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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2019.0000500614

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº


0385407-86.2009.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante
FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, são agravados MARIA FLORA
LEITE SANTOS GOUVEA DE OLIVEIRA, ANTONIO JOSE GOUVEA DE
OLIVEIRA, MARIA CANDIDA LIMA GOUVEA DE OLIVEIRA, MARIA
APARECIDA GOUVEA DE OLIVEIRA DUFRESNE DE LA CHAUVENIERE e
JACQUES PIERRE LEON DONATIEN DUFRESNE DE LA CHAUVENIERE.

ACORDAM, em 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Recurso restituído à Egrégia
Presidência da Seção de Direito Público, nos termos do art. 1.041, caput, do CPC.
V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


MAGALHÃES COELHO (Presidente sem voto), EDUARDO GOUVÊA E
COIMBRA SCHMIDT.

São Paulo, 24 de junho de 2019.

LUIZ SERGIO FERNANDES DE SOUZA

RELATOR

Assinatura Eletrônica
Voto nº 15524
Agravo de Instrumento nº 0385407-86.2009.8.26.0000
Comarca de São Paulo
Agravante: Fazenda do Estado de São Paulo
Agravado: Maria Flora Leite Santos Gouvea de Oliveira e outros.

AGRAVO DE INSTRUMENTO Devolução


dos autos em cumprimento à regra do artigo
1.040, II, do CPC Recurso Extraordinário nº
590.751/SP que se revela como paradigma do
entendimento de que a regra do artigo 78 do
ADCT afasta a incidência de juros sobre as
parcelas de que trata referida moratória
constitucional, desde que pagas até o vencimento
Adequação do v. acórdão aos termos da
orientação do STF segundo a qual os juros de
mora somente incidem se as parcelas não forem
honradas a tempo Recurso restituído à Egrégia
Presidência da Seção de Direito Público, nos
termos do art. 1.041, caput, do CPC.

Vistos, etc.

Cuida-se de agravo de instrumento interposto pela


Fazenda do Estado contra decisão que, nos autos de execução de
sentença de desapropriação, reconheceu a insuficiência de pagamento,
ao tempo em que determinou a intimação da agravante para que
procedesse à complementação, com a incidência dos juros moratórios,
da ordem de 1% ao mês. O recurso foi improvido (fls. 666 a 675 e 693 a
716).

Inconformada com o desfecho, a agravante interpôs


Recurso Especial e Recurso Extraordinário. Ocorre que, com o
julgamento do paradigma Recurso Extraordinário nº 590.751/SP ,
oportunidade na qual o Supremo Tribunal Federal, concluindo que o
artigo 78 do ADCT tem a mesma mens legis do artigo 33, orientou-se
no sentido de que, calculado o precatório pelo valor real do débito,
acrescido de juros legais, estes não mais incidiriam sobre as parcelas
anuais, iguais e sucessivas, desde que tempestivamente adimplidas, a E.
Presidência da Sessão de Direito Público remeteu os autos a esta E.
Câmara para os termos do artigo 1.040, II, do Código de Processo Civil.

É o relatório.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra


decisão, proferida nos autos de ação de desapropriação, em fase de
execução, que reconheceu a existência de saldo credor em favor dos
exequentes, sob o fundamento de que a regra do artigo 78 da ADCT,
diferentemente do que ocorre com a norma do artigo 33, não contempla
“perdão ou redução do valor da dívida”, recurso este improvido.

É certo que a agravada argumenta com o fato de


que a questão relativa à incidência de juros de mora já se encontrava
superada no momento da interposição do agravo de instrumento, razão
por que defende que a agravante teria ampliado indevidamente os
limites da controvérsia, a qual se resumia à discussão acerca da
possibilidade de compensação de juros de mora já pagos.

Fato é, porém, que o agravo de instrumento foi


julgado naqueles termos, achando-se esta E. Câmara adstrita aos limites
da regra do artigo 1.040, II, do Código de Processo Civil. Em outras
palavras, o Órgão Colegiado haverá de dizer apenas e tão-só se o v.
acórdão, proferido em sede de Agravo de Instrumento, está ou não de
acordo com o paradigma fixado pela Corte Constitucional.

De fato, diante do julgamento do Recurso


Extraordinário nº 590.751/SP, os autos foram devolvidos à Turma
Julgadora para eventual adequação ou manutenção da decisão proferida,
ocorrendo dizer que o v. acórdão, prolatado por esta E. 7ª Câmara de
Direito Público, em que figurou como Relator o Eminente
Desembargador Guerrieri Rezende, julgou em desacordo com os termos
do referido pronunciamento da Suprema Corte.

Cabe citar, a propósito, para melhor compreensão,


trecho do v. acórdão desta E. 7ª Câmara de Direito Público:

“(...) A situação regulada pelo artigo 78 do Ato das


Disposições Transitórias é totalmente diferente daquela
regulada pelo seu artigo 33. Na segunda moratória,
introduzida pelo artigo 78, não há qualquer intenção no
sentido de consolidação de dívida pendente. O que
houve foi somente autorização para que o pagamento
fosse parcelado, porém de forma integral. Não houve
qualquer menção sobre os juros remanescentes ou
qualquer outra referência que possibilitasse a exclusão
destes, quer moratórios, quer compensatórios. Ao
contrário, determina-se o pagamento em 10 parcelas
pelo 'valor real', incluindo-se os juros legais. E, tratando-
se de desapropriação, os juros legais são aqueles
previstos na respectiva Lei expropriatória, que concede
a possibilidade de inclusão dos juros compensatórios e
moratórios. (...)” (fls. 696).

Diferentemente do que se decidiu no julgamento do


Agravo de Instrumento, segundo o paradigma objeto do julgamento do
RE 590.751/SP (Tema nº 132), durante o período da moratória de que
trata a regra do artigo 78 do ADCT, não incidem juros de mora nas
parcelas, desde que adimplidas a tempo e corrigidas monetariamente:

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. PRECATÓRIO.


ART. 78 DO ADCT, INTRODUZIDO PELA EC
30/2000. INCIDÊNCIA DE JUROS
COMPENSATÓRIOS E MORATÓRIOS NAS
PARCELAS SUCESSIVAS. INADMISSIBILIDADE.
ART 5º, XXIV E XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA JUSTA
INDENIZAÇÃO. NECESSIDADE DE REEXAME DE
PROVA. OFENSA REFLEXA. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 279 DO STF. RE PARCIALMENTE
PROVIDO.

I - O art. 78 do ADC possui a mesma mens legis que o


art. 33 deste Ato, razão pela qual, uma vez calculado o
precatório pelo valor real do débito, acrescido de juros
legais, não há mais falar em incidência destes nas
parcelas anuais, iguais e sucessivas em que é
fracionado, desde que adimplidas a tempo e corrigidas
monetariamente.

II Não se mostra possível, em sede de recurso


extraordinário, examinar a alegação de ofensa ao
princípio da justa indenização, abrigado no art. 5º,
XXIV, da Constituição Federal, diante do que dispõe a
Súmula 279 do STF.

III - A discussão acerca dos limites objetivos da coisa


julgada, ademais, constitui matéria de legislação
ordinária, que não dá ensejo à abertura da via
extraordinária.

IV - Recurso extraordinário parcialmente provido.”

No caso em exame, verifica-se, a fls. 310, 333, 364,


377, 406, 422, 433e 493, a inexistência de atraso no pagamento das oito
primeiras parcelas. E, segundo consulta ao DEPRE Diretoria de
Execução de Precatórios, a nona parcela também foi paga
tempestivamente, em 28/12/2009, não havendo de se argumentar com
atraso decorrente do não pagamento da décima parcela, à vista da
Emenda Constitucional nº 62, que entrou em vigor em 10/12/2009, a
qual instituiu o regime especial de pagamento de precatórios,
cumprindo observar ainda que, em 30/07/2018, realizou-se o pagamento
do valor restante do precatório sob a nova sistemática.

Tampouco se argumente com a insuficiência dos


pagamentos em decorrência do entendimento, adotado pelo juízo a quo,
no sentido de que os juros moratórios, a partir do Código Civil de
2.002, haveriam de incidir à taxa de 1% ao mês. Com efeito, o Superior
Tribunal de Justiça deu provimento ao Recurso Especial nº 1.435.800,
interposto pela Fazenda do Estado, para reconhecer que os juros de
mora são devidos à razão de 6% ao ano, a partir do trânsito em julgado
(observado o decidido no julgamento dos Embargos de Declaração,
publicado em 12/09/2017, e do Agravo Interno nos Embargos de
Declaração, publicado em 22/11/2017).

Quanto aos juros compensatórios, diga-se que, no


curso do julgamento do RE 590.751/SP, ficou clara a posição dos
Ministros, inclusive nos “votos vencidos” (exceção feita ao voto do
Min. Marco Aurélio), no sentido de que a incidência dos juros
compensatórios, em qualquer hipótese, haveria de ser afastada,
consolidando-se eles no período anterior à moratória.

Vê-se, pois, que comporta adequação, o v. acórdão,


tratando-se de ajustá-lo ao julgamento proferido no RE nº 590.751/SP,
pelo Supremo Tribunal Federal.

Em resumo, não incidem juros de mora nem juros


compensatórios durante o período da moratória instituída pela regra do
artigo 78 do ADCT.

Nestes termos, observada a regra do artigo 1.041,


caput, do Código de Processo Civil, cumpre adequar a decisão proferida
no Agravo de Instrumento nº 0385407-86.2009.8.26.0000 que negou
provimento ao recurso da Fazenda Estadual , ao que determino a
restituição dos autos à Egrégia Presidência da Seção de Direito Público
desta Corte para o que entender de direito.

LUIZ SERGIO FERNANDES DE SOUZA


Relator

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