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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara dos Feitos

Relativos às Relações de Consumo, Cíveis e Comerciais da Comarca


de Bom Jesus da Lapa – BA.

Processo nº. 8000945-27.2015.8.05.0027

BANCO BRADESCO S/A, qualificado nos autos


supra, alusivos à Ação de Execução de Título Extrajudicial
proposta em desfavor de ROBSON MUNARI – ME e outro,
igualmente qualificados, tomando conhecimento da r. sentença
proferida nos autos em epígrafe, vem, tempestivamente, por seus
advogados signatários, com o habitual respeito e acatamento, à
presença de Vossa Excelência para, com a devida vênia, com base
nos artigos 1.009 e seguintes do Código de Processo Civil, da
mesma apelar para o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da
Bahia, para o que oferece as presentes RAZÕES DE APELAÇÃO,
requerendo o seu recebimento e remessa àquela tribunal de justiça,
a fim de que sejam por ele processadas. Requer, ainda, a juntada
aos autos da comprovação de preparo do presente recurso (doc. 01).

Termos em que,
Pede deferimento.

Bom Jesus da Lapa - Bahia, 13.12.2016.

PAULO ROCHA BARRA MÁRCIA E. S. N. BARRA


OAB/BA 9.048 OAB/BA 15.551

RAZÕES DE APELAÇÃO
RECORRENTE: BANCO BRADESCO S/A

RECORRIDOS: ROBSON MUNARI – ME; ROBSON MUNARI.

RECURSO: APELAÇÃO CÍVEL.

PROCESSO: 8000945-27.2015.8.05.0027

EMÉRITOS DESEMBARGADORES,

I – DA TEMPESTIVIDADE DO PRESENTE
RECURSO.

Inicialmente, cumpre salientar que o banco


apelante teve ciência da sentença recorrida através de
publicação disponibilizada através do Diário da Justiça
Eletrônico no dia 12/12/2016. Portanto, o início da contagem
do prazo se deu em 14/12/2016, segundo o Código de
Processo Civil, art. 231, VII, que considera como data de
início da contagem do prazo o dia útil seguinte à publicação.

Desta forma, considerando-se o prazo de 15


(quinze) dias para a interposição do apelo, bem como o recesso
forense, a contagem iniciou-se no dia 14/12/2016, findando em
23/01/2017. Logo, é tempestivo o presente recurso.

II- DOS FATOS

Em síntese, trata-se de Ação de Execução ajuizada


pelo Recorrente pretendendo obter o pagamento do crédito
exequendo, que totaliza R$21.123,41 (vinte e um mil, cento e
vinte e três reais e quarenta e um centavos), gerado pelo
inadimplemento da CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO –
Empréstimo – Capital de Giro nº. 008.082.911, emitida em
23/05/2014, no valor originário de R$31.402,65 (trinta e um mil,
quatrocentos e dois reais e sessenta e cinco centavos).
No curso da demanda, visando a liquidação da
dívida, as partes celebraram acordo (ID nº 1898501), por meio do
qual avençaram em renegociá-la pela importância de R$20.960,00
(vinte mil, novecentos e sessenta reais), a serem pagos nos seguintes
termos: 2.600,00 (dois mil e seiscentos reais) de entrada e o
remanescente, R$18.360,00 (dezoito mil, trezentos e sessenta reais),
em 24 (vinte e quatro) parcelas mensais, iguais e consecutivas, a
primeira com vencimento 30 (trinta) dias após o recolhimento das
assinaturas e as demais nas mesmas datas, nos meses
subsequentes.

Constou, ainda, do referido acordo que deveria ser


homolagada a avença e determinada a suspensão da execução, a
qual deveria perdurar até a data em que fossem cumpridas as
obrigações contraídas pelos Executados ora Apelados.

As partes avençaram também que o


descumprimento do acordo retro mencionado seria imediatamente
denunciado nos autos pelo Exequente ora Apelante e ensejaria o
imediato prosseguimento do feito e exigibilidade total da dívida, nos
termos declinados na inicial, havendo-se como mera amortização da
dívida quaisquer valores que já houvesse sido pagos.

Todavia, inusitadamente, o juízo a quo entendeu


não ser possível suspender a Execução, aduzindo que a formalização
de acordo objetivaria a resolução do mérito e a extinção do processo;
razão pela qual proferiu sentença de extinção do processo, nos
seguintes termos:

“O pleito de suspensão, entretanto, não merece


prosperar, vez que a homologação do acordo
faz nascer novo título executivo, sendo certo
que o não cumprimento do acordo dará azo à
utilização do instituto do cumprimento de
sentença.
Isto posto, com base na fundamentação supra,
homologo por sentença, com fundamento no
artigo 487 inciso III, b, do CPC/2015, para que
produza seus jurídicos e legais efeitos, o
acordo firmado entre as partes, extinguindo o
feito executivo”.
Todavia, a referenciada sentença merece ser
reformada, na forma das presentes Razões de Apelação. Veja-se:

III – RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO


EXTINTIVA PROFERIDA PELO JUÍZO DE
PRIMEIRO GRAU: LEGALIDADE DA SUSPENSÃO
DA EXECUÇÃO ATÉ O INTEGRAL
CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO PACTUADA.

O juízo a quo, tendo observado que as partes


formalizaram acordo nos autos, considerou que o pacto acordado
para cumprimento da obrigação satisfaria o pleito executivo,
extinguindo-o com resolução do mérito, com supedâneo no art. 487,
III, do CPC.

A decisão guerreada aduz não que caberia o


pedido de suspensão do processo depois de resolvida a demanda
com resolução de mérito, com a finalidade de aguardar eventual
descumprimento de transação, pois o artigo 921, I c/c o art. 313, II,
ambos do CPC, preveem a possibilidade das partes, por convenção,
suspenderem o processo para buscarem a composição e não após a
composição.

Consigna o decisum guerreado que a homologação


do acordo faz nascer novo título executivo, sendo que o não
cumprimento do acordo acarretaria na utilização do instituto do
cumprimento de sentença.

Entretanto, as razões suscitadas pelo magistrado


“a quo” para extinguir o feito executivo são, com a devida vênia,
equivocadas.

Ora, o requerimento formulado pelas partes no


acordo celebrado no bojo da Execução encontra absoluto amparo
legal, conforme se verifica do art. 922 do CPC o qual, inclusive,
refere-se especificamente aos processos de execução. Veja-se:

Art. 922. Convindo as partes, o juiz declarará


suspensa a execução durante o prazo
concedido pelo exequente para que o
executado cumpra voluntariamente a
obrigação.
Parágrafo único.  Findo o prazo sem
cumprimento da obrigação, o processo
retomará o seu curso.”

Ora, a leitura dos termos da petição de acordo


formalizada nos autos, não deixa qualquer dúvida de que se trata de
acordo para pagamento parcelado da dívida exequenda. Logo, o
pedido de suspensão da execução até o efetivo cumprimento da
obrigação avençada está regularmente amparado pelo texto legal
supratranscrito, não existindo razão para que o magistrado alegue
que as partes buscam que seja criada uma “nova categoria de
decisão judicial”.

Oportuno registrar que as partes, no tópico 7 (sete)


do acordo celebrado, se resguardaram para o caso de um eventual
descumprimento, prevendo que o inadimplemento ensejaria a
imediata exigibilidade do total da dívida, com imediato
prosseguimento da presente Ação de Execução. Tal pedido encontra
perfeito amparo no parágrafo único do art. 922 do CPC, segundo o
qual, “findo o prazo sem cumprimento da obrigação, o processo
retomará o seu curso”.

O embasamento legal retro mencionado é


corroborado pela jurisprudência pátria, a qual se posiciona,
unanimemente, no sentido de que a Execução não deve ser extinta
até que o acordo seja integralmente cumprimento. A exemplo
colacionamos os julgados abaixo:

“EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL –


CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO (EMPRÉSTIMO
PESSOAL) – EXTINÇÃO DO FEITO APÓS
HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO REALIZADO
ENTRE AS PARTES, NOS TERMOS DO ART. 794,
II DO CPC – Hipótese dos autos em que ainda
não houve a satisfação da obrigação pelo
executado – Extinção afastada, para declarar
a suspensão do feito até o cumprimento
integral da obrigação, nos termos do art. 792
do CPC. Recurso provido. (Relator(a): Denise
Andréa Martins Retamero; Comarca: Marília; Órgão
julgador: 15ª Câmara de Direito Privado; Data do
julgamento: 16/08/2016; Data de registro:
30/08/2016) (Grifos nosso).

“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXTINÇÃO DA


EXECUÇÃO. ACORDO HOMOLOGADO.
SUSPENSÃO ATÉ O CUMPRIMENTO DO
ACORDO. INTELIGÊNCIA DO ART. 792, CPC. 1.
Apresentado acordo nos autos da execução
para homologação judicial e requerendo as
partes a suspensão do feito até o cumprimento
da obrigação pelo devedor, a execução não
deve ser extinta com base no art. 269, III, CPC.
2. Objetiva a suspensão do processo, conforme
disciplina o parágrafo único do art. 792, CPC,
a retomada da execução em caso de não
cumprimento da obrigação, no prazo
concedido. 3. Apelação conhecida e provida.
(TJ-DF - APC: 20130111805805, Relator: CARLOS
RODRIGUES, Data de Julgamento: 12/08/2015,
6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no
DJE : 18/08/2015 . Pág.: 213). (Grifos e
destaques nossos).

“AÇÃO DE EXECUÇÃO - ACORDO - SUSPENSÃO


DA EXECUÇÃO ATÉ FINAL CUMPRIMENTO -
POSSIBILIDADE - ART. 792, CDC - EXTINÇÃO
INDEVIDA - SENTENÇA ANULADA. A
possibilidade de suspensão da execução até
final cumprimento do acordo celebrado,
segundo inteligência do art. 792 do CPC,
mostra-se pertinente nas hipóteses em que não
houve pagamento e nem novação da dívida,
sendo incabível a extinção. Ao admitir a
possibilidade da extinção da execução e não a
sua suspensão, estar-se-ia impondo à parte a
necessidade de ajuizamento de outra ação para
execução do acordo celebrado, o que, data
venia, atenta contra os princípios da economia
e celeridade processual”. (TJ-MG - AC:
10611110020314001 MG, Relator: Estevão
Lucchesi, Data de Julgamento: 09/07/2015,
Câmaras Cíveis / 14ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 17/07/2015). (Grifamos e
destacamos).

“APELAÇÃO CÍVEL. LOCAÇÃO. EXECUÇÃO DE


TÍTULO EXTRAJUDICIAL. ACORDO.
PARCELAMENTO DA DÍVIDA. SUSPENSÃO DA
EXECUÇÃO. EXTINÇÃO DO FEITO DEPENDE
DO CUMPRIMENTO DO ACORDO, O QUE NÃO
OCORREU NO CASO. ART. 792 DO CPC DE
1973, REPRODUZIDO PELO ART. 922 DO NCPC.
APELAÇÃO PROVIDA. UNÂNIME”. (Apelação
Cível Nº 70069464949, Décima Sexta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo
Sérgio Scarparo, Julgado em 01/09/2016).
(Destacamos).
“EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.
DUPLICATAS. CASO CONCRETO. MATÉRIA DE
FATO. HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO
CELEBRADO ENTRE AS PARTES PARA
PAGAMENTO PARCELADO DO DÉBITO.
HIPÓTESE QUE RECOMENDA A APLICAÇÃO DA
REGRA DO ART. 792 DO CPC/73 (ART. 922,
CPC/2015), COM A SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO.
APELO PROVIDO. (Apelação Cível Nº
70069613420, Décima Quinta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vicente
Barrôco de Vasconcellos, Julgado em
24/08/2016). (Negritamos).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE


TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CELEBRAÇÃO DE
ACORDO ENTRE AS PARTES. EXTINÇÃO DO
FEITO PELO JUÍZO A QUO. IMPOSSIBILIDADE.
NECESSIDADE DE SUSPENSÃO DO FEITO.
EXEGESE DO ART. 792 DO CPC. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 16ª C.Cível -
AC - 1481486-7 - São José dos Pinhais - Rel.:
Vania Maria da S Kramer - Unânime - - J.
03.08.2016) (Negritamos).
Com efeito, suspensa a execução, o
inadimplemento do acordo acarreta tão somente o seu
prosseguimento com a dedução das parcelas já pagas, sendo
incabível a sua extinção, consoante equivocadamente supôs o
magistrado a quo, ao argumento de que não haveria base legal que
permitisse a homologação do acordo sem extinção do feito.

Consoante explicitado, há disposição legal


específica para tanto, qual seja o art. 922, do CPC/2015, cuja
inteligência é corroborada pelos princípios da economia e celeridade
processuais.

Observe-se que o acordo celebrado nos autos não


teve a intenção de novar, hipótese em que, havendo
descumprimento do avençado, a execução deve prosseguir com
base no título original.

Ademais, não se pode deixar de considerar que o


processo pode ser suspenso por convenção das partes pelo mero
direito subjetivo que têm de o fazer, bastando para tanto a simples
comunicação ao juízo, não havendo necessidade sequer de
declinarem o motivo, haja vista tratar-se de direito exercível
imotivadamente, consoante ensina-nos Nelson Nery Jr. in Código de
Processo Civil Comentado, 16ª edição, editora RT, ao comentar o art.
313, II, do CPC.

Assim, a sentença guerreada não pode subsistir,


sob pena de afronta ao artigo 922, do CPC/2015, bem como aos
princípios da celeridade e economia processuais.

Observe-se que o magistrado “a quo” ao extinguir o


feito executivo o fez sem que houvesse requerimento das partes a
esse respeito, haja vista ter sido requerida a suspensão da execução
até o cumprimento integral do acordo formalizado. Portanto, o
magistrado decidiu além do quanto pedido pelas partes.

Por tais razões, deverá ser reformada a sentença


recorrida, uma vez que a extinção do processo se deu pelo
entendimento do juízo a quo de que não poderia ocorrer a suspensão
da Ação de Execução por superveniência de acordo firmado entre as
partes, restando, contudo, por meio das presentes razões de
apelação, comprovada possibilidade de sobrestamento do feito até
eventual cumprimento das obrigações pactuadas.
IV- DO PREQUESTIONAMENTO

Consoante determina o art. 105, III, “a”, da


Constituição Federal da República:

“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de


Justiça:

...

III - julgar, em recurso especial, as causas


decididas, em única ou última instância, pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-


lhes vigência;

...”

No caso dos autos, ao proferir a sentença apelada


o magistrado a quo contrariou e negou vigência ao artigo 922, do
CPC/2015, na medida em que ignorou sua existência e
aplicabilidade para efeito de suspensão da ação de execução até que
fosse cumprido o acordo formalizado nos autos. Negando vigência
também aos Princípios da Celeridade e Economia Processuais.

Desta forma, visando a prevenção de direitos


futuros, sustenta o Apelante a contrariedade e negativa de vigência
de lei federal e princípios basilares de direito, nos termos acima
expedidos, ficando a matéria, desde já, prequestionada para todos os
fins de direito e, sobretudo, para eventuais hipóteses de recursos
extraordinários.

V – DA CONCLUSÃO

Por todo o exposto, requer:

a) seja recebida em seu duplo efeito, conhecida e


provida a presente Apelação, declarando-se a reforma da sentença
guerreada por erro in judicando, determinando-se, em consequência,
que o processo de execução retome ao seu curso normal, pelo que se
fará a mais lídima e salutar JUSTIÇA!

b) Requer, ainda, para fins de


PREQUESTIONAMENTO, a emissão de posicionamento expresso
deste Egrégio Tribunal a respeito das matérias Infraconstitucionais
aqui suscitadas, especificamente o art. 922 do CPC/2015 e
Princípios da Celeridade e Economia Processual, condição sine qua
non para o aviamento de recurso às instâncias superiores.

Termos em que,
Pede deferimento.

Bom Jesus da Lapa - BA, 19.12.2016.

PAULO ROCHA BARRA MÁRCIA E. S. N. BARRA


OAB/BA 9.048 OAB/BA 15.551

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