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Excelentíssimo (a) Senhor (a) Doutor (a) Juiz (a) de Direito da 15ª Vara do

Sistema dos Juizados Especiais do Consumidor da Comarca Salvador –


BA.

Autos n° 0084388-22.2017.8.05.0001

BANCO BRADESCO S/A, devidamente


qualificado nos autos da AÇÃO REVISIONAL DE ENCARGOS
FINANCEIROS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO que lhe move ROGÉRIO
RIBEIRO DOS SANTOS e outra, igualmente qualificados, inconformado
com a sentença proferida no Evento 25 do Sistema Projudi, vem, por
intermédio de seus advogados signatários, à presença de Vossa Excelência
para, com a devida vênia, interpor tempestivamente o presente RECURSO
INOMINADO, nos termos das razões anexas, requerendo se digne este MM
juízo recebê-las e ordenar o seu processamento como de praxe.

Requer, ainda, a juntada aos autos da


comprovação de preparo do presente recurso (doc. 01).

Termos em que,
pede deferimento.

Salvador - BA, 05 de setembro de 2017.

PAULO ROCHA BARRA MÁRCIA E. S. N. BARRA


OAB/BA 9.048 OAB/BA 15.551
RAZÕES AO RECURSO INONIMADO

JUÍZO: JUIZADO ESPECIAL DO CONSUMIDOR DE


SALVADOR - BA.

PROCESSO: 0084388-22.2017.8.05.0001.

RECORRENTE: BANCO BRADESCO S.A.

RECORRIDO: LUCAS DIAS DE SOUZA.

Excelso Tribunal,

Colenda Turma,

I – DA TEMPESTIVIDADE DO PRESENTE
RECURSO.

O presente recurso é tempestivo tendo em vista


que o Recorrente foi intimado da sentença proferida no Evento 25 do
Sistema Projudi em 05/11/2017, iniciando-se o prazo em 06/11/2017 e
findando-se em 16/11/2017.

II- DOS FATOS

Alega o Recorrido ter formalizado junto ao Banco


Recorrente uma Cédula de Crédito Bancário – Empréstimo Consignado
(Setor Público – Refinanciamento) n°. 310.604.118 em 23/08/2016, no
valor originário de R$16.807,08 (dezesseis mil, oitocentos e sete reais
e oito centavos), tendo ajustado o pagamento em 72 (setenta e duas)
parcelas iguais e sucessivas, no valor de R$482,97 (quatrocentos e oitenta
e dois reais e noventa e sete centavos), com o primeiro vencimento em
30/08/2016 e o último em 31/08/2022.

A parte Requerida alegou que o referido débito


supostamente possui vícios com relação à forma, legalidade e legitimidade
das suas cláusulas. De igual modo, objetivava ser ressarcida em dobro
por valores supostamente pagos à mais.
Neste diapasão, o MM Juízo a quo julgou
parcialmente procedente a ação, nos seguintes termos:

“Assim sendo, diante da doutrina e da


jurisprudência apresentada e com fulcro no teor do
artigo 487, inciso I do NCPC, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTE os pedidos
constantes na exordial, para determinar que a Ré
proceda com a amortização dos juros e encargos,
aplicando o percentual mensal de 1,75% ao mês, a
todas as parcelas do contrato formulado,
oportunidade em que deverá proceder com a
restituição, dos valores a título de saldo positivo
após o mencionado cálculo, caso hajam, a incidir
juros e correções legais nos termos do artigo 397
do CC c/c Súmula 43 do STJ, a contar do
desembolso de cada parcela, no prazo de 10 (dez)
dias sob pena de multa diária na qual arbitro em
R$50,00 (cinquenta reais), em caso de
descumprimento nos termos do artigo 536,§1º do
CDC, c/c artigo 84,§4º do CDC, sem prejuízo das
demais culminações legais. ”

Em que pese o entendimento do MM Juízo a quo,


a sentença merece ser reformada, conforme passamos a demonstrar.

III – DA INEXISTÊNCIA DE EXCESSOS NA


CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO –
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO (SETOR PÚBLICO
– REFINANCIAMENTO) N°. 310.604.118

O MM Juízo a quo entendeu que existiriam


excessos nas cláusulas entabuladas na operação formalizada pelo
Recorrido junto ao Banco Recorrente, decidindo por aplicar a suposta taxa
média de 1,75% a.m. ao contrato ora discutido.

Vale ressaltar, contudo, que os encargos financeiros


incidentes sobre as operações de créditos firmadas com Instituições
Financeiras, como o caso presente, são arbitrados pelo Governo Federal,
através do Conselho Monetário Nacional. Assim, o Banco/Requerido não
criou nenhuma cláusula alternativa ou ao arrepio da lei, ou
unilateralmente em seu benefício, como afirma a parte Requerida.

Desde a vigência do contrato em comento incidiram


juros e encargos legais, expressamente anuídos pela parte Requerida.
A Lei 4.595/64, que dispõe sobre a Política e as
Instituições Monetárias e Creditícias, criou o Conselho Monetário Nacional
e determinou suas competências em seu art. 4º, dentre as quais, as
mencionadas no inciso IX, que assim giza:

"Art. 4º - Compete ao Conselho Monetário Nacional,


segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente
da República:

(...)

IX - limitar, sempre que necessário, as taxas de


juros, descontos, comissões e qualquer outra
forma de remuneração de operações e serviços
bancários ou financeiros, inclusive os prestados
pelo Banco Central do Brasil..."

Por sua vez, as normas operacionais de instituições


financeiras, instituídas pelo Conselho Monetário Nacional, em seu
Capítulo I, Seção 1, Item 11, autorizam por intermédio da Resolução
1.064 do Banco Central, a cobrança de taxas de juros livremente
pactuadas, "in verbis":

“11 - Na realização das operações ativas os


bancos múltiplos com carteira comercial, de
investimento e/ou de desenvolvimento, bancos
comerciais, bancos de investimento e bancos de
desenvolvimento devem observar que:

a) as taxas de juros são livremente pactuadas;"

Assim, devidamente autorizado, o Banco Central do


Brasil, por meio da Resolução 1.064, estipulou no item I, o seguinte:

"I - Ressalvado o disposto no item III, as operações


ativas dos bancos comerciais, de investimento e de
desenvolvimento serão realizadas a taxas de juros
livremente pactuáveis".

Portanto, uma cadeia de dispositivos legais faz da


Cédula de Crédito Bancário – Empréstimo Consignado (Setor Público –
Refinanciamento) n°. 310.604.118, plenamente legal em todo o seu teor,
sendo incabíveis e inoportunas as alegações de excessiva onerosidade.
Por sua vez, a estipulação da taxa de juros
remuneratórios do contrato depende de muitos parâmetros e variantes,
motivo pelo qual a taxa média de mercado não deriva de uma orientação
do Banco Central para as instituições financeiras. Desta forma, o Banco
Central não determina qual será a taxa de juros praticada, divulgando
apenas uma média praticada em determinado período.

Corrobora o alegado, informações gerais, sobre o tema,


extraídas do sitio eletrônico do Banco Central do Brasil, vejamos:

“As taxas de juros apresentadas nesse conjunto de


tabelas correspondem a médias aritméticas
ponderadas pelos valores das operações
contratadas nos cinco dias úteis referidos em
cada tabela. Essas taxas representam o custo
efetivo médio das operações de crédito para os
clientes, composto pelas taxas de juros
efetivamente praticadas pelas instituições
financeiras em suas operações de crédito,
acrescida dos encargos fiscais e operacionais
incidentes sobre as operações.

As taxas de juros apresentadas correspondem à


média das taxas praticadas nas diversas
operações realizadas pelas instituições
financeiras, em cada modalidade. Em uma mesma
modalidade, as taxas de juros podem diferir entre
clientes de uma mesma instituição financeira.
Taxas de juros variam de acordo com fatores
diversos, tais como o valor e a qualidade das
garantias apresentadas na operação, a proporção
do pagamento de entrada da operação, o histórico
e a situação cadastral de cada cliente, o prazo da
operação, entre outros.”
(fonte: http://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/c/txjuros/1)

Sendo assim, a utilização da taxa média de mercado


divulgada pelo Banco Central é admitida apenas como parâmetro para a
apuração da legalidade ou abusividade da taxa de juros remuneratórios.

Neste diapasão, o Superior Tribunal de Justiça quando


do julgamento do REsp n. 1.061.530/RS, pacificou o entendimento de
que somente será reconhecida a abusividade dos juros pactuados se a
taxa estipulada for uma vez e meia (1,5) superior à média daquela
praticada no mercado. Neste sentido:
“APELAÇÃO CÍVEL – REVISIONAL DE CONTRATO
BANCÁRIO – SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA –
RECURSO DO AUTOR - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE
JUROS – SÚMULAS 539 E 541 DO STJ - LEGALIDADE
– LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS –
IMPOSSIBILIDADE – ABUSIVIDADE NÃO
CONSTATADA - PRECEDENTES DO STJ –
CARACTERIZAÇÃO DA MORA – SENTENÇA MANTIDA
– RECURSO DESPROVIDO. No julgamento do REsp nº.
973.827/RS, processado nos termos do art. 543-C do
CPC, além de se permitir a cobrança da capitalização
de juros em periodicidade inferior à anual nos
contratos celebrados após 31/03/2000, desde que
expressamente pactuada, decidiu-se que “a previsão no
contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a
cobrança da taxa efetiva anual contratada”. Súmulas
539 e 541 do STJ. O Superior Tribunal de Justiça,
quando do julgamento do Recurso Especial nº
1.061.530/RS, conforme voto da Ministra Nancy
Andrighi, no qual se aplicou a sistemática do art.
543-C do CPC, pacificou o entendimento de que
somente será reconhecida a abusividade dos juros
pactuados se a taxa estipulada for superior uma vez
e meia, ao dobro ou ao triplo da média daquela
praticada no mercado. “Somente a verificação da
abusividade dos encargos contratuais previstos para o
período da normalidade contratual tem o condão de
afastar a mora.” (REsp nº. 1.061.530/RS) Portanto, no
caso dos autos, não havendo cláusula abusiva no
período da normalidade conferida pelo julgamento da
ação revisional, resta mantida a configuração da mora.
(Ap 137494/2016, DES. SEBASTIÃO DE MORAES
FILHO, SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Julgado em
09/11/2016, Publicado no DJE 14/11/2016)”
(Destacamos)

Ademais, como se observa da consulta realizada ao


sítio eletrônico do Banco Central do Brasil em 28.07.2017
(https://www3.bcb.gov.br/sgspub/consultarvalores/consultarValoresSeri
es.do?method=consultarValores) (doc. 02), documentos estes carreados
junto à Peça Contestatória, a taxa de juros contratada está alinhada com
a taxa média de mercado praticada quando da contratação.

A taxa média praticada nas operações de crédito


pessoal no mês de Agosto de 2016, ao contrário do que informa o Juízo a
quo, mês de contratação da operação em comento, era de 2,04% a.m.,
restando claro que os encargos contratados estão dentro da normalidade
praticada pelas instituições financeiras naquele período.
In casu, a taxa contratada no Cédula de Crédito
Bancário – Empréstimo Consignado (Setor Público – Refinanciamento) n°.
310.604.118 (doc. 03), já trazido aos autos junto à Contestação, foi de
1,90% a.m. e a taxa média de mercado era de 2,04% a.m. Assim, simples
cálculo aritmético comprova não haver qualquer abusividade na taxa de
juros praticada nos contratos em questão (1,90 x 1,5 = 2,85).

Por fim, necessário lembrar que todas as negociações


do Banco Recorrente baseiam-se no estrito respeito à autonomia da
vontade, sendo colocados ao conhecimento das partes todos os encargos
incidentes, sendo completamente absurdas as alegações de desrespeito às
normas consumeristas ou, ainda, de desconhecimento, frente à sua
pretensa vulnerabilidade, das consequências jurídicas do inadimplemento.

Sabe-se, ainda, que o princípio pacta sunt servanda


consagra em si a ideia de que o laço obrigacional, uma vez ultimado,
desde que obedecidos os requisitos legais inerentes ao ato, torna-se
obrigatório entre as partes, que dele não podem se desligar, senão quando
cumpridas as prestações nele estabelecidas, ou mediante avença.

Deflui-se, por conseguinte, que a obrigatoriedade de


quaisquer avenças e a sujeição aos seus efeitos, deriva, pois, do fato das
partes terem aceitado livremente o seu conteúdo.

Assim, não fazem nenhum sentido as alegações de


nulidade e de onerosidade excessiva das cláusulas do contrato baixado,
consoante decidido pelo MM. Juízo a quo, motivo pelo qual deve ser
reformada a decisão ora recorrida.

V - CONCLUSÃO

Portanto, em face do exposto, e considerando tudo


o que dos autos consta, cujo acurado exame suplica aos Eminentes
Julgadores, REQUER as Vossas Excelências, em mais uma de suas
demonstrações de inegável saber jurídico, que se dignem REFORMAR a r.
sentença proferida pelo Douto Juízo a quo, determinando não existirem
quaisquer ilegalidades na Cédula de Crédito Bancário – Empréstimo
Consignado (Setor Público – Refinanciamento) n°. 310.604.119, dando
provimento ao presente Recurso Inominado, e assim, defender o primado
da verdade e da Justiça!

Por fim, requer a emissão de posicionamento


expresso a respeito das matérias Constitucionais e Infraconstitucionais
aqui colacionadas, para fins de PREQUESTIONAMENTO, condição sine
qua non para o aviamento de recurso nas instâncias superiores.

Termos em que, pede deferimento.

Salvador – BA, 16 de novembro de 2017.

PAULO ROCHA BARRA MÁRCIA E. S. N. BARRA


OAB/BA 9.048 OAB/BA 15.551

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