição Tome-se o total de estipêndio perce-
nos quadros funcionais, relativamen- bido pelo inativo ao se aposentar, se-
te a outros servidores. Não pode o gundo a estipulação do art. 102 da
comandante de navio, pelo simples Constituição e da lei vigente à data
fato de estar aposentado, vir a ter da aposentadoria, ou da aquisição do
retribuição igual à de seu grumete, direito a ela (Súmula 359), e aplique-
mesmo que este haja continuado em se-lhe o índice da correção monetá-
atividade. ria: se o valor resultante ficar igual
O art. 102, § 1?, da Constituição Fe- ou abaixo do que vem percebendo,
deral determina a revisão dos pro- sua reclamação improcede; se não, a
ventos de inatividade toda vez que, diferença lhe é devida em respeito
em decorrência da desvalorização ao direito adquirido.
da moeda, forem reajustados os ven- É uma alternativa perfeitamente
cimentos dos servidores em ativida- compreendida no pedido (art. 288,
de. Como nas constantes reclassifi- parágrafo único, do C.P .C.) a que
cações por que vem passando o fun- não fere as disposições das lei.s e de-
cionalismo desde a reforma adminis- cretos reclassificatórios. E está, es-
trativa de 1936, com alteração conco- sa alternativa, em harmonia com a
mitante da denominação dos cargos parte final do brilhante voto do Sr.
e do plano de remuneração, torna-se Ministro-Relator, pois o reajuste as-
difícil, senão mesmo impossível, sim feito obedecerá à desvalorização
determinar-se quando ocorre efetiva da moeda.
~~~lassificação (mudança de atribui- Nesse sentido, dou provimento em
ço~." e quando, em nome dela ou em parte ao apelo.
seu bo~, se fazem simples reavalia-
ções de ~rgos, matéria sem bases
precisas. OU'~râmetros regulares na
qual ate mes",,-o involuntariamente EXTRATO DA ATA
se insinua e disS~ula o reajuste por
desvalorização da h.oeda parece-me
que a única maneira'~ s~ cumprir o AC 53.561 - RJ - ReI.: SI'. Min.
preceito constitucional ::"'ria o recur- Torreão Braz. Rev.: Sr. Min. Justino
so à correção monetária. Ribeiro. Aptes. José Francisco Zeca
Júnior e outros. Apda.: União Fede-
Com efeito, se de um lado fu.o po- ral.
de o juiz se louvar em simples al,ga_ Decisão: Por maioria, vencido o
ções dos que batem à porta do JIl\l_ Sr. Min. Revisor, que lhe dava provi-
ciário sem a prova de que, pela" mento parcial, negou-se provimento
mesmas tarefas que eÃ.;cutavam à apelação. Em 15-6-79 - 2~ Turma)
quando em atividade e pelo mesmo O Sr. Min. Sebastião Reis votou
tempo de serviço e nas mesmas con- cR"n o Relator. O Sr. Min. Sebastião
dições, funcionários seus homólogos e., é Juiz Federal convocado em
estão percebendo mais, e, por outro, sub&\tUiÇãO ao Sr. Min. Paulo Távo-
também, não pode ficar submisso a ra, o "l. Min. Moacir Catunda não
simples esquemas e organogramas com~a~~eu, por motivo justificado.
formais que não explicam como e Presldm '" julgamento o SI'. Min.
em que as coisas mudaram realmen- Torreão BL\z.
96 TFR - 71

APELAÇAO ClVEL N~ 54.186 - RS


Relator: Ministro Washington Bolívar de Brito
Apelantes: Sucessão de Alberto ROdrigues Vellinho e ou-
tro.
Apelados: Azevedo, Farias & Companhia Ltda, Caixa Eco-
nômicb. Federal e Caixa Econômica Estadual.
EMENTA
Civil - Aquisição a non domino do Direito Real
- Propriedade Aparente - Efeitos - Terceiros Ad-
quirentes de boa-fé - Nulidade de escritura - Reti-
ficação de Registro Imobiliário - Prescrição.
1) A propriedade - e o defluente princípio de per-
petuidade do domicilio (CF, art. 153, § 22) - não ce-
de lugar somente à desapropriação: na ordem econô-
mica e social vigentes, deve cumprir, também, uma
«função social», sem o que se desnatura e perde o
amparo do ordenamento jurídico (CF, art. 160, 111).
Sobreleva ao interesse individual, por mais respeitá-
vel que seja, o interesse público, representado pela
necessidade de paz social e estabilidade dos negócios
jurídicos. Nem outro é o fundamento maior da pres-
crição, a que está sujeita até mesmo a ação para de-
clarar a nulidade absoluta de ato jurídico, sendo ale-
gável em qualquer instãncia, por quem ela aproveita
(Código Civil, arts. 162 e 163).
2) Ainda que houvesse ocorrido aquisição a no1' .10-
mino do direito real, os terceiros adquirentes ~ boa-
fé - presumida esta pelas sucessivas tr.?'lscrições
do imóvel (Código Civil, art. 859) - est..triam a c~
berto da pretensão reivindicatória, o,. <:l o pedido de
retificação do registro imobiliário. daI consegue en-
cobrir e visava a obter, por via oHlqua.
3) Precedentes do STF.
4) Apelo improvido.

ACORDÃO Br,sília, 28 de abril de 1980. (Data


do" ligamento) Ministro Peçanha
Vistos e relatados os autos em que )\-~rtins, Presidente- Ministro
são partes as acima indicadas: Nashington Bolivar de Brito, Rela-
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe· tor.
deral de Recursos, por unanimida<i' RELATORIO
negar provimento à apelação e jU)íar
extinto o processo, na forma do e a- o Senhor Ministro Washington
tório e notas taquigráficas cowant~s Bolfvar de Brito: Trata-se de ação
dos autos que ficam fazenr" par e ordinária de «Retificação e Nulidade
integrante do presente julg:-'o. de Registros» proposta pela sucessão
CU",t"D ,-,orno de lei. de Alberto Rodrigues Vellinho e
TFR - 71 97

Cecília Nobre Vellinho çontra a fir- Contra-arrazoou, também, a Caixa


ma Azevedo, Farias & Cia. Ltda., Econômica Federal (fls. 526/528) pe-
Caixa Econômica Estãdual e Caixa la manutenção da sentença, que se
Econômica Federal (fls. 2/12). contivera nos limites do pedido.
O MM. Juiz Ari Pargendler (fls. A douta Subprocuradoria-Geral da
506/511) julgou a autora carecedora República (fl. 531), em párecer do
da ação, condenando-a ao pagamen- Oro João Henrique Serra Azul, apro-
to das custas e dos honorários de ad- vado pelO Dr. Geraldo Andrade Fon-
vogado, à base de dez por cento teles, manifestou-se. pela confirma-
(10%) sobre o valor da causa, pelos ção da decisão de I? grau.
seguintes motivos de fato e de direi- Sem revisão, por se tratar de ma-
to em que resumiu a controvérsia t€ria predominantemente de direito,
(fls. 506/511 - 4? vol., lê). nos te:rmos do art. 90, § I? da Lei
Complementar n? 35/79 e Resolução
Inconformada, apelOU a autora n? 20/79, TFR, art. I?
(fls. 512/517), sustentando, em sínte-
se, que a r. sentença nãO julgou O pe- É o relatório.
dido principal, ou seja, O de Nulida-
de da Escritura. VOTO
Argumentou que a sentença suge- o Senhor Ministro Washington
riu que a ora apelante poderia ter Bolívar de Brito (Relator): Alega a
cumulado pedido de reivindicação; apelante que a sentença somente
entende, entret<;l.nto, que não se pode apreciou parCialmente o pedido, poiS
reivindicar sem, antes, anular ato de o principal, a nulidade da escritura,
terceiro. não foi analisado por ela.
Sustentou, ainda, que, no Registro A inicial assim resumiu sua
Público, o seu título é o mais antigo, pretensão (fI. 10):
porquanto foi transcrito em 1893 e o «Isto posto, o pedido.
dos apelados, data de 1942, aquele,
por um ato público de escritura de Quer a sucessão suplicante,
compra e venda; este, por medição mediante a presente Ação e con-
extrajudicial, cuja transcrição não seqüente sentença, seja decreta-
Dode gerar domínio divorciada do in- da a Nulidade de pleno direito
v~ntário e partilha do espólio do Ba- dos aparentes títulos dos Suplica-
rão do Cay (1918). dos, Firma Azevedo, Farias &
Ao final citou diversos arestos em Cia. Ltda. e Caixa Econômica
seu amparo. Estadual, face à prova dos autos,
por ser injurídica a transcrição
Contra-razões da Caixa Econômica de seu falso título, nos termos do
Estadual do Rio Grande do Sul (fls. artigo 145, inciso II e V do Código
521/524), alegando que a ação não po- CiviJ, bem como suas posteriores
deria mais ser proposta contra averbações, constantes nos Li-
Eduardo Bordini, ou seus sucessores, vros 3-H fls. 64, sob n? 13.654 do
por já ter ocorrido a prescrição. Ofício da 2~ Zona e Livro 3-AS
Entende que ar. sentença bem di- fls. 43, sob n? 51.568 do Registro
rimiu a controvérsia, porquanto de Imóveis da 2~ Zona do Regis-
«não tendo sido retificado o registro tro de Imóveis desta Capital, por
inicial, que é o ponto inicial da dis- refletirem os atos nulos de direi-
puta, os registros subseqüentes fo- to inexistentes, já provado no
ram regulares e, conseqüentemente, presente pedido, espeCialmente
de boa-fé os que neles acreditaram». no item 5?, para o fim de preva-
98 TFR - 71

lecer somente o título de legítima por elas. No presente estágio da con-


propriedade da Sucessão Supli- trovérsia, entretanto, não se há de
cante, cuja transcrição, às fls. discutir essa matéria de fato, já' que
206 do Livro 4-B, sob n9 5.597, da todas as indagações emergentes da
1~ Zona do Registro de. Imóveis, sentença atacada e da própria apela-
está sem gravame algum na ção, bem assim de temas que devem
mesma 2~ Zona do Re(gistro de ser obrigatoriamente apreciados, co-
Imóveis desta Capital, incluso mo a prescrição, constituem matéria
doc. 22; mediante mandado Ndi- de direito.
cial que inclua ordem de retifica-
ção, retirando-se assim, o falso As transcrições e escrituras que a
título, que se pede a nulidade de autora pretende anular, embora
sobre a área e registro da Suces- acoimando de falsas duas outras que
são Suplicante, para que a mes- lhes teriam dado origem, não são es-
ma, possa ser partilhada, como tas, mas as das apeladas, isto é, as
de direito, aos sucessores do ca- derivadas.
sal de Alberto Rodrigues Velli- Acaso a anUlação do ato jurídico
nho.» derivado acarreta a ao originário?
Evidentemente, que não. Seria estra-
Efetivamente, ao apelidar de «fal- nha e incompreensível essa pretQu-
sos» e «aparentes» os títulos que ser- são, deduzida em Juízo, na present~
viram de base à transcrição, o pedi- ação, se a ancianidade dos títulos
do inclui o exame desses títulos, pa- primitivos não alertasse a autora pa-
ra retificar o registro, pela decreta- ra a incidência da prescrição, que
ção da nulidade das respectivas certamente seria invocada, como o
transcrições, por ilicitude do objeto e foi, apesar de todas as precauções
porque a lei assim o ordenaria, invo- tomadas, inclusive no tocante à au-
cando o disposto no art. 145, incisos sência de cumulação com a reivindi-
II e V, do Código Civil. catória.
A sentença, entretanto, argumenta A autora pediU a decretação de nu-
que tal retificação, quer a transcri- lidade «dos aparentes títulos dos Su-
ção da primitiva escritura, tida por plicados, Firma Azevedo Farias &
falsa, datada de 1936, quer as das Cia. Ltda. e Caixa Econõmica Esta-
apeladas, quer as dos cento e cin- dual» (fl. 10). Sem entrar no mérito,
qüenta e dois compradores de apar- isto é, sem que se precise pesquisar
tamentos, não mais é possível, pelo se são «aparentes» ou verazes tais
princípio da continuidade do registro títulos, afirma-se que a autora não
imobiliário. somente carece de ação para retifi-
car, como também para reivindicar,
Não tinha, assim, que descer à mesmo se aceita a hipótese mais
análise da alegada nulidade das es- desfavorável às apeladas - a da
crituras das apeladas e das respecti- propriedade aparente.
vas transcrições, pois deu a autora
como carecedora da ação para retifi- Com efeito, doutrina e jurisprudên-
car o registro, o que teria sido «viá- cia se irmanam no proclamar que os
vel enquanto Eduardo Porto Osório terceiros adquirentes de boa-fé estão
Bordini não havia transferido a gle- a coberto de reivindicação, nas hipó-
ba a terceiros» (fI. 511, 49 vol.). teses como a figurada nos autos.
A ilicitude do objeto resultaria da E que a própria aparência, em Di-
aquisição a non domino, negada, reito, produz efeitos e legitima situa-
aliãs, pelas apeladas, que atribuem ções, bastando referir a posse de es-
outra origem às terras adquiridas tado e a usucapião.
TFR - 71 99

Salienta O' cO'nsagradO' civilista Or- que tem (nemO' plus ius ad aUum
landO' GO'mes: transferre quam ipse habet) cO'm O'
«A teO'ria da aparência aplica-se, de que O' errO' cO'mum faz direitO'? CO'-
também, aO' direitO' de prO'prieda- mO' negar O' princípiO' da perpetuida-
de. Razões sO'ciais e ecO'nômicas de dO' dO'míniO', ressalvadO's O'S casO's
justificam O' recO'nhecimentO' da efi- de desaprO'priaçãO', tudO' cO'nfO'rme
cácia de atO's praticados pO'r pes- garantia cO'nstituciO'nal? (C.F., art.
sO'a que se apresenta cO'mO' prO'- 153, § 22).
prietária de um bem, sem O' ser em NO' casO' da prO'priedade imóvel,
verdade, mas passandO' aO's O'lhO's exige-se, ainda, que a alienaçãO' seja
de tO'dO's cO'mO' tal. Esta situaçãO' feita a títulO' O'nerO'sO' aO' adquirente
pO'de prO'vir de circunstâncias que de bO'a-fé.
mduzam tO'da a gente a supô-la Os efeitO's da prO'priedade aparente
verdadeira e real. Perdura, às ve- sãO' desdO'bráveis em duas O'rdens:
zes,IO'ngO' tempO', só se descO'brindO'
quandO' O' prO'prietáriO' aparente já «L relações entre O' prO'prietá-
exerceu tranqüilamente seu direitO' riO' aparente e O' prO'prietário ver-
e até praticO'u atO's de dispO'siçãO'. dadeirO';
Cumpre verificar, pO'is, se esses 2.rel;:tções entre O' prO'prietáriO'
atO's sãO' válidO's. O interesse de verdadeirO' e O' terceirO' adquiren-
terceirO's, que travaram rel:;lções te» (OrlandO' GO'mes, O'br. cit.,
jurídicas cO'm O' prO'priptãriO' apa- pág.328).
rente deve ser levaa.O' em cO'nta.
NO' c~nflitO' ephe a rejllidade e a A dO'utrina e a jurisprudência têm
aparência, O' DireitO' .preO'cupadO' prO'clamadO' que O' terceirO' adquiren-
cO'm ao:S suas cO'nseqüências, dita te, na segunda O'rdem de efeitO's, ad-
"",rmas que resguardam O'S inte- quire, em caráter definitivO' a prO'-
resses em jO'gO', eliminandO' a cO'n- priedade dO' bem transferidO' pelO'
tradiçãO' que se manifesta. É irre- prO'prietáriO' aparente, se hO'uver
cusável a existência de uma prO'- cO'njugaçãO' dO's requisitO's de bO'a-fe,
priedade aparente. Impõe-se, pO'r errO' invencível e alienaçãO' a títulO'
cO'nseguinte, o- exame de sua cO'nfi- O'nerO'sO'.
guraçãO' e de sua eficácia.»
Ora, O' registrO' públicO' faz prO'va
CO'ntinua aquele Mestre: plena de bO'a-fé, pO'is faz presumir
_«P~ra ter valO'r jurídicO', a apa- «pertencer O' 'direitO' real. à pessO'a,
renCla deve estar apO'iada em dO'is em cUjO' nO'me se inscreveu, O'U
princípiO's: O' da bO'a fé e O' que se transcreveu» (C.C., art. 859).
traduz na regra error comunis fa- EmbO'ra se trate de -presunçãO' jurls
cit jus. (DireitO's Reais, 1~ ed., FO'- tantum nO' sistema temperadO' adO'ta-
rense, Capo 23, pags. 323-324). dO' em nO'ssa legislaçãO', aO' permitir,
em certO's casO's, a retificaçãO' (C. C.,
É certO' que O' errO' nãO' sO'mente de- art. 860; Lei n? 6.015/73, cO'm as alte-
ve ser cO'mum, mas ainda in- rações determinadas pelas Leis n?s
vencível, segundO' Mazeaud e Ma- 6.140/74 e 6 ?HiI75. art. 212) é sufi-
zeaud. ciente para a demO'nstraçãO' da bO'a-fé
Indaga-se: pO'de O' verdadeirO' prO'- dO' terceiro adquirente.
prietáriO' reivindicar de terceirO' O' AO' versar sO'bre as «razões lógicas
bem que este adquiriu dO' prO'prieta- e práticas da fé pública dO' registrO'
riO' aparente? imO'biliáriO' e da aquisiçãO' a nO'n
CO'mO' cO'nciliar O'S princípiO'S de dO'mino do direitO' real», Serpa Lo-
que ninguém pO'de transferir mais dO' pes, citandO' Carnelutti, leciona que
100 TFR - 71

houve verdadeira remodelação da crição no respectivo registro, fi-


estrutura jurídica, com o fim de ca indene, não podendo sofrer a
adaptação, tendo como um dos pon- reivindicatória». (Pág. 359).
tos centrais a doutrina da crença ou
princípio do «affidamento,» segundo E define:
os juristas italianos, baseado na apa- «Terceiro de boa-fé é o terceiro
rência, distinguindo-a da boa fé, que adquirente, que se fiou na exati-
se caracterizaria por substrato es- dão de uma transcrição ou inscri-
sencialmente subjetivo e da própria ção existentes já." (Pág. 359, IV
publicidade, embora com ela ligada vol).
«como numa relação de causa e efei-
to, porque, a despeito de a publicida- De resto, admite-se a legitimação
de legal poder gera a aparência, e, de situações igualmente conflitantes,
assim, a crença, esta, ao contrário, como se pode exemplificar com os
pOde resultar de uma manifestação arts. 622 e 968, do Código Civil.
diversa da legal, defluindo de um Assim, não somente é carente a
elemento de fato. Preside, nessa for- autora de ação para retificar, como
ma de legitimação, a tutela da ex- também para reivindicar, ainda que
pectativa, a seguranca do direito, se tratasse de aquisição a non
que exige, não tanto a proVa da boa domino, como se demonstrou.
fé do indivíduo, quanto a da possível
crença da coletividade.» (<<Tratado A jJ"()oriedade e o de(luente
dos Registros Públicos», vol. I, 3~ ed., princípio <3e perpetuidade do
págs. 82/83). domínio, que a c"'ustituição assegu-
ra (art. 153, § 22), ne." cedem lugar
A razão política da aquisição a somente ante a desapró.!!'''iÇiçãO; a
non domino do direito real residiria propriedade, na ordem econOl""~a e
na atitude do próprio dominus, «por social vigentes, deve cumprir, tal..
força· da qual aparece conveniente bém, uma «função social», para
que ele corra o risco da perda do .di- realizar o desenvolvimento nacional
reito a favor do terceiro de boa-fé, e a justiça social, sem o que se des-
em nome das exigências da circUla- natura e perde o amparo do ordena-
ção», no dizer do mesmo Carnelutti, mento jurídico (C.F., art. 160, IH).
ali citado (ob. e vol. cits., pág 84).
Ora, o juiz, na aplicação da lei, de-
Ao lado disto, avulta a boa-fé, cuja ve atender aos fins sociais a que ela
função criadora tem o poder'de fazer se dirige e às exigências do bem co-
surgir o direito de um fato, gerando- mum (Lei de Introdução ao Código
o e com ele se identificando, em har- Civil, art. 5?).
monia com a consciência jurídica da
coletividade. Sobreleva ao interesse individual,
por mais respeitável que seja, o inte-
No volume IV do seu consagrado resse público, representado pela ne-
«Tratado», ao retomar o assunto que cessidade de paz social e estabilida-
versara no I, diz Serpa Lopes: de dos negócios jurídicos.
«O princípio geral já mantido Assim, mais do que tudo quanto
em jurisprudência (Ac. do Tribu- até aqui se argumentou, fulmina a
nal de Belo Horizonte, d~ 27 de pretensão deduzida pela autora de
abril de 1938, in Rev. For., vol. 79, ressuscitar domínio, de há muito ex-
pág. 300) é o de terceiro' de boa tinto, se o teve, a prescrição libera-
fé, que, com fundamento em tória, expressamente invocada pela
transcrição anterior, haja adqui- apelada Azevedo, Farias & Cia.
rido um imóvel, mediante trans- Ltda. (fl. 142, 2? vol.), e pela Caixa
TFR - 71 101

Econõmlca Estadual (fi. 86, 3? vol), fluir contrà os sucessores, nos preci-
bem assim, nesta qssentada de jul- sos termos do art. 166 do Código
gamento, pela Caixa Econômica Fe- Cívil.
deral, na sustentação oral do seu Nem se diga que ação para decla-
douto patrono. A sustentação oral in- rar nulidade absoluta de ato jurídico
tegra o julgamento e a prescrição é não está sujeita à prescrição,pois o
alegável, por quem a aproveita, em contrário, de há muito, vem procla-
qualquer instância, motivo pelo qual mando. o Egrégio Supremo Tribunal
também conheço desse pedido. Federal (R.E. 58.524, 2~ Turma, ReI.
Embora não apreciada pela r. sen- Min. Victor Nunes Leal, RTJ 34/104;
tença, não pode ser ignorada pelo RE 66.673, 2':'- Turma, ReI. Min.
julgador, em se tratando de direitos Thompson Flores, RTJ 53/600; RE
patrimoniais, se expressamente in- 53.173, 1~ Turma, ReI. Min. Qsvaldo
vocada pela parte a quem aproveita, Trigueiro, RTJ 41/273; RE 73.070,1':'-
como aqui ocorreu (Código Civil, Turma, ReI. Min. Aliomar Baleeiro,
art. 162), pelas pessoas jurídicas in «Jurisprudência Brasileira .. , v. 4
(C.C. art. 163), réus e apeladas. - «Prescrição», pág 82 e segs., ed.
Juruá, dentre muitos outros). Enten-
Com efeito, quer se tenha por nu- de o Pretório Excelso que o prazo,
los os atos jurídicos da primitiva es- em tais casos, é o do art. 177 do
critura atacada e da que se lhe se- Código Civil.
guiu, em 1936, por ilicitude do objeto O protesto somente foi ajuizado
(Código Civil, art. 145, II, c.c. art. 82 em 1975, e, assim mesmo, apenas
do mesmo diploma), hipótese em contra a Firma Azevedo, Farias &
que incidiria o prazo de vinte anos, Cia. Ltda. referindo-se, é claro, so-
prescrição das ações pessoais (C.C., mente às transações por esta efetua-
art. 177); quer se tenha por simples- das. Mas não interrompeu a prescri-
mente anuláveis, por vício resultante çâo, que se deve contar da lavratura
de dolo ou fraude, segundo descrição das escrituras primitivas, a última
da inicial (C.C. art. 147, II), quando das quais data de I'? de junho de
a prescrição seria de quatro anos, de 1936, segundO a própria inicial (fi. 4,
conformidade com disposto no art. item 4?). Assim, desde 1956 j á incidi-
178, § 9? V. letra b, não há negar a ra a prescrição extintiva da preten-
incidência do instituto da prescrição são de anular a escritura, ou retifi-
das ações de r_etificar registro. imobi- car a respectiva transcrição imobi-
liário ou reivindicar o imóvel. liária.
Pois não se poderia apreciar a nu- Ora, «o registro, enquanto não
lidade das transcrições, sem exami- cancelado, produz todos os seus efei-
nar o título causal - a chamada nu- tos legais ainda que, por outra ma-
lidade oblíqua; nem se pOderia anu- neira, se prove que o título está des-
lar transcrição derivada, sem, antes, feito, anulado, extinto ou rescindido»
decretar-se a nulidade da transcrição (Lei n? 6.015/73, art. 252; Direito an-
originária. terior: Dec. n? 4.857/39, art. 293).
E os títulos causais, cuja não- Salienta Walter Ceneviva:
correspondência com a realidade é «667. Eficácia plena do registro
aqui apontada, sem sombra de dúvi- enquanto não cancelado. E de
da, descansam no tempo: o primeiro, longa tradição no direito brasilei-
em priscas eras e o segundo, em ro o prinCípio segundo o qual
1936. subsiste o registro enquanto não
A prescrição, que se iniciou desde for cancelado. Há mais dê cem
aqueles indigitados atos, continuou a anos integra o ordenamento
102 TFR - 71

jurídico nacional. No Código Ci- 3) não poderia retificar, nem rei-


vil, foi retratado pelo art. 676, vindicar, quer isolada, quer cumula-
quanto à aquisição. Quanto à ex- tivamente, pela prescrição das ações
tinção encontra-se em diversos repectivas, mesmo no prazo vintená-
dispostivós». «(Lei dos Registros rio, como está patente nos autos.
PÚbliços Comentada», Saraiva, «A prescrição - diz Bevilaqua - é
1979, pág. 536). uma regra de ordem, de harmonia e
de paz, imposta pela necessidade da
Em conclusão: certeza das relações jurícas» (<<Códi-
go Civil», vol. I, pág. 459, 1951).
1) não poderia a autora, ora ape- Acolho a alegação de prescrição,
lante, pretender «retificar» (fls. 2 e feita pelas partes a quem ela apro-
10) o registro imobiliário porque o veita, inclusive a argüida nesta as-
indigitado proprietário aparente já sentada de julgamento pelo douto
alienou, há muitos anos, sua proprie- patrono da Caixa Econômica Fede-
dad,.e, operando-se, depois disto, ral.
transcrições sucessivas; Por essas considerações, nego pro-
2) não poderia reivindicar o imó- vimento à apelação e declaro extinto
vel porque, mesmo se fosse a pro- o processo, nos, termos do art. 269,
prietária real, não disporia de ação inciso IV, do Código de Processo Ci-
reivindicatória contra terceiros ad- vil.
qUirentes de boa-fé; e, finalmente, É o meu voto.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL N? 54.491 - DF

Relator: O Sr. Ministro Justin'l Ribeiro


Embargantes: União .Fedeeral e CIPLAN - Indústria e Comércio de Produ-
tos Calcáreos Ltda.
Embargado: V. Acórdão de fls. 218
EMENTA
Processual. Embargos Declaratórios opostos em
atendimento à exigência das Súmulas 282 e 356.
Não conhecimento dos opostos pela parte vence-
dora, por isto sem legitimação para o recurso ex-
traordinário. Conhecimento daquele da parte legiti-
mada a esse recurso, mas sua rejeição quanto ao
mérito, por infundados. Não invade a competência
do Executivo o acórdão que, reconhecendo o direito
de prioridade de certa empresa à obtenção de lavra
de minério concedida a outra, condena a União a pa-
gar perdas e danos à preterida.
ACÚRDÃO dade, não conhecer dos embargos da
CIPLAN - Indústria e Comércio de
Vistos e relatados os autos em que Produtos Calcáreps Ltda e rejeitar
são partes as acima indicadas: os embargos da União Federal, na
Decide a Segunda Turma do Tribu- forma do relatório e notas taquigrá-
nal Federal de Recursos, à unanimi- ficas constantes dos autos, que ficam
TFR - 71 103

fazendo parte integrante do presente 4. Ora, pleiteava-se na inicial a


julgado. insubslstência do edital 005/75 e a
Custas como de lei. condenação da União Federal em
perdas e danos. Mas o próprio
Brasília, 28 de março de 1980. - Venerando Acórdão reconhece
(Data do julgamento) - Ministro que:
Moacir Catunda, Presidente - Mi-
«... o Código de Mineração
nistro Justino Ribeiro, Relator. (Decreto-Lei 227/67), embora
adotando, para a exploração
RELATORIO desse serviço, as mesmas exi-
gências de ordem geral das leis
o Sr. Ministro Justino Ribeiro: Ao do gênero, não estabeleceu, pa-
venerando acórdão desta Turma, ra ela, a obrigatoriedade da
exarado a fls. 218, e de que fui rela-'· concorrência pública, como fez,
tor, opõem embargos de declaração por exemplo, o Código Brasilei-
a União Federal (fls. 2221224) e CI- ro de Telecomunicações (Lei
PLAN - Indústria e Comércio de 4.117/62). Em verdade, já de-
Produtos Calcáreos Ltda. (fls. corridos mais de dez (lO) anos
226/233). da nova configuração que lhe
deu a Constituição de 67, esse
2. A primeira embargante, justifi- serviço de tamanha magnitude
cando seu pedid6 com a necessidade ainda continua entregue a alta
de atender à exigência das Súmulas dose de discricionariedade,
282 e 356 do Pretório Excelso, pre- quase arbítrio, do Ministério de
tende prequestionar dois pontos a se- Minas e Energia». (fls. 210)
rem levados àquele Pretório através 5. Reconhecida a discriciona-
de recurso extraordinário já inter- riedade do ato, que não é vincu-
posto, e que consistiriam em: a) ha- lado, descabe a correção do judi-
ver o acórdão embargado concedido ciário, aplicando-se o art. 6~ da
lavra de minério à autora da deman- Constituição Federal.
da, molestando destarte o princípio
constitucional de independência dos 6. Ademais, a ação foi proposta
Poderes, pOis a providência é de contra a CIPLAN e aceita por es-
competência do Poder Executivo; e ta, ocorrendo julgamento cUra
b) o decisório embargado conteria petita ou extra petita, da apela-
julgamento citra vel extra petita, ção, que excluiu, ex officio, a pri-
porque a ação fora proposta contra. a meira ré.» (Fls. 223).
embargante e CIPLAN - Indústria Estes os embargos da União.
e Comércio de Produtos Calcáreos
Ltda., e aceita por esta, mas no jul- 3. Os da CIPLAN, bem mais lon-
gamento embargado esta foi ex- gos, são também justificados com a
cluída. necessidade de aclarar o que a em-
bargante entende por equívocos e
Vou transcrever do petitório, para contradições do acórdão em matéria
que a idéia não resulte prejudicada de fato, que, verbls:
pela imperfeição do resumo:
«... não poderia ser reaprecia-
«3. Ora, sendo as concessões ou da na instância extraordinária,
autorizações federais atos admi- que a embargante preteI}.de ain-
nistrativos federais cuja compe- da instaurar ... » (Fls. 227).
tência é deferida ao órgão pró- O equívoco estaria em se haver
prio, houve invasão de competên- julgado que o requerimento de lavra
cia ao sobrepor-se o judiciário. de minério, feito pela autora na esfe-
104 TFR - 71

ra administrativa, teria sido feito na gir a inexatidão, ou a sanar a


qualidade de terceiro interessado, obscuridade, omissão ou contra-
quando a própria autora, com os pa- dição, salvo se algum outro as-
péis que juntara a tal requerimento, pecto da causa tiver de ser apre-
teria demonstrado que o fazia na ciado como conseqüência neces-
qualidade de sucessora do autor da sária" .
pesquisa, cujo direito, no entanto,
caducara. A contradição resultaria 18. Em suma, espera a embar-
de·o acórdão, «ao estabelecer suas gante o conhecimento e recebi-
bases doutrinárias» (palavras da mento destes embargos, a fim de
EmbaJ,"gante), haver lamentado que que, declarado o v. acórdão em-
tais concessões não estivessem sujei- bargado e supridas as omissões
tas à concorrência pública e, no en- apontadas, se venha a negar pro-
tanto, contraditoriamente, haver vimento à apelação e a manter a
concluído pela invalidade do regula- r. sentença de 1? grau, que julgou
mento que, preenchendo lacuna da a ação improcedente.» (Fls.
lei, criou um edital para declarar a 232/233).
caducidade da pesquisa e a disponi- E o relatório.
bilidade da jazida (fls. 226/230).

Esses embargos falam ainda em VOTO PRELIMINAR


omissões, quebra do princípio de iso-
nomia etc. (fls. 231 e seguintes), e O Sr. Ministro Justino Ribeiro (Re-
terminam com a seguinte conclusão lator): Invertendo por questão de
e pedido: método a ordem de apresentação dos
recursos, peço permissão à egrégia
«17. Diante da longa exposição Turma para apreciar, em primeiro
acima se verifica que os presen- lugar, os embargos da CIPLAN.
tes embargos de declaração são
de inegável cabimento, a fim de E o faço para, preliminarmente,
ser o julgado declarado quanto a deles não conhecer, por manifesta-
todos os pontos aludidos nesta pe- mente incabíveis, data venia.
tição, valendo salientar que nada
impede que a Eg. Turma, reco- 2. Com efeito, conforme se vê a 216
nhecendo a procedência da argu- e 218, o venerando acórdão embarga-
mentação da embargante, refor- do tem por fundamento e conteúdo o
me as próprias conclusões do v. voto que proferi como relator e ao
acórdão embargado. Se, quanto à qual, para honra minha, aderiram
obscuridade e à contradição sem qualquer observação, os eminen-
apontadas alguma restrição dou- tes Ministros William Patterson e
trinária pudesse ser oposta a es- Moacir Catunda,
se pedido, nenhuma se legitima-
ria no que concerne. às .questões Então, o julgado tem o seguinte
omitidas, porque, nesse pArticu- decisum, que está na conclusão do
lar, domina o critério da possibh citado voto:
lidade de novo julgamento, que
j á consta do próprio Regimento «11. Isto posto, e desprezando
do S.T.F., cujo art. 317, consa- todas as alegações de ordem mo-
grando' princípio juridico- ral em que se perderam as par-
processual geral, estabelece: "se tes, inclusive as acusações da au-
os embargos forem recebidos, a tora à 1': apelada, CIPLAN - In-
nova decisão se limitará a corri- dústria e Comércio de Produtos
TFR - 71 105

Calcáreos Ltda., que não chega- \ZOTO MÉRITO


ram a ser provadas devido à
aplicação, pelo Juiz, do art. 330, O Sr. Ministro Justino Ribeiro (Re-
I, acusações que tenho por desne- lator): Passando ao exame dos em-
cessárias à solução do caso, pois bargos da União, deles conheço tão-
toda a resQonsabilidade pelos atos só pela necessidade, que ela bem
do D.N.P.M. cabe à União (art. justifica, de satisfazer à exigência
107 da Constituição Federal), dou das Súmulas 282 e 356, pois em ver-
provimento ao apelo para julgar dade ela não aponta qualquer omis-
procedente a ação e condenar a são do pcórdão. Há, unicamente, o
União Federal na forma do pedi- que a embargante julga ser contra-
do. riedade ao direito, o que, dentro do
natural inconformismo de quem per-
Julgo-a improcedente no tocan- de uma demanda, é sempre possível
te à CIPLAN, que, simples pre- argüir-se contra qualquer decisão.
tendente à lavra como a autora, 2. Deles assim conhecendo para
se tiver agido de modo ilícito res- que se não fechem ao apelo extremo
ponderá regressivamente peran- da embargante as portas do pre-
te a União, juntamente com ou- questionamento, rejeito-os, porém,
tros eventuais culpados, e não no mérito.
perante a autora. Pela sucum-
bência, responderá a União pe- Quanto ao primeiro fundamento,
rante a autora e esta perante a porque o 9-córdão não invadiu, como
CIPLAN, mantida a taxa de ho- supõe a embargante, a competência
norários fixada na sentença». do Executivo.
(Fls. 214/215).
É certo que a conclusão do acór-
3. Julgada improcedente a ação dão, há pouco lida a respeito dos em-
contra a embargante, como se acaba bargos da Ciplan, foi no sentido de
de ver, não tem ela qualquer legiti- julgar procedente a ação contra ela
midade para o recurso extraordiná- na forma do pedido. Mas este, só
rio que diz estar decidida a formu- contém o seguinte, verbls:
lar. Logo, também não tem legitimi-
dade para esses embargos declarató- « ... requer a autora seja julga-
rios, que quer justificar com aquele da procedente a ação, para
recurso, e que em verdade nada bus-
cam declarar e, sim, como se viu a) declarar insubsistente,
por sua conclusão e pedido transcri- tendo em vista os fins pretendi-
tos no relatório, apenas polemizar, dos, o Edital n? 005/75, do De-
já que pede a improcedência de uma partamento Nacional de Produ-
ação que assim foi julgada em rela- ção Mineral, publicado no
ção à embargante. Diário Oficial da União de 13 de
fevereiro de 1975, Seção I, Par-
Preliminarmente, pois, não conhe- te I, página 1.840, com o conse-
ço desses embargos. E se o fizesse qüente reconhecimento do di-
seria para rejeitá-los no mérito, eis reito de prioridade assegurado
que, admitido que a embargante ti- ao pedido de concessãQ de la-
vesse razão no que alega, eles esta- vra - protocolado pela MAP -
riam infringindo o acórdão, o que Mineração Agro Pecuária
não é próprio dessa espécie de recur- Ltda., em 2 de maio de 1974 -
so. por força do disposto na letra a
106 TFR - 71

do art. 11 do Código de Minera- flexa do ato assim baixado) ou de


ção; e/ou haver o mesmo benefício, se o pró-
b) condenar as rés, solidaria- prio Executivo entender de corrigir-
mente, ao ressarcimento dos se, ou de haver indenização patrimo-
danos causados à autora -- a nial equivalente.
serem apurados em liqüidação
de sentença e cujo valor deverá Aliás, essa é a conseqüência, em
ser reajustado monetariamente técnica processual, de todas as de-
de acordo c;om os índices apli- mandas cíveis. A sentença não tem
cáveis às Obrigaçôes Reajustá- por escopo obrigar o condenando à
veis do Tesouro Nacional -- por mesma prestação que inadimpliú,
terem ambas procedido de mo- como se alguém que tinha a obriga-
do contrário ao direito, faltando ção de construir o muro devesse pe-
a União (DNPM), ainda, a de- gar das ferramentas e erguê-lo, mas
ver prescrito por lei, de acordo visa a recompor o patrimônio do cre-
com o disposto no art. 107 da dor com efeito equivalente, que pode
Constituição Federal, c.c. arts. ser, inclusive, a construção do muro
15, 159 e 1.518 do Código Civil; à custa do vencido. Desnecessário
dizer que ao réu sempre fica a alter-
c) condenar as rés, em conse- nativa de fazer, ele mesmo, o muro.
qüência, ao pagamento não só
das custas d,os atos proces- Ora, o acórdão não concedeu à au-
suais, como ta'Inbém da remu- tora a lavra, reconheceu-lhe o direito
neração de peritos, assistentes de prioridade e conder.::;ü a União a
técnicos e de honorários de ad- indenizá-la dos prejuízos advindos da
vogado». (Fls. 13/14) preterição. Claro que a própria
União, se o quiser e assim se compu-
Como se vê, há uma parte declara- ser com a outra empresa beneficiá-
tória, onde, acolhido o pedido, se re- ria do ato julgado ilegal, pode rever-
conhece a ineficácia de um edital e o ter em favor da autora a lavra, as-
direito de prioridade da autora para sim ,compensando parte desses pre-
obtenção da lavra; e outra condena- juízos. Mas o que resulta do acórdão,
tória, onde, como conseqüência de o segundo a técnica jurídica, é a inde-
Executivo haver desrespeitado essa nização. Pelo acórdão, o Judiciário
prioridade e concedido a lavra a ou- não se substitui ao Executivo, não
tra empresa, isto é, a outra ré, ficou lhe invade a competência.
a União, embargante, condenada a
ressarcir a autora por perdas e da- 3.Quanto ao outro fundamento dos
nos. embargos, igualmente não procede.
O acórdão não exclui da demanda a
Em direito, chama-se a isto efic,á- outra ré, apenas a absolveu, o que é
cia reflexa do ato preteridor de di- coisa bem distinta. Mas, em verda-
reito (vejam-se obras do já saudoso de, à União falta inclusive legitimi-
Pontes de Miranda). A lei confere dade para discutir a questão, pois
prioridade a um indivíduo, mas o não lhe assiste direito de exigir a
Executivo, que apenas tem de discri- condenação de sua litisconsorte. :€
cionário poder de julgar da conve- evidente que pela não cOndenação de
niência e oportunidade de expedir o uma das rés somente a autora pode-
ato, podendo, portanto, deixar de ria ter inconformismo. Pelo menos
fazê-Io, expede-o, no entanto, a favor no sentido do interesse processual de
de outro indivíduo. Então, nasce o recorrer, da pretensão recursal. A
direito do preterido (por eficácia re- União, que também é ré e foi conde-
TFR - 71 107

nada, devia era bendizer e glorificar - Indústria e Comércio de Produtos


o resultado alcançado por sua con- Calcários Ltda. Embgdo.: Venerando
sOl:te e sair pelejando para obter o Acórdão de fls. 218.
mesmo resultado. Não, pretender Decisão: Não se conheceu dos em-
modificá-lo. bargos da CIPLAN - Indústria e Co-
4. Com essas considerações, rejei- mércio de Produtos Calcários Ltda.
to os embargos da União. e rejeitou-se os embargos da União
Federal. Decisão unânime. (Em
EXTRATO DA ATA 28.3.80 - 2~ Turma).
Os Srs. Mins. William Patterson e
AC n? 54.491-DF - (EDecl.) Moacir Catunda - votaram com o
ReI.: Sr .. Min. Justino Ribeiro. Relator. Presidiu o julgamento o Ex-
Embgte.: União Federal e CIPLAN mo. Sr. Min. Moacir Catunda.
APELAÇAO CtVEL N? 56.931 - SP
Relator: O Senhor Ministro Aldir G. Passarinho
Apelante: Maria de Jesus Baptista
Apelado: lAPAS
EMENTA
Previdência Social.
Pensão Especial. Insalubridade.
A gratificação de insalubridade e a pensão espe-
cial por exercício em atividades insalubres não têm
a mesma sede legislativa, e não se identificam os
seus pressupostos, sendo mais restrito o critério pa-
ra concessão da última. A primeira, paga pelo em-
pregador, é atribuída nas hipóteses previstas por ato
ministerial, segundo dispõe o Decreto-Lei n? 389-68.
A segunda, paga pelo INPS, é conferida a categoria
específica, ..segundo decreto do Poder Executivo, pe-
lo que até a natureza e hierarquia dos atos adminis-
tativos que disciplinam a gratificação e a pensão são
diversas.
ACORDA0 Brasília, 19 de março de 1980 (Da-
ta do julgamento) - Ministro Aldir
Vistos e relatados os autos em que G. Passarinho, Presidente e Relator.
são partes as acima indicadas:
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- RELATORIO
deral de Recursos, por unanimidade,
negar provimento à apelação, na for-
ma do relatório e notas taquigráficas O Sr. Ministro Aldir G. Passarinho
constantes dos autos que ficam fa- (Relator): Trata-se de ação ordiná-
zendo parte integrante do presente ria sob procedimento sumaríssimo,
julgado. proposta por Maria de Jesus Baptis-
ta contra' o Instituto Nacional de
Custas como de lei. Previdência Social, Objetivando a
108 TFR - 71

sua aposentadoria especial por ter contribuições mensais, tenha traba-


exercido trabalhos penosos no Servi- lhado durante quinze, vinte ou vinte
ço Social da Indústria (SESI). e cinco anos, pelo menos, éonforme
Alega a autora' que, no dia 2 de j a- a atividade profissional, em serviços
neiro de 1951, foi admitida como ser- que para esse efeito sejam conside-
vente do Serviço Social da Indústria rados penosos, insalubres ou perigo-
(SESI), Departamento Regional de sos, artigo 38 da Consolidação das
São Paulo, junto ao ambulatório Leis da Previdência Social (Decreto
médico- hospitalar e dentário na ci- 77.077/76). Registra que a atividade
dade de Araraquara. Adianta que a exercida pela autora no período que
sua atividade funcional fOI comuni- menciona não está incluída no elenco
cada pelo empregador à autarquia, d~s reconhecidas como insalubres,
pois sempre estivera em coritato nao se encontrando classificada nos
permanente, contínuo e obrigatófio quadros anexos ao Decreto n? 72.771,
com doentes, materiais infecto- de 6-9-73, que regulamenta a norma
contagiantes e germes infecciosos ou mencionada na classificação elabo-
parasitários humanos, tendo em vis- rada pelO Poder Executivo. Outros-
ta o atendimento que faz aos que ne- sim, que o fato de a autora perceber o
cessitam de assistência médico- adicional de insalubridade é irrele-
hospitalar e dentária e aos serviços vante, pOis o quadro que regula a es-
de curativos, limpeza de vasilhames pécie, segundo a Portaria Ministe-
ambulatoriais, latões de lixo, haven- rial 491/65, dispõe sobre as opera-
do, ainda, no local de trabalho, apa- ções consideradas insalubres para
relho dentário com turbinas de alta fins de recebimento de adicional,
rotação e aparelho de Raios X, sujei- não importando eventual enquadra-
tando o pessoal que ali trabalha a mento nesta classificação em direito
mais uma eventual contaminação. à obtenção de aposentadoria espe-
Acrescenta que em razão do contato cial.
diário com esses elementos, percebe O MM. Juiz de Direito da Comarca
o adicional de insalubridade a que se de Araraquara veio a julgar impro-
refere a Portaria n? MTPS/491 de 16-
9-65 (Quadro VII e Quadro VIII) es- cedente o pedido, à consideração de
tando, portanto, a atividade exercida que· a atividade exercida pela autora
entre aquelas que dão direito à apo- não se encontra nas tabelas anexas
sentadoria especial. Não constitui o ao Decreto 72.771/73.
adicional percebido mera liberalida-
de do empregador, mas sim obriga- Inconformada, apelou a autora ite-
ção legal face aos riscos à saúde, rando nos argumentos j á exterioriza-
causados pela atividade profissional dos. Contra-razões pela manutenção
exercida. Anota que a autarquia da sentença.
sempre exigiu e descontou contribui-
ções de previdência social sobre o Ouvida, a douta Subprocuradoria-
adicional de insalubridade percebidO Geral da República manifestou-se pe-
pela autora, conforme faz prova com las conclusões do recurso da autar-
a documentação que junta. quia a qual assiste.
É o relatório.
Em sua contestação, argumenta a
autarquia que a pretensão da autora VOTO
não pode ser acolhida por falta de
amparo legal, pois a aposentadoria O Sr. Ministro Aldir G. Passarinho
especial será devida ao segurado (Relator): Observa a inicial que o
que, contando no mínimo sessenta INPS sempre exigiu e descontou
TFR - 71 109

contribuições de previdência social dade, posto que as contribuições inci-


sobre o adicional de insalubridade dem cómo regra· geral sobre o
percebido pela autora, pelo que não salário-base e mais as gratificações
poderia agora negar-lhe a aposenta- pagas pelO empregador, conforme
doria especial sob o fundamento de resulta do art. 128 inciso I e letra a
não exercer ela atividades insalu- inciso VI, da CLPS. Em conseqÜên-
bres. cia dessa contribuição sobre o valor
O MM. Juiz declara que a autora básico e das gratificações, o segura-
lida nesse tipo de serviço com mate- do ou seus dependentes recebem o
rial capaz de contagiar e infectar, benefício sobre valores mais altos,
mas a aposentadoria especial previs- pois é ele calculado em face do salá-
ta no art. 71 do Decreto 72.771/73 de- rio de contribuição, sem que Isto
veria ser incluída relativamente aos possa implicar, contudo, obrigatorie-
grupos profissionais, segundo os dade de pensão especial.
agentes nocivos. Com respeito aos
agentes classificados como provoca- O art. 9? da Lei n? 5.890 diz, ex-
dores de doenças e materiais infecto- pressamente, que a aposentadoria
contagiantes, correspondentes ao especial será concedida àqueles que
item 1.3.4., a tabela só cogitava de tenham trabalhado pelos períOdOS ali
técnicos de laboratório, dentistas e fixados, dependendo da atividade
enfermeiros, e a autora era auxiliar, profissional, em serviços que para
servente de gabinete dentário, ativi- esse efeito forem considerados peno-
dade que não era cogitada na tabela. sos, insalubres ou perigosos, por de-
No referente ao argumento segundo creto do Poder Executivo. Como se
o qual já percebia o adicional de in- sabe, o Decreto-Lei n? 389/68 estipula
salubridade, por vários anos, pelo que as atividades consideradas insa-
que fazia jus à aposentadoria espe- lubres para fins da percepção do adi-
cial, lembrava que a contribuição cional respectivo são classificadas
previdenciária participava da natu- em tabela aprovada pelo então Mi-
reza jurídica dos tributos em geral, nistro do Trabalho e Previdência So-
regendo-se, deste modo, pelo cial, conforme o art. 2? do referido
princípio da legalidade; e se os reco- diploma legal, em face do que se
lhimentos efetuados ao Instituto ti- tem, não só pela sua natureza, mas
vessem sido em quantia superior à até em face da autoridade do poder
realmente devida, geraria isto um competente para definir a insalubri-
direito à repetição, mas não à "per- dade, a distinção entre os dois
cepção do benefício. Assim, como a princípios que regem a matéria, co-
obrigação para fiscal é ex lege, tam- mo já focalizado: um, para paga-
bém o direito à percepção do be- mento de adicional que se constitui
nefício só existia em relação a situa- em obrigação do empregador, e para
ções estritamente previstas na lei. cUja concessão, inclusive, não parti-
Na verdade, há que se distinguir a cipa _o Instituto; e a outra,' para per-
percepção do adicional de insalubri- cepçao da aposentadoria' espeCial,
dade da aposentadoria especial, pos- cujas especificações apenas pOdem
suindo cada uma disciplina própria, ser consignadas em decreto pelo Po-
até porque o adicional é pago pelo der Executivo, sendo, portanto, até
empregador enquanto que a aposen- mesmo de hierarqui.a diferente os
tadoria é paga pelos cofres da autar- dois atos.
quia previdenciária. Não traz apoio
à pretensão ajuizada a alegação de Pelo exposto, nego provimento à
que as contribUições incidem tam- apelação. Mantenho a sentença.
bém sobre o adicional de insalubri- É o meu voto.
110 TFR - 71

REMESSA EX OFFICIO N? 57.052 - SP


Relator: O Sr. Ministro Wilson Gonçalves
Remetente Ex Officio: Juiz de Direito da 3? Vara da Co-
marca de Ribeirão Preto
Partes: DIMAG - Produtos Farmacêuticos Ltda. e Con-
selho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo
CRF
EMENTA
Execução Fiscal. Embargos. Sua procedência.
Remessa Ex Officio.
As firmas atacadistas e comerciantes atacadis-
tas de produtos farmacêuticos não estão obrigados a
manter farmacêuticos responsáveis, pois não aviam
receitas, nem manipulam em laboratórios.
A contribuição é devida apenas pelos estabeleci-
mentos que exploram serviços para os quais é neces-
sário o serviço de farmacêutico. Lei n. o 3.820/60, art.
22; Lei n. o 5.991/73, art. 15; Decreto n. o 74.170/74, art.
16, inciso III.
Confirmação da sentença de primeiro grau.
ACORDA0 tes embargos à execução que lhe
move o Conselho Regional de
Vistos, relatados e discutidos estes Farmácia do Estado de São Pau-
autos em que são partes as acima in- lo, alegando, em resumo, que a
dicadas: divida não poderia ter sido ins-
Decide a Primeira Turma do Tri- crita na ocasião em que o foi;
bunal Federal de Recursos, prelimi- que os comerciantes atacadistas
narmente, conhecer da remessa des- não estão obrigados a ter farma-
de que o processo encerra execução cêuticos responsáveis, pois não
fiscal. No mérito, confirmar a sen- manipulam remédios ou aviam
tença, unanimemente, na forma do receitas.
relatório e notas taquigráficas prece- «Regularmente intimada, a em·
dentes que ficam fazendo parte inte- bargada não impugnou os embar-
grante do presente julgado. gos.
Custas como de lei. E o relatório. Decido.
Brasília, em 9 de novembro de Não impugnando os embargos,
1979 - Peçanha Martins, Presidente a embargada é revel.
- Wilson Gonçalves, Relator.
A revelia permite o julgamento
RELATORIO antecipado da lide.
A questão discutida é apenas
O Sr. Ministro Wilson Gonçalves: de direito e não necessita de
O presente feito foi assim relatado e mais provas.
decidido pelo MM. Julgador a quo: A embargada não feriu o
«DIMAG - Produtos Farma- princípio da anualidade previsto
cêuticos Ltda .. ajuizou os presen- no art. 104 do Código Tributário
TFR - 71 lU

Nacional. Assim, rejeito a preli- Preliminarmente, conheço da re-


minar. messa, nos termos do art. 475, lU, do
No mérito, os embargos são Código de Processo Civil.
procedentes. Quanto ao mérito, e segundo sa-
As firmas atacadistas e comer- lientei no relatório, o digno magis-
ciantes atacadistas de produtos trado a quo julgou procedentes os
farmacêuticos não estão obriga- embargos, apoiado nas seguintes
dos a manter farmacêuticos res- considerações, com as quais estou de
ponsáveis, pois não aviam r.ecei- pleno acordo:
tas ou manipulam produtos em «As firmas atacadistas e co-
laboratórios. merciantes atacadistas de prOdu-
A contribuição é devida apenas tos farmacêuticos não estão obri-
pelos estabelecimentos que ex- gados a manter farmacêuticos
ploram serviços para os quais é responsáveis, pois não aviam re-
necessário o serviço de farma- ceitas ou manipulam em labora-
cêutico. tórios.
Assim, os embargos são proce- A contribuição é devida apenas
dentes. pelOS estabelecimentos que ex-
ploram serviços para os quais é
Isto posto, e pelo que mais dos necessário o serviço de farma-
autos consta, julgo procedente os cêutico}) (fls. 10).
embargos e insubsistente a pe-
nhora, condenando a embargada Esta é a legítima inteligência que
ao pagamento das custas proces- se pode dar ao parágrafo único do
suais e honorários advocatícios art. 22 da Lei n? 3.820, de 11 de no-
que fixo em 15%, calculados so- vembro de 1960, em que se arrimou
bre o valor do imposto. o embargado para intentar a execu-
Recorro de ofício ao E. Tribu- ção. É que só estão obrigados à con-
nal». tribuição anual «as empresas e esta-
belecimentos que exploram serviços
A ausência de recurso voluntário, para os quais são necessárias ativi-
os autos subiram, tão-só, por força dades de profissional farmacêutico».
da remessa ex officio.
Mas se isto não bastasse, sobre-
A douta Subprocuradoria-Geral da veio a Lei n? 5.991, de 17 de dezem-
República opinou pela procedência bro de 1973 que, no seu art. 15, torna
da execução, por entender legítima a obrigatória a assistência de técnico-
pretensão do Conselho exeqüente. responsável apenas para as farmá-
É o relatório. cias e drogarias. Veja-se, igualmen-
te, o art. 16, inciso lU, do Decreto n?
VOTO 74.170, de 10 de junho de 1974, que re-
gulamentou a citada Lei n? 5.991-
O Sr. Ministro Wilson Gonçalves: Na espéCie, a embargante é ataca-
A execução fiscal, à qual se oferece- dista de produtos farmacêuticos.
ram os presentes embargos, foi pro- Ante o exposto, confirmo a decisão
posta pelO Conselho Regional de Far- remetida.
mácia do Estado de São Paulo -
CRF-8, autarquia federal criada pela EXTRATO DA ATA
Lei n? 3.820, de 11 de novembro de
1960. REO 57.052-SP - ReI.: Sr. Min.
No caso, trata-se de uma autar- Wilson Gonçalves. Remte.: Juiz de
quia federal. Direito da 3~ Vara Cível da Comarca
112 TFR - 71

de Ribeirão Preto. Partes: DIMAG mérito, confirmou-se a senter'.;'!'I,


- Produtos Farmacêuticos Ltda. e unanimemente. (Em 9.11.79 - 1':
Conselho Regional de Farmácia do Turma).
Estado de São Paulo. Os Srs. Ministros Peçanha Martins
Decisão: Preliminarmente, e Washington Bolívar votaram com
conheceu-se da remessa desde que o o Relator. Presidiu o julgamento o
processo encerra execução fiscal. No Sr. Ministro Peçanha Martins.

APELAÇAO ClVEL N.o 57.667 - SP


Relator: O Sr. Ministro Armando Rolemberg
Remetente Ex Officio: Juiz de Direito da Vara Privativa dos Feitos da Fa-
zenda Pública e de Acidentes do Trabalho da Comarca de Santos.
Apelante: Instituto Nacional de Previdência Social
Apelado: Silvestre Camargo
EMENTA
Previdência Social - Relação de emprego entre
marido e mulher. Com sua existência não se compa-
decem os vínculos e Obrigações decorrentes do ca-
samento, como estabelecido no Código Civil - Re-
forma de sentença que julgou procedente ação pro-
posta por segurado pleiteando benefício do INPS.
ACORDA0 «Silvestre Camargo aciona o
INPS para haver condenação em
Vistos e relatados os autos em que auxílio-doença e prestação de as-
são partes as acima indicadas: sistência médica (com mais
Decide a 3': Turma do Tribunal Fe- reembolso das quantias que gas-
deral de Recursos à unanimidade, tou com médicos e hospitais), tu-
dar provimento à apelação para re- do com correção monetária.
formar a sentença e julgar a ação Alegações: é segurado desde
improcedente, na forma do relatório 1944; de 1966 a 1969 trabalhou por
e notas taquigráficas constantes dos contra própria (recolhendo con-
autos que ficam fazendo parte inte- tribUições); em janeiro de 1970
grante do presente julgado. sofreu acidente e afastou-se até
Custas como de lei. junho; recebeu alta, mas só con-
seguiu emprego junto à própria
Brasília, 5 de maio de 1980. (Data esposa (em mercearia), assim
do julgamento). - Ministro trabalhando de 1-2-71 a 28-2-75 (e
Armando Rolemberg, Presidente e contribuindo); não houve extin-
Relator. ção da sua situação jurídica de
segurado.
RELATORIO
Contestação: o períOdO de 1-2-71
O Sr. Ministro Armando até 28-2-75 não tem eficácia
Rolemberg (Relator: A matéria jurídica quanto a direitos previ-
discutida nos autos foi sumariada no denciários. Portanto, para obter
relatório da sentença pela forma se- novos direitos, é preciso novo
guinte: prazo de carência.
TFR - 71 113

Ocorrências: saneador irrecor- mento com a de prestação de


rido, debates em audiência, con- serviços, por um cônjuge ao ou-
versão em diligência, peças do tro, sob a direção deste ou me-
procedimento administrativo diante salãrio (art. 3~ da CLT).
(em xerox). Manifestaram-se.» Se a mulher, na forma do pre-
Seguiram-se decisão pela proce- visto no art. 246 do Código Civil
dência da ação, onde o MM. Juiz quando exerce profissão lucrati-
sustentou não haver obstãculo legal va distinta da do marido pode
pelo fato de o marido ser empregado praticar os atos necessãrios à
da esposa, apelação do INPS e pare- sua defesa, admitindo-se a possi-
cer da Subprocuradoria. bilidade de ser ele empregador
E o relatório. .da esposa. como se aplicaria a
disposição referida na hipótese
VOTO de lhe serem negados direitos
conseqüentes de contrato de tra-
O Sr. Ministro Armando balho? Acionaria a quem? Ao
Rolemberg (Relator): Quando do jul- marido? Se o fizesse, no caso dos
gamento da Apelação Cível 47.558 autos, quando o regime de casa-
pronunciei voto no qual afirmei: mento é o de comunhão de bens,
«O casamento, como estabele- estaria buscando reparação de si
cido no Código Civil, cria víncu- própria, pois o patrimônio do ca-
los e obrigações entre os cõnju- sal é uno».
ges que não se compadecem com Continuo tendo como exatas as
a existência de relação de em- considerações tecidas no voto li-
prego entre um e outro. Ao mari- do, tanto mais aplicãveis ao caso
do cabe prover à manutenção da dos autos quanto, neste, é o mari-
família (art. 233, inciso IV), so- do que figura como empregado
mente cessando a sua obrigação da esposa, contrariando, por in-
de sustentar a mulher, se esta teiro, o princípio da lei civil pelo
abandonar, sem justo motivo, a qual lhe compete à manutenção
habitação conjugal (art. 234). da família.

Dou provimento à apelação pa-


Ora, se o marido deve o susten- ra reformar a sentença e julgar
to à mulher, que é sua colabora- a ação improcedente, condenan-
dora nos encargos de família, do o autor nas custas e em hono-
(art. 240), como conciliar essas rãrios de advogado de 10% sobre
obrigações conseqüentes do casa- o valor da causa.

APELAÇÃO ClVEL N~ 57.837 - MG


Relator: O Sr. Ministro Otto Rocha
Remetente: Juiz Federal da 3~ Vara
Apelante: Estado de Minas Gerais
Apelados: 3 J. Comercial Ltda. e outro

EMENTA
Conselho Regional de Farmácia - Responsabili-
dade Técnica - Acumulação.
114 TFR - 71

A Lei n? 5.991, de 1973, conceituou diferentemen-


te farmácia e drograria, e o Decreto n? 74.170, de
1974, que a regulamentou, vedou ao farmacêutico a
direção técnica de duas farmácias comerciais.
A licença para o exercício da responsabilidade
por duas drogarias há de ser mantida, porque não
há que se confundir os dois estabelecimentos no mo-
mento da aplicação da lei, se ela mesma os
distinguiu.
Apelo improvido.

ACORDA0 técnico-responsável, apontado como


motivo do malsinado ato.
Vistos e relatados os autos em que Pedem seja declarada a incompe-
são partes as acima indicadas. tência daquela Coordenadoria para
Decide a E' Turma do Tribunal Fe- decidir sobre matéria de âmbito pro-
deral de Recursos, à unanimidade, fissional, ficando reconhecido o di-
r.:::gar provimento ao recurso, na for- reito de permanecer a sociedade au-
ma do relatório e notas taquigráficas tora no exercício da atividade de
constantes dos autos que ficam fa- seus dois estabelecimentos sob a res-
zendo parte integrante do presente ponsabilidade do autor, José Holanda
julgado. de Freitas, renovadas anualmente a
Custas como de lei. licença de ambos, condenado o réu
nas custas e honorários.
Brasília, 2 de maio de 1980 (Data
do julgamento). - Ministro Peçanha Requerem a notificação do Conse-
Martins, Presidente - Ministro OUo lho Regional de Farmácia e juntam
Rocha, Relator. os documentos de fls. 8/11.
Contestando a ação, sustenta a ré
RELATORIO estar o seu ato apoiado em boletim
da Secretaria de Estado da Saúde
o Sr. Ministro Otto Rocha: - 3 J. que, fazendo valer o disposto na Lei
Comercial Ltda. e José Holanda de n? 5.991, de 1973, não mais permitiu
Freitas, na qualidade de titular e a acumulação da responsabilidade
farmacêutico responsável por, duas técnica por mais de um estabeleci-
drogarias situadas em Belo Horizon- mento de dispensação pública, dando
te, propuseram ação ordinátia con- como prazo para a regularização de
tra o Estado de Minas Gerais, cuja quem nesta situação estivesse, o mo-
Coordenadoria de Atividades Profis- mento da renovação dos alvarás.
sionais da Secretaria do Estado da
Saúde negou a renovação anual do Assinala a participação de órgãos
alvará quanto a um dos estabeleci- federais nos fatos que deram origem
mentos. à ação, requerendo a citação da
União para que ela fale de seu inte-
Invoca o art. 16 do Decreto n? resse na causa.
74.170, de 1974, que encarrega o Es- Falaram os autores sobre a Con-
tado da fiscalização apenas da loca- testação a fls. 40/42, invocando o art.
lização e instalação do estabeleci- 34, do Decreto 74.170, de 1974 que ve-
mento, estando afeto ao Conselho da aos farmacêuticos a direção téc-
Regional de Farmácia o problema nica de duas farmácias, mas não de
relacionado com a assistência de duas drogarias, tecendo considera-
TFR - 71 115

ções sobre a diferença entre as fina- tiva de unidade hospitalar, ou


lidades de cada uma. que se lhe equipare» (grifamos).
Requerida pela União, (fls. 49), o A lei permite aos farmacêuti-
MM. Juiz processante ordenou a re- cos «exercer a direção técnica de
messa dos autos à Justiça Federal, a duas farmácias», ou desde que
fim de que participasse da lide o uma delas seja comercial e a ou-
Conselho Regional de Farmácia (fls. tra «privativa de unidade hospi-
49v), afinal presente a fls. 67/71, que talar ou que se lhe equipare».
opinou de acordo com os fundamen- Não permite o dispositivo legal
tos expendidos pelos autores, enten- citado que o farmacêutico exerça
dendo correta sua situação e proce- a direção técnica de duas farmá-
dente o pedido. cias comerciais. Mas, acontece
que os autores não tem farma-
Aberta vista as partes, falaram to- cias e sim drogarias.
das - o Estado, os autores, o Conse- Ora, farmácia e drogaria são
lho e a União - a fls. 80v e 81. estabelecimentos diferentes, con-
A ação foi julgada procedente por forme se constata pela própria
sentença de fls. 94/100, nos termos definição feita pela lei. n?
pedidos, fixados os honorários em 5.991/73, no seu artigo 4?, n? X e
20% sobre o valor da causa, submeti- XI, verbis:
do o decisório ao duplo grau de juris- «X. Farmácia - estabeleci-
dição. mento de manipulaçâo de fórmu-
O Estado apelou a fls. 101/106, las magistrais e oficinais, de co-
contra-arrazoando o apelado a fls. mércio de drogas, medicamen-
108/110. tos, insumos farmacêuticos e cor-
relatos, compreendendo o de dis-
A Subprocuradoria, nesta Instân- pensação e o de atendimento pri-
cia, manifesta-se pela manutenção vativo de unidade ou de qualquer
da sentença apelada, em todos os outra equivalente assistência mé-
seus termos. dica;
Dispensada a revisão por se tratar XI. Drogaria - estabelecimen-
de matéria predominantemente de to de dispensação e comércio de
direito. drogas, medicamentos, insumos
farmacêuticos e correlatos em
É o relatório. suas embalagens originais».
VOTO
O Sr. Ministro Otto Rocha (Rela- Sendo Farmácia e Drogaria es-
tor): Sr. Presidente, a respeitável tabelecimentos diferentes, con-
sentença recorrida, apoiada na pro- forme o próprio conceito legal,
va constante dos autos e na legisla- não se pode pretender que o arti-
ção que rege a matéria em debate, go 34 do Decreto 74.170/74, se re-
vem assim fundamentada: ferindo apenas a Farmácias, te-
nha vedado ao farmacêutico a di-
«O Decreto n? 74.170, de 10 de reção técnica de duas drogarias.
junho de 1974 que regulamentou É claro que o legislador, ao bai-
a Lei n? 5.991, de 17 de dezembro xar o Decreto Regulamentador
de 1973, em seu artigo 34, caput, n? 74.170: não desconhecia o con-
determina que: ceito estabelecido pela Lei
«Será permitido aos farmacêu- 5.991/73 para Farmácia e Droga-
ticos exercerem direção técnica ria e se o referido Decreto se re-
de duas farmácias, sendo uma fere apenas a Farmácia é porque
delas comercial, e a outra priva- não pretendeu vedar' ao farma-
116 TFR - 71

cêutico o exercício de direção No caso de duas drogarias tam-


técnica de duas drogarias e os au- bém pode ser admitida a exce-
tores possuem duas drogarias e ção.
não duas farmácias. Frise-se ainda que não compe-
o artigo 34 do Decreto n? 74.170 tia ao órgão estadual verificar se
não se aplica às drogarias e sim o farmacêutico podia ou não
às farmácias. exercer a direção técnica de
duas drogarias e indeferir a pre-
A Lei n~ 5.991/73 e o Decreto n~ tensão dos autores de obtenção
74.170, em nenhum de seis seus de alvará para um de seus esta-
artigos proibem ao farmacêutico belecimentos. Tal atribuição é
o exercício da direção técnica de dos Conselhos Federal e Regio-
duas drogarias. nais de Farmácia. A própria Lei
n~ 3.820, de 11 de novembro de
O artigo 20 da Lei 5.991 estabe- 1960 em seu artigo 1~, em sua
lece que «A cada farmacêutico parte final, atribuiu aos Conse-
será permitido exercer a direção lhos Federal e Regionais a in-
técnica de, no máximo, duas far- cumbência de «zelar pela fiel ob-
mácias, sendo uma comercial e servância dos princípios da ética
uma hospitalar (os grifos são e da disciplina da classe dos' que
nossos). exercem atividades profissionais
Nada diz o referido artigo so- farmacêuticas no País». Referida
bre Drogarias. É lógico que a lei Lei, nos seus artigos 6 a 10, esta-
tendo estabelecido o conceito de belece as atribuições dos Conse-
farmácia e de drogaria como coi- lho~ Federal e Regionais de Far-
sas diversas (art. 4~ n~ X e XI) e mácia e está dentre elas a de fis-
se só se refere mais adiante (art. cálização e controle do exercício
20) a farmácia, é porque não pre- da profissão de farmacêutico.
tendeu vedar ao farmacêutico o A própria Lei 5.991, em seu ar-
exercício de direção técnica de tigo 22, letra «c», estabelece que
duas drogarias. Pretendesse a o pedido de licença será instruído
Lei se referir também as droga- com «prova de habilitação legal
rias e teria usado no artigo 20 a do responsável-técnico, expedida
expressão farmácias ou droga- pelo Conselho Regional de Far-
rias. macia.»
É verdade que o § 1~ do artigo O artigo 16, do Decreto n~
15, da Lei 5.991, exige a presença 74.170, ao espeCificar as condi-
de' técnico-responsável« durante ções para o licenciamento de far-
todo o horário de funcionarrfento mácias e .drogarias, estabeleceu
do estabelecimento», mas tam- no parágrafo único que aos Esta-
bém . é certo que a Ilrópria Lei dos compete determinar apenas
5.991, em seu artigo 20, permite ao «localização» (inciso I) e instala-
farm'acêutico o exercício da dire- ções e equipamentos (inciso H).
ção de duas farmácias. Ora, co- A condição do inciso de n? IH,
mo poderia conceber o exercício «assistência de técnico responSá-
da direção técnica, ao mesmo vel», ficou a cargo dos Conselhos
tempo, de duas farmácias «du- Federal e Regionais de Farmá-
rante o horário de funcionamento cia porque a estes e somente a
do estaqelecimento» ? É claro estes compete regular e fiscali-
que a lei, no artigo 20, abriu uma zar o exercício da profissão de
exceção á favor do farmacêutico. farmacêutico. Compete aos Con-
TFR - 71 117

selhos Regionais de Farmácia pelos estabelecimentos indicados


«fiscalizar o exercício da profis- na inicial.»
são impedindo e punindo as in- Com esta fundamentação, concluiu
frações á lei.:.» (Lei 3.820, art. o MM. Julgador pela procedência da
10, letra c) e o próprio Conselho ação, para o fim de anular o ato ad-
Regional de Farmácia (fls. 70, in ministrativo do Estado que indeferiu
fine) disse que «entende a assis- a renovação da licença do estabele-
tência ser a situação dos AA cor- cimento dos autores.
reta, tanto assim que fez expedir Estou em que as razões do apelo
em favor dos mesmos o Certifi- não abalaram os fundamentos da
cado de Atividade Regular, re- sentença, os quais acolho como ra-
presentando a prova de habilita- zão de decidir, negando provimento
ção legal do profissional para as- à apelação.
sumir a responsabilidade técnica E o meu voto.

APELAÇAO ClVEL N? 58.091 - RS


Relator: Sr. Ministro Peçanha Martins
Apelante: Danil Csaszar
Apelada: União Federal
EMENTA
Acidente Rodoviário. Choque de Automóvel em
traseira de caminhão que trafegava sem luz e além
.do horário regulamentar. Responsabilidade do pro-
prietário do caminhão, no caso, a União Federal, pe-
los danos acontecidos ao automóvel e aos seus
passageiros.
ACORDA0 «Danil Csaszar, qualificado na
Vistos e relatados estes autos em peça inicial de fls. 02/05, propôs a
que são partes as acima indicadas: presente ação de indenização con-
tra a União Federal, alegando que
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe- é proprietário do veículo marca
deral de recursos, por unanimidade, Ford, tipo Corcel, ano 1974, Placa
dar provimento ao recurso, na forma EA 5309, com o qual trafegava pela
do relatório e notas taquigráficas Estrada BR-290" sentido São Ga-
constantes, que ficam fazendo parte briel - Porto Alegre, em compa-
integrante do presente julgado. nhia de sua esposa, quando, na al-
Custas como de lei. tura do quilômetro 171 daquela via,
Brasília, 14 de março de 1980. colidiu, violentamente, na parte
Ministro Peçanha Martins, Presiden- traseira de uma viatura militar, ti-
te e Relator. po caminhão-prancha. Alega que o
veículo militar, além de trafegar
RELATORIO sem nenhuma sinalização traseira
e laterais, transportava carga ex-
O Sr. MiÍústro Peçanha Martins: A cedente, fora das dimensões regu-
sentença recorrida assim expõe o ca- lamentares, sem licença. Termina
so destes autos: por pedir seja ressarcido dos danos
118 TFR - 71

materiais sofridos por seu veículo lização 1:raseira e laterais, com car-
bem como da despesa que teve ga excedente fora das dimensões re-
com atendimento médico. Instruiu gulamentares, sem licença, fora de
o pedido com os documentos de fls. horário e sem batedor, vindo o v. 2
6/18. Na audiência de fls. 47, a bater na sua traseira».
União Federal contestou o pedido,
alegando que o acidente ocorreu O v. 2 é o veículo do autor, que, ro-
por imprudência e negligência do dando, à noite, pela estrada, bateu
autor, porquanto, trafegando em de frente, violentamente, na traseira
alta velocidade, não teve tempo su- do v. 1, o caminhão do Exército que
ficiente para frear diante de um seguia à sua frente, sem luz e sem li-
veículo que trafegava em velocida- cença para trafegar além do horário
de moderada. A proposta de conci- regulamentar.
liação não foi aceita. Na instrução
foram ouvidas as testemunhas ar- Dou provimento ao recurso para
roladas pela ré, bem como julgar a ação procedente na forma
determinou-se a juntada dos docu- do pedido. E que a prova do aciden-
mentos de fls. 51/111. Na audiência te, no caso, é bastante para o reco-
de fls. \158, prosseguindo-se com a nhecimento da responsabilidade do
instrução, tomou-se o depOimento seu causador, que só poderia eximir-
de uma testemunha arrolada pelo se caso provasse, por meios idôneos,
autor. A seguir, as partes produzi- caso fortuito, força maior, culpa de
ram suas alegações finais. terceiro ou mesmo da própria víti-
ma. E nada disto os autos positivam,
não sendo possível considerar-se pro-
o ilustre Juiz, Dr. EU Goraieb, jul- va contrária, como a considerou a
gou a ação improcedente, condenou sentença, o depOimento do Guarda
o autor ao pagamento das custas e Rodoviário Jarbas dos Santos, que
dos honorários, 'estes no percentual disse não saber dizer se no momento
de dez por cento sobre o valor da do acidente o veículo da ré se encon-
causa e determinou a remessa dos trava com as lanternas apagadas».
autos. O depOimento vale pelo que está dito
de fls. 161:
o autor apelOU e a União contra-
arrazoou.
«quando chegou ao local do aci-
Neste Tribunal a douta dente, verificou que as lanternas
Subprocuradoria-Geral da República dianteiras do veículo da ré
ofereceu parecer opinando pela con- encontravam-se acesas, enquanto
firmação do decidido. que as lanternas traseiras se en-
contravam apagadas; que, no lo-
E o relatório. cal, j á se encontrava uma outra
viatura do exército, com um ofi-
VOTO cial, a fim de prestar socorro ao
veículo sinistrado; que o depoente
O Sr. Ministro Peçanha Martins verificou que essa outra viatura
(Relator): O doc. de fls. 9 e seguin- também não apresentava condi-
tes emanado da Polícia Rodov.iária, ções de tráfego noturno, porquan-
precisamente em o final de fls. 10, to, de igual porte as lanternas tra-
descrevendo o acontecido diz, com seiras não funcionavam»).
referência ao caminhão sinistrante
que este «trafegava sentido S. Ga~ Viaturas, pois, em pandarecos, ro-
briel X P. Alegre sem nenhuma sina- dando com infração de leis e regula-
TFR - 71 119

mentos, tudo atestando falta de vigi- Decisão: A unanimidade, deu-se


lância dos dirigentes. provimento ao recurso. (Em 14.03.80
-1~ Turma).

EXTRATO DA ATA
Os Srs. Mins. Washington Bolívar
AC n? 58.091-RS - ReI.: Sr. Min. e Otto Rocha votaram com o Rela-
Peçanha Martins. Apte.: Danil Csas- tor. Presidiu o julgamento o Exm?
zar. Apda.: Uniâo Federal. Sr. Min. Peçanha Martins.

APELAÇAO CtVEL N? 59.078 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Apelantes: Societê Technique pour L'Utilisation de La Précontrainte
(Procedés Freyssinet) e outra
Apelada: MEPEL - Comércio e Indústria S.A.

EMENTA
Propriedade Industrial. Patente de Invenção. Sua
nulidade por ausência do requisito de novidade.
sucessão.
I - Evidenciado que a invenção patenteada já
fora divulgada amplamente, quer em obras de cará-
ter científico e técnico, quer em comunicações de
empresas industriais interessadas no produto, preju-
dicado ficou o requisito de novidade, nos termos do
art. 7. o, § 1. o, alínea "b" in fine, do Código de Pro-
priedade Industrial aprovado pelo Decreto-Lei n. o
7.903, de 1945.
II - Consagrando o direito brasileiro o princípio
da invenção ao inventor, só este pode requerer o pri-
vilégiO, ou quem alegar e provar que é seu sucessor
ou cessionário.
III - Embora já expirado o prazo de vigência
da patente, pode a sentença declarar a sua nulidade,
negandO efeito às pretensões dela irradiadas.
IV - O exercício regular da pretensão legitima-
da pela patente concedida não imPorta em abuso de
direito, não dando margem a perdas e danos em fa-
vor da ré.
ACORDA0 das e danos, na forma do relatório e
notas taquigráficas constantes dos
Vistos e relatados os autos em que autos que ficam fazendo parte inte-
são partes as acima indicadas: grante do presente julgado.
Decide a 4~·Turma do Tribunal Fe- Custas como de lei.
deral de Recursos, à unanimidade, Brasílla, 28 de maiO de 1980 (Data
dar parcial provimento à apelação, do Julgamento). - Ministro José
para reformar a sentença na parte Dantas, Presidente - Ministro
que condenou as apelantes em per- Carlos Madeira, Relator.
120 TFR - 71

RELATORIO apoio de borracha neoprene-fretado,


que constituiam infração àquela pa-
o Sr. Ministro Carlos Madeira tente de invenção, as autoras a noti-
(Relator): Société Technique pour ficaram por carta, através do 1?
L'Utilisation Cle la Précontrainte Ofício de Registro de Títulos e Docu-
(Procedés Freyssinet), sediada em mentos de Petrópolis. Não sendo
Paris, e a STUP-Sociedade Técnica atendida a notificação, as autoras
para a Utilização da Pré-Tensão ajuizaram vistoria ad perpetuam rei
(Processos Freyssinet) S.A., sedi9-da memoriam, na qual ficou evidencia-
no Rio de Janeiro, propuseram na 10~ da a ilicitude dos atos praticadas pe-
Vara Cível do Rio de Janeiro ação la ré.
cominatória cumulada com a de jn- A ação proposta visa a impedir a
denização, nos termos do art. 302, fabricação e venda, pela ré, dos apa-
XII, do CPC/39, combinado com o relhos patenteados, pondo fim à prá-
art. 189, e seu parágrafo único, do tica da contrafação, ficando as per-
Dec.-Lei 7903/45, contra a MEPEL- das e danos para se apurarem em
Comercio e Indústria S.A., estabele- execução.
cida em Petrópolis, colimando a
proibição à ré de fabricar e vender 2. Contestou a ré, alegando que, ao
apare,lhos de apoio de borracha neo- fabricar os apoios elásticos de pon-
prene-fretados, que constituem infra- tes, constituídos de blocos de borra-
ção ti patente de invenção n? 51.092, cha sintética (neoprene), limitou-se
sob pena de multa diária de Cr$ a levar à prática conhecimentos téc-
200,00, assim como o pagamento de nicos vulgarizados pela literatura es-
perdas e danos, a serem apurados pecializada, e revelados em outras
em execução, desde o início da fabri- concretizações notórias, muito ante-
cação e venda dos aparelhos referi- riores à data do pedido de patente da
dos, mais custas e honorários de ad- primeira autora, a 28 de setembro de
vogado. 1954. Comprovada e inexistência de
novidade da invenção reivindicada
A primeira autora é titular da pa- na patente, SObrepõe-se à excluisivi-
tente de invenção n? 51.092, expedida dade o direito de acesso à técnica
a 8 de agosto de 1956, intitulada "dis- em domínio público. Por isso mes-
positivo de ligação plástica para um mo, os privilégios de invenção são
ou mais grau de liberdade", que lhe sujeitos à revisão judicial, quer para
garante até 8 de agosto de 1971 a ex- a decretação de sua nulidade, quer
clusividade de exploração de um dis- para a declaração de sua inocuida-
positivo de ligação elástica caracte- de.
rizado por ter entre superfícies subs-
tancialmente paralelas um bloco for- A patente de invenção de n? 51.092,
mado de uma pilha de placas de ma- obtida em decorrência de depósito
terial do tipo de borracha, entre as feito em 28 de setembro de 1954, é
quais se intercalam folhas inex- nula, - prossegue a ré, - porque
tensíveis cujas faces apresentam um anteriormente a essa data eram in-
grande coeficiente de atrito. cerporadas à técnica do domínio pú-
blico as pretensas inovações nelas
A segunda autora, concessionária descritas e r.eivindicadas. Ela cor-
da primeira no Brasil, tem averbado responde, aliás, a uma tradução fiel
no Departamento Nacional da Pro- .e cópia dos desenhos respectivos, da
priedade Industrial, o contrato de li- patente francesa n? 1.110.285, deposi-
cença. tada na França em 25 .de maio de
Tomando conhecimento de que a 1954, em nome da pesso'a física Eu-
ré fabricava e vendia aparelhos de gene Freyssinet. A solicitação no
TFR - 71 121

Brasil, em nome da primeira autora, ção de prioridade, quando possível,


pessoa jurídica e distinta, sem a rei- não traz, necessariamente, qualquer
vindicação de prioridade eventual- conseqüência quanto à novidade da
mente assegurada pela Convenção invenção. No caso, foi observado o
da União de 'Paris, era ilegítima, por requisito da novidade, de que trata-
falta de cessão do inventor. va o Dec.-Lei n? 7903/45, eis que a
Mas, mesmo a existência da pa- patente brasileira foi requerida a 28
tente francesa nada representa de sp.tembro de 1954 e a francesa a
quanto à novidade da invenção, pois, 25 de maio de 1954, não tendo decor-
não se examina, em França, o requi- rido mais de uma ano. Nem houve
sito de novidade. E tanto o pedido de apropriação indébita de invenção
patente naquele País como o feito no alheia, porque Eugêne Freyssinet
Brasil aborda problema técnico rela- é intimamente ligado às reconvindas,
tivo ao apoio elástico de materiais que referem em seus nomes aos pro-
para obsorver vibrações, e, mais cessos Freyssinet.
particularmente, o apoio elástico de 4. O Juiz de Direito, tendo em vis-
vigas de concreto pro tendido em ta a necessidade da intervenção da
pontes e viadutos, versado por pro- União no feito, declinou de sua com-
fessores da Universidade de Stan- petência, remetendo os autos à Justi-
ford, em obra publicada em 1928 e ça Federal.
editada em espanhol em 1959. Tais O processo foi distribuído à 5~ Va-
apoios são referidos na literatura es- ra, determinando o então Juiz Fede-
pecializada, e sua aplicação prática ral, Aldir Guimarães Passarinho, a
data de 1948, por uma firma de Rho- intimação da União, que afirmou fal-
de ISland dos EEUU, cujos modelos ta de interesse próprio na demanda,
foram copiados pela ré, no Brasil. destacando apenas a regUlaridade
São eles fabricados por várias fir- da concessão da patente.
mas, e utilizados em muitas pontes Juntadas as traduções dos docu-
com vigas de concreto protendido. mentos produzidos em língua estran-
Tais fatos demonstram que a pa- geira, determinou o Juiz a intimação
tente obtida pela primeira autora do Instituto Nacional da Propriedade
não representa invenção de sua auto- Industrial, autarquia recém criada,
ria, configurando a nulidade prevista para dizer do seu interesse no feito.
no art. 66, itens I, II e III, do Dec.- A Autarquia apenas esclareceu
Lei n? 254/67, e assim determinando em petição datada de 11 de maio d~
a sua inocuidade para gerar direito 1972, que a patente concedida à pri-
de abstenção de terceiros, da prática meira autora teve seu prazo de vi-
industrial em domínio público, ou gência expirado em 08 de agosto de
ressarcimento indenizatório. 1971.
No saneador de fls. 319, foi deferi-
Em reconvenção, a ré reitera o pe- da prova pericial, vindo os laudos
dido de decretação de nulidade e ino- dos peritos das partes às fls. 327/335
cuidade da patente de invenção de e 336/419. Falaram a ré e as autoras
que é titular a primeira autora, plei- e o J:uiz nomeou perito desempata-
teando ainda o pagamento das per- dor, que juntou seu laudo às fls.
das e danos conseqüentes da ação, 432/4.3.5.
assim como custas e honorários. Falaram as partes, e o Juiz, a ins-
3. Replic;aram as autoras, realçan- tãncia delas, determinou a citação do
do que ·a ré confessou. a fabricação e INPI, que veio aos autos, esclarecen-
o coméPéio dos produtos patentea- do serem nulas as reivindicações 1 a
dos. 'E impugnaram a reconvenção, 6 e 13 e 14, da patente concedida à au-
afirmando que a falta de reivindica- tora, por se ehcontrarem abrangidas
122 TFR - 71

pelo estado de técnica, na data do de- incorreção técnica. Mas a sentença,


pósito. A nulidade foi argüida com - objetam as apelantes - foi além
base'no parágrafo único do art. 55 da do parecer do INPI e conSiderou nu-
Lei n? 5.722/71. las reivindicações nele não referi-
Seguiram-se novas manifestaçãoes das, apesar de a ré não demonstrar
das Partes e do INPI, e o Juiz Fede- que elas não poderiam subsistir in-
ral, Agustinho Fernandes Dias da Sil- dependentemente da de n? 01.
va, proferiu sentença, julgando im- De outra parte, o requisito legal de
procedente a ação e procedente a re- novidade foi considerado satisfeito
convenção, para declarar a nuliaade no processo administrativo porque,
da patente de invenção n? 51,092 e publicadas as reivindicações no ór-
condenar as autoras reconvindas na gão oficial, não foi oferecida qual-
forma do pedido reconvencional, fi- quer opOSição por terceiro que se jul-
xados em 20% do valor da causa os gasse prejudicado.
honorários advocatícios. Entendeu S. E a pré-existência do pedido fran-
Exa. que a invenção protegida pela cês em relação ao brasileiro é intei-
patente não apresentava o requisito ramente irrelevante, porque, de
de novidade, antes mesmo da prote- acordo com o sistema do Dec.-Lei n?
ção ser requerida po Brasil. O INPI 7.903/45, a Simples existência de pedi-
apontou a anterioridade encontrada do de patente no estrangeiro, não afe-
para cada uma das reivindicações tava a novidade da invenção no Bra-
consideradas nulas, mas o Juiz es- sil.
tendeu tais conclusões às reivindica- Contra-arrazoou a apelada, às fls.
ções de números 7 a 12, pois, consti- 563/568.
tuindo a reivindica..;ão n? 1 o elemen- A Subprocuradoria-Ger::ll da Repú-
to básico das demais, dela deriva- blica, em seu parecer, acentuou ha-
das, é evidente que a sua nulidade ver prova abundante no sentido de
acarreta a das subseqüentes. Tam- que a invenção protegida pela paten-
bém considerou o douto Magistrado te n? 51.092, não apresentava o requi-
que o fato e o pedido no Brasil não sito da novidade à data do depósito
ter sido precedido de cessão por par- do pedido no Brasil. Discorda, entre-
te do inventor, titular da patente tanto, da condenação em perdas e da-
francesa, não foi convenientemente nos, porque os prejuízos sofridos em
impugnado. O fato de a patente bra- razão da obrigação de se abster do
sileira não haver sido pedida pelo in- uso e exploração do invento privile-
ventor ou seu cessionário prejudica giado não são indenizáveis.
ainda mais o requisito da novidade, Tratando-se de questão eminente-
dada, a desvinculação de ambos os mente de direito, pedi pauta sem re-
pedidos. E o fato de j á se haver visão.
exaurido o prazo de vigência da pa- É o relatório.
tente não impede a deClaração de VOTO
nulidade.
5. Apelaram as autoras, realçando O Sr. Ministro Carlos Madeira (Re-
de início que, tendo expirado o prazo lator): O ilustre Juiz destaca que o
de vigência da patente em 8 de agos- dispositivo fabricado pela ré «englo-
to de 1971, não há que cogitar da de- ba características do mesmo tipo, cu-
cretação de sua nulidade, mesmo ja exclusividade de uso estaria asse-
que ela estivesse configurada. A re- gurada, no Brasil, pela patente de in-
convenção deveria ser., assim, julga- venção n? 51.092". Para tanto afir-
da sem objeto. Criticam as apelantes mar, o magistrado apoiOU-Se em res-
a sentença, por estar louvada no lau- postas do perito desempatador na
do do perito desempatador, assim vistoria ad perpetuam rei
como o pronunciamento do INPI, por memoriam.
TFR - 71 123

Entretanto, prossegue a sentença, da em face das anterioridades técni-


a invenção, mesmo antes de requeri- ças, isto é, em face de todas as in-
da a patente no Brasil, não apresen- venções análogas ou do mesmo gêne-
tava o requisito da novidade. Tal en- ro, ao passo que a novidade se apre-
tendimento é baseado em longa res- cia somente em face das anteriorida-
posta do assistente técnico da ré, des legais, isto é, em face das ante-
corroborada pelas afirmações do rioridades que devem ser levadas
a
INPS, de que maioria das reivindi- em consideração, segundo a lei de
cações já se encontravam, na da- . cada país.
ta do depósito, abrangidas pelo esta- Desse modo, nos países cujas leis
do da técnica, com anterioridades estabelecem o critério da novidade
comprovadas. relativa da invenção, uma invenção
As apelantes, a seu turno, criticam nova, em face da lei, pOde ser origi-
os dados trazidos pela ré, constantes nal.» E adiante: «A novidade, cujo
da publicação sem data, abordando critério é variável da lei para lei, diz
a matéria de forma genérica, pura- respeito apenas aos fatos da publica-
mente científica, que não implica em ção ou divulgação do invento. Em úl-
quebra de novidade da invenção. tima análise, significa exclusiva-
Além disso, a apreciação técnica do mente que a invenção não era conhe-
INPI é incorreta, como se evidencia cida antes do pedido da patente.»
na análise das reivindicações 3.13 e (Tratado, edição de 1952, vol. lI, To-
14. o fato de nas demais reivindica- mO.I, p. 70171).
ções serem feitas referências à rei- Adotando o princIpIO da novi-
vindicação ·1, significa que aquelas dade relativa, o Código de 1945'
são depénctentes e desta. O requisito arrolou no art. 7?, § 1?, le-
legal de novidadé, aliá~, foi atendido tra b, in fine, um dos fatos que a
no processo administrativo, pois, não prejudicam: a descrição em publica-
tendo sido oferecida qualquer oposi- ções. A lei não alude, como é eviden-
ção por terceiro que se julgasse pre- te, - prossegue o magistério da Ga-
judicado, foi proferida decisão que ma Cerqueira - à descricão técnica
transitou em julgado. do invento, ou à descrição que se
A matéria há de ser apreciada à costuma fazer para o efeito de re-
luz da legislação vigente à época de querer patente: qualquer descrição,
depósito e da expedição da patente, desde que seja feita de modo a per-
e não sob a égide da Lei 5.772, que é mitir o conhecimento da invenção e
de dezembro de 1971. O Código de a sua realização por pessoa compe-
Propriedade Industrial vigente em tente no assunto, é suficiente. «É
1954 e em 1936, anos dos quais datam 'evidente que, tratando-se de obras
o depósito e a expedição da patente expostas à venda, de revistas e jor-
51.092, era o do Decreto-Lei 7.903/45, nais, de memoriais e relatórios, que
que consagrava o princípio da novi- constituem, por excelência, veículos
dadé relativa, de modo a permitir o de informação e divulgação, nenhu-
depósito do pedido no Brasil, até um ma dúvida é possível sobre o caráter
ano após a concessão da patente no da publicação.» (Ob. cito p. 79 e 80).
estrangeiro, ou a divulgação do in- Ora, a argüição essencial da ré é
vento. de que a invenção patenteada pelas
A propósito da novidade, alertava autoras no Brasil, já era divulgada
Gama Cerqueira que ela não se con- em livros e publicações diversas, in-
funde com originalidade: «O conceito clusive de empresas 'industriais de
de .originalidade, como característi- borracha. A essa argüição, aduziu o
co da invenção considerada em si, é INPI a existência de anterioridades,
mais amplo que a da novidade, por- em relação a várias reivindicações
que a originalidade deve !?er aprecia- do objeto da patente.
124 TFR - 71

As autoras escusaram-se de fazer Não basta ao reconhecimento da


a contraprova, 'à alegação de que as novidade o fato de não ter havido
reproduções das publicações junta- oposição de terceiros, ao ser publica-
das pela ré não estavam em idioma do o edital, no procedimento admi-
nacional. Juntadas as traduções, na- nistrativo da concessão da patente.
da disseram a respeito. Na apelação, O art. 4~, in fine, do Código de 1945,
sustentam que as publicações abor- dispondo que as garantias outorga-
dam a matéria de forma genérica, das com a patente são concedidas
puramente, científica, não implican- sem prejuízo dos direitos de tercei-
do em quebra de novidade da inven- ros, há de ser entendido em harmo-
ção. nia com o art. 83, a seus parágrafos,
Da leitura das publicações, tenho podendo promover a declaração de
que as mesmas não têm apenas con- nulidade «quaisquer pessoas prejudi-
teúdo científico e técnico, que haja cadas pela concessão do privilégio e
sido ultrapassado pelo objeto da in- aquele a quem a lei atribui direito a
venção patenteada pelas autoras. O recurso administrativo.» (C.P.C. de
Trabalho dos professores Timoshen- 1939, arts. 332 § 1~ e 334). Não há fa-
ko e Young, traduzido às fls. 284/285, lar, assim, em coisa julgada, em re-
e publicado em inglês desde 1928, po- lação à decisão administrativa de
de se considerar, de fato, como uma concessão de patente. Como observa
abordagem genérica da matéria. Pontes de Miranda, «o art. 84 * 1~, é
Mas o trabalho do engenheiro mili- argumento cabal contra os que en-
tar J. Font Maymo, traduzido às fls. tendem que o sistema jurídico brasi-
305 e verso, editaQo em Madrid em leiro seguiu o princípio do requeri-
1950, , já alude claramente ao objeto mento.» (Tratado, ToúlO 16, § 1923,
da invenção questionada, nos traba- 3).
lhos da ponta de L'Esbly, na França,
em 1948. Além disso, há divulgações,
como «A borracha na engenharia», Por outro lado, a alusão aos Procé-
editada em Nova York em 1946 e tra- dés Frayssinet, na patente, não é su-
duzida às fls. 4821499 dos autos, e «A ficiente para demonstrar a legitimi-
Ciência aplicada na borracha», sem dade da «Société pour l'utilisation de
data de edição, que detalham o apoio la Constrainta» para obter a patente
elástico em estruturas de pontas ou no Brasil. O art. 6~ do Código consa-
calços de motores. gra o princípio da invenção ao inven-
tor: só a este, ou a seus sucessores, é
A comparação desses elementos reconhecido o direito à patente. Se
com os descritos no pedido de paten- alguém como alegam as autoras
te e no folheto de divulgação dos -, é intimamente ligada à pessoa
aparelhos de apoio Freyssinet, que jurídica e cede ou perde em favor
está nos autos, em português, às fls. dela a invenção, «há sucessão razão
410/419, dão a certeza de que o obje- por que a pessoa jurídica tem de
to da invenção não constitui mais no- alegar a provar ser sucessora» (ain-
vidade, ao ser depositado o pedido da Pontes, ob. cit, § 1922, 2). Sem es-
quer na França, em maio de 1954, sa prova, não há legitimidade para o
quer no Brasil, em setembro do mes- pedido do privilégio. Ainda que se
mo ano. Daí porque estou convenci- aceita não tenha sido o pedido preju-
do do acerto da sentença, ao decla- dicial ao inventor, por ser ele ligado
rar nula a patente de invenção, dada à, pessoa jurídiça e até referido, na
a sua falta de novidade. E nula, em patente, não há como afastar a exi-
relação a todas as reivindicações, gência legal da alegação e prova da
pois nenhuma delas difere substan- sucessão. Não pode o sucessor ape-
cialmente das outras. nas indicar o nome do sucedido.
TFR - 71 125

Restam, assim, inabaladas os fun- a possível ilicitude da ré, de outro. A


damentos da sentença, de que «tendo sentença, assim, tem eficácia consti-
a patente sido concedida pessoal- tutiva negativa ex tunc, mas não a
mente ao inventor, o meio idôneo de de mandamento, porque o prazo da
se comprovar a legitimidade da re- patente j á se expirara.
querente da patente no Brasil seria a Da sentença me afasto, porém, na
exibição do contrato de cessão, que parte em que julga integralmente
não foi feita, deixando a descoberto procedente a reconvenção, pois não
outra causa de nulidade da patente se me afiguram devidas as perdas e
brasileira.» (fls. 553). danos alegadas pela reconvinte, em
Certa é, também, a afirmação da conseqüência da propositura da
sentença de que a exaustão do prazo ação. Com efeito, ao proporem a
de vigência da patente não impede a ação, as autoras eram titulares de
declaração de sua nulidade. Se a uma patente, direito material perfei-
pretensão das autoras era impedir a tamente constituído de acordo com
fabricação e a venda, pela ré, de dis- as autoridades brasileiras. O
positivos patenteados, com a conse- exercício da pretensão à proteção da
qüente composição de perdas e da- patente era absolutamente legítimo.
nos, e se a validade da patente foi Não se pode haver esse exercício co-
contestada, cumpria ao Juiz apre- mo um gravame à ré, de modo a se
ciar antes de tudo essa validade. Se reconheçer a esta o direito a perdas
favorável às autoras a decisão, cabe- e danos. Não se houveram as auto-
ria as perdas a danos pleiteados; ca- ras com abuso de direito para legiti-
so contrário, prejudicada estaria a mar a pretensão indenizatória da ré.
sua pretensão.
O que a sentença apreciou foram Dou, assim, provimento em parte
fatos ocorridos no mundo jurídico à apelação das autoras, apenas para
entre 1954 e 1971, pouca importância excluir da condenação na reconven-
tendo que ela data de 1976. Só naque- ção, as perdas e danos a elas acarre-
le lapso de tempo poderia existir a tadas como conseqüência da proposi-
pretensão das autoras de um lado, e tura da ação cominatória.

APELAÇAO ClVEL N~ 60.503 - SP


Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins
Apelante: Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assis-
t~ncia Social.
Apelada: Izabel Ferreira.

EMENTA
Aposentadoria invalidez de empregada domésti-
ca. Beneficio concedido com a obrigação de
submeter-se a exames médicos periódicos, tratamen-
to e reabilitação (art. 35, parágrafo 6~ clc art. 31, pa-
rágrafo 5~ da ConsoUdação das Leis da Previdência).
ACORDA0 Decide a E' Turma do Tribunal
Federal de Recursos, por unanimi-
dade, negar provimento ao recurso,
Vistos, relatados e discutidos estes na forma do relatório e notas taqui-
autos, que são partes as acima indi- gráficas retro que ficam fazendo
cadas: parte integrante do presente julgado.
126 TFR - 71

Custas como de lei. nhas por ela arroladas (fls. ',:J :''21),
Brasília, 16 de novembro de 1979. nomeando-se perito para exame da
- Ministro Peçanha Martins, Pre- incapacidade.
sidente e Relator. Laudo do perito às fls. 33/36 e do
assistente-técnico às fls. 26/28,
RELATORIO manifestando-se as partes às fls 37
ev.
o Sr. Ministro Peçanha Martins: Sobre a prova produzida,
A sentença recorrida assim expõe o manifestou-se a A., às fls. 38v./40,
caso destes autos: pleiteando a procedência, o réu
Izabel Ferreira, qualificada na às fls. 40v./41, aduzindo que o Judi-
inicial, move a presente Ação Or- ciário não é balcão do INPS, pois
dinária de Aposentadoria por Inva- sequer deu entrada no requerimen-
lidez contra o Instituto Nacional to pela via administrativa, o que a
de Previdência Social (INPS), torna carecedora de ação, que, por
atual SINPAS, e Luiza Bella, tam- sua vez, seria improcedente, dian-
bém na inicial qualificada, alegan- te das conclusões dos expertos.
do a A. que foi eIl).pregada domés- Convertido o julgamento em dili-
tica da segunda ré nos períodos de gência, informou a A. que o
8.5.73 e 11.5.73, ~ 19.2.74 a "24.5.74, Instituto-Réu também não forneceu
01.01.65 a 16.1.76, tendo trabalhado o comprovante de recusa previsto
também para Roberto de Lima La- no artigo 117 da LOPS (fls. 41v./45)
ra, por 15 dias, sendo certo que, juntando o documento de fls. 46, so-
quando trabalhava para a segunda bre o qual se manifestou o r. de fls.
R. adoeceu e, por isso, foi despedi- 47v.
da procurando a agência do
Instituto-Réu, recebeu um impres- Nova conversão do julgamento
so de atestado de afastamento e em diligência, desta vez que os ex-
salários e um de requerimento de pertos respondessem a um quesito,
benefício por incapacidade, deven- do Juizo (fls. 48), vindo as respos-
do obter a assinatura da tas às fls. 49 e 50, tendo as partes
empregadora-ré no primeiro im- oportunidades para manifestarem-
presso, o que não logrou obter, por se (fls. 51 e 56»).
recusa da ré. O ilustre Juiz de Itapetininga, em
Recorre ao Judiciário, perse- São Paulo, julgou Luiza Bella parte
guindo a aposentadoria-invalidez, ilegítima e procedente o feito relati-
dando à causa o valor de Cr$ vamente a Izabel Ferreira, conde-
3.600,00 e juntando à inicial os do- nando o Instituto Nacional de Previ-
cumentos de fls. 5/12. dência Social ao pagamento à A. de
Os RR. foram citados às fls. aposentadoria invalidez tomando por
18v., sendo a R. Luiza declarada base a contribuição sobre o salário-
revel na audiência de fls. 18, oca- mínimo, a partir de 20-9-77, acresci-
sião em que o Instituto contestou, da de juros de mora e honorários de
alegando nada constar em seu ar- advogado no percentual de quinze
quivo quer quanto à A., quer quan- por cento sobre «os atrasados», «sa-
to à empregadora, pedindo a ca- lários dos expertos, arbitrados em
rência, e, se isso não ocorrer, quer Cr$ 1.000,00 para cada Wll».
ver reconhecido seu direito de re- O INPS apelou e a autora Izabel
ceber as contribuições respectivas. contra-arrazoou.
Tomou-se o depoimento pessoal Neste Tribunal a douta
de A., sendo ouvidas duas testemu- Subprocuradoria-Geral da Repúbli-
TFR - 71 127

ca, em seu parecer, opina de acordo Incapacitada, portanto, de exer-


com as conclusões do INPS. cer a sua profissão de doméstica,
É o relatório. impõe-se a aposentadori.a decretada
pelo Juiz, ficando a autora, entre-
tanto, na forma do parágrafo 6? do
VOTO Art. 35 da Consolidação das Leis da
Previdência, obrigada a exames,
O Sr. Ministro Peçanha Martins tratamentos e processos de reabilita-
(Relator): Luiza Bella, considerada ção profissional proporcionados pelo
parte ilegítima, não recorreu do de- INPS (parágrafo 5? do Art. 31).
cidido. O recurso é do Instituto Na- Nego provimento ao recurso.
cional de Previdência Social contra
a decisão relativa a Izabel Ferreira, EXTRATO DA ATA
que podia não ter requerido, admi-
nistrativamente, como argumenta a AC n? 60.503-SP - ReI.: Sr. Min.
apelante, o que lhe não impediria de Peçanha Martins. Apte.: Instituto de
valer-se, de logo, do Poder Judiciá- Administração Financeira da Previ-
rio. dência e Assistência Social. Apda.:
Segundo o laudo do Perito Oficial, Izabel Ferreira.
a autora. Decisão: A unanimidade, negou-se
«É portadora de dor de coluna provimento ao recurso (Em 16.11.79
vertebral crônica, na qual há - 1~ Turma.
contra-indicação de atividades que Os Srs. Mins. Washington Bolívar
exigem esforços e posturas vicio- e OUo Rocha votaram com o Rela-
sas por períodos prolongados e tor. Presidiu o julgamento o Exmo.
continuadamente» (fls. 36). Sr. Min. Peçanha Martins

REMESSA EX OFFlCIO N. o 62.221 - PB


Relator: O Sr. Ministro Evandro Gueiros Leite.
Remetente: Juiz Federal do Estado.
Partes: Abdias Guedes Cavalcanti e Uni.ão Federal.
EMENTA
Administrativo. Funcionário Público. Nomeação
inicial para cargo que depende de habilitação legal-
mente exigida. Fato consumado. Direito subjetivo.
_ 1. Após dez (10) anos ininterruptos de serviço,
nao é possível a anulação do ato, comprovado que
para o mesmo concorreu a Administração por omis-
são ou negligência.
2. O decurso do tempo consolidou as irregulari-
dades da investidura, como também o posterior en-
quadramento do funcionário, ex vi das Leis números
4.242/63 (art. 50) e 4.069/62 (art. 23, § único).
3. A efetivação ex lege, inclusive sob os
auspíCios do art. 177, § 2?, da CF/67, cria direitos
SUbjetivos e pretensões.
128 TFR - 71

4. O poder revocatório da Administração não po-


de, nem deve manter-se suspenso ad aeternitc.L7!~1,
com prejuízo da tranqüilidade dos cidadãos que o le-
gislador teve o cuidado de preservar através do h1Sti-
tuto da prescrição.
5. Sentença confirmada, para admitir-se válida a
situação funcional sub censura, sem reversão do fun-
cionário ao serviço, pois será aposentado, aliás de
acordo com o pedido na ação, que é alternativo.

ACORDÃO nomeação, ao fundamento de que a


investidura do autor naquele cargo
Vistos e relatados os autos em que de professor se dera sem que o mes-
são partes as acima indicadas: mo possuísse a habilitação legal exi-
gida, isto é, formação que o habili-
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- tasse a exercer o magistério em es-
deral de Recursos, por unanimidade, tabelecimento agríCOla de ensino
conhecer da sentença por encontrar- téncico.
se sUjeita ao duplo grau de jurisdi-
ção e a confirmar, na forma do voto Daí a presente ação proposta con-
e notas taqUigrá:Í'icas precedentes tra a União Federal, para anular o
que ficam fazendo parte integrante ato demissório e obter o benefício da
do presente julgado. aposentadoria conseqüente, retroa-
gindo os efeitos da sentença à data
Brasília, 25 de abril de 1980 (Data em que o autor percebeu os venci-
do julgamento) - Ministro Aldir mentos do cargo. A condenação
Guimarães Passarinho, Presidente abrange as custas processuais e os
- Ministro Evandro Gueiros Leite, honorários advocatícios à base de"
Relator. 10% sobre o que se apurar em execu-
ção.
Resume-se a motivação da deman-
RELATORIO da em que, embora discricionária, a
atuação administrativa pode esbar-
rar em interesse juridtcamente pro-
o Sr. Ministro Evandro Gueiros tegido ou em direitos subjetivos dos
Leite (Relator): Abdias Guedes Ca- administrados, como seria o seu ca-
valcanti ocupou durante cerca de so. E que ele já fora efetivado e ti-
dez anos o cargo de Professor do En- nha adquirido estabilidade no servi-
sino Agrícola-Técnico, do quadro de ço público, ex vi do art. 177: § 2? da
pessoal do Ministério da Agricultura, CF /67, e das Leis n? 4.242/63, art. 50,
nomeado por decreto, em 9 de junho e 4.069/62, art. 23, parágrafo único.
de 1962. Ao completar trinta e cinco
anos de serviço público, sendo vinte
e cinco prestadps ao Município de A defesa da União fulcra-se em
Patos, na Paraíba, pediu aposentado- que, praticando a administração um
ria. ato ilegal, poderá invalidá-lo tão logo
verifique esse defeito e mediante
A Administração, ao invés de anulação, a qual não estará sujeita a
deferir-lhe o pedido, anulou o ato de formalidades especiais nem a prazos
determinados, não havendo efeitos
TFR - 71 129

válidos ou direitos sUbjetivos a res- VOTO


guardar. Essa a opinião da melhor
doutrina, já cristalizada na jurispru- O Sr. Ministro Evandro Gueiros
dência dos pretórios. Leite (Relator): O autor foi nomeado
por decreto do Presidente da Repú-
blica, de 1962, em caráter interino,
Houve réplica do autor, com argüi- nos termos do art. 12, inciso IV,
ção de intempestividade da contesta- alínea c, da Lei n? 1.711/52.
ção, a que o juiz não atendeu ao sa-
near o processo (fls. 89v.), decisão
irrecorrida. Ultimada a instrução, Essa interinidade não deveria ex-
inclusive com o traslado de peças do ceder de dois anos (art. 12, § I?) e ti-
procedimento administrativo, profe- nha de atender, também, ao disposto
riu sentença o MM. Juiz Federal, no art. 22, inciso IX, isto é, possuir o
Dr. Francisco Xavier Pinheiro, dan- candidato as condições especiais
do pela procedência da ação, (fls. prescritas em lei ou regulamento pa-
161/164). ra determinado cargo ou carreira.

Disse ele que o autor faz jus à anu- Tratava-se, na espeCle, de cargo
lação do ato demissório, sendo-lhe de Professor de Ensino Âgrícola-
reconhecido o direito, não ao cargo Técnico, para o qual era necessária
de professor que ocupava, mas tão- habilitação profissional, requisito de
só aos proventos decorrentes da sua que não dispunha o autor, por não
aposentadoria pro labore facto, isto ser portador de título de Técnico-
é, pelos serviços prestados nas fun- AgríCOla, Engenheiro-Agrônomo ou
ções exercidas. Acrescentou o que Médico-Veterinário, conforme lhe foi
foi pedido, quanto às custas e os ho- exigido depois, em 1970 (fls. 132), o
norárijils advocatícios, que arbitrou que deu lugar ao ato anulatório, de
em 10% dos atrasados, a partir do 1973 (fls. 59).
desligamento (fls. 165).

O prOblema da interinidade foi re-


Os autos subiram ao Tribunal por solvido pelo enquadramento do au-
força da remessa necessária e sem tor, de acordo com as Leis n?s
recursos das partes. A douta 4.069/62 e 4.242/63 e nos termos da
Subprocuradoria-Geral da RepÚbli- Lei n? 3.780/60.
ca, em parecer da lavra do Dr. Pau-
lo Sollberger, foi no sentido da con-
firmação da sentença, pois as situa-
ções, mesmo irregulares, doDesse autor
modo a situação funcional
consolidou-se, através de
consolidam-se com o decurso do
tempo, não sendo mais passíveis de novo ato administrativo, de enqua-
dramento, que no meu entender
qualquer retificação, seja para me- substituiu o primeiro, convalidando
lhor ou para pior (fls. 169/171). a situação funcional originária.

Pauta sem revisão.


Acho, pois, que não mais poderia
ser desfeito o primeiro ato, após en-
É o relatório. quadramento definitivo do autor, pri-
130 TFR - 71

cipa!mente com o ajustamento do A questão, também enfocada sob o


seu cargo ao sistema de classifica- ângulo constitucional, evidencia-se
ção instituído na Lei n? 3~780/60, pa- resolvida em face do art. 177, ,§ 2?,
ra b" que necessârio se faria da CF/67, que automaticamente ou-
analisarem-se atribuições e respon- torgou estabilidade ao autor,
sabilidades, tarefa atribuída a co- criando-lhe, no entender de Pontes
missões especializadas (arts. 20 e 40, de Miranda, direito SUbjetivo e pre-
inciso II). tensões.
o autor, que exercia as suas ativi- «Se a União, o Estado-Membro, o
dades no setor Escolar do Centro de Distrito Federal, o Território, ou o
Treinamento de Tratoristas da Pa- Município se recusa a considerâ-Io
raíba, como encarregado do controle como tal, ou o dispensa ou exonera,
das inscrições dos candidatos aos ou o aposenta, ou o. põe em disponibi-
cursos de Formação de Tratoristas lidade, com o intuito de fraudar a lei
e, ainda, como Encarregado da Dis- ou, sem ser de acordo com a Consti-
ciplina Escolar naquela repartição, tuição, pode o interessado mover-lhe
ViU-l':I~ em face da sua transferência
a ação» (Cf. Comentârios à Consti-
compulsória para o MEC, por força tuição de 1967, Tomo VI, pâg. 424).
do Decreto n? 60.731/67 (art. 6?, § Vale a pena mencionar, também, o
I?) . parecer da Consultoria-Geral da Re-
pública, publicado na Revista de Di-
Foi nessa oportunidade que se reito Administrativo, vol. 115, pâg.
constatou não dispor ele de qualifica- 247, com a seguinte ementa:
ção e aptidão suficientes para o
exercício pleno do seu cargo de ma- «Embora deva a Administra-
gistério, muito ~mbora os pareceris- ção revestir os seus atos de todas
tas fossem favcrâveis à sua perma- as formalidades legais, não é jus-
nência ao Ministério da Agricultura, to que sobre um funcionârio re-
localizado no Centro de Tratoristas caia o ônus da omissão para a
de João Pessoa, conforme opção que qual não concorreu.» (Fls. 162).
manifestou (fls. 134).
A sentença, de sua vez, assegura
que não é funcionârio de fato aquele
Tais opiniões fundavam-se na exis- que, tendo sido nomeado legalmente,
tência do fato consumado situação conquistado a efetividade e atingido
inusitada no âmbito administrativo, o prazo para a aposentadoria, venha
mas que, segundO parecer da Coor- a ser demitido por não possuir titula-
denação de Legislação de Pessoal ridade para o cargo inicialmente
(Colepe), do DASP, ter-se-ia de re- provido. Durante o períOdO em que
solver mediante a simples anulação esteve à disposição do Poder Públi-
do ato de nomeação (fls. 139). co, o servidor descontou inclusive,
para o órgão previdenciârio, o que
o fundamento do vício insanâvel, lhe darâ direito ao prêmiO da apo-
ali adotado, estaria superado, con- sentadoria pro labore facto.
forme salientei, por força da efetiva-
ção ex lege, pois da Lei n? 4.242/63, Por tais motivos, e ainda com
art. 50, é que adveio, mediante nova apoio no proficiente parecer da Sub-
decisão administrativa, publicada no procuradoria-Geral, desacolho a re-
Boletim de Pessoal, de 10 de novem- messa e confirmo a respeitâvel sen-
bro de 1969, e que a Colepe não levou tença.
em consideração. É como voto.
TFR - 71 131

APELAÇAO CRIMINAL N? 3.221 - RN


Relator: O Sr. Ministro José Néri da Silveira
Revisor: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Apelante: Justiça Pública
Apelado: Itamar Hermógenes de Bulhões

EMENTA
Ação penal.
Código Penal, arts. 297, § 1~, e 171, § 3?, combina-
dos com o § 2? do art. 5I.
Falsificação documental comprovada nos autos.
A falsidade foi, entretanto, meio para a prática do
estelionato, crjIDe-fim. Por este é que cumpre, as-
sim, apenar o denunciado, segundo a jurisprudência
do TFR.
Condena-se o réu como incurso no art. 171, § 3?,
do Código Penal, se comprovado haver obtido, para
sI, vantagem ilícita, em prejuízo do INPS, induzindo
e mantendo em erro, mediante a utilização de docu-
mento falso, o estabelecimento pagador do benefício.
Imposta a pena de 20 (vinte) meses de reclusão,
concede-se, todavia, «sursis», em face dos bons ante-
cedentes do acusado.
ACORDA0 rio e notas taquigráficas constantes
dos autos· que ficam fazendo parte
Vistos e relatados os autos em que integrante do presente julgado.
são partes as acima indicadas: Custas como de lei.
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- Brasília, 30 de abril de 1979. (Data
deral de Recursos, por unanimidade, do julgamento). - Ministro José Né-
dar provimento à apelação, pa- ri da Silveira, Presidente e Relator.
ra reformar a sentença e condenar O
denunciado como incurso no art. 171, RELATORIO
§ 3?, do Código Penal, à pena de 20
(vinte) meses de reclusão e multa de O Sr. Ministro José Néri da
Cr$l,OO (um cruzeiro); também, por Silveira: O ilustre Dr. Juiz Federal a
unanimidade, __çonceder, desde lo- quo sumariou a matéria destes au-
go, ao réu, o beneficio da suspensão tos, às fls. 165/166, nestes termos:
condiciônal da pená pelo prazo de 3
(três) anos, mediante as seguintes «O Representante do Ministério
condições: a) exercer atividade líci- Público Federai denunciou Itamar
ta; b comparecer semestralmente à Hermógenes de Bulhões, qualifica-
presença do Dr. Juiz Federal; c) pa- do na inicial, como incurso nas pe-
gar, desde logo, a multa imposta; nas dos arts. 51, § 2?, tudo do Códi-
por último, deliberou ::1 Turmá go Penal, pelo fato delituoso se-
atribuir ao Dr. Juiz Federal a quo a guinte:
competência para presidir a audiên- Em 2-10-72, o indiciado, que é
cia admonitória, na forma do relató- servidor do INPS, lotado na Supe-
132 TFR - 71

rintendência Regional do Rio ção de Seguros Sociais; d) o verda-


Grande do Norte, apresentou ao deiro beneficiário do Carnê n?
caixa do Banco Nacional do Norte 42/200 - 212, é Antônio de Araújo
SI A., agência desta capital, o car- Melo, de quem era procuradora
nê de Autorizacão n? 42/200 - 212, Maria Maura de IVrelo.
emitido pelo INPS, em que figura- Embora modesto funcionário do
va como beneficiário, com direito INPS, percebendo, na época, orde-
a receber o valor no mesmo con- nado mensal que variou entre Cr$
signado, com o nome de José Car- 457,16 e Cr$ 793,69, e sem outra
valho; qualquer fonte de renda, conforme
Ao lhe ser apresentado, pelo indi- suas próprias declarações, ainda
ciado, o Cupão de Autorização de assim o indiciado mantinha, no
Pagamento de Benefício, acima Banco Nacional do Norte SI A, a
descrito, o Caixa-Chefe do esta- conta corrente n? 9.280, cujo extra-
belecimento bancário, que havia to se encontra às fls. 47-A a 55, do
sido já advertido pela Gerência inquérito policial, e pelo qual se
do Banco, recusou-se a efetuar o observa que a movimentação da
pagamento porque, como explicou mesma não corresponde ao que,
perante a autoridade policial, o razoavelmente, seria de esperar de
mencionado «carnê» correspondia quem apenas dispunha de pequeno
exatamente ao número fornecido ordenado mensal.
pelo gerente do Banco, Sr. Jackson O réu foi solto por determinação
Duarte Espinola e que não poderia do então Juiz-Presidente do feito.
ser pago, porque estava irregular»
(depoimento de fls. 5); As fls. 99 e verso, consta o inter-
rogatório do indiciado, o qual nega
a imputação que lhe é feita e que o
Preso em flagrante, não negou o depoimento prestado perante a au-
indiciado a autoria delituosa. toridade policial foi mediante coa-
Levantamento procedido pelo ção.
INPS dá conta de que o desfalque Na instrucão foram inquiridas
patrimonial sofrido pela autarquia, duas testemunhas arroladas na de-
computados os sucessivos recebi- núncia e três arroladas na defesa,
mentos mensais feitos pelo indicia- de fls. 102 e 103.
do durante o período de maio de
1971 a agosto de 1972, atingiu a so- Nas apelações finais,_ a douta
ma de Cr$ 28.320,00 (vinte e oito Procuradoria da República, pede a
mil, trezentos e vinte cruzeiros). procedência da denúncia, enquanto
a defesa, é pela absolvição do acu-
Ainda de acordo com o citado do- sado, por não estar provado ne-
cumento, bem assim o que se en- nhum dos fatos narrados na denún-
contra às fls. 29, verifica-se o se- cia.»
guinte: a) o Carnê n? 42.200 - 212
- INPS, referia-se a aposentado- A sentença, de fls. 166-167, julgou
ria cujo pagamento deveria ser improcedente a denúncia e absolveu
efetuado pelo Banco Industrial de Itamar Hermógenes de Bulhões por
Campina Grande, e não pelo Banco insuficiência de provas: (lê).
Nacional do Norte; b) o valor esti- Apelou, o MPF, com suas razões,
pulado no «cupão» não correspon- às fls. 172-185, pedindo a reforma da
dia ao do benefício a que o seu nú- v. decisão, para condenar-se o acu-
mero correspondia; c) o carnê sado nas penas dos artigos 297, § I?,
apresentado pelo indiciado era em e 171, § 3?, combinados com o § 2?,
modelo já em desuso, na Coordena- do art. 51. do Código Penal: (lê).
TFR - 71 133

Contra-razoes, àS 11s. 177-180: (lê). Diante do exposto, julgo im-


Neste Tribunal, a douta procedente a denúncia de fls., pa-
Subprocuradoria-Geral da Repúbli- ra absolver, como absolvo, o acu-
ca, em parecer de fls. 183-186, opinou sado Itamar Hermógenes de Bu-
pelo provimento do recurso: (lê). lhões, por não ter ficado devida-
mente comprovada a acusação
É o relatório. que lhe foi imputada.»
No interrogatório, às fls. 99 e v., o
VOTO recorrido nega a prática dos delitos
que lhe são atribuídos, afirmando
O Sr. Ministro José Néri da não conhecer o Carnê de autorização
Silveira (Relator): É o réu acusado n? 42/200 - 212, nem a pessoa nele
de, usando «carnê de autorização de referida - José Carvalho, o que an-
pagamento», com nome falso, haver, tes, quanto a este, também o dissera
na condição de servidor do INPS, em na Polícia. Nas declarações presta-
Natal, recebido, indevidamente, da das, na Polícia Federal, às fls. 11-12,
autarquia vítima, no período de assim narrou os fatos o réu: «Que
maio de 1971 a agosto de 1972, a não conhece o beneficiário José de
quantia de Cr$ 28.320,00, através do Carvalho, portador do Cartão de Pa-
Banco Nacional do Norte, na Capital gamento de Benefício n? 200.212; Que
potiguar. A denúncia considera que o não tem procuração do beneficiário
réu praticou os crimes de falsifica- de INPS, José de Carvalho, para re-
~âo e estelionato, tendo-o como in- ceber o benefício do carnê acima
curso nos arts. 297, § I?, e 171, § 3?, mencionado; que efetivamente há
combinados com o art. 51, § 2?, todos mais de dois ãnos vinha recebendo o
do Código Penal. benefício do carnê de autorização de
Entendeu ÜJ magistrado federal a pagamento de benefício n? 200.212,
quo, Dr. Araken Mariz de Faria, en- Código 42, em nome de José de Car-
tretanto, na sentença, não se ter valho; que no dia de hoje cerca de
comprovado devidamente a acusa- 8,40 minutos dirigiu-se para a filial
ção, com os seguintes fundamentos, do Banco Nacional do Norte em Na-
às fls. 166-167: tal: na Av. Rio Branco n? 625, com a
finalidade de receber o dinheiro cor-
«A acusação de que o indiciado respondente ao mês de setembro do
tenha falsificado os carnês, não corrente ano; Que ao chegar na refe-
ficou provada nem através de do- rida agência bancár,i.a procurou ime-
cumentos, nem de prova teste- diatamente o caixa, Sr. Benedito To-
munhal, poiS não há uma só tes- maz de Sena; Que ao procurar o refe-
temunha que afirme ter o acusa- rido caixa, este falou para o decla-
do falsificado os carnês. rante. entrar na fila, pois, existiam
outros; beneficiários para receber di-
As provas materiais são insufi- nheirb e que se o declarante não per-
cientes para uma condenação. manecesse na fila poderia haver re-
Extrato de conta bancária não clamação dos demais; que quando
constitui prova de falsificação chegou a vez do cl.eclarante receber o
documental. dinheiro, o caixa, Benedito Tomaz de
O crime capitulado no art. 171, Sena, afirmou para o declarante que
também p.ão ficou devidamente o carnê estava irregular, o que foi
comprovado, pois não existe pro- surpresa para o declarante; que ime-
va de que o acusado vinha rece- diatamente o referido caixa do ; ban-
bendo continuadamente aquela co recolheu o mencionado carne que
importância. estava em poder do declarante; que
134 TFR - 71

ato contínuo o caixa do banco Bene- após ser interrogado pelo Cel. Bento
dito Tomaz de Sena, fez sinal ao poli- de Medeiros, o declarante foi enca-
cial que estava em serviço na Segu- minhado à Divisão de Polícia Fede-
rança Bàncária e que o mencionado ral/Rl')J.»
policial deu voz de prisão imediata- Certo está que o Cartão de Paga-
mente ao declarante; que a seguir o mento de BenefíCio 41 - 200-212,
declarante foi conduzido preso para emitido em 12-12-1961, em nome de
a Secretaria de Segurança, onde foi José de Carvalho (fls. 20), foi
apresentado ao Cel. Bento de Medei- apreendido em poder do acusado
ros, Diretor da Polícia Civil da Se- (fls. 19). Este não só afirmou que
cretaria de Interior e Segurança do não conhece José de Carvalho, como
Estado do Rio Grande do Norte; que não é procurador do mesmo para
na presença do Cel. Bento Medeiros, qualquer fim.
do Dr. Valério Marinho, Chefe de De outra parte, pelos documentos
Gabinete do Secretário de Interior e oficiais de fls. 34-37, verifica-se que o
Segurança, e de outras pessoas o de- carnê n? 42-200.212 pertence ao segu-
claranteafirmou que realmente há rado Antônio de Araújo Melo, que
mais de dois anos vinha recebendo percebe 6 benefício por intermédio
os pagarr; entos do mencionado carnê de Maria Maura de Melo, cujo Car-
do INPS, cujo beneficiário é um ci- tão de Pagamento de Benefício está
dadão de nome José de Carvalho; às fls. 35, sendo os valores bem infe-
que o declarante na presença das riores aos recebidos pelO réu. Ade-
mencionadas autoridades também mais, o pagamento do carnê 42-
afirmou que os benefícios recebidos 200.212 é feito no Banco Industrial de
irregularmente eram depositados no Campina Grande.
Banco Nacional do Norte, filial de Não resta, pois, qualquer dúvida, a
NataI e que os mesmos eram remeti- meu ver, quanto a se tratar de docu-
dos para o beneficiário que reside mentos falsificados, os de fls. 20 e 21,
em Jaboatão, no Es(ado de Pernam- (a que corresponde a numeração da
buco; que o declarante ainda decla- Polícia Federal - fls. 15 e 16).
rou" desmentindo sua primeira ver-
são,:' que o beneficiário José de Car- Ora, o laudo pericial, de fls. 39-40,
valho vinha mensalmente até Natal afirma que foi o mesmo punhO que
a fim de receber o dinheiro corres- grafou esses documentos, asseveran-
pondente ao carnê mencionado; que do terem sido escritos pelo denuncia-
o declarante não sofreu qualquer do.
coação psíquica ou física ao ser in-
terrogado pelo Cel. Bento de Medei- Dessa sorte, as declarações na fa-
ros, Diretor da Polícia Civil do Esta- se policial estão corroboradas pelas
do; que o declarante é funcionario conclusões da perícia grafotécnica.
autárquico da Previdência Social há Não valem, no particular, as alega-
cerca de 25 anos e que anteriormen- ções do recorrido de ser imprestável
te era servidor do extintQ lAPETEC; dita prova" porque, ao que se obser-
que após a fusão dos Institutos de va de fls. 39-40, foram as conclusões
Previdência Social, o declarante pas- dos técnicos precedidas das necessá-
sou para os quadros funcionais do rias análises, do confronto dos ele-
Instituto NacionaI de Previdência mentos em exame com os padrões
Social, onde, ocupa o cargo de Escri- previamente colhidos.
turário - nível 10, matrícUla n?
14.907; que o declarante atualmente De outra parte, contra o apeladO,
está lotado no Serviço Médico da re- muito _pesam, a meu entender,
ferida autarquia previdênciária; que as declarações na Polícia e no inter-
TFR - 71 135

rogatório, em Juízo, quando aos ven- nada: que referido «carnê» não es-
cimentos percebidos, à época. As- tava no nome do denunciado; que, a
sim, às fls. 47, na 'Polícía, afirmou fotografia existente no mesmo tam-
receber, mensalmente, pouco mais bém não era do çlenunciado; que, no
de Cr$ 800,00. como Escriturário, dia 2 de outubro, qundo o caixa do
nível 10-B; em Juízo, confirmou tal, Banco Nacional do Norte já tinha si-
esclarecendo que, de maio de 1971 a do previamente avisado da irregula-
agosto de 1972, percebeu, em média, ridade do referido carnê,
«vencimentos de pouco mais de 700 apresentou-se o denunciado na Agên-
cruzeiros, mensalmente», explicitan- cia do Banco para, mais uma vez re-
do que «não teve quaisquer outras ceber a importância consignada no
fontes de renda». Ora, não se justifi- carnê, tendo o caixa se recusado a
ca, dessa maneira, pudesse manter o efetuar o pagamento, sendo que na
réu, no Banco Nacional do Norte oportunidade, efetuada a prisão em
S/A., em igual período, movimento, flagrante do denunciado; que o de-
em sua conta corrente, de forma a, nunciado chegou a receber cerca de
mensalmente, e~istirem depósitos de Cr$ 28.000,00.».
valores bem superiores, sendo de Cr$ O fato da prisão do réu, nas cir-
903,75, em setembro de 1971; de Cr$ cunstâncias e pelo motivo antes refe-
1.000,00 no mês seguinte; de Cr$ ridos, está, por igual, comprovado
1.250,00, em· novembro de 1971; de nas declarações, em Juízo, do solda-
Cr$ 2.740,00, em dezembro de 1971; do Palmério Barbosa da Silva (fls.
de Cr$ 1.380,00, em janeiro, feverei- 120 e v.).
ro, março, abril e maio de 1972; de
Cr$ 1.656,00, em junho, julho, agosto, Dessa maneira, a confissão do réu,
setembro, outubro e novembro do na Polícia, não se pode ter, desde lo-
mesmo ano. No documento de fls. 16, go, como retratada, pela só negativa
afirma-se que o montante recebido em Juízo. A confissão, ao contrário,
pelo réu atinge a Cr$ 28.320,00, resul- encontra correspondência nas de-
tando daí fonte suficiente para os de- mais provas trazidas aos autos, in-
pósitos aludidos, máxime, se o de- clusive, na perícia grafotécnica.
nunciado outras fontes de recursos A falsificação documental, toda-
não possuía, como confessou. via, foi, no caso, meio para a prática
do estelionato, crime-fim. Por este é
Quanto à circunstância de o réu que cumpre, assim, apenar o acusa-
ter efetivamente apresentado o Car- do. E da jurisprudência desta Corte
nê de Recebimento de Benefício, no Federal que, se a falsificação de do-
dia do fato descrito na denúncia, ao cumento, público ou particular, se
Caixa do Banco Nacional do Norte destinava a instrumentar outro deli-
S/A., em Natal, está comprovada, to, pelo crime-fim é que responde o
não só pelas declarações do contador réu.
do estabelecimento bancário, iJosé
Sales de Santana, às fls. 8/9, 'e de Dou assim pela procedência da de-
Caixa, Benedito Tomaz de Sena (fls. núncia para condenar o réu como in-
10). As fls. 142 e v., em Juízo, o pri- curso no art. 171, § 3?, do Código Ce-
meiro declarou: «Que na Agên(':a de nal, eis que comprovado haver obti-
Natal o depoente era contador; que, do, para si, vantagem ilícita, em
no mês de outubro de 1972, o denun- prejuízo do INPS, induzindo e man-
ciado apresentou-se ao Banco Nacio- tendo em erro, mediante a utilIzação
nal do Norte, Agência de Natal, com de documento falso, o estabeleci-
o '«carnê» de autorização, com o qual mento pagador do benefício.
já vinha recebendo há 15 ou 16 me- Tendo em conta os antecedentes
ses a importância no mesmo consig- bons do réu, .que era antigo funcioná-
136 TFR - 71

rio do INPS, mas considerando a in- não conduzindo à improcedência da


tensidade de dolo e as conseqüências denúncia.
do crime para a entidade pública, Se a versão dada pela Polícia, pelo
estabeleço a pena-base em um ano e apelado, embora retratada em juízo,
três meses, de reclúsão, que deve ser encontra eco nas demais provas re-
acrescida de um terço, a teor do § 3? colhidas, não há como desacolher a
do art. 171, do CP., do que resulta a denúncia.
pena definitiva de vinte meses de re-
clusão, imponho ainda a multa de Desse modo, dou provimento à
Cr$ 1,00. apelação, para reformar a sentença,
e julgar procedente a denúncia, ape-
A ~ista dos bons antecedentes do nando o apelado na forma do voto do
acusado" concedo, desde logo o be- eminente Ministro-Relator, conce-
nefício da suspensão condicional da dendo, igualmente, o benefício do
execução da pena por três anos, me- «sursis».
diante as seguintes condições: a)
exercer atividade lícita; b) compare-
cer, semestralmente, à presença do EXTRATO DA ATA
Dr. Juiz Federal; c) pagar, desde lo-
go, a multa imposta. Ao Dr. Juiz Fe- ACr. 3.221 - RN - ReI.: Sr. Min.
deral a qw;> atribuo, além disso, a in- José Néri da Silveira. Rev.: Sr. Min.
cumbência de presidir à audiência Carlos Madeira. Apte.: Justiça PÚ-
admonitória. blica. Apdo.: Itamar HerÍnógenes de
Bulhões.
VOTO Decisão: A Turma, por unanimida-
de, deu provimento à apelação, para
O Sr. Ministro Carlos Madeira reformar a sentença e condenar o
(Revisor): O núcleo da prova está no denunciado, como incurso no art.
auto de flagrante e no laudo pericial, 171, § 3?, do Código Penal, à pena de
em que ficou constatada a falsifica- 20 (vinte) meses de reclusão e multa
ção do Carnê de Pagamento, em no- de Cr$ 1,00 (um cruzeiro). Também,
me de segurado que, além de rece- por unanimidade, decidiu conceder,
ber em outro Banco, tinha outra pro- desde logo, ao réu o benefício da sus-
curadora. O fato incontroverso é que pensão condicional da pena pelo pra-
o apelado tinha consigo esse carnê e zo de 3 (três) anos, medíante as se-
o apresentou ao guichê do banco pa- guintes condições: a) exercer ativi-
ra receber a pensão indevida. dade lícita; b) comparecer semes-
tralmente à presença do Dr. Juiz Fe-
Essa prova foi corroborada pela deral; c) pagar, desde logo, a multa
desproporção entre os depósitos fei- imposta. Por último, deliberou a
tos no banco, em nome do apelado, e Turma atribuir ao Dr. Juiz Federal
os vencimentos líquidos que recebia, «a qUO>J la competência para presidir
sendo certo que não recebia outro a audiência admonitória. (em 30-4-79
rendimento. - 4~ Turma)
A falsificação do carnê foi grossei- Os Srs. lVIins. Carlos Madeira,
ra, feita a mão, o que surpreende é Gueiros Leite e Otto Rocha votaram
que o banco o aceitasse, sem ser re- com o Relator. O Exm? Sr. Min. Otto
novado desde 1968. Rocha foi convocado para compor o
De outra parte, embora sej a exten- quorum regimental. Declarou-se im-
sa a prova produzida pela acusação, pedido o Sr. Ministro José Dantas.
o certo é que a prova da defesa em Presidiu o julgamento o Sr. Min.
nada infirmou a versão dos fatos, José Néri da Silveira.
TFR - 71 137

APELAÇÃO CRIMINAL N? 4.452 - SP


Relator: O Sr. Ministro José Dantas
Revisor: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Apelante: Sérgio Levy de Alvarenga Santos
Apelada: Justiça Pública
EMENTA
Criminal. Peculato.
Recebimento de valores, no exercício do cargo,
ocorrido por erro de terceiro. Configurado o delito
pela apropriação do dinheiro destinado a vales pos-
tais, cujo recebimento, porém, não cumpria ao acu-
sado, o tipo a considerar é o do art. 313 do Código
Penal, e não o do art. 312 do mesmo diploma. Des-
classificação consentãnea com o disposto no art. 383
do CPP.
ACORDÃO Santos foi condenado a dois anos e
quatro meses de reclusão e Cr$ 5,30
Vistos e relatados os autos em que de multa, de acordo com o art. 312,
são partes as acima indicadas: caput, c.c. art. 51, § 2?, do Código
Decide a 4~ Turma do Tribuhal Fe- Penal. e assim beneficiado com a
der,al de Recursos, por unanimidade, prisão albergue, mediante compro-
,!lar provimento' à· apelação, para vacão de emprego e atividade lícita.
desclassificar o crime para o tipo do Eis os fundamentos da sentenca do
art. 313 do Código Penal/ e, em con- Juiz Federal J. Kallás: .
seqüência, fixar a pena ém um ano e
dois meses de reclusão e Cr$ ;;i,30 de «É o réu acusado da prática de
multa, concedendo o benefício da um crime de peculato continuado,
suspensão condicional da pena por por ter, sendo servidor do setor de
dois anos, mediante condicões a se- vales postais da agência Centro da
rem fixadas pelo rlíl\í. Juiz, que fica Empresa Brasileira de Correios e
incumbido de realizar a audiência Teléirafos, se apropriado, conti-
admonitória, na forma do relatório e nuadamente, de valores de vales
notas taquigráficas constantes dos postais postados na mencionada
autos, que ficam fazendo parte inte- agência e de que tinha a posse em
grante do presente julgado. razão do cargo.
Custas como de lei. A materialidade do crime resul-
Brasília, 26 de março de 1930 ma- tou sobejamente demonstrada pelo
ta do julgamento) - l\1inistro Aldir levantamento efetuado na agência
G. Passarinho, Presidente - Minis- (fls. 57 e 53), corroborado pelas de-
tro José Fernandes Dantas, Relator. clarações dos emitentes-ll\laria He-
lena da Conceição (fls. ::>5 e 153) e
RELATORIO Elcio l\1artins Fontana,l (fls. 54 e
143 e 224 a 226) e demais provas
O Sr. Ministro José Dantas: Acusa- coligidas.
do de peculado (Cr$ 1.430,00 + Dúvidas' tampouco subsistem
1.443,60), Sérgio Levy de Alvarenga quanto à autoria imputada ao réu.
138 TFR - 71

Com efeito, não obstante a reite- tagem, sendo certo que o tipo físico
rada negativa do acusado, a prova por ela descrito desse servidor cor-
carreada pára os autos não o favo- responde perfeitamente ao do acu-
rece. sado (fls. 55 e 158).
Eis o que, em juízo, disse a res- Bastante incriminador é também
peito o emitente Elcio lVlartins o depoimento do balconista Jair
Fontana, textualmente: «que em Henrique Chrisostomo, que depôs,
princípios de 1974 o depoente pos- textualmente, em Juízo: «que vá-
tou na Agência Centro da ECT rias reclamações foram feitas na
desta Car>ital um vale postal na época dos fatos da denúncia refe-
importância de quinhentos cruzei- rentes a vales postais; que os re-
ros e destinado a Agostinho Sierro, clamantes diziam que os destinatá-
na cidade de Belém do Pará; que o rios do vale postado não haviam
depoente foi atendido pelo acusado recebido a importância remetida;
aqui presente; que o depqente co- que ps usuários exibiam o recibo;
municou nesse mesmo dia, por tele- que, verificou que esses recibos
grama ao destinatário, o· fato de não possuiam segunda via, daí
que havia já encarrÍinhaao ao mes- originando-se.ps susp~itas coptra o
mo aquela importância, em paga- acusado; que se notou tambem aI·
mento de uma dívida; que dois ou gumas rasuras no '1fvro protocolo;
três meses depois o depoente rece- que reconhece como sendo do acu-
beu uma comunicação do referido sado os dizeres manuscritos cons-
destinatário, que lhe dizia não ter tantes dos recibos fotocopiados às
recebido até aquela data a impor- fls. 9, 47 e 48 dos auto::> _e que ora
tância de quinhentos cruzeiros, re- lhes são exibidos; que às vezes o
ferente ao vale postal; que o de- acusado permanecia nà agência
poente dirigiu-se à agência Centro após o expediente; que nessa opor-
e reclamou o fato, sendo que nessa tunidade era procurado por alguns
oportunidade o funcionário disse, usuários; que o depoente viu de
após anotar sua reclamação, que o certa feita o acusado receber algo
fato iria ser apurado; que algum de determinado usuário fora do ex-
tempo depois o depoente foi cha- pediente» (fls. 218 E! 220).
mado à agência dos Correios, onde
o depoente foi reembolsado daque- De resto, o exame grafotécnico
la importância pelos Correios; que de fls. 129 e 131 é conclusivo, no
na época informaram ao depoente sentido de que os lançamentos ma-
que estavam tentando localiza.r o nuscritos dos recibos de emissão e
acusado ,aqui presente» e «que nos certificados de registros de fls. 87,
Correios, um funcionário informou 88 e 90 partiram do punho do acu-
ao depoe'nte que o número do vale sado, documentos estes que se des-
postal de fls. 39 correspondia ao de tinavam a encobrir e a garantir a
uma remessa feita a Brasília» 'fls. apropriação.
224-a 226), Pretende a defesa que o réu nun-
Por outro lado, a emitente Maria ca substituía o caixa, motivo pelo
Helena da Conceição disse que qual não poderia ter recebido qual-
compareceu aos Correios para efe- quer importância e dela se apro-
tuar a remessa de dinheiro através priado.
de vale postal e: como o horário de Entretanto, não foi na condição
atendimento se encontrava encer- de caixa que o réu recebeu as im-
rado, um servidor se prontificou a portâncias apropriadas. Conforme
atendê-la, pedindo-lhe que no dia esclareceram os emitentes, Elcio
seguinte retirasse o recibo de pos- Martins Fontana (fls. 224 e 226} e
TFR - 71 139

Maria Helena da Conceição, (fls. 55 à imprestabilidade da prova da acu-


e 158), o réu os atendeu fora do ex- sação, inclusive pelas contradições
pediente normal da repartição e dps testemunhos. Recorre, em últi-
justamente porque o caixa se en- ma hipótese, à tese de que reparado
contrava'então fechado. o dano antes da denúncia, pelo rece-
bimento dos valores apropriados,
De outra parte" tratando-se de descaracteriza-se o peculato,
peculato doloso, à restituição das recomendando-se a absolvição do
importâncias apropriadas antes do acusado, conforme teria decidido o
oferecimento da denúncia não des- STF CRTJ.74/271) - fls. 266.
caracteriza o crime. Nesse sentido
é o v. acórdão citado pela defesa e o parecer da ilustrada
cuja ementa é a seguinte: Subprocuradoria-Geral da RepÚbli-
ca, lavra do Dr. Hélio Pinheiro, refu-
ta todos esses pontos da defesa, com
«Funcionária da Empresa de argumentação da seguinte ordem:
Correios e Telégrafos. Apropriação
reiterada de valores de registrados «No curso do inquérito policial,
e vales postais confiados a seu car- negou o ora apelante" a autoria do
go. crime que lhe era imputado, alegan-
do que a sua confissão, jeita perante
Restituição das importâncias an- a administração da ECT, se origi-
tes da denúncia. nara de ameaças que c1he haviam si-
11. Sendo doloso o procedimento
do feitas por um servidor da referida
caracterizador do crime de pecula- empresa, de nome Petrônio.
to, não extingue a punibilidade, o Diante disso e malgrado a prova
que soment~ sucede na modalidade já produzida, a tornar i,nquestionável
culposa (CÓdigo Penal, art. 312, §§ a autoria do crime, o digno represen-
2? e 3?). tante do Ministério Público Federal,
IH. Recurso extraordinário pro- sendo-lhe aberta vista inquérito, deu-
vido.» se como sem condicões de oferecer
denúncia, requerendo a baixa dos
(Recurso Extraordinário n? autos à Delegacia de origem para a
80.598 (Cr) - SP (STF - Segunda oitiva de duas testemunhas e o rece-
Turma) Relator: Min. Thompson bimento, por elas, do indiciado. (fls.
Flores. Recorrente: Ministério PÚ- 136 v).
blico FederaL Recorrida: Maria
Aparecida Cruz da Silva. RTJ No cumprimento dessa diligência,
74/291) . ouvida a testemunha,' Elcio Martins
Fontana, não só esctareceu as cir-
Inaplicável, pois, no caso a cau- cunstâncias em que entrou na Agên-
sa especial de extinção da punibili- cia de Correios a quantia de Cr$
dade prevista no § 3? do artigo 312 500,00 (quinhentos cruzeiros), perti-
do Código Penal, que só se refere à nente ao vale postal que endereçava
modalidade culposa de peculato.» a um seu amigo, residente em Be-
- fls. 251/54. lém, Pará, como também descrev~u
pormenprizadamente, as ,caracterís-
Apelou o réu, firme em negar a ticas .físicas do servidor ao quaT fi-
prática do delito, como a vem negan- zera á entrega da referida importân-
do desde o início, mesmo porque não cia (fls. 148).
recebia os valores correspondentes
aos vales postais emitidos, função Posteriormente, colocado diante
que é exclusiva do Caixa. Refere-se de várias pessoas com traços seme-
140 TFR - 71

Ih antes ao do ora apelante, o indicou enviara a um seu irmão, residente


«com presteza e segurança», como na cidade de São Luiz de Quitunde,
sendo « o mesmo que no·dia vinte e no Estado de Alagoas (fls. 55).
dois de abril de 1974, por volta das
17,30 horas praticara o fato de que De qualquer sorte, o depoimento
trata estes autos. (fls. 149). dessa testemunha, que não foi ouvi-
Ouvida em JUÍzo, no curso da ins- da em Juízo, de nenhum modo im-
trução criminal, reproduziu tal teste- fluiu na decisão, o restante da sólida
munha as declarações que prestara prova trazida para os autos sendo
na Polícia, quer no tocante às cir- bastante para justificar a condena-
cunstâncias do fato, como ainda no ção do acusado, a materialidade co-
pertinente à sua autoria pelo acusa- mo a própria autoria do crime sendo
do, presente ao ato. (fls. 224 a 226). também evidenciada através de lau-
do grafotécnico a assegurar serem
Adversa ao ora apelante, outros- de seu punho os grafismos constan-
sim, as demais testemunhas que, ar- tes dos Recibos de Emissão e Certifi-
roladas na denúncia, foram ouvidas cado da Registro constantes de fls.
no sumário, (fls. 218 a 220 e 221). 87, 88 e 90 (laudo fls. 129 a 131).
De nenhumq expressão as declara-
ções das que, arroladas !leIa defesa,
e que ligadas' por laços de parentes- A devolução das quantias de que
co ao acusado, ignoravam por intei- se apossou o ora apelante, no
ro os fatos a este illlPutados, exercício da função e em razão dela,
limitando-se, como era de esperar, a embora feita anterior~~nte à denún-
apontá-lo como um bom moço (fls. cia, não tém no caso em exame o
229 a 230 e 231). condão de extinguir a punibilidade
do crime, pois tanto só ocorre no pe-
Ora, tanto foi reconhecido pelo culato culposo.
ilustre prolator da sentença, ao fixar
a pena (fls. 254), até porque só para Louva-se o douto patrono do ape-
esse fim o poderia ser, pois nenhum lante, para sustentar a ocorrência,
esclarecimento proporcionavam re- no caso, de tal conseqüência, em de-
lativamente ao fato pelo qual se en- cisão proferida pelo Pretório Excel-
contrava o ora apelante processado. so, no julgamento de recurso ex-
traordinário interposto pelo Ministé-
Busca a defesa, apegar-se ao de- rio Público Federal, cuja ementa
pOimento prestado na Polícia, por diz:
Maria Helena da Conceição, eis que
naquele ensejo afirmara face ao «Funcionário da Empresa dos
tempo decorrido, não poder talvez Correios e Telégrafos. Apropria-
reconhecer o acusado, cujo nome ção reiterada de valores registra-
também não lembrava (fls. 158). dos e vales postais confiados a
seu cargo.
Deixa, entretanto, de esclarecer
que essa testemunha, que talvez não Restituição das importâncias
mais pudesse reconhecer o acusado apropriadas antes da denúncia.
face ao tempo decorrido, quando ou- II - Sendo doloso o p~ocedi­
vida na esfera administrativa, em mento caracterizador do crime
1974, próximo, portanto o fato, afir- de peculato, não extingue a puni-
mou que poderia reconhecer, desde bilidade o que somente sucede na
que lhe fosse apresentada, a pessoa modalidade culposa (Código Pe-
a quem entregara o dinheiro em que nal, art. 312, §§ 2? e 3?).
TFR - 71 141

III - Recurso extraordinário to, com exaustiva demonstração do


provido». acerto da sentença, no concernente à
Causa perplexidade que, a essa merecida e cabível condenação do
decisão, por tal forma diametral- apelante pela indevida apropriação
mente oposta à tese sustentada pe- das mencionadas quantias.
la defesa se apegue esta, com Entretanto, do detido E;xame dos
unhas e dentes, para invocá-la em autos, restou-me séria dúvida sobre
favor do apelante, ao qual se impu- a exata classificação jundica do fato
ta, na denúncia a autoria do crime descrito pela denúncia e efetivamen-
de peculato definido no caput do te provado na instrução.
art. 312 do Código Penal.
O ressarcimento do dano que, no A respeito dessa classificação,
caso, nem mesmo foi voluntário, impressionou-me a relevante cir-
feita a reposição para que o ape- cqnstância de que as importâncias
lante se pudesse livrar da prisão vindas ao poder do réu, ao todo Cr$
administrativa contra ele decreta- 2.S78,60, o~ foram por erro dos usuá-
da pelo Ministro de Estado das Co- rios dos serviços postais, tanto
municações, só tem como conse- confiaram-lhe o pagamento de valo-
qüência, quandO voluntariamente res que somente poderiam ser rece-
operado, influir como circunstân- bidos pelo Caixa.
cia atenuante, dirigindo-se, assim, Foi o que disseram os dois funcio-
à fixação da pena (art. 48, b do
C.P.). nários lotados, ao t~mpo, naquela
mesma agência da ECT, consoante
Ocorre que, na hipótese sob exa- os seguinte tópicos dé seus respecti-
me, o douto prolator da respeitável vos depoimentos.
sentença condenatória, levando em
conta as diretrizes traçadas pelo I?) Jair Henrique Chrisóstomo:
art. 42 do Código Penal, fixou a «que no setor de vales postais
pena-base no mínimo cominado ao trabalhavam um caixa no perío-
crime de pecutato e sobre esta fez do da manhã e outro no períOdO
incidir o acréscimo de um sexto, da tarde, uma pessoa no guichê
pela contimli'dade delitiva, tornan- de requis'ição no período da ma-
do definitiva a reprimenda em dois nhã e outra no período da tarde;
anos e quatro meses de reclusão. e uma pessoa no balcão de ma-
Fixou, outrossim, no mínimo, a pe- nhã e outra à tarde; que ao todo
na da multa, vigente ao tempo do trabalhavam por dia seis pessoas
fato. no setor; que eram três gui-
chês ao todo; que não era há-
Não pode assim a sanção impos- bito funcionários dos Correios re-
ta sofrer crítica," benígna que se ceberem gratificações dos usuá-
apresenta» - fls. 279/82. rios; que não foi designado ófi-
E o relatório. cialmente para verificar o ocorri-
do, embora tivesse tomado parte
nals investigações; que na parte
VOTO da tarde era permitido horário
de café apenas após o horário de
O Sr. Ministro José Dantas (Rela- expediente; que na parte da tar-
tor): Senho,r Presidente, evidente- de não era comum a assinatura
mente insustentáveis são todos os de recibos em branco; que o de-
pontos da i'rresignação "do réu, con- poente e o acusado só trabalha-
forme os termos do parecer transcri- vam na parte da tarde no setor
142 TFR - 71

de emissão de vales postais; que fechada, mas que mesmo assim o


só o caixa é que recebe as impor- depoente poderia ser atendt.::-·. des-
tâncias referentes aos vales; que de que recebesse somente no dia
o acusado nunca exerceu a fun- seguinte o comprovante resp~ctivo;
ção de caixa» - fls. 219. que o depoente entregou a impor-
E mais ainda: tância ao acusado e no dia seguinte
voltou, quando então recebeu do
que quem assina e emite o che- acusado o respectivo comprovante;
que é o caixa, que o passa para que entregou ao acusado a impor-
quem tem a.função de emitir o re- tância referida às taxas» - fls.
cibo; que emitido o recibo'\o funcio- 225.
nário entrega a via original do re-
cibo ao usuário e passa o cheque Ora, tais dados parecem favorecer
para o funcionário da retaguarda, o réu, referentemente à apenação
que tem a incumbência de dar a mais benígna da apropriação de tais
saída do cheque, após preenchê-lo; valores, consoante o tipo especifica-
- fls. 220. do no art. 313, e não no art. 312, do
Código Penal. De fato, se jamais o
2?) Antenor Alvares: «que na é- réu exerceu a função de caixa, única
poca dos fatos referidos denuncia o autorizada a receber os valores da
acusado trabalhava no referido se- expedição de vales postais, obvia-
tor, na retaguarda e como balco- mente os ditos valores não vieram a
nista; que essas, funções eram sua posse em razão do cargo (art.
também exercidas pela testemunha 312), mas, sim, os recebeu no
Jair, que o acusado é Jair, às vezes exercício do cargo, por erro de ou-
se substituiam reciprocamente; que trem (art. 313), qual o erro daqueles
ambos entretanto nunca substi- usuários que confiaram no seu servi-
tuiam o caixa.» - fls. 221. ço, do réu, até mesmo fora do expe-
E mais adiante: diente, na suposição de que era fun-
ção sua atendê-los no recebimento
«q1Je só o caixa mexia com nu- de valores.
merários; que havia revesamento
entre o acusado e Jair; que após o Configurou-se, pois, o peculato-
encerramento do expediente não estelionato, a que se referia o mes-
era ..,permitido o atendimento ao tre Hungria, em com~ntando o exa-
usuário; que após o encerramento minado art. 313 do Código Penal, co-
do expediente havia a conferência, mo exemplificação ôem semelhante
sendo que o caixa se encerrava e . à hipótese dos autos ao aludir ao fun·
dava continuidade no encerramen- cionário postal que, não competente
to do expediente» - fls. 221. para o respectivo registro, recebe
por erro, para registrar, uma carta
Nessa mesma linha de afirmacão com valor, violando-a para
de que o réu não recebeu regufar- apropriar-se do dinheiro ou utilidade
mente aquelas importâncias, senão nela contida - Comentários aos Có-
que por erro dos usuários, é o depoi- digo Penal, voI. IX, pág. 351/52.
mento de Élcio Martins Fontana, Em face dessas considerações,
verbis; louvo-me no art. 383 do CPP para
dar ao fato descrito na denúncia nova
«que o depoente chegou ao Cor- definição jurídica, sobremodo favo-
reio e foi atendido pelo acusado, recedora do réu e consentânea, em
que disse ao depoente que a seção parte, com sua própria defesa.
de Vales Postais já se encontrava Aplico-lhe as penas do art. 313 do CÓ-
TFR - 71 143

digo Penal, no quantitativo mínimo Pela pequena quantidade de vales


de um ano de reclusão e Cr$ 5,00 por ele expedidos com recebimentos
(cinco cruzeiros) de multa, com au- de valores, numa agência de grande
mento de de 1/6 (um sexto) reco- movimento, no centro de São Paulo,
mendado pelo art. 51, § 2?, do mesmo deduz-se que a apropriação desses
diploma, e assim concretizada em valores foi ocasional, aproveitando-
um ano e dois meses de reclusão e se o acusado das irregularidade da
Cr$ 5,80 (cinco cruzeiros e oitenta emissão.
centavos) de multa.
Dessa forma, e considerando a pri- O delito amolda-se melhor à nor-
mariedade e os bons antecedentes do ma do art. 313 do Código Penal, pelo
réú, como já os frisou a r. sentença que assim o classifico, para o fim
àpelada, concedo a suspensão da pe- de, considerando os dados elementa-
na por dois anos, mediante condi- res com o que o Juiz dosou a pena,
ções, cujo estabelecimento delego ao reformar em parte a sentença, a fim
juiz a quo, como delego a efetivação de condenar o réu a um ano de re-
da audiência admonitória. clusão e multa de Cr$ 5,00, com a
Eis como dou parcial provimento à agravação prevista no art. 51, § 2? do
apelação. Código PenaL
Concedo o sursis, nos termos do
VOTO voto do Relator.
O Sr. Ministro Carlos Madeira
(Revisor): O apego da defesa à tese
de extinção da punibilidade, pelo de- EXTRATO DA ATA
pósito da importância desviada, an-
tes do oferecimento da denúncia, re- ACr 4.452 - SP - ReI. Min. José
vela a insegurança nas demais pro- Dantas. Rev.: Sr. Min. Carlos Madei-
vas apresentadas visando a afastar ra. Apte.: Sérgio Levy de Alvarenga
a culpabilidade do réu. Santos. Apda: Justiça Pública.

A prova da acusação é segura no Decisão: A Turma, por unanimida-


sentido de configurar a cOjlduta deli- de, deu parcial provimento à apela-
tuosa. Funcionário da ECT, na se- ção, para desclassificar o crime pa-
ção de vales postais, con~eguiu o réu ra o tipo do art.313 do Código Penal,
emitir vários deles, ficticiamente, e, em conseqüência, fixar a pena em
apropriando-se dos valores respecti- um ano e dois meses de reclusão e
vos e das taxas. A prova dessa emis- Çr$ 5,80 de multa, concedendo o be-
são foi feita com a maior cautela, in- nefício da suspensão condicional da
çlusive com o exame documentoscó- pena por dois anos, mediante condi-
pico dos recibos de emissão. ções a serem fixadas pelo MM. Juiz,
que fica incumbido de realizar a au-
Tenho, porém, que, no caso, houve diência admonitória. (Em 26-3-80 -
4~ Turma).
erro dos emitentes. O réu não tinha
atribuição de receber o valor dos va-
les, pois na agência há um caixa. O Os Srs. Ministros Carlos Madeira,
pagamento a ele, fora do horário do Evandro Gueiros Leite e Aldir Gui-
expediente, era feito indevidamente marães Passarinho votaram de
e não há prova de que tenha agido acordo com o Relator. Presidiu o jul-
ardilosamente para que assim ocor- gamento o Sr. Ministro Aldir Guima-
resse. rães Passarinho.
144 TFR - 71

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 76.365 - RS


Relator: O Sr. Ministro José Néri da Silveira
Apelante: Financiadora Volkswagen SI A - Crédito, Financiamento e In-
vestimentos
Apelada: União Federal.
EMENTA
Alienação fiduciária.
Contrato de compra e venda com financiamento
somente arquivado no Registro Público muitos me-
ses após a apreensão fiscal do veículo, não se pro-
vando, também, constasse do certificado de proprie-
dade referência ao gravame em favor da instituição
financeira interessada.
Lei n? 4.728/1965, com a redação dada pelo
Decreto-Lei n? 911/1969, art. 66, § 1~.
Ínviabilidade de opor a alienação fiduciária con-
tra a Fazenda Nacional, no caso, que se há de ter co-
mo terceiro de boa-fé, ao promover a apreensão do
veículo, sendo de se destacarem ainda, os privilégios
especiais de que goza a União Federal, ut arts. 123,184 e
186,doCTN.
A cessão do carro posteriormente feita pela Fazen-
da Federal à Secretaria de Saúde do Estado possui am-
paro legal.
Segurança indeferida.
Apelação a que se nega provimento.

ACORDÃO RELATO RIO


Vistos, relatados e discutidos estes
autos, em que são partes as acima o Sr. Ministro José Néri da Silvei-
indicadas: ra: Trata-se de mandado de seguran-
ça relatado, às fls. 59/61, pelo ilustre
Decide a Terceira Turma do Tri- Juiz Federal a quo nestes termos:
bunal Federal de Recursos, por una-
nimidade, negar provimento à ({Vistos e examinados os presen-
apelação, na forma do relatório e no- tes autos processuais (apensa-
tas taquigráficas precedentes que fi- dos) dos mandados de segurança
cam fazendo parte integrante do pre- que Financiadora VolkswagenS/ A
sente julgado. - Crédito Financiarbento e In-
vestimentos, sediada em São
Custas como de lei. Bernardo do Campo, SP, impetra
Brasília, 28 de novembro de 1975 para se amparar judicialmente
(Data do julgamento). - Ministro contra atos emanados do Sr. De-
José Néri da Silveira, Presidente e legado da Receita Federal em
Relator. Passo Fundo, RS, e do Sr. Supe-
TFR - 71 145

rintendente Regional da Receita Campo, SP, uma ação de busca e


Federal da Décima Região Fis- apreensão contra Alvísio de Oli-
cal. veira, já que tornara-se ele ina-
Em síntese, alega a impetrante dimplente no contrato de finan-
que a Delegacia da Receita Fe- ciamento. Vindo a carta precató-
deral em Passo Fundo moveu ria à Comarca de Cerro Largo,
processo administrativo fiscal RS, pleiteando e obtendo a revo-
contra Alvísio de Oliveira, gação do cumprimento da medi-
fiduciante-alienante-devedor da da constritiva, sob o argumento
impetrante, eis que, quando diri- de que fora aplicada a penalida-
gia a camiJ;lhoneta, perua Kombi, de consistente na perda da cami-
marca Volkswagen, modelo 1967, nhoneta, com subseqüente cessão
motor BH~L549, chassis n? B7- da mesma em favor do Estado.
116.048, cor pérola e vermelho, Face a tais fatos, invocando a
foi tal veículo objeto de apreen- sua qualidade de proprietária-
são formalizada pela Agência da fiduciária do automotor, pleiteia
Receita Federal em Porto Xa- a segurança, para os efeitos de
vier, RS, no dia 19.8.72, em de- serem anuladas apreensão fiscal
corrência de infração fiscal capi- definitiva e a conseqüente doação
tulada nos arts. 94 e 95, com apli- do bem.
cação das penalidades nos arts.
104 e 105, tudo do Decreto-Lei n? RequiSitadas as informações,
37/66, constando que o automotor foram as mesmas prestadas em
estava transportando mercado- ambos os feitos pelas duas ilus-
rias estrangeiras ao desabrigo de tres autoridades impetradas, sus-
documentação fiscal comprobató- tentando a legalidade dos atos
ria de sua legal introdução no impugnados e salientando que o
território nacional. Teria o infra- contrato de alienação fiduciária
tor apresentado defesa, esclare- só fora arquivado no Registro de
cendo que o veículo estava alie- Títulos e Documentos em data
nado fiduciariamente em nome muito posterior à apreensão fis-
da ora impetrante, conforme cer- cal e que o infrator Alvísio de
tificado de propriedade, ao mes- Oliveira não recolhera totalmen-
mo tempo em que teria pago o te o tributo devido, mas apenas
imposto de importação relativo uma parte.
às mercadorias. Não obstante is-
to, o primeiro impetrado teria
decidido pela procedência da Oficiou o ilustrado órgão do Mi-
apreensão e pela aplicação da nistério Público Federal, opinan-
pena de perda da viatura, sem do em ambos os pleitos pela de-
que a impetrante tivesse sido in- negação da segurança, em
timada da apreensão, decisão es- princípio pelas mesmas razões
sa de 16.4.74. Ao depois, o segun- expostas nas peças informati-
do impetrado incorporou dito vas.»
veículo definitivamente ao patri-
mônio da União e, através do ato A sentença, de fls. 61/62, denegou
declaratório n? 33, de 3.10.74, o a segurança: (lê).
cedeu ao Estado do Rio Grande
do Sul - Secretaria de Estado da
Saúde. Entretanto, em 26.8.74, a Apelo da impetrante, às fls. 65/79:
impetrante intentara, no Foro da (lê). Contra-razões, às fls. 81/86:
Comarca de São Bernardo do (lê).
146 TFR - 71

A douta Subprocuradoria-Geral da status anterior, com a posse do bem


República, às fls. 89/90, opinou pela pelo Médico~Chefe do P AMS de Por-
confirmação da r. sentença recorri- to Xavier -'RS (Fls. 35).
da.
Ora, a cessão do veículo, impugna-
É o relatório. da na inicial, encontra amparo em
normas referidas às fls. 45, sendo no
particular resultante de ato de auto-
VOTO ridade competente. (Decreto-Lei n?
1.184/1971, art. 13; Portaria Ministe-
rial n? 253/72, I, Instrução Normati-
O Sr. Ministro José Néri da va SRF n? 43, de 16.11.72, itens 2 e
Silveira (Relator): O mandado de se- 3) .
gurança foi requerido «para o fim de
ser declarada nula a doação efetua-
da pela autoridade impetrada a fa- De outra parte, a perda do veículo,
vor da Secretaria de Estado dos Ne- como decretada no caso, possuía
gócioS da Saúde do Rio Grande do amparo legal nos arts. 104, V e 105,
.sul, para uso do P AMS - Posto de IH, do Decreto-Lei n? 37/1966, o que
Assistência Médica Sanitária - Uni- ocorreu após procedimento fiscal re-
dade de Porto Xavier, através o Ato gular.
Declaratório n? 33, de 3.10.1974,» vis-
to que «a persistir a cessão do veícu-
lo, a busca e apreensão requerida Por outro lado, a teor da Lei n?
pela impetrante e que não comporta 4.728/1965, com a redação dada pelo
purgação da mora, se tornará in- Decreto-Lei n? 911/1969 através de
frutífé'a, causando séria lesão ao seu art. 66, § I?:
patrimônio da impetrante», susten-
tando que o veículo não pertence ao § I? - A alienação fiduciária
infrator, mas, sim, à impetrante. somente se prova por escrito e
seu instrumento públiCO ou parti-
Ao que se vê do Termo de Incorpo- cular, qualquer que seja o seu
ração, de fls. 43, de 3.1~U974, veio a valor, será obrigatoriamente ar-
camioneta Kombi (Volkswagen), an- quivado, por cópia ou rrücrofil-
tes apreendida e objetó da inicial, a me, no Registro de Títulos e Do-
ser incorporada à Fazenda Nacional, cumentos do domicílio do credor,
à vista do Ato Declaratório n? 33, da sob pena de não valer contra ter-
mesma data. A inicial do mandado ceiros e conterá (omissis).»
de segurança é de março de 1975.
Ora, in casu, bem anotaram as in-
formações, às fls. 47:
Anteriormente, a 9.12.1974, o Dr.
Juiz Adjunto da Comarça de Cerro
Largo - RS atendera à solicitação «10. O diêPositivo supra, portan-
do Agente da Receita Federal, nos to, não foi respeitado, pois a
autos da carta precatória de busca e apreensão do veículo deu-se em
apreensão do mesmo veículo, oriun- 19.8.72, e o «Contrato de Venda e
da da Comarca de São Bernardo do Compra de Veículo com Finan-
Campo, SP, em face da anterior in- ciamento e de outras Avenças»
corporação do bem ao patrimônio só foi levado ao Registro Público
nacional, ordenando permanecesse o em 19.2.74, isto é, 18 meses de-
TFR - 71 147

pois, conforme documento trazi- A meu entender, pois, decidiu o


do à colação pela própria postu- mandado de segurança, de maneira
lante. A alienação fiduçiária não incensurável. o ilustre Juiz Federal,
pode ser, por isso, oponível con- Bento Gabriel da Costa Fontoura, às
tra terceiros, máxime contra a fls. 61/62, nestes termos:
Fazenda Pública, que goza de ga-
rantias e privilégios especiais; à
luz dos artigos 123, 184 e 186, en- «Pelo exame de documentação
tre outros, do Código Tributário produzida nos autos do~ dois fei-
Nacional (Lei n? S, 172/66) que, tos, os quais se encontram apen-
como lei complementar à Consti- sados, verifica-se que i a deman-
tuição Federal, sObrepôe-se à le- dante financiou a compra da ca-
gislação ordinária no que esta minhoneta para Alvísio de Olivei-
atritar com aquela. ra, aquisição essa feita à Auto
Técnica Limitada, sendo o perti-
nente contrato de compra-e-
11. Embora não podendo rea- venda com financiamento cele-
ver o veículo, não fica, absoluta- brado em maio de 1972. Entre-
mente, desamparada a impetran- tando, o seu instrumento só veio
te, pois possui garantias mais do a ser arquivado no Cartório dos
que suficiente. Pode acionar dire- Registros Públicos da Comarca
tamente o comprador-alienante- de São Bernardo do Campo, SP,
autuado, executando-o (Dec-Lei em 19 de fevereiro de 1974, isto é,
n? 911/69 - art. 5?), ou, se prefe- quase dois anos depois, quando a
rir, ressarcir-se junto à vendedo- apreensão fiscal foi procedida
ra ou ao ávalista, que são solida- em 19 de agosto de 1972. Por ou-
riamente responsáveis com o tro lado, nos autos não há prova
comprador, nos termos do con- de que constasse no certificado
trato.» de propriedade do automotor re-
ferência ao gravame em favor da
instituição financeira interessa-
A alegação de extinção da punibili- da.
dade do infrator, porque teria pago o
imposto relativo às mercadorias, ut Já decidiu o Pretório Excelso
art. 18, § 2?, do Decreto-Lei n? 157 - 1~ Turma, em i.nstância derra-
/1967, é contraditada, pela autorida- deira:
de coatora, com o fato de não ter
ocorrido recolhimento da totalidade
do tributo devido, mas apenas de «Alienação fiduciária. Para ser
parte dele, e também com a norma oponível a terceiros de boa-fé,
do art. 103, do Decreto-Lei n? 37, de não basta que o contrato de aber-
1966, segundo o qual, tura de crédito esteja arquivado
no Registro Público: - é neces-
«Art. 103 - A aplicação da pe- sário o certificado de proprieda-
nalidade fiscal, e seu cumpri- de devidamente gravado pela fi-
mento, não elidem, em caso al- dúcia.»
gum, o pagamento dos tributos
devidos e a regularização cam- (Cf. Recurso Extraordinário n?
bial, nem prejudicam a aplicação 78.512, de São Paulo. Rel.: Min.
das penalidades cominadas para Aliomar Baleeiro, acórdão de
o mesmo fato pela legislação cri- 23.8:74 - Diário da Justiça de
minal e especial.» 4.11.74, pág. 8.176). Ademais, pa-
148 TFR - 71

ra valer contra terceiros, a alie- Releva, ainda, observar, os termos


nação fiduciária deve estar pre- da decisão desta Turma no AMS n?
viamente arquivada no Ofício de 65.843, em acórdão publIcado no D.J.
Registro de Títulos e Documen- de 27.4.1971, de que foi relator o ilus-
tos do domicílio do credor, (Lei tre Ministro Márcio Ribeiro e com
n? 4.728, de 14.7.65, art. 66, § I?, muita propriedade invocados pela
com a redação dada pelo culta Procuradora da República,
Decreto-Lei n? 911, de 1? .10.1969). Dra. Ellen Gracie Northfleet Pal-
meiro da Fontoura, às fls 83/86, in
"erbis:
Ora, o fisco nacional é terceiro
de boa fé em relação ao negócio
jurídico de garantia e, no caso «O interesse público é sempre
sub judice, o arquivamento regis- superior ao privado e, no caso,
tário do instrumento contratual esse princípio é de prevalecer,
se consumou um ano e meio após pois, no combate ao contrabando,
a apreensão fiscal, o que torna que é medida pública, as penas
essa diligência inócua para asse- aplicadas pelo poder pÚblico têm
gurar os direitos da credora, sal- que ser eficazes e não podem fi-
vo contra o próprio alienante de- car subordinadas a obrigações
vedor e seu garante. entre particulares.

De tal sorte, merece sucumbir


a acionante, data venia dos esfor- «Ainda, é de se atentar para o
ços empreendidos pelo seu culto fato de que o credor fiduciário,
e laborioso patrono, consignando- ou o sub-rogado, como no caso
se, entanto, que se deixa de con- em exame, não está destituído da
ceder o almejado «writ of manda- garantia do seu crédito, pois a
mus» tão-só em virtude da ques- alienação fiduciária do bem é,
tão temporal analisada, pois, ti- apenas, uma das garantias do
vesse a demandante providencia- contrato eis que, emitindo títulos
do no arquivamento em tempo cambiais passíveiS de ação exe-
hábil, isto é, antes da apreensão, cutiva, o patrimôniO pessoal do
e lhe seria deferido o juízo de devedor fiduciante também res-
amparo para resguardo de seus ponde pela dívida.
interesses, desde que ocorridos
os atos de autoridade que impug- «O emérito Professor Orlando
na. Gomes, em excelente monografia
sobre a alineção fiduciária, pon-
dera: Se o devedor não cumpre a
Ex positis, apreciando os dois obrigação ou em mora, tem o
feitos cujos autos se acham apen- credor à sua disposição diversos
sados, denego a seJmrança impe- meios judiciais para exercer a
trada por Financiadora Volkswa- pretensão inerente a seu direito
gen SI A - Crédito, Financia- de crédito.
mento e Investimentos contra .............................. »
atos emanados do Sr. Delegado
da Receita Federal em Passo
Fundo, RS, e do Sr. Superinten- Considerando que, na alienação
dente Regional da Receita Fede- fiduciária em garantia, o deve-
ral da Décima Região Fiscal.» dor vende o bem para garantir o
TFR - 71 149

pagamento da dívida, o normal é viamente sua liberação encontra-


que utilize a garantia para a rea- ria mais esse obstáculo jUdicial.»
lização do crédito no caso de ina- De todo o exposto, nego provimen-
dimplemento, concentrando no to à apelação. Não há como reconhe-
bem que a representa o seu po- cer, in casu, direito certo e líquido,
der de agressão, tanto mais fácil em favor da impetrante.
de ser exercido quanto autoriza-
da a venda extrajudicial desse
bem. Não raro, porém, o preço VOTO
que poderá nessa venda, ou em
~enda judicial, não será bastante o Sr. Ministro Aldir G.
à liquidação da divida, de sorte Passarinho: Sr. Presidente, firmo o
que terá de acionar o devedor pa- meu pronunciamento precipuamente
ra receber o que faltou. na questão do registro do instrumen-
to da alienação fiduciária, que só foi
efetuada meses depois da apreensão
Prescreve a lei que este conti- do bem.
nua responSável pelo saldo deve-
dor, mas, pessoalmente, sujeito, Na oportunidade, deixo de
por conseguinte ao concurso, sem adentrar-me nas considerações ou-
a posição privilegiada, inclusive, tras sobre a natureza jurídica da
processualmente do credor que alienação fiduciária, no tocante a
tem garantia real. Oferece-lhe a permitir essa apreensão, porque en-
lei, se não quer correr esses ris- volve, inclusive, aspectos fáticos, de-
cos, um meio pronto e eficiente vendo ser examipada até mesmo a
de tentar, de uma só vez, o rece- questão da boa-fé do impetrante.
bimento integral da dívida, dis- Parece-me que, \:ie logo, essa ques-
pondQ que se ele preferir recor- tão pode ser afastada em face de o
rer à ação executiva, serão pe- registro do instrumento contratual
nhorados -tantos bens do devedor ter sido efetuado tempos depois da
quantos bastem para assegurar a apreensão.
execução. Este é o ponto base em que se fir-
ma o meu voto.
«Tem, pois, o fiduciário, na sua Assim, acompanho V. Exa.
qualidade de credor, essa opção. E meu voto.
Pode, em outras palavras, des-
prezar a garantia, renunciar à
prerrogativa de vender o bem, EXTRATO DA ATA
para exercer o seu pOder de
agressão contra o patrimônio do AMS 76.365 - RS - ReI.: Sr. Min.
devedor. Responde este, pelo ina- José Néri da Silveira. Apte.: Finan-
dimplemento da obrigação, com ciadora Volkswagen SI A - Crédito,
todos os seus bens, desvirtuando- Financiamento e Investimentos. Ap-
se, desse modo, a sujeição, pró- da.: União Federal.
pria e essencial das garantias Decisão:Por unanimidade, a Tur-
reais» (Alienação Fiduciária em ma negou provimento à apelação.
Garantia, págs. 116 e 123/124). (Em 28.11.75 - 3~ Turma).
Os Srs. Ministros Aldir Guimarães
«IV - Finalmente, estabelecen- Passarinho e Otto Rocha votaram de
dó o art. 74, do Código Penal, co- acordo com o Sr. Ministro Relator.
mo efeito da condenação, a perda Presidiu o julgamento o Sr. Ministro
do bem em favor da União, ob- José Néri da Silveira~
150 TFR - 71

APELACÁO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 78.336 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Carlos Mário Velloso
Remetente Ex Officio: Juiz Federal da 1~ Vara
Apelante: Xerox do Brasil SI A - Reproduções Gráficas
Apelada: União Federal
EMENTA

Tributário. Consulta - Lançamento - Revisão -


CTN, arts. 96, 100, I, 147, § 2?, 145, IH, 149, VI, § único, e
173, I.
I - Se da decisão que resolve a consulta não cabe,
consoante a legislação procedimental, recurso, deve a
consulente orientar-se, a partir da citada decisão, por
esta, por isso que recursos incabíveis e pedidos de re-
consideração não têm o condão de suspender os efeitos
da decisão definitiva. No caso, a consulta se viu preju-
dicada, com a edição do Parecer Normativo CST n?
388/71, que pôs fim, por inteiro, a qualquer dúvida que a
impetrante pudesse ter a respeito da classificação fis-
cal de seus produtos, certo que os pareceres normati-
vos são normas complementares compreendidas no
conceito de «Legislação Tributária» (CTN, arts. 96 e
100, I).
H - Revisão de lançamento feita com obediência
ao preceituado na lei (CTN, art. 147, § 2?, c.c. art. 145,
In e art. 149, VI), quando ainda não extinto o direito da
Fazenda Pública (CTN, art. 149, § único, combinado
com o art. 173, I) .
IH - Recurso desprovido.

ACORDA0 Brasília, 13 de novembro de 1978.


- Ministro Armando Rolemberg,
Vistos, relatados e discutidos estes Presidente - Ministro Carlos Mário
autos, em que são partes as acima Venoso, Relator.
indicadas:
RELATORIO
Decide a Terceira TUl'ma do Tri-
bunal Federal de Recursos, por una-
nimidade, negar provimento à apela- o Sr. Ministro Carlos Mário
ção, na forma do relatório e notas Venoso: A r. sentença recorrida, às
taquigráficas anexas, que ficam fa- fls. 220/227, assim sumariou a espé-
zendo parte integrante do presente cie:
julgado. «Xerox do Brasil SI A - Repro-
Custas como de lei. duções Gráficas, impetra Manda-
TFR - 71 151

do de Segurança contra ato dito vedora remissa, abstendo-se de


ilegal do E~mo. Sr. Inspetor da lhe impor as sanções respectivas;
1~ Inspetoria da Receita Fede- 3) obstar que o Sr. Inspetor da
ral, que exigiu diferenças devi- Receita Federal proceda à revi-
das de imposto de importação e são dos lançamentos sobre im-
imposto sobre produtos industria- portações realizadas, tendo por
lizados, inclusive multas relati- objeto diferenças de tributos e
vas a este, decorrentes de impor- cobrança de eventuais ilegalida-
tações realizadas pela impetran- des, por haverem se extingüido
te. pelo pagamento.
Os equipamentos importados Junta documentos de fls. 22 a
se classificavam, genericamente, 160.
na posição 84.83, da Tarifa das
Alfândegas, implicando nas se- Foi deferida liminar pelo prazo
guintes alíquotas: legal, somente quanto ao 2? item.
- Imposto de importação - A impetrada prestou informa-
15% ções, sustentando que:
. O Parecer Normativo n? 388
- Imposto sobre produtos in- de 26.5.71, da Coordenação do
dustrializados - 5% Sistema de Tributação, o qual,
Posteriormente, a Coordenação tomando por base Notas Explica-
do Sistema de Tributação, em tivas de Bruxelas e o Comitê de
2.8.71, com base na nomenclatura Nomenclaturas do Conselho de
de Bruxelas, decidiu que as Cooperação Aduaneira de Bruxe-
alíquotas deveriam ser 30% e las, manda classificar todas as
18% respectivamente, decisão copiadoras, do tipo daquelas im-
mantida pela Coordenação do portadas pela jmpetrante, na posi-
Sistema de Tributação. Foi con- ção tarifária 90.07.01.99.
firmada a decisão pelO Parecer Todas as decisões prOferidas
CST n? 62 de 8.3.72, publicado a em processo de Consultà haviam
27.3.72. sido revogadas t>ela Instrução
A autoridade impetrada resol- Normativa n? 9, de6.10.69.
veu aplicar retroativamente o no- A Norma de Execução n? 1, de
vo critério, exigindo diferenças 21.1.70, da CST, em seu item IH
com multas. A impetrante recor- determina:
reu ao Quarto Conselho de Con-
tribuintes, que manteve a penali- «Se a decisão dada à Consul-
dade de 100% prevista no art. 156 ta reiterada modificar total ou
II do Decreto n? 61.514/67. parcialmente o entendimento
Foi agora intimada a recolher anterior, ela somente começará
o débito, no prazo de 30 dias, ou a produzir efeitos na data em
sofrer a declaração de devedora que o contribuinte foi cientifica-
remissa (art. 168 do Decreto n? do, devendo este ajustar-se à
61.514/67) . nova orientação no prazo de 30
dias, a contar da ciência, sob
Pede medida liminar para o pena de ficar sujeito, a partir
fim de que: de então, às sanções fiscais
1) não seja compelida a reco- cabíveis.»
lher os tributos, bem como mul- Deveria a impetrante ter se
tas pelas importações realizadas; enquadrado nas novas pOSições
2) impedir que .a_ autoridade determinadas em parecer nor-
coatora declare a impetrante de- mativo de órgão competente da
152 TFR - 71

Secretaria de Receita Federal, o as seguintes alíquotas: a) imposto de


qUê não fez. importação, 15%; b) IPI, 5%.
Não houve extinção do crédito Posteriormente, em vista da rees-
tributário e impossibilidade de truturação administrativa do Minis-
revisão, face aos artigos 147, '§ 2? tério da Fazenda, com a criação da
e 149. V do Código Tributário'Na- Secretaria da Receita Federál, foi
cionaI, bem como art. 150 e seus determinada a renovação das con-
§§ I? e 4~)} (fls. 220/222). sultas até então respondidas (Decre-
A r. sentença concluiu por deferir, to n~ 63.659/69; Instrução Normativa
em parte, a segurança, para impedir SRF n? 9/69 e Norma de Execução
que sejam aplicadas à impetrante CST n? 1/70).
certas sanções de devedor remisso: A impetrante, então, reiterou suas
não ser a impetrante impedida de consultas, de objeto idêntico às que
despachar nas Alfândegas, de regu- fizera em 1965, tomando o processo
larizar seus livros comerciais e ob- n? SC 407.263/71, reiteradas as con-
ter guias para pagamento de tribu- sultas em 18.3.1970 (inicial fl. 4).
tos. No mais, foi o wrít indeferido. A resposta à indagação, todavia,
Subira11l os autos, em razão do dada em 2.8.71, foi diversa da ante-
princípio legal do duplo grau de ju- rior. Agora, idênticos eqUipamentos
risdição e apoio da impetrante, às importadOS pela apelante se subme-
fls. 231/249, que foi respondido às fls. teriam, na forma da legislação apli-
251/253. cável, às seguintes alíquotas de inci-
Nesta Eg. Corte, _o parecer da dou- dência: ~) LI., 30% (pos. 90.07.01.99,
ta Subpro~uradoria-Geral da Repúbli- da. TAB); b) IPI, 18% (pos. 90.07.1,
ca, às fls. 257/262: é no sentido do da Tabela do IPI).
improvimento do apelo da impetran- Diz a impetrante que tomou ciên-
te, e, no tocante *s sanções adminis- cia dessa decisão em 14.9.71, çontra
trativas, é pela reforma da sentença, a mesma apresentando recursos, afi-
para o fim de ser cassada a seguran- nal resolvidos, em definitivo, pelo
ça. Parecer CST n~ 62, de 8.3.1972, publi-
E o relatório. cado no DOU de 27.3.1972, confirma-
tório da decisão recorrida.
VOTO A partir do Parecer 62, esclarece a
impetrante que passou a recolher os
O Sr. Ministro Carlos Mário impostos assinalados pela alíquotas
Velloso: Segundo a apelante, esta, nele preconizadas.
em 1965, cientificou-se, junto ao Fis-
co, do regime tributário aplicável às Mas o Fisco entendeu de rever lan-
importações dos seus eqUipamentos çamentos ocorridos após o Parecer
para fins de reprodução gráfica, me- Normativo 388, de 26.5.71 (DO de
diante o processo conhecido como 12.7.71), mas anteriores ao Parecer
xerografia. 62, de 8.3.72, para cobrar as diferen-
ças das alíquotas.
O Fisco, em resposta a duas con-
sultas da impetrante, expediu as de- Sustenta a apelante, então, que o
cisões n?s 3.314-65 e 3.371-65. ato do Fisco não pode ficar oe pé,
Os equipameptos em apreço im- porque somente com relação aos fa-
portados pela impetrante, se ,classi- tos geradores' ocorridos após o Pare-
ficavam, genericamente, na posição cer n~ 62, de 8.3.72, publicado em
84.83, da Tarifa das Alfândegas e 27.3.72, é que poderiam ser exigidas
correspondente tabela do IPI, com as novas alíquotas.
TFR - 71 153

E que o citado P arecer n~ 62 é ino- A seguir, a apelante volta a ques-


vador e dirige-se especialmente a tionar a aplicação retroativa de cri-
ela. térios interpretativos diferentes.
Este é o primeiro argumento da Dito argumento, é bem de ver,
apelante. inscreve-se dentro das coordenadas
Alega esta, em seguida que, mes- do primeiro: aplicação retroativa de
mo não acolhido o argumento pri- norma inovadora, ou de novos crité-
meiro, ainda assim a impetração rios exegéticos.
merecia deferimento. Examinemos a matéria em deba-
E que o ponto crucial é do erro de te.
direito em que incidiu a autoridade O ponto crucial da questão, ao que
lançadora. penso, está contido no primeiro ar-
Argumenta a impetrante: gumento da impetrante.
Não lhe empresto razão, data
«Com efeito, conforme aponta- ven1a.
do no item 6 retro, ao preencher E que certos fatos e determinadas
as declaracões de importação de questões jurídicas precisam ser es-
seus equipamentos de· reprodu- clarecidas, no caso.
ção gráfica, para despacho res- Em primeiro lugar, deixa-se claro
pectivo das repartições aduanei- que, com a edição do Decreto n?
ras, a apelante, efetuando os lan- 70.235, de 6.3.1972, disciplinou-se o
çamentos devidos, calculava o processo de consulta. Esta, segundO
imposto de importação na base o disposto no art. 48, I, H, do citildo
de 18% e o imposto de produtos diploma legal, tem efeito suspensivo,
industrializados na base de 5%, desde que não ocorrentes as hipóte-
obedecendo estritamente à orien- ses inscritas nos incisos I a VIII do
tação emanada dos órgãos fazen- art. 52.
dários competentes (item 3?) . Citado decreto, todavia, não é de
Tais declarações anexas, Emi- aplicação, in casu.
nentes Julgadores, eram revis-
tas, por ocasião do despacho res- Porque a reiteração das consultas,
pectivo, pela autoridade aduanei- por parte da impetrante, ocorreu em
ra competente, expressamente 18.3.1970, conforme declarado pela
aceitas e homologadas, mediante impetrante (inicial, f L 4).
termo de conferência nelas es-
tampado e assinado.... Os tribu- E o que deve ficar certo, é que, já
tos, assim calculados e homolo- em 2.8.1971, estavam decididas (fls.
gados pelas autoridades alfande- 81/85) .
gárias, eram em seguida pagos Da decisão foi a impetrante cienti-
pela apelante, extinta a divida ficada em 14.9.71 (fI. 87).
fiscal respectiva e desem~raça­
dos os eqUipamentos para sua E verdade que a apre-
utilização pela apelante». sentou recurso para o Conselho Su-
perior de Tarifa (fI. 88), deixando
expresso, aliás, que recorria unica-
Assim homologado, não poderiam mente «quanto à parte da decisão re-
os lançamentos ser revistos, sob fun- lativa ao Imposto de
damento de erro de direito no proce- (fI. 88).
dimento original. O Conselho, todavia, não conheceu
Este é o segundO argumento da do recurso, conforme se pode ver de
impetrante. fls. 86 e 99, porque incabíveL
154 TFR - 71

De quando seria essa decisão? ministrados pela Secretaria da Re-


A impetrante não carreou para os ceita Federal, formulada sobre clas-
autcfs a prova. sificação fiscal de mercadorias, atua
o Coordenador do Sistema de Tribu-
Em mandado de segurança, cabe tação como instância única, ou ins-
ao autor trazer, para os autos, toda tânci.a originária.
a prova, por isso que, fatos contro-
versos fazem esboroar o alegado di- Destarte, se foi o Coordenador do
reito e certo. Sistema de Tributação quem profe-
riu a decisâo de 2.8.71 (fls. 81/85), já
Mas, dizíamos: o Conselho Supe- aí encerrara-se a questão.
rior de Tarifa não conheceu do re-
curso, porque incabível. Não obstante, Em suma: cientificada da decisão
opinou no sentido de ser mantido o que resolveu a reiteração das consul-
despacho recorrido. tas em 14.9.71 (fI. 87), devia a impe-
trante ajustar-se à nova orientação
O que fez, em seguida, a impetran- no prazo de 30 (trinta) dias. Quer di-
te? zer: em 14.10.71, devia já estar ajus-
Dirigiu-se, novamente, à autorida- tada à decisão.
de que decidira a consulta, com pe- Os autos de infração foram lavra-
dido de reconSideração. dos em novembro de 1972 (fls.
E o que está relatado no Parecer 100/101).
n~ 62, de 8.3.72 (fls. 86 e 99).
E dizem respeito a importações de
Ora, se a impetrante, ao ser profe- dezembro de 1971 (fl. 100) e de
rida a decisão de fls. 81/85, que re- 20.10.71 e 26.10.71 (fi. 101), quando a
solveu as suas consultas, não tinha impetrante já estava cientificada da
mais recursos, não seria com a in- decisão de 2.8.71 (fls. 81/85 e 87).
terposição de recursos incabíveis, Não acolho, destarte, o argumento
ou com pedidos de reconsidéração, da impetrante de que o Fisco teria
que conseguiri.a o efeito suspensivo feito aplicação retroativa de crité-
que pretende emprestar à sua con- rios interpretativos diferentes.
sulta.
Há mais.
No caso, conforme esclarecem as
informações, à reiteração das con- A r. sentença recorrida entendeu
sultas aplicava-se a Norma de Exe- que o Parecer Normativo n~ 388/71,
cução n? 1, de 21.1.70, da CST (fI. pUblicado em 12.7.71 (fls. 177 e v.),
171). seria aplicável, no caso.
Então, cientificada da decisão em Também penso assim.
14.9.71 (f. 87), devia a impetrante E que citado parecer enluva-se, à
ajustar-se"" à nova orientação no pra- maravilha, à situação da impetrante
zo de 30 (trinta) dias, a contar da e põe fim a qualquer dúvida que a
ciência (Norma de Execução n? 1, de mesma pudesse ter, no concernente
21.1.1970, da CST, item UI, transcrito à classificação fiscal de seus produ-
às fls. 171/172). tos.
Admitamos, agora, que o Decreto E ver, para confirmar a afirmati-
n~ 70.235, de 6.3.72, seja de aplica- va, os seus termos (fls, 177 e v.).
ção, no caso. Tanto isto é verdade que a impe-
Nem assim a situação da impe- trante chegou a dirigir·se ao Minis-
trante melhoraria. tro da Fazenda, para socilitar fosse
Porque está expresso, no seu art. sustada a pUblicação do citado Pare-o
54, UI, a, que, tratando-se de consul- cer Normativo CST n? 388171, ou pa-
ta relativa aos tributos federais ad· ra pleitear a sua modificação.
TFR - 71 155

E O que consta do Parecer CST n~ Na espéCie, entretanto, não se dis-


62, de 8-3-72, proferido no de cute se o Parecer Normativo 388/71
reconsideração formulado pela im- contém fooa ou má da
petrante, e 'não, como já ficou leL
resolvendo recurso cabível na legis- Com
lação procedimental administrativa Parecer
(fls. 86 e 99), tendo o CST, então, se
pronunciado da segui.nte forma:
«Com estas observações, creio
não haver razão para sustar a
bUcação do Parecer
CST n~ 388-71, nem para modificá-
lo».
o que é necessano ficar claro é
que, se, no curso de uma consulta,
vem de ser editada norma tributária
que resolve, por i.ntei.ro, a dúvida
que originou a consulta, esta, eviden-
temente, se vê prejudicada.
É o caso dos autos.
Objetar-se-ia na espécie,
não se editou uma lei, mas um pare-
cer normativo.
Acontece, pOréTc'1, que o CTN, no fim,
seu art. 96, conceitua como «legi.sla- que a
ção tributári.a» não somente as lei.s, ter a respeito da
os tratados e as convencões interna- c~assificação fiscal de seus -
cionais, como, também, - os decretos ao üue os autos de
e as normas comI5lementares que foraln la·vrados enquan-
versem, no todo ou em parte, sobre to a por isso que
tributos e relações jurídi.cas a eles são eles de (fls.
pertinentes. HI0/101) .

E são normas complementares das Passo agora, da alega-


leis, dos tratados e das convencões ção da que, HV.U"'''V!='<O<

internacionais e dos decretos, os atos dos os não


normativos expedi.dos pelas autori- estes ser revistos, sob fundamento
dades administrativas (CTN, art. de erro de direito.
100, I).
Parecer normativo, pois, no cam-
po tributário, é norma complemen-
tar.
E norma complemen ar
compreende-se na expressão <degis-
lação tributária» (CTN, art. 96). De regra,
É claro que dita norma comple- de ser revisto
mentar somente vale ajus- e art.
tada à lei.
156 TFR - 71

da de cons.tuUlr o crédito tributário não há falar em tal modalidade de


(CTN, art. 149, § único). lançamento.
No caso, ao que parece, o lança- Esta, com a sua habitual clareza,
mento seria por declaração (CTN, a lição de Luciano da Silva Amaro:
art. 147), face ao que consta da ini-
cial, verbis: «O que se homologa, diz o dispo-
sitivo, é «a atividade exercida».
«2.5 .... ao preencher as declara- Portanto, na falta dessa atividade
ções de importação de seus equipa- (antecipação do pagamento) não
mentos de reprodução gráfica, pa- há o que homologar. Se o sujeito
ra despacho respectivo na Alfânde- passivo não antecipa o pagamento,
ga do Rio ae Janeiro, a impetran- é logicamente inconcebível o lan-
te, efetuando os lançamentos devi- çamento por homologação, porque
dos, calculava o imposto de impor- este carecerá precisamente do ob-
tação na base de 18% e o imposto jeto a homologar: o pagamento an-
de produtos industrializados na ba- tecipado». (<<Lançamento por Ho-
se de 5%, obedecendo estritamente mologação e Decadência», Rese-
à orientação emanada dos órgãos nha Tributária, 1975, 1.3, 25-75, p.
fazendários çompetentes ... Tais de- 335).
clarações anexas, MM. Juiz, eram
revistas, por ocasião do despacho Não há dúvida, pois, como bem
respectivo, pela autoridade adua- acentuou o eminentt> Ministro Jorge
neira competente, expressamente Lafayette Guimarães, forte em Alio-
aceitas e homologadas, mediante mar Baleeiro (Agravo de Petição n~
termo de conferência nelas estam- 37.239, DJ de 13-2-75, p. 784, «Fisco e
pado e assinado... Os tributos as- Contribuinte», S. Paulo, junho/75, pgs.
sim calculados e homologados pe- 468/470), que «exige, pois, o lança-
las autoridades alfandegárias, mento por homologação, o pagamen-
eram em seguida pagos pela impe- to antecipado do imposto pelo contri-
trante ... » (fi. 7). buinte, sem prévio exame da autori-
Se era assim que se procedia, não dade (Aliomar Baleeiro, «Direito
há falar em lançamento por homolo- Tributário Brasileiro», 2~ ed., p.
gação (CTN, art. 150). 462»).
Porque este, por homologação, No caso, segundo esclareceu a im-
tem lugar no momento em que a au- petrante, preenchia esta as declara-
toridade administrativa homologa a ções de importação de seus equipa-
atividade exercida pelo sujeito passi- mentos, efetuava os lançamentos de-
vo, consistente no pagamento do tri- vidos e calculava o imposto de im-
buto, ou no cumprimento do dever portação. As declarações eram re-
imposto ao contribuinte «de anteci- vistas pela autoridade aduaneira,
par o pagamento sem prévio exame por esta «aceitas e homologadas,
da autoridade administrativa» mediante termo de conferência ... ».
(CTN, art. 150). {(OS tributos assim calculados e ho-
Assim, se a homologação atinge o mologados pelas autoridades alfan-
cumprimento do dever de antecipar degárias, eram em seguida pagos
o pagamento, pagamento antecipado pela impetrante ... ». (inicial, fI. 7).
esse realizado sem prévio exame da Não havia, portanto, antecipação
autoridade administrativa, tem-se do pagamento do imposto sem pré-
lançamento por homologação. vio exame da autoridade administra-
Inexistente a condição - antecipa- tiva (CTN, art. 150).
ção do pagamento, sem prévio exa- De se concluir, então, pelo exposto
me da autoridade administrativa pela impetrante, que se tem, na
TFR - 71 157

espeCle, lançamento por declaração Mantenho, pois, também nesta


(CTN, art. 147). parte, a r. decisão recorrida.
A revisão não se fez ilegalmente.
EXTRATO DA ATA
Fez-se, sim, na forma e nos ter-
mos dalei (CTN, art. 147, § ~, c.c. AMS 78.336-RJ. - ReI.: Sr: Min.
art. í45, IH, e art. 149, VI), quando Carlos Mário Venoso. Remte.: Juiz
ainda não extinto o direito da Fazen- Federal da 1~ Vara. Apte.: Xerox do
da Pública (CTN, art. 149, § único). Brasil SI A - Reproduções Gráficas.
Não há falar, data venta, em revi- Apda.: União Federal.
são sob fundamento de erro de direi- Decisão: Após o voto do Sr. Minis-
to. tro-Relator negando provimento à
Já vimos de ver que, quando do ap~lação, pediu vista o Sr. Ministro
preenchimento das declarações de Armando ROlemberg, aguardando o
importação, para despacho alfande- Sr. Ministro Aldir G. Passarinho.
gário, devia a impetrante orientar-se Usaram da palavra: o Dr. Antônio
pela decisão de fls. 81/85, da qual fo- Roberto Sampaio Dória e o
ra cientificada em 14-9-71 (fl. 87), e Subprocurador-Geral da República
pelo Parecer Normativo CST n? Joaquim Justino Ribeiro. (Em 14-6-
388/71, de 12-7-71. 78 - 3~ Turma).
Fala-se, agora, para argumentar: Presidiu o julgamento o Sr. Min.
fosse o lançamento por homologa- Armando ROlemberg.
ção, ainda assim seria cabível a re-
visão, na forma do art. 145, IH, C.C. VOTO VISTA
o art. 149, V, certo que, no caso, ain-
da não estava extinto o direito da O Sr. Ministro Armando
Fazenda Pública, vale dizer, estava Rolemberg: 1. Xerox do Brasil S/A
em andamento o prazo de decadên- - Reproduções Gráficas, dirigiu à
cia, contado dito prazo tanto na for- Comissão Especial de Classificação,
ma do art. 150, § 4~, quanto nos ter- da Diretoria de Rendas Aduaneiras,
mos do art. 173, I, CTN. do Ministério da F azenda, duas con-
Diante do exposto, nego provimen- sultas sobre a classificação de equi-
to ao apelo, para confirmar a r. sen- pamentos para fins de reproduções
tença recorrida. gráficas, classificação a ser conside-
rada para o efeito de pagamento de
Confirmo a r. sentença, outrossim, impostos de importação e sobre pro-
quandO deferiu a segurança, para o dutos industrializados. A primeira
fim de impedir que lhe sejam aplica- das consultas, formulada em 9-4-65,
das as sanções de devedor remisso foi respondido que sobre o material
mencionadas no dispositivo da deci- referido incidiriam alíquotas de 15%
são. e 5%, respectivamente, enquanto, a"
Se a Fazenda dispõe de meios para ser apreciada a segunda, formulada
a cobrança dos seus créditos, não se em 30-9-65, as alíquotas apontadas
justifica a aplicação de sanções que foram 30% e 18%.
vão embaraçar os negócios e o tra- Recorreu da última decisão, sem
balho do contribuinte, e que, por isso êxito, e, como lhe houvessem sido
mesmo, não passam de execuções cobrados tributos nas bases nela re-
políticas, que tratam maIo princípio feridos, impetrou mandado de segu-
do juiz natural. rança alegando que a alteração do
A questão, a esta altura, no parti- critério interpretativo somente lhe
cular, dispensa maiores considera- poderia ser aplicado 30 dias depois
ções. da nova inteligência emprestada à
158 TFR - 71

disposi.ção aue a divida fiscal, ma de Tributação, tomando por base


de qualquer . se extingüira pelo as Notas Explicativas de Bru:){elas e
pagamento dos ter o lan- do Comitê de Nomenclaturas do Con-
çamento revisto decorrido de erro de selho de Cooperação Aduaneira de
direito, o que dita revi- Bruxelas, classificara todas as co-
são, haver ocorrid'o retroa- piadoras do tipo daquelas importa-
tiva de critério das das pela impetrante em posição tari-
jJeua,!U,\àC!',::;;:; que fária idêntica à apontada na respos-
postas reslütaria ainda a ta à segunda consulta da impetrante
de devedora remissa e aplicação que fora decidida considerando tal
sanções administrativas conseqüen- parecer, fato que tomava desneces-
tes. sário o prazo de 30 dias para aplica-
Requerc8v; afi:8aJ: ção de novo critério.
«Nessas requer-se a Argumentou depois que o lança-
V. Exa. se digne conceder medida mento, no caso, é feito por homolo-
limincct paca !:im de que: gação, do que decorria não se extin-
a guir o crédito pelo simples pagamen-
os to, ficando sob a condição resolutó-
ria de ulterior homOlogação.
A sentença acolheu os argumentos
das informacões e concedeu a segu-
rança tão-somente para garantir a
4.2 - lm,;oemr impetrante contra a aplicação de
coatora a sanções administrativas, mantida
dora remissa - HH:;u"ua embora a declaração de devedora
cional - abstendo-se de lhe remi.ssa. A impetrante recorreu: rei-
das sanções respectivas, terando os argumentos das informa-
declaracão, con- ções, contrariados pela Procuradoria
sprU OleJnClla aplicável à
i
da República e, mais tarde pela Sub-
procuradoria, e afinal foi o processo
o Sr. Inspetor trazido a julgamento pelO SI'. Minis-
da Receita impetrado, tro Carlos Mário Velloso que votou
à revisão dos lançamentos no sentido da confirmação da senten-
reaHzadas, ten- ça, tendo eu pedidO vista.
nif"r,>n{' de tribu- 2. O relatório que fiz para relem-
eventuais He- brar a matéria torna desnecessária
se extin- a expOSição de maiores detalhes no
como foi voto que me cabe proferir.
A primeira questão posta pela im-
mais, sejam petrante ao exame do Judiciário ver-
da autori- sa a circunstância de haver sofrido,
oatora indicada, dentre outras, duas autuações em 21-
o feito até os seus 11-72, pelas quais foi intimada a pa:
ulteriores termos, para a conces- gar a diferença de imposto de im-
são definitiva da segurança, como portação e imposto sobre produtos in-
de eEfeito.» dustrializados, entre as tarifas que
Prestando a autori- lhe haviam sido apontadas como cor-
da,,]e impetrada esclareceu que não retas na resposta à sua primeira con-
da administração sulta e aquelas mencionada na se-
em e sim que, gunda resposta, quando, da data da
~ ~S~~ última até o despacho impugnado,
TFR - 71 159

não haviam decorrido ainda trinta contribuinte que realmente deva,


dias. pois consigna fato, sendo
inadmi.ssíveis, as san-
Essa alegação, como se viu, não ções administrativas conseqüentes,
procede, pois já em 1971, pelo Pare- que a sentença, entretanto. afastou.
cer Normativo 388/71, de 12 de julho, Nego ao recurso.
fora fixada a orientação referida no
julgamento do recurso interposto da
decisão da segunda consulta, com o EXTRATO DA ATA
que não tem pertinência, no caso
concreto, a regra do aguardo de trin- AMS. 78.336-RJ. - ReI.: Sr. Min.
ta dias para a aplicação de critério Carlos Mário Venoso. Remte.: Jui.z
novo de interpretação, pois já havia Federal da 1~ Vara. Apte.: Xerox do
decorrido prazo muito superior. Brasil SI A - Reproduções Gráficas.
Apda.: União Federal.
Quanto à extinção do crédito tribu- Decisão: Prosseguindo-se no julga-
tário, foi bem repelida com a invoca- mento. a Turma unanimidade,
ção de norma pela qual se determina negou provimento apelação. (Em
ser o lançamento por homologação 13-11-78 - 3~ Turma).
sujeito a condição resolutória (art. Os Srs. Ministros Armando Rolem-
150, par. 1?, do CTN). berg e Aldir Guimarães Passarinho
votaram de acordo com o Relator.
Não compareceu por motivo justifi-
Finalmente, no que diz respeito à cado o Sr. Min. Lauro Leitão. Presi-
declaração de devedora remissa, diu o julgamento o Sr. Min.
não representa ofensa a direito do Armando Rolemberg.

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 80.392 - SP


Relator: O Sr. Ministro William Patterson
Apelante: Rohm And Haas Brasil SI A, Química e Têxtill
Apelada: União Federal
Autor. Req.: Delegado da Receita Federal em Santos
EMENTA
A Resolução n? 2.203, do Conselho de Políti.ca Adua-
neira, é válida. Ao revogar a ReSOlução n? 2.008, que
isentava até 31-12-74 os produtos compreendi.dos nas
pOSições 39.01.02.05 da Tarifa Aduaneira Brasileira,
não precisaria declarar, expressamente, os motivos.
Jurisprudência assente.
Inocorrência da hipótese contemplada no art. 178
do Código Tributário Nacional.

ACÚRDÃO Deci.de a 2~ Turma do Tri.bunal Fe-


deral de Recursos, por ~~"'~>u.uu.u
negar na forma do rela-
Vistos, relatados e discutidos estes tório· e notas retro, que
autos. em que são partes as acima in- ficam fazendo do
dicadas: presente
160 TFR - 71

Custas como de lei. No tocante à falta de fundamenta-


Brasília, 24 de outubro de 1979 (da- ção da resolução revogadora, a Co-
ta do julgamento). - Ministro lenda 1~ Turma reconheceu a desne-
Moacir Catunda, Presidente - Mi- cessidade de cláusula expressa neste
nistro Wlllíam Patterson, Relator. sentido, consoante se colhe do bri-
lhante voto proferido na ocasião, pe-
RELATORIO lo eminente Ministro Peçanha Mar-
tins, verbis:
o Sr. Ministro WllUam Patterson: ((A Resolução n? 1.993, do Conse-
,Empresa industrial importou merca- lho de Política Aduaneira, a que
dorias sob o abrigo da Resolução n? isentou, pelo prazo de um ano, a im-
2.008, do Conselho de Política Adua- portação dos produtos compreendi-
neira, que isentava até 31-12-74 as di- dos nas posições 73.06 a 73.15 e 73.18
tas mercadorias. Entretanto esses da Tarifa Aduaneira, é de 31 de de-
bens somente chegaram ao Brasil zembro de 1973.
quando já em vigor a Resulução n? Esta Resolução, em seu art. 5?,
2.203, do mesmo Conselho que, entre consignava:
outras, revogou. aquela que outorga-
va o benefíci.o fiscal. Por esse moti- «O Conselho de Política Aduaneira
vo, foi exigido, no desembaraço da poderá, a qualquer tempo, suspen;
mercadoria i.mportada, o pagamen- der, no todo' ou em parte, os benefí-
to dos tributos aduaneiros. cios desta Resolução, se necessário
para garantir a colocação da produ-
Daí a impetração do mandado de ção nacional».
segurança, em que se argúi a inacei-
tabilidade do ato revogatório da isen- Diante dos termos desta disposi-
ção pOrque despido da fundamenta- ção, evidente que a Resoluç;1o n?
ção. 2.203, que revoga a isenção. não sur-
Inconformada com a sentença de- preendeu a impetrante. Esta, provi-
negatória (fls. 79/85) a impetrante denciando a importação, sabia que,
interpôs apelação (fls. 87/105). antes do produto importado desem-
Contra-razões às fls. 108/110. barcar no seu destino, o Conselho po-
dia cancelar, como concelou, a isen-
Manifestou-se a douta Subprocura- ção anteriormente concedida a título
doria-Geral da República no sentido precário.
do aesprovi.mento do recurso (fls.
115/116) . Nem vale, neste caso, a alegação
de que a Resolução revogadora não
É o relatóri.o. foi motivada. O motivo, embora não
expresso, foi a necessidade de ga-
VOTO rantir a colocação do produto nacio-
nal, como dito na disposição trans-
O Sr. Ministro WllUam Patterson: crita." (Ap. MS. n? 76.666-SP, julga-
Trata-se de i.mpugnação à Resolução do em 24-11-75, in Rev. do TFR, voI.
n? 2.203 do Conselho de Política 57, pág. 120).
Aduaneira que, entre outras, revo- Idêntico ponto de vista manifestou
gou a Resolução n? 2.008, a qual isen- V. Exa., Sr. PreSidente, ao julgar os
tava, até 31-12-74. os produtos com- autos da Apelação em Mandado de
preendidos nas posições 39.01.02.05 Segurança n? 76.090-SP - (3~ Tur-
da Tarifa Aduaneira Brasileira. ma, jUlgamento em 13-10-74). Tam-
Os aspectos controversos da citada bém no Pretório Excelso, a jurispru-
revogação já mereceram cuidadoso dência vem sendo cristalizada nos
exame por este Tribunal. mesmos termos, inclusive para as
TFR - 71 161

hipóteses de pauta de valor mínimo, Dentro do contexto legislativo que


conforme se infere do acórdão relati- regula, especificamente, o assunto,
vo ao Recurso Extraordinário n~ não se poderá censurar o ato do Con-
81.050, Relator o Ministro Cunha Pei- selho, pois expedido nos limites e
xoto ein DJ de 10.10.75). condições estipulados.
Com referência~ à ofensa ao art. Aliás, sobre fJ tema, merece ser in-
178 do Código Tributário Nacional, vocado o acórdão pertinente à AMS n?
que prevê a revogação ou modifica- 76.242-SP, relator o eminente Minis-
ção das isenções, por lei e a qual- tro Oscar {;orrêa Pina, que excluiu a
quer tempo, salvo se concedidas por identificação da medida com o art.
prazo certo e em função de determi- 178 do CTN.:
nadas, condições, evidencia-se, desde «Imposto de importação.
já, a impropriedade da alegãç3.0, por Redução da alíquota pela qual
isso que a matéria versada inscreve- deve ser pago o tributo.
se em outra ordem de comportamen- Não se trata de isenção, que
to jurídico. decorre de lei (CTN, arts. 176 e
N a verdade, as normas expedidas 178), mas de ato de competência
pelo Conselho de Política Aduaneira do Conselho de Política Aduanei-
encontram suporte na legislação es- ra. Benefício concedido a título
pecífica. A Lei n? 3.244, de 14 de precátorio, podendo ser cancela-
agosto de 1957, que instituiu o CPA, do a qualquer momento, no inte-
conferiu a esse órgão competência resse da economia nacional. Le-
para estabelecer, anualmente, a quo- galidade da Resolução n? 2.203,
ta de aquisição de matéria-prima ou de 1974, que revogou o beneficio
qualquer produto de base e a corres- anteriormente constituído"
pondente isenção ou redução do im- (AMS n? 76.084-Sr, in DJ de 21-7-
posto, na forma do art. 4? (cfr. art. 79, 1~. Turma, relator dO acór-
. 22). Este (art. 4?) com a redação do dão Ministro M-arcio Ribeiro) .
De~reto-Lei n~ 63, de 1966, esclarece Com maior razão, ainda, há de se
que: entender a revogação quando, de
modo expresso, admitida no ato nor-
mativo, como acontece com a Reso-
«Quando não houver produção lução n? 2.008 (art. 2?).
nacional de matéria-prima e de
qualquer pro~uto de base, ou a Por todo o exposto, nego provi-
produção for insuficiente para mento ao recurso, para confirmar a
atender ao c'onsumo interno, po- sentença.
derá ser concedida isenção ou re-
duçi!c do imposto para a impor-
tação t9tal ou complementar
conforme o caso.» AMS n? 80.392 - SP - Rel. Sr.
Min. William Patterson. Apte.: Rohm
and Haas do Brasil SI A - Química e
A atuação do CP A está condiciona- Têxtil. Apda.: União Federal.
da a fatores de ordem econômica, di-
retamente vinculados ao comércio Decisão: Negou-se provimento
externo, em relação à produção na- unanimemente. (Em 24-10-79- 2~ .
cional. Por isso, o legislador, cons- Turma).
ciente dos problemas de equilíbrio Os Srs. Ministros Moacir Catunda
da balança comercial, autorizou o e Torreão Braz votaram com o rela·
órgão a interferir, quando as condi- toro Presidiu o julgamento o Sr. Min.
ções exigirem. Moacir Catunda.
162 TFR - 71

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURAl~ÇA N~ 82.003 - SP

Relator: O Senhor Ministro Lauro Leitão


Remetente Ex Officio: Juiz Federal da 4~ Vara
Apelante: Instituto Nacional de Previdência Social
Apelado: Hermes Marcelo Huck
Autoridade Requerida: Subsecretário de Arrecadação e Fiscalização do
-:<INPS».

EMENTA
Previdência Social. Contribuições. Reajustamen-
to. Critérios a observar. Inteligência do artigo 5? da
Lei n? 6.332/76. Retroatividade da Portaria Ministe-
rial n? 414, de 31-5-76. Segurança concedida. Senten-
ça que se confirma. Apelação desprovida.

ACORDÃO devida à Previdência Social, cujo


artigo 5? está assim redigido:
Vistos e relatados os autos em que «Art. 5? - O limite máximo do
são partes as acima indicadas: salário-de-contribuição para o
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- cálculo das contribuições "destina-
deral de Recursos, à unanimidade, das ao INPS a que corresponde
negar provimento à apelação, na for- também a última classe da esca-
ma do relatório e notas taquigráficas la de salário-base de que trata, o
constantes dos autos, que ficam fa- artigo 13 da Lei n? 5.890, de 8 de
zendo parte integrante do presente junho de 1973, será reajustado de
julgado. acordo com o disposto nos arti-
Custas, como de lei. gos 1? e 2? da Lei n? 6.147, de 29
de novembro de 1974.
Brasília, 19 de março de 1979 (Da-
ta do julgamento). Ministro § 1:' - O reajustamento previs-
Armando Rolemberg, Presidente to neste artigo será feito anual-
Ministro Lauro Leitão, Relator. mente, com base no fator de rea-
justamento salarial fixado para o
RELATORIO mês em que entrarem em vigor
os novos níveis do salário míni-
O Sr. Ministro Lauro Leitão: Her- mo.
mes Marcelo Huck impetrou mandado § 2:' - O fator de reajustamen-
de segurança, em. 14-7-1976, perante to salarial de que trata o § 1? des-
o MM. Dr. Juiz Federal da 4~ Vara te artigo incidirá no corrente
da Seção Judiciária de São Paulo, exercício, sobre o limite máximo
contra ato a ser praticado pelo Sr. de Cr$ 100400,00 (dez mil e qua-
Subsecretário de Arrecadação e Fis- trocentos cruzeiros).»
calização do INPS, alegando, em
síntese, o seguinte: Com base nas dispOSições antes
transcritas, o Sr. Ministro de Estado
I - «Os fatos da Previdência e Assistência Social
Em 18-5-1976, o Sr. Presidente da houve por bem baixar a Portaria n?
República sancionou a Lei n? 6.332, 414, de 31-5-76, publicada no D.O. de
que alterou tetos de contribuição 11-6-76, o qual somente circulou no
TFR - 71 163

dia 21-6-76, que determina sej a corri- tituído. Resta, apenas, considerar-
gido o teto de Cr$ 10.400,00, que aca- se como e quando. Vejamos:
bava de ser instituído em 43%, ele- 4.2. - O modo adotado para o
vando o teto das contribuições previ- reajustamento, conforme a Lei.
denciárias a Cr$ 14.872,00, a partir 6.332
de I? de junho daquele exercício,
conforme item 4 da referida Porta- O reajustamento será feito «de
ria n? 414, nestes termos: acordo com o disposto nos artigos
I? e 2? da Lei n? 6.147, de 29 de no-
«4. A partir de 1~ de junho de vembro de 1974,)} confÇlrme o caput
1976, tendo em vista o disposto nos do art. 5? da Lei retro mencionada.
artigos 5? e 6? da Lei n? 6.332, de Eis o primeiro indício de descarac-
18-5-76, e no Decreto n? 77.562, de 7- terização do «Valor de Referência)}
5-1976, o limite máxim? .r'le salário- como base de cálculo das contri-
de-contribuição será de Cr$ buições previdenciárias, ou man-
14.872,00 (quatorze mil, oitocentos damentos dos artigos I? e 2? da Lei
e setenta e dois cruzeiros»} n? 6.147 referem-se, exclusivamen-
Desta forma - alega o ora apela- te, aos reajustamentos salariais
do o teto do salário-de- efetuados pelo Conselho de Política
contribuição, a partir de I? de junho Salarial, pela Secretaria de Em-
de 1976, passaria a Cr$ 14.872,00, sen- prego e Trabalho, ambos do Minis-
do este teto, todavia, inconstitucio- tério do Trabalho, bem como pela
nal, pelos motivos a seguir expostos: Justiça do Trabalho, nos processos
de dissí.dio coletivo. O art. 2? da
O Direito Lei supracitada define .quais os fa-
tores parciais que comporão o fa-
4. Da Retroatividade da Portaria tot final de reajustamento. Tendo-
Ministerial se presente que as correções do te-
4.1 - A Lei n? 6.332, de 18-5-76, ob- to máximo das contribuições previ-
viamente, descaracterizou o «valor denciárias, após o advento da Lei
da referência)} como base de cálculo 6.332, serão feitas na mesma base
para as contribuições previdenciá- que os dissídios coletivos a serem
rias, instituindo o que se poderia firmados no mês em que entrarem
chamar de «Valor de Referência em vigor os novos níveis do salário
Previdenciária», cujo limite máximo mínimo, não mais está admitida a
foi de Cr$ 10.400,00 (§ 2? do art. 5?, correção do teto previdenciário pe-
da Lei n? 6.332). la correção do «Valor de Referên-
Evidentemente, graças à atual cia», o que comprova a descaracte-
conjuntura econômica do País, todo rização do «Valor de Referência»,
e qurJquer limite deve sofrer corre- como base de cálculo das contri-
ções, com o intuito único de serem buições previdenciári.as.
evitadas grandes distorções de valo- 4.3 - Da época dos reajusta-
res. Assim, o § I? do artigo 5?, da Lei mentos, conforme a Lei 6.332
em referência, determina: O impetrante aborda agora o as-
«I? - O reajustamento previsto pecto temporal da medida, ou sej a,
neste artigo será feito anualmente, quandO serão procedidos os reajus-
com base no fator de reajustamen- tamentos do novo teto recém insti-
to salarial fixado para o mês em tuído.
que entrarem em vigor os novos A Lei n? 6.332 preceitua no § I?,
níveis do salário mínimo.)} do artigo 5?, acima transcrito, que
Assim, não há dúvidas quanb? às os reajustamentos serão feitos,
futuras correções do teto recém i.ns- anualmente, no mesmo mês em
164 TFR - 71

que entrarem em vIgor os novos que, aliás, não poderia ser outro, vis-
níveis do salário mínimo. Todavia, to estar expresso na Lei em apreço
tenhamos presente o art. 12 da Lei que os reajustamentos far-se-ão com
6.332: a aplicação dos mesmos fatores da-
«Art. 12 - Esta Lei entrará em dos para a correção dos níveis sala-
vigor no primeiro dia do mês se- riais.
guinte ao de sua publicação.» Quanto à época do reajustamento,
Este dispositivo, aliás, alinha-se ou melhor, quandO os reajustamen-
com o mandamento do art. I?, da Lei tos terão lugar, o mesmo «comunica-
de Introdução ao Código Civil: do» explica:
«Art. I? - Salvo disposição em «4. ... de forma a permitir a re-
contrário, a Lei começa a vigorar visâô com a simples aplicação do
em todo o país quarenta e cinco reajustamento salarial, fixado pa-
dias depois de oficialmente publi- ra o mês em que entrarem em vi-
cada.» gor os novos índices de salário
Sendo expressa a disposição conti- mínimo.
da no artigo 12, acima reproduzido, 5. Desse modo, diante do reajusta-
a data em que passou a vigorar a mento salarial para o mês de maio,
Lei 6.332 foi o dia I? de junho de mês de vigência dos novos índices de
1976, ou seja, a Lei não vigia antes salário mínimo, fixado pelo Decreto
daquela data, por impOSição expres- n? 77.562, em 1,43, a ser aplicadO so-
sa da própria Lei, caracterizando a bre o limite máximo estipulado na
vacatio legis de 19-5-76 a 31-5-76. As- citada Lei (Cr$ 10.400,00), elevou-se
sim, o mês em que entrarão em vi- o teto de contribuição para Cr$
gor os novos índices do salário míni- 14.872,00».
mo, partindo-se da data de vigência
da Lei, será, presumivelmente o mês Tais conclusôes, evidentemente,
de maio de 1977. são fruto das instruçôes baixadas
4.4. Da Retroatividade da Portaria com a Portaria n? 414, de 31-5-76, do
n? 414, de 31-5-76 Sr. Ministro da Previdência e Assis-
tência SOCial:
Após as ponderações do item pre-
cedente, o impetrante reverte à Por- « ... 4. A partir de I? de junho de
taria Ministerial baixada à guisa de 1976, tendo em vista o disposto nos
«esclarecimento», bem como a ou- artigos 5? e 6?, da Lei n? 6.332, de
tros atos das autoridades previden- 18-5-76, e no Decreto n? 77.562, de 7-
ciárias competentes. 5-75, o limite máximo do salário-
de-contribuição será de Cr$
Quanto à forma de reajustamentos 14.872,00.»
futuros, o INPS, através de «comuni-
cado», explica: Ora já havia ficado esclarecido que
a Leil n? 6.332 passou a ter vigência
«4. Com a promulgação da Lei n? legal a partir de I? de junho de 1976,
6.332/76, foi alterado o critério de- sendo que está expresso no texto que
terminante da atualização monetá- o «reajustamento ... será feito anual-
ria dos salários de contribuição, de mente, com base no fator de reajus-
forma a permitir a revisão com a tamento salarial fixado para o mês
simples aplicação do fator de rea- em que entrarem em vigor os novos
justamento salarial. (Conforme pu- níveis do salário mínimo», o que não
blicação da Gazeta Mercantil, edi- autoriza uma correção do teto das
ção de 8-6-76, pág. 5 - Doc. n? 3).» contribuições previdenciárias com
Esta explicação do INPS corrobo- base no fator de reajustamento sala-
ra o entendimento do impetrante, rial fixado para o mês de maio de
TFR - 71 165

1976, quando ainda não vigia a Lei, Assim, apesar de que o comando
caracterizando, destarte, a retroati- da Lei n? 6.332 seja no sentido de que
vidade da Portària Ministerial e dos o novo teto de Cr$ 10.400,00 será cor-
atos normativos que se lhe segui- rigido no próximo exercício, a Porta-
ram. ria Ministerial quer que se aplique o
4.5. - Cronologia dos fatos retro- índice corretivo de 1,43 àquele novo
mencionados teto a partir de I? de junho de 1976,
que vem a ser inconstitucional.
A título ilustrativo, o impetrante
formula a seguinte tabela: Eis o ensinamento do mestre Pon-
tes de Miranda:
A - 7-5-76 - Decreto n?· 77.562,
que fixou o índice de 1,43 para os «... princípio da legalidade: -
reajustamentos salariais de maio de qualquer regra jurídica que cria
1976; dever de ação positiva (fazer) ...
tem de ser regra de lei, com as
B - 19-5-76 - PUblicação da Lei formalidades que a Constituição
n?6.332; exige ... Pensar-se que a Justiça po-
C -- 1-6-76 - Vigência da Lei n? de atribuir à portaria o que só à
6.332; Lei é dado editar é pensar-se que
D - 11-6-76 - Publicação da Por- os juízes se possam esquecer de
taria n? 414 que mandou aplicar o textos claríssimos da Constituição
índice de 1,43 ao teto de Cr$ de 1967: «Ninguém pode ser obriga-
10.400,00, instituído pela Lei 6.332. do a fazer ou deixar de fazer algu-
ma coisa senão em virtude de lei».
Não se alegue que pelos métodos (Do autor citado-Comentário à
clássicos de interpretação de uma lei Constituição de 1967 - Ed. Revista
chegar-se-ia ao entendimento de que dos Tribunais - 2~ edição - Tomo
a norma legal almej ava o teto de V, pags. 1 e 3).
Cr$ 14.872,00, pois, se assim fosse, § 3? - A Lei não prejudicará o
bastaria ao legislador estipular que direito adquiridO, o ato jurídiCO
o limite máximo no corrente perfeito e a coisa julgada.»
exercício seria de Cr$ 14.872,00 e não
Cr$ 10.400,00, como expressamente O impetrante j á fartamente de-
consta do texto legal (§ 2?, do art. monstrou que a Portaria 414, de 31-5-
5?). De fato, não se pode chegar a 76, manda aplicar um índice de cor-
outra conclusão, pois, à época da reção aplicável somente aos
promulgaç~o da Lei 6.332, de 18 de dissídios de maio de 1976, mês em
maio de 1976, os índices de correção que a Lei 6.332 ainda não vigia, o
salarial já eram fartamente conheci- que vem a ser inconstitucional.
dos, visto terem sido fixados em 7 de
maio de 1976 (Decreto n? 77.562, pu- Ainda o mesmo Pontes de Miran-
blicado noD.O. de 7-5-76). da:
Do que acima foi exposto, resume- «Em sistemas jurídicos, que têm
se a inconstitucionalidade da Porta- o princípio da legalidade, da Írre-
ria 414, do Sr. Ministro do Estado da troatividade das leis e da origem
Previdência e Assistência Social, ao democrática da regra jurídica, não
se confrontar seus mandamentos se pOde pensar em regra jurídica
com os §§ 2? e 3?, do artigo 153 da interpretativa, que, a pretexto de
Constituição Federal: autenticidade de interpretação, re-
«§ 2? - Ninguém será obrigado a troaja.» CObro <:!itada pág. 103),
fazer ou deixar de fazer alguma A Portaria Ministerial como regu-
coisa senão em virtude de lei.» lamentadora da Lei 6.332.
166 TFR - 71

5.1. O 1mpetrante entende que, jurídico e quebrando a hierarquia


por sentir alguma dificuldade de das normas de direito positivo, não
aplicação da norma legal, o Sr. Mi- criando, destarte, direitos ou obriga-
nistro de" Estado da Previdência e ções.
Assistência Social houve por bem re-
gulamentar a lei em questão. Real- 5.3 - O impetrante passa a anali-
mente, o caráter regulamentador da sar outro aspecto da Portaria Minis-
Portaria se resume da imposição de terial como norma regulamentadora
um reajustamento do novo teto legal da Lei 6.332 e traz ao presente um
de Cr$ 10.400,00, no mês de junho de parecer emitido pelo Sr. Consultor
1976, quando este fato não havia sido Jurídico do Ministério da Previdên-
previsto legalmente, e nem o mês de cia e Assistência Social, cUja ementa
junho foi o mês em que entraram em é a seguinte:
vigor os novos índices do salário «Parecer n? 005/76 - C.J.
mínimo.
5.2 - Consideremos inicialmente. Ementa: No direito brasileiro, a
a título exclus,ivo de argumentação, lei em vigor tem efeito imediato e
que a Portaria Ministerial sej a real- geral, não dependendo de regula-
mente o regulamento da Lei n? 6.332, mentação salvo quando esta for
e como tal façamos uma análise da absolutamente indispensável, pela
sua constitucionalidade. própria natureza da lei ou por exi-
gência formal e expressa de qual-
Como j á ficou esclarecido anterior- quer das suas disposições.» (Pare-
mente nesta petição, a Lei 6.332 en- cer publicado no D.O., I-I, de 25-5-
trou em víiwr a 1? de junho de 1976 e 76, pgs. 7391 a 7393, do qual o impe-
que o § 1?, do art. 5?, manda que se trante anexa fotocópia - Doc. n?
4) .
façam os reajustamentos no mesmo
mês em que entr~rem em vigor os Esclareça-se que o assunto versa-
novos índices do salário mínimo. do no processo administrativo que
Ora, o mês em que entrarão em vi- provocou o parecer em questão era o
gor o.s novos índices do salário míni- da necessidade, ou não, de ser regu-
mo;'acontardo dia 1? de junho de lamentada a Lei n? 5.890, através de
1976, será, presumivelmente, o mês decreto.
de maio de 1977, como tem sido cos-
tumeiro, ou outro mês qualquer do Isto posto, face às medidas toma-
exercício de 1977 (tenha-se presente das pelo Sr. lVIinistro de Estado da
que no exercício fluente as correções Previdência e Assistência Social e
já foram efetuadas). outras autoridades previdenciárias,
Assim, ao regUlamentar um rea- a Lei 6.332 não dispensava uma re-
justamento do teto recém- instituído gulamentação.
em 1? de junho de 1976, com índices
de maio de 1976, quandO a lei ainda Todavia, da Constituição Federal
não vigia, evidenciou-se o extra vaza- - Seção II - Das Atribuições do
mento do ato ministerial. E malS, a Presidente da República:
Lei 6.332 fixa um teto de Cr$ «Art. 81 - Compete privativa-
10.400,00, que deverá ser reajustado mente ao Presidente da RepÚblica:
no mês em que entrarem em vigor
os novos índices de salário mínimo.
Contrariamente a esse dispositivo le- III - sancionar, promulgar e
gal, a Portaria fixa, a partir de 1? de fazer publicar· as leis. expedir
junho o teto de Cr$ 14.872,00, em fla- decreto e regulamentos para a
grante desrespeito ao ordenamento sua fiel execução"
TFR - 71 167

Conclui-se que regulamentar uma mmlmo, o que, a se contar da data


lei através de Portaria Ministerial é de vigência da lei em questão (I? de
insano e inconstitucional. junho de 1976), dar-se-á, presumivel-
6 - As contribuições previdenciá- mente, no exercício de 1977.
rias e o _seu çaráter Tr1butário. Pa- Não é outro o entendimento do
rafiscalidade. mestre Aliomar Baleeiro:
6.1 - Há ainda que se considerar «Do artigo 153, § 29, a nosso ver,
que as contribuições previdenciárias decorrem as segUintes conseqüên-
têm as características inerentes aos cias:
tributos em geral. O impetrante vol-
ta a trazer ao presente outro trecho
do já citado Parecer n? 005/76 C.J., f) a lei que aplica especialmente
do Sr. Consultor Jurídico da Previ- tributo à manutenção de órgão pa-
dência Social: raestatal, ou parafiscal, não pode
«19. Analisando a matéria do delegar a este a fixação ou altera-
ponto de vista do Direito Intertem- ção de objeto da prestação, isto é,
poral, o ilustre Carlos Maximiliano do quantum a ser exigido dos con-
aponta, nos diferentes ramos do tribuintes, nem ser executada no
Direito, quais as leis que, uma vez exercício no qual foi publicada.»
em vigor, têm aplicação imediata, E mais adiante:
nestas incluindo aquelas que insti-
tuem ou majorem impostos, taxas «Pouco importa que a lei, ao
ou contribuições, entre as quais se criar ou majorar tributo, determi-
compreendem, logicamente, as leis ne a sua vigência a começar da da-
que dispõem sobre as contribuições ta de sua pUblicação: é dispositivo
devidas à Previdência Social (Di- cuja execução ficará diferida até o
reito Intertemporal) - Rio, Fnii- começo do exercício financei.ro se-
tas Bastos, 1955, 2~ ed., pág. gUinte à data de sua publicação.
336/340).» Alcança apenas o fato gerador
Assim, a própria Previdência So- ocorrido depois do início do ano fi-
cial reconhece o caráter tributário nanceiro imediato à pUblicação da
das contribuições previdenciárias e o lei». (Dir. Trib. Bras. - 6~ edição
próprio Sr. Ministro de Estado apro- - Forense - pág. 80 e 81).
va esse entendimento, como se veri-
fica ao final daquele parecer, O insigne mestre nos ensina tam-
esquecendo-se, todavia, que os au- bém:
mentos das contribuições regem-se «A controvérsia, afinal, do ponto
pela norma constitucional: de vista do nosso estudo, limitado
«Art. 153 - § 29 - Nenhum tri- ao Direito brasileiro, coloca o pro-
buto será exigido ou aumentado blema em termos de saber-se se as
sem que a lei o estabeleça, nem co- contribuições parafiscais são ou
brado em cada exercício, sem que não um tributo, têm caráter es-
a lei que houver instituído ou au- pecífico, como pretende Morselli,
mentado esteja em vigor antes do ou não passam de imposto, como
início do exercício financeiro, ... » sustenta Merigot.
o q!1e vem corroborar o entendimen- Ora, ambos os escri.tores não con-
to do impetrante relativamente à testam o caráter coercitivo da para-
precisão da Lei 6.332, que autoriza o fiscalidade. Logo, tributária se reve-
aumento da contribuição previden- la a sua natureza jurídica e econômi-
ciária para o mês em que entrarem ca.»
em vigor os novos índices do salário
168 TFR - 71

«Ora, as receitas de previdência termo parafiscal não exime o legis-


social, no Brasil, como na França, lador de obedecer à Constituição,
englobam mais de 80% das contri- nem o administrador de obedecer
buições dos empregadores, do pú- à lei. Obrigação ex lege é tributo e
blico em geral. A deste último é, deve obedecer bo regime tributá-
iniludivelmente, imposto, como im- rio, receba o nomem iuris de cons-
posto são as daquele primeiro gru- tituição ou outro qualquer e mes-
po.formado pelo SESI, LBA., IBGE mo que venha acompanhada do
e outras entidades.» miraculoso adjetivo parafiscal.»
«É imperiOSO deixarmos definiti-
«As contribuições parafiscais, em vamente para trás, enterrada ine-
resumo, são tributos, e, como tais, xoravelmente no passado, a men-
não escapam aos princípios da talidade primária que supõe -
Constituição.» muito ingênua ou muito industrio-
(Obra cito págs. 570 e 571). samente - que a alegação do ca-
ráter parafiscal autoriza a desobe-
Geraldo Ataliba, o ilibado catedrá- diência aos cânones constitucionais
tico é categórico: limitatórios da tributação.»
«São ttibutos parafiscais aqueles «O grande João Mangabeira, es-
criados (evidentemente por lei) pa- tudando o empréstimo compulsório
ra certas pessoas diversas do Esta- - à época em que pouco debatido
do e arrecadados por elas pró- tinha sido o assunto - ao refutar
prias. Estas pessoas podem ser pú- os arautos da tese de que de tribu-
blicas aútárquicas ou mesmo pri- to não se tratava, escreveu, sabo-
vadas, desde que com finalidades rosamente: «Não basta, para bur-
de utilidade pública. São tributos lar a Constituição, fazer-se uso de
parafiscais ... os tributos destinados nome falso. Porque se a lei, ou a
ao I.N.P.S ... . autoridade policial, estabelecesse
«A designação contribuição para- que se poderia compulsoriamente
fiscal não retira a um tributo seu convidar e levar alguém a repousar
caráter tributário. Qualquer que ou veranear num presídio, com a
seja o nome com que se batize, «to- tabuleta «clínica de repouso» ou
da obrigação pecuniária ex lege «estação balneária», ninguém se
em benefício de pessoa pública ou deixaria lograr por esse embuste e
com finalidades de utilidade publi- não haveria Juiz que não acudisse
ca» é tributo e se submete ao ao preso com a garantia de habeas
chamado regime tributário; con- corpus (R.D.P. Vol. 19).»
junto de princípios e normas cons- «A analogia nos parece oportuna:
titucionais, que regulam a exigên- O JUdiciáriO não deixará de socor-
cia coativa de prestações pecuniá- rer a vítima de tributação inconsti-
rias pelo estado. tucional só pela invocação de seu
Este regime se caracteriZ'a pelos eventual caráter parafiscal.» (Ge-
princípios de isonomia (art. 153, § raldo Ataliba: «Hipótese de Inci-
I?), estrita legalidade (art. 153, § dência Tributária» Ed. R.T., págs.
29 e art. 19, I), anterioridade da lei 200/202) .
ao exercício financeiro (art. 153, §
29,2': parte): .. » Muito elucid;:ltivo, portanto, o tre-
cho em que o mestre antecipa que o
Continuando, o mestre AtalÍba é legislador não se exime de obedecer
l.ais eloqüente ainda: à Constitui.ção, nem o administrador
«É preciso deixar insistentemen- de obedecer à lei. É o caso presente,
te sublinhado que a invocação do pois a Lei 6.332, atendenQo ao
TFR - 71 169

princípio da anterioridade, e autori- 7.4 - Inquestionável o caráter tri-


zando o aumento do teto no exercício butário das contribuições previden-
de 1977, e:;peHcamente no mês em ciárias e seu conseqüente respeito à
que entrem em vigor os novos letra constitucional, como o,princípio
índices de salário mínimo, atendeu da anterioridade. A lei 6.332 obedeceu
plenamente aos reclamos e limita- fielmente ao princípio, no 4ue não foi
ções constitucionais. Porém, admi- seguida pela Portaria Ministerial
nistrativamente, a Lei 6.332 não foi que quer imputar um aumento de
obedecid"a .. Nem mesmo a Magna tributo no mesmo exercício financei-
Carta. Querer imputar um aumen- ro da publicação da lei que o autori-
to tributario no mesmo exercício fi- zou.
nanceiro em que foi publicada a lei O Pedido
que o majorou é ilegal e inconstitu-
cional, o que se dirá de querer apli- Diante de todo o exposto e conside-
car o aumento tributário no mesmo rando a iminência de serem exigidas
mês em que entrou em vigor a lei do impetrante contribuições previ-
que o autorizou? Não é outro O en- denciárias com base no teto ilegal e
tendimento da jurisprudência do Su- inconstitucional de Cr$ 14.872,00, o
premo Tribunal Federal, consolida- impetrante vem, respeitosamente,
da na Súmula n? 67: requerer a V. Exa. a concessão de
medida liminar, invocando ainda os
«lt inconstitucional a cobrança d01l1tOS suprimentos desse D. Juiz
de tributo que houver sido criado com o intuito único de proteger direh
ou aumentado no mesmo exercício to líquido e certo do impetrante de
financeiro. » proceder ao pagamento de suas con-
7.Conclusivamente tribuições previdenciárias calcula-
7.1 - A Portaria n? 414, de 31-5-76, das em bases le~ais, det~minando
do Sr. Ministro da Previdência e As- em conseqüência, a citação, por man-
sistência Social, retro agiu ao estabe- dado, do Sr. Subsecretárid da Arre-
lecer que o novo teto da previdência cadação e Fiscalização do INPS,
social - Cr$ 10.400,00 - fosse corri- nesta cidade de São Paulo.
gido com um índice de correção sa- Com a concessão da medida plei-
larial fixado para o mês anterior à teada, estará V. Exa., como de cos-
vigência da lei que o autorizou. tume, praticando a indispensável
7.2 - Admitindo-se ad Justiça!
argumentandum, que a Portaria n? Dando à presente, para efeitos fis-
414 é o regulamento da Lei 6.332, o cais, o valor de Cr$ 1.000,00 (um mil
mesmo esbanjou ao disciplinar que a cruzeiros), pede e espera deferimen-
partir de 1? de junho de 1976, o teto to.
das contribuições previdenciárias se- São Paulo, 14 de julho de 1976 -
ria Cr$ 14.872,00, quando a lei, Carlos Fernando França da Cruz
que éhtrou em vigor a 1? de junho de Lima, O.A.E. n? 28.216 - São Pau-
1976, fixa o teto em Cr$ 10.400,00 pa- lo.»
ra o corrente exercício.
O MM. Juiz mandou processar o
7.3 - Não se admitindo o caráter pedido, concedendo, desde logo, a
regulamentador da Portaria em medida liminar.
questão, da mesma forma se conclui
pela inconstitucionalidade da medi- Solicitadas as informações de pra-
da. Se, como decreto inconstitucional xe, prestOl-!-as a autoridade impetra-
seria, quanto mais como simples da, sustentando a legalidade do ato
Portaria. impugnado.
170 TFR - 71

o MM. Juiz Federal concedeu a ral, como assistente, opina de acordo


segurança ao argumento seguinte: com as conclusões da autarquia as-
«A Lei n? 6.332. de 18-5-1976. em sistida.
seu artigo 5? § 2? fixou o limite E o relatório.
máximo de Cr$ 10.400.00 para o
exercício de 1976 e estipulou que o VOTO
reajustamento far-se-á por ocasião
da vigênci~ dos novos níveis do sa-
lário mínimo. Ora. em seu próprio O Sr. Ministro Lauro Leitão: Como
texto. artigo 12. determinou que se sabe, o Brasil possui uma Consti-
sua vigência se iniciasse em I? de tuição escrita e rígida. Por isso. as
junho de 1976, o mês seguinte ao de leis. ou mais propriamente as nor-
sua aplicação.» mas jurídicas. não estão situadas no
mesmo plano. mas obedecem a uma
Destarte. o limite máximo para o graduação, possuem hierarquia.
exercício de 1976 só poderá ser rea- Destarte. a norma jurídica de posi-
justado com base nos níveis de salá- ção hierárquica superior pravalece
rio mínimo em 1977. em que pese a sobre o situada em plano inferior.
argumentação expedida pela Procu-
radoria da Repúthica. pois a lei é Valendo-me da pirâmide jurídica
clara ao determinar sua vigência pa- concebida por Hans Kelsen, enume-
ra o mês segUinte ao da pUblicação e rarei algumas das principais leis do
ao condicionar o reajuste por oca- Brasil, em ordem hierárquica de-
sião de fixação dos novos níveis de crescente, para que melhor possa
salário mínimo. examinar a espécie sub judice.
Além disso. a Portaria Ministerial Assim. no ápice da pirâmide
não pode regulamentar uma lei, jurídica. portanto. revelando o mais
pois, segundO a lição de lIely Lopes alto grau hierárquico de normativi-
Meirelles, «as portarias. como os de- dade, se situa a Constituição Fede-
mais atos administrativos internos. ral.
não atingem nem obrigam as parti- Ao lado da Lei Maior se posiciona
culares» (in Direito Administrativo a Emenda Constitucional. E que a
Brasileiro - 3~ edição - pág. 152). Emenda Constitucional. muito embo-
A regulamentação deveria ser efeti- ra votada e promulgada pelo Poder
vada por decreto do Presidente da Constituinte de 2? Grau, ou seja, pelO
RepÚblica. Congresso Nacional, não pOde ficar
em posição hierárquica inferior à
Diante da interpretação dada ao Constituição e isto porque ela tem
texto leg;:tl, fica prejudicado o argu- força normativa para modificar a
mento de impossibilidade de aumen- Lei Maior. quer com acréscimo.
to de' contribuição no mesmo quer com suprel:jsão, quer com alte-
exercício, dado o seu caráter tributá- ração de seu texto.
rio. pois efetivamente tal íato só
ocorrerá no exercício segUinte à vI- Em segundo plano, se situa a lei
gência da lei. complementar. votada pelo Congres-
so Nacional, com a exigência do
O INPS, todavia, inconformado quorum qualificado de maioria abso-
com a r. sentença, dela apelou, jun- luta. e sancionada pelo Presidente
tando, desde logo suas razões. da República.
O apelado ofereceu contra-razões. Em terceiro lugar. em ordem hie-
Nesta jnstância, a douta Subprocu- rárquica decrescente. se situam as
radoria-Geral da República, ofician- leis ordinárias, que se subdividem
do no féito, em nome da União Fede- em leis ordinárias propriamente di-
TFR - 71 171

tas, leis delegadas, decretos-leis e regulamento negar. O regulamento


decretos-legislativos. atua .dentro do círculo traçado pela
Em quarto lugar, se posicionam os lei» (Paulino JacquesL
decretos do Poder Executivo Como ensina Hely Lopes Meirelles,
(decretos-regUlamentares), as reso- «o poder regulamentar é a facuidade
luções do Congresso Nacional e o re- de que dispõem os Chefes do Poder
gimento interno do Supremo Tribu- Executivo (Presidente da República,
nal Federal, todos no mesmo grau Governadores e Prefeitos) de expli-
hierárquico. citar a lei 'para sua correta execu-
Em quinto lugar, ficam as porta- ção, ou de expedir decretos autônomos
ria ministeriais e os regulamentos sobre matéria' de sua competência
das Autarquias. ainda não disciplinada por lei. É um
Eis, pois, as principais leis ou nor- 'poder inerente e privativo do Poder
mas jurídicas, que compõem o orde- Executivo (Constituição da RepÚbli-
namento jurídico do País. ca, art. 81, lU), e, por isso mesmo,
A lei, como se sabe, é norma, o di- indelegável a qualquer subordina-
reito é fato. do» ... O essencial é que o Executivo,
ao expedir o regulamento - autôno-
A norma jurídica, como ensinam mo ou de execução da lei - não in-
os filósofos do Direito, apresenta as valida as chamadas «reservas da
características genéricas da bilate- lei», ou seja, aquelas matérias só
rialidade, do objetivismo, da coerci- disciplináveis por lei, e tais são, em
bilidade e da sanção, bem como as princípio, as que afetam as garan-
específicas da generalidade, da abs- tias e os direitos individuais assegu-
tratividade e da permanência. rados pela Constituição (art. 153 e
Segundo o nosso sistema constitu- seus parágrafos») (Direito Adminis-
cional, o Presidente da República co- trativo Brasileiro, pág. 100/101, de
labora com o Congresso Nacional na Hely Lopes Meirelles).
feitura das leis. E colabora não só As portarias ministeriais não são
quando toma a iniciativa de encami- propriamente leis, mas atos admi-
nhar qualquer tipo de projeto-lei nistrativos, gerais ou especiais, não
(mensagem) à apreciação do Poder podendO contrariar a lei, o regula-
Legislativo, como também quando mento, o decreto, sob pena de pade-
promulga, sanciona ou veta as leis cerem do vício da ilegalidade.
votadas pelo Congresso Nacional.
Se abra Fagundes, referindo-se aos
Mas, compete também ao Presi- regulamentos, instruções e porta-
dente da República e, privati vamen- ri2:s, ensina que «se estes atos reves-
te, expedir decretos e regulamentos tem os caracteres de generalidade e
para o fiel cumprimento das leis coatividade, falece-lhes, nos entanto,
(Constituição Federal, art. 81, U!). o da novidade. Não acarretam qual-
Os decretos regulamentares ou re- quer modificaçação à ordem jurídica
gulamentos têm por objetivo assegu- vigorante. Hão de restringir-se a
rar a boa execução das leis, interpetá-Ia com finalidade executi-
desenvolvendo-as e pormenorizando- va o conterem disposições de sentido
as, sem, todavia, extravazar os seus geral não basta, pOis a generalidade,
limites. sendo característica de lei, não o é
«O regulamento não adita a lei» somente dela. Existem atos adminis-
(Francisco Campos), «mas também trativos de alcance impessoal, ou pe-
não lhe restringe o campo de inci- lo menos, comum a .grupos de pes-
dência; aquilo que a lei não deu, não soas.
pode o regulamento outorgar, tanto Tais as ordens eventuais de regu-
quanto o que a lei deu, não pode o lamentação do trânsito, por ocasião
172 TFR - 71

de festas, de incêndios, etc. tais, as maior hierarquia no direito adminis-


tabelas de preços impostas a certas trativo» (STF, em RF, vol. 107, pág.
mercadorias e serviços (<<Controle 65 RF., vol. 107, pág. 277 e RF, vol.
dos Atos Administrativos pelo 'poder 112, pág. 2.023).
Judiciário», 4? Edição, 1968, páginas Pelas portarias também se fazem
32/3, nota 2). nomeações e exonerações de funcio-
A portaria interna se destina aos nários de menor categoria.
funcionários. Em resumo, como ato administra-
A portaria externa se dirige ao pú- tivo que, na realidade, é, a portaria
blico. não tem vida autônoma. Só vale,
A portaria vale na medida em que, pois, na medida em que se conforma
apoiando-se em lei ou regulamento, com a lei, regulamento ou decreto.
explicita o que deixou de ser explici-
tado no texto básico. Princípio da Irretroatividade das
Leis. Direito Adquirido
Não pode, destarte, a portaria ino-
var a lei ou o decreto. «A base fundamental da ciência do
Bandeira de Mello ensina que a conflito das leis no tempo é a distin-
portaria é «usada para baixar ins- ção entre efeito retroativo e o efeito
truções sobre andamento dos servi- imediato da lei».
ços ou para transmitir determina- Corno se sabe, o efeito retroativo é
ções dos cidadãos em geral ou a par- a aplicação no passado, enquanto
ticulares diretamente interessados, que o efeito imediato é a aplicação
conforme o assunto em foco, dando- no presente.
lhe conhecimento do procedimento a O Código Civil Brasileiro, em seu
seguir em casos especificados, nos artigo 2?, proíbe o efeito retroativo
termos da lei» (Princípios Gerais de da lei.
Direito Administrativo, 1969, vol. 1,
pág.484). «O legislador só poderá dar à lei
virtude retro operante, fazendo-o
Lopes Meirelles afirma que «as expressamente, o que aliás não o
portarias, corno os demais atos ad- exige termos sacramentais.»
ministrativos internos, não atingem, (Acórdão da 2? Turma do STF,
nem obrigam aos particulares, pela de 19-10-43 ReI. Ministro Orozimbo
manifesta razão de que os cidadãos Nonato, in Revista Forense
não estão sujeitos ao poder hieráqui- 102/72).
co da Administração Pública (Direi- O princípio da irretroatividade
to Administrativo Brasileiro, 2? ed. tem, em verdade, o sentido de prote-
1966, pág. 192). ção individual.
A propósito, decidiu o Egrégio Su- Assim, «a não retroatividade das
premo Tribunal Federal que, «entre leis é a regra dominante em Direito,
as fontes do direito administrativo porque elas se destinam a regular os
não se encontram as portarias mi- casos futuros, o efeito retroativo ex-
nisteriais, simples instruções a seus presso é urna exceção», consoante a
subordinacos e incapazes de r:evogar lição de, Planiol, Ripert e Paul Es-
a lei», que «as circulares e portarias mein».
das autoridades superiores a seus
subordinados não obrigam a particu- Não se deve por isso, admitir a re-
lares», que «as portarias são ordens troatividade virtual da lei, devendo
internas de serviço e prescindem da sempre resultar de cláusula expres-
publicidade dada para leis e atos de sa.
TFR - 71 173

A Constituição Federal, em seu ar- «A apreciação de inconstitucio-


tigo 153, § 3~, assegura o respeito ao nalidade de uma lei ou de um ato
direito adquirido, ao ato jurídico per- do poder públiCO e a sua decreta-
feito e à coisa julgada. ção ou não, segundo se apure ou
não o atrito com a Constituição,
Não apresentando, embora, um pode-se verificar ou em proc~sso
conceito de direito adquirido a Cons- comum, em que a argüição é feita
tituição quer significar, com tais dentro de uma controvérsia jurídi-
expressões, que a lei dispõe para o fu- ca, entre partes e para decidir de-
turo é que não prejudicará o direito terminada relação de direito, ou
adquirido. por meio de argüição direta, visan-
Inconstitucionalidade de lei do à apreCiação específica da in-
Diz-se que uma lei é inconstitucio- constitucionalidade.
nal quando ela é incompatível, no to-
do ou em parte, com a Constituição É este o processo normal, quan-
Federal. do no curso da demanda surge a
Compete ao Poder Judiciário, questão constitucional e o juiz é
além de dizer o direito e distribuir obrigado a resolver a dúvida quan-
justiça aos postulantes, apreciar a to à validade do ato ou da lei em
constitucionalidade das leis. face à Constituição, para decidir
sobre a relação de direito e a ma-
Como ensina Paulino Jacques, téria de fato também objeto na
«quanto à natureza, a inconstitucio- ação.
nalidade pode ser formal ou substan-
cial, conforme afete o processo çle Nesse caso, o objeto da ação não
elaboração legislativa ou o conteúdo é a constitucionalidade, senão uma
da lei». relação jurídica que envolve a
aplicação de uma lei cuj a validade
«A inconstitucionalidade formal, à é contestada, em face à Constitui-
sua vez, apresenta quatro modalida- ção.
des:
Uma ação regularmente propos-
a) vício de incompetência (por ta por quem tenha interesse jurídi-
ex., aumento do número de juízes co, e a violação do direito pela
de um Tribunal de Justiça, sem aplicação de um ato ou norma in-
prévia proposta deste) constitucional, caracterizam esse
b) vício de tramitação (p. ex., tipo de ação.
sanção ou promUlgação de um pro- No conhecimento do litígio, da
jeto de lei que não haja transitado controvérsia, é que a questão cons-
pelo Senado) titucional é examinada, geralmen-
c) vício de quorum (p. ex., pro- te como prejudicial.»
jeto aprovado sem a presença da Quanto à declaração de inconstitu-
maioria absoluta) cionalidade em mandado de segu-
d) vício de turnos (p. ex., projeto rança, diz, ainda, o citado jurista
aprovado num só turno, quando o patríCio:
Regimento exige dois)>>. «A jurisprudência tem decidido
A inconstitucionalidade substan- afirmativamente, embora com al-
cial, entretanto, é genérica, ocorren- gumas opiniões contrárias como a
do toda a vez que a lei se revela in- do Ministro Hahnnemann Guima-
compatível com a Constituição». rães.
Sobre os processos de apreciação Parece-nos que nenhuma outra
da inconstitucionalidade, preleciona questão se ajusta tão bem com a
ThemÍstocles Brandão Cavalcanti: técnica do mandado de segurança
174 TFR - 71

quanto à da constitucionalidade. mesmo processo e a mesma técni-


Esta precisa entretanto .ser mani- ca usados para as demais ações.)}
festa, indiscutível, líquida, certa, O Processo de Controle
para ser decretada. A violação da Quanto ao processo de controle, a
letra e não do espírito da Constitui- inconstitucionalidade pOde ser decla-
ção é que precisa ser atingida na rada por via de ação ou controle di-
expressão de Black, para que uma reto e por via de exceção.
lei seja declarada inconstitucional.
O controle por via de ação, em re-
Ora, esta é também a índole do gra, é usado nos países que possuem
mandado de segurança; a certeza um Tribunal especial ou nos que
e liquidez de direito, a violação da atribuem tal declaração ao Poder
letra da lei e das garantias nela Legislativo.
expressas é que constituem os
pressupostos do mandado de segu- O controle por via de exceção ou
rança. controle indireto é adotado, em re-
gra, nos países que atribuem tal
O processo de julgamento da va- missão ao Poder Judiciário, como,
lidade das leis em face da Consti- por exemplo, nos Estados Unidos e
tuição conduz, aliás, automatica- no Brasil.
mente à mesma conclusão pela Esta, como disse, é a regra. Há
não aplicação das leis inconstitu- exceção. Com efeito, no Brasil tam-
cionais, pela obediência à hierar- bém, hoje, a declaração da inconsti-
quia das normas. tucionalidade pode ser obtida, atra-
Não é, assim, propriamente de- vés de ação ou controle direto. E,
claração de inconstitucionalidade, pois, o que diz a Constituição, em
mas apenas a aplicação do precei- seu artigo 119, inciso I, alínea «!)}. E
to mais amplo, à norma de hierar- o controle provocado pelo
quia mais alta, com a eliminação Procurador-Geral da República pe-
automática do preceito a ela su- rante o STF.
bordinado. Entre nós o Poder Judiciário de-
Quando se trata, porém, de ato clara, tão-somente, a inconstitucio-
do poder público, as conseqüências nalidade da lei ou decreto, cabendo
são mais graves porque a declara- ao Senado Federal suspender-lhes
ção de inconstitucionalidade fulmi- execução (art. 42, inciso VII da
na o ato. O ato administrativo, pa- Constituição Federal).
ra usar-se da própria técnica de No Brasil qualquer juiz pode deci-
Lei n? 221, de 1894, é anulado, por dir sobre a constitucionalidade ou in-
ilegal. constitucionalidade de uma lei, de-
Mas nenhum obstáculo existe a creto e de outro ato jurídico. Qual-
que se dê ampla aplicação às nor- quer pessoa pode, perante o Poder
mas processuais e à técnica judi- Judiciário, em caso de demanda,
ciária comuns, também ao manda- defender-se, com fundamento numa
do de segurança, desde que o direi- inconstitucionalidade, usando, por-
to sej a líquido e certo ou, em ou- tanto, o processo de controle por via
tras palavras, que seja manifesta de exceção.
a inconstitucionalidade da lei ou A sentença proferida pelo Juiz, a
ato do poder público, envolvidos na respeito, terá plena eficácia entre as
controvérsia. partes, muito embora não obrigue a
Na prática, portanto, a questão revogação do ato declarado inconsti-
não tem maior relevo desde que se tucional, não produzindo, como dis-
transportem para o caso particu- se, efeitos sobre terceiros que não
lar do mandado de segurança o participaram da ação.
TFR - 71 175

«Como é evidente, aceitar-se a «A responsabilidade pela emana-


competência de qualquer juiz, em ção do ato a ser praticado e acoi-
qualquer causa, para decidir com mado de coator_ é da autoridade
base na recusa ou aceitação de ora impetrada.
uma alegação de inconstitucionali-
dade pode parecer temerário. En- Hely Lopes MeireHes ressalta em
tretanto, como observa Karl Loer- termos precisos:
vestein, existe o chamado controle «Considera-se autoridade coato-
intra-órgão, do Poder Judiciário, ra a pessoa ~ue ordena ou omite
que construiu um verdadeiro siste- a prática do ato impugnado e não
ma de segurança e que se externa, o ~uperior que o recomendq ou
sobretudo, através de duas pecu- baixa normas para a sua execu-
liaridades, a jurisdição em mais ção».
de um grau e a organização cole-
giada dos tribunais. Assim, pois,
assegurada sempre a possibilidade (in «Mandado de Segurança e
de recursos de decisões ,que ver- Ação Popular» 3? edição, página
sem matéria constitucional, vai-se 29).
até o Supremo Tribunal Federal, De igual forma, improcede a ale-
resguardando-se a necessária uni- gação no tocante à impOSSibilidade
formidade de interpretação das de exame da constitucionalidade,
normas constitucionais e exceto em remédio próprio. Ora,
assegurando-se o uso uniforme e esse controle pode efetivar-se tan-
harmônico das competências to por via de ação direta quanto
oriundas da Constituição ... ». (<<Po- por via de exceção ou defesa, na
der Judiciário e a Constituição» forma de argumento incidental, tal
Coleção Ajuris 4, pág. 160). como ocorre no caso presente. As-
Qualquer ato praticado pelo Poder sim, teoricamente, é possível plei-
Público tem que se adequar, neces- tear o impetrante, por via de ex-
sariamente, à Constituição Federal. ceção, ser subtraído da incidência
A propósito, ensina Vicente Ráo «o da norma ou do ato inconstitucio-
princípio de constitucionalidade exi- nal. Analisa Celso Bastos, em
ge a conformidade de todas as nor- «Perfil Constitucional da Ação Di-
mas e atos inferiores, leis, decretos, reta de Declaração de Inconstitu-
regulamentos, atos administrativos e cionalidade» Revista de Direito
atos judiciais às dispOSições substan- Público, volume 22/88
ciais ou formais da Constituição». «Mesmo quando, através de
(<<O Direito e a Vida dos Direitos», mandado de segurança pleiteia o
São Paulo, ed. Max Limonad, 1952, seu autor a anulação de um de-
Vol. I, pág. 347). terminado ato administrativo,
As considerações anteriormente com fundamento na sua inconsti-
feitas sobre a doutrina tiveram como tucionalidade, o que na verdade
objetivo facilitar a análise de todos ele obtém é que o referido ato
os elementos que integram este pro- sej a considerado nulo na medida
cesso e, sobretudo da r. sentença em que o atinge».
apelada. Acrescente-se não tratar-se de
direito em abstrato, mas em efe-
tiva coação, consubstanciada na
Passo, assim, a segUir, a prOferir exigência de recolhimento de
o meu voto. contribuição com base em teto
A r. sentença de I? grau, em sua superior ao legalmente estabele-
parte conclusiva assentou: cido.
176 TFR - 71

Rejeito, portanto, as prelimi- ocorrerá no exerClClO seguinte à


nares suscitadas pela autoridade vigência da lei.
impetrada. Por todo o exposto, concédo a se-
No mérito, cuida-se de exami- gurança».
nar a retroatividade de Portaria Correta a r. sentença apelada, a
Ministerial emanada para regu- meu ver, na part~ em que rejeitou a
lamentar a Lei n? 6.332, de 18 de preliminar argüida pela Impetrada,
maio de 1976. de que não é possível o exame da
E, efetivamente, assiste razão constitucionalidade de lei ou ato ad-
ao impetrante. nistrativo, via mandamus ........... .
A mencionada lei, em seu artigo Com efeito, o processo de mandado
5?, § 2?, fixou o limite máximo de de segurança é uma ação.
Cr$ 10.400,00 (dez mil, quatrocen- É, pois, meio de defesa de um di-
tos cruzeiros) para o corrente reito violado ou na iminência de ser
exercício e estipulou que o rea- violado pela Administração. In casu,
justamento far-se-á por 'ocasião da pelas informações da impetrada,
vigência dos novos níveis do verifica-se que esta pretende apli-
salário-mínimo. Ora, em seu pró- car contra b ora Impetrado uma
prio texto, artigo 12, determinou Portaria por este considerada in-
que suá vigência se iniciasse em I? constitucional.
de junho de 1976, o mês seguinte
ao de sua publicação. Themístocles Brandão Cavalcanti,
a respeito, sustenta:
Destarte, o limite máximo para
o exercício de 1976 só poderá ser Parece-nos que nenhuma outra
quest~o se ajusta tão bem com a
reajustado com base nos níveis de
salário-mínimo em 1977, em que técnica do mandado de segurança
pese a argumentação expendida quanto à da constitucionalidade.
pela Procuradoria da República, Êsta precisa, entretanto, ser mani-
pois a lei é clara ao determinar festa, indiscutível, líquida, certa,
sua vigência para o mês seguinte para ser decretada» ... «O processo
ao da publicação e ao condiciq.nar de julgamento da validade das
o reajuste por ocasião da fixação leis, em face da Constituição con-
dos novos níveis de salario- duz, aliás, automaticamente, à
mínimo. mesma conclusão pela não aplica-
ção das leis inconstitucionais, pela
Além disso, a Portaria Ministe- obediência à hierarquia das nor-
rial não pode regulamentar uma mas» (Do Controle da Constitucio-
lei, pOis segundo a lição de Hely nalidade, pág. 1001101, de
Lopes Meirelles «as portarias, co- Themístocles Brandão Cavalcan-
mo os demais atos ádministrativos ti).
internos, não atingem nem obri-
gam aos particulares», (in Direito Por outro lado, a jurjsprudência de
Administrativo Brasileiro, 3~ edi- nossos tribunais também se vem
ção página 152). A regulamentação orientando no mesmo sentido da
deveria ser efetivada por decreto opinião do citado jurista patrício.
do Presidente da República. Assim, confirmo a r. sentença ape-
lada, na parte em que rejeitou a pre-
Diante da interpretação dada ao liminar argüida pela Impetrada.
texto legal, fica prejudicado o ar-
gumento de impossibilidade de au- «De Meritis»
mento da contribuição no mesmo A Lei n? 6.332, de 18-5-1976, que al-
exercício, dado o seu caráter tribu- tera os tetos de contribuição devida
tário, pois efetivamente tal fato só à Previdência Social, foi publicada
TFR - 71 177

no Diário Oficial da União lI, de 19- Por outro lado, os §§ 1? e 2? do


5-1976. mesmo artigo 5? estabelecem que o
reajustamento salarial será relizado,
anualmente, com base nos novos
No artigo 12 da citada lei está ex- níveis do salário mínimo.
presso:

«Art. 12. Esta lei entrará em vi- Assim, para o exercício de 1976, o
gor no primeiro dia do mês seguin- fator de reajustamento salarial inci-
te ao de sua publicação.» diu sobre o limite máximo de Cr$
10.400,00.
Assim tendo sido publicada no dia
19-5-1976, a Lei n? 6.332/76 entrou em
vigor no dia 1? de junho de 1976.
E, dizendo-se com base nas dispo-
sições legais citadas, foi baixada a
Preceitua o seu artigo 5?: Portaria n? 414, de 31-5-76, que deter-
minou a correção do teto então vi-
«Art. 5? O limite máximo do sa- gente, isto é, de Cr$ 10.400,00, para
lário de contribuição para o cálcu- Cr$ 14.872,00, a partir de I? de ju-
lo das contribuições destinadas ao nho do mesmo ano.
INPS a que corresponde também a
última classe da esclara de
salário-base de que trata o artigo
13 da Lei número 5.890, de 8 de ju- Todavia, tendo o artigo 5? da refe-
nho de 1973, será reajustado de rida Lei detrminado que o reajusta-
acordo com o disposto nos artigos mento é anual, tomando-se por base
1? e 2? da Lei n? 6.147, de 29 de no- os novos níveis do salário mínimo fi-
vembro de 1974. xado para o mês em que estes entra-
rem em vigor, conclui-se, lógica e
iniludivelmente, que a referida por-
§ 1? O reajustamento previsto taria extrapolou os limites da Lei,
neste artigo será feito anualmente, quando mandou reajustar o teto, pa-
com base no fator de reajustamen- ra vigorar naquele exercício, em Cr$
to salarial fixado para o mês em 14.872.00.
que entrarem em vigor os novos
níveis do salário-mínimo.
Destarte, legalmente, o aludi.do
§ 2? O fator de reajustamento reajustamento somente teve vigên-
salarial de que trata o § 1? deste cia, quando fixado o novo salário
artigo incidirá no corrente mínimo, isto é, a partir do exercício
exercício, sobre o limite máximo de 1977.
de Cr$ 10.400.00 (dez mil e quatro-
centos cruzeiros).
Em face de todo o exposto, nego
provimento à apelação, para confir-
A referida Lei, em seu artigo 5?, mar a r. sentença de 1? grau, por
como se vê, fixa o limite máximo a suas conclusões.
ser considerado, para efeito de rea-
justamento das contribuições desti-
nadas ao INPS. E o meu voto.
178 TFR - 71

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 82.009 - SP

Relátor: O Sr. Ministro ~Uo Rocha.


Remetente: Juiz Federal da 6~ Vara
Apelante: Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural - «FUNRURAL»
Apelado: Frigorífico Kaiowa SI A.
Aut. Requer.: Diretor Regional do «FUNRURAL».

EMENTA
FUNRURAL - Incidência sobre o ICM - Fri-
gorífico.
Incidindo o ICM sobre o preço relativo à opera-
ção mercantil de que resultou a saída do gado do· es-
tabelecimento produtor, fica incorporado ao valor co-
mercial dessa operação e, conseqüentemente, integra
a base do cálculo das contribuições para o FUNRU-
RAL.
Precedente deste Tribunal.
Apelo provido para cassar a segurança.

ACORDA0 Cr$ 320.403,41 (trezentos e vinte mil,


quatrocentos e três cruzeiros e qua-
Vistos e relatados os autos em que renta e um centavos), importãncia
são partes as acima indicadas: que lhe fbi cobrada a título de contri-
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe- buição ao FUNRURAL, à alíquota
deral de Recursos, à unanimidade, de 2 (dois por cento) aplicada. sobre
dar provimento para cassar a segu- ICM referente a compra de bovinos.
rança, na forma do relatório e notas Instruiu a liminar com os docu-
taquigráficas constantes dos autos, mentos de fls. 17/48, obtendo os favo-
que ficam fazendo parte integrante res da liminar pelo despacho de fls.
do presente julgado. 50.
Custas como de lei. As informações foram juntadas às
Brasília, 19 de maio de 1980. (Data fls. 53/57, sustentando a autoridade
do julgamento) - Ministro Peçanha coatora a legalidade de seu ato, por
Martins ,Presidente - Ministro Otto incidir, o montante do ICM, sobre o
Rocha, Relator. preço relativo à operação de .que re-
sultou a saída do gado do estabeleci-
mento produtor, integrando a base do
RELATORIO cálculo e o valor comercial da opera-
ção de saída realizada pelo produtor.
O Sr. Ministro Otto Rocha: Trata-
se de segurança impetrada por Fri- O Ministério Público Federal
gorífico Kaiowa SI A contra o Diretor manifestou-se às fls. 58.
Regional do Fundo de Assistência ao O MM. Dr. Juiz a quo concedeu a
Trabalhador Rural, por não se con- segurança e submeteu seu decisório
formar com a Notificação Fiscal de ao duplo grau de jurisdição (fls.
Lançamento de Débito no valor de 65/66). Entendeu o ilustre Julgador
TFR - 71 179

que, sendo o ICM encargo do com- Mandado de segurança:


prador, não pode onerar a contribui-
ção devida ao produtor, por estranha FUNRURAL: Contribuições:
ao real preço de venda. I.C.M. Não há como considerar
Inconformado, apelou o FUNRU- idênticas as base de cálculo da-
RAL (fls. 70), com as razões de fls. quelas e desta. Lei estadual,
71/75, vindo as contra-razões de ape- transferindo o momento do reco-
lado às fls. 80/92. lhimento do I.C.M. para o dia se-
guinte ao daquele em que se veri-
Nesta Superior Instância, a douta ficar o abate do gado adquirido
Subprocuradoria-Geral da República não pode implicar a exclusão da
opina pelo provimento do recurso, contribuição do FUNRURAL.
em Parecer emitido às fls. 95.
:€ o relatório. I.C.M. Sua Integração no valor
comercial. Incidência sobre ele
da contribuição do FUNRURAL.
VOTO Contribuinte de direito do
I.C.M.: - O comerciante (art. 6?
O Sr. Ministro OUo ~ocha (Rela- do Dec.-Lein? 406/69).
tor): Sr. Presidente, o fundamento Multa: ...................... ','
que levou o Dr. Juiz 'a éonfirmar a li-
minar e conceder a segurança, foi o (Ac. pub. no D.J. de 17/11/77),
seguinte:
Naquela assentada de jUlgamento
«Entendo que a base de cál- reformou-'se sentença do então Juiz
culo de tal contribuição é o valor Federal,Dr. José Américo de Souza,
creditado ou pago ao produtor sentença invocada nestes autos, para
pela venda que este realiza também conceder a segurança.
(confira-se o Decreto n?
73.617/74, art. 63, item I letras a e Eis a fundamentação do douto voto
b). Partindo-se desse princípio, do eminente Ministro Aldir Guima-
inadmissível é onerar-se o cálcu- rães Passarinho.
lo com outras parcelas estranhas
à operação de compra e venda,
No caso, o I.C.M. que é encargo «De logo é de dizer-se que não te-
do comprador, não pode onerar a nho como relevante definir-se a na-
contribuição devida pelo produ- tureza jurídica da contribuição pa-
tor, por estranhas ao real preço ra o FUNRURAL se imposto ou
de venda, como seriam outros não, matéria examinada com cui-
eventuais encargos» (Cfr. fls. dado pela inicial. Decisão a res-
66). peito se faria precisa apenas em
face do argumento da impetrante,
Sr. Presidente, a Egrégia T~rceira ora apelada, de que se o ICM inte-
Turma, ao julgar a AMS n? 78.306, de grasse a base de cálculo, para efei-
São Paulo, relator o eminente' Minis- to ela contribuição para o FUNRU-
tro Aldir Guimarães Passarinho, re- _RAL, também deveria ela incidir
formou sentença concessiva da segu- sobre o valor pago pelo transporte
rança, em acórdão com a seguinte de animais, seguro, etc., e implica-
ementa: ria tal procedimento em
transformá-la em imposto também
«Procuração: sua falta ...... . sobre o valor acrescido e com base
de cálculo em tudo semelhante ao
180 TFR - 71

próprio lCM, o que seria inconsti- alterado pelO Decreto-Lei n?


tucional, à vista do disposto no art. 276/67, como por igual ocorre tam-
21, § I? da Carta Magna. bém após o advento da Lei Com-
Ora, não colhe o argumento, não plementar n? 11, de 1971 dispondo,
só por ser o fato gerador diverso - respectivamente, os dispositivos le-
e isto, aliás, não é posto em dúvida gais referidos:
- como a base do cálculo das con-
tribuições para o FUNRURAL seria «Art. 158 - Fica criado o Fun-
diferent~ daquela que serve para o
do de Assi~~éncia e Previdência
cálculo do lCM, pois, segundo pre- ao Trabalhador Rural (FUNRU-
tende a Administração daquele RAL) , destinado ao custeio da
Fundo dita contribuição se faz prestação de assistência médico-
também sobre o valor daquele im- social ao trabalhador rural e
posto. seus dependentes e que será
constituído:
Outro argumento que de pronto é I - da contribuição de 1% (um
de ser afastado é o que diz respeito por cento); devida pelo produtor
à legislação paulista referente ao sobre o valor comercial dos seus
lCM transferir o recolhimento de produtos e recolhida ... »
tal imposto para o dia seguinte (Art. 158 da Lei 4.214/63, com a
àquele em que se verificar o abate alteração do Decreto-Lei n?
do gado adquirido. Parece óbvio 276/67).
que qualquer dispositivo regula- «Art. 15: Os recursos para cus-
mentar do Estado que, para sua teio do Programa de Assistência
melhor fiscalização, ou por qual- ao Trabalhador Rural provirão
quer outro motivo, transfira o mo- das segUintes fontes:
mento do recolhimento do imposto
não pode significar a exclusão da I - da contribuição de 2%
contribuição do FUNRURAL, posto (dois por cento) devida pelo pro-
que, assim não fosse, estar-se-ia dutor, sobre o valor comercial
deixando que a legislação estadual dos produtos rurais e recolhida:
implicasse em eliminação da con- a .. .
tribuição federal em apreço sobre b .. .
determinada parcela, no caso, a
referente à contribuição para o
Fundo em foco. Por isso, data Ora, certo é que no valor comer-
venia, sem maior valia, segundo a cial de um produto se integram os
mim parece, o argumento de que a impostos que o oneram, no mo-
base de cálculo da contribuição mento em que é posto em comér-
não poderia ser alentada por um cio. E, no caso, as dúvidas são es-
valor futuro, correspondente ao pancadas em face do disposto no
lCM, já que este somente é devido art. 2?, item I, do Decreto-Lei n?
pelo adqUirente do gado bovino, 406, de 31.12.1966, que fixou normas
quando de seu abate. gerais. de direito financeiro, apliCá-
veis ao imposto sobre operações
Não será, deste modo, por este relativas à CirCulação de mercado-
argumento que se excluirá a inci- rias e, no § 7? do mesmo artigo es-
dência da contribuição sobre o tabelecendo este, in verbis:
lCM.
Na verdade. a meu ver, o lCM «O montante do imposto de cir-
integra o «valor comercial» a que culação de mercadoria integra a
aludia. o art. 158 da Lei n? 4.214/63, base de cálculo a que se refere
TFR - 71 181

este artigo, constituindo o respec- te (artigo 6?), tem como fato gera-
tivo destaque mera indicação pa- dor a saída da mercadoria do res-
ra fins de controle. pectivo estabelecimento (art. I?,
Embora, a meu ver, a redação inciso 1) e é calculado sobre o va-
do dispositivo em foco não seja das lor da operação de que decorrer di-
'mais felizes, pois o valor do lCM ta saída (art. 2?, 1).
não pode integrar a própria base de Ao alienar gado bovino, portanto,
cálculo sobre o qual ele incide, ~o o pecuarista se torna devedor do
subsistem dúvidas de qti~ integra lCM, cujo pagamento, no Estado
ele o «valor comercial», pela expli- de São Paulo, é cometido ao abate-
citação formulada na parte final dor, na forma prevista no Decreto
do artigo, segundo o qual constitui 5.410/74, mas nem por isso, deixa
o seu destaque mera indicação dito quantitativo de ser acrescido
para fins de controle. E é óbvio que ao preço do produto propriamente.
assim seja em face do que expres- Ora, se assim é, não há porque
samente dispõe o art. 6? do mesmo deixar de considerar o montante
decreto-lei, segundo o qual respectivo como integrando o valOr""
«Contribuinte do imposto é o comercial da mercadoria, e, conse-
comerciante, industrial ou produ- qüentemente, a base de cálculo da
tor que promove a saída da mer- contribuição para o FUNRURAL,
cadoria». tal como definida nos diversos di-
plomas legais que regularam a
Deste modo, de fato, não é o ad- matéria, e, mais recentemente, na
quirente o contribuinte de direito, Lei Complementar 11/71.
tendo sido eliminado,. no tocante ao
lCM, o problema que tantas vezes De outro lado, assentada ser es-
surgia no referente ao antigo im- sa a base de cálculo sobre a qual a
posto de consumo (hoje sobre pro- impetrante deveria haver recolhi-
dutos industrializados), quando ha- do as contribuições para o FUN-
via isenção a beneficiar o adqui- RURAL, não há como ter-se por
rente. E não tem significação ilegal procedimento adotado pela
maior, como já ficou dito, que a le- fiscalização do mesmo
gislação complementar paulista te- considerando-a devedora de dife~
nha fixado momento outro, qual, renças de contribuições e
no caso, o do abate, para o recolhi- aplicandO-lhe a penalidade,
mento do ICM sobre o gado. E cla- cabível».
ro que tal circunstância não pode
afetar a contribuição para o FUN- Também entendo que o montante
RURAL, como pretende o ora ape- do lCM incide sobre o preço relativo
lado». à operação mercantil de que resul-
tou a saída do gado do estabeleci-
Pediu vista dos autos o eminente mento produtor e, por esta razão, e
Ministro Armando Rolemberg, con- em virtude de lei, integra a base do
cordando com o relator, em voto as- cálculo, incorporando-se ao valor co-
sim fundamentado: mercial dessa operação.
A sentença recorrida, como se vê,
«Pedi vista e trago agora o meu não se afina com o precedente cita-
voto. do, da E. Terceira Turma, o' que me
1?e acordo com o Dec.-~eil406/69, leva a dar provimento à apelação,
o unposto sobre operações relati- para o fim de reformar a sentença e
vas à circulação de mercadorias, cassar a segurança.
quanto ao produtor, seu contribuin- E o meu voto.
182 TFR - 71

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 83.103 - SP


Relator: O Sr. Ministro Aldir G. Passarinho.
Remetente Ex Officio: Juiz Federal da 1~ Vara
Apelante: União Federal
Apelado: Pirelli SI A Cia. Industrial Brasileira
EMENTA
Importação.
Preço normal. Preço real (art. 20, lI, do CTN.
Tratado GATT, art. VII, n? 2, clc o Protocolo de
Emenda do Preãmbulo e das Partes II e UI do aludi-
do Acordo, Seção E, emenda ao art. VÚ, becreto-Lei
n? 37, arts. 3? e 4?).
Preço da fatura. (Decreto-Lei 37-66, art. 6?).
Pauta de valor mínimo: competência da Comissão
Executiva do C.P .A. Dec.-Lei n? 37-66, art. 7? Preço
de referência: competênclã do C.P .A. e de sua Co-
missão Executiva (Súmula n? 2 do T.F.R. beco -Lei
1.111-70, art. I?).
CACEX - atribuições (Lei 2.145-53, art? 2?, com
a alteração do art. 14 da Lei 5.025-66. Arts. 9? e 59 da
Lei n? 4.595-64.
Portaria Gb da CACEX: sua legalidade. (Port.
355).
O preço normal, segundo conceito fixado no art.
20, inciso lI, do CTN corresponde ao preço real da
mercadoria, no concéito do Tratado GATT, art. VII,
n? 2, clc o disposto no Protocolo de Emenda do
Preâmbulo e das Partes II e UI do mesmo Acordo,
Seção E, emenda ao art. VII, j i.
As condições de livre concorrência ali referidas se
configuram na forma prevista no art. 4? do Decreto-
Lei n? 37-66, clc o seu art. 3?
O preço normal corresponde ao custo da merca-
doria com os acréscimos necessários ao atendimento
da Obrigação prevista na parte final do art. 3? do
Dec. -Lei n? 37/66 eao inciso II do art. 20 do C.T.N.
Se não há prova de que o preço constante de Lis-
ta fornecida por determinada empresa não corres-
ponde ao preço normal, válida é a recusa do Fisco
em fazer efetuar sobre aquele a base de cálculo do
imposto. E que, embora o preço de fatura possa ser
tomado como indicativo do preço normal (art? 6? do
Decreto-Lei n? 37/66, o seu prõp,rio inciso II prevê se-
jam aputadas discrepâncias entre o preço de fatura
e o preço normal, discrepância esta que, no caso, se
entremostra existente.
TFR - 71 183

A Portaria 355-Gb da CACEX não entra em cho-


que com o art. 2~, III da Lei 2.145/53~ pois ficam res-
peitadas as atribuições dasrepartiçoes fazendárias,
às quais incumbe a fixação do preço normal relativo
a produto incluído na pauta de valor mípimo, ou pa-
ra aquele que não haja preço de referencia. A CA-
CEX apenas faz indicações a respeito, conforme o
autorizam o art. 2?, inciso III da Lei 2.145/53, altera-
da pela Lei n~ 5.025/66 e como colaboração aos ór-
gãos fazendários, não sendo outro o sentido da dita
Portaria 355-Gb, como resulta do seu próprio item
lI, letra a.

ACORDA0 ço de US$ 1,099, por libra peso, é o


real extetno do produto, couespon-
Vistos, relatados e discutidos estes dente a seu preço normal, para ven-
autos em que são partes as acima in- da em condições de livre concorrên-
dicadas: cia, juntandO, para comprová-lO, li~­
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- ta de preços fornecida pela «Dow
deral de Recursos dar provimento à Química SI A». A CACE X, porém, ao
apelação para reformar a sentença e emitir a guia de importação, estabe-
cassar a segurança, unanimemente, leceu valor externo acima do preço
na forma do relatório e notas taqui- normal, do que decorreu ter a auto-
gráficas precedentes, que ficam fa- ridade impetrada, na cobrança do
zendo parte integrante do presente imposto de importação e do IPI, to-
julgado. mado aquela base para calculá-los,
ferindo-lhe, assim, direito líquido e
Custas como de lei. certo. Invoca, a seu prol, o art. 20,
Brasília, 18 de junho de 1979 (data H do CTN, bem como o art: VII,
do julgamento) - Ministro Armando it~i:n 2~ letra a, do Acordo Geral de
Rolemberg, Presidente - Ministro Tarifas e Comércio, e o Protocolo de
Aldir G. Passarinho, Relator. Emenda do Preãmbulo e das Partes
H e IH, do Acordo GATT, na Seção
RELATORIO E, emenda ao art. VH, letras «ii»,
para mostrar que o valor normal
o Sr. Ministro Aldir G. Passarinho corresponde ao valor real, o que era
(Relator): Pirelli S/A - Companhia reforçado pelo art. 4? do Decreto-Lei
Industrial Brasileira impetrou man- n~ 37-66. Sustenta, em conseqüência,
dado de segurança, perante o MM. que a base imponivel "é o preço nor-
Juiz da 1~ Vara Federal de São Pau- mal, «que pOde destoar do preço efe-
lo, contra ato do Sr. Delegado da Re- tivo da importação, quando forem
ceita Federal, em Santos, que lhe es- dados descontos excepcionais», mas
tava a exigir imposto de importação no caso não houve desconto excep-
sobre mercadoria (fita de alumínio cional, sendo fornecido um preço
politenada, do tipo «Zetabon A-282)>>, normal e corrente. Anota que o pre-
na base do preço fixado pela CA- ço normal, para maior facilidade de
CEX, e não de acordo com o valor fiscalização, pode ser fixado através
por ela, impetrante, indicado, corres- de pautas mínimas, baixad~s pelo
pondente ao preço real no exterior e C.P.A., a respeito do que alude a vá-
constante da fatura da exportadora. rios acórdãos deste Tribunal. E «ha-
Fundamentando o pleiteado, diz a vendo divergência entre o preço real
impetrante, em resumido, que o pre- exter.no e o fixado, seja pela CA-
184 TFR - 71

CEX, seja pelo C.P.A., haverá ilega- importação, não podiam ser inferio-
lidade no ato administrativo. res ao aludido valor (CIF), com a
Afirma que, em conseqüência, sen- única ressalva de que aos apon,tados
do o preço real da mercadoria o pela CACEX deviam acrescer-se as
constante da Lista de Preços que despesas de seguro e frete. Faz vá-
veio com a inicial fornecido pela rias outras considerações a respeito
«Dow», não poderia a CACE X fixar da matéria, mencionando, inclusive,
outro que não ele, que é o preço nor- que a Portaria GB-355-69, assim co-
mal. Acrescenta, ainda, a postulan- mo a Resolução n? 60-70 do CON-
te, que a CACEX declarou que o va- CEX, (que pelo art. 60 delegou atri-
lor era fixado para fins da Portaria pUição à CACEX para indicar à re-
n? 355-69, mas esta apenas repetia o partição aduaneira, na guia de im-
que dispunha o art. 5? da Lei n? portação, o valor que deverá preva-
3.244-57, não podendo, portanto, ter lecer para efeito fiscal, quando o de-
qUalquer valor, de vez que o mencio- clarado pelo importador for inferior
nado artigo fora revogado expressa- ao normal e corrente ) são normas
mente pelo Decreto-Lei n? 730-69 complementares legais, conforme o
(art. 9?). Não poderia, em face dis- inciso I, do art. 100, do CTN.
so, a portaria ministerial convales- O MM. Juiz, após parecer do M.P.
cer dispositivo legal revogado. A res- contrário à concessao da segurança,
peito, invoca o acórdão deste Tribu- veio a concedê-Ia arrimado em acór-
nal na AMS n? 70.940, relator o emi- dão deste Tribunal na AMS n? 70.940-
J;lente Ministro A. Benjamin e junta SP, relator o Sr. Ministro Amarílio
sentença, do ilustre Juiz Federal de Benj amin, e segundo o qual não po-
São Paulo, Dr. Sebastião de Oliveira deria a CACEX substituir o valor
Lima. constante da fatura de importação
Nas suas informações, sustenta a para substituí-lo por estimativa pró-
autoridade fazendária a legalidade pria, anotando, ainda - e aí com in-
do ato impugnado. Esclarece, ini- vocação de sentença do MM. Juiz
cialmente, que os preços fornecidos Federal,'Sebastião de Oliveira Lima
por «Dow Química S.A.», represen- - que após o advento do Dec.-Lei n?
tante da exportadora, são por libra 1.111/70 falecia competência àquele
peso, FAS (free alongside ship), isto órgão para fixar o valor externo com
é, livre ao costado do navio, e não base na Portaria Ministerial n? 355,
FOB (free on board), pelo que não não podendo a autoridade fazendá-
foram nele computadas as despesas ria utilizar-se do valor atribuído por
com estivagem da carga a bordo do aquela repartição do Banco do Bra-
veículo transportador. Assim, consi- sil para sobre ela calcular o imposto
derando -se o que a respeito dispõe o de importação.
art. 20, lI, do CTN, tais preços não Inconformada, apela a União Fe-
eram completos. E não só os preços deral para esta Corte, insistindo nos
de referência estabelecidos pelo argumentos já anteriormente expen-
CPA, as «pautas de valores míni- didos, com menção, inclusive, a
mos» fixados pela Comissão Executi- acórdão do S.T.F. e a outro d~sta
va do mesmo Conselho, como os va- Turma, de que fui relator, e pedindo
lores indicados pela CACEX, nas especialmente a atenção para a cir-
guias de importação, não colidiam cunstância de que o preço das fatu-
com a definição de «preço normal», ras, por eqqivaler simplesmente ao
citada no mencionado dispositivo do valor F AS, não correspondia ao pre-
CTN. :É que todos eles referem-se ao ço normal eis que expurgado de ele-
valor CIF, ou melhor, constituindo- mentos que deviam ser levados em
se em base de cálculo do impol)to de conta.
TFR - 71 185

Ofereceu contra-razões a impe- ja, ô preço de referência, pelO art. 1?


trante, com illvocação, a seu turno, do D"ec.-Lei n? 1.111, de 10-7-1970. Ou-
de acórdãos desta Corte, e iterando trossim, e quanto à competênCia da
nos argumentos já antes oferecidos. CACE X, anota que este último diplo-
Subindo os autos, veio a ma legal revogou expressamente o
ma,nifestar-se a douta Subprocurado- art. 5? do Dec.-Lei n? 730-69, que da-
ria-Geral da República pela reforma va à CACE X a competência para es-
da f. sentença de I? grau. tabelecer valores mínimos, pelo que,
a partir de então, não mais poderia
É o relatório. haver dúvida quanto à insubsistência
da aludida Portaria n? 355/69, se é
VOTO que ela ainda subsistia, já não mais
se podendo falar em valor externo.
O Sr. Ministro Aldir G. Passarinho Menciona, contudo, aquele ilustre
(Relator): A questão em debate tem Juiz, no seu cuidadoso trabalho,
oferecido margem a sérias dúvidas, acórdãos deste Tribunal - um de
como mais um exemplo da comple- que fui relator, e outro relatado pelO
xidade da legislação tributária, e pa- Sr. Ministro Jorge Lafayette Guima-
ra cuja Simplificação, infelizmente, rães - em sentido diverso, bem co-
não têm sido adotadas as providên- mo dois outros do E. Supremo Tribu-
cias que se aconselham, até mesmo nal Federal, anotando, porém, em
para maior segurança dos importa- relação a estes últimos, que, como
dores e desburocratização da máqui- não tinha em mãos a íntegra de tais
na fazendária. julgamentos, não poderia dizer se se
Basicamente, trata-se na espécie, referiam eles à época anterior ao
de saber-se se a CACEX pode atri- Dec.-Lei n? 1.111/70, já que o regime
buir preço para a mercadoria impor- jurídico era diferente para ambas as
tada, fazendo a autoridade alfande- épocas.
gária sobre ele calcular o imposto de O Sr. Ministro Amarílio Benj amin,
importação e, em conseqüência, o no seu bem fundamentado voto, e
imposto sobre produtos industrializa- em que se lastreou precipuamente o
dos. nobre magistrado a quo, sustenta
O Dr. Sebastião de Oliveira Lima, que o Dec.-Lei n? 37-66, que assentou
Juiz Federal em São Paulo, em ex- que a alíquota fosse ad valorem e
celente trabalho publicado na Revis- seu cálculo seria baseado no preço
ta de Direito Tributário (Ano 1, n? 1, normal, determinara que o CPA po-
págs. 139/144), analisa o problema deria complementar as normas de
jurídico em exame, sustentando que caracterização do preço normal, e
a Portaria Ministerial n? 355 não revogara de modo expresso os arts.
mais poderia prevalecer, eis que o 5? e outros da Lei n? 3.244, que ser-
valor externo preVisto naquele ato e viam de apoio ao valor externo. Em
que repetia o disposto no parágrafo face disso, perdera a CACEX a anti-
único do art. 5? da Lei n? 3:244-57, ga competência no fornecimento de
não poderia ser considerado, de vez dados ao cálculo do imposto. Poste-
que este último dispositivo legal fora riormente, o art. 5? do Dec.-Lei n?
expressamente revogado pelO 730-69 autorizara a CACE X a estabe-
Decreto-Lei n? 730-69, pelo que, a lecer valores mínimos,; para efeito
parti:ç da vigência de tal diploma le- de incidência do imposto de importa-
gal, inexistia «valor externo», enten- ção, mas o D~c.-Lei n? 1.111/70, art.
dimento esse que mais se robustecia 8?, revogara dito art. 5? do mencio-
quando veio a ser criada uma nova nado Dec.-Lei n? 730. De qualquer
modalidade de preço normal, ou se- sorte,· a CACEX no caso então em
186 TFR - 71

exame (e no presente a situação se minados pela legislação do país


identifica) não teve em vista a fixa- importador, as mercadorias impor-
ção de valores mínimos, mas sim fi- tadas, ou as mercadorias similares
xou preço para os fins da Portaria n? são oferecidas à venda por ocasião
355, o que já não poderia fazer, pois das operações comerciais normais,
seu poder para tanto desaparecera a nas condições de plena concorrên-
partir do Dec.-Lei n? 37-66. E este, cia.»
outrossim, atribuíra apenas ao O art. 4? do Dec.-Lei n? 37-66, con-
C.P .A. a possibilidade de completar ceitua o que se deve entender por
as normas de caracterização do pre- venda em condições de livre concor-
ço normal, pelo que não cabia ao Mi- rência, ficando estabelecido, inclusi-
nistro da Fazenda intervir na hipóte- ve, que para tal deve ser considera-
se. Em face disso, não tinham valia da o pagamento do preço como a
a Portaria GB 355 e o ato sUbseqüen- ÚIÜca prestação a cargo do compra-
te da CACEX, que a repartição dor (inciso I do art. 4?). Mas tal pre-
aduaneira impunha ao importador. ço - e que vem a ser o preço nor-
Reexaminando o assunto - eis que mal- em novo conceito que se com-
já o fizera ao ensejo do julgamento patibiliza com a regra do inciso II do
da AMS n? 7d.603, cuja ementa, art. 20 do CTN, é o que ela, merca-
aliás, se encontra transcrita na ape- doria ou similar «alcançaria, ao
lação interposta, - mas, à vista dos tempo da importação, como definido
novos argumentos de que têm surgi- no regulamento, em venda efetuada
do posteriormente ao acórdão - não em condições de livre concorrência,
cheguei a conclusão diferente da que para entrega no porto ou lugar de
já havia adotado. entrada da mercadoria no país».
De fato. (art. 3? do Dec.-Lei n? 37-66).
Dispõe o art. 20, inciso lI, do CTN, Deste modo, se tem que o preço
in verbis: normal corresponde ao custo da
Art. 20. «A base de cálculo do mercadoria com os acréscimos ne-
imposto é: cessários para atendimento da obri-
II - quando a alíquota seja ad gação prevista na parte final do alu-
valorem o preço normal que o pro- dido art. 3? do Dec.-Lei n? 37/66, e ao
duto ou seu similar alcançaria, ao art. 20, 11 do CTN. E é por isso que
tempo da importação, em uma assinala com propriedade a autori-
venda em condições de livre con- dade impetrada que a Lista de Pre-
corrência, para entrega no porto ços apresentada pela impetrante não
ou lugar de entrada do produto no satisfaz, posto que não inclui as des-
País.» pesas necessárias à entrega no porto
ou lugar de entrada do produto no
o preço normal a que se refere o pais, segundo a regra do inciso II do
dispositivo legal citado corresponde art. 20 do CTN. E tal base de cálculo
ao valor real da mercadoria, não se desafina com o estabelecido
ajustando-se seu conceito ao previsto no GATT, pois ali, como antes assi-
no Tratado GATT, conforme seu art. nalado, ficou dito que o valor real é
VII, n? 2, combinado com o disposto o preço ao qual, em tempo e lugar
no Protocolo de Emenda do Preâm- determinados pela legislação do país
bulo e das Partes II e III do aludido importador, as mercadorias impor-
acordo, Seção E, emenda ao art. tadas ou similares são oferecidos à
VII, ii, e segundo o qual: venda.
«O valor real deverá ser o preço Assim, não tendo provado a impe-
ao qual, em tempo e lugar deter- trante que o preço da lista fornecida
TFR - 71 187

pela Dow Química S.A. corresponde IH - exportado para o Brasil


realmente ao preço normal, segundo sob a forma de "dumping" ou prá-
seu conceitQ legal, não pode ser acei- tica de efeito equivalente, sem.pre-
to como válido para sobre ele juízo da aplicação do disposto no §
efetuar-se a base de cálculo do im- 2? do art. 3? da Lei n? 3.244, de
posto. 14-8-1957.»
Certo que, segundo dispõe o art. 6? Como se pode ver - e anotando-se
do mesmo Dec.-Lei n? 37-66, o preço que o Dec.-Lei n? 730-69 apenas
da fatura poderá ser tomado como transferiu a competência do órgão
indicativo do preço normal, mas para fixar a pauta de valor mínimo
nã() é meno$ verdade que o mesmo - não são todos os prOdutos impor-
artigo prevê no seu inciso 11, que tal tados obrigatoriamente incluídos na
não importa em que sejam apuradas mencionada pauta, mas apenas se
eventuais discrepãncias entre o pre- faz necessário para aqueles que se
ço da fatura e o preço normal, como apresentem na hipótese prevista no
definido naquele diploma legal, -sen- dispositivo legal transcrito. Outros-
do certo que, como ficou dito, na lis- sim, o preço de referência, que é de
ta de preços - admitindo-se que o compreender-se igualmente como
nesta fixado tenha correspondido ao uma modalidade de preço normal,
da fatura (pois esta não foi apresen- sob pena mesmo de sua incompatibi-
tada) - não há indicação de que ha- lização com a regra ínsita no art. 20,
ja previsto os acréscimos necessá- inciso lI, do CTN, é fixádo pelo CPA
rios à formação do preço normal, se- (ou por sua Comissão Executiva, se-
gundo seu conceito advindo do art. gundo admitiu este Tribunal - Súmu-
20, inciso lI, do CTN. la n? 2), com baseno art.1? do Dec.-Lei
No que diz respeito à competência n? 1.111, in verbis:
da CACE X com vistas à validade da «Quando ocorrer acentuada dis-
Portaria Ministerial n? 355-GB, é de paridade de preços de importação
ver-se o seguinte: de mercadoria oriunda de várias
A pauta de valor mínimo é da procedências, de tal maneira que
compet~p.ci9 da Comissão Executiva prejudique ou venha a prejudic:;lr a
do CP A e o 'chamado preço de refe- produção interna si.milar, a Juízo
rência êaa competência deste, po- do Conselho de Política Aduaneira,
dendo ser baixado também por sua fica este autorizado a aplicar me-
Comissão Executiva, como o enten- dida corretiva que eqUilibre os pre-
deu este Tribunal (Súmula n? 2). ços de importação do produto afe-
tado.»
A pauta de valor mínimo implica Assim, como se verifica, a fixação
em critério prefixado para determi- da pauta de valor mínimo, como a
nado ou determinados produtos e do preço de referência, atende a si-
corresponde ao preço normal. Segun- tuações específicas, preVistas em lei,
do r~sulta do art. 7? do Dec.-Lei n? sendo o CP A o órgão legalmente in-
37-66, o Conselho de Política Aduanei- cumbido de aprová-los.
ra pôde estabelecer pauta de valor
mínimo para o produto: Mas se para a mercadoria impor-
tada não há pauta de valor mínimo
ou preço de referência, modalidades
«I - cujo preço normal seja de de preço normal, como não poderia
difícil apuração; deixar de ser, deve ser verificado
II - que apresente intercadência pelos órgão~ competentes se o preço
em sua cotação no mercado do estabelecido pelo importador corres-
pais determinado; ponde ao preço normal, em modali-
188 TFR - 71

dade comum, dentro dos pressupos- letra a, do inciso III da mencionada


tos conceituais prefigurados no art. Portaria.
20, inciso lI, do CTN e legislação Assim, não adianta discutir-se so-
pertinente. bre competência da CACEX para
Segundo dispõe o art. 2? da Lei n? fixar preço normal, mesmo na mo-
2.145, de 29-12-53, na redação que lhe dalidade comum, típica, ou seja,
foi dada pelo art. 14, da Lei n? 5.025- aquele verificado à vista de elemen-
66, ficou atribuída à CACEX, nos ter- tos elementares e que, portanto, não
mos dos arts. 19 e 59 da Lei n? se situa nas configurações legais de
4.595/64. «pauta de valor mínimo» ou de
»preço de referência». A autoridade
«IlI - exercer prévia, ou poste- alfandegária, na verdade, é que é a
riormente a fiscalização de preços, competente para determinação do
pesos, medidas, qualidades e tipos preço normal que não se encontre in-
nas operações de importação, res- cluído na «Pauta de valor mínimo»
peitadas as atribuições e compe- ou para a mercadoria para a qual
tências das repartições aduanei- não haja preço de referência.» A CA-
ras.» CEX apenas faz indicação a respeito,
Ora, é certo que a atribuição que não só com base em encargo que lhe
havia sido conferida à CACEX, pelo é conferido pelo art. 2?, inciso IH, da
art. 5? do Dec.-Lei n? 730-69, para es- Lei n? 2.145/53, alterada pela Lei n?
tabelecer valores mínimos, foi revo- 5.025/66, como e principalmente em
gada pelo art. 8? do Decreto-Lei n? sentido de colaboração com os órgãos
1.111170. Entretanto, é de ver-se que fazendários, posto que não é outro o
tais valores mínimos, aeviam ser fi- sentido da aludida Portaria n? 355-
xados quando ocorressem aquelas GB, o que resulta claro, a meu ver,
circunstâncias que justificariam pau- do já mencionado inciso H, letra a do
ta de valor mínimo (tanto é certo que referido ato ministerial, in verbis:
seriam eles remetidos ao CPA) ou
justificassem a alteração da alíquota «o preço declarado pelo importa-
do imposto de importação, segundo dor na guia ou licença de importa-
resulta do parágrafo único do mesmo ção será tomado como base de cál-
artigo 5? De qualquer sorte, não há culo do imposto, desde que verifi-
de confundir-se a pOSSibilidade de a cado pela autoridade competente o
CACEX exercer a fiscalização de atendimento ao estabelecimento no
preços prevista no inciso III do art. 2~ item I desta Portaria e sem pre-
da Lei n? 2.145/53, na sua redação juízo:
modificada, com a de estabelecer va-
lores mínimos. A fiscalização de pre- a) - de eventual impugnação
ços pela CACEX é atribuição que não pela autoridade fiscal do valor de-
lhe foi retirada e a Portaria n? 355- clarado, com base em elementos
GB não lhe deu, como parece terem ptópríO's ou à vista de indicações
entendido os que se opõem à tese fa- fornecidas pela CACEX na licença
zendária, encargo de fixar preço nor- de guia ae importação ou docu-
mal. Apenas, o que dispõe aquele ato mento de efeito equivalente.»
é que a autoridade fiscal poderia im- E é por isso mesmo que o disposto
pugnar o valor declarado pelo impor- na portaria citada não entra em cho-
tador, com base em elementos pró- que com o aludido art. 2?, item III
prios ou à vista de indicações forneci- da Lei n? 2.145-53, pois ficam respei-
das pela CACEX na licença, guia de tadas, tal como o diploma legal esta~
importação ou documento de efeito belece. as atribuições e competên-
equivalente. É realmente o que diz a cias das repartições aduaneiras.
TFR - 71 189

Cabe dizer, por último, que a Por- vê a apuração de eventuais discre-


taria n? GB 355 não é ilegal, como se pâncias entre o preço da fatura e o
pretende, ao fundamento de que re- preço normal, como tal definido na-
viveu o art. 5? da Lei n? 3.244-77, que quele diploma legal.
foi revogado expressamente pelo art. O certo é que, de fato, não demons-
9? do Dec.-Lei n? 730-69. E que o art. trou a impetrante, como lhe cabia fa-
5? havia de ser revogado, posto que zer, que o preço constante da lista da
por ele somente havia um critério de Dow Química S.A. correspondia real-
fixação do imposto ad valorem, mente ao preço normal.
quando é certo que já o Dec.-Lei n?
37/66 veio a fixar a modalidade de Pelo exposto, dou provimento à
preço normal no estabelecimento de· apelação, em conseqüência do que
pauta de valor mínimo, com crité- casso a segurança.
rios diversos daqueles previstos no E o meu voto.
mencionado art. 5?, paragráfo único
da Lei n? 3.244-57. A revogação por- EXTRATO DA ATA
tanto, não só atendeu àquela circuns-
tãncia nova - aliás, posteriormente AMS. 83.103-SP - ReI.: Sr. Min.
acrescida pela criação do preço de Aldir Guimarães Passarinho. Rem-
referência - Dec.-Lei n? 1.1H-70 - te.: Juiz Federal da 1~ Vara. Apte.:
como possibilitou maior flexibili- União Federal. Apdo.: Pirelli SI A,
dade nos critérios de fixação do pre- Cia. Industrial Brasileira.
ço normal,. naturalmente dentro dos Decisão: A Turma, por unanimida-
parâmetros estabelecidos pelo art. de, deu provimento à apelação para
20,inciso II do CTN e art. 4? do Dec. reformar a sentença e cassar a segu-
L~i n? 37/66 e das normas respeito rança (Em 18-6-79, - 3': Turma).
imprevistas nos tratados internacio- Os Srs. Ministros Carlos Mário
nais. Venoso e Armando Rolemberg vota-
Por último cabe assinalar que o ram de acordo com o Relator. Não
preço de fatura, conforme resulta do compareceu, por estar licenciado, o
art. 6? do Dec.-Lei n? 37/66 é indica- Exmo. Sr. Min. Lauro Leitão. Presi-
tivo do preço normal, e apenas isto, diu o Julgamento o Sr. Min.
tanto que aquele próprio artigo pre- Armando Rolemberg.

REMESSA EX OFFICIO N? 82.246 - BA


Relator: O Sr. Ministro Aldir G. Passarinho
Remetente Ex Officio: Juiz Federal da 2~ Vara
Partes: CISP - Engenharia Ltda e Universidade Federal da Bahia -
UFBA
Autor Req.: Reitor da «UFBa»

EMENTA
Administrativo. Prazo Administrativo.
Ultimando-se o prazo administrativo em um sá-
bado, prorroga-se ele para o primeiro dia útil se-
guinte, não havendo norma expressa que determine
o contrário.
190 TFR - 71

ACORDA0 sábado, havia automática prorroga-


ção para o primeiro dia útil seguin-
Vistos e relatados os autos em são te, de vez que no sábado não havia
partes as acima indicadas: expediente no Setor de Cadastro da
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- UFBa. Deste modo, o atendimento
deral de Recursos, por unanimidade, da exigência, na segunda-feira, não
conhecer da sentença por encontrar- fora tardio. A respeito, teceu judicio-
se sujeita ao duplo grau de jurisdi- sas considerações.
ção, confirmando-a, na forma do re- Não houve recurso voluntário de
latório e notas taquigráficas constan- qualquer das partes, subindo os au-
tes dos autos, que ficam fazendo par- tos a este Tribunal tão.-só por
te integrante -do presente julgado. encontrar-se a sentença sujeita ao
Custas como de lei. duplo grau de jurisdição.
Brasília, 23 de abril de 1980 (Data A douta Subprocuradoria-Geral da
do julgamento). - Ministro Aldir G. República lançou bem fundamentado
Passarinho, Presidente e Relator parecer a respeito do tema em deba-
te e veio a concluir favoravelmente
RELATORIO à confirmação da sentença.
É o relatório.
o Senhor Ministro Aldir G.
Passarinho (Relator): A espécie dos
autos assim pode ser exposta, em re-
sumido: VOTO
Trata-se de mandado de segurança
impetrado por CISP - Engenharia O Senhor Ministro Aldir G.
Ltda. contra a Universidade Federal Passarinho (Relator): Como se viu,
da Bahia. A Universidade publicou trata-se de saber se recaindo o últi-
edital para tomada de preços, para mo dia de prazo administrativo em
realização de obras naquele estabe- um sábado, em que não há expedien-
lecimento de ensino superior. No edi- te na repartição perante a qual deva
tal ficou dito que seriam considera- ser cumprido determinado ato, tal
das as propostas das firmas que se prazo é ou não prorrogado para o
habílitassem até dentro de 12 dias primeiro dia útil imediato. Na espé-
antes da data marcada para a apre- cie, não foi mencionada haver qual-
sentação das propostas (3 de feverei- quer disposição no edital de tomada
ro 1977). Contando-se retroativamen- de preços sobre ser o prazo pro-
te ós doze dias, com exclusão do pri- traído até o último dia útil do prazo,
meiro e inclusão do último, o térmi- pelo que há de buscar-se a regra
no do prazo para dita habilitação se aplicável em normas legais existen-
encerraria no dia 22 de janeiro. En- tes a respeito, no âmbito federal, pa-
tretanto, t~ dia caiu em sábado. A. ra dirimi-se a controvérsia.
firma CISP, Engenharia Limitada fez A regra do Código Tributário Na-
sua habilitação no primeiro dia útil cionaI, conforme o parágrafo único
seguinte ao último dia do calendário, do seu art. 210, é a de que «os prazos
ou seja, na segunda-feira, dia 24 de só se iniciam ou vencem em dia de
janeiro de 1977, mas a autarquia expediente normal na repartição em
educacional considerou que tal habi- que corra o processo ou deva ser
litação se fizera fora do prazo. Dai o praticado o ato».
mandado de segurança. No Código de Processo Civil, a re-
O MM. Juiz entendeu que tendo gra é a mesma, conforme resulta do
caído o último dia do prazo em um seu art. 184, § I?
TFR - 71 191

Ainda como outro subsídio, mas mo recaindo em dia em que não haj a
adequado, encontrâmo-Io no Decreto expediente, pois cabe observªr que
Lei n? 3.602-41 que «dispõe sobre a quando da edição do Decreto-Lei n?
contagem dos prazos em processos 3.602, ou seja, em 1941, ainda' havia,
ou causas de natureza fiscal ou ad- normalmente, expediente aos sába-
ministrativa», e cujo art. 1? e seu pa- dos.
rágrafo único estabelecem, in verbis
«Art. 1? - Na..contagem dospra- A douta sentença, assim, como o
parecer da douta Subprocuradoria-
zos em processos e causas de Geral da República alicerçam suas
natureza fiscal' ou administrativa, argumentações com ensinamentos
excluir-se-á o dia do começo e doutrinários que, por brevidade, dei-
incluir-se-á o do vencimento». xo de reproduzir, por entender não
Parágrafo único - Se o dia do haver necessidade de fazê-lo.
vencimento cair em dia feriado, o
prazo considerar-se-á prorrogado Pelo exposto, conhecendo da segu-
até o primeiro dia útil seguinte». rança por encontrar-se ela sujeito ao
A referência aí, a feriado, como é duplo grau de jurisdição, confirmo-a.
fácil de ver, há de considerar-se co- E o meu voto.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 83.613 - SP


Relator: Exmo. Sr. Ministro Jarbas Nobre
Relator Designado: Exmo. Sr. Ministro Paulo Távora
Requerente: Chafic Farah
Requerido: Juiz Federal da 1~ Vara
EMENTA
Processo Civil. 1. Mandado de Segurança. Ato Ju-
dicial (Lei l533/51, art. 5, lI). 2. Assistência Simples.
Competência (CPC, art. 50).
1 - Cabe ação de segurança contra ato judicial,
quando o recurso interponível não comporta efeito
suspensivo e o seu provimento, pelo Tribunal, não
poderá mais restaurar a situação original senão por
compensação substitutiva.
2 - A assistência simples não modifica a compe-
tência para o processo.
Administrativo. Desapropriação. Domínio útil.
E incompetente a Justiça Federal para a ação de
Município contra particular, titular de domínio
útil,objeto da expropriatória.

ACORDA0 Decide o Plenário do Tribunal Fe-


deral de Recursos, prosseguindo no
Vistos, relatados e discutidos estes julgamento, conceder a segurança
autos em que são partes as acima in- nos termos do voto do Sr. Ministro
dicadas: Paulo Távora, designado para lavrar
192 TFR - 71

o acórdão. Ficaram vencidos, em referidos, Henri e Alice Arida; que a


parte, no tocante à competência, os lei que aprovou a ampliação do Pá-
Srs. Ministros Relator e Otto Rocha tio do Colégio é nula porque ao Po-
e, integralmente, os Srs. Ministros der Municipal é vedéJ,do investir con-
Lauro Leitão, Evandro Gueiros Lei- tra os Poderes Estaduais e Federal
te, Antonio Torreão Braz, Amarílio com o propósito de incorporar bens
Benjamin e Moacir Catunqa, que de- que pertencem à União Federal, co-
negaram a segurança, na forma do mo no caso; que o pedido foi atingido
relatório e notas taquigráficas retro pela caducidade qüinqüenal, ex vi do
que ficam fazendo parte integrante artigo 10 do Decreto-Lei n? 3.365/41;
do presente julgado. que na Justiça Federal, o Dr. Procu-
Custas como de lei. rador da República procurou conva-
lescer a ação ao sustentar que a de-
Brasília, 14 de setembro de 1978. sapropriação seria possível com a
(Data do julgamento) Ministro retificação da inicial para que o pe-
Peçanha Martins, Presidente - Mi- dido ficasse restrito à desapropria-
nistro Paulo Távora, Relator. ção do domínio útil do terreno; que
com tal retificação do pedido, desa-
RELATORIO parecido ficou o interesse da União
Federal na causa e, conseqüente;
o Sr. Ministro Jarbas Nobre: Cha- mente, também a competência da
fic Farah impetra mandado de segu- Justiça Federal para conhecer e de-
rança contra despacho do Dr. Juiz cidir a ação.
Federal da 1~ Vara de São Paulo, As informações estão a fls. 32/34.
que deferiu imissão dê posse em A Subprocuradorfa-Geral da Repú-
ação ajuizada pela Empresa Munici- blica é pelo não conhBcimento dO pe-
pal de Urbanização~EMURB, objeti- dido e, no mérito, pela denegação da
vando a desapropriação de imóvel, ordem porque:
cujo domínio útil pertence ao impe-
trante e aos condôminos que arrola, «l?) Interposto dois anos depois
aforados pela União Federal. do despacho q!Je deferiu a imis-
são de posse.
A ação ford proposta inicialmente 2?) Contra decisão judi-
perante a Vara dos Feitos da Fazen- cial não cabe mandado de se-
da Municipal cujo Dr. Juiz, por pro gurança e a impetração não se
vocação de dois condôminos (Henri comporta na exceção aberta pela
Arida e Alice Farah Arida), apoia- jurisprudência, pois, não há ile-
dos pelo Serviço do Patrimônio da galidade e, a avaliação prévia,
União, se deu por incompetente e fez retira toda e qualquer possibili-
remeter os autos à Justiça Federal. dade de prejuízo irreparável.
Expõe o impetrante que, pela Lei 3?) A competência da Justiça
Municipal n~ 7.356, de 19-9-69, foi Federal permanece, em face do
aprovado o plano ae urbanização e interesse jurídico e econômico da
ampliação do Pátio do Colégio e de- União de acompanhar o proces-
clarados de utilidade pública os imó- so, participar da fixação do pre-
veis por ele atingidos pelo Decreto ço, pois, desta advirão efeito pa-
Municipal n? 9.052, de 13-10-70, entre trimonial e percepção de vanta-
eles o seu. gens e direitos».
Prossegue afirmando que tais imó- E o relatório.
veis pretencem à União Federal e VOTO
que entre os proprietários do
domínio útil, ele não foi indicado, só O Sr. Ministro Jarbas Nobre:
o tendo sido os condôminos acima Em princípio, não cabe Mandado
TFR - 71 193

de Segurança contra ato judicial, aparente para que um tipo de reaná-


desde que ele possa ser atacado lise, o recurso administrativo, tenha
através de recurso específico ou tratamento diverso num mesmo dis-
correição parcial (art~ 5~, lI, da positivo de exceções, doutro tipo de
Lei n~ 1.533/51). reanálise, o recurso processual.»
A regra não é absoluta e por is- Farta é a jurisprudência que acei-
to mesmo, sofre temperamentos. ta tal entendimento.
A respeito do tema, a doutrina No Mandado de Segurança n~ 695,
não é uniforme. Relator, Ministro Castro Nunes
Assim é que enquanto para (R.F. n? 100/57), o Supremo Tribunal
Castro Nunes e Arnold Wald é Federal decidiu que ele é admitido
cabível o uso do mandamus excepcionalmente quando a decisão
quando o recurso próprio não judicial não é atacável por recurso
tem efeito suspensivo, para Sea- ou este não tenha efellto suspensivo.
bra Fagundes e Pontes de Miran- No mesmo sentido, nos RE n~s
da, a restrição imposta pela lei 16.393, Relator, Ministro Luiz Gallot-
deve ser atendida. ti (<<Archivo Judiciário» - 94/412) e
Luiz Eulálio de Bueno Vidigal 43.506, o mesmo Relator (DJ de 30-
só admite o mandado de seguran- 12-59) .
ça contra ato judicial quando es- No RE n? 67.831, Relator, Ministro
te é tipicamente administrativo. Eloy da Rocha (sessão de 4-11-75) a
Barbi endossa este entendi- Corte Suprema admitiu Mandado de
mento. Segurança impetrado contra despa-
cho que decretou reintegração de
Othon Sidou é de opinião que é posse initio utis.
cabível o mandado de se@ré:!nça,
se o recurso não tem efeito sus- O mesmo ocorreu no RE n~ 78.800,
pensivo. Relator Ministro Djaci Falcão em
cujo voto sustentou que
Escreve à página 302 do seu
"Do Mandado de Segurança", 3~ «a jurisprudência desta Corte
edição: veio a se orientar no sentido de
que, quando o recurso adequado
«Se o recurso judicial tiver efeito tem apenas o efeito devolutivo e
suspensivo, desarma o mandado de há ameaça de dano irreparável,
segurança porque, sustados os efei- tem cabimento o socorro ao man-
tos do ato, afastado está, implicita- dado de segurança contra deci-
mente, o fato lesivo que complemen- são judicial passível de recurso
ta o direito líquido e certo e, à falta com efeito apenas ,devolutivo ou
desse pressuposto básico, não vinga correição parcial» ..
o "vV'rit".»
A contrário sensu, o recurso de só O imóvel, objeto de expropriação
efeito devolutivo não neutraliza o ato na qual foi deferida imissão de pos-
danoso que, reunido à violação de di- se, foi adquirido de Edgard de Al-
reito, cimenta o pressuposto básico meida Prado e outros, pele impe-
do mandado de segurança que lhe trante, Alice Farah Arida, seu mari-
abre ensejo. do, Riad Arida, e Henri Arida, com
O não explicitar a lei que o recurso al"torização do Serviço do Patrimô-
processual é o revestido de efeito nio da União que detém o seu
suspenSivo, deve ser levado à conta domínio pleno (fls. 12/14).
de maneira defeituosa de expressar- A ação foi ajui.zada na Vara dos
se, sobretudo porque não há razão Feitos da Fazenda Municipal contra
194 TFR - 71

Otaviano de Almeida Prado, seu pro- porCJue essa área pertence ao


prietário em 28 de março de 1922. Governo EstaduaL pelo artigo 4? da
lei indicaaa, o Executivo Municipal
Nela não figura o impetrante, Cha- ficou autorizado a promover entendi-
fic Farah, que por isto mesmo não mentos com esse Governo para a
foi citado. realização de eventuais acordos ne-
Porque isto é certo, logo se vê que cessários à execucão do ºlano.
a impetração é tempestiva. O Decreto n? 9.052, de 13 de outu-
O pedido objetiva a desapropria- bro de 1970, d€darou de utilidade pú-
ção da «totalidade do imóvel sito à blica «para o fim de serem desapro-
Rua General Carneiro n~ 200 ... , de priadas judicialmente ou adquiridas
propriedade de Otaviano de Almeida mediante acordo, as áreas de terre-
Prado», (fls.16). no de propriedade de quem de direi-
Este houve o imóvel em 9 de no- to, situadas-à Rua General Carneiro,
vembro de 1922, através de doação lado par, no trecho compreendido
feita por Carlos Vasconcellos de Al- entre a Rua Bittencourt Rodrigues e
meida Prado e sua mulher que o ar- o Viaduto Boa Vista, no I?
rematara em executivo hipotecário Sub distrito-Sé, necessárias à execu-
movido à Companhia Viação Paulis- ção, e aprimoramento do plano de
ta (fls. 19/20). urbanização do Pátio do Colégio».
Consta a fls. 12/15 que (dito bem), O imóvel cujo domínio útil perten-
por escritura de 15 de setembro de ce ao impetrante em condomínio
1964, o domínio útil do terreno foi com Alice Farah Arida, seu marido
vendido por Edgard de Almeida Pra- Riad Arida e Henri Arida, tem o nú-
do e outros a Chafic Farah, Alice Fa- mero 198, faz frente com a Rua Ge-
rah Arida e Henri Arida, mediante neral Carneiro, e é foreiro da União
autorização do Patrimônio da União, Federal (fls. 12-v/13)-.
devido foro anual à União Federal
de Cr$7.211,40. Foi alcançado, assim, pelo decreto
expropriatório.
O Município de São Paulo pela Lei
n~ 7.356, de 19 de setembro de 1969, Fixado este ponto, de indagar-se
aprovou o plano de urbanização do se ele pOde produzir efeitos e servir
Pátio do Colégio, consistente: I - na de base ao processo de desapropria-
sua ampliSição mediante a incorpo- ção.
ração da área situada entre as divi- É sabido que a expropriação inci-
sas de fundo dos imóveis do lado par de sobre a propriedade privada e
da Rua General Carneiro e a área da que a declaração de utilidade públi-
Sociedade Brasil?ira de Educação, ca emanará, sempre, da mais eleva-
conforme a Lei Estadual n? 2.658, de da autoridade executiva da circuns-
fevereiro de 1954, fixado do alinha- crição territorial em cujo favor se
mento da área adjacente a este últi- faça o exprop~iamento e dentro do
mo imóvel, tendo ficado autorizado o qual esteja a coisa exproprianda.
Executivo a doar à Sociedade men- Se esta o for para destinação espe-
cionada, área de propriedade muni- cificada, a declaração será especial
cipal para fins de reconstrução da para que dúvidas dela não possam
Igreja Histórica do Pátio do Colégio. decorrer.
Seabra Fagundes traz este exem-
Os imóveis particulares atingidos plo de declaração de utilidade públi-
pelo plano aprovado foram declara- ca especial à página 66 do seu «Da
dos de utilidade pública para efeito Desapropriação no Direito Brasilei-
de desapropriação (art? 7?). ro.»
TFR - 71 195

«Se ao Estado interessa a ex- Escreve à página 83, ao refutar


propriaçãoda máquina duma fá- opinião de Viveiros de Castro, que é
brica particular de explosivos, impossível a expropriação de Direito
não interessando, entretanto, a da União por parte de Estado, por
do prédio em que estej a monta- ferir a hierarquia política do regime.
da», advertindo que a omissão Esclarece que
nem sempre implicará na exclu-
são do imóvel por natureza. «O direito vigente ... traz em
«l\luita vez», enfatiza a fls. 67, abono deste ponto de vista um
poderoso argumento. :€ que, pre-
«o intuito do poder exproprian- vendo a lei, como previu, a hipó-
te, 'apesar de omisso o decreto, tese de expropriação de bens es-
será necessariamente o de taduais e municipais pela União
abranger o imóvel cornv ,midade e de bens municipais pelo Esta-
econômica» do, e abstraindo daquela outra,
excluiu-a. Ao legislador não po-
As entidades que detêm o direi- deria escapar a necessidade de
to de expropriar, são a União, os referir essa especialíssima e re-
Estados, os Municípios, o Distrito levante hipótese de expropria-
Federal e os Territórios, cada mento e se a omitiu, o fez inten-
qual em sua esfera territorial e cionalmente para excluí-la. Na
de atribuições. . impossibilidade de apropriação
Ensina o autor citado à página compulsória, o que resta aos Es-
80, que a tados e Municípios é o acordo,
«lei tornou explícita a possibili- como meio de obtenção dos bens
dade de expropriamento de bens assim inexpropriáveis, quando,
dos patrimônios estadual, muni- por acaso, sejam necessários aos
cipal, distrital e territorial, em seus serviços e obras.»
favor da União, e de bens do pa- Foi o que a Lei n~ 7.356/69 fez rela-
trimônio dos Municípios, em fa- tivamente à área pertencente à So-
vor dos Estados respectivos. :€ ciedade Brasileira de Educação,
esse um princípio decorrente da mencionada na Lei estadual n? 2.658,
supremacia política e adminis- de 21 de fevereiro de 1954. Autorizou
trativa da União sobre as unida- o Executivo a promover entendimen-
des territoriais em que se subdivi- tos com o Governo do Estado para a
de, e do Estado sobre o Mu- realização de eventuais acordos.
nicípio.
A lei, porém, não cogita da ex- Esta Lei é expressa em declarar
propriação em sentido inverso, de utilidade pública para fins expro-
isto é, o Estado desapropriando priatórios, a "área situada entre as
coisa da União e o Município de- divisas de fundo dos imóveis do lado
sapropriando coisa do Estado. par da Rua General Carneiro" (art'!"
1~, item 1).

A lei vigente não faculta a de- Ao assim dispor, não explicitou


sapropriação na ordem inversa que o domínio pleno desse bem per-
da hierarquia política. Ao contrá- tence à União Federal e, desse mo-
rio, veda-a deliberadamente ao do, ao Município era vedada a sua
dispor apenas quanto aos atos ex- desapropriação por entidade política
propriatórios da União sobre de hierarquia inferior.
bens de Estados ou Municípios, e Ao autorizar a desapropriação de
p~s .Estados sobre coisas muni- área, quis o Município de São Paulo,
J~lPals.» induvidosamente. transferir para si
196 TFR - 71

tanto o domínio pleno como o É c~rto que se procurou contornar


domínio útil do terreno que descre- tal vício, com a remessa dos autos
veu. da ação expropriatória para a Justi-
Trago à colação, mais uma vez, ça Federal onde a petição inicial foi
Seabra Fagundes para quem, escre- retificada, para dela constar que a
ve à página 101: expropriação se dirigia ao domínio
útil do imóvel.
«a palavra área não exclui o Ao que tenho, o expediente é inefi-
expropriamento de terreno edifi- caz.Primeiro, porque o vício insaná-
cado. O legislador empregou-a no vel está na lei e no decreto de decla-
sentido geral de espaço ou zona, ração de utilidade pública. Segundo,
sem ter em vista a existência ou porque o que se pretende expropriar,
não de edificações. O intuito da na verdade, não são as benfeitorias
lei foi abranger a região circun- ergUidas no terreno (prédio com três
vizinha da obra e que, de qual- pavimentos), mas este próprio, para
qder modo, se fizesse necessária que pOSSível seja a urbanização e a
ao seu desenvolvimento ulterior, ampliação do Pátio do Colégio.
não importando a sua destinação
e seu emprego no momento.» Ao declarar de utilidade pública
para efeito de desapropriação as "á-
Ademais, é o ensinamento que co- reas de terreno ... situadas à Rua
lho à página 133, o General Carneiro, lado par, a Muni-
«O decreto deve individuar o cipalidade de São Paulo nela incluiu
bem ou os bens por ele declara- imóvel que não pertence a particu-
dos de utilidade pública, pois que lar. Sim, à União Federal.
uma de suas finalidades é indi- Porque não tem competência para
car, com precisão, o objeto do di- assim proceder, segue-se que tal de-
reito estatal de apropriamento.» claração é nula e, com base nela, a
No caso, este defeito existe. ação expropriatória não pode prosse-
Ao declarar de utilidade pública gUir por falta de fundamento de di-
imóvel pertencente à União Federal, reito.
o Município de São Paulo exorbitou Por tais razões, concedo a Segu-
em seus poderes e, desse modo, ex- rança.
pediu ato nulo.
A União Federal pode desapro- EXTRATO DA ATA
priar bens das outras pessoas jurídi- MS 83.613-SP. - ReI.: Sr. Min. Jar-
cas de direito público. Estas, porém, bas Nobre. Reqte.: Chafic Farah.
não podem desapropriar bens da Reqdo.: Juiz Federal da 1~ Vara.
União Federal. Decisão: Após os votos dos Srs. Mi-
A solução apontada por Seabra Fa- nistros Relator e OUo Rocha, conce-
gundes, é o acordo, conselho que re- dendo a segurança, adiou-se o julga-
pete à página 135: mento em face do pedidO de vista
formulado .. pelo Sr. Ministro Paulo
«A única solução seria, neste Távora. Aguardam os Srs. Ministros
caso, o acordo. Aliás, a hipótese, Aldir Guimarães Passarinho, José
por muito rara, não justificaria Dantas, Lauro Leitão, Carlos Madei-
solução especial.» ra, Evandro Gueiros Leite, Washing-
O decreto de declaração de utilida- ton Bolívar de Brito, Antonio Tor-
reão Braz, Carlos Mário Venoso,
de pública emanado do Município de AmarílioBenjamim, Armando Ro-
São Paulo, porque envolve i~óvel do lemberg, Márcio Ribeiro, Moacir Ca-
domínio pleno da Unão Federal, não tunda, Décio Miranda e José Néri ,da
pOde produzir efeitos. Silveira. (Em 13.6.78 - T. Pleno)
TFR - 71 197

o Sr. Min. Otto Rocha é Juiz Fede- minação do preço pelos seus efeitos
ral convocado em substituição ao Sr. sobre laudêmio e foro.
Min. Jorge Lafayette Guimarães, Postas, assim as questões, a com-
que se encontra licenciado. Presidiu petência do Tribunal para o processo
o julgamento o Sr. Min. Peçanha é manifesta, pois a segurança visa
Martins. ato de juiz federal. As condições da
ação mandamental são a existência
VOTO (VISTA) de interesse de agir em face da re-
corribilidade da decisão e a certeza
O Sr. Ministro Paulo Távora: Co- de liquidez dos fatos.
proprietário no domínio útil de imó- O Autor não foi citado para a ação
vel, objeto de desapropriação pelo expropriatória, nem há nos autos
Município de São Paulo, impetra se- evidência de ter tomada conheci-
gurança contra ato do Dr. Juiz Fede- mento da imissão liminar antes dos
ral da 1~ Vara do Estado, que. defe- 120 dias da impetração.» A quem ale-
riu imissão liminar na posse. ga a intempestividade, cabe o onus
O autor argúi: de demonstrar que a ciência se deu
A) a incompetência absoluta da em data que exauriu o prazo de de-
Justiça Federal em razão de a ex- cadência. Rejeito a preliminar.
propriante ter retificado a inicial pa- Quanto à possibilidade jurídica de
ra limitar seu alcance ao domínio segurança contra ato judicial, o art.
útiL sendo a União a titular do 5?, item lI, da Lei 1.533 de 1951, ad-
domínio direto. Em conseqüência, mite no caso de não haver recurso
cessou o interesse da entidade fede- nas leis processuais, nem comportar
ral a determinar o retorno dos autos' correição.
à Justiça Estadual onde se iniciara a Tenho entendido que a recorribili-
ação: dade não constitui razão decisiva pa-
B) impossibilidade de o Município ra a carência da ação mandamental.
desapropriar bem da Uniª-o, ex vi do se ao conjugam dois requisitos: a au-
art. 2?, § 2? do Decreto-Lei n? 3.365, sência de efeito suspehsivo e a
de 1941; ameaça de lesão irreparável pela
C) - caducidade do ato expropria- execução imediata do ato judicial.
tório, expedido há mais de cinco A ação de segurança é uma garan-
anos, consoante art. 10 do Decreto- tia constitucional contra ilegalidade
Lei 3.365/41. passível de ferir direito individual,
As informações da autorifl:ifie iudi- praticado por qualquer autoridade,
dária confirmam que o postulante inclusive a judiciária. Se há risco de
não chegou a ser citado para a ação consumar-se a lesão e o interessado
expropriatõria, sem embargos, diz não dispõe de meio ordinário suspen-
que a impetração revela ter seu au- sivo, o mandamus é legítimo. A pró-
tor conhecimento do processo, inicia- pria lei reguladora de segurança exi-
do em 1976 na Justiça Estadual com ge a suspenSividade em condição
a citação de outros condôminos. A de cabimento aa ação. Não há . por
circunstãncia de tratar-se de imóvel que distinguir entre os efeitos do ato
foreiro à União, determinou o envio administrativo e do ato judicial se
do feito à Justiça Federal. Conclui ambos são susceptíveiS de causar
que as alegações constituem matéria prejuízo ao direito de outrem. Cum-
de contestação, não cabendo a apre- pre pois entender-se a cláusula da
ciação na fase da imissão liminar. suspensão da eficácia enunciada no
A SubprocuradQria-Geral da Repú- art. 5?, item I, da Lei 1.533, aplicável
blica suscita intempestividade do também a hipótese do recurso judi-
mandamus que ataca ato judicial, de cial no item II do mesmo artigo.
1976. Descabida a competência da O mandado de segurança visa pre-
Justiça Federal para a ação expro- servar o direito na sua integridade
priatória em que a União figura co- original. Se o bem lesado não pode
mo assistente, interessada na deter- ser restituído,. materialmente, ao
198 TFR - 71

statu quo ante, pelo provimento de entre a União e a Prefeitura que pos-
recurso sem caráter suspensivo, diz- sa ser efetuada pela desapropriação.
se que a lesão é irreparável. O obje- O art. 102, do Decreto-Lei 9.760, de
to do direito, suscetível de destrui- 1946, que dispõe sobre o patrimônio
ção ou modificação substancial, só imobiliário federal, assegura ao se-
pode ser súbstituído pelo seu equiva- nhorio do domínio direto e preferên-
lente em dinheiro, isto é, em bem di- cia para aquisição dos domínio útil
verso do original. e, se não o exercer, o direito de co-
No caso, a imissão liminar na bra.r o laudêmio de 5%. A disposição
posse para fins de urbanização de apllca-se a todas as transmissões
área, implica demolição do pré- onerosas e não há por que excluir de
dio de que o Autor é condômino. O seu âmbito a desapropriação.
efeito do ato judicial não poderia ser A nua propriedade da União não é
remediado de pronto mesmo se o Au- atingida, nem seu direito de prefe-
tor tivesse interposto agravo e viesse rência ou de cobrança de laudêmio e
a ser provido. do foro.
Concluo, pois, que a ação manda- A presença da entidade central na
mental tem viabilidade jundica e há ação expropriatõria não configura,
interesse de agir contra lesão irrepa- assim, nenhuma das posições men-
rável pelos meios ordinários de im- cionadas no art. 125, item I, da Cons-
pugnação. tituição para sujeitar à competência
Exa~il:!0 o n:térito, c0!lleçando pe- da Justiça Federal.
la argmçao de Incompetencia absolu- O Autor cita, aliás, precedente
ta da Justiça Federal. A Prefeitura nesse sentido em que a 8~ Vara Fe-
de São Paulo limitou a expropriação deral de São Paulo declinou o conhe-
ao domínij) útil dos condôminós pri- cimento de ação expropriatória de
vados. O domínio direto da União prédiO situado na mesma rua.
não é, assim, atingido.
As informações do Juízo não iden- No MS n? 82.546, impetrado por
tificam a posição ,processual da enti- proprietário de imóvel nas mesmas
dade federal na ação expropríatõria. condições, o Tribunal não conheceu
Sem embargo, a Subprocuradoria- do mandamus. por intempestiv_Q. O
.Geral . da República. ao falar como Relator, o Sr. Ministro Carlos MiÍrio
órgão do Ministério Público nesta ins- Vefloso, ressalvou em seu voto que
tãhcia, diz que a União é assistente. não cabia, na hipótese, examinar a
A pr~velecer essa qualificação, questão de, incompetência da Justiça
conclm-se que a Procuradoria da Re- Federal, ,pois a Procuradoria da Re-
públic.a assiste aos desapropriados, pública, na instância originária, arn-
InCIUSlVe ao Impetrante pelo interes- da não se manifestara sobre a alega-
se na fixação do preço e conseqüente ção de falta de interesse da União
reflexo sobre o laudêmio e foro. para a desapropriação do domínio
útil.
Todavia, a assistência ca~az de Concedo a segurança pelo funda-
deslocar a competência, é o lltiscon-
sorcial. A intervenção ad mento da incompetência da Justiça
adjuvandum, prevista no art. 50 do Federal, para cassar a imissão limi-
Código de Processo Civil, não altera nar na posse e determinar a restitui-
o foro, de acordo com a jl,lrlSpmdên- ção dos autos da ação expropriatória
cia do Supremo Tribunal (RTJ - à Justiça Estadual.
51/238; 58/705; 66/517).
A assistência litisconsorcial VOTO
verifica-se quando a sentença houver
de influir na relação jundica entre o O Sr. Ministro Aldir G.
assistente e o adversário do assistido Passarinho: Sr. Presidente, não vejo
segundo o art. 541,. da lei processual. com a mesma liberalidade do Sr. Mi-
No caso, o adver_sário dos desapro- nistro Paulo Távora a possibilidade
priados assistidos é o Município de de impetração de mandado de segu-
São Paulo. Não há relação jurídica rança contra ato judicial. S'. Exa: pa-
TFR - 71 199

rece identificar o ato administrativu o que neguei foi a invalidade do


com o ato judicial, sob o aspecto de ato declaratório porque partiu do go-
que se deve considerar a irresponsa- verno municipal.
bilidade do dano e não haver efeito A afirmação não é minha isolada-
suspensivo. Entretanto, o art. 5? dis- mente. A ampará-la trouxe à cola-
tingue as duas hipóteses. Com rela- ção um mestre no assunto, Seabra
ção ao ato administrativo, cabível a Fagundes.
impetração, quando não cabe recur-
so com efeito suspensivo, indepen- Tenho que o Município de São Pau~
dentemente de caução. Não entendo, lo não pode, nao podia e não poderá
assim, como se possa pretender que declarar de utilidade pública imóVel
o mandado de segurança, seja suce- que pertence a União Federal.
dâneo do recurso judicial próprio. O ponto que focalizei foi este e só
Além do mais, há prazo prefixado este. Trago à lembrança esse' deta-
para os recurso judiciaiS e, até por lhe porque a argumentação que pas-
isso, não seria possível substituí-los sou a preponderar ficou restrita à
pelo mandado de segurança, cujo questão de competência e, não,
prazo para ajuizamento é de 120 àquela exposta no meu voto, qual se-
dias. Parece-me que não deve ser jà, a falta de suporte à própria ação
admitida a amplitude pretendida por pelO vicio insanável contido no ato
S. Exa. Compreendo-o possível ape- da declaração de utilidade pública
nas por um outro motivo, qual o de para efeito de desapropriacão.
evitar a irreparabilidade do dano. E, O Sr. Ministro Aldir G. Passarinho:
então, quando for o caso, pode ser Agradeço o aparte de V. Exa., mas
ele concedido apenas para dar efeito entendo que não modifica ele a fun-
suspensivo ao recurso que tenha sido damentação exposta, em face dos li-
conhecido apenas no efeito devoluti- mites em que eu considero deve ser
vo. Com isso, evitar-se-á que ocorra
dano irreparável, sem que" por outro ajustado o pedido.
lado, se substitua um recurso pelo Assim, não reconhecendo o interes-
writ». se da União, e sendo a sua asslstêlh-
cla não quallflcada, acompanho o vo-
Com essas considerações prelimi- to do Sr. Ministro Paulo Távora.
nares que acho interessante fazer, E o meu voto.
na oportunidade, passo ao exame de
que um segundo aspecto. A mim pa- VOTO
rece que a assistência da União não
é daquelas que possibilitem o deslo- O Sr. Ministro Lauro Leitão: Vou
camento da competência para a Jus- procurar, ligeiramente, justificar o
tiça Federal. A rigor, não há vincu- meu voto, em face dos debates a que
lação da União ao critério estabele- acabo de assistir.
cido para a fixação do laudêmio, efe-
tuado esta por motivo de uma desa- Entre as características da Fede-
propriação, se é certo que a União, ração incluem-se:
não foi parte na demanda. Assim, a) dualidade de ordens governa-
entretanto que não é competente a mentais e a sua coexistência;
Justiça Federal para a apreciação b) repartição constitucional de
da expropriatória. competências. Para que haja, por-
O Sr. Ministro Jarbas Nobre: - tanto, a Federação, é mister que
Ministro Aldir Passarinho, a partir existam, no mínimo, duas ordens go-
do voto do Sr. Ministro Paulo Távora vernamentais: a da União e as das
passou a ser localizado um funda- entidades menores - a dos Estados-
mento estranho ao meu voto. Não membros. No caso brasileiro; nós te-
discuti a competência da Justiça Fe- mos O Estado Federal, os Estados-
deral ou da Justiça Estadual porque membros e, ainda" os MunicípiOS. A
o feito foi inicialmente distribuído Constituição consagra a autonomia
perante Vara dos Feitos da Fazenda dos Estados e taml5ém dos Mu-
Municipal. nicípiOS. Uma lei muni.cipal válida,
200 TFR - 71

pOi-que votada no exercício da com- do Sr. Ministro Lauro Leitão,


petência do município, sobrepõe-se a denegando-a, adiou-se o julgamento
uma lei federal inconstitucional. É em face do pedido de vista formula-
certo que, na hierarquia das leis vá- do pelo Sr. Ministro Evandro Guei-
lidas, prevalece a federal sobre a es- ros Leite. Aguardam os Srs. Minis-
tadual e a estadual sobre a munici-
pal. tros Washington Bolívar de Brito,
Antônio Torreão Braz, Carlos Mário
A Constituição assegura o direito Velloso, Amarílio Benj amim, Ar-
de propriedade, que não é hoje abso-
luto, mas está condicionado ao inte- mando Rolemberg, Márcio Ribeiro,
resse social. Todavia, tanto a União Moacir Catunda, Décio Miranda e
quanto os Estados - Membros e os José Néri da Silveira. (Em 20-6-78 TJ•

Municípios, mediante declaração de Pleno). - Presidiu o julgamento o


utilidade pública, podem expropriar Sr. Min. Peçanha Martins.
a propriedade privada, a proprieda-
de particular. Não vejo impedimento VOTO VISTA
em que o município possa declarar
de utilidade pública um próprio fede- o Sr. Ministro Evandro Gueiros
ral. A Constituição Federal estabele-
ce limitaçõ~s senão aquelas segundo Leite: O impetrante está apenas pre-
as quais a propriedade privada pode tendendo retardar o andamento de
ser desapropriada, por utilidade pú- ação expropriatória que lhe move a
blica, mediante préVia e justa inde- Municipalidade de São Paulo,
nização em dinheiro. valendo-se para tanto, do processo
Nós sabemos que há os bens do pa- como instrumento do seu intuito in-
trimônio fiscal da União que podem confessável, o que vem conseguindo
ser alienados. Os de uso comum, po- desde o 1? grau, pois, ajuizada a de-
rém, como as praças, os lagos, os manda em 1975, até agora não se
rios, são inalienáveis. conseguiu a imissão na posse do imó-
Sem querer, desenvolver maiores vel, providência essa também pro-
considerações, para não tomar o crastinada por mais de dois anos, na
precioso tempo dos cOlegas, entendo Justiça Federal, conforme informa-
que não é inconstitucional o ato do ção prestada pelo DI'. Luiz Rondon
município que declarou de utilidade
pública um bem 'federal. Irá Magalhães, da 1~ Vara, às fls. 34.
desapropriá-lo, mas pagando previa- O impetrante pretende a declara-
mente a justa indenização em di- ção de nulidade da decisão do Juiz
nheiro. Federal, onde se determinou a imis-
Assim, o ato do município, que de- são na posse do imóvel, por reputá-lo
clarou uma área de utilidade públi- incompetente. Mas é de ver-se que
ca, foi perfeitamente legítimo. anteriormente lutara contra a com-
Nesse sentido, pois, é o meu voto. petência do Juízo local, com a mes-
ma finalidade e através dQ meio ade-
quado, ,a exceção de incompetência,
EXTRATO DA ATA Juízo cuja competência agora procla-
ma e pede seja restabêlecida nesta
MS 83.613-SP. ReI.: Sr. Min.: Jar- via (fls. 10).
bas Nobre. Reqte.: Chafic Farah. Como se vê, não se reveste de se-
Reqdo.: Juiz Federal da 1~ Vara. Ad- riedade o procedimento do impetran-
va: te, capaz de levar a crer encontre-se
Decisão: Prosseguindo-se no jUlga- ele na iminência de sofrer lesão irre-
mento, após os votos dos Srs. Minis- parável em seu direito, circunstãn-
tro Paulo Távora, Aldir Guimarães cia que, quandO evidenciada, tem le-
Passarinho, José Dantas e Carlos vado este Egrégio Tribunal a conhe-
Madeira, concedendo a segurança, e cer e conceder mandados de segu-
TFR - 71 201

rança, de maneira pouco ortod.oxa, é do de segurança hã falhas. Na impe-


certo, mas levado pela necessidade tração, ,na sua instrução e nas infor-
de evitar o mal maior, superando mações.
fórmulas processuais inadequadas, O Sr. Ministro Gueiros Leite rece-
embora de recente feitura. beu memorial apresentado pelo ad-
A Municipalidade de São Paulo es- vogado da Prefeitura de São Paulo.
tã desapropriando uma ãrea de ter- O mesmo aconteceu comigo. A ele
ras onde o impetrante é enfiteuta e dei toda a atenção e, do exame que
tem uma casa. As terras são do fiz, verifiquei que pela Lei n? 7.556,
domínio direto da União Federal. E de 1969, da Municipalidade de São
isso lhe serviu de motivo para desa- Paulo, o imóvel, cujo domínio útil
forar o feito, do juizo local, para o fe- pertence ao impetrante, serviu tão-
deral. Uma vez neste, a expropriante somente como marco divisório da
alterou o pedido, reduzindo a desa- ãrea declarada de utilidade pública.
propriação do domínio útil, o que le- Assim sendo, mantendo como
vou o impetrante a pedir nova decli- mantenho os demais termos do voto
natória, agora com a volta do feito à que proferi, entendo que o decreto
instância de origem. expropriatório, e· só este; não a Lei,
Pondo à mostra, aqui, os expedien- softe de vício insanãvel; retifico,
tes de que se vem utilizando Q impe- nesta parte, e só nesta parte, o voto
trante, não devo permitir que proso proferido anteriormente.
perem, data venia, tanto mais quan· Na conclusão, mantenho o meu vo-
do manifestados em mandado de se- to.
gurança, instrumento que não lhe
serve aos intentos, mesmo se leva- Concedo a Segurança.
dos a sério, pois incabível na solução
da matéria de competência, cujo EXTRATO DA ATA
deslinde se faz em via própria, e
sendo a suposta nulidade da decisão MS. 83.613-SP. ReI.: Sr. Min.: Jar-
impetrada, a que se refere (fls. 10), bas Nobre. Reqte.: Chafic Farah.
daquela uma mera conseqüência. Reqdo.: Juiz Federal da 1~ Vara.
Finalmente, quanto à situação da
causa, os seus objetivos e efeitos na Decisão: Prosseguindo-se no julga-
ãrea da Municipalidade e da União mento, após o voto do Sr. Ministro
Federal, veja-se que não tem trazido Evandro Gueiros Leite, denegando a
preocupações' aos seus representan- segurança, pediu. vista o Sr. Ministro
tes, que se compuseram em torno Washington Bolívar de Brito. Aguar-
dos limites da expropriação. Não fo- dam os Srs. Ministros Antônio Tor-
ra assim a douta Subprocuradoria, reão Braz, Carlos Mãrio! Velloso,
no exercício de suas precípuas atri- Amarílio Benj amin, Armando Ro-
buições, teria tomado posição ao la- lemberg, Mãrcio Ribeiro, Moacir Ca-
do do impetrante, o que não aconte- tunda e José Néri da Silveira. (Em
ceu. 31.8.78 - T. Pleno). - Presidiu o jul-
gamento o Sr~ Min. Peçanha
Voto, preliminarmente, pelo não co- Martins.
nhecimento do writ. E no mérito, pela
sua denegação. VOTO VISTA
RETIFICAÇAO DE VOTO o Sr. Ministro Washington Bolivar
de Brito: O mandado de segurança
O sr. Ministro Jarbas Nobre: Sr. foi impetrado contra ato do MM.
Presidente, neste pedido de manda- Juiz Federal da 1~ Vara, que deferiu
TFR - 71

imissão liminar na posse do imóvel o eminente relator concedeu a se-


objeto de desapropriação pelo Mu- gurança porqúe lei e decreto emana-
nicípiO de São Paulo, sob os seguin- dos dos órgãos municipais não po-
tes fundamentos: dem desapropriar bens da União.
1) incompetência da Justiça Fe- Verificando, posteriormente, que a
c

deral, porquanto o Expropriante lei não incluía o imóvel do,impetran-


retificara a inicial, limitando o pe- te, retificou; nesta parte, o seu voto,
dido ao domínio útil, pois a União é mantendo, no mais, a segurança.
titular do domínio direto, cessando Com vistas, o Sr. Ministro Paulo
o interesse desta, o que implica no Távora também concedeu o
retorno dos autos à Justiça Esta- mandamus, por incompetência abso-
dual, onde a ação se iniciara; luta da Justiça Federal, já que o in-
2) não poder o Município desa- teresse da União, como assistente
propriar bem da União, nos termos não litisconsorcial, não altera o foro,
da Lei Geral das Desapropriações consoante jurisprudência que cita,
(Decreto-Lei n~ 3.365/41, art. 2':', § do Supremo Tribunal Federal.
2~); Ao Sr. Ministro Evandro Gueiros
3) caducidade do decreto expro- Leite, entretanto, afigurou-se estar o
priatório, baixado há mais de cinco impetrante querendo retardar o an-
anos, conforme preceito da referi- damento da ação expropriatória, o
da lei (art. 10). que tem conseguido desde o 1~ grau.
Pretende a declaração de nulidade
A autoridade apontada como coa- do ato do Juiz Federal, reputando-o
tora, confirmando embora que o im- incompetente, quando anteriormente
petrante não chegou a ser citado, es- lutara contra a competência do Juízo
clarece que a própria impetração de- local, com igual finalidade, através
monstra tinha ele conhecimento do de exceção de incompetência, não se
processo, iniciado na Justiça Esta- revestindo, pois, de seriedade, o seu
duql, com a citação de outros con- próceder. Em conseqüência, votou,
dôminos; que declinaram pela compe- preliminarmente, pelO não conheci-
tência da Justiça Federal, ante o in- mento do writ, e no mérito pela sua
teresse da União, confirmando-o es- denegação.
ta. A ação foi distribuída à 1~ Vara
em 30.6.76, sendo deferida a imissão Impressinou-me a viva indignação
em 21.9.76, não efetivada, entretanto, do eminente Ministro Gueiros Leite,
até agora, por terem os réus requeri- motivo pelo qual solicitei vista dos
do nomeação de perito para vistoriar autos, dado que também me abalara
e avaliar o imóvel. a cerrada argumentação dos doutos
Ministros E:elator e Paulo Távora.
o parecer da ilustrada Compulsan.do os autos, verifiquei,
Subprocuradoria-Geral da República pelO teor das próprias informações
suscita a preliminar de intempestivi- da autoridade judiciária de 1~ grau,
dade da ordem impetrada, pois o ato que a Municipalidade de São Paulo
judicial atacado é de 1976, e , no mé- propusera ação de desapropriação
rito, opina pela denegação da segu- ante a Vara dos Feitos da Fazenda
rança, por descabida, defendendo a Municipal contra Otaviano de Almei-
competência da Justiça Federal, da Prado, citado o Sr. Henri Arida,
porquanto a União figura como as- que se declarara proprietário do
sistente 4 na ação expropriatória em imóvel. Este pediu fossem citados
curso, interessada na determinação D~ Alice -t\rida e seu marido, bem
do justo preço, do qual lhe adviriam como o impetrante, Chafic Farah,
vantagens (laudêmios e foro). ao tempo em que lembrava ser a
TFR - 71 203

União titular do direito real sobre o manifestação, senão a que se contém


imóvel, sendo, portanto, competente no presente pedido.
para julgamento a Justiça Federal e Justificar-se-ia a reprovação .conti-
não a Vara da Razenda MunicipaL da no voto do douto Ministro Gueiros
Esta é a primeira manifestação pela Leite e eu próprio a secundaria, se
incompetência da Justiça locaL efetivamente estivesse o impetrante
Determinada citação das pessoas a valer-se do mandado de segurança
acima nomeadas, inclusive a da para desdizer o que afirmara em ex-
União, todos foram chamados a ceção como Sua Excelência
Juízo, "deixando o impetrante Cha- asseverou, equivocadamente, da-
fic Farah de ser citado, porque o Ofi- ta venia. É a «ira dos bons» sobre
cial de Justiça foi informado que o que, magistralmente, escreveu Ruy
mesmo reside em Santos, à rua Ja- Barbosa. Preocupa-se o eminente
nuário dos Santos, n? 221, apt. 1603, Ministro, como todos nós, em preve-
razão porque a Municipalidade de nir ou reprimir qualquer ato contrá-
São Paulo requereu, fi. 56, sua cita- rio à dignidade da justiça" (CPC,
ção por precatória, segundo informa art. 125 UI).
o impetrado (fi. 32). Sabemos todos que o mandado de
Ainda nos termos da mesma auto- segurança se inscreve, ao lado do
ridade judiciária, «Alice Farah Ari- habeas corpus entre os direitos e ga-
da e seu marido, representados nos rantias individuais, que a Constitui-
autos pelo advogado Henri Arida, ção assegura, sendo legítima a insur-
contestaram a ação, fI. 58, e, na gência que, através de· qualquer de-
oportunidade, suscitaram a prelimi- les, o cidadão manifeste contra o Es-
nar de incompetência do Juízo Muni- tado, materializado no ato de qual-
cipal, declinando pela competência quer autoridade,. que delire do seu
da Justiça Federal» (fI. 32). Esta é a poder.
segunda manifestação formal pela in- Por outro lado, a propriedade tam-
competência da Justiça do Estado. bém é garantida, excetuado o caso
E mais adiante: de desapropriação, por qualquer dos
motivos mencionados na Lei Maior.
«Interveio no processo a União Assim, exercitando o impetrante
Federal, fi. 82, para dizer que, ten- a defesa de seu direito subjetivo, que
do a União interesse no feito, era entende violado, através de manda-
de se remeter o processo para a do- de segurança , e vindo com ele
Justiça Federal de São Paulo, em bater às portas deste Tribunal, me-
face do que, por r. despacho de fI'. rece ver examinados os seus funda-
87, o douto Juízo Estadual determi- mentos e receber, se devido, o am-
nou a remessa dos autos a estÇl paro da prestação jurisdicionaL
Justiça». (FI. 32).
Nestas condições, e considerando
E esta foi a terceira manifestação que o impetrante jamais foi citado,
pela incompetência da Justiça Esta- conheço, preliminarmente, do pedi-
dual. do, por tempestivo; conheço-o, ainda,
Como se acabou de demonstrar, o por cabível, na espécie, segundO ar-
impetrante, quando essas três argüi- gumentam os doutos Ministros J ar-
ções de incompetência foram feitas, bas Nobre, Relator, e Paulo Távora.
sequer fora citado, como citado ja- No mérito, adotando a fundamen-
mais foi, segundo o impetrado mes- tação do voto do Sr. Ministro Paulo
mo, não se lhe podendo atribuir, por- Távora, também concedo a seguran-
tanto, levantamento de exceção de ça para cassar o, despacho judicial
incompetência, ou outra qualquer de imissão liminar na posse do imó-
204 TFR - 71

vel, por incompetência da Justiça expropriatória. Esclarecido de que a


Federal, pois a assistência simples- expropriante retificou· a inicial, no
mente ad adjuvandum (art. 50, sentido d, que a expropriatória dis-
CPC), portanto, não-litisconsorcial, sesse respeito apenas ao domínio
da União (cf. art. 54, CPC), não mo- útil, tendo em vista, pois, essa retifi-
difica a competência do foro. cação da inicial, feita pela expro-
E o meu voto. priante, defirO. a ordem, por incom-
petência da Justiça Federal. Fico as-
sim, de acordo com o Sr. Ministro
VOTO VOGAL Páulo Távora, com a vênia devida
ao Sr. Ministro-Relator.
o Sr. Ministro Antônio Torreão
Braz: Senhor Presidente, o funda- VOTO
mento central do IIlandado de segu-
rança, ao que ouvindo voto do Minis- O Exmo. Sr. Ministro Amarmo
tro':Relator, reside ho fato de não po- Benjamim: Peço, inicialmente, des-
der' o Município desapropriar bens culpas aos Srs. Ministros, principal-
da União. mente ao Ministro':Relator e aos que
pediram vista dos autos, por algu-
A formulação é correta, mas perde mas incorreções que possa cometer
consistência na espéCie, eis que a no pronunciamento de meu voto.
União concordou com o ato expro- E que, iniciado o julgamento há
priatório. tantas sessões, apesar da atenção
que tive, na realidade, não pude re-
Quanto à competência, entendo ter tantas minúcias e todos aspectos
que é da Justiça Federal, porque o da controvérsia.
litígio envolve área cujo domínio di-
reto é da Fazenda Nacional. Recebi um memorial do Doutor
Denego a segurança. Advogado, tomei também, aqui na
assentada, algumas notas, e é nessa
base que vou dar o meu voto.
VOTO
O Dr. Advogado, no seu memorial
O Sr. Ministro Carlos Mário que está à mão, acha qüe a melhor
Velloso: Sr. Presidente, quanto ao orientação para decidir-se a diver-
argumento de que não poderia o .Mu- gência sej a fixar-se o Tribunal no
nicípio desapropriar bens da União problema da competência.
Federal, entenào que a impetrante
não poderia formulá-lo, ou que não Não obstante, direi o meu modo de
tem legitimidade para tal. A argu- pensar sobre os diversos temas que
mentação deveria vir da parte àa foram examinados nas sessões ante-
União, se fosse caso. A União não riores.
faz tal argüição; ao contrário, con-
forme esclarece o Sr. Ministro Tor- Lembro-me que, no voto do Sr. Mi-
reão Braz, concorda com a expro- nistro-Relator, ficou salientada, so-
priação. bretudo, a impossibilidade de o Mu-
No que tange ao segundo argumen- nicípio decretar desaprbpriação, en-
to, de que seria caduco o decreto, en- volvendo bem ou interesse da União
tendo que tal discussão deve ou do Estado, porque essa é a regra
processar-se, por se tratar de vício que decorre da Lei de Desapropria-
formal, nos próprios autos da ação ções, na conformidade da hierarquia
TFR - 71 205

em que se distribuem, no nosso siste- Decidida a competência em 1976,


ma político, as três esferas do poder. mesmo que equivocadamente fosse
requerido o mandado de segurança, a
Estou de pleno acordo com o emi- medida, a todas as vistas, seria intem-
nente Colega, devo, entretanto, sa- pestiva.
lientar que, para o caso dos autos, Depreendi do debate, e também da
independentemente do suposto pequena apuração que acabo de fa-
equívoco da inicial ou das leis paulis- zer, que, levantado o problema da
tas, a meu ver, o problema passa a incompetência, a União e a Munici-
segundo plano, uma vez que nenhu- palidade entraram em acordo e
ma das entidades públicas interessa- retificou-se a inicial, no sentido de
das veio ao processo alegar o seu di- circunscrever-se absoluta!llente a
reito. O impetrante é que não pOde des'apropi'iação do domínio útil. Creio
investir-se nessa posição para alegar que foi precisamente' por isso que o
qualquer defeito. Dr. Juiz Estadual achou que não
Por outro lado, o meu pensamento mais lhe cabia decidir a espécie. Es-
é o de que o mandado de segurança tão, portanto, os autos na Justiça Fe-
não se presta, nem é o meio próprio deral.
para decidir, na ação de desapro- Li no mandado de segurança a ini-
priação ou noutra qualquer, o inci- cial, que não está muito clara devido
dente de incompetência. Se o inci- à preocupação que teve o impetrante
dente é levantado no processo regu- de recapitular" todos os detalhes da
larmente, por exceção ou não, e o origem do imóvel ou do prédio.
Juiz o decide, há recurso próprio. O
mandado de segurança, se requeri- Na verdade, no entanto, colocada
do denuncia logo que o impetrante, a inicial em Juizo e autorizada a
ou' está completamente desatualiza- imissão de posse, o mandado de se-
do das regras processuais, ou, na gurança pretende opor-se, indepen-
realidade, perdeu o prazo, preten- dentemente daqueles outros aspectos
dendo através do mandado de segu- que estão subjacentes, à imissão que
rança.: rebaixado a um expediente, foi concedida.
corrigir a omissão cometida.
Mas, Srs. Ministros, não é possível
a impetração visar a imissão de pos-
Independentemente desse aspecto, se. Consta das informações que a
vi aqui, nas informações, que, pro- imissão não chegou a ser cumprida,
posta a ação no Juizo da Fazenda e creio que ainda não o foi.
Municipal, foi levantada a incompe-
tência do Juizo, vez que ocorria inte-
Os interessados requereram uma
resse da União Federal, tanto que a espéCie
União foi citada. Em conseqüência para avaliar de diligência preliminar,
disso o Juiz dos Feitos da Fazenda que imissão de o imóvel. Daí, concluo
Municipal declinou da sua competên- cialmente, ficou posse, se houve ini-
sustada em virtude
cia, vindo os autos ao Juizo Federal. da diligência, ou, até, ainda estej a
na dependência de despacho que o
Ora essa decisão é de 1976. O Dr. Juiz, encerrando a períCia decre-
mandàdo de segurança de 1978. Lo- tada venha a proferir. Isto é, pode-
go, sob qualquer alegação, c~ns­ se dIzer, com tranqüilidade, que à
truida pelos doutos advogados do Im- impetração falta objeto.
petrante, não era possível, de forma
alguma, suprir a exigência legal do Não .obstante, se aprofundarmos o
prazo. exame da matéria, vamos ficar limi-
206 TFR - 71

tados à incompetência do Juiz Fede- Justiça Federal por ter desapare,ci-


ral. do, por inteiro, o interesse da União
Estou deixando de lado todas as na causa.
considerações feitas, no sentido de Voto acompanhando o Senhor Mi-
demonstrar que o mandado de segu- nistro Paulo Távora.
rança não cabe para esse efeito, que
a incompetência foi decidida há
mais de 2 anos e que o prazo do VOTO
mandado de segurança está vencido.
Deixo de parte tudo isso, para sa- O Sr. Ministro Márcio Ribeiro: Sr.
lientar que, na hipótese, de qualquer Presidente, estou de acordo com o
forma, subsiste o interesse da União, voto do Sr. Ministro Paulo Távora.
que é titular do domínio direto e, em
conseqüência, acompanhando a de-
sapropriação ou dando-lhe presença,
est;í cumprindo defesa de interesse VOTO
próprio, uma vez que, desaprpriado
o imóvel e sendo ele foreiro, o titular O Sr. Ministro Moacir Catunda: Se-
do domínio direto terá participação nhor Presidente, dou pela competên-
no preço, pela exigência do laudê- cia da Justiça Federal; no mérito,
mio. denego o mandado.

São estas as razões, Sr. Presiden-


te, pelas quais, data venta do voto
dos Ilustres Colegas que concederam VOTO
a segurança, o meu voto é denegan-
do o pedido, por falta de qualquer O Sr. Ministro José Néri da
fundamento válido. Silveira: Sr. Presidente, a matéria
restou devidamente explicitada
quando o feito já na Justiça Federal,
VOTO retificando-se a inicial para afirmar
que a expropriatória versa apenas
O Exmo. Sr. Ministro Armando sobre o domínio útil. Não há, pois,
Rolemberg: Sr. Presidente, o desapropriação do domínio eminen-
Decreto-Lei 9.760, de 1946, art. 102 dis- te. Foi na pressuposição de que o
põe que: domínio eminente também integras-
se o objeto da desapropriação que o
«Será nula de pleno direito dr. Juiz Estadual declinou de sua
a transmissão entre vivos de competência para a Justiça Federal.
domínio útil de terreno da União Assim sendo.. parece que, se, na
sem prévio assentimento do Justiça Federal, se esclarece o ver-
SPU». dadeiro objeto da expropriatória, por
não dizer ele com direito da União, a
Do que ouvi, houve concordância competência não deve ser da Justiça
da União em que o domínio útil fosse Federal.
transferido ao município do Estado A questão de competência pode ser
de São Paulo, razão por que teria si- conhecida pelo Tribunal e decidida,
do modificado o pedido inicial, que neste instante, porque também é ob-
era de desapropriação e passou a ter jeto da impetração, constituindo,
outro sentido. Considerando tal cir- aliás, o seu fundamento. O expro-
cunstância, parece-me, a matéria priante, em memoriál que distribuiu
deixou de ser da competência da entre Ministros que aguardavam pa-
TFR - 71 207

ra proferir seu voto, reconhece essa ral, defiro o mandado de segurança,


situação de incompetência da Justi- acompanhando o Sr. Ministro Paulo
ça Federal quando destaca: (lê). Távora.

Estou de acordo, assim, com os


termos do voto proferido pelo ilustre EXTRATO DA ATA
Ministro Paulo Távora, para deferir
o mandado de segurança, reconhe~
cendo a incompetência da Justiça MS 83.613-SP - ReI.: Sr. Min. Jar-
Federal. O argumento invocado pa- bas Nobre. Reqte.: Chafic Farah.
ra, mesmo -cifrada a expropriação Reqdo.: Juiz Federal da 1~ Vara.
ao domínio útil, remanescer interes-
se da União Federal na causa, não
me parece bastante a justificar a ad- Decisão: Prosseguindo-se no julga-
missibilidade do Juízo Federal. A mento, concedeu-se a segurança nos
União estaria interessada em ver termos do voto do Sr. Ministro Paulo
bem fixado o preço, porque, à base
<
Távora, designado para lavrar o
desse preço, lhe seria pago o laudê- acórdão. Ficaram vencidos, em par-
mio. Esse seria o interesse da União. te, no tocante à competência, os Srs.
Mas isso justificaria a condição de Ministros Relator e OUo Rocha' e
assistente, não porém a de litiscon- integralmente, os Srs. Ministro~
sorte. Justificaria uma posição de Lauro L~itão, EvandroGueiros Lei-
assistência ad adjuvandum para que te, Antônio Torreão Braz, Amarílio
bem se apurasse, então esse preço, Benjamin e Moacir Catunda, que de-
nunca para defender o domínio ex- negaram a segurança. (Em 14.9.78
propriado, no caso, o domínio útil. - T. Pleno).

Os Srs. Ministros Aldir Guimarães


E da jurisprudência do Tribunal Passarinho, José Dantas, Carlos Ma-
que, nas controvérsias a propósito do deira, Washington Bolívar de Brito,
domínio útil, competente é a Justiça Carlos Mário Velloso, Armando Ro-
Estadual. Não parece, no caso, lemberg, Márcio Ribeiro e José Néri
modificar-se a questão. da Silveira votaram de acordo com o
Sr. Ministro Paulo Távora. Presidiu
Assim sendo, por esse fundamento o julgamento o Sr. Min. Peçanha
de incompetência da Justiça Fede- Martins.

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 84.976 - MG


Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins.
Remente ex Officio: Juiz Federal da 3~ Vara
Apelante: União Federal
Apelado: Mineração Morro Velho S/A
Autor: Req.: Delegado Regional da Receita Federal
EMENTA
Imposto Sobre Produtos Industrializados exigido
de empresa mineradora de ouro que, aglomerado,
não perdeu a sua qualidade. Exigência ilegal.
208 TFR - 71

ACORDA0 nar que a autoridade impetrada «se


abstenha de cobrar da requerente o
Vistos e relatados os autos em que Imposto Sobre Produtos Industriali-
são partes as acima indicadas: zados referente à intimação de 9 de
Decide a E' Turma do Tribunal janeiro do corrente ano (doc. de fls.
Federal de Recursos, por unanimi- 62), bem como de aplicar as comina-
dade, negar provimento ao· recurso, ções conseqüentes.»
na forma do relatório e notas taqui- O Ministério Público apelou e a
gráficas constantes dos autos, que fi- impetrante contra-arrazoou.
cam fazendo parte integrante do pre- Neste Tribunal,a douta
sente julgado. Subprocurado:r:ia-Geral da República
Custas como de lei. opina pelO provimento do recurso.
Brasília, 26 de novembro de 1979. É o relatório.
(Data do julgamento). Ministro
Peçanha Martins, Presidente e Rela- VOTO
tor.
O Sr. Ministro Peçanha Martins
RELATO RIO (Relator): A autora é uma sociedade
anônima mineradora de ouro, que o
o Sr. Ministro Peçanha Martins: retira
que
das rochas lavradas em minas
explora e aglomera, apos sepa-
Tratq-se de mandado de segurança
impetrado por Mineração Morro Ve- rado das impurezas, em barras ou
lingotes, sobre a aglomeração, ·0 Fis-
lho SY A contra o ato do Sr. Delegado co,
Regional da Receita Federal em Be- alegando que o mineral in riatura
lo Horizonte, que lhe exigiu pagar () foi objeto de processamento que lhe
Imposto Sobre Produtos Industriali- modificou a identidáde física, exige
zados, exigência ilegal, desde que, o imposto que a inicial qualifica de
ilegal. Em um caso muito parecido,
como empresa mineradora de ouro, tratava-se
está sujeita, apenas, ao pagamento concluí pejadeconcessão
mármore e granito,
da segurança
do imposto único. E pede que se de- argumentaudo:
termine à autoridade, que se abste-
nha de prosseguir na exigência de «A impetrante adquire mármore
que trata a intimação de 9 de janeiro e granito em bruto e fabrica arte-
de 1978 e de proceder novos lança- fatos através de beneficiamento
mentos. mecânico, isto é, serragem, poli-
mento e esculpimento. E sobre es-
A autoridade inquinada de coato- ta industrialização o Fisco Fede-
ra, em suas informações, diz que o ral, sob a alegação de que o mine-
seu ato está acobertado pelo Auto de ral in natura foi objeto de processo
infração e por decisões administrati- que lhe modificou a identidade
vas, inclusive do 2. Conselho de Con- física, exige o pagamento do im-
tribuintes. posto sobre produtos industrializa-
A douta Procuradoria da Repúbli- dos.
ca opina pelo indeferimento do pedi- Mas serrando, britando, aglome-
do, por isso que a tributação, no ca- rando,polindo e esculpindo o már-
so, não está a recair sobre o ouro in more ou o granito para confeccio-
natura, mas no ouro fundido, em nar soleiras, pisos e outros artefa-
barras. tos, evidente que a impetranteape-
O ilustre Juiz, Dr. Euclydes Reis nas beneficia os grandes blocos por
Aguiar, concedeu, em parte a segu- processos puramente mecânicos.
rança, ~sto é, apenas para determi- Os artefatos fabricados continuam
TFR - 71 209

objetos de mármore, ou de pedra, Evidente, pOlS, que, apenas aglo-


sem alteração, pois, do produto in merando o ouro em barras, ou lingo-
natura, valendo a transcrição do tes o ouro não perdeu a sua qualida-
art. 22; X e respectivo parágrafo 5? de.
da Constituição de 1967; Isto posto, nego provimento ao re-
«Art. 22 - Compete à União curso para confirmar a sentença re-
decretar impostos sobre; corrida.
EXTRATO DA ATA
X - extração, circulação, dis-
tribuição ou consumo de mine- AMS n? 84.976-MG. Rel.: Sr. Mi-
rais do País. nistro Peçanha Martins. Remte.:
Parágrafo 5? - Os ilIlPOStOS a Juiz Federal da 3': Vara. Apte.:
que se referem os n?s VIII, IX e X União Federal. Apdo.: Mineração
incidem, uma só vez, sobre uma Morro Velho S/A.
dentre as operações ali previstas Decisão: Por unanimidade, negou-
e excluem quaisquer outros tri- se provimento ao Recurso. (Em
butos, sej am quais forem a sua 26.11.79 - 1': Turma).
natureza e competência, relati- Os Srs. Ministros OUo Rocha ~
vos às mesmas operações» Wilson Gonçalves votaram com o
«Nego provimento aQ recurso para Relator. Presidiu o julgamento o Ex-
confirmar a sentença.» mo. Sr. Ministro Peçanha Martins.

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. o 86.387 - BA


Relator: O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz
Apelante: Faculdade de Direito da Universidade Católica dei Salvador
Apelada: Denise Pereira Ribeiro

EMENTA:
Ensino Superior - Transferência. - As normas
do Decreto n? 77.455, de 19.4.1976, têm aplicação res-
trita à hipótese de transferência de alunos de um pa-
ra outro estabelecimento de ensino superior.
Cabe às Universidades e Escolas isoladas decidi-
rem discricionariamente sobre a dispensa de maté-
rias já cursadas em outros estabelecimentos ou cur-
sos.
Segurança cassada.

Vistos, relatados e discutidos es- segurança, na forma do relatório e


tes autos em ,que são partes as aci- notas taquigráficas que passam a in-
ma indicadas: tegrar o presente julgado.
Acordam os Ministros que com- CustasL como de lei.
f

põem a Segunda Turma do Tribunal Brasília, 20 de junho de 1979. (Da-


Federal de Recursos, por unanimi- ta do julgamento) - Ministro
dade, dar provimento à apelação, Antônio Torreão Braz, Presidente e
para reformar a sentença e cassar a Relator.
210 TFR - 71

RELATORIO questionasse a respeito da exten-


são do decreto executivo em exa-
O Sr. Mini~tro Antônio Torreão me, nem tampouco sobre a equi-
Braz. O Dr. Juiz Federal da 1:' Vara valência do conteúdo das -cadéi-
da Bahia sumariou a espécie nestes ras e disciplinas do curso que a
termos (fls. 98/101) <lê). suplicante fez e de outras iguais
ou idênticas, incluídas no Curso
A sentença concedeu a segurança de Bacharelado em Direito que
para dispensar a impetrante das dis- ela acab:;. de concluir em uma
ciplinas Direito. Comercial IH eIV, faculdade particular».
sem prejuízo de sua colação de grau
em Direito pela Universidade Católi-
ca de Salvador. A autoridade impetrada, entretan-
to, na spa irresignação, justifica por-
ApelO'u a autoridade impetrada, menorizadamente esse tratamento
com as razões de fls. 110/135, repi- 112/113).
sando as alegações aduzidas nas in-
formações. «Denise Pereira Ribeiro, impe-
trante da segurança, ingressou
Contra razões às fls. 139/142. na Faculdade de Direito da
Universidade Católica de Salva-
A Subprocuradoria-Geral da Repú- dor, mediante aprovação em
blica opinou pela confirmação da sen- concurso vestibular, conforme
tença (fls. 151/154). está contido nos autos, no ano de
É o relatório. 1969, época em que o ensino su-
perior, no Brasil, se encontrava
sob a égide do regime seriado e,
por isso, o Curso de Bacharelado
VOTO em Direito era oferecido em cin-
co (5) anos, ou séries. Em assim
O Sr. Ministro Antônio Torreão acontecendo, teve, a impetrante,
Braz: Senhor Presidente, a sentença oportunidade, sob a vigência do
apelada concedeu a segurança, por regime acadêmicõ ja nominado,
entender que a pretensão da impe- de cursar até o ano de 1971 (E,
trante encontra agasalho no Decreto 2:' e 3:' séries). Em 1972, não
n? 77.455, de 19 de abril de 1976, a cu- mais se matriculou, repetido-se
ja obediência irrestrita não podia o fato, ainda, nos anos de 1973,
furtar-se a autoridade coatora. E as- 1974 e 1975. Não se utilizou do
sinalou, verbis instituto de trancamento.
Tipificou-se, pois, a figura de
«Por haver estudado Institui- abandono de curso. Mesmo as-
ções de Direito Civil e Comercial sim, diante de requerimento de
no Curso de Ciências Contábeis e matrícula, formulado em 1976, a
Atuariais da Faculdade de Eco- Diretoria d~ Faculdade de Direi-
nomia da Universidade Federal da to da Universidade Católica de
Bahia, a própria impetrante. foi Salvador permitiu a volta da im-
dispensada de cursar a cadeira petrante.
de Direito Civil I, lI, IH e IV. A realidade acadêmica não
Igual dispensa também lhe foi era a mesma. A Universidade
concedida na cadeira de Direito Católica de Salvador, a exemplo
Penal I, lI, III e IV, de Noções de das demais universidade brasi-
Economia e Matemática, e nas leiras, viu seu ingresso no mun-
disciplinas de Direito Comercial do fantástico da reforma do ensi-
I e lI. Tal ocorreu sem que se no. Não mais se -falava em regi-
TFR - 71 211

me. seriado e sim, Ja agora, em reito Comercial IH e Direito Co-


regIme semestral (ou de crédi- mercial- IV .
tos). Houve necessidade de
avaliar-se o currículo acadêmico Por ter a aluna, na 3~ série do
da aluna para reconhecimento antigo regime, cursado um (1)
das disciplinas por ela cursadas ano de Direito Comercial (l~ Ca-
sob. o im~ério do antigo regime. deira) foi desobrigada das cadei-
AssIm fOI feito. Cursara Direito ras de Direito Comercial I e Di-
Penal, na 2~ e 3~ séries do regi- reito Comercial H. Ficando co-
me anual, ficando desobrigada mo ficou, obrigada a cursa~ Di-
de cursar Direito Penal I, lI, III reito Comercial IH e Direito Co-
e IV (cada disciplina, agora, cor- mercial IV (cada uma em um (l)
respondendo a um (1) semestre semestre), cadeiras. que corres-
letivo). Cursara dois ~2) anos de pondem à antiga 2~ cadeira de Di-
Direito Civil (2~ e 3~ séries) sob reito Comercial ofereçida na 4~
o antigo regime anual, fic~ndo série do regime anual e que não
desobrigada de cursar Direito foi cursada pela aluna uma e que
Civil I, lI, III e IV (cada uma não seqüenclou seus estudos, in-
dessas disciplinas corresponden- terrompendO na 3~ série».
do a um (1) semestre letivo), A realidade, portanto, é bem diversa
restando, ainda, as Cadeiras de daqueloutra pintada pelO ilustre Dr.
Direito Civil V, VI, VII e VIII Juiz a quo, eis que a dispensa de cursar
(estas, relativas às antigas 4~ e Direito Civil I, lI, III e IV não decorreu
5~ séries). Matriculou-se em to-
do fato de haver a apelada estudado
das e logrou aprovação. Instituições' de Direito Civil e Comer-
Respeitantemente ao ensino da cial no Curso de Ciências Contábeis e
disciplina Direito Comercial, no Atuariais da Faculdade de Economia
regime antigo, era esta oferecida da Universidade Federal da Bahia, co-
em dois (2) anos: 3~ e 4~ séries, do mo ela assoalhou na petição inicial, o
Curso de BachaI'elado em Direi- mesmo acontecendo com Direito Pe-
to. A aluna cursou, no regime nal, I, lI, In e IV e Direito Gomercial I
anual, a primeira cadeira de Di- eII.
reito Comercial, na 3~ série, fi-
cando de cursar a outra (a últi- Houve, data venia equívoco mani-
ma), na 4~ série. Com o abando- festo na concessão do writ, por isso que
no dos estudos, isso não aconte- o texto legal invoc;ado não outorga à
ceu, isto é, não cursou a 2~ cadei- impetrante o dírieto públiCO subjetivo
ra de Direito Comercial, leciona- de que se diz titular.
da na 4~ série. Quando da volta da
aluna, agora sob o regime' semes- Em primeiro lugar, o Decreto n~
tral ou de créditos, aconteceu 77.455/76, conforme consta do seu
também, o desdobramento da~ preâmbulo, incide especificamente
cadeiras de Direito Comercial na hipótese de transferência de alu-
nos de um para outro estabelecimen-
a) A cadeira de Direito Comer- to de ensino superior. Nesta conso-
cial cursada na antiga 3~ série nãncia, para evitar interpretação ab-
(1 ~ Cadeira) foi dividida em Di- surda que não está obviamente na
reito Comercial I e Direito Co- mens legis, tem-se como requisito ne-
mercial H cessário a observar a identidade dos
b) A cadeira de Direito Comer- cursos - tanto que o diploma, no art.
cial cursada na antiga 4~ série I?, §~?, fala em «continuação do curso
(2~ Cadeira) foi dividida em Di- frequentado pelo aluno transferido» -
212 TFR - 71

ou, quando menos, a equivalência do ro, com a cadeira denominada


conteúdo das matérias. Direito Comercial IV.
O mesmo ocorre com o éstudo
Em segundo lugar, as Universida- dos títulos de crédito e outros te-
des e Escolas isoladas detêm o pOder mas igualmente relevantes da Ca-
discricionário de decidir soberana- deira Direito Cometcial In, do
mente a respeito dessa equivalência Curso de Bacharelado em Direi-
de conteúdo, não cabendo ao Judiciá- to, que no Curso de Ciências Con-
rio, consequentemente, arrogar-se a tábeis e Atuariais são tratados
faculdade de aferir da razoabilidade quase que incidentemente».
ou irrazoabilidade da solução a que E de repelir-se, como se vê, a
chegaram no exercício dessa atribui- prete,nsão da Autora que a· res-
cão privativa. peitável sentença apelada houve
Neste sentido, em deliberando, com por bem acolher. Não existe o di-
muito acerto, o Conselho Federal de reito, muito menos o direito líqui-
Educação, consoante se infere da se- do e certo que ela apregoa. E o
guinte passagem do Parecer n? 226/69, ato impugnado é perfeitamente
da lavra da Professora Esther de Fi- legitimo, praticado de acordo
gueiredo Ferraz. com a legiSlação específica.
Em face do exposto, dou provi-
«A dispensa de disciplinas já mento à apelaçãb para cassar a
cursadas em outro curso superior segurança, pagas as custas pela
pode ser autorizada pelo estabele- ,impetrante.
cimento, desde que as mesmas
tenham sido cursadas em escolas
idôneas e que haja absolut{l EXTRATO DA ATA
equivalência de conteúdo, a Juízo
daEscola». AMS 86.387 - BA - ReI. Sr.
Min. Torreão Braz. Apte.: Facul-
Cumpre acatar esta compreensão, dade de Direito da Universidade
pois ,somente ela se concilia com o Católica de Salvador. Apda.: De-
bom senso e não leva a resultaaos nise Pereira Ribeiro.
inaceitáveis. No caso sob exame, um
cotejo superficial evidencia a des- Decisão. Por unanimidade de
proporção, no atinente ao conteúdo e votos, deu-se provimento à apela-
carga horária, entre o programa de ção,· par~ reformar a sentença e
Técnica Comercial e Cotabilidade cassar a segurança. Sustentou
Bancária no Curso de Ciências Con- oralmente pela apelante, o Dr.
tábeis e Atuariais e o programa de Pedf!:> Augusto de Freitas Gordi-
Direito Comercial no Curso de Ba- lho. (Em 20.6.79 - 2~ Turma).
charelado em Direito.
A propósito, registre-se o que diz a Os Srs. Mins. Justino Ribeiro e
apelante (fls. 86) Sebastião Reis votaram com o
Relator. O Sr. Ministro Sebastião
«A exemplo, o Curso de Ciências Reis é Juiz Federal convocado
Contábeis e Atuariais, nos insti- em substituição ao Sr. Min. Pau-
tutos da falência e concordata, lo Távora, aposentado. O Sr.
mais não requer que noções ge- Min. Moacir Catunda não com-
rais, em poucas· aulas, enquanto pareceu, por motivo justificado.
que no Curso de Bacharelado em Presidiu o julgamento o Sr. Min.
Direito ocupa um semestre intei- Torreão Braz.
TFR - 71 213

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 86.471 - RJ


Relator: O Sr. Ministro Evandro Gueiros Leite
Apelante: Empresa Auxiliar de Serviços Gerais Ltda.
Apelado: Instituto do Açúcar e do Alcool
Aut. Reqda.: Presidente do Instituto do Açúcar e Alcool
EMENTA
Administrativo. I,.icitação po;r tomada de. pre-
ços. Obediência ao Edital e ao disposto no Deéreto
-Lei n? 200/67, art. 133, § único.
A licitação por tomada de preços é procedimen.to
administrativo prévio, que tem por objetivo eleger o
contratante que maiores vantangens ofereça ao ser-
viço. Uma dessas vantagens é o menor preço. Se ou-
tros fatores editalícios preponderarem, impõe-se a
justificação escrita da autoridade competente e a
sua divulgação (art. 133, § único, do Decreto-Lei n?
200/67). A flexibilidade prevista em procedimento
essencialmente vinculado, deve ser sempre informa-
da pelos princípios basilares da igualdade e da publi-
cidade.

ACORDA0 Após o cotejo das propostas, em


que a impetrante apresentou meno-
Vistos e relatados os autos em que res preços, maior capacidade técni-
são partes as acima indicadas: ca, idoneidade financeira e tradição
de serviços à autarquia durante
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- mais de dez anos, a Comissão sub-
deral de Recursos, por unanimidade, meteu a proposta de homOlogação ao
negar provimento à apelação, na for- presidente da impetrada.
ma do voto e notas taquigráficas
precedentes que ficam fazendo parte Homologada a tomada de preços,
integrante do presente julgado. a prestação de serviços foi adjudica-
Brasília, 25 de abril de 1980 (data da à firma Selen, Serviços Técnicos
do julgamento). - Ministro Aldir Profissionais Ltda., sem maiores es-
Guimarães Passarinho, Presidente clarecimentos quanto ao critério de-
- Ministro Evandro Gueiros Leite, terminante do ato, que se aponta em
Relator. afronta à lei e às normas do respec-
tivo edital.
RELATORIO
O «writ» processou.se com limi.nar
O Sr. Ministro Evandro Gueiros e sobrevieram as informações, nas
Leite (Relator): Trata-se de manda- quais a autoridade impetrada negou
do de segurança impetrado pela Em- a existência de qualquer ilegalidade,
presa Auxiliar de Serviços Gerais salientando que a adjudicação resul-
Ltda. contra o Instituto do Açúcar e tou, entre outros motivos, do fato de
do Alcool, objetivando a adjudicação possuir a vencedora vàsta rede de fi-
de serviços licitados, porque vencen- liais, fator preponderante na esco-
dora da Tomada de Preços n? 5/78. lha.
214 TFR - 71

Pelo sub item 1.3, do edital, seria seria fator preponderante a ser con-
indispensável ao bom atendimento siderado.
dos encargos licitados junto aos ór- Assim foi feito de acordo com o su-
gãos regionais da autarquia, um bitem 6.2, do Edital de Licitação. E a
maior número de filiais, aspecto ne- comissão procedeu em conformidade
gativo em relação à impetrante e com o art. 133, do Decreto-Lei n?
que muito a distanciou das demais 200/67, ao solicitar parecer do De-
concorrentes. partamento de Administração do
O Ministério Público opinou con- IM sobre a capacidade técnica das
trariamente à concessão da seguran- concorrentes.
ça por ausência de direito líquido e Pelo que foi verificado às fls.
certo a proteger. E foi ass~m que jul- 52/54, a impetrante não se teria de-
gou o Dr. Carlos Augusto ThibauGui- sincumbido satisfatoriamente de ser-
marães, ilustre Juiz da 6~ Vara Fe- viços que antes lhe haviam sido ad-
deral. judicados, ao contrário da empresa
A impetrada apelou (fls. 75/84). O vencedora, contra a qual, nesse pon-
IM apresentou contra-razões (fls. to, nada foi encontrado de desabona-
88/92). E, após falar o Ministério PÚ- dor.
blico ao lado dÇi autarquia a.ssistida O julgamento das propostas aten-
(promoção do Dr. Sylvio Fiorênciol, deu às prescrições do edital, onde fo-
subiram os autos ao Tribunal para ram enfatizados, acima do fator pre-
julgamento. ço, outros preponderantes, como a
A douta Subprocuradoria-Geral da existência de filiais e o conceito da
República (Dr. Geraldo Andrade Administração sobre a qualidade dos
Fonteles) opin6u pela confirmação serviços anteriormente prestados pe-
da sentença, que a decisão impugna- los concorrentes.
da inseriu-se nos critérios adminis- Além dos termos editalícios, que
trativos, embora com c~rta margem se ajustam à flexibilidade desse pro-
de atuação livre, mas em obediência cedimento administrativo, na espé-
ao art. 133 do Decreto-Lei n~ 200/67. cie foram observados os princípios
É o relatório. que presidem a licitação prévia, os
da igualdade e da publicidade, estra-
VOTO tificados na justificação escrita da
autoridade competente, exatamente
O Sr. Ministro Evandro Gueiros porque não foi escolhida a proposta
Leite (Relator): A respeitável sen- de menor preço.
tença apelada apreciou precisamen- Nestes termos, nego provimento
te os pontos fulcrais da controvérsia ao recurso da impetrante e confirmo
e os decidiu com acerto, salientando a respeitável sentença.
que o menor preço, entre outros, não É o meu voto.

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA N? 86.75O-SP


Relator: O Sr. Ministro Justino Ribeiro.
Remte. Ex Offício: Juiz Federal da 9~ Vara
Apelante: Companhia Docas de Santos
Apelado: Carbocloro S/ A - Indústrias Químicas
TFR - 71 215

EMENTA
Importação sujeita ao regime de «drawback».
Conjunto de normas distintas das que regulam a cb-
brança de encarg9s relativos aos serviços industriais
e comerciais d~ órgãos vinculados ao Ministério dos
Transportes. Sistemas legais distintos, não havendo
incompatibilidade entre suas normas.
Taxa de Melhoramento dos Portos. Sujeita-se ao
regime de beneficios e incentivos do regime de
«drawback» (art. 55 da Lei n? 5.025/66 e 78 do
Decreto-Lei n? 37/66).
ACORDÃO a) restituição, total ou parcial,
de tributos que haj am incidido
Vistos, relatados e discutidos es- sobre a fabricação de mercado-
tes autos, em que são partes as aci- ria exportada após beneficiamen-
ma indicadas: to, ou utilizada na fabricação,
Decide a Segunda Turma do Tri- complementação ou acondiciona-
bunal Federal de Recursos, por una- mento de outra exportada;
nimidade, negar provimento à re- b) suspensão do pagamento
messa oficial e ao recurso voluntá- de tributos sobre a importação
rio, na forma do relatório e notas ta- de mercadoria a ser exportada
quigráficas precedentes, que ficam após benefic:!iamento, ou destina-
fazendo parte integrante dO presente da à fabricação, complementa-
julgado. ção ou acondicionamento de ou-
Brasília, 23 de maio de 1979. - tra a ser exportada; e
Ministro Moacir Catunda, Presidente c) isenção dos tributos que in-
- Ministro Justino Ribeiro, Relator. .cidirem sobre importação de
mercadoria, em quantidade equi-
valente à utilizada no beneficia-
RELATORIO mento, fabricação, complementa-
ção ou acondicionamento de pro-
o Sr. Ministro Justino Ribeiro:, duto exportado.
Trata-se da questão, já conhecida Como se vê, há um Objetivo básico
deste Tribunal, de saber se estão su- de favorecer a exportação. E o meio
jeitas à Taxa de Melhoramento dos utilizado é aliviar os encargos inci-
Portos (TMP) as mercadorias im- dentes sobre a importação de merca-
portadas ~ob o regime chamado de dorias que para isto funcionem como
«drawback» inicialmente regido pelo uma espécie de matéria-prima ou
art. 55 dá Lei n.5.025/66 e, depois, pe- mesmo simples embalagem. E o
lo art. 78 do Decreto-Lei n? 37/66. Daí alívio de encargos se faz .por isen-
os interessados ora pretenderem ção, suspensão ou restituição deles,
isenção, ora suspensão dessa Taxa, conforme a hipótese. Mas rio tocante
conforme se baseiam numa ou nou- ao Adicional ao Frete para Renova-
tra dessas leis. ção de Marinha Mercante (outrora
Em ve:rdade, a Lei 5.025/66 falou Taxa de Renovação da Marinha
em isenção. Já o art. 78 do Decreto Mercante) e à Tax<;i de Melhoramen-
Lei n? 37/66 permitiu que fosse conce- to dos Portos, as autoridades admi-
dida, conforme dispusesse o regula- nistrativas têm recusado atendimen-
mento: to aos pedidos dos importadores. Ar-
216 TFR - 71

gumentam, sempre, com base em rão, conforme as hipóteses previstas


leis que revogaram certas isenções. no regime e que resumi no relatório,
Mesmo quando o pedido é de suspen- prefere dlxar esse trabalho ao regu-
são. lamento. Este, como veremos adian!
2. O Dr. Clóvis de Mello, MM. Juiz te, passa por seu turno o encargo- a
da 9~ Vara Federal de São Paulo, órgãos administrativos, pertencentes
houve por bem conceder o «wrü»(fls. a setores diversos do Governo, de
98/101). modo que, através de resoluções,
portarias, instruções etc., a política
3. Apelo da Companhia Docas de de cada setor vai-se insinuando, com
Santos a fls. 104/117, respondido a o resultado que já se viu.
fls. 121/123.
2. De inicio, cumpre not~r que., a
4. A douta Subprocuradoria-Geral par do regime de «drawbac» discipli-
da República cita várias decisões do nado, como dito, pelO art. 55 da Lei n~
colendo Supremo Tribunal Federal a 5.025/66, com as alterações dõ
respeito do Adicional ao Frete Para Decreto-Lei n.24/66, e pelO art. 78 do
Renovação da Marinha Mercante, Decreto-Lei n.37/66, este regulamen-
especialmente, os acórdãos proferi- tado pelo Decreto n? 68.904, de 12-7-71,
dos nos RE 89.326, 89.543 e 87.552. ão lado desse regime existe outra sé-
Sobre o mesmo Adicional, aponta de- rie de normas que regulam a co-
Clsoes des,te E. Tribunal na AMS brança de encargos (taxas e preços
77.827 (ReL: Min. Jorge Lafayette pÚblicos) inerentes a serviços indus-
Guimarães), na AMS 78.720 (ReI. triais ou comerciais prestados por
Min. Peçanha Martins) e em outros órgãos vinculados ao Ministério dos
casos. Finalmente, sobre o caso es- Transportes.
pecífico da Taxa de Melhoramento
dos Portos, de que trata o presente Estão neste caso as normas traça-
processo, transcreve substancioso das pela Lei n.3.421, de 10-7-58, pelo
trecho da sentença do MM. Juiz Fe- Decreto-Lei n. 83, de 26-12-66, pelo
deral, Dr. Bento Gabriel da Costa Decreto-Lei n.1.016, de 21-10-69, e pe-
Fontoura, para concluir seu parecer la Lei n? 6.418, de 30-5-77.
pela improcedência do pedido.
É o relatório.
3. Ora" a aplicação do regime da
«drawback» ficou confiada, pelos arts.
1, 7 e 22 do Decreto n~- 68.904/71, aci-
VOTO ma referido, ao Conselho de Política
Aduaneira, que, através de Atos Su-
O Sr. Ministro Justino Ribeiro pletivos como diz o decreto, poderá
(Relator): Como resulta do esboço estabelecer os casos, as condições e
contido no relatório, órgão da admi- o quantum das isenções, suspensões
nistração e empresas importadoras e restituições de tributos, estabele-
estão mergulhados em certa confu- cendo ainda o mesmo decreto (art. I,
são a respeito dos benefícios ou in- § 1) que os incentivos de que trata
centivos concedidos pelo regime cha- compreendem os do art. 55 da Lei n.
mado de «drawback». Essa·confusão 5.025/66. Quer dizer, cQncedido pelo
resulta, em grande parte, da com· Conselho determinado benefício
plexa e um tanto ambígua legiSlação quanto ao imposto de importação,
referente ao sistema, a qual, ao in- tal benefício repercutirá no imposto
vés de expliCifâr desde logo quais os de consumo, na Taxa de Despacho
encargos (tributos, taxas ou preços Aduaneiro, no Adicional ao Frete
públicos) de qu.e se concedem as res- Para Renovação da Marinha Mer-
tituições, isenções ou suspensões e cante (antiga Taxa; com o mesmo
em que proporções ou limites se da- nome) e na Taxa de Melhoramento
TFR - 71 217

dos Portos, de que trata o presente ou por comprovada exigênCia


processo, tudo como disposto no do bem comum, não enquadra-
art. 55 da citada lei (com a redação dos no item UI deste artigo.l>
imposta pelo Deéreto-Lei n.24/66). Já E o artigo 3:
a aplicação -daquelas normas refe-
rentes aos serviços e encargos por- «As isenções previstas no ar-
tuários, interferindo também com o tigo anterior abrangem tam-
adicional e taxas a que venho de re- bém as taxas portuárias, inclu-
ferir, cabe ao Ministério dos Trans- sive as de Melhoramento dos
portes. Portos e Renovação da Mari-
nha Mercante.
4. Disto resulta o que, em uma de
suas petições de Mandado de Segu- 18. Essas normas foram a tá-
rança, alegou a Volkswagen do Brasil bua de salvação que possibilitou
S/A: ao Ministério dos Transportes a
obtenção de uma trégua na luta
«16. Salvo o entendimento do inglória que isoladamente susten-
Ministério dos Transportes, as tava, pois foi com base nelas q~e
demais manifestações são no o Ministro dos Transportes con-
sentido de que a isenção da TMP cedeu a dispensa da TMP e do
não está revogada. Vejam-se a Adicional ao Frete Para Renova-
Portaria GB-154/70, _o artigo 1, § çâo da Marinha Mercante
2, do Decreto n? 68.904/71. e ain- (AFRMM) aos importadores
da pelo menos' duas decisões do usuários do regime aduaneiro do
Egrégio Tribunal Federal de Re- «drawback».
cursos (AMS n? 73.233-RGS-3~ T.
DJU de lO-6-74; e AMS 74.438 - 19. Releva notar que a isenção
RGS - 2~ T.), que deram pela concedida pelo Ministro dos
não incidência da TMP nas im- Transportes com base no
portações sob regime «drawback». Decreto-Lei n? 1.016/69 é de natu-
reza subjetiva, enquanto que a
17. Em 21.10.69, veio a lume o instituída pelO artigo 55, da Lei n?
'Decreto-Lein? 1.016, quedispõeso- 5.025/66, é de natureza objetiva.
bre o pagamento de serviços in- Todavia, como o resultado -final,
dustriais ou comerciais prestados prático, é o mesmo, serenaram-
por órgãos do Ministério dos se os ânimos até que, em 30-5-77,
Transportes, e, em certas cir- surgiu a Lei n? 6.418 que acrescen-
cunstâncias, concede exoneração tou novas cohdições às regras do
do pagamento desses serviços Decreto-Lei n? 1.106/69. Diante da
bem como da TMP e da Taxa de nova regra jurídica, entendeu o
Renovação da Marinha Mercante Ministério dos Transportes que
(TRMM). não mais se justificava a isenção
O artigo 2? desse diploma legal da TMP e do AFRMM. Essa con-
diz: clusão consta do Parecer n? 750-
«Ficam deSObrigados do pa- H/77, de 17-7-77, já citado.
gamento a que se refere o arti- 20. Em seguida, a Companhia
go anterior: Docas do Rio de Janeiro, aco-
lhendo a conclusão do Parecer
acima referido, baixou a Ordem
IV. As entidades privadas ou de Serviço n?" 229/77-DP, dispondo
públicas da Administração Di- que não há mais fundamento le-
reta ou Indireta, quando: gal para a dispensa da TMP e do
b) tratar-se de serviços ne- AFRMM nas importações em
cessários à segurança nacional questão, a partir da vigência da
218 TFR - 71

Lei n.6.418/77. A Companhia Do- que, com a edição da Lei 6.418,


cas de Sçmtos, incontinenti, ado- de 1977, ocorre impossibilidade
tou idêntica orientação. de dispensa da Taxa de Melhora-
5. Em minuciosa sentença proferi!: mento dos Portos, em caso de
da num desses casos, o Dr. Miguel «drawbac~».
Jerônimo Ferrante, após historiar o A isenção dessa taxa com res-
surgimento da Taxa de Melhoramen- paldo nessa lei está sem dúvida
to dos Portos, denominação que pela condicionada às hipóteses que
Lei n? 3.421/58 passou a ter a antiga abrange.
T;3.xa' de Emergência do Decreto-Lei
n? 8.311/45 e de mostrar a evolução Mas, em se tratando de
jurisprudencial a respeito de sua na- «drawback» há disciplina jurídica
tureza jurídica, inicialmente consi- especIfica que não pode ser es-
derada adicional ao imposto de im- quecida. O tratamento legal para
portação mas afinal definida como o caso deve-se buscar não na Lei
taxa mesmo pelo colendo Supremo 6.418, de 1977, mas na legislação
Tribunal Federal, destaca a diferen- relativa àquele instituto, sob pe-
ciação que se impõe entre as normas na de se fazer «tàbulã rasa» de
que tratam do «drawback» e as que dis- disposição legal vigente. Õs ser-
ciplinam os serviços portuários, de viços industriais ou comerciais
que faz o seguinte resumo: prestados por órgão vinculados
ao Ministério dos Transportes,
«Assim temos: pOdem merecer isenção do paga-
a - A Taxa de Melhoramen- mento por despacho do Titular
to dos Portos se destina a co- daquela pasta, nas hipóteses pre-
brir despesas portuárias, cor- vistas na referida Lei n? 6.418. Es-
respondente a prestação de ser- sa isenção quando éoncedida,
viços. Sua isenção depende de abrange o AFRMM e a Taxa de
lei expressa. Melhoramento dos Portos. Toda-
via, outra é a base legal da isen-
b - A isenção do imposto de ção no caso do «drawback». O le-
importação nas operações de gislador a estabeleceu para essa
«drawback» ou eqUivalente, im- Taxa de Melhoramento dos Por-
plicará, igualmente, entre ou- tos, em lei específica, na execu-
tras, na isenção da Taxa de_Me- ção de uma política que entende
lhoramento dos Portos nos ter- consentânea com as necessida-
mos do art. 55 da Lei 5.025/66, des e desenvolvimento do País. E
com a redação dada pelo art. 4. no exame conjunto da legislação
do Decreto-Lei n? 24, de 1966. não se vislumbra a incompatibili-
c - A isenção do pagamento dade apontada, por isso que a lei
dos serviços industriais ou co- nova que estabelece disposições
merciais, prestados por órgãos gerais ou especiais, a par das já
vinculados ao Ministério dos existentes, não revoga, nem modI-
Transportes abrangem o fica a anterior.»
AFRMM e a Taxa de Melhora-
mento dos Portos.» 6. Feita essa distinção, que a meu
ver se constitui no ponto nodal do
Finalmente, assim se fundamenta, problema, parece não haver dúvida
frisando o equivoco da autoridade de que, no tocante à ~mportação pelo
administrativa: regime de «drawback» que na essên-
«A esse enfoque, verifica-se o cia não é importação, visto que a mer-
equivoco em que labora a autori- cadoria entra rio País para ser bene-
dade impetrada ao pretender ficiada ou beneficiar a outra aqui
TFR - 71 219

produzida mas depois volta ao exte- concreto por lhe ser posterior, o
rior, parece não haver dúvida de que Decreto-Lei n? 1.626, de 1.6.78, parece
a palavra final, na esfera adminis- ter vindo para pôr fim a essa inter-
trativa, cabe.,nesse regime ao conse- minável discussão, dizendo clara-
lho de política Aduaneira, que é o mente isentas do Adicional ao' Ftete
órgão incufnbido da matéria pelo Para Renovação da Marinha Mer-
Decreto n? 68.904, de 1971. Se esse ór- cante e da Taxa de Melhoramento
gão concede a determinada operação dos Portos as operações regidas pelo
os benefícios de tal regime, tudo art. 78 dp Decreto-Lei n? 37/66
mais virá como conseqüência, nos (<<drawback». Verdade que ainda con-
termos da Lei n? 5.025/66, não interfe- fiou ao Miflistério dos Transportes o
rindo com isto às normas e decisões controle de sua aplicação.
de interesse dos serviços afetos ao Pelo exposto, confirmo a douta
Ministério dos Transportes. sentença apelada, que deu sOlução
No caso presente, as objeções da adequada à espécie.
autoridade administrativa buscam
amparo exclusivamente em normas EXTRATO DA ATA
e decisões vindas desse lado e, por AMS 86.750 - SP. - ReI.: Sr.
isto, não me parece que essa autori- Min. Justino Ribeiro. Remte.: Juiz
dade tenha razão. Federal da 9~ Vara. Apte.: Cia. Do-
Quanto ao parecer da douta cas de Santos. Apda.: Carbocloro
Subprocuradoria-Geral, inspirado SI A Indústrias Quimicas.
basicamente em decisões a respeito Decisão: Em decisão uJ;lãnime,
do Adicional ao Frete Para Renova- negou-se provimento à remessa ofi-
ção da Marinha Mercante, devo assi- cial e ao recurso voluntárib. (Em
nalar que essas decisões se baseiam 23.05.79 - 2~ Turma).
em argumento específico, tirado do Os Srs. Mins. Moacir Catunda e
entendimento de que esse adicional Sebastião Reis votaram com o Rela-
não seria tributo mas, sim, uma tor. O Sr. Min. Sebastião Reis é Juiz
contribuição parafiscal, o que não Federal convocado em substituição
ocorre com a taxa aqui considerada. ao Sr. Min. Paulo Távora, que se en-
Finalmente, cumpre assinalar contra licenciado. Presidiu o julga-
que, embora não abrangendo o caso mento o Sr. Min. Moacir Catunda.

MANDADO DE SEGURPlNÇA N? 87.397-DF


Relator: O Sr. Ministro William Patterson.
Requerentes: Clóvis Rodrigues da Silva e outro.
Requeridos: O Exmo. Sr. Ministro de Estado do Trabalho e outro.
EMENTA
Administrativo - Concurso Público.
Prazo de validade alcançado pela regra do § 3?
do art. 97 da Constituição Federal (Emenda n? 8).
Não há direito adquirido à nomeação, se a or-
dem classificatória não foi desobedecida.
220 TFR - 71

o candidato, ao ser aprovado, adquire a expecta-


tiva de ser apróveitado. Essa situação somente se
transforma em direito a ser tutelado, quando a clas-
sificação deixou de ser observada (Sdmula n~ 15, do
STF).

ACORDA0 Juntam documento fornecido pela


Delegacia Regional do Trabalho de
Vistos, relatados e discutidos estes São Paulo onde se espelha demons-
autos em que são partes as acima in- trativo de escala de aproveitamento
dicadas: entre os anos d, , 975 a 1979, além de
Decide o Tribunal Federal de Re- outro expediem.. do mesmo órgão,
cursos, em Sessão Plena, por unani- anotando a validade do concurso em
midade, denegar a segurança. Impe- 5 (cinco) anos.
dido o Sr. Min. Justino Ribeiro (RI, A Autoridade coatora prestou as
art. 3?), na forma do relatório e no- informações requeridas (fls. 17/20),
tas taquigráficas retro que ficam fa- através das quais dá notícia de que o
zendo parte integrante do presente referido concurso foi homologado em
julgado. 9 de maio de 1975, cUjo prazo, por
Custas como de lei. força do § 3~, do art. 97, da Constitui-
ção expirou na mesma data do cor-
Brasília, 23 de agosto de 1979. (Da- rente ano. Diz, ainda, que a intenção
ta do julgamento) - Ministro José governamental era prover os cargos
Néri da Silveira; Presidente - Mi- na escala divulgada. Todavia, fato-
nistro William Patterson, Relator. res econômicos determinaram a li-
mitação do número de designações.
RELATORIO Esclarece, por último, que o prazo
de validade constante do Edital era
o Sr. M1n1stro William Patterson: de. um ano, prorrogável a juízo da
Alegando terem sido aprovados e Administração.
classificados no concurso de Inspetor
do Trabalho dentro do número de va- Em petição posterior, os Impe-
gas previstas para o Estado de São trantes reagem à incidência do pre-
Paulo, Clóvis Rodrigues da Silva e ceito constitucional, advertindo não
José Carrion Sierra impetram Man- ser possível o mesmo afetar seus di-
dado de Segurança contra atos do reitos.
Exmo. Sr. Ministro do Trabalho e do Opinou a douta Subprocuradoria
Diretor-Geral do Departamento Ad- no sentido da denegação do «writ».
ministrativo do Serviço Público, vi- É o relatório.
sando aproveitamento entre os oito-
centos (800) primeiros classificados.
Sustentam que estão sendo lesados VOTO
em seus direitos, uma vez que o con-
curso foi realizado em março de O Sr. Ministro William Patterson:
1975, com previsão de nomeação O Edital n~ 04/75, publicado no
anual de cerca de 160 candidatos, pa- Diário Oficial de 22-1-75, relativo às
ra, no prazo de cinco anos, comple- condições exigidas para o concurso
tar o total de provimentos e, até o de Inspetor do Trabalho (fls. 23/27)
momento, somente 595 foram no- estabelecia no item 13, verbls:
meados, fazendo temerem, assim, «O concurso será válido por 1
pela caducidade do concurso sem se- (um) ano, a contar da homologa-
rem contemplados. ção, pOdendO esse prazo ser pror- .
TFR - 71 221

rogado, a Juízo exclusivo da Ad- simples decreto, vale, se não po-


ministração» . deria ser concluído ou editado
Evidencia-se, desde logo, que o sob a Constituição nova ( ... ).
prazo do concurso, quanto à sua vali- A Constituição é rasoura que
dade, vinculava a Administração, desbasta o direito anterior, para
tão-somente, a um ano, a partir da que só subsista o que é com-
homologação. Daí para a frente, es- patível com a nova estrutura e as
tava ela liberada para, a seu livre novas regras constitucionais»
alvedrio, prorrogar ou não o mencio- (Comentários à Constituição de
nado prazo. Não se sujeitava a perío- 1967 - Emenda 1, tomo VI, pág.
dos de prorrogação pré- 380).
determinados. Podia prorrogar por
um ano, por dois, por três e, assim, Por tais motivos, a partir da
sucessivamente, até que a conve- Emenda n~ 8 não se pOde mais falar
niência lhe ditasse o termo. O propa- em concurso com prazo de validade
lado prazo de cinco (5) anos nada superior a 4 (quatro) anos.
mais era do que um esquema para o Com efeito, também não prospera
aproveitamento dos candidatos, ob- o argumento fundado na existência
servado o número de vagas para a de direito adquirido. Primeiro, por-
área territorial, visto que o sistema que não há direito adqUirido contra a
do concurso, como previsto no item Constituição (Carlos Maximiliano,
7, do Edital, era regional. Havendo «Comentários» voI. IH, pág. 51); se-
uma previsão de 800 (oitocentas) va- gundo, porque os Impetrantes não
gas para São Paulo, a Delegacia do estavam sob o amparo da garantia
Trabalho organizou as admissões de constitucional.
forma a serem atendidas em cinco
anos, na base de 160 por ano. Como é sabido, em matéria de
concurso público, inexiste direito as-
Mas, ainda que o prazo de valida- segurado à nomeação. O candidato,
de fosse, no Edital, estipulado em 5 ao ser aprovado e classificado, tem
(cinco) anos, ainda assim não apro- uma expectativa, durante o prazo de
veitaria aos Suplicantes, face à inci- validade, que se transforma em di-
dência da norma constitucional ínsi- reito, quando desobedecida a classi-
ta no § 3~, do art. 97, da Lei Funda- ficação. Aliás, esse entendimento es-
mental (redação da Emenda n~ 8, de tá expresso na Súmula n? 15 do
14 de abril de 1977) que fixou, em Egrégio Supremo Tribunal Federal.
quatro anos, o prazo máximo de va-
lidade dos concursos. «Dentro do prazo de validade
do concurso, o candidato aprova-
Trata-se de regra de efeito cogen- do tem direito à nomeação, quan-
te, de aplicação imediata e abran- do o cargo for preenchido sem
gente de todas as situações em cur- observãncia da classificação».
so.
Fora dessa circunstãncia, a Admi-
A esse respeito vale, por que opor- nistração é livre para nomear, po-
tuno, citar a lição do insigne Pontes dendo fazê-lo ou não, de acordo com
de Miranda: os seus interesses e conveniências. O
«Tudo que depende de eficácia, concurso é um mero critério seleti-
dentro do tempo, da nova Consti- vo, que não impõe obrigação de
tuíção, só é constitucional se aproveitamento dos aprovados. O
atende aos novos textos. Nenhum que é defeso ao Poder nomeante é
contrato da União, dos Estados proceder à nomeação sem atendi-
Membros ou dos Municípios, nem mento rigoroso à ordem de classifi-
lei, nem extinto decreto-lei, nem cação ..Quando isso ocorre, nasce pa-
222 TFR - 71

ra O prejudicado o direito de recla- julgamento. Por isso, não tenho dú-


mar, assegurando-lhe, ai, pelo meio vida em acompanhá-lo.
processual cabível, a reparação de- É o meu voto.
vida.
EXTRATO DA ATA
Não é essa a hipótese dos autos. A
Administração não desobedeceu a MS 87.397-DF - ReI.: Sr.
classificação. Apenas, nomeou um Min.William Patterson. Reqtes.: Cló-
número de candidatos inferior á pre- vis Rodrigues da Silva e outro. Req-
visão regional, usando de uma facul- do.: Min. de Estado do Trabalho e
dade que lhe é conferida. Nesse nú- outro.
mero seguiu, rigidamente, a ordem Decisão: Por unanimidade, o Tri-
classificatória'. Os Impetrantes não bunal denegou a segurança. CEm 23-
foram classificados dentro desse to- 8-79 - T. Pleno).
tal convocado, inexistindo, assim, Os Srs. Ministros Armando Rolem-
qualquer direito a ser preservado pe- berg, Márcio Ribeiro, Moacir Catun-
la medida requerida. da, Peçanha Martins, Jarbas Nobre,
Face ao exposto, denego a segu- Aldir Guimarães Passarinho, José
rança. Dantas, Lauro Leitão, Carlos Madei-
ra, Evandro Gueiros Leite, Washing-
ton Bolívar de Brito, Carlos Mário
VOTO Velloso, Otto Rocha e Wilson Gonçal-
ves votaram de acordo com o Rela-
O Sr. Ministro Evandro Gueiros tor. Não compareceu por se achar li-
Leite: Sr. Presidente, os elementos cenciado o Exmo. Sr. Min. Antônio
constantes do Mandado de Seguran- Torreão Braz. ImpedidO o Sr. Min.
ça relatado pelo eminente Ministro Justino Ribeiro (RI, art. 3?). Presi-
William Patterson não se identifi- diu o julgamento o Sr. Min. José Né-
cam com o que tenho em mesa para ri da Silveira.

APELAÇAO EM MANDADO DE SEGURANÇA N.o 87.426 - DF


Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Apelante: Dario Simões Fernandes
Apelado: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária -
INCRA - Aut. Requerida: Presidente do Instituto Nacional de Coloniza-
ção e Reforma Agrária - INCRA.

EMENTA
Edital de Concorrência. Publicação. Eficácia.
Com a publicação do Edital, inicia-se o procedi-
mento da concorrência, como o estabelecimento de
suas regras, e de seus prazos e de suas condições.
Qualquer alteração normativa superveniente não
tem eficácia para a concorrência já aberta, pois a
regra Que a preside j á está contida no Edital.
TFR - 71 223

ACORDÃO cação pessoal contidas na Instrução


nem provou, como adquirente de ou-
Vistos e relatados os autos em que tro lote, quitação do Imposto Territo-
são partes as acima indicadas: rial Rural. Ademais, deixou ele de
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- apresentar certidões negativas dos
deral de Recursos, por unanimidade, I? e 2? Oficios de execuções crimi-
negar provimento à apelação, na for- nais.
ma do relatório e notas taquigráficas Sendo a habilitação do licitante ato
constantes dos autos, que ficam fa- prévio do julgamento das propostas,
zendo parte integrante do presente e não apresentando o vencedor os
julgado. documentos exigidos, pretende o im-
Custas como de lei. petrante a anulação da adjudicação,
para que lhe seja atribuído o lote li-
Brasília, 28 de maio de 1980 (data citado.
do julgamento) - Ministro José Fer-
nandes Dantas, Presidente - Minis- A autarquia, em suas informações,
tro Carlos Madeira, Relator. salientou que" sendo o edital da con-
corrência publicado na vigência da
RELATORIO Instrução b, hão poderia ser alterado
com a pUblicação da Instrução 6-A,
o Sr. Ministro Carlos Madeira dado que ele vincula a administra-
(Relator): O Instituto Nacional de ção de seus próprios termos. Quanto
Colonização e Reforma Agrária à documentação do licitante vence-
abriu concorrência para venda de lo- dor, foi ela- apresentada em ordem a
tes de terras devolutas da União, si- pré-qualificá-Io à concorrência. A
tuadas no Município de Porto Velho. apreciação desses documentos é ato
O edital respectivo foi pUblicado no discricionário da administração. No
D.a. U de 9, 10 e 11 de novembro de que se refere à quitação do ITR, não
1977, com observância da Instruçâo a pOderia oferecer o licitante, uma
Especial INCRA n? 06, de 15-5-75, vez que o imóyel adquirido ainda
baixada com a Portaria n? 255, do não fora tributado, em virtude de for-
Senhor Ministro da Agricultura. O malidades do contrato de alienação do
prazo para recebimento da proposta lote.
foi de 60 dias, expirando, a 10 de ja-
neiro. Vencido o incidente de capacitação
Sucedeu que, por Portaria n? 841, postulacional, no Distrito Federal,
de 29-11-77, publicada no D.a. U de do advogado do impetrante, o Juiz
06.12.77, foi baixada a Instrução Es- citou o licitante, como litisconsorte
pecial INCRA 6-A, em substituição à passivo, o qual peticionou às fls.
de número 6, na qual, foram inseri- 151/157, juntando documento usque
das novas exigências para a qualifi- fls. 172.
cação dos licitantes. O Dr. Procurador da República
Realizada a licitação e adjudicado opinou às fls. 133/138.
o lote 276 da gleba Burareiro, ao pro- O Dr. Jesus da Costa Lima dene-
ponente Chrysogono Rosa da Cn~z, gou o mandamus, forte em que, para
impetrou mandado de segurança o li- a concorrência, tinha o edital publi-
citante Dario Simões Fernandes, en- cado em novembro plena validade e
genheiro eletricista residente em eficácia, não podendo ser alterado
Santos, São Paulo, apontando a adju- pelas normas editadas depois de sua
dicação como "ato coator", ao fun- vigência. Assim, ilegal seria exigir a
damento de que o adjudicatário não apresentação de documento não indi-
atendeu a duas exigências de qualifi- cado na inicial.
224 TFR - 71

Apelou o impetrante, sustentando ,Ora, o edital foi publicado a


que a Instrução 6-A é norma de apli- 9, 10 e llde novembro de 1977 e a
cação imediata, não podendo deixar nova Instrução Especial veio à
de se aplicar na concorrência já lume no" dia 6 de dezembro se-
aberta, mas ainda não julgada. In- guinte. Com a publicação do edi-
sistiu, também, na ausência dos do- tal, foi instaurado o procedimen-
cumentos de quitação do ITR e de to da concorrência, com o estabe-
certidões negativas dos cartórios da lecimento de suas regras, de seus
distribuição do Estado. prazos e de suas condições. Qual-
quer alteração normativa super-
Contra-arrazoou a autarquia e a veniente não tem eficácia para a
Subprocuradoria-Geral da República concorrência j á aberta, pois a lei
opinou pela confirmação da senten- que a preside já está contida no
ça. edital.
É o relatório. Não há cuidar, pois, de eficá-
cia imediata da nova Instrução,
pois, tanto a Administração como
VOTO os proponentes são vinculados às
condições do edital já publicado.
O Sr. Ministro Carlos Madeira
(Relator): - Na verdade, a adjudi- Note-se que a eficácia do edital
cação de bem posto em licitaç'ão ao não é apenas de manifestação
proponente vencedor não constitui concreta da vontade da adminis-
"ato coator", como quer o impetran- tração dirigida a cada interessa-
te. Poderá ter havido abuso de direi- do na licitação, como entende Os-
to no fato de não terem sido regula- valdo Aranha Bandeira de Melo,
dos os recursos administrativos d~ita venia do insigne jurista, o
cabíveis dos atos da licitação. O valor formal do editál, que é a
Decreto-Lei 200/67, no art. 131, limita- garantia da própria Administra-
se a declarar que os recursos ad- ção a dos licitantes, supera a
missíveis em qualquer fase da licita- própria promessa de contratar,
ção serão definidos em regulamen- nele contida. Por isso se dá ao
to. Não prevendo o regulamento edital a equivalência a norma ad-
qualquer recurso, deverá o edital es- ministrativa, modificável em fa-
tabelecer norma a resp,e~to, de modo ce de atos posteriores. Como nor-
a asseguar o direito dos licitantes. ma, ela supera a simples oferta
individual.
Não cabia, pois, a inserção no
Configuraria, assim, o abuso de edital de concorrência das novas
poder o ato de adjudicação com pre- exigências contidas na Instrução
terição de direito de petição dos lici- Normativa n? 6-A, publicada pos-
tantes. Nestes limites, cabe o remé- teriormente.
dio.
Quanto à documentação, teve a
Mas, o fundamento do pedido não autarquia comq, bastante e satis-
tem qualquer procedência. fatória a que foi apresentada
pelo adjudicarário. A emissão da
O Edital da concorrência dispõe prova de qUitação do ITR foi ple-
expressamente, em seu item 6.6 que: namente justificada, não haven-
«A apresentação da proposta do expressa exigência de certi-
implica, automaticamente, na dões de ofícios de execuções cri-
submissão a todas as condições minais, mas de cartórios de dis-
do Edital, e da Instrução Espe- tribuição dos Estados.
cial INCRA n? 06/75" (fls. 10). Nego provimento à apelação.
TFR - 71 225

CONFLITO DE COMPET~NCIA N? 3.469 - MG


Relator: O Sr. Ministro Wilson Gonçalves
.Suscitante: Aristóteles Pereira
.Suscitado: Juiz de Direito da Comarca de Mar de Espanha e Juiz de Di-
reito da 3~ Auditoria Judiciária Militar Estadual
:Parte: Elomir Cardoso de Souza
I

EMENTA
Conflito de Competência. Integrante da Polícia
Militar do Estado de Minas Gerais que se acha pro-
ce:S;:,a':o, pelo mesmo fato delituoso, perante o Juiz
de Direito da Comarca de Mar de Espanha e Audito-
ria da' Justiça Militar Estadual. Competência do Tri-
bunal Federal de Recursos para decidir o conflito,
face à nova orientação do Supremo Tribunal Fede-
ral, em decorrência da Emenda Constitucional n? 7,
que deu nova redação ao art. 122, I, e, da Carta
Magna.
Conhecimento do conflito para declarar-se com-
petente, para apreCiação do feito, o Dr. Juiz da 3~
Auditoria da Justiça Militar Estadual, em obediên-
cia ao disposto no art. 144, § I?, d da Constituição
Federal (nova redação). combinado com o art. 9? do
Código Penal Militar (Dec.-Lei n? 1.001, de 21-10-69).

ACORDA0 dor, suscitou conflito pOSitivo de


competência, por estar sendo, pelo
Vistos, relatados e discutidos estes mesmo fato, processado perante o
autos em que são partes as acima in- Juízo de Direito da Comarca de Mar
dicadas: de Espanha e na Auditoria da Justi-
Decide o Tribunal Federal de Re- ça Militar Estadual de Minas Ge-
cursos em Sessão Plena, por unani- rais.
midade, conhecer do conflito e decla- Versa o processo sobre um ho-
rar a competência do Dr. Juiz de Di- micídio, que teria sido praticado pe-
reito da 3~ Auditoria Judiciária Mili- lo suscitante, no interior do Quartel
tar- Estadual, na forma do relatório e do Destacamento Policial de Chiado r
notas taquigráficas precedentes, que - MG., quando estava a serviço de
ficam fazendo parte integrante do policiamento civil.
presente julgado. O conflito foi suscitado perante o
Custas como de lei. Tribunal de Justiça do Estado de Mi-
Brasília, 3 de maio de 1980. - José nas Gerais, que, pelo acórdão de fls.
Néri da Silveira, Presidente 67, decidiu não conhecer do conflito e
Wilson Gonçalves, Relator. determinar a remessa dos autos a
este Tribunal.
RELATORIO Nesta Instância, pronuncia-se a
douta Subprocuradoria-Geral da Re-
O Sr. Ministro Wilson Gonçalves: pública, nestes termos:
Aristóteles Pereira, por seu procura-
226 TFR - 71

5.«Antes da Emenda Constitucio- Mar da Espanha e a Auditoria da


nal n? 7, não teríamos nenhuma Justiça Militar daquele Estado.
dúvida em opinar pela competên- A matéria, que a princípio não ofe-
cia da Justiça Comum, com base recia dificuldade, vem sendo exami-
na Súmula 297 do STF. nada ultimamente com certa diver-
Todavia, face à referida Emenda gência por esta Egrégia Corte e as
que modificou o artigo 144, § I?, le- suas decisões pOdem ser classifica-
tra d, da Constituição, o Supremo das em dois grupos distintos quanto
Tribunal Federal passou e enten- à atual competência do Tribunal Fe-
der o que os policiais-militares que deral de Recursos, em face da
praticarem crimes militares, mes- Emenda Constitucional n? 7, de 13 de
mo no exercício de funções civis, abril de 1977.
serão processados pela Justiça Mi- Alguns entendem que a tranqüila
litar Estadual: jurisprudência anterior, concretiza-
«Ementa: 1. Justiça Militar da na Súmula 555 do STF., segundo
Estadual. Competência para pro- a qual «é competente o Tribunal de
cessar os integrantes da Corpora- Justiça para julgar conflito de juris-
ção acusados, nessa qualidade, dição entre Juiz de Direito do Estado
de terem cometido crime previs- e a Justiça Militar local», possa ter
r no Código Penal Militar (arti- sido alterada pela incidência da alu-
go 303, § 2?) quando no exercício dida Emenda Constitucional, com a
do policiamento ostensivo (Rádio nova redação do art. 122, I, e, mas
Patrulha). que deve prevalecer o enunciado da
2. Inaplicabilidade no caso, do citada Súmula até que venha o STF
verbete 297 da Súmula do STF, alterá-la, se for o caso.
após a vigência do artigo 144, § Nesse sentido são os respeitáveis
I?, d, da Constituição com a votos dos nobres Ministros Aldir
Emenda número 7 de 1977. Passarinho e José Dantas, o primei-
3. Recurso de habeas corpus ro nos Conflitos de Competência n?s
desprovido.» (RHC. 56.068 - SP 3.058 - RS e 3.097 - SP e o segundo
- ReI. Min. Antonio Neder - no Conflito de Competência n? 3.214
STF - DJ de 30-6-78 - pág. -SP.
4.839). Outros esposam interpretação ra-
6. Somos, pois, pela procedência dical, mantendo a jurisprudência an-
do conflito, a fim de declarar-se teriormente firmada, sob o argu-
competente o Juiz Auditor da 3~ mento genérico e doutrinário de que
Auditoria Judiciária Militar Esta- «não se concilia com o princípio fe-
dual, ora suscitado». derativo a União intervir pelos seus
E o relatório. Tribunais (CF-69, art. 122, I, e) em
conflito entre juízes do mesmo Esta-
do, cujo órgão judiciário máximo é
VOTO o Tribunal de Justiça».
O paladino dessa segunda corrente
O Sr. Ministro Wilson Gonçalves: é o eminente Ministro Paulo Távora,
O presente Conflito de Competência a se ver do Conflito de Competência
resulta da circunstância de que, con- n? 3.054 - MG. O seu voto é uma pá-
tra Aristóteles Pereira, cabo da gina brilhante da exposição sobre os
Polícia Militar do Estado de Minas postulados da Federação pura, a
Gerais, estão correndo pelo mesmo igualar-se, em brilho e segurança de
fato, dois processos paralelos, peran- conceitos aos insigúês mestres do
te o Juízo de Direito da Comarca de Direito Constitucionál de 1891, que
TFR - 71 227

construíram o edifício do nosso Fe- a - art. 112, parágrafo único, au-


deralismo e esparginam, em lumino- toriza a elaboração de Lei Orgânica
sas lições, os seus princípios funda- da Magistratura com amplitude na-
mentais, que empolgaram juristas e cional;
políticos. b - art. 122, l, b, dá competência
De lege ferenda, como doutrina ao Tribunal Federal de Recursos pa-
legítima, apresso-me em apoiar os ra processar e julgar originariamen-
magníficos ensinamentos do ilustre te os membros dos Tribunais de Con-
Ministro, que, como eu, parece sau- tas dos Estados;
doso da pure~a do sistema federativo c - art. 129, parágrafo ~, atribui
na organização política da Repúbli- ao Superior Tribunal Militar compe-
ca. É uma bela tradição político- tência para processar e julgar os Go-
constitucional brasileira I!ue, a pou- vernadores de Estado e seus Secre-
co e pouco, foi sofrendo restrições ou tários nos crimes de que trata o § I?
golpes, a partir da chamada Refor-
ma de 1926, culminando com a Cons- ra,Passemos a examinar, nesta altu-
de modo especial, a mOdificação
tituição de 1937 e a de 1969. operada por força da precitada
De lege lata, peço permissão para Emenda n? 7.
divergir do honrado Ministro, ante o No ponto que interessa à elucida-
texto .atual da letra e do item l do ção do caso, a Constituição de 1969
art. 122 j á referido. conferia competência ao Tribunal
Com a devida vênia, penso que de- Federal de Recursos para processar
vemos interpretar a Constituição em e julgar originariamente os conflitos
vigor em consonância com os de jurisdição «entre juízes federais
princípios gerais que caracterizam a subordinados a tribunais diferentes».
sua orientação, que é inegavelmente A Emenda Constitucional n? 7, já
centralista, chegando, em alguns ca-
sos, até a desfigurar o Federalismo. referida, alterando o dispositivo,
Não nos compete interpretá-la se- ampliandO
s'ubstituiu
a sua área de aplicação,
aquela expressão por «en-
gundo a Federação, que desejamos, tre juízes subordinados a tribunais
porém de acordo com a Federação, diversos».
que existe na realidade. Nem tam-
bém parece-nos legítimo negar-lhe A supressão da palavra - federais
aplicação a alguma de suas normas, - tem a intenção e o alcance de
sob color de que ela não se coaduna alargar, no tocante, a faixa de com-
com a doutrina que convictamente petência deste Egrégio Tribunal, pa-
defendemos. ra, assim, assegurar maior unifor-
Sem exaurir o campo, que é bem midade nas decisões, tanto que a pri-
vasto, poder-se-ia citar, pelO menos, juízes federais,daenquanto
meira parte, letra e menciona
cerca de duas dezenas de preceitos gunda parte, refere-se a ajuízes sua se-
da
da nossa Constituição que, na limpi-
dez dos princípios, forem a autono- maneira mais abrangentes possível.
mia estadual, pedra angular da Fe- É sabido que, para a boa interpre-
deração? Não obstante isto, estão tação, as leis não contêm palavras
em vigor, são executadas, e, quando inúteis, o que significa, para o pre-
ocorre oportunidade, aplicadas pelo sente caso, que não se deve conduzir
Judiciário. a inteligência de um texto de lei,
Sem falar na interferência no âm- principalmente de hierarquia consti-
bito do Legislativo e do Executivo tucional, para uma conclusão que
estaduais, vale a pena enumerar al- torne inócua, inoperante, sem conse-
guns exemplos típicos: qüências, uma mOdificação realiza-
228 TFR - 71

da através de emenda constitucio- deral alterar a jurisprudência ante-


nal. Para prevalecer a conclusão da- rior constante da Súmula n? 535.
da no Conflito de Competência n~ No que se prende ao mérito da
3054 - MG, ter-se-ia de dar como questão, o deslinde encontra apoio,
inexistente no particular, a alteração igualmente, na alteração profunda
constante da prefalada Emenda n? 7. que a mencionada Emenda n? 7 in-
Esse entendimento, que parece ló- troduziu no art. 144, § I?, letra d da
gico e racional, não é apenas nosso, Constituição.
nascido tão só de nossa modesta opi- A norma constitucional da letra d
nião, mas está perfilhado pela douta ~~~sou a ter esta redação:
Subprocuradoria-Geral da República
no lúcido parecer da Dra. Haydeval- «dl Justiça militar estadual,
da Aparecida Sampaio, aprovado pe- constituida em primeira instância
lo Dr. Valim Teixeira, digno 4? Sub- pelos Conselhos de Justiça, e, em se-
procurador, parecer que cita recente gunda, pelo próprio Tribunal de Jus-
decisão do Colendo Supremo Tribu- tiça, com competência para proces-
nal Federal em conflito de compe- sar e julgar, nos crimes militares
tência entre juiz de direito e auditor definidos em lei, os integrantes das
militar de um mesmo Estado- polícias militares.»
membro. No caso em espécie, o conflito sur-
A matéria foi relatada pelo culto e giu por iniciativa do denunciado
renomado Ministro Moreira Alves e Aristóteles Pereira, que se viu pro-
tem a seguinte ementa que, embora cessado, ao mesmo tempo, por ho-
conste do mencionado parecer, não micídio, perante o Juiz de Direito da
posso deixar de transcrever neste Com Comarca de Mar da Espanha e
voto, verbis: a Auditoria da Justiça Militar Esta-
dual. O Tribunal de Justiça de Minas
Ementa: Conflito de jurisdi- Gerais não conheceu do conflito e or-
ção entre o juiz de direito e o au- denou a remessa dos autos a este
ditor militar de um mesmo Tribunal.
Estado-membro. Face à modificação operada na le-
Com a redação dada pela tra d, § I?, do art. 144, supra trasla-
Emenda Constitucional n? 7/77 ao dada, o Supremo Tribunal Federal,
artigo 122, I, e, da Constituição como salienta o aludido parecer da
Federal, a competência para de- ilustrada Subprocuradoria-Geral da
cidir conflitos da espécie é do República, passou a entender que os
Tribunal Federal de Recursos, policiais militares que praticarem
não mais subsistindo a jurispru- crimes militares, mesmo no
dência anterior do STF no senti- exercício de funções civis, serão pro-
do de caber essa competência ao cessados pela Justiça Militar Esta-
Tribunal de Justiça do Estado. dual.
Conflito de jurisdição conheci- Em arrimo a afirmação, transcre-
do para declarar-se competente o ve o acórdão de fls. 87-88. (Lê).
Tribunal Suscitado.» (CJ 6.129 - Em outra decisão, no Recurso de
MG., DJ de 10-11-78 - pág. Habeas-Corpus n~ 56.049-8P, de que
8.947). foi Relator o saudoso Ministro Rodri-
Assim, constata-se claramente que gues Alckmin, o Excelso Pretório as-
ocorreu a hipótese prevista pelos no- sim se pronunciou:
bres Ministros José Dantas e Aldir «Ementa: Habeas Corpus.
Passarinho, no sentido de que cabe- Competência. Polícia Militar do
ria ao próprio Supremo Tribunal Fe- Estado.
TFR - 71 229

Nos termos do art. 144, § 1~, d, (9), para incluir os crimes cometidos
da Constituiçao Federal, com a· por policial-militar. mesmo em mis-
redação dada pela Emenda Cons- são de policiamento civil.
titucional n~ 7, de 13 de abril de Atenta a matéria de fato, não há
1977, a Justiça Militar estadual é dúvida de que a competência aqui é
competente para processar e jul- da Justiça Militar do Estado.
gar os integrantes das polícias
militares, nos crimes militares A douta Subprocuradoria-Geral da
definidos em lei. República opinou no mesmo sentido.
Crime cometido por policiais Diante dessas considerações, co-
militares no policiamento osten- nheço do conflito e o julgo proceden-
sivo do trânsito. Competência da te, para reconhecer a competência
Justiça Militar. do Juiz da 3~ Auditoria da Justiça
Militar Estadual.
Proposta de reformulação da
Súmula 297 acolhida. Recurso de É o meu voto.
habeas corpus não provido» (D.J.
de 30-6-78).
EXTRATO DA ATA
Merecem destaque dois tópicos de CC 3.469 - MG. - Rel.: Sr. Min.
parecer da Procuradoria Geral da Wilson Gonçalves. Suscte.: Aristóte-
República oferecida no processo aci- les Pereira. Suscdos.: Juiz de Direito
ma referido: da Comarca de Mar de Espanha e
Juiz de Direito da 3~ Auditoria Judi-
«A segunda conclusão apresenta- ciária Militar Estadual.
se, todavia, inteiramente suplanta-
da pela norma superveniente, visto
como nesta (o art. 144, § 1~, d) Decisão: Por unanimidade, o Tri-
estabeleceu-se um critério de fixa- bunal conheceu do Conflito e decla-
ção de competência inteiramente rou a competência do Dr. Juiz de Di-
novo, isto é, não mais a função de reito da 3~ Auditoria Judiciária Mili-
natureza militar, mas o ser inte- tar Estadual. (Em 3-5-79. - T. Ple-
grante das polícias militares.» no).
«Pelo exposto, sem necessidade Os Srs. Ministros Armando Rolem-
de pôr em contestação a jurispru- berg, Márcio Ribeiro, Moacir Catun-
dência anterior, pois se está diante da, Miguel Jeronymo Ferrante, El-
de fato novo, afigura-se-nos que o mar Campos, José Dantas, Carlos
enunciado da Súmula 297 não mais Madeira, Evandro Gueiros Leite,
subsiste diante da nova regra de Washington Bolívar, Torreão Braz,
competência introduzida no art. Carlos Mário Venoso, e Otto Rocha
144, § 1?, d, da Constituição, visto votaram com o Relator. Impedido o
como aquele exige exercício de Sr. Min. Justino Ribeiro (RI art. 3?).
função militar ao passo que esta se Os Srs. Ministros Miguel Jeronymo
contenta com o ser integrante das Ferrante e Elmar Campos são juízes
polícias militares». Federais convocados em virtude de
os Srs. Ministros Jarbas Nobre e AI-
Em síntese, deu-se o alargamento dir G. Passarinho estarem licencia-
do conceito de crime militar, resul- dos. Não participaram do julgamen-
tante da combinação do art. 144, § to os Srs. Ministros' Amarílio Benja-
1?, d, da Constituição, (nova reda- min, Paulo Távora e Lauro Leitão.
ção) com o art. 9? do Código Penal Presidiu o julgamento o Sr. Min. Jo-
Militar (Dec.-Lei n? 1.001, de 21-10- sé Néri da Silveira.
230 TFR - 71

HABEAS CORPUS N? 4.420 - SC


Re1at.or: O Sr. Ministro Lauro Leitão
.Paciente: Osvaldo Afonso.
Impetrante: Airton Gerson da Silva.
EMENTA
Processual Penal. Habeas Corpus. Tráfico inter-
nacional de entorpecentes. Competência. Sentença
condenatória proferida por Juiz de Direito. Nulida-
de, nos termos do artigo 564, I, do CPP. Coação Ile-
gal. (Art. 648, lU, do CPP).
Concede-se a ordem de habeas corpus, para
decretar-se a nulidade da sentença, e, em conse-
qüência, determinar-se a remessa dos autos à Justi-
ça Federal de 1~ Instância.

ACORDÃO são e cinqüenta dias-multa, como in-


curso nas sanções do art. 12, da Lei
Vistos e relatados os autos, em que n? 6.368/76.
são partes as acima indicadas:
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- Alegou o impetrante que, por se
deral de Recursos, por maioria, con- tratar, no caso, de tráfico de entor-
ceder o habeas cQrpus' para anular a pecente oriundo do Paraguai, a auto-
sentença proferida pelo Juiz Esta- ridade jUdiciária competente, ·para
dual e determinar que o paciente se- processar e julgar a ação penal, é o
ja posto em liberdade se por «aI» MM. Dr. Juiz Federal, e, por isso,
não estiver preso, na forma do rela- pretende a anulação. da sentença
tório e notas taquigráficas constan- condenatória prOlatada pelo MM.
tes dos autos, que ficam fazendo par- Dr. Juiz de Direito da 4~ Vara Crimi-
te integrante do presente julgado. nal de Florianópolis, Santa Catarina.
Custas, como de lei. O Ministério Público Estadual,
com vista dos autos, opinou pela de-
Brasília, 25 de outubro de 1978 negação da ordem, frisando:
(Data do julgamento). - Ministro
Armando Rolemberg, Presidente - «I - Consta dos autos avoca-
Ministro Lauro Leitão, Relator. dos que o Magistrado da Justiça
Federal ao receber o inquérito,
RELATORIO .da autoridade policial congênere,
com pedido da prisão preventiva
O Sr. Ministro Lauro Leitão: Dr. contra o paciente e outro, decli-
Airton Gerson da Silva impetrou or- nou da competência em favor da
dem de habeas corpus, perante o Justiça Estadual, o que ensejou a
Tribunal de Justiça de Santa Catari- interposição de recurso em senti-
na, em favor do Sr. Osvaldo Afonso, do estrito, por parte do Procura-
que estava sofrendo coação ilegal, dor Regional da República,
em razão de haver sido condenado, atualmente pendente de julga-
pelo MM. Dr. Juiz de Direito, à pena mento no Tribunal Federal de
de três anos e três meses de reclu- Recursos.
TFR - 71 231

Distribuído o processo ao Juízo VOTO


de Direito da 4~ Vara da Capital,
o seu ilustre titular, Dr. Robério O Sr. Ministro Lauro Leitão: A ma-
Farias Lemos, por considerar téria versada no presente processo
«que o crime se exaurira em ter- de habeas corpus, já foi apreciada
ritório nacional» e que o recurso por esta Egrégia Turma, quando do
do Ministério Público não tinha, julgamento do Recurso Criminal n?
como realmente não tem, efeito 488, em sessão de 20.9.1978, cUjo
suspensivo, aceitando a compe- acórdão está assim ementado:
tência: decretou a custódia pre-
vent1vh, recebeu a denúncia ofer-
tada pelo Dr. Promotor Público e EMENTA
prosseguiu em todos os termos
da ação penal, vindo, afinal, a Processual Penal - Competên-
condenar o paciente na forma de cia - Tráfico internacional de
início apontada, pelo fato de ter entorpecente. Maconha apreendi-
em depósito grande quantidade da em território brasileiro, mas
de maconha (29.160 g), para co- que foi trazida do Paraguai. Cri-
mercialização» (fls. 9/10). me capitulado no artigo 12 da Lei
n? 6.368, de 21.10.1975. Recurso
o Egrégio Tribunal de Justiça do provido, para, modificando-se a
Estado não conheceu do pedido de decisão recorrida, determinar-se
habeas corpus e determinou a re- a competência, para processar e
messa dos autos a este Egrégio Tri- julgar a ação penal, do MM. Dr.
bunal, estando o respectivo acórdão Juiz Federal da Seção Judiciária
assim ementado: de Santa Catarina».
«Habeas Corpus. Matéria que, Como se vê, a ação penal foi movi-
em decorrência de recurso em da contra pessoas envolvidas em trá-
sentido estrito, foi submetida ao fico internacional de entorpecentes,
Tribunal Federal de Recursos. as quais vieram a ser condenadas,
Não conhecimento do pedido. Re- afinal, pelO MM. Dr. Juiz de Direito
messa dos autos. da 4~ Vara Criminal de Florianópo-
lis, Santa Catarina.
Se, como ocorre na espécie, a Convém frisar, desde logo, que a
matéria argüida no habeas mercadoria, trazida do Paraguai, foi
corpus está, em decorrência de apreendida, pela autoridade policial,
recurso em sentido estrito, sub- na residência de um dos co-réus, na
metida ao Egrégio Tribunal Fe- cidade de Florianópolis.
deral de Recursos, não se conhe- Destarte, como já l1avia sido deci-
ce do «writ» impetrado e ordena- dido, a competênCia, para processar
se a remessa dos autos ao so- e julgar o feito, é do MM. DI'. Juiz
dalício federal". Federal, de acofdo com o artigo 125,
V, da Constituição Federal, combi-
Nesta instãncia, a douta nado com o artigo 27 da Lei n? 6.368,
Subprocuradoria-Geral da República de 1976, e com o artigo 10, VI, da Lei
opina no sentido de que este Tribu- 5.010.
nal é incompetente para julgar o fei- Ora, o CódigQ de Processo Penal,
to, e pelo que os autos devem ser re- em seu artigo 564, I, preceitua:
metidos ao EgrégiO STF. «Art. 564: A nulidade ocorrerá nos
É o relatório. seguintes casos:
232 TFR - 71

I - por incompetência, suspei- lU - quando quem ordenar a


ção ou suborno do juiz». coação não tiver competência pa-
ra fazê-lo».
Por outro lado, o mesmo Código, Assim, é nula, de pleno direito, a
em seu artigo 567, dispõe: sentença proferida pelo MM. Dr.
Juiz de Direito da 4~ Vara Criminal
«Art. 567: A incompetência do juízo de Florianópolis.
anula somente os atos decísórios, de- Em face do exposto, concedo a or-
vendo o processo, quando for decla- dem de habeas corpus, para decre-
rada a nulidade, ser remetido ao tar, como decreto, a nulidade da re-
Juiz competente». ferida sentença e, em conseqüência,
determino que o ora paciente seja
E, ainda, o artigo 648, UI, reza: posto imediatamente em liberdade,
se por outro motivo não estiver pre-
«Art. 648: A coação considerar-se-á so, remetendo-se os autos da ação
ilegal: penal à Justiça Federal da l~ Instân-
1 - .......................... . cia, para os fins de direito.
11- ......................... . É o meu voto.

HABEAS CORPUS N~ 4.437 - SP

Relator: O Sr. Ministro Lauro Leitão


Pacientes: Alexandre Russo e outro
Impetrante: Geraldo José Guimarães da Silva
EMENTA
Habeas Corpus. Inquérito Policial.
Chefe do Departamento Regional do Banco Cen-
tral do Brasil· e Chefe Adjunto do mesmo Orgão, em
São Paulo. Quebra do sigilo bancário pOIj parte do
gerente da agência do Banco do Brasil SI A. Pedido
ao Departamento Regional do Banco Céntral para
aplicar sanção administrativa contra aquele servi-
dor do Banco do Brasil. Todavia, o aludido Departa-
mento não possui atribuições para tanto, tendo o res-
pectivo Chefe tomado as providências que lhe cabia,
encaminhando o caso à Direção Superior do Banco
Central do Brasil, em Brasília (DF).
Destarte, os ora Pacientes não se omitiram em
praticar qualquer prOVidência a propósito do fato
ocorridó na área do Banco do Brasil SI A.
A requiSição de inquérito policial, pelo Sr. Dr.
Juiz Federal, se baseou na alegação do Dr. Procura-
dor da República, de que teria tido andamento tor-
tuoso o ofício encaminhado por aquele Magistrado
ao Departamento do Banco Central do Br.,asil, cqjos
Chefe e Chefe-Adjunto teriam praticado o delito de i
desobediência ou prevaricação.
TFR - 71 233

Porém, a prova documental existente nestes autos


não demonstra, em tese, a existência quer de preva-
ricação, quer de desobediência.
Falta, por isso, justa causa para a ação penal, e,
pois, para a instauração do inquérito policial contra
os ora Pacientes.
Assim, concede-se a ordem de habeas corpus em
favor dos ora Pacientes, determinando-se o tranca-
mento do inquérito policial, que fora requisitado pelo
MM. Dr. Juiz Federal da 3~ Vara, da Seção Judiciária
do Estado de São Paulo.

ACORDA0 O MM. Juiz remeteu ao Banco


Central do Brasil, Departamento
Vistos e relatados os autos em que de São PaUlo, o Ofício n? 39/78, data-
são partes as acima indicadas: do de 2-2-1978, e recebido pelo Banco
em 6-3-1978, solicitando daquele ór-
Decide a 3~ Turma do Tribunal Fe- gão regional que encetasse as provi-
deral de Recursos, por unanimidade, dências cabíveis no sentido de serem
conceder a ordem de habeas corpus, tomadas medidas contra o então Ge-
na forma do relatório e notas taqui- rente do Banco do Brasil, em São
gráficas constantes dos autos, que fi- Bernardo do Campo, por quebra do
cam fazendo parte integrante do pre- sigilo bancário, ocorrido em agosto
sente julgado. de 1974.
Custas, como de lei. Esclarece o impetrante que o MM.
Brasília, 18 'de dezembro de 1978 Dr. Juiz fez aquela promoção, aten-
(Data do julgamento) - Ministro Al- dendo a requerimento formulado pe-
d1r G. Passarinho, Presidente - Mi- lo Ministério Público Federal, tendo
nistro Lauro Leitão, Relator. em vista o processo-crime que a Jus-
tiça Pública move contra Sakuzo Ku-
RELATORIO wabara, em assunto de interesse da
Empresa Brasileira de Correios e
o Sr. Ministro Lauro Leitão: O Dr. Telégrafos. Todavia, nesse proceSS9,
Geraldo José Guimarães da Silva, o Banco Central do Brasil é total-
advogado do Banco Central do Bra- mente estranho, a não ser na cOgita-
sil, impetrou a ordem de Habeas ção de sua competência para sanção
Corpus em favor de Alexandre Rus- administrativa de quebra de sigilo
so, Chefe do Departamento Regional bancário, que teria ocorrido no âm-
do Banco Central do Bra&il em São bito de outro órgâo, isto é, o Banco
Paulo, e de Antenor Araken Caldas do Brasil SI A.
Farias, Chefe-Adjunto do mesmo ór- Diz o impetrante que o douto Mi-
gão naquele Estado, face ao ato abu- nistério Público Federal concluiu pe-
sivo e ilegal do MM. Dr. Juiz Fede- la quebra do sigilo bancário, à vista
ral da 3~ Vara da Seção Judiciária do oficio, de 11-11-1974, de âmbito in-
de São Paulo, Dr. Laurindo Minhoto terno, da Empresa Bràsileira de
Neto. Correios e Telégrafos, em que esta
Pede a concessão do Habeas Empresa afirma ter tomado infor-
Corpus, com o objetivo de trancar a mações, junto ao Banco do Brasil
ação penal, que visa à abertura de SI A, agência local, acerca do para-
inquérito policial, mediante o proces- deiro da quantia de Cr$ 12.960,90, de
so n? 234/73 - 3~ Vara Federal. sua propriedade, quantia que ao in-
234 TFR - 71

ves de ser depositada em sua conta Chefe do Departamento Regional do


naquele estabelecimento bancário, Banco Central do Brasil, em São
teria sido creditada na conta do .Sr. Paulo, explicitou in verbis:
Sakuzo Kuwabara, que, inclusive, a
sacara, posteriormente. Por isso, en- «Acentue-se, para conhecimen-
tende o douto MiÍlistério Público Fe- to do D. Procurador, não incluir-
deral que ocorreu a quebra do sigilo se~ ·atualmente, entre as atribui-
bancãrio, fato este evidenciado, ape- ções deste Departamento Regio-
nas, pelo aludido ofício dos Correios nal a iniciativa de abertura de
e Telégrafos (doc. anexo), sem ne- processos administrativos contra
cessidade de apuração mais detalha- bancos comerciais, matéria só da
da. alçada da Superior Administra-
Todavia, o digno órgão do Ministé- ção; daí, por despacho desta Che-
rio Público Federal, antes de :gedir a fia, ter sido o assunto encami-
instauração de processo criminal, nhado à direção do Banco, em
por violação de sigilo bancãrio, op- Brasília, (DF), mesmo ciente da
tou a que se aplicasse, pelo Banco impossibilidade de se adotarem
Central do Brasil, sanção adminis- providências punitivas contra o
trativa ao Gerente do Banco do Bra- Banco do Brasil SI A.»
sil. E continua:
Esclarece, ainda, o impetrante, 9. «Demais, MM. Juiz, se o dig-
que o caso mereceu total acolhida no no e zeloso Procurador deseja,
âmbito do Banco Central do Brasil, efetivamente, levar a ação puni-
isto é, no seu Departamento Regio- tiva da Justiça até o indigitado
nal de São Paulo, o qual, entretanto, gerente, são vias mais úteis que
entendeu que a matéria seria da se lhe abrem, data venia, a co-
competência da Superior Adminis- municação ao próprio Banco do
tração do órgão, em Brasília, a fim Brasil da efetiva ocorrência do
de bem definir a posição, do Banco fato de que, a seu juízo, constitui
Central do Brasil diante do Banco do irregularidade e a movimentação
Brasil SI A, como integrantes ambos da mãquina judiciãria penal,
do Conselho Monetãrio Nacional - através de sua própria iniciativa,
(art. 6~, V, da Lei n~ 4.595, de 31-12- órgão do Ministério Público que
64), considerando principalmente o é».
posicionamento face à quebra de um 10. E mais:
sigilo bancãrio, que teria ocorrido na
esfera do Banco do Brasil SI A. Diz o § 2~ do art. 4~, da Lei
4.595/64, que «quando, no
Destarte, o assunto teve seu trâmi- exercício das suas atribuições, o
te normal pelos canais competentes Banco Central tomar conheci-
do Banco Central do Brasil, não só mento de crime definido em lei
atraves do Departamento Regional como de ação pública, oficiarã ao
de São Paulo, como também dos di- Ministério Público para a instau-
versos Departamentos Centrais de ração de inquérito policial»; aqUi,
Brasília, competentes para a maté- entretanto, o Ministério Público
ria e, inclusive, tramitando pela sua jã tem conhecimento do fato que
própria Diretoria. ele próprio, através de seu digno
Encerrou-se o caso através do membro, o Dr. Jorge Medeiros
ofício n~ DESPA-78/699 de 24-5-1978 da Silva, entende considerar cri-
(doc. anexo n~ 3), encaminhado ao me e de autoria de quem, em
MM. Juiz, de ordem da Superior Ad- agosto de 1974, exercia as fun-
ministração em Brasília, pelo qual o ções de gerente do Banco do Bra-
TFR - 71 235

sil ",SI A, em São Bernardo do o Chefe e o Chefe-Adjunto do De-


Campo.»' partamento Regional de São Pau-
11. Esgotada, pois, toda a trami- lo.»
tação do assunto na esfera do 16. Pasmem os fatos e a lei, se-
Banco Central do Brasil, com to- rá o primeiro Inquérito Policial,
das as respostas cabalmente for- visando indicar pessoas sem
necidas, seria de o assunto ser causa, ao arrepio do sistema nor-
dado por encerrado junto ao MM. mativo e da justiça, sem objeto,
Juízo Federal. sem causa.
12. Para surpresa dos fatos e 17. Não pode, pois, prosperar
do direito da justiça e da própria tal iniciativa do digno Ministério
logística, o Douto Procurador, Público Federal, na pessoa do
Dr. Jorge Medeiros da Silva, in- Dr. Jorge Medeiros da Silva, que
veste contra o Banco Central do está a achar guarida no deferi-
Brasil, pedindO abertura de In- mento do R. Juízo da 3~ Vara Fe-
quérito Policial, junto à Policia deral de São Paulo.
Federal, para tomada das se- 18. Eis, na história e nos anais
guintes providências, de acordo do Poder Judiciário, a primeira
com o Doc. n? 4 - em anexo; fls. abertura de inquérito policial, só
2: com uma finalidade: a de se indi-
«Que a Polícia tome as seguin- ciar, sem porque, sem para que,
tes providências: a) indicie as vale dizer, sem objeto:
pessoas" acima citadas, Alexan-
dre Russo e Antenor Araken Cal- 19. O presente pedido de Ha-
das Farias, respectivamente, beas Corpus visa, portanto, tran-
Chefe e Chefe-Adjunto do Depar- car essa ignomínia, qual sej a o
tamento Regional de São Paulo; de se indiciar pessoas, ocupantes
dos mais elevados e respeitáveis
b) requisite a entrega de pro- cargos administrativos, com ba-
cesso que corre, se corre, no se tão só e exclusivamente no
Banco Central para apurar a vio- arbítrio.
lação de sigilo bancário por nós
pedida.» 20. Que fique esse arbítrio lon-
ge das sombras da lei e da justi-
13. Ora, a abertura do presente ça, que seja banido do nosso Di-
Inquérito Policial visa, logica- reito, é o que se pede.
mente, o seguinte:
21. Que esse Colendo Tribunal
a) indiciar pessoas, a esmo; reforme a R. decisão do MM.
b) requisitar processo adminis- Juízo da 3~ Vara Federal de 1~
trativo do Banco Central de que- instância, impedindo que tal sin-
bra de sigilo. dicância policial, por todos os
14. Ora, o processo administra- títulos imoral e iníqua, não en-
tivo que se pede já está dito no contre guarida.
Ofício resposta que não existe, 22. Colendo Tribunal, pede-se o
por entender o Banco Central ser trancamento do Processo n?
a sua instauração da competên- 234i75 - 3~ Vara ,Federal, em
cia exclusiva do Banco do Brasil apenso, para que nâo prospere o
SI A, vide item 9 (nove) retro inquérito policial, uma vez que o
mencionado. caso já se acha mais que encer-
15. De tudo quanto está pedido rado.
na abertura de inquérito policial, 23. Nem venha o Douto Minis-
resta só uma iniciativa: «Indiciar tério Público Federal substituir
236 TFR - 71

ou determinar que as Autorida- Dos Fatos


des Administrativas ajam desta Tratando-se de uma argüição
ou daquela forma, porque a sua de falta de justa causa, excepcio-
competência está prevista na Lei nalmente embora, cabe ao Judi-
4.595/64, para não ter que ser di- ciário o exame da prova, já cole-
rigida, caso por caso, pelo Dl'. tada. É pacífica, a respeito, a ju-
Jorge Medeiros da Silva, que é risprudência do egrégio Tribunal
digno integrante do Ministério Federal de Recursos, dentre ou-
Público~'ederal, mas não é Auto- tros, que nos dispensamos de ci-
ridade Administrativa do Banco tar previtatis causae.»
Central do Brasil, pois a lei não
lhe confere tal função: a de subs- Alinhemos os fatos, incontrover-
tituir sozinho a Diretoria dessa sos. Corria por este Juízo uma
Autarquia Federal. açáo criminal contra Sakuzo Ku-
waoara, em -que figurava como
24. Que o Digno Procurador da vítima a ECT. Durante a coleta
República faça sua persecuUo da prova testemunhal, denuncia-
criminis contra quem teria, no se ao Juízo uma possível quebre
seu entender, quebrado sigilo de sigilo bancário que teria sido
bancário, mas jamais contra o praticada por um gerente do
Sr. Chefe e Chefe-Adjunto do De- Banco do Brasil, responsável por
partamento Regional em São uma de suas agências, no inte-
Paulo, investidos no caso, de po- rior deste Estado de São Paulo.
deres próprios, insuscetíveis de O zeloso representante do
serem atingidos por abusiva e in- M.P.F., então, solicitou ao Juízo
justa provocação do R. Dl'. Jorge oficiasse ao Banco Central deter-
Medeiros da Silva. minando a abertura da compe-
25. Pede-se, pois, a concessão tente investigação administrati-
do presente Hebeas COrPus, com va e, na hipótese de comprova-
medida liminar, para se trancar ção daquela irregularidade, a
a ação penal, que se visa, com respectiva aplicação de sanções.
essa abertura de inquérito poli- O pedido foi deferido, atrvés de
cial, com o que se estará fazendo ordem judicial, formalmente
Justiça». perfeita e legal.
Recebendo o processo determinei O petitório incide, aqui, em
fosse requisitadas informações ao flagrante equívoco, verdadeira-
MM. Dl'. Juiz Federal da 3~ Vara da mente injustificável. Pretende-
Seção Judiciária de São Paulo. se, ali, que o inquérito anulando
Aquele Magistrado, assim, pelo tenha, por objeto, a apuração
ofício de fls. prestou as seguintes in- dos fatos até aqui descritos. Não.
formações: Os fatos supervenientes, que re-
velam uma eventual desobediên-
«Da Impetração cia à ordem judicial, ou mesmo
Como se observa do pedido, a prevaricação, em tese, é que jus-
presente ordem tem a pretensão tificam a abertura do procedi-
de trancar inquérito policial, cu- mento investigatório, com o con-
ja instauração foi determinada seqüente indiciamento dos ora
por este Juízo, por falta de justa pacientes. Vejamos:
causa, afirmando-~e o inquérito O mui zeloso Procurador da
desarrazoado, mesmo sem obje- República, Doutor Jorge Medei-
to. ros da Silva, que já havia solici-
Informo, em diferentes itens. tado a abertura de inquérito ad-
TFR - 71 237

ministrativo, algum tempo de- coisas, que não era de seu conhe-
pois da expedição daquela or- cimento fosse o Senhor Antenor
dem, requer ao Juízo um ofício Braga Farias, o gerente aponta-
ao Banco Central para se saber do como Autor de uma quebra
de seu anda~ento, o que lhe foi de sigilo bancário, gerente do
deferido e feito. Surge, então, a banco onde o fato terá ocorrido.
resposta do Banco Central, pelo Só aí, trazendo o Almanaque do
todo surpreendente, no sentido Pessoal - Banco do Brasil - re-
de que nada havia sido feito, in- ferente aos anos de 1972 a 1975,
°
clusive pelo fato de que geren-
te, apontado como responsável
onde aquele funcionário figura,
já comprovada a filiação do ora
pela quebra de sigilo bancário, paCiente Araken, é que este
sequer era seu funcionário. O di- Juízo determinou a instauração
ligente representante do M.P.F., de inquérito policial, ainda a re-
cientificado da resposta, traz à querimento do M.P.F.
colocação o Almanaque do Ban- Registre-se, de logo, que se de-
co do Brasil, referente aos anos terminou o inquérito em segredo
de 1972, 1973 e 1974, onde figura o da justiça, máxime para não
nome daquele funcionário, inclu- prejudicar aquela entidade ban-
sive pai do Chefe-Adjunto do cária.
Banco Central em São Paulo,
Antenor Araken Caldas Farias, Do evidente equívoco estampa-
ora paciente, chamando-o de «fi- do no petitório.
gurão da.entidade» (does. n?s 1 e Do exposto, não há como
2, em anexo, ora submetidos à al- aceitar-se o pedido inicial, refe-
ta apreciação de V. Exa.). rentemente ao objeto do inquéri-
Verificou-se, ainda, que a Che- to anulando. Não se trata, pelo
fia do Departamento Jurídico do todo, de inquérito destinado a
Banco Central, fugindo à rotina apurar quebra de sigilo bancá-
administrativa, ao receber a or- rio, mas eventual desobediência
dem para instauração de proces- a uma ordem judicial, legal e
so administrativo, ao invés de perfeita formalmente, ou uma
fazê-lo, encaminhou o expediente prevaricação, em tese.
à Capital Federal, insinuando a Acreditamos que os fatos, já
impunidade daquele funcionário. demonstrados, autorizam a exis-
Peticiona, mais uma vez, o digno tência do presente procedimento
representante do M.P.F. pedindo investigatório, máxime diante do
informações ao Banco Central, inusitado comportamento dos
para se estabelecer aquele pa- ora pacientes, diverso daqueles
rentesco, bem como requisição praticados rotineiramente,
do expediente administrativo. tolere-se.
Ali, diz textualmente: V. Exa. melhor dirá o direito.
«Os fatos, se confirmada a São as informações.»
versão que chegou a nosso co- A douta Subprocuradoria-Geral da
nhecimento, são graves pois República, oficiando nestes autos de
revelam um enfeudamento de Habeas Corpus. assim opina:
filhotismo incompatível com a «O Bel. Geraldo José Guima-
natureza fiscal imparcial do rães da Silva impetra uma or-
órgão» (doc. n? 2, em anexo). dem de habeas corpus em favor
O BancQ Central responde a de Alexandre Russo e Antenor
esse novo ofício (doc. n? 1, em Araken Caldas Farias, os quais,
anexo), afirmando, dentre outras segundo alega estão ameaçados
238 TFR - 71

de coação ilegal decorrente de in- Banco do Brasil em São Ber-


quérito aberto, na Polícia Fede- nardo do Campo, com estas
ral, por· solicitação do RMPF e funções ali em agosto de 1974,
requisição do Juiz Federal da 3~ por quebra de sigilo bancário»
Vara. (autos, fls;).
O Impetrante sustenta que: Junto a mesma cópia, há docu-
«a abertura do presente in- mento (ofício) em que o Técnico
quérito policial visa, logica- Postal de São Bernardo do Cam-
mente, o seguinte: po, comunica ao Chefe de Seção
de Revisão:
a) indiciar pessoas a esmo;
b) requisitar processo admi- «Reportando ao vosso
CI/SP /1.319/74 informamos que
nistrativo do Banco Central de a OP de 9-8-74 de Cr$ 12.960,90
quebra de sigilo» (autos, fls. 5). - doze mil, novecentos e ses-
Salienta, ainda, o impetrante senta cruzeiros e noventa cen-
que tavos - não deu entrada nesta
«Pasmem os fatos e a lei. APT. Outrossim, como veio em
será o primeiro inquérito Poli- nome do ex-APT desta agência,
cial visando indiciar pessoas Sr. Sakuzo Kuwabara e tendo es-
sem causa, ao arrepio do siste- ta Chefia tomado informações
ma normativo e da Justiça, junto ao Banco do Brasil local,
sem objeto, sem causa. Não po- a mesma foi creditada em sua
de, pois, prosperar tal iniciati- conta particular em 14-8-74 e
va do digno Ministério Público que o mesmo sacou a importãn-
Federal, na pessoa do Dr. Jor- cia supra mencionada» (autos,
ge Medeiros da Silva, que está fls. 9).
a achar guarida no deferimento
do R. Juízo da 3~ Vara Federal O doc. n? IH é ofício dirigido
de São Paulo. (autos, fls. 5-6). pelo Chefe do Departamento Re-
gIonal de São Paulo, Alexandre
Finalmente, pede Russo, no qual se reporta aos
«a concessão do presente
Habeas Corpus, com medida li- «Ofícios n?s 39/78 e 373/78 de
minar, para se trancar a ação 2-2- e 27-4-78, respectivamente,
penal, que se visa com essa com que V. Ex~, comunicando-
abertura de inquérito policial, me haver deferido pedido do
com o que se" "estará fazendo Dr. Procurador da República,
Justiça» (a~tos, fls. 7). Dr. Jorge Medeiros da Silva,
formulado nos autos de proces-
A impetração é instruída com so crime que a Justiça Pública
anexos, 5 documentos, com 17 fls. move contra o Sr. Sakuzo Kuwa-
Doc. n? I, ofício n? 39-78, do bara, solicita informações per-
Doutor Laurindo Minhoto Neto, tinentes a medidas administra-
referente ao processo 234/75, diri- tivas relacionadas com a viola-
gido ao Delegado do Banco Cen- ção de sigilo da conta . bancária
tral, onde o Juiz Federal, em "re- de um servidor da Empresa
ferências, solicita Brasileira de Correios e Telé-
«de V. S~ as providências que grafos» (autos, fls. 10).
se fizerem necessárias no senti- Esclarece-se que nos autos,
do de serem tomadas medid.as nem na impetração, nem nas in-
administrativas cabíveis, con- formações, não consta o ofício do
tra o gerente da Agência do Juízo 373/78.
TFR - 71 239

Entretanto, deve ter sido o Em resposta, (o doc. n? II da


ofício expedido pelo Magistrado impetração), a que vinha o sig-
em atenção aos termos do reque- natãrio aludindo, afirma o Dr.
rimento lançado pelo Represen- Alexandre Russo, após tecer con-
tante do Ministério Público Fede- siderações sobre a Lei n? 4.595,
ral, nos autos do processo n? de 31-12-1964:
234/75 e que se vê às fls. 37-9. A
conclusão é estabelecida pelo «Em homenagem a V. Ex~,
exame das datas e pelo despacho ilustre Representante do Poder
judicial consubstanciado nos se- Judiciãrio, consigno, a seguir,
guintes termos: as seguintes informações relati-
«Sim. Oficiando-se.» (fls. 37, vamente ao quanto desej a sa-
datado de 26-4-78). ber o Dr. Procurador da Repú-
blica: a) segundo rotina do Nú-
No requerimento, o Represen- cleo Regional Jurídico (NU-
tante do Ministério Público p~de: JUR) desta Unidade, corres-
«Assim requeiro a V. Ex~ ofi- pondências das autoridades são
cie ao Banco Central para que informadas diretamente pelo
em prazo exíguo que V. Ex~ de- Sr. Coordenador, somente sen-
terminar: I - informe a este do distribuídas a advogado e
Juizo se o Gerente efetivamen- respectivo assistente nos casos
te é pai do supra-citado Chefe- em que diligências se façam
Adjunto do Banco Central. n - necessãrias para elaboração da
Mande a este Juízo cópia do ex- resposta; b) as últimas férias
pediente da lavra do Dr. Chefe desfrutadas pelo Sr. Coordena-
do Departamento Jurídico en- dor do NUJUR, Dr. George
caminhando o feito a Brasilia Marcondes Coelho de Souza,
ou, se for apenas parecer, que correspondentes a saldo de cin-
venha a este Juízo igualmente. co dias foram utilizadas no
In - Informe o Banco Central período de 4 a 8 de julho de
se o Dr. Chefe do Jurídico esta- 1977; c) conforme assentamento
va em férias quando lavrou o constante de nossos arquivos, o
despacho ou parecer. IV - In- progenitor do Chefe-Adjunto
forme qual a providência toma- deste é o Sr. Antenor de Farias,
da contra o Gerente por nós não sendo do conhecimento des-
acusado por violação de sigilo ta Chefia ser ele o gerente que
bancãrio e se ainda não toma- se encontrava em exercício, na
da, em que fase e com que au- nominada agência em agosto
toridade do Banco Central estã de 1974; d) não há qualquer
o processo. V - Determine ao processo em curso contra o
Banco Central junte cópia deste Banco do Brasil, ou gerente
requerimento e do despacho de seu, pelas razões acima alinha-
V. Ex~ nele, no processo, que das .. Vê-se, destarte, MM. Juiz
corre no Banco por violação de que o Dr. George Coelho de
sigilo. Após peço vista do feito Souza, de modo algum inter-
criminal quando jã nos autos a rompeu férias suas, e muito
resposta do Banco Central que pressurosamente, na terminolo-
esperamos seja objetiva, sem gia do Dr. Procurador, de vez
evasivas, pois dependendo da que como é certo, suas últimas
resposta do Banco Central to- férias utilizadas o foram em ju-
maremos as medidas cabíveis lho de 1977; também, não hã
contra o ou os apaniguadores e parecer ou trabalho de sua la-
apaniguados (autos, fls. 39). vra em beneficio deste ou da-
240 TFR - 71

quele funcionário daqui em O doc. V é solicitação formula-


exercício; há tão só, simples co- da, via de advogado, por Alexan-
ta em seguimento ao primeiro dre Russo, no sentido de o MM.
ofício de V. Ex~, em que aquele Juiz Federal da 3~ Vara Crimi-
Coordenador, considerando nal:
«que o atendimento ao que se
contém no ofício judicial exigi- «ouvido o Representante do
ria a instauração de processo Ministério Público Federal,
administrativo» sugere «que o digne-se de reconsiderar o
assunto seja submetido à apre- mencionado despacho, para de-
ciação da Superior Administra- terminar o arquivamento do
ção, para os devidos fins (au- aludido inquérito» (autos, fls.
tos, fls. 1617)>>. 24).
O Doc: n? IV é requerimento do
Representante do Ministério PÚ- Alega que o caso é fruto de
blico ao Magistrado da 3~ Vara equívocos, porquanto, em ne-
Federal, onde após tecer consi- nhum momento, deixou de pro-
derações sobre a resposta do Sr. cessar e responder:
Alexandre Russo - tachando-a «com toda diligência e corre-
de embromação, - pede que: ção, que se deveriam empe-
«V. Ex~ determine baixem os nhar, especialmente em home-
autos presentes à Polícia Fede- nagem à Justiça, não tendo ha-
ral para abertura de inquérito vido, em nenhum momento,
policial contra o subscritor da qualquer desvio na tramitação
peça ora indigitada. O Chefe- regular que têm todos os assun-
Adjunto do Banco Central. Que tos submetidos a este órgão,
a Polícia tome as seguintes nem o mínimo vislumbra ou in-
providências: 1) Indicie as pes- tenção de ocultar ou desfigurar
soas acima citadas. 2) Faça fatos» (autos, fls. 22 e 23).
constar no inquérito, cópia das
páginas dos Almanaques de Com vista dos autos, por or-
Pessoal do Banco do Brasil de dem do eminente Ministro-
1972 a 1975 inclusive, para apu- Relator, entendeu esta Subprocu-
rar a violação de sigilo bancá- radoria indispensável pedidO de
rio por nós pedida. O ofício que informações à autoridade coato-
o MM. Juiz enviou ao Banco ra.
Central inclusive, deve ter sido Solicitadas, foram as mesmas
recebido ou manipulado pelo remetidas, em 3 laudas, acompa-
Chefe-Adjunto do Banco Cen- nhadas de 2 documentos, os quais
tral, constando possivelmente aliás tinham vindo aos autos,
dele rubrica ou assinatura. 4) com a inicial.
seja ouvido o Chefe do Departa-
mento Jurídico do Banco Cen- Em síntese, informa a autori-
tral de São Paulo a que esclare- dade apontada como coatora:
ça se estava trabalhando em «a presente ordem tem a pre-
São Paulo quando os fatos che- tensão de trancar o inquérito
garam ao Banco. Assim reque- policial, cuja instrução foi de-
remos a V. Ex~ poiS além do terminada por este juízo, por
acobertamento entre pai e fi- falta de justa causa,
lho, a autoridade bancária afirmando-se o inquérito desar-
prestou falsas informações a razoado, mesmo sem objeto»
este Juízo» (autos, fls. 20). (autos, fls. 34).
TFR - 71 241

Sob a parte das informações, mento investigatório, maxime


epigrafadas com «Dos fatos» es- diante do inusitado comporta-
clarece que em procedimento cri- mento dos ora pacientes, diver-
. minaI contra Sakuzo Kuwabara sos daqueles praticados rotinei-
Juízo: ramente, tolere-se» (autos, fls.
36).
«uma possível quebra de sigi-
lo bancário que teria sido prati- Posteriormente, através dos
cada por um gerente do Banco advogados Décio Nunes Teixeira
do Brasil, responsável por uma e Mário Dornelles Castelo Bran-
de suas agências no interior co foi distribuído memorial em
deste Estado de São Paulo. O fa~or dos pacientes, em 15 lau-
zeloso representante do M.P.F., das. No memorial argumenta-se,
então solicitou ao Juízo oficias- em síntese, no sentido de que é
se ao Banco Central determi- incabível falar-se na hipótese em
nando a abertura da competen- desobediência a ordem judicial,
te investigação administrativa, eis que:
e na hipótese de comprovação
daquela irregularidade, a res- «Impõe-se verificar a nature-
pectiva aplicação de sanções. O za desse ofício, cujo conteúdo é,
pedido foi deferido, através de a todas as luzes, a comunica-
ordem judicial, formalmente ção de um fato para adoção de
perfeita e legal. O petitório in- providências administrativas
cide aqui em flagrante equívo- de exclusiva competência do
co, verdadeiramente injustifi- Banco Central do Brasil. Evi-
cável. Pretende-se, ali, que o dentemente, j amais poderia o
inquérito, anulando, tenha por ofício ser considerado uma or-
objeto, a apuração dos fatos até dem judicial para efetivação de
aqui descritos. Não. Os fatos medida administrativa, a não
supervenientes que revelam ser que se pretenda fazer subs-
uma eventual desobediência a tituir a Administração pelo Ju-
ordem judicial, ou mesmo pre- diciário. Ordem judicial ende-
varicação, em tese, é que justi- reçada ao Poder Executivo só
ficam a abertura do procedi- pode concernir a decisões pro-
mento investigatório, com o feridas pelo Poder Judiciário
conseqüente indiciamento dos na sua atribuição constitucional
ora pacientes. Vejamos» (au- de dizer o direito» (fls. 1-2 do
tos, fls. 35). memorial).
Finaliza, ressaltando: Salienta, ademais, que não ca-
«Do exposto, não há como be ao Chefe do Departamento
aceitar-se o pedido inicial, refe- Regional do Banco Central:
rentemente ao objeto do inqué-
rito anulando. Não se trata, pe- «a abertura de processo ad-
lo todo de inquérito destinado a ministrativo de penalidades
apurar quebra de sigilo bancá- contra bancos comerciais, ex vi
rio, mas eventual desobediên- do art. 10, VIII, da Lei 4.595, de
cia a uma ordem judicial, legal 31-12-64, expliCitadO no Manual
e formalmente perfeita, ou de Organizações Administrati-
uma prevaricação em tese. vas do Banco, 6-7-0» (autos, fls.
Acreditamos que os fatos, já 2).
demonstrados, autorizam a Diz que o Banco Central do
existência do presente procedi- Brasil deu ao ofício do Juiz:
242 TFR - 71

«o andamento normal, Ora, como se vê das peças re-


encaminhando-o imediatamen- latadas e da documentação cons-
te ao seu serviço jurídico, que o tante do presente Habeas Corpus,
informou, concluindo por suge- pretende o MM. Magistrado que
rir fosse o assunto submetido à teriam os pacientes, em tese,
Superior Administração deste perpetrado os delitos de desobe-
Banco, porque a decisão sobre diência ou prevaricação.
a instauração de processo ad- A base para requisição do in-
ministrativo não é da alçada do quérito policial foi a alegação do
Departamento» (autos, fls. 2). Dr. Procurador da República de
Argumenta, ademais, que é im- haver tomado conhecimento de
possível falar-se na hipótese em que o ofício encaminhado pelO
prevaricação, porquanto: Magistrado:
«o ilustrado julgador, ao «teria tido (ou teve?) anda-
referir-se a prevaricação deu mento tortuoso. O Gerente do
aos fatos uma interpretação Banco do Brasil, segundO infor-
que jamais poderiam ser capi- mações colhidas, é pai de Ante-
tulados no que diz o art. 319 do nor Araken Caldas Farias,
Código Penal. Qual o «ato de Chefe-Adjunto do Banco Cen-
ofício» que foi «retardado» ou tral em São Paulo, portanto,
«deixado de praticar»? Qual o «figurão» na entidade. O Sr.
dispositivo de lei contrariado? Chefe do Departamento Jurídi-
(autos, fls. 10-11). co do Banco Central interrom-
peu pressurosamente suas fé-
Finaliza dizendo que a determi- rias e compareceu à entidade,
nação do inquérito não tem ou- fugindo à rotina, normal de ca-
tra razão, a não ser: sos que tais (ou seja distribui-
«o intento deliberado de levar ção do feito a um advogado do
ao ridiculo, submeter a vexa- Departamento para exame e
me, humilhar caprichosamente encaminhamento) promoveu
enfim, os administradores do expediente encaminhando o ca-
Banco Central do Brasil, em so a Brasília insinuando ou as-
São Paulo, e tudo isso ilegal- severando pela impunidade do
mente, à base de ataques inju- apaniguado. Os fatos, se confir-
riosos, altamente ofensivos, a mada a versão que chegou a
uma instituição voltada para o nosso conhecimento, são graves
trabalho, inteiramente alinhada poiS revelam um enfeudamento
nos melhores propósitos do Go- de filhotismo incompatível com
verno» (autos, fls. 14 e 15). a natureza fiscal imparcial do
órgão» (autos, fls. 38).
V~~am os autos novamente à Mas, data venta, a prova docu-
SubRrocuradoria-Geral da Repú- mental existente nos autos não
blic~, para emissão de parecer demonstra, em tese, a existência
conclusivo. quer de prevaricação, quer 'de de-
Ao ver do signatãrio, a hipóte- sobediência.
se é de deferimento do pedido. O que mostram os autos é ter
Com efeito, afigura-se ao subs- chegadO o ofício, pedindo provi-
critor que inquérito contra os pa- dências ao Banco Central - da-
cientes é procedimento que os tado de 2-2-78 - em 6-3-78.
constrange ilegalmente, dada a Em 18-4-78 o Dr. Procurador da
falta de justa causa, no caso. República oficia ao MM. Magis-
TFR - 71 243

trado, ressaltando que tivera co- pedientes protecionistas repeli-


nhecimento do andamento tortuo- dos, diga-se de passagem, pela
so do ofício e que o: prova documental que refere ha-
«Chefe do Departamento verem os fatos sido comunicados
Jurídico do Banco Central in- aos escalões superior - não se
terrompeu suas férias e compa- dignaram proceder na forma do
receu à entidade, fugindo à ro- art. 27 do C.P.P., do seguinte
tina normal de casos que tais, teor:
(ou seja distribuição do feito a «Qualquer pessoa do povo po-
um advogado do Departamento derá provocar a iniciaÚva do
para exame e encaminhamen- Ministério Público, nos casos
to) promover expediente enca- em que caiba a ação pública,
minhando o caso a Brasília in- fornecendo-lhe, por escrito, in-
sinuando ou asseverando pela formações sobre o fato e a au-
impunidade do apaniguado» toria e indicando o tempo, o lu-
(autos, fls. 38). gar e os elementos de convic-
Ora, no fato de haver sido re- ção».
metido o expediente à autoridade Aliás, tais pessoas, no caso,
superior - dado o inusitado do não são sequer conhecidas. Mais
assunto não se pode vislumbrar ainda, não se forneceram sinais
prevaricação ou desobediência. de sua identificação.
E de se salientar, inclusive, Sem dúvida, a hipótese é de
que o ofício judicial tem o sentido trancamento do inquérito, instau-
ou conteúdo de uma comunicação rado contra os pacientes, por re-
de irregularidades, sendo, por- quisição do MM. Juiz da 3~ Vara
tanto, praticamente impossível Federal, em São Paulo, por falta
enxergar-se, no caso, uma deso- de justa causa.»
bediência. E o relatório.
Dir-se-ia que, no inquérito, ou-
tras provas poderiam comprovar VOTO
a ocorrência delituosa, na hipóte-
se, e como tal seria temerário O Senhor Ministro Lauro Leitão: O
conceder-se a ordem por falta de presente pedido de habeas corpus visa
justa causa. ao trancamento, por falta de justa
Ocorre, porém, que, no caso, o causa, de inquérito policial, cuj a ins-
delito de desobediência, a toda tauração foi determinada pelo MM.
evidência, inocorre. E o de pre- Dr. Juiz Federal da 3~ Vara da Seção
varicação é repelidO pela prova Judiciária de São Paulo, tendo como
documental. Mas não se contra indiciados Alexandre Russo e Ante-
- argumente que o inquérito po- nor Araken Caldas Farias, respecti-
deria revelar os indícios da vamente, Chefe do Departamento
prática de prevaricação. Ora, é Regional e Chefe-Adjunto do Banco
preciso convir em que o inquérito Central do Brasil.
tem como base a própria docu- Alega, pois, o impetrante, que o
mentação, que repudia a existên- MM. Dr. Juiz Federal determinou a
cia da pretendendida prevarica- abertura do aludido inquérito poli-
ção e por outro lado as pessoas cial, a requerimento fórmulado pelo
que eventualmente tenham leva- Ministério Público Federal, que sus-
do ao conhecimento do Dr. Pro- tenta terhavido quebra de sigilo ban-
curador da República a tortuosi- cário, por parte de Gerente do Banco
dade do andamento do oficio, ex- do Brasil, quando atendeu a pedido
244 TFR - 71

de informações formuladas pela Em- despacho desta Chefia, ter sido o


presa Brasileira de Correios e Telé- assunto encaminhado à direção do
grafos, a respeito do destino da Banco, em Brasília (DF), mesmo
quanCa de Cr$ 12.960,90, de sua pro- ciente da impossibilidade de se
priedade, que, ao invés de ser deposi- adotarem providências punitivas
tada em sua conta, o fora na conta contra o Banco do Brasil S/A.»
de Sakuzo Kuwabara, o qual, poste- E continua
riormente, sacara dita importância e
pelo que responde a processo crime. «Demais, MM. Juiz se o digno e
O Úrgâo do Ministério Público Fe- zeloso Procurador deseja, efetiva-
deral, antes de pedir a instauraçâo mente, levar a ação punitiva da
de processo criminal, por violação de Justiça até o indigitado gerente,
sIgilo bancário, optou a que se apli- são, vIas mais úteis que se lhe
abem (data venia, a comunicação
casse, pelo Banco Central do Brasil, abrem, rio Banco do Brasil da efe-
sanção administrativa ao Gerente do tiva ocorrência do fato que, a seu
Banco do Brasil. o que todavia não juízo, constitui irregularidade
ocorreu. e a
movimentação da máquina judi-
Esclarece o impetrante, entretan- ciária penal, através de sua pró-
to, que o caso mereceu total acolhida pria iniciativa, órgão do Ministério
no ãmbito do Banco Central do Bra- Público que é»
sil, através de seu Departamento Re- E mais:
gional, em São Paulo, o qual encami-
nhou o caso à decisão da Adminis- Diz o § 2? do art. 4?, da Lei 4.595/64,
tração Superior, em Brasília, a fim . que «quando, no exerci cio das suas
de definir a pOSição do Banco Cen- atribuições, o Banco Central tomar
tral do Brasil diante do Banco do <Íonhecimento de crime definido em
Brasil SI A, como integrantes, am- lei como de ação pública, oficiará ao
bos, do Conselho Monetário Nacional Ministério Público para a instaura-
(art. 6~, V, da Lei 4.595, de 31.12.69), ção de inqUérito policial» aqui, en-
considerando principalmente o posi- tretanto, o Ministério Público já tem
cionamento, face à quebra do sigilo conhecimento do fato que ele pró-
bancário, que teria ocorrido, na esfe- prio, através de seu digno membro, o
ra do Banco do Brasil SI A. Dr. Jorge Medeiros da Silva, entende
Assim, depois do caso ter chegado considerar crime e de autoria de
ao conhecimento da Diretoria do quem. em agosto de 1974, exercia as
Banco Central do Brasil, em funções de gerente do Banco do Bra-
Brasília, o Chefe do seu Departa- sil S.A., em São Bernardo do Cam-
mento Regional, em São Paulo po».
enviou, de ordem superior, o ofício n?
DÉSPA - 78/699, de 24.5.78 (docu- Como se vê, os ora pacientes não se
mento junto, a fls.) ao MM. Dr. Juiz omitiram em praticar qualquer provi-
Federal da 3~ Vara, em que o explici- dêncià que lhes cabia, a propÓSito do
tou, verbis: fato ocorrido, na área do Banco do
Brasil.
«Acentue-se, para conhecimento
do Dr. Procurador, não incluir-se, O órgão competente, para instau-
atualmente, entre as atribuições rar inquérito administrativo contra o
deste ,Departamento Regional a Gerente do Banco do Brasil SI A, que
iniciativa da abertura de processos teria quebrado o sigilo bancário, é o
administrativos contra bancos co- próprio Banco do Brasil.
merciais, matéria só da alçada da O Banco Central, frise-se uma vez
Superior Administração; daí, por mais, através dos ora pacientes, pre-
TFR - 71 245

tou as informações que lhes cumpria Mas, data venta, a prova docu-
prestar. mental existente nos autos não de-
A douta Subprocuradoria da Repú- monstra, em tese, a existência
blica, oficiando neste feito, em seu quer de prevaricação, quer de de-
lúcido parecer, além do mais, frisa:' sobediência.
O que mostram os autos é ter
«Ao ver! do signatário, a hipótese é chegado o ofício, pedindO providên-
de deferfinento do pedido. cias ao Banco Central datado de
Com efeito, afigura-se ao subscri- 2.2.78, - em 6.3.78.
tor que inquérito contra os pacien- Em 18.4.78, O Dr. Procurador da
tes é procedimento que os cons- República oficia ao MN-L Magistra-
trange ilegalmente, dada a falta de do, ressaltando que tivera conheci-
justa causa, no caso. mento do andamento tortuoso do
Ora, como se vê das peças relata- ofício e que o
das e da documentação constante «Chefe do Departamento
do presente habeas corpus preten- Jurídico do Banco Central inter-
de o MM. Magistrado que teriam rompeu suas férias e compare-
os pacientes, em tese, perpetrado ceu à entidade, fugindo à rotina,
os delitos de desobediência ou normal de casos que tais, (ou se-
prevaricação. ja distribuição do feito a um advo-
A base para requisição do' inqué- gado do Departamento para exa-
rito policial foi a alegação do Dr. me e encaminhando o caso a
Procurador da República de haver Brasília insinuando ou asseveran-
tomado conhecimento de que ofício do pela impunidade do apanigua-
encaminhado pelo Magistrado. do» (autos fls. 38). ~
«teria tido (ou teve?) andamen- Ora, no fato de haver sido remetido
to tortuoso. O Gerente do Banco o expediente à autoridade superior -
do Brasil, segundo informações dado p inusitado do ,assunto - não se
colhidas, é pai de Antenor Araken pode vislumbrar a prevaricação ou de-
Caldas Frias, Chefe-Adjunto do sobediência.
Banco Central em São PaUlo, E çle se salientar inclusive, que o
portanto «figurão» na entidade. O ofício judicial tem o sentido ou o
Sr. Chefe do Departamento conteúdo de uma comunicação de ir-
Jurídico do Banco Central inter- regularidades, sendo, po.rtanto, pra-
rompeu pressurosamente suas fé-
rias e compareceu à entidade, fu- ticamente impossível enxergar-se. no
gindo à rotina, normal de casos caso, uma desobediência.
que tais (ou s~ja distribuição do Dir-se-ia que, no inquérito, outras
feito a um advogado do Departa- provas pOderiam comprovar a ocor-
mento para exame e encaminha- rência delituosa, na hipótese, e como
mento) promoveu expediente en- tal seria temerário conceder-se a or-
caminhando o caso a Brasília in- dem por falta de justa causa.
sinuando ou asseverando pela Ocorre, porém, que, no caso, o de-
impunidade do apaniguado. Os lito de desobediência, a toda evidên-
fatos, se confirmada a versão cia inocorre. E o de prevaricação é
que chegou a nosso conhecimen- repelido pela prova documental. Mas
to, são graves pois revelam um não se contra-argumente que o im-
enfeudamento de filhotismo in- quérito pOderia revelar os indícios
compatível com a natureza fis- da prática de prevaricação. Ora, é
cal imparcial do órgão (autos, preciso convir em que o inquérito
fls. 38), tem como base a própria documen-
246 TFR - 71

tação, que repudia a existência da «Art. 153


pretendid~ prevaricação e por outro
lado as pessoas que eventualmente § 20. Dar-se-á habeas corpus sem-
tenham levado ao conhecimento do pre que alguém sofrer ou se achar
Dr. Procurador da República a tor- ameaçado de sofrer violência ou
tuosidade do andamento do ofício, coação em sua lioerdade de loco-
exp~dientes protecionistas repelidos,
moção, por ilegalidade ou abuso de
diga-se de passagem, pela prova do- poder. Nas transgressões discipli-
cumental que refere haverem os fa- nares não caberá habeas corpus.
tos sido comunicados aos escalões
superiores - não se dignaram pro- Por outro lado, o Código de Pro-
ceder na forma do art. 27 do CPP, do cesso Penal, em seus artigos 647, a
seguinte teor: 649, dispõe:
«Qualquer pessoa do povo pode-
rá provocar a iniciativa do Minis- «Art. 647. dar-se-á habeas corpus
tério Público, nos casos em que sempre que alguém sofrer ou se
caiba a ação pública, fornecendo- achar na iminência de sofrer vio-
lhe, por escrito, informações so- lência ou coação ilegal na sua li-
bre o fato e a autoria e indicando berdade de ir e vir salvo nos casos
o tempo, o lugar e os elementos de punição disciplinar.
de convicção.«
Art. 648. A coação considerar-se-
Aliás, tais pessoas, no caso, não á ilegal:
são, sequer, conhecidas. Mais ain- I. Quando não houver justa cau-
da, não se forneceram sinais de sa; .................................
sua identificação.
Sem dúvida, a hipótese é de tran- Art. 649. O Juiz ou tribunal, den-
camento do inquérito, instaurado tro dos limites da sua jurisdição,
contra os pacientes, por requisição . fará passar imediatamente a or-
do MM. Juiz da 3? Vara Federal, dem impetrada, nos casos em que
em São Paulo, por falta de justa tenha cabimento, seja qual for a
causa. autoridade coatora».

É o parecer, s.m.j.
Em face do exposto, concedo a or-
Brasília, 7 de dezembro de 1978. - dem de habeas corpus, em favor dos
Haroldo Ferraz da Nóbrega, Procu- ora pacientes, Alexandre Russo e
rador da República Antenor Araken Caldas Farias, para
Aprovou: determinar o trancamento do inqué-
A. G. Valim Teixeira, 4? Subpro- rito policial, que fora requisitado pe-
curador-Geral da República. lo MM. Dr. Juiz Federal da 3? Vara
da Seção Judiciária do Estado de
Destarte, não tendo os ora pacien- São Paulo.
tes praticado qualquer crime, falta É o meu voto.
justa causa para a ação penal, e,
pois, para instauração de inquérito
policial contra, os mesmos.
EXTRATO DA ATA
O habeas corpus é o remédio juris
para fazer cessar a coação ilegal. HC n? 4.437 - SP - ReI.: Sr. Min.
Com efeito, preceitua a Constitui- Lauro Leitão. Impte.: Geraldo J.osé
ção Federal, em seu art. 153, § 20, Guimarães !1a Silva. Pactes:: Ale-
verbis: xandre Russo e outro.
TFR - 71 247

Decisão: A Turma, por unanimida- G. Passarinho votaram com o Rela-


de, concedeu o habeas corpus. Usou tor. O Sr. Min. José Cãndido de Car-
da palavra o Dr. Décio Nunes Tei- valho é Juiz Federal convocado, em
xeira. (Em 18.12.78 - 3? Turma). virtude de se encontrar licenciado o
Exmo. Sr. Min. Armando Rolem-
Os Srs. Mins. Carlos Mário Vello- berg. Presidiu o julgamento o Exmo.
so, José Cândido de Carvalho e Aldir Sr. Min. Aldir G. Passarinho.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 4.673- BA


Relator: O Senhor Ministro Washington Bolivar de Brito
Recorrente: Juiz Federal da 2~ Vara
Recorrida: Rebecca Jawad Ibrahim Chebel

EMENTA

Constitucional, administrativo e processual pe-


nal - Estrangeiro - Expulso e deportação - Exis-
tência de filho brasileiro, dependente da economia
paterna e da assistência materna - Suprimento de
lacuna da Lei - Analogia - Extensão, no caso con-
creto, do disposto no artigo 74, lI, do Decreto-Lei n?
941/69 - Habeas Corpus concedido - Sentença con-
firmada.
1) Comprovado que a paciente, embora ingres-
sando irregularmente no Pais, dera à luz uma crian-
ça em território brasileiro, aqui registrada,
confirma-se a sentença que conceda o habeas corpus
para evitar sua deportação.
2) Embora a lei silencie, no tocante à deporta-
ção, quanto ao obstáculo que opõe à expulsão, se o
alienígena tiver filhos brasileiros, dependentes da
economia paterna, tal lacuna é suprível mediante o
emprego da analogia, já que o preceito legal protege
não o interesse do estrangeiro, mas o dos filhos bra-
sileiros. No caso concreto, em que se pretende de-
portar a mulher, a dependência ainda é maior do
que a simplesmente econômica, configurada pela fa-
se vital da amamentação.
3) Precedente do STF (HC n? 54.718-DF, Pleno
RTJ-82/370).
4) Sentença confirmada.

ACORDA0 Decide a 1~ Turma do Tribunal


Federal de Recursos negar provi-
Vistos e relatados os autos em que mento ao recurso, na forma do rela-
são partes as acima indicadas: tório e notas taquigráficas constan-
248 TFR - 71

tes dos autos, que ficam fazendo Não merece reparos, data venia,
parte integrante do presente julgado. a sentença recorrida, que se colo-
Custas como de lei. cou em harmonia com a jurispru-
dência do Colendo Supremo Tribu-
Brasília, 14 de dezembro de 1979 nal Federal.
(data do julgamento). Ministro
Peçanha Martins, Presidente. Mi- Considerando, além disso, o tra-
nistro 'Washington Bolfvar de Brito, ço comum existente entre expulsão
Relator. e deportação, não há motivo para
que se aplique a esta última a nor-
RELATORIO ma que proíbe se expulse o estran-
geiro que tenha filho brasileiro de-
o Senhor Ministro Washington pendente da economia paterna.
Bolfvar de Brito: Jacoub Elias El Por essa prescrição legal se prote-
Fahl, libanês, casado, comerciante, ge não o interesse do estrangeiro,
impetrou ordem de habeas corpus, mas o interesse dos filhos brasilei-
em favor de Rebecca Jawad Ibra- ros por ele gerados, filhos- aos
him Chebel, sua esposa, porque in- quais deve ele alimentos e assis-
gressaram ambos no território na- tência. Dir-se-á que a lei silencia
cional, vindos do Paraguai, no Posto quanto à matéria, não erguendo,
da Polícia Federal de Foz do Iguaçu no tocante à deportação, o obstácu-
e, por um lapso, o funcionário deixara lo que opôs à expulsão. Penso, no
de anotar o visto de entrada no pas- entanto, que se trata de lacuna
~uprível mediante analogia legis,
saporte da paciente que, algum tem-
po depois, terminou sendo presa, porquanto o princípio jurídico que
com vistas à deportação, porquanto proíbe a expulsão do estrangeiro
seria irregular sua entrada no País. que possua filho brasileiro depen-
dente da economia paterna, deve
O Dr. José de Castro Meira, conce- aplicar-se à deportação, visto co-
deu o habeas corpus, por verificar mo esta denota semelhança com a
que a paciente dera à luz a uma expulsão, uma e outra formas de
criança em território brasileiro, a afastamento do País, impostas ao
Qual fora registrada em Feira de estrangeiro, por ato unilateral e
f.:iantana, na forma regular. compulsório da autoridade brasi-
É o relatório. leira". (HC n? 54.718-DF, Relator o
Exmo. Sr. Ministro Leitão de
Abreu, in RTJ 82/375).
VOTO
«Somos, pelo exposto, pelo não
O Sr. Ministro Washington Bolfvar provimento do presente recurso de
de Brito (Relator): - A ilustrada ofício.»
SubprocuradoriajGeral da República,
em seu parecer de fls. 45/46, bem po- Estou de acordo com esse parecer.
siciona a controvérsia e, por isso, o Nego provimento ao recurso.
reproduzo:
«Trata-se recurso de ofício da
decisãD que concedeu habeas EXTRATO DA ATA
corpus à alienígena Rebecca Ja-
wad Ibrahim Chebel, para que não RHC n? 4.673-BA - ReI.: Sr. Min.
fosse deportada do Brasil, eis que Washington Bolívar de Brito. Recte,:
mãe de filho brasileiro, dependente Juiz Federal da 2~ Vara. Recda.:. Re-
da economia paterna. becca Jawad Ibrahim Chebel.
TFR - 71 249

Decisão: Por unanimidade, negou- Os Srs. Mins. Otto Rocha, Wilson


se px:ovimento ao recurso, nos ter- Gonçalves e Peçanha Martins vota-
mos do voto do Relator. (Em 14-12-79 ram com o Relator. Presidiu o julga-
-1~ Turma). mento o Exmo. Sr. Min. Peçanha
Martins.

HABEAS CORPUS N? 4.728 - BA


Relator: O Sr. Ministro Otto Rocha
Pacientes: Otto da Silva Oliva e Outros
Impetrantes: Aristides de Sousa Oliveira e Outros
Aut. Coatora: Juízo Federal da 1~ Vara da Bahia.

EMENTA:
Habeas Corpus - Prisão Preventiva - Funda-
mentação - Princípio da indivisibilidade da ação
penal.
«O despacho que decretou a prisão preventiva
fundamentou-se como se nele transcrito», na promo-
ção do MPF, o que atende à exigência do art. 315, do
CPP, conforme admitido pela jurisprudência.
O principio da indivisibilidade da ação penal não
I se quebra com a prisão preventiva de apenas alguns
dos indiciados em um mesmo processo, em respeito
aos motivos de conveniência e oportunidade que re-
gem a instrução criminal.
Pedido indeferido.
ACORDA0 miro Itaparica, advogados, regula-
mente inscritos na OAB, Seção da
Vistos e relatados os autos em que Bahia, impetram a presente ordem
são partes as acima indicadas: de Habeas Corpus em favor de Otto
Decide a 1~ Turma do Tribunal Fe- da Silva Oliva, Gerson Rodrigues de
deral de Recursos, à unanimidade, Oliveira, Raimundo Pereira Filho e
indeferir a ordem, na forma do rela- Edson Moraes dos Santos, presos na
tório e notas taquigráficas constan- Casa de Detenção de Salvador - Ba-
tes dos autos, que ficam fazendo par- hia, em decorrência de despacho de
te integrante do presente julgado. prisão preventiva exarado pelo MM.
Juiz Federal da 1~ Vara da .Justiça
Custas como de lei. Federal, Seção Judiciária daquele
Brasília, 16 de maio de 1980 (Data Estado.
do julgamento). - Ministro Peçanha Alegam os impetrantes que o des-
Martins - Presidente - Ministro pacho de custódia não vem funda-
atto Rocha, Relator. mentado e é injusto.
Infundamentado, «porquanto não
RELATORIO indica não só os indícios veementes
da autoria e da materialidade do de-
O Sr. Ministro Otto Rocha - Os lito, mas também os motivos que
bacharéis Aristides d~ Souza Olivei- justifiquem a conveniência da medi-
ra. Antônio Fernandes Pinto e Alde- da excepcional, qual a custódia cau-
250 TFR - 71

telar e injusto porquanto não foram VOTO


recolhidos os demais réus, quais
Wanderley Alves Barbosa e Ivan O Sr. Ministro Otto RQcha (Rela-
Souza Nazaré, entre outros». tor): Sr. Presidente, determina o
Invoca a quebra do princípio da art. 315, do C.P.P.:
ação penal e traz à colação acórdão
do E. Supremo Tribunal Federal, «O despacho que decretar ou de-
proferido nos autos do RHC n? negar prisão preventiva será sem-
57.572-2, Relator, Ministro Cunha pre fundamentado».
Peixoto, assim ementado.
No caso concreto, o despacho que
«Habeas Corpus - Prisão pre- decretou a custódia preventiva dos
ventiva - Despacho que a decre- Pacientes louvou-se na promoção de
tou carente de fundamentação.ba,s- fls. 234/236, do ilustre Representante
tante à sua manutenção. Rec. de do Ministério Público, destacando
H. Corpus provido» (in D.j. de "que serve de funC1amento a este
7.3.80, pág. 1.174). despacho, como se nele transcrito»,
Assim finalizam os impetrantes acrescentando: «há indícios suficien-
verbis: tes da participação dos mesmos indi-
«Tanto não bastasse, em clara ciados nas infrações que, por sua
infração não só ao art. 10 do C.P .Pe- vez, se acham comprovados».
nal, mas aos próprios fundamentos Eis na íntegra o despacho impug-
da custódia, preventiva precipitada-
mente declarada, o MM. Juiz a quo, nado: (lê fls. 2).
a pedido do M. Público, com viola- Leio, agora, para melhor conheci-
ção do art. 46, do CPP, devolve os mento da Turma, o pronunciamento
autos à Polícia para a complementa- do M.P.F., requerendo a prisão pre-
ção de diligências, quando é sediço, ventiva dos indiciados e que serviu
que, se há elementos para a decreta-
ção da prisão preventiva, melhor os de fundamentação ao decreto de cus-
há para o oferecimento da denúncia, tódia preventiva: - (lê. fls. 3/5).
pelo que, ainda por tal incoerência, o
"writ" se impõe deferido, com base Como se viu, na promoção que re-
nos arts. 647 e 648, II e VI, do C.P.P., quereu a medida, examinou, exausti-
por ser de Justiça». vamente, o Dr. Procurador da Repú-
blica, todas as circunstãncias que
Acompanham a inaugural, «xerox» justificariam a sua decretação quer
do decreto de prisão preventiva (fls. no tocante à conveniência da instru-
2), pronunciamento do M.P. Federal, ção criminal, como no que respeita à
requerendo a decretação da medida
excepcional (fls. 3/5); e ofício de aplicação da lei penal a ser por essa
apresentação dos indiciados (fls. 6). forma assegurada, uma vez os acu-
sados encontrarem-se foragidos.
Solicitadas que foram as informa-
ções (despacho de fls. 9), vieram es- Destacou o decreto da custódia ex-
tas através do ofício n? 93/80, do Dr. cepcional, que «há indícios suficien-
Juiz Federal da Primeira Vara, nes- tes da partiCipação dos mesmos indi-
tes termos: - (lê fls. 12). ciados --nas infrações que, por sua
Aberta vista à douta Subprocura- vez, se acham comprovadas».
doria-Geral da República, ofereceu
ela o Parecer de fls. 19/23, da lavra Demais disso, a jurisprudência
do Dr. Hélio Pinheiro da Silva, ilus- tem acolhido o entendimento de que
tre Sub procurador-Geral da Repúbli- pode o Juiz, no despacho que decreta
ca, opinando pelo indeferimento do a prisão preventiva, reportar-se à
pedido. fundamentação constante da promo-
É o relatório. ção do Ministério Público.
TFR - 71 251

A ~grégia Primeira Turma do Co- nal, à garantia da ordem pública, ou


lendo Supremo Tribunal Federal, a asseguramento da aplicação da lei
julgando o RHC n? 49.357, Relator, o penal».
Exmo. Sr. Min. Antonio Neder, deci- Finalmente, merecia acolhida a
diu pelO improvimento do recurso, impetração, na parte que impugna o
em acórdão com a seguinte ementa: pedido de baixa dos autos à Delega-
«Prisão preventiva. Deve ser cia de origem, para ultimação do in-
fundamentado o despacho que a quérito, contrariando a dispOSição
decrete. E o seu autor pode contida no art. ·46 caput, parte final
reportar-se aos fundamentos cons- do C.P.P., não fosse a informação
tantes de promoção do MP». (Cfr. constante do ofício do MM. Juiz Fe-
«RT.J.», Vol. 59, pág. 407). deral, já lido no início deste voto,
mas que repito:
Desta sorte, não se pode conside-
rar, como desprovido de fundamen- «Informo, outrossim, que o inqué-
tação, o decreto de custódia preven- rito policial foi devolvido pela
tiva ora impugnado. Polícia Federal, devidamente con-
cluído, em data de ontem, e hoje se-
O segundo fundamento do pedido, guirá com vista ao Ministério Públi-
qual seja o da quebra do princípio da co, para os fins de sua atribuição».
indivisibilidade da ação penal, O mencionado ofício, datado de 10
também não é de ser acolhido, como de abril p. passado, foi protocolado,
bem salienta o parecer da ilustrada neste Tribunal, em data de 16 daque-
Subprocuradoria-Geral da República le mês.
verbls:
Decorridos, portanto, trinta (30)
«A alegação de que o fato de dias, forçosamente é de entender-se
não haver sido determinada a custó- que o MPF, a esta altura, já exerce-
dia de outros acusados no processo ra a sua atribuição.
importaria na quebra do princípio da Entendo, desta sorte, superada a
indivisibüidade da ação penal se apontada violação. causa que pode-
apresenta de todo descabido, pois, ria, em verdade, caracterizar ilegíti-
nenhuma relação tem o citado mo constrangimento.
princípio com a prisão preventiva,
que pode ser destinada a alguns dos O processo, pois, como se viu, já
acusados em um processo e não a to- tomou o seu curso normal.
dos ditada que é por motivos de con- Com estas considerações, Sr. Pre-
veniência e oportunidade, dirigídos sidente, o meu voto é no sentido de
ao ao interesse da instrução crimi- indeferir o pedido.

RECURSO CRIMINAL N~ 517 - SC


Relator: O Sr. Ministro Wilson Gonçalves
Recorrente: Justiça Pública
Recorrido: Olyces Pereira Detânico
EMENTA
Recurso Criminal. Denúncia que atribui ao re-
corrido a prática do delito capitulado no art. 168, c.c.
o art. 51, § 2~ do Código Penal, por força do art. 2? do
Decreto-Lel n? 326/67.
252 TFR - 71

Crime equiparado à apropriação indébita, por


força de lei especial (Decreto-Lei n~ 326/67, art. 2~);
a mesma lei, no entanto, sUjeitou a ação penal à re-
presentação da Procuradoria da República,
reduzindo-o a crime de ação pública condicionada.
O prazo para a representação é aquele previsto
no art. 105, do Código Penal, e art. 38 do Código de
Processo Penal.
Ultrapassando esse prazo, deve ser rejeitada a
denúncia.
Ao juiz não é permitido deixar de aplicar dispo-
sitivo expresso e claro de lei especial o que equivale
a negar-lhe eficácia, sob o insinuante fundamento de
que o mesmo não se coaduna com os princípios ge-
rais de direito, ressalvada a hipótese de inconstitu-
cionalidade.
Confirmação do despacho recorrido.
ACÓRDÃO mo criminoso a utilização do pro-
duto da cobrança do IPI em fins
Vistos, relatados e discutidos estes diversos do recolhimento do tribu-
autos em que são partes as acima in- to, equiparando-o à apropriação in-
dicadas: débita (art. 168 CP).
Decide a Primeira Turma do Tri- Por conseqüência, a apropriação
bunal Federal de Recursos, por una- de arrecadação do IPI com utiliza-
nimidade, negar prOVimento ao re- ção em fim outro que não o reco-
curso nos termos do voto. do Relator, lhimento ê crime diverso do pre-
na forma do relatório e notas taqui- visto no artigo 168 do CP, já por-
gráficas precedentes, que ficam fa- que exige demonstração não só da
zendo parte integrante do presente apropriação, mas também da utili-
julgado. zação dos valores. O dolo no caso é
Custas como de lei. específico.
Brasília, em 29 de junho de 1979. - Todavia, conquanto tudo indicas-
Peçanha Martins, Presidente se fosse tal delito verdadeiro crime
Wilson Gonçalves, Relator. de ação pública, o parágrafo único
do art. 2? Dec.-Lei 326/67 sujeitou a
RELATORIO ação penal à representação da Pro-
curadoria da República.
O Sr. Ministro Wilson Gonçalves: Isto é, reduziu-a a crime de ação
O Ministério Público Federal ofere- pública condicionada, remetendo o
ceu denúncia contra Olyces Pereira inqUérito ipso facto à lei proces-
Detânico, como incurso no art. 168, sual penal comum.
c.c. o art. 51, § 2~, do Código Penal, Para cumprimento da providên-
por força do art. 2? do Decreto-Lei n? cia, tendo certamente em vista que
326/67. o prazo da representação ê de seis
O MM. Julgador a quo pelo despa- meses (art. 105, CP e art. 38 do
cho de fls. 56/57, rejeitou a denúncia, C.P.P.), diSpôs o texto em questão
nestes termos: que:
«O art. 2? do Decreto-Lei 326, de «a autoridade de primeira ins-
8 de maio de 1967 caracterizou co- tância (fiscal) ê obrigada a enca-
TFR - 71 253

minhar as peças principais do A uma, porque a ação penal ja-


feito, destinadas a comprovar a mais se inicia por representação.
existência do crime logo após de- A duas, por não ter sequer havi-
cisão final condenatória proferi- do qualquer representação: a peça
da na esfera administrativa.)>- de fls. 4 é um pedido de instaura-
Compreende-se a diligência do ção de inquérito feito pelo Ministé-
legislador no detalhe porque o pra- rio Público Federal, não preen-
zo de representação conta da data chendo, à evidência, os mínimos
em que veio o representante a sa- requisitos da representação. As-
ber quem é o autor do crime (art. sim, na esteira da interpretação
105 CP e art. 38 CPP), fato que fica adotada, seria antes hipótese de
provado com a decisão final conde- rejeição por ausência de represen-
natória na esfera administrativa. tação.
No caso presente a decisão final A três, como argutamente ano-
é, pelo menos, anterior à inscrição tou o prolator, em razão de ser fla-
na Dívida Ativa, datada esta de 1- grantemente crime de ação públi-
6-73. ca, incondicionada face aos inte-
Como o ofício de fls. 4 que reque- resses coletivos em jogo, onde re-
reu à Superintendência do DPF a pugna aceitar-se, por menor que
instauração de inquérito é de 6-7-76 seja, qualquer disponibilidade para
(Recebido em 7-7-76), em muito foi a administração, o que ensej aria,
ultrapassado o prazo de represen- ad libitum desta, a possibilidade de
tação, decaindo a Procuradoria da ocorrência, de odiosas discrimina-
República do direito de exercer tal ções.
providência.
A denúncia ora ofertada (fls. 2) A quatro, ao se considerar que
ressente-se pois de uma condição delitos !ie muito menor gravidade
essencial para admissibilidade da e apenação v.g. os de sonegação
ação penal, gerando falta de justa fiscal, não estão sujeitos à dita for-
causa, impeditiva do recebimento malidade, como claramente, e des-
da peça acusatória como o faço necessariamente, expresso no art.
rejeitando-a nos termos do art. 43, 7? da Lei n? 4.729/65.
III CPP.» Em quinto, ao se atentar que a
Inconformado, recorreu, em senti- apropriação indébita mesma, em
do estrito, o Ministério Público Fede- que é vítima o particular, não é
ral, com as seguintes razões: condicionada à representação.»
l.«Realmente diz parágrafo úni- O recorrido ofereceu contra-
co do art. 22, do Decreto-Lei n? razões, serodiamente, tendo sua peti-
326/67, que «a ação penal será ini- ção sido junta por linha, conforme
ciada por meio de representação certificado às fls. 68.
da Procuradoria da República, ... ». Apreciando o recurso, o Dr. Juiz a
Aí se amparou o culto magistrado quo manteve a decisão recorrida, as-
a quo para, vislumbrando extem- sim entendendo:
porânea representação, rejeitar a «O fato, descrito na peça acu-
denúncia. satória, configura, por assimila-
Interpretado literalmente o tex- ção, o crime de apropriação indé-
to, o declsum está correto. bita (fls. 2).
2. Todavia, a deficiente redação Além dos elementos essenciais
assim interpretada afronta a todos do delito em apreço hão de ter-se
os princípios penais e processuais em conta também os pressupos-
penais. tos colocados na «le speciale».
254 TFR - 71

E dentre esses releva notar fixando o termo inicial do prazo


que a condição de procedibilida- de seis meses a partir da decisão
de imposta expressamente, tanto final condenatória na esfera admi-
que a instauração da ação penal nistrativa.
é precedida de representação de Como se vê, a matéria discutida
iniciativa da Procuradoria da no presente recurso criminal é de
República (art. 2?, parãgrafo úni- alta relevância, posto que trans-
co, do Decreto-Lei n? 326/67). cende do caso concreto em face
E tal se explica, pois, em ver- dos amplos reflexos que trarã a
dade, sujeito passivo da ação de- persecutio criminis nos delitos de
litiva é a Fazenda Nacional, co- apropriação do IPI, se porventura
mo também em razão da duplici- for mantida a v. decisão monocrã-
dade de funções do seu órgão de tica.
representação, ou seja, fiscal da Parece-nos que assiste razão ao
lei e advogado da entidade políti- recorrente.
ca maior (arts. I?, 37, 38 e 42 da
Lei n? 1.341, de 30 de janeiro de E: que se não bastasse a circuns-
1951). tância de que o processo adminis-
trativo não é pressuposto da ação
Ora, não se presumindo pala- penal e, bem assim, que a apura-
vras ociosas na lei, aliãs, repeti- ção do débito fiscal na instância
ção, de regra anterior, a Procu- administrativa não constitui condi-
radoria da República estã, no ção de punibilidade da ação penal
texto, evidentemente, como ór- ou condição objetiva de punibilida-
gão de representação do ofendido de (STF-RHC 53.137 - PR, ReI. Sr.
(art. 11, § 3?, da Lei n? 4.357, de Min. Cordeiro Guerra, RTJ 75/708;
16 de julho de 1964 corresponden- STF - RHC 55.934 - PR, ReI.
te ao parãgrafo único do art. 2?, Min. Xavier de Albuquerque, DJ
do Decreto-Lei n? 326/67 citado).» 24-4-78, pãg. 2.625), cuida-se indis-
Subiram os autos a este Tribunal cutivelmente de crime de ação pú-
blica, constituindo a referência à
tendo a douta Subprocuradoria-Geral representação uma impropriedade
da República se pronunciado pelo das mais absurdas, particularmen-
provimento do recurso, sob os se- te do ponto de vista da terminolo-
guintes fundamentos: gia técnico-jurídica.»
«A denúncia foi rejeitada sob o É o relatório.
fundamento de que a Procuradoria
da República teria decaído do di-
reito de representação, que a v. de- VOTO
cisão recorrida fixou em seis me-
ses por aplicação supletiva do dis- O Sr. Ministro Wilson Gonçalves
posto nos arts. 105 do Código Penal (Relator): Acolho os fundamentos da
e 38 do Código de Processo Penal. decisão do douto magistrado de pri-
meira instância.
Efetivamente, o parãgrafo único
do art. 2? do Decreto-Lei n? 326/67, Dispõe o art. 2? do Decreto-Lei n?
utilizando-se de uma nomenclatura 326, de 2 de maio de 1967:
que constitui verdadeira heresia
jurídica, diz que: «Art. 2? - A utilização do pro-
duto da cobrança do imposto so-
«a ação penal serã iniciada por bre produtos industrializados em
meio de representação da Procu- fim diverso do recolhimento do
radoria da República ... » tributo constitui crime de apro-
TFR - 71 255

priação indébita definido no art. digno Procurador da República, em


168 do Código Penal, imputável suas brilhantes razões de fls. 60/61,
aos responsáveis legais da firma, de que «a ação penal jamaiS se ini-
salvo se pago o débito esponta- cia por representação», porquanto o
neamente, ou, quando instaurado· art. 24 do Código de Processo Penal
o processo fiscal, antes da deci- condiciona, mesmo no crime de ação
são administrativa de primeira pública, o oferecimento da denúncia
instância. pelo Ministério Público à requisição
Parágrafo único - A ação pe- do Ministro da Justiça e à represen-
nal será iniciada por meio de re- tação do ofendido ou de quem tiver
presentação da Procuradoria da qualidade para representá-lO, quan-
República, à qual a autoridade do a lei o exigir.
de primeira instãncia é obrigada Desse passo deduz-se que a exigên-
a encaminhar as peças principais cia da representação nos crimes de
do feito, destinadas a comprovar ação pública não repugna aos
a existência do crime, logo após princípios gerais de processualística
decisão final condenatória profe- penal, desde quando haj a disposição
rida na esfera administrativa.» expressa de lei que. a exija.
Do texto do preceito acima trans- Ao juiz não é permitido deixar de
crito, duas conclusões principais po- aplicar dispositivo expresso e claro
dem ser inferidas: a) trata-se de fi- de lei especial, o que equivale a
gura delituosa especial de apropria- negar-lhe eficácia, sob o insinuante
ção indébita, porque, se não o fosse, fundamento de que o mesmo não se
bastaria a norma geral do art. 168 do coaduna com os princípios gerais de
Código Penal; e b) além do aspecto direito, ressalvada a hipótese de in-
moral comum à repressão de todos constitucionalidade.
os crimes, tem este, indisfarçavel- Não impressiona, de sua vez, o ar-
mente, a característica de constituir- gumento da indisponibilidade dos in-
se em instrumento de coação visan- teresses coletivos em jogo, visto co-
do à arrecadação do tributo, tanto mo a regra geral comporta as suas
que quando o mesmo é pago em de- exceções, principalmente no caso
terminadas circunstâncias, o crime presente em que a figura delituosa
desaparece. foi exigida por meio de Decreto-Lei,
A interpretação no caso, pois, de iniciativa do Poder Executivo,
deve-se processar em face dos ter- que, evidentemente, ao editá-lo teve
mos expressos da lei especial que re- em mira a conveniência de subordi-
gula a matéria e não diante de nar a ação penal à representação da
princípios gerais de direito, que não autoridade competente.
têm aplicação contra a norma es- Não colhe, igualmente, a alegação
pecífica, que prevalece. de que o ofício de fls. 4 não constitui
Dada a natureza singular desse de- representação formal, visto como,
lito, de cunho acentuadamente fis- para legitimar a rejeição da denún-
cal, a ação do Ministério Público Fe- cia, tanto faz a não existência da re-
deral fica condicionada à manifesta- presentação como o seu oferecimen-
ção expressa da autoridade fazendá- to serôdio.
ria competente sobre a conotação Demais de tudo, é preciso acen-
criminosa da apropriação do tributo tuar que se trata de matéria penal
que precisa ser apurada através de que não admite que, através de ra-
processo penal. ciocínios especiosos embora brilhan-
Não procede, data venta, ~ afirma- tes, se negue aplicação a uma regra
ção generalizante. e excludente do legal condicionante, para assim
256 TFR - 71

agravar a situação do acusado. A EXTRATO DA ATA


exigência da representação para
ação penal no delito previsto no art. RcCr 517 - SC - ReI.: Sr. Minis-
2? do Decreto-Lei n? 326, de 2 de tro Wílson Gonçalves. Recte.: Justi-
maio de 1967, passou a constituir um ça Pública. Recdo.: Olyces Pereira
elemento de defesa de todos aqueles Detânico.
que por esse crime sej am acusados Decisão: Por unanimidade, negou-
e, conseqüentemente, não poderá ser se provimento ao recurso nos termos
abolida, senão por lei superveniente, do voto do Relator. (Em 29-6-79 - 1~
que o derrogue. Turma).
Não é o momento para discutir o Os Srs. Ministros Peçanha Mar-
assunto de lege ferenda, mas de tins, Washington Bolívar e Otto Ro-
resolvê-lo de lege lata. cha votaram de acordo com o Sr.
Ministro Relator. Presidiu o julga-
Por estas razões, confirmo o des- mento o Sr. Ministro Peçanha
paCho recorrido. Martins.

RECURSO ORDINÁRIO N? 4.446 - MG


Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira
Recorrente: Edenir Campos de Souza
Recorrido: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem

EMENTA

Trabalhista. Prescrição. Inquérito Administrati-


vo.
I - No Direito do Trabalho aplicam-se as regras
do direito comum sobre impedimento, suspensão ou
interrupção de prescrição.
Se o reclamante moveu sem êxito ação ordinária
para se ver reintegrado no emprego, corre do último
ato desse processo o prazo prescricional da ação tra-
balhista (art. 173 do Código Civil).
11 - Apenas no caso de empregado com a ga-
rantia da estabilidade se impõe o inquérito judicial
trabalhista para a apuração de faltas. Nos demais
casos, tal apuração pode ser feita em inquérito ad-
ministrativo, que é o procedimento comum da ação
diSCiplinar da Administração. Não é causa de nulida-
de do inquérito a coexistência de indiciados regidos
pelo Estatuto de Funcionários Públicos e pela CLT,
uma vez que o que está em causa é a conduta funcio-
nal, e não a qualidade do servidor.
TFR - 71 257

ACORDA0 ação ordinária proposta anterior-


mente não a interrompeu. No méri-
Vistos e relatados os autos em que to, expôs que a dispensa do recla-
são partes as acima indicadas: mante se fundou na letra a do art.
Decide a 4~ Turma do Tribunal Fe- 402 da CLT. Quanto aos salários re-
deral de Recursos, por unanimidade, clamados, juntou comprovantes dos
negar provimento ao recurso, na for- pagamentos feitos. E as férias foram
ma do relatório e notas taquigráficas gozadas regularmente.
constantes dos autos, que ficam fa- O reclamante manifestou-se sobre
zendo parte integrante do presente a contestação e os documentos. Ins-
julgado. truido o processo, o Juiz Federal
Custas como de lei. Newton Miranda de Oliveira julgou o
reclamante carecedor de ação, em
Brasília, 28 de maio de 1980 (Data virtude da prescrição. Considerou S.
do julgamento) - Ministro José Fer- Ex~ que «não interrompeu a prescri-
nandes Dantas, Presidente - Minis- ção alegada a ação reintegratória in-
tro Carlos Madeira, Relator. tentada pelo reclamante, eis que ato
nulo de pleno direito, dada a sua im-
RELATORIO possibilidade jurídica, manifesta-
mente inepta, inapta a gerar direitos
o Sr. Ministro Carlos Madeira presentes e futuros, como tão lison-
(Relator): Patrulheiro do DNER, ad- jeiramente assinalado pelo ilustre
mitido em 1? de junho de 1965 e dis- relator da apelação cível n? 37.876,
pensado em 14 de abril de 1972, pro- interposta da sentença de E' instãn-
pôs reclamatória pleiteando paga- cia que tramitou neste mesmo Juízo,
mento de salários retidos, férias em cujo processo, julgado extinto com
dobro, 13? salários, horas extras e base na assinalada inépcia. É, nada
aviso-prévio, além do FGTS, ao fun- mais, nada menos, o que resulta das
damento de que _ a sua dispensa prescrições do art. 145, itens II e III
baseou-se em conclusões de inquéri- do. Código Civil Brasileiro» (fls. 205).
to administrativo inadequado, eis
que era contratado pelO regime da Recorreu o reclamante, insistindo
CLT. Além disso, o inquérito se es- em que, sendo nulo o processo admi-
tendeu desde 1970 até abril de 1972, e nistrativo para a apuração das faltas
durante todo esse tempo o reclaman- cometidas por funcionários e empre-
te permaneceu afastado de suas fun- gados celetistas, não corre a prescri-
ções, sem perceber salários, quando ção.
a suspensão não poderia ser superior Contra-arrazoou a autarquia recla-
a 30 dias. mada~ com a adesão da Subprocura-
Sustentou ainda o reclamante que, doria-Geral da República.
tendo proposto ação de reintegração É o relatório.
de posse, por considerar-se funcioná-
rio público, foi o processo respectivo VOTO
julgado extinto pelo Juiz Federal. O O Sr. Ministro Carlos Madeira
recurso dessa decisão foi julgado (Relator): As causas que impedem,
nesta Corte em outubro de 1975. Des- suspendem ou interrompem a pres-
se modo,· não ocorre a prescrição da crição, previstas no Código Civil, são
ação trabalhista, proposta em no- aplicáveis no Direito do Trabalho,
vembro de 1976, eis que o seu direito uma vez que a Consolidação delas
era objeto de procedimento judicial. não tratou. É o que anota Mozart
Em audiência, contestou o DNER, Victor Russomano, no Comentário
argüindo a prescrição, eis que a ao art. 11 da CLT.
258 TFR - 71

Desse modo, a citação da autar- nistraçâo pública, não tendo o em-


quia para a ação ordinária, inter- pregado as garantias da estabilida-
rompeu a prescrição da ação traba- de, o inquérito administrativo tem
lhista do reclamante, segundo o art. eficácia bastante para determinar a
172, I, do Código Civil. Mas, por ser dispensa, em face da falta apurada.
mais favorável ao empregado, apli- A existência de servidores em re-
cável é na espécie a regra do art. 173 gimes jurídicos diferentes não im-
do Código: porta em utilização de procedimen-
tos diferentes para apuração de fal-
«A prescrição interrompida re- tas comuns, a não ser na exceção
começa a correr da data do ato acima mencionada. É que o que está
que a interrompeu, ou do último sob apuração é a conduta funcional,
do processo para a interromper.}) não a qualidade dos indiciados.
O acórdão que confirmou a senten- Portanto, não há nulidade alguma
ça de extinção do processo da ação em que, no mesmo inquérito, se apu-
ordinária movida pelo reclamante é rem faltas de servidores estatutários
de outubro de 1975 e dele se há de e celetistas não estáveis, e que, com
contar a prescrição da ação traba- base na apuração feita, se dispen-
lhista. Esta foi proposta em I? de de- sem estes ou demitam aqueles.
zembro de 1976, dentro do biênio No caso concreto, o reclamante
prescricional . não logrou, no processo trabalhista,
Não dou, assim, pela prescrição, desfazer as acusações de atos de im-
tal como concluiu o douto Juiz a quo. probidade cometidos na função de
patrulheiro rodoviário. Não há como
Mas a reclamação não procede. desacolher a alegação de justa cau-
A argumentação do reclamante é sa.
de que sua dispensa tem origem em E quanto aos salários de 1970 a
inquérito administrativo nulo. E essa 1972, a documentação de fls. 24 a 43
nulidade residiria em que o procedi- prova o seu depósito na conta bancá-
mento é inadequado para apurar fal- ria do reclamante.
tas dos empregados celetistas, de Não fez o reclamante, outrossim,
mistura com funcionários estatutá- prova das horas extras trabalhadas,
rios. pelo que não pOdem ser tidas como
Cabe o inquérito administrativo devidas.
para apuração de falta de,qualquer A reclamação é, portanto, impro-
servidor. Apenas em relação ao em- cedente, e com esse fundamento con-
pregado celetista estável é que se há firmo a sentença.
de mover o inquérito judicial previs-
to na CLT. Mas, no âmbito da admi- Nego provimento ao recurso.
PROVIMENTOS DO CONSELHO
DA JUSTIÇA FEDERAL

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